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quinta-feira, outubro 20, 2022

Histórias do Futebol em Portugal (38)... A curta história da Taça Ribeiro dos Reis, a "inspiração" da atual Taça da Liga

António Ribeiro dos Reis
Podemos dizer que esta competição serviu de molde para a atual Taça da Liga, tendo sido organizada pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e integrado o calendário do futebol luso entre as temporadas de 1961/62 e 1970/71. A competição foi criada para as equipas de Honra e de Reservas dos clubes que participavam nas 1.ª e 2.ª divisões nacionais. Pese embora, muitos emblemas que saíam mais cedo da Taça de Portugal, quando esta última prova era desenrolada no términus do campeonato, utilizassem alguns dos seus principais craques nesta extinta prova, com a finalidade de lhes dar ritmo competitivo. E é nesse sentido que hoje vemos que jogadores como Eusébio, Coluna ou José Torres tenham no seu currículo esta prova, pois vestiram a camisola da equipa de reservas do Benfica - que aos dias de hoje seria uma espécie de Benfica B - que por três ocasiões venceu esta competição. 

Falamos da Taça Ribeiro dos Reis, que se constituiu como uma homenagem a uma figura de vulto do futebol português: António Ribeiro dos Reis (1896-1961). Este militar (tenente-coronel) de profissão foi uma espécie de homem dos 7 ofícios dentro do futebol, uma personalidade multifacetada, tendo sido um dos grandes dinamizadores das primeiras décadas de vida da modalidade no nosso país. Enquanto futebolista desenvolveu a sua carreira primeiro no Casa Pia, passando depois pela equipa do Liceu Pedro Nunes, e posteriormente pelo Benfica, cuja camisola passou a defender a partir da temporada de 1913/14 e que envergou até final da sua carreira, em 1925. Foi treinador e dirigente do clube encarnado, sendo que neste último papel desempenhou, entre outras, funções de vice-presidente da Direção, e de presidente da Assembleia Geral, tendo tido, por exemplo, um papel importante no processo de construção do antigo Estádio da Luz. Foi ainda figura de proa na criação da seleção nacional, já que esteve presente na orientação do primeiro jogo da equipa das quinas em 1921, ante a Espanha. Foi selecionador nacional entre março de 1925 e abril de 1926, regressando em março de 1934 ao comando da equipa de todos nós para a dirigir na eliminatória (perdida) com a Espanha com vista ao Mundial que nesse ano decorreu em Itália. Ribeiro dos Reis foi ainda árbitro de futebol, e um exímio mestre da escrita, vulgo jornalista. Nos jornais estreou-se em 1914 no semanário O Sport Lisboa, colaborando ainda com Os Sports. Mas a sua obra de arte, passe a expressão, mais conhecida seria a fundação do jornal A Bola, em 1945, juntamente com Cândido de Oliveira e Vicente de Melo, tendo no jornal da Travessa da Queimada exercido funções de redator principal e de diretor (entre 1951 e 1961). Foi agraciado com a Comenda da Ordem Militar de Avis, a Medalha de Mérito Desportivo, a Medalha de Mérito Internacional da Federação Portuguesa de Futebol, a Medalha de Ouro da Comissão Central de Árbitro, e a Medalha de Mérito da Associação de Futebol de Lisboa. Em 1995 foi agraciado a título póstumo com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito.

Foi pois em homenagem a esta figura incontornável do futebol português que na temporada de 1961/62 a FPF coloca em ação a Taça Ribeiro dos Reis. Um troféu que, como iremos constatar nas linhas que se seguem, viajou mais vezes para o sul do país do que para o norte, sendo que só na margem sul (do Tejo) moram cinco títulos!

Margem sul alcança a glória (parte I)

O bonito troféu
Vinte e dois clubes participaram na 1.ª edição da Taça Ribeiro dos Reis, que a julgar pelos factos não parece ter cativado as reservas dos três principais emblemas nacionais, FC Porto, Benfica e Sporting, que estiveram ausentes deste arranque. Mais de duas dezenas de equipas que foram divididas em quatro séries, tendo sido agrupadas por região, à semelhança do que já acontecia, por exemplo, com o Nacional da 3.ª Divisão. E nesta edição inaugural, dois clubes sobressaíram desde logo pelo seu trajeto invencível na 1.ª fase: na Série 1 o Vila Real, e na Série 4 o Seixal. Ambos os conjuntos terminaram esta fase sem derrotas, sendo que os seixalenses o fizeram de forma imaculada, ou seja, obtiveram quatro vitórias noutros tantos jogos realizados, ao passo que os transmontanos apenas cederam um empate nos quatro encontros realizados.

Apuravam-se para as meias finais da competição os primeiros classificados de cada uma das quatro séries, sendo que Vila Real e Seixal tiveram nesta fase a companhia de Barreirense (vencedor da Série 3) e Marinhense (que triunfou na Série 2).

Estes dois últimos clubes seriam afastados do sonho de jogar a final, disputada na noite de 27 de julho de 1962 no majestoso palco do Estádio do Restelo. Frente a frente Seixal e Vila Real, representantes de regiões distintas do país, sul e norte, respetivamente. Ambas os conjuntos competiram nessa temporada na 2.ª Divisão Nacional, tendo tido prestações distintas. Os seixalenses alcançaram tranquilamente a manutenção no segundo escalão, ao passo que os vilarealenses caíram na 3.ª Divisão Nacional. Nada que tirasse o entusiasmo aos nortenhos, que ao jornal A Bola, na antevisão da grande final, mostravam-se otimistas, conforme as palavras do então presidente da direção, António Silva. O dirigente lembrava que era com otimismo que o Bila ia a Lisboa. «Estou firmemente convencido que a nossa equipa há-de exibir-se na final à altura do acontecimento, que marca a homenagem a todos os títulos justíssima a um grande (Ribeiro dos Reis) do futebol português. Estou otimista, realmente, quanto à maneira galharda, correta e briosa como os nossos jogadores vão lutar, dominados como estão pelo anseio de causar boa impressão ao público de Lisboa e de conquistarem um bonito troféu que tem, a valorizá-lo, o nome inesquecível de Ribeiro dos Reis, um Homem e um Dirigente que viverá para sempre na nossa saudade (...) Não é uma taça qualquer — é um troféu que honrará a vitrina de qualquer clube, mesmo das que estejam habituados a conquistas muitos campeonatos», opinava o dirigente máximo do Vila Real.

Seixal, o primeiro campeão
da Taça Ribeiro dos Reis
Do outro lado tínhamos o Seixal, que vinha de uma temporada extremamente positiva, destacando-se o 5.º lugar na Zona Sul da 2.ª Divisão e o facto de na Taça de Portugal ter obrigado o primodivisionário Lusitano de Évora a trabalhos redobrados para passar aos quartos-de-final. Também na antevisão do encontro com o Vila Real, o presidente do emblema da margem sul, clube que então contava já com já quase com quatro décadas de vida, dizia ao jornalista de A Bola que «podem estar certos que a equipa do Seixal procurará dar essa enorme alegria aos seus adeptos». Egas Godinho Pereira acrescentava nessa entrevista que os níveis de confiança dos seixalenses para esta final estavam em alta, já que «depois de transpormos escolhos difíceis, como foram os jogos com as equipas algarvias e, por ultimo, com o Barreirense (então na 1.ª Divisão), seria, para nós, grande satisfação, terminarmos o torneio sem derrotas e ganharmos tão significativo e valioso troféu. Era, de facto, bonito. Aliás, se os seixalenses quiserem, a vitória será nossa. Basta o seu apoio caloroso, como no ultimo desafio. Aos nossos atletas não falta animo, valor e vontade».

Filha de Ribeiro dos Reis entrega 
a taça ao capitão do Seixal
O que é certo é que das sete edições em que os seixalenses participaram na Taça Ribeiro dos Reis esta foi a mais saborosa, já que venceram por 4-2 o Vila Real, tornando-se assim nos primeiros campeões da hoje extinta competição. Para a eternidade ficam os nomes de Nogueira, Aniceto, Quim; Cecílio, Lenine, Oñoro (que desempenhava as funções de treinador-jogador), Cambalacho, Garrido, Teodoro, Ferreira e Carvalho, precisamente o onze seixalense que alinhou na final. Angel Oñoro, jogador, treinador e capitão do Seixal, recebeu das mãos das mãos de Maria Margarida Ribeiro dos Reis, filha da ilustre figura que dava nome a esta competição, o troféu campeão.

Troféu esse que na temporada seguinte continuaria a morar na margem sul do rio Tejo, passando em 1963 para as mãos de um histórico do futebol luso: o Vitória de Setúbal.

Sadinos que a par do Benfica tornar-se-iam no emblema mais titulado desta competição, com três títulos conquistados. Em 62/63, arrecadaram o primeiro deles. Nesta segunda edição a competição teve um considerável aumento de participantes, passando de 22 para 32 emblemas, com a particularidade das equipas de reservas do Benfica e do Sporting fazerem a sua estreia. Os dois velhos rivais ficaram inseridos na Série 3, tendo os encarnados levado a melhor, ao classificarem-se em 1.º lugar, com 12 pontos, os mesmos que o Belenenses, mas com vantagem no goal-average. O mesmo cenário verificou-se na Série 4, onde Vitória Futebol Clube e Olhanense terminaram invictos a 1.ª fase da competição e com o mesmo número de pontos (12). Os sadinos, com melhor diferença entre golos marcados e sofridos avançaram para as meias-finais, onde iriam medir forças com o Benfica. Neste confronto o triunfo sorriu ao Vitória, que bateria os encarnados por 2-1 e marcava assim presença na sua primeira final da Taça Ribeiro dos Reis, onde teria como oponente o Torreense (vencedor da Série 2), que na outra meia-final havia derrotado o Varzim (vencedor da Série 1) por 4-3.

Vitória faz a sua primeira festa
nesta competição
Final que teve novamente o Restelo como palco, no dia 13 de julho de 1963. Nessa noite o Vitória derrotou os homens de Torres Vedras por 2-1, erguendo o seu primeiro troféu no âmbito desta prova. Nomes como Félix Mourinho (pai do conceituado treinador José Mourinho), Jaime Graça, José Maria, Carriço, Francisco Polido, ou Júlio Teixeira estiveram nessa histórica final, contribuindo decisivamente para a conquista da taça - com golos de Mateus, aos 32 minutos, e de Rodrigues, aos 56 minutos. Nas palavras do conceituado jornalista de A Bola, Carlos Pinhão, «O Vitória de Setúbal ganhou com todo o brilho a segunda edição da Taça Ribeiro dos Reis - que tal como a primeira, coube, assim a um clube da A.F. Setúbal, a associação que está na "moda", com os seus quatro clubes na 1.ª Divisão da próxima época: Vitória, Barreirense, CUF e Seixal (...) Este êxito do Vitória parece-nos mais significativo e mais brilhante que o triunfo seixalense de há um ano, porque, desta feita, disputaram a prova as reservas do supracitado trio, cheias de internacionais e pelo caminho que as transferências estão a tomar, o Benfica e o Sporting terão equipas de reservas bem capazes de ganhar até... o campeonato nacional da próxima época. Por tudo, o êxito setubalense ganhou extraordinário relevo, pois coube ao Vitória para chegar à final eliminar uma reserva de primeira do Benfica que por seu turno tinha eliminado o Sporting». Quanto à final com o Torreense o jornalista analisava que na mesma «a diferença de andamento entre a 1.ª e a 2.ª Divisão notou-se sempre». Da parte do conjunto que na época atuava na 2.ª Divisão «nunca houve perigo, porque o único golo torriense surgiria apenas nos últimos instantes da partida, assinalando precisamente o termo da mesma, pois Joaquim Campos (o árbitro da final) nem sequer fez bola-ao-centro», escrevia o jornalista, colocando ainda a hipótese de que se «o Torreense tem feito o golo mais cedo, é possível que nele encontrasse um estimulo poderoso para qualquer cometimento.., improvável, verdade se diga. Bem mais ocasiões perdeu o Vitória», que foi a equipa dominadora da final.

Félix Mourinho recebe a taça
No final, e numa imagem que seria habitual nas restantes edições da competição, a filha de Ribeiro dos Reis entregou a taça ao capitão sadino, que nessa noite foi Félix Mourinho. O conceituada árbitro do encontro, Joaquim Campos, mostraria à reportagem de A Bola a sua satisfação por ter dirigido a final duma prova com o nome de Ribeiro dos Reis, «um grande amigo dos árbitros, infelizmente desaparecido do número dos vivos» mostrando ainda o seu contentamento por esta final «ter decorrido num ambiente condigno e agradecendo aos jogadores e ao público a forma como lhe haviam facilitado o seu trabalho».´


 Benfica, o único grande a vencer a prova

Dos chamados 3 grandes do futebol luso, apenas o Benfica soube o que era vencer a Taça Ribeiro dos Reis. E em três ocasiões, como já referimos antes. Aliás, ainda no que concerne a estatística, os encarnados são o clube com mais presenças na prova, se compararmos com os rivais FC Porto e Sporting. Em termos mais concretos, os benfiquistas têm oito presenças, os sportinguistas quatro e os portistas com três.

O onze do Benfica que venceu a primeira das três
taças Ribeiro dos Reis arrecadadas pelo clube

Em 63/64 o Benfica enfeitou a sua sala de troféus com esta bonita taça, isto depois de um percurso quase imaculado na Série 3 da 1.ª fase, concluída com 13 pontos, fruto de seis vitórias e um empate. Nas meias-finais os encarnados despacharam o Olhanense (que venceu a Série 4) com uma vitória por 2-1, marcando encontro com o também, à época, primodivisionário Leixões (vencedor da Série 1) para o dia 12 de julho, tendo como cenário o Estádio da Tapadinha, em Lisboa. Contando na equipa com reforços de peso, onde sobressaía Santana, campeão europeu em 1961, os lisboetas venceram por 1-0, graças a um golo de Pedras, logo aos dois minutos da final. Seria outro reforço de peso nessa partida, de seu nome Ângelo, este bi-campeão da Europa pelos encarnados,  o homem que ergueu a primeira Taça Ribeiro dos Reis conquistada pelas águias.

Final entre Alhandra e Beira-Mar
Após três temporadas a morar no sul do país, eis que na 4.ª edição a taça viaja mais para norte, para Aveiro, mais concretamente. Em 64/65 dá-se a particularidade de pela primeira os 3 grandes do futebol português disputaram na mesma edição o troféu, pese embora tenham tido performances distintas. As reservas do FC Porto, emblema que fazia a estreia, venceu de forma destacada a Série 1, com sete triunfos noutros tantos jogos disputados, ao passo que Sporting e Benfica, integrados na Série 3, deixaram-se surpreender pelo Alhandra, que seria uma das sensações desta edição. A turma do Município de Vila Franca de Xira só não foi a heroína da prova porque na final foi superada pelo Beira-Mar, clube que viveu a todos os títulos uma temporada de 64/65 inolvidável. Os aveirenses subiram à 1.ª Divisão nacional, depois de terem terminado a Zona Norte da 2.ª Divisão em 1.º lugar, com 37 pontos, tendo ainda sagrado-se campeã nacional do segundo escalão na sequência de um triunfo sobre o campeão da Zona Sul, o Barreirense, por 2-1. Esta temporada memorável do Beira-Mar foi concluída em Coimbra, palco da final da Tala Ribeiro dos Reis, vencida pelos aveirenses por 3-1. A equipa tipo dos beiramarenses nessa época era a seguinte: Vítor Cabral, João da Costa, Evaristo, Marçal, Pinho, Abdul, Brandão, Horácio Garcia, Diego, Gaio, e Nartanga. Para colocar as mãos na taça o Beira-Mar afastou nas meias-finais o FC Porto, com um concludente 3-0, ao passo que o Alhandra (vencedor da Série 3) superou por 1-0 o Portimonense (vencedor da Série 4). A comandar esta equipa de Aveiro um nome que ficaria ligado a esta Taça Ribeiro dos Reis, Artur Quaresma, sendo que mais à frente já iremos ver porquê.

Penafiel, que jogou a final de 1966 e perdeu 
por 9-2 com o Benfica. O resultado mais desnivelado
numa final da Taça Ribeiro dos Reis
Foi renhida a Série 3 da Taça Ribeiro dos Reis de 65/66, época de ouro no futebol português graças àquela que seria uma brilhante presença da seleção nacional no Mundial de Inglaterra. E foi renhida porque as reservas do Benfica lutaram taco a taco com o Atlético pela presença nas meias-finais da competição, acabando ambas as equipas com o mesmo número de pontos (13), embora no goal-average os encarnados tenham levado a melhor. A norte, isto é, na Série 1, a sensação chamou-se Penafiel, emblema que participava pela primeira vez na competição. E melhor estreia não podiam ter tidos os durienses, já que além de terem vencido a sua série de forma destacada com 13 pontos, muito à frente dos primodivisionários Vitória de Guimarães, Leixões, e Braga (cuja equipa principal venceu nessa época a Taça de Portugal), lograram alcançar a grande final após triunfo nas mais finais sobre o vencedor da Série 2, o Marinhense. Porém, o conto de fadas penafidelense teria o seu términus precisamente no jogo decisivo, ganho pelo Benfica (vencedor da Série 3) por concludentes 9-2. Mesmo sem os seus melhores atletas em campo, tendo em conta que os habituais titulares estavam ao serviço da seleção no Mundial, o Benfica não deu tréguas a um Penafiel que nessa temporada tinha feito a sua estreia igualmente na 2.ª Divisão Nacional. A final disputou-se no Estádio da Tapadinha, em Lisboa, e há a particularidade nesta história de pela primeira vez a equipa do Penafiel ter andado de avião! Uma viagem que não foi de todo memorável, já que a aeronave que transportou os durienses para a capital saiu atrasada do Aeroporto de Pedras Rubras, chegando em cima da hora do jogo. Ao fim da primeira parte os benfiquistas já venciam por 4-1, com golos de Nélson, Yaúca, Serafim e Cavém, ao passo que para os nortenhos marcou Mendonça. Na etapa complementar o vendaval encarnado continuou, com Guerreiro e Pedras a bisarem nestes segundos 45 minutos e Serafim, com mais um golo, a selar aquela que foi a vitória mais folgada de uma equipa numa final da Taça Ribeiro dos Reis. Dourado ainda marcou mais um golo para os penafidelenses, que antes do apito inicial do árbitro setubalense Virgílio Batista presentearam os jogadores do Benfica com caixas de vinho da região. Nascimento, Severino, Raul, Malta da Silva, Luciano, Cavém, Nélson, Yaúca, Pedras, Guerreiro e Serafim foram os onze benfiquistas que arrecadaram o segundo troféu desta competição para o seu clube.

Artur Quaresma lava o Espinho à glória

Os Tigres da Costa Verde que venceram
a prova em 1967
Enquanto jogador fez parte da famosa equipa do Belenenses que em 45/46 venceu o título de campeã nacional da 1.ª Divisão, Artur Quaresma é um homem que na pele de treinador fica para sempre ligado a esta Taça Ribeiro dos Reis. Ele é o técnico com mais títulos na competição, dois, superando consagrados nomes como Bela Guttman, Jimmy Hagan, Fernando Vaz, ou José Maria Pedroto, que também ostentam no seu currículo esta taça. Depois de em 1965 ter conduzido o Beira-Mar à conquista do título, Quaresma mudou-se dois anos mais tarde para a bonita cidade costeira de Espinho, um pouco acima de Aveiro, onde conheceu pela primeira vez a glória na Taça Ribeiro dos Reis. Ao comando dos Tigres da Costa Verde, o mesmo será dizer do Sporting de Espinho, que nessa temporada havia terminado a Zona Norte da 2.ª Divisão num tranquilo 6.º lugar. Para vencer esta taça o Espinho triunfou com distinção na Série 2, somando 16 pontos e sem nenhuma derrota. Na meia final, disputada no Estádio do Mar, em Matosinhos, vitória sobre o vencedor da Série 1, o Salgueiros, e na grande final os espinhenses tinham um clube que estava em estado de graça pela recente conquista da Taça de Portugal dessa temporada, o Vitória de Setúbal.

Espinho recebido em festa
na Câmara Municipal da cidade
Nada que fizesse temer os nortenhos, a julgar pelas palavras do presidente da Assembleia Geral do clube sensação desta edição, Joaquim Moreira da Costa Júnior, ao jornal A Bola. Para o dirigente  «receber na nova sede a taça que tem por patrono um dos nossos sócios beneméritos; figura extraordinária do nosso futebol, nome inesquecível para todos nós», era o grande anseio dos Tigres nas vésperas da viagem para Lisboa. Nessa longa entrevista ao jornal da Travessa da Queimada, onde contou um pouco da história de 53 anos de vida do clube, este histórico dirigente do emblema da Costa Verde anunciava que em caso de vitória cada jogador do Espinho iria receber 1000 escudos, acrescidos, fosse qual fosse o resultado da final, de um jantar oferecido pela Direção aos jogadores que tão bem se haviam portado ao longo da época que estava prestes a findar. Pois é, houve direito a jantar e a prémio monetário, já que na final o Espinho bateu o Vitória sadino por 1-0, no Estádio da Tapadinha. Ainda antes da partida para Lisboa, Artur Quaresmas deixava nas páginas de A Bola o aviso de que «não há equipa que tema o Vitória». Mais à frente o timoneiro espinhense explicava que encarava o  jogo com sincero otimismo. «Sabemos que todo o favoritismo vai para o Vitória de Setúbal que, no papel, tem oito hipóteses a favor e uma contra. Mas do que ninguém, ou pouca, gente se lembra, é que essa nossa única hipótese pode mais depressa concretizar-se que as outras oito. (...) No futebol tudo é possível (...) De resto, um jogador que vai para uma final — e para se chegar a uma final sabe-se bem quantos obstáculos se têm de derrubar — está suficientemente mentalizado para encarar esse jogo sem complexos de espécie alguma, qualquer que seja o adversário. Posso dizê-lo que em relação aos nossos jogadores não há quem tema o Vitória de Setúbal». Artur Quaresma que criticava ainda o local da final, e o facto de o Sporting de Espinho ter de fazer mais de 300 quilómetros para disputar a final, enquanto que o adversário faria cerca de 25. «E toda a gente sabe que uma longa viagem representa mais que um jogo, pelo desgaste físico que isso provoca. Vamos, naturalmente inferiorizados, mas nem por isso perdemos a esperança da vitória, que, aliás, me parece estar ao nosso alcance. Se, todavia, formos derrotados, resta-nos a consolação de termos ido à final de uma prova que me merece desde a sua criação o maior respeito, por prestar homenagem à memória dum nome que foi grande no futebol português», dizia o técnico espinhense.

O que é certo é que Jardim contrariou o favoritismo do Vitória e o desgaste provocado pela longa viagem até Lisboa, marcando o único golo do encontro. Para a história do Espinho ficam os nomes de Jardim, Arnaldo, Alcobia, Massas, Bouçon, Capitão-Mor, Luciano, Ribeiro, Momade, Manuel Gomes, Daniel, Quim, Gonçalves, Amorim, Rebelo, Valdemar, Casal Ribeiro, Sousa, Dias, Acácio, e Meireles, os heróis que defenderam o manto sagrado dos Tigres da Costa Verde e que foram recebidos como... heróis no regresso a Espinho.

Margem sul alcança a glória (parte II)

Manuel Oliveira
Seria outro mestre da tática do futebol português a vencer a edição de 67/68 da Taça Ribeiros dos Reis, que a esta altura já era disputada por 40 equipas distribuídas por quatro séries. O seu nome é Manuel Oliveira, que resgatou a taça para a margem sul, fazendo-o ao serviço do mítico Barreirense. No campeonato da 1.ª Divisão o emblema do Barreiro não havia sido feliz, já que tinha descido de divisão nessa temporada, mas na Taça Ribeiro dos Reis a esperança reinava na margem sul, na boca de um treinador que tinha recuperado a alegria de trabalhar depois de uma passagem menos feliz pelo Belenenses, segundo disso então numa entrevista ao jornal A Bola na antevisão desta final. «Para mim o Barreirense na final da Taça Ribeiro dos Reis é motivo de grande satisfação. Primeiro porque no Belenenses eu nunca tinha tido, propriamente, uma alegria verdadeira, nem mesmo quando ganhava, e agora o Barreirense só me tem proporcionado grandes, enormes, alegrias», dizia o técnico que havia substituído no comando dos barreirenses Vieirinha. Manuel Oliveira surgia no Barreiro como uma lufada de ar fresco e mesmo não evitando a descida de divisão obteve bons resultados, sendo que em doze jogos, ganhou sete, empatou três  e só perdeu um contra o Benfica na Luz. «Vim para o Barreirense, por diversos motivos. Primeiro porque sou de opinião que um treinador deve estar em atividade, pelo menos onze meses por época. Depois, porque me ligam ao Barreirense laços de grande amizade, que vêm já do tempo em que era juvenil do meu atual clube. Depois, e este não é o motivo menos importante, porque achei que não devia deixar morrer o trabalho que Vieirinha realizou no Barreiro. O Barreirense desceu não por culpa do seu treinador mas sim pelo facto de o clube nunca ter podido contar com o seu atual plantel. Com estes jogadores que têm alinhado agora o Barreirense nunca teria descido de divisão», opinava Manuel Oliveira. Para chegar à final da Taça Ribeiro dos Reis o Barreirense havia vencido a Série 4 da prova, com 15 pontos, tendo na meia-final derrotado o Beira-Mar por 1-0. Agora, na grande final ir defrontar o clube das finais perdidas nesta extinta competição do futebol luso, o Leixões, que por duas vezes atingiu o jogo decisivo mas nunca levou o troféu para casa. Na baliza do Barreirense estava um jovem e promissor guarda-redes chamado Manuel Bento, que ao lado de nomes como Candeias, Redol, Bandeira, Patrício, Garrido, Mira, Testas, José Carlos, Eusébio e José João venceram os nortenhos por 2-0 e conquistaram o troféu pela única vez no seu historial.

O bonito troféu nas vitrinas do Vitória FC
Sob a batuta do lendário José Maria Pedroto o Vitória sadino alcançou o seu segundo título na história da competição na época seguinte. Por esta altura os sadinos eram não só uma potência do futebol nacional, como davam cartas no futebol internacional, ao fazer vergar vários colossos continentais nas provas da UEFA. O Vitória chegava à final depois de vencer a Série 4, com 16 pontos, e de derrotar nas meias finais o vencedor da Série 3, o Benfica, por... sorteio, depois de um empate a uma bola. E na final os setubalenses teriam pela frente o Peniche (vencedor da Série 2), que nessa temporada esteve prestes a subir à 1.ª Divisão. Ambos os conjuntos tinham chegado à final com alguma surpresa, isto nas palavras do jornalista Carlos Pinhão em A Bola: «Peniche e Setúbal não era efetivamente a final mais esperada. Cem efeito, a equipa do Benfica parecia à priori favorita no encontro com os setubalenses, mas o desfecho do desafio deu assim oportunidade à equipa de Pedroto de lutar pela tal "taçazinha" que os setubalenses costumam ganhar no final das épocas, mas que este ano, não pôde ser a de Portugal. Também o Peniche não parecia com muitas possibilidades de derrotar o Salgueiros, tendo em vista as classificações de ambos nos Nacionais da II Divisão».

Sairia vencedor, por 1-0, o onze sadino que alinhou na final com: Torres, Eduardo, José Mendes, Artur, Rangel, Octávio, Rebelo; Armando, Amâncio, Arnaldo e Mateus.  

Na época seguinte, 1969-70, o Vitória alcançou o único bis da história da Taça Ribeiro dos Reis, ou seja, a única equipa que conseguiu vencer a prova de forma consecutiva.

Nesta que seria a penúltima edição do certame deu-se uma inovação, ou seja, ao invés das habituais quatro séries, a competição foi dividida em sete séries, na sua maioria composta por seis equipas, sendo que os vencedores de cada grupo/série passariam para a fase dos quartos-de-final, instituída também pela primeira vez. E para colocar de novo as mãos na taça o Setúbal venceu a Série 7, eliminando nos quartos-de-final o Benfica, por 3-0, e na meia-final o Famalicão (que havia ficado isento nos quartos-de-final) por 1-0. E na final, de novo realizada no Estádio da Tapadinha, os sadinos que nessa temporada de 69/70 tiveram uma má prestação tanto no campeonato da 1.ª Divisão (10.º lugar) como na Taça de Portugal (foram afastados na 2.ª eliminatória) salvaram a época ao vencerem a Taça Ribeiro dos Reis depois de baterem no dia 22 de julho a Académica de Coimbra por 2-1.

A equipa do Benfica que venceu a última
edição da Taça Ribeiro dos Reis

O derradeiro ato da Taça Ribeiro dos Reis aconteceu em 1970/71 com o Benfica, vencedor da Série 5, a vencer no Estádio do Restelo o Braga por 3-1. Bracarenses (vencedores da Série 1) que deram luta aos encarnados na época treinados pelo inglês Jimmy Hagan, que havia conquistado o título de campeão nacional. Houve a necessidade de um prolongamento de 30 minutos, após uma igualdade a uma bola no tempo regulamentar. O Benfica, que nessa final foi treinador pela sua antiga glória dos relvados, José Augusto, levaria a melhor sobre os arsenalistas, que na época disputavam a 2.ª Divisão, por 3-1. No final, a taça foi entregue ao capitão José Torres, esse mesmo, o Bom Gigante, que neste encontro vestiu pela última vez a camisola encarnada, partindo depois para Setúbal onde iria continuar a sua brilhante carreira. Nomes como Humberto Coelho, Jaime Graça, Matine, Toni, ou Raul Águas defenderam as cores do Benfica neste último capítulo da história da Taça Ribeiro dos Reis.

Fontes utilizadas para a realização deste trabalho: A Bola, blog Alberto Hélder, site do Benfica, blog Memoria do Beira-Mar, blog Futebol Clube de Penafiel, Museu Municipal de Espinho, livro "Vitória - Do nascimento à Glória, blog Em Defesa do Benfica, blog Arquivos da Bola.

segunda-feira, junho 08, 2015

Histórias do Planeta da Bola (11)... Os anos dourados (1927-1939) da Taça Mitropa - A primeira montra de estrelas do futebol europeu (parte VI)

Capitão do Ferencvaros recebe uma coroa
de flores a simbolizar o triunfo
na Mitropa Cup de 1937
E eis que chegamos ao derradeiro capítulo da era dourada da Mitropa Cup. À derradeira viagem pela história daquela que é considerada a mãe das atuais competições europeias de clubes. 1937 marca então o início desta nossa última etapa, um ano em que a Taça Mitropa voltou a expandir as suas fronteiras, desta feita até à Roménia, a sétima nação a fazer parte da história da competição idealizada por Hugo Meisl. Romenos que participaram pela primeira vez no certame continental com apenas uma equipa, o seu campeão nacional de então, no caso o Venus de Bucareste. Regresso saudado foi o da Jugoslávia, país cujos clubes haviam participado na primeira edição do certame, em 1927. Face ao regresso de jugoslavos e à estreia dos romenos a organização teve de reajustar o número de vagas da competição, sendo que as quatro nações mais poderosas – Checoslováquia, Itália, Hungria, e Áustria –, diga-mos assim, passaram a ter três representantes ao invés dos quatro habituais.
A primeira grande surpresa da 11ª edição da prova foi protagonizada pelos campeões da Suíça, o Grasshopper de Zurique, clube que afastou uma das equipas revelação da temporada transata, os checoslovacos do Prostejov. Na primeira mão, em solo helvético, vitória mínima (4-3) garantida por Alfred Bickel, um dos craques suíços que um ano mais tarde ajudou a sua seleção a derrubar a poderosa Alemanha no Campeonato do Mundo de França. Na segunda mão a estrela foi o defesa Sirio Vernati, cuja magnífica exibição ajudou os gafanhotos de Zurique a obterem uma igualdade a duas bolas que garantiu a passagem aos quartos-de-final.

Contrariamente à edição anterior os combinados suíços parecem ter levado mais a sério esta nova participação, a julgar pelas enormes dificuldades causadas a emblemas com outra estaleca. O Young Fellows esteve quase a seguir o caminho dos vizinhos do Grasshopper, obrigando outro gigante do futebol europeu de então, o First Viena, a um play-off para desempatar uma eliminatória que teve início na capital da Áustria com uma curta vitória do First por 2-1. Os helvéticos abriram de forma surpreendente o marcador, mas Gschweidl empatou na sequência de um belíssimo remate. Belo foi igualmente o tento do triunfo, da autoria do extremo Molzer, que driblou meia equipa do Young Fellows até introduzir a bola no fundo da baliza forasteira. Em Zurique o Young Fellows marcou cedo, igualando desta forma a eliminatória que seria decidida então num play-off. Encontro este que voltou a ser realizado em Zurique, e que teve em Gschweidl a chave do triunfo (2-0) dos austríacos. Este jogador apontou os dois golos da sua equipa, deslumbrou a assistência com o seu futebol, com dribles diabólicos e passes magistrais, sendo unanimemente considerado então como o man of the match
 
Sindelar dispara para... o fundo da baliza
Quem parece não ter tido grandes dificuldades para também seguir em frente foram os campeões em título, o Austria de Viena, que afastaram o teoricamente complicado conjunto do Bologna. Teoricamente porque na prática o campeão de Itália foi vulgarizado pela equipa de Sindelar, sobretudo na segunda mão. Em Bolonha, no primeiro encontro, a defesa superou-se ao ataque, isto é, a postura defensiva com que o Austria entrou em campo levou a melhor sobre o estilo ofensivo patenteado pelos italianos. Contudo, e apesar de mais ofensivo, o Bologna não conseguiu superar a bem escalonada defesa contrária, onde Sesta e Mock ditaram leis. E lá na frente havia... Sindelar, quem mais. Apontou um golo e deu outro a marcar, edificando assim uma importante vitória por 2-1 em território inimigo. Na segunda mão Sindi deu um festival de bem jogar. Logo ao terceiro minuto da partida disparou uma autêntica bala de canhão a mais de 30 metros que só parou no fundo das redes bolonhesas. A soberba exibição do Homem de Papel a juntar ao hattrick obtido por Walter Nausch ajudou a construir uma goleada de 5-1, que selou a passagem à ronda seguinte.
Embate de titãs aconteceu em Praga, onde o Slavia, campeão checoslovaco da época anterior, recebia o Ferencvaros. Dois pesos pesados do futebol continental que começaram por empatar a duas bolas, numa partida em que os locais atacavam e os forasteiros contra-atacavam. Na segunda mão, em Budapeste, Toldi e Sarosi foram os grandes obreiros de uma vitória por 3-1 de um Ferencvaros que exerceu do príncipio ao fim um domínio avassalador sobre o seu oponente. Domínio esse expresso em apenas três golos, e dizemos apenas três porque na baliza dos checoslovacos estava uma lenda chamada Frantisek Planicka, que evitou uma catástrofe bem maior. 
 
Um autêntico passeio foi o que o Ujpest fez nesta primeira ronda, já que o sorteio ditou que os terceiros colocados do campeonato húngaro defrontassem os caloiros do Venus de Bucareste. A capital romena acolheu o duelo da primeira mão, um jogo cheio de golos, 10 para sermos mais precisos, seis para o Ujpest e quatro para os locais, sendo de destacar a exibição individual da estrela-mor dos visitantes, Gyula Zsengeller, autor de três golos. No encontro de volta, e atuando diante do seu público, o Ujpest assumiu o controlo absoluto dos acontecimentos, tendo alcançado com toda a naturalidade um novo e avolumado triunfo, desta feita por 4-1. Quanto a Zsengeller, ele foi autor de mais um par de golos e de uma estupenda exibição. Era indiscutivelmente um dos maiores talentos do futebol húngaro de então.
Outro embate de gigantes opôs os campeões da Áustria, o Admira, aos vice-campeões da Checoslováquia, o Sparta de Praga. Na primeira mão o Admira esteve melhor, mas falhou em demasia sempre que se encontrava próximo da baliza dos checoslovacos. Um remate pleno de êxito de Stoiber foi a exceção numa floresta de oportunidades perdidas pelo conjunto da casa. A igualdade final a um golo surgiu por intermédio de um jovem talento de 18 anos, Karel Senecky, avançado de posição no campo de batalha, que não obstante a sua tenra idade assumiu nesta edição da Mitropa o estatuto de estrela principal da equipa de Praga. Isto porque Raymond Braine regressou ao seu país, enquanto que Nejedly começava a dar sinais de alguma... veterania, passando mais jogos na bancada do que em campo, por opção técnica. Na segunda mão o jovem Senecky voltou a dar nas vistas, inaugurando o marcador logo aos oito minutos. Porém, o Admira não se fez rogado por estar a atuar no inferno checoslovaco, chamando a si o controlo do encontro e chegando com naturalidade à vantagem no marcador graças aos golos de Hahnemann e Vogl. Zeman iria empatar já perto do fim, fazendo o 2-2 final, facto que obrigou a um terceiro jogo de desempate, jogo esse onde o Admira foi nitidamente melhor, sobretudo na segunda parte, período em que apontou os dois únicos golos da tarde, da autoria de Vogl e Schilling.
A equipa da Lazio de Roma que participou na edição de 1937 da Taça Mitropa
Duas equipas italianas fizeram em 1937 a sua estreia nestas andanças da Taça Mitropa, o Génova e a Lazio. Os romanos tinham no internacional italiano Silvio Piola a sua principal referência, jogador que esteve em destaque na partida da primeira mão perante os húngaros do MTK. Piola apontou aos 57 minutos, um golo precioso para os laziale no terreno do adversário, o qual não conseguiu melhor do que igualar o marcador ao minuto 70. Piola voltou a estar em vincado destaque na partida de Roma, ao apontar dois dos três golos de vantagem que a Lazio dispunha ao intervalo sobre o seu oponente. Na segunda parte os romanos relaxaram, e foi aí que brilhou outra estrela, esta do lado oposto, Cseh, assim, se chamava. O avançado do MTK de Budapeste fez a vida negra ao setor mais recuado dos italianos, sendo que por duas ocasiões bateu o guardião Blason, golos que no entanto não seriam suficientes para adiar o adeus húngaro à competição.
Quem também entrou com o pé direito na prova foi o Génova, equipa cujo futebol de cariz ofensivo causou mossa nos jugoslavos do Gradjanski de Zagreb. Neste plano há a sublinhar as exibições dos atacantes Mario Perazzolo e Luigi Scarabello, e do defesa Giuseppe Bigogno, três dos principais responsáveis pela passagem dos genoveses aos quartos-de-final.

Um dos embates mais apetecidos dos quartos-de-final opôs o Ferencvaros ao First Viena, uma eliminatória dominada pelos dois... setores recuados. O resultado da primeira mão, realizada em Budapeste, cedo foi construído, tendo o primeiro golo surgido aos nove minutos para os visitantes. Antes da meia hora o Ferencvaros recuperou e colocou-se em vantagem, graças a dois remates certeiros dos goleadores Toldi e Sarosi, que fizeram assim o resultado final de uma partida onde as duas defesas estiveram quase intransponíveis. A segunda mão desenrolou-se na mesma toada, ou seja, os avançados de ambos os lados da barricada tiveram imensas dificuldades para furar as barreiras defensivas. O momento de exceção ocorreu aos 11 minutos, altura em que Pollak fez o único golo do encontro a favor dos austríacos. Depois disso os dois conjuntos fecharam as respetivas balizas a sete chaves, sendo que para o fazer o Ferencvaros até fez recuar o seu goleador principal, Sarosi! Face a estes dois resultado impôs-se a realização de um play-off, sendo que ai os húngaros foram mais atrevidos, empurrando o First para a sua zona defensiva, um pressing que haveria de dar os seus frutos em duas ocasiões, ambas concretizadas por Toldi, que assim teve um papel fundamental na vitória e no consequente apuramento do vice-campeão da Hungria para a ronda seguinte.

Gyula Zsengeller
E se o rigor defensivo havia imperado no duelo entre Ferencvaros e First Viena, o estilo ofensivo foi nota dominante durante a primeira mão da eliminatória entre Austria de Viena e Ujpest. 5-4 a favor dos vienenses naquele que foi um jogo de verdadeiro hino ao golo, onde duas figuras se destacaram das demais: Sindelar, do lado dos austríacos, autor de um golo e de uma exibição – mais uma – divinal, e Gyula Zsengeller, cuja qualidade técnica aliada ao seu remate explosivo aproveitou as fragilidades da defesa local. Resultado final: 5-4 a favor do Austria, num jogo em que o golo e o futebol espetáculo foram uma constante. Na segunda mão os vienenses mudaram o chip, ou seja, fecharam-se na sua zona defensiva na tentativa de guardar a magra vantagem que traziam de casa, optando por explorar as situações de contra-ataque. E foi precisamente nos lances de contra-ataque que esteve a chave para um novo triunfo austríaco. E o homem do jogo foi... Sindelar, sempre ele, a comandar as operações na hora de semear o pânico na defesa contrária, fez um golo simplesmente fenomenal – um poderoso remate a 25 metros de distância que surpreendeu o guardião da casa – e esteve na origem do segundo tento – apontado por Jerusalem – que deu ao Austria uma vantagem de 2-0. O Ujpest ainda reduziu, mas era já tarde demais para evitar a eliminação.
Mais fácil, muito mais, foi o triunfo da Lazio sobre os suíços do Grasshopper. Na primeira mão, na capital italiana, um vendaval varreu com a turma helvética. Vendaval que teve um nome: Silvio Piola. Fez três golos e deu outros a marcar, contribuindo desta forma para uma expressiva vitória laziale por 6-1. Com este score a viagem a Zurique tornou-se pois um verdadeiro passeio para os homens de Jozsef Viola, o húngaro que na época treinava a Lazio. Cientes de que a eliminatória estava no papo, os romanos relaxaram, e permitiram que os suíços se despedissem do certame com um triunfo por 3-2, sendo de destacar no plano individual Alfred Bickel, uma das grandes estrelas do futebol da Suíça de então, que neste encontro apontou dois golos.
Espetáculo vergonhoso, é assim que podemos caracterizar a eliminatória entre o Admira de Viena e o Génova, uma eliminatória onde o futebol esteve ausente para dar lugar à violência. Uma verdadeira batalha campal definiu a primeira mão, em Viena, onde jogadores de ambas as equipas passaram os 90 minutos a agredirem-se perante a complacência do árbitro de um jogo que terminou empatado (2-2). Perante isto o encontro da segunda mão esteve em dúvida, já que a polícia de Génova não garantiu as mínimas condições de segurança para os intervenientes no duelo de volta. Desta forma o Comité da Mitropa decidiu não realizar o encontro, punindo os dois conjuntos com a exclusão da prova, facto que fez com que a Lazio ficasse desde logo apurada para a final, já que ficava assim sem adversário na meia-final.

Fase esta onde se realizou apenas um encontro, aquele que colocou frente a frente o Austria de Viena e o Ferencvaros. Na viagem à capital austríaca Emil Rauchmaul, treinador do Ferencvaros usou uma tática semelhante à do primeiro jogo ante o First Viena, uma tática onde fez recuar para o centro da defesa o avançado Sarosi. No duelo ante o Austria este jogador teve uma tarefa específica: travar Sindelar. Tarefa árdua e... ineficaz, já que o Mozart do Futebol fez o que quis durante os 90 minutos do seu marcador de serviço. Sindi conduziu – de novo – a sua equipa rumo a uma vitória concludente e merecida, já que durante todo o encontro os vienenses foram os únicos que de facto quiseram vencer, exibindo uma postura nitidamente ofensiva aliada a uma qualidade técnica primorosa. O resultado desta combinação foi um triunfo por 4-1.
Na segunda mão os papéis inverteram-se. Os magiares dominaram do princípio ao fim a partida, atacando vezes sem contra a baliza austríaca, mostrando bem o porquê de terem terminado o campeonato da Hungria da temporada anterior com um registo de 102 golos apontados!!! A linda da frente do Ferencvaros vulgarizou o Austria, apontando seis golos que viraram a eliminatória e deram aos húngaros o bilhete para a final.

Silvio Piola
Jogo decisivo, ou melhor, jogos decisivos – uma vez que a final era jogada em duas mãos – que foram um verdadeiro deslumbre no que a futebol e a golos diz respeito. Dois homens protagonizaram um duelo particular muito especial durante esta dupla final: Sarosi, pelo lado dos húngaros, e Piola, do lado da Lazio. Na primeira mão, em Budapeste, Gyorgy Sarosi foi o herói, apontando um hattrick na segunda metade da partida que contribuiu para um triunfo por 4-2 a favor do combiando da casa. E se o futebol ofensivo havia sido uma constante – de parte a parte – na primeira mão, o mesmo aconteceu no jogo de volta, em Roma, onde a Lazio cedo se lançou ao ataque na tentativa de agarrar o seu primeiro troféu continental. Giovanni Costa fez o o 1-0 logo aos 4 minutos, mas a festa laziale não iria durar mais do que um minuto, já que pouco depois de a bola ir ao centro Sarosi cava uma grande penalidade que o próprio iria converter em golo. O mesmo jogador, três minutos depois, silencia os 35.000 espectadores presentes no Estádio Nacional do Partido Fascista, ao apontar o 2-1. Foi então que emergiu no relvado toda a genialidade de Silvio Piola, que praticamente sozinho destruiu até final da primeira parte a turma visitante. Apontou dois golos, e foi preponderante na obtenção de um quarto golo aos 35 minutos, da autoria de Camolese. Porém, do outro lado ainda estava outro avançado de créditos firmados, Toldi, que aos 37 minutos arrefece as emoções laziales ao apontar o 3-4 com que se atingiu o intervalo que chegou em bom tempo para fazer descansar um pouco os corações dos espectadores daquele duelo eletrizante. Na segunda parte o chavão que diz que os “grandes génios do futebol também falham” acabou por vir ao de cima e ditar, de certa forma, o desfecho final desta... final. Aos 61 minutos o árbitro suíço Hans Wuthrich assinala uma grande penalidade a favor da Lazio, castigo esse que Piola... iria desperdiçar! Este lance iria afetar os romanos, que não mais se encontraram, facto aproveitado por... Sarosi, para dar a machadada final, primeiro ao oferecer um golo a Lázár, aos 71 minutos, e em cima do minuto 80 ele próprio fez um novo golo nesta final, que daria garantia assim o segundo ceptro continental ao Ferencvaros. Nove dos golos apontados pelos húngaros nos dois encontros da final seis haviam sido da autoria de Gyorgy Sarosi, que desta forma subia também ao lugar mais alto do pódio da lista dos melhores marcadores desta edição da Mitropa Cup – com um total de 12 remates certeiros.

Números e nomes:

1ª Eliminatória (1ª e 2ª mãos)

Slavia Praga (Checoslováquia) - Ferencvaros: 2-2/1-3
First Viena (Áustria) - Young Fellows (Suíça): 2-1/0-1/2-0 (desempate)
Bologna (Itália) - Austria Viena (Áustria): 1-2/1-5
Venus Bucureste (Roménia) - Ujpest (Hungria): 4-6/1-4
Admira Viena (Áustria) - Sparta Praga (Checoslováquia): 1-1/2-2/2-0 (desempate)
Génova (Itália) - Gradanski (Jugoslávia): 3-1/3-0
MTK (Hungria) - Lazio (Itália): 1-1/2-3
Grasshopper (Suíça) - Prostejov (Checoslováquia): 4-3/2-2

Quartos-de-final (1ª e 2ª mãos)

Ferencvaros (Hungria) - First Viena (Áustria): 2-1/0-1/2-1 (desempate)
Austria Viena (Áustria) - Ujpest (Hungria): 5-4/2-1
Lazio (Itália) - Grasshopper (Suíça): 6-1/2-3
Admira Viena (Áustria) - Génova (Itália): 2-2/*

*Ambas as equipas foram suspensas por conduta violenta

Meias-finais (1ª e 2ª mãos)

Austria Viena (Áustria) – Ferencvaros (Hungria): 4-1/1-6

*Nota: Lazio ficou automaticamente apurada para a final por não ter adversário nas meias-finais
Em 1937 a taça voltou a Budapeste pela mão do Ferencvaros

Final (1ª mão)

Ferencvaros (Hungria) – Lazio (Itália): 4-2

Data: 12 de setembro de 1937
Estádio: Ulloi ut, em Budapeste (Hungria)
Árbitro: Gustav Krist

Ferencvaros: Jószef Háda, Sándor Tátrai, Lajos Korányi, Béla Magda, Gyula Polgár, Béla Székely, Mihai Tanzer, Gyula Kiss, Gyorgy Sarosi (c), Géza Toldi, e Tibor Kemény. Treinador: Emil Rauchmaul.

Lazio: Giacomo Blason, Benedicto Zacconi, Alfredo Monza, Giuseppe Baldo, Giuseppe Viani, Luigi Milano, Umberto Busani, Libero Marchini, Silvio Piola (c), Bruno Camolese, e Giovanni Costa. Treinador: József Viola.

Golos: 1-0 (Toldi, aos 20m), 1-1 (Busani, aos 26m), 2-1 (Sarosi, aos 53m), 3-1 (Sarosi, aos 59m), 3-2 (Piola, aos 63m), 4-2 (Sarosi, aos 72m).

Final 2ª (mão)

Lazio (Itália) – Ferencvaros (Hungria): 4-5

Data: 24 de outubro de 1937
Estádio: Nazionale, em Roma (Itália)
Árbitro: Hans Wuthrich (Suíça)

Lazio: Vincenzo Provera, Benedicto Zacconi, Alfredo Monza, Giuseppe Baldo, Giuseppe Viani, Luigi Milano, Umberto Busani, Libero Marchini, Silvio Piola (c), Bruno Camolese, e Giovanni Costa. Treinador: József Viola.

Ferencvaros: Jószef Háda, Sándor Tátrai, Lajos Korányi, Béla Magda, Gyula Polgár, Gyula Lázár, Mihai Tanzer, Gyula Kiss, Gyorgy Sarosi (c), Géza Toldi, e Tibor Kemény. Treinador: Emil Rauchmaul.

Golos: 1-0 (Costa, aos 4m), 1-1 (Sarosi, aos 5m), 1-2 (Sarosi, aos 8m), 2-2 (Piola, aos 18m), 3-2 (Piola, aos 23m), 4-2 (Camolese, aos 35m), 4-3 (Toldi, aos 37m), 4-4 (Lázár, aos 71m), 4-5 (Sarosi, aos 80m)

1938 e 1939: Guerra derrota a Mitropa Cup

Pepi Bican, a estrela da Taça Mitropa de 1938
O eclodir da II Guerra Mundial era por alturas de 1938 um facto praticamente consumado. Pelo menos assim indicavam as orientações político-militares do Velho Continente. Em 12 março de 1938 dá-se o Anschluss, que significa a anexação da Áustria pela Alemanha nazi, e aqui começa de certa forma também o desmoronamento da Mitropa Cup. Com esta anexação a nação austríaca perde a sua total independência, inclusive no futebol. Deste modo a edição de 1938 da Taça Mitropa já não irá contar com a participação dos clubes austríacos, eles que tantas páginas douradas ajudaram a escrever desde 1927, ano em que a competição viu a luz do dia. A morte de Hugo Meisl (criador da Mitropa), em 1937, também foi um duro golpe na sobrevivência da prova. Foi por isso num cenário triste que se ergueu a edição de 1938, edição essa que iria consagrar pela primeira vez na história da prova o Slavia de Praga como campeão, muito devido à ação individual de um tal de Josef Bican. Pepi, como era conhecido pelos companheiros de equipa e adeptos, foi o abono de família do Slavia, apontando 10 dos 25 golos que os checoslovacos apontaram no percurso rumo à glória. Nesse percurso alguns episódios – hoje lendários – saltam à memória, como é o exemplo o jogo da primeira mão dos quartos-de-final ante o campeão italiano da temporada anterior, a Ambrosiana-Inter, que em Praga sofreu uma verdadeira humilhação, como se comprova pelo resultado de 9-0 a favor do Slavia. Neste encontro a estrela foi Pepi Bican, um cidadão austríaco naturalizado checoslovaco, autor de quatro dos nove tentos do Slavia. A final seria disputada ante os campeões da temporada transata, o Ferencvaros, clube à partida favorito a ganhar a taça pela terceira vez na sua história, ainda para mais depois de ter empatado a duas bolas no encontro da primeira mão, em Praga. Mas da teoria à prática o caminho foi longo para Sarosi e companhia, que iriam cair aos pés do novo campeão por 2-0.

Bela Gutmann
A ausência de dados mais concretos sobre as duas últimas edições da Era dourada (1927-1939) da Taça Mitropa faz-nos atalhar o caminho até 1939, ano em que a prova entra na reta final do seu período áureo. A edição de 1939 contou apenas com oito equipas, algo que já não acontecia desde 1933. A taça, essa foi entregue ao Ujpest, equipa húngara orientada por um tal de Bela Guttman, um mestre da tática que duas décadas mais tarde iria conhecer de novo a glória europeia, desta feita no âmbito das eurotaças tuteladas por uma UEFA que iria nascer em 1954, ao serviço do Benfica. Ujpest que em campo foi conduzido ao triunfo final por outro mestre, este na arte de manuesar o esférico, de seu nome Gyula Zsengeller, o qual com nove tentos apontados ao longo da prova arrecadou o título de melhor marcador. A final foi jogada por duas equipas húngaras, o Ujpest e o Ferencvaros, último clube que foi humilhado (derrota por 4-1) no seu reduto no encontro da primeira mão, com destaque para a exibição individual de Zsengeller – autor de dois golos. A igualdade a duas bolas no encontro de volta foi suficiente para o Ujpest levantar a segunda Mitropa Cup da sua história. Entretanto, em setembro de 1939 a Alemanha invade a Polónia e tem início a II Guerra Mundial, conflito bélico que iria durar até 1945. A Europa era pois um terreno muito perigoso, pese embora oito emblemas aventureiros provenientes da Roménia, Hungria, e da Jugoslávia – os clubes de Itália e da Checoslováquia não participaram – deram vida à edição de 1940, a qual não viria a ter um campeão, pois a final entre o Rapid de Bucareste e o Ferencvaros acabou por não se realizar precisamente devido ao conflito bélico que assolava o Velho Continente. Assim, a bola parou de rolar no âmbito da Taça Mitropa. Um interregno que durou até 1955, altura em que a histórica competição regressou, mas já sem a força e a mística alcançada na década de 30. Além disso, à porta estava a Taça dos Clubes Campeões Europeus, certame criado pela UEFA, e que iria agregar a si a esmagadora maioria das nações – e respetivos clubes – da Europa. Mesmo passando para um plano secundário, a Mitropa manteve-se viva até 1992, moribunda, quase ignorada, mas viva, sendo que até ao seu final não passou de um mero torneio disputado sobretudo por equipas da Série B italiana e alguns combinados da Áustria, Hungria, ou Jugoslávia, que entretanto foram perdendo fulgor na Europa do futebol.

Números e nomes (edição de 1938):

1ª Eliminatória (1ª e 2ª mãos)

Kladno (Checoslováquia) - HASK Zagreb (Jugoslávia): 3-1/2-1
Zidenice (Checoslováquia) – Ferencvaros (Hungria): 3-1/0-3
Génova (Itália) - Sparta Praga (Checoslováquia): 4-2/1-1
Beogradski (Jugoslávia) - Slavia Praga (Checoslováquia): 2-3/1-2
MTK Budapeste (Hungria) - Juventus (Itália): 3-3/1-6
Ujpest (Hungria) - Rapid Bucareste (Roménia): 4-1/0-4
Ambrosiana-Inter (Itália) - Kispesti (Hungria): 4-2/1-1
Ripensia Timisoara (Roménia) – Milan (Itália): 3-0/1-3

Quartos-de-final (1ª e 2ª mãos)

Ferencvaros (Hungria) - Ripensia Timisoara (Roménia): 5-4/4-1
Juventus (Itália) - Kladno (Checoslováquia): 4-2/2-1
Slavia Praga (Checoslováquia) – Ambrosiana-Inter (Itália): 9-0/1-3
Génova (Itália) - Rapid Bucareste (Roménia): 3-0/1-2

Meias-finais (1ª e 2ª mãos)

Génova (Itália) - Slavia Praga (Checoslováquia): 4-2/0-4
Juventus (Itália) – Ferencvaros (Hungria): 3-2/0-2
1938 marca a única vitória do Slavia de Praga na Taça Mitropa

Final (1ª mão)

Slavia Praga (Checoslováquia) – Ferencvaros (Hungria): 2-2

Data: 4 de setembro de 1938
Estádio: Strahov, em Praga (Checoslováquia)
Árbitro: Henry Mee (Inglaterra)

Slavia Praga: Alexej Boksay, Antonin Cerny, Ferdinand Daucik (c), Karel Prucha, Karol Daucik, Vlastimil Kopecky, Vaclav Horak, Ladislav Simunek, Josef Bican, Vojtech Bradac, e Rudolf Vytlacil. Treinador: Jan Reichardt.

Ferencvaros: Jozsef Hada, Sandor Tátrai, Gyula Pólgar, Béla Magda, Béla Sarosi, Gyula Lazar, Mihai Tanzer, Gyula Kiss, Gyorgy Sarosi (c), Géza Toldi, e Tibor Kemény. Treinador: Gyorgy Hlavay.

Golos: 01- (Kemény, aos 30m), 1-1 (Bican, aos 36m), 2-1 (Simunek, aos 44m), 2-2 (Kiss, aos 63m)

Final (2ª mão)

Ferencvaros (Hungria) – Slavia Praga (Checoslováquia): 0-2

Data: 11 de setembro de 1938
Estádio: Ulloi ut, em Budapeste (Hungria)
Árbitro: Arthur Jewell (Inglaterra)

Ferencvaros: Jozsef Hada, Sandor Tátrai, Gyula Pólgar, Béla Magda, Béla Sarosi, Gyula Lazar, Mihai Tanzer, Gyula Kiss, Gyorgy Sarosi (c), Géza Toldi, e Tibor Kemény. Treinador: Gyorgy Hlavay.

Slavia Praga: Alexej Boksay, Antonin Cerny, Ferdinand Daucik (c), Karel Prucha, Otakar Nozir, Vlastimil Kopecky, Bedrich Vacek, Ladislav Simunek, Josef Bican, Vojtech Bradac, e Rudolf Vytlacil. Treinador: Jan Reichardt.

Golos: 0-1 (Vytlacil, aos 57m), 0-2 (Simunek, aos 71m).

Números e nomes (edição de 1939):

Quartos-de-final (1ª e 2ª mãos)

Venus Bucareste (Roménia) - Bologna (Itália): 1-0/0-5
Ferencvaros (Hungria) - Sparta Praga (Checoslováquia): 2-3/2-0
Beogradski (Jugoslávia) - Slavia Praga (Checoslováquia): 3-0/1-2
Ambrosiana-Inter (Itália) – Ujpest (Hungria): 2-1/0-3

Meias-finais (1ª e 2ª mãos)

Bologna (Itália) – Ferencvaros (Hungria): 3-1/1-4
Beogradski (Jugoslávia) – Ujpest (Hungria): 4-2/1-7
A vitória do Ujpest (equipa da imagem) encerrou a era dourada da Mitropa

Final (1ª mão)

Ferencvaros (Hungria) – Ujpest (Hungria): 1-4

Data: 23 de julho de 1939
Estádio: Ulloi ut, em Budapeste (Hungria)
Árbitro: Gustav Krist (Checoslováquia)

Ferencvaros: József Háda, Sándor Tátrai, Kornél Szoyka, Béla Magda, Béla Sarosi, Gyula Lázár, Mihai Tanzer, Gyula Kiss, Gyorgy Sarosi (c), Géza Toldi, e László Gyetvai. Treinador: Gyorgy Hlavay.

Ujpest: Ferenc Sziklai, Gyula Futó (c), Jeno Fekete, Antal Szalay, Gyorgy Szucs, Istvan Balogh, Sándor Ádám, Jeno Vincze, Gyula Zsengeller, Lipót Kállai, e Géza Kocsis. Treinador: Bela Guttman.

Golos: 0-1 (Zsengeller, aos 9m), 0-2 (Kocsis, aos 10m), 0-3 (Kocsis, aos 53m), 1-3 (Sarosi, aos 73m); 1-4 (Zsengeller, aos 74m).

Final (2ª mão)

Ujpest (Hungria) – Ferencvaros (Hungria): 2-2

Data: 20 de julho de 1939
Estádio: Megyeri út, em Budapeste (Hungria)
Árbitro: Generoso Dattilo (Itália)

Ujpest: Ferenc Sziklai, Gyula Futó (c), Jeno Fekete, Antal Szalay, Gyorgy Szucs, Istvan Balogh, Sándor Ádám, Jeno Vincze, Gyula Zsengeller, Lipót Kállai, e Géza Kocsis. Treinador: Bela Guttman.

Ferencvaros: József Pálinkás, Sándor Tátrai, Kornél Szoyka, Gyula Pólgar, Béla Sarosi, Gyula Lázár, Mihály Biró, Gyula Kiss, Gyorgy Sarosi (c), Istvan Kiszely, e László Gyetvai. Treinador: Gyorgy Hlavay.

Golos: 0-1 (Kiszely, aos 15m), 0-2 (Kiszely, aos 29m), 1-2 (Ádám, aos 54m), 2-2 (Balogh, aos 82m)