Mostrando postagens com marcador Vinha. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Vinha. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, janeiro 24, 2024

Jogos Memoráveis (7)... Salgueiros - Cannes (Taça UEFA 1991/92)


Se há clubes cujo índice de popularidade é elevado, independentemente do escalão competitivo em que se encontrem, um desses emblemas é sem margem para dúvida o Sport Comércio e Salgueiros. Nasceu no meio do povo, e foi no seio desse mesmo povo que cresceu e se tornou num dos clubes mais adorados do panorama desportivo nacional. O Salgueiros nasceu numa época em que a República em Portugal ainda dava os primeiros passos, mais concretamente no ano de 1911. No entanto, seriam precisos 80 anos exatos para que a Alma Salgueirista – um modo de estar, um sentimento, que só os verdadeiros adeptos do clube conhecem – se desse a conhecer à Europa do futebol. 

19 de setembro de 1991 é pois um dia histórico na popular coletividade portuense. Nesse dia, ou melhor, nessa noite, o velho Salgueiral fazia o seu batismo europeu no âmbito da 1.ª eliminatória da Taça UEFA da temporada de 1991/92. A qualificação europeia havia sido alcançada na época anterior na sequência da melhor classificação de sempre do clube na 1.ª Divisão Nacional, o 5.º lugar. E quis o destino que a estreia do Salgueiros nas competições europeias acontecesse diante de outro caloiro nestas andanças, os franceses do Cannes. Do lado da turma oriunda do sul de França pontificavam alguns nomes conhecidos do plano internacional, desde logo o veterano internacional francês Luis Fernández; o internacional camaronês François Omam-Biyik, que um ano antes havia dado nas vistas no Mundial de Itália; e o jugoslavo Aljosa Asanovic, que haveria de ser peça fundamental na futura seleção da Croácia. Na equipa treinada pelo também jugoslavo Boro Primorac pontificava ainda um jovem prodígio gaulês, que no futuro imediato haveria de se tornar numa das maiores lendas da história do Belo Jogo: Zinedine Zidane.

Porém, o Salgueiral também tinha as suas armas, e que armas! Craques como Nikolic, Milovac, Abílio, ou Jorge Plácido, sobressaíam na equipa liderada por Zoran Filipovic, aos quais se juntavam jogadores “operários” como Rui França, Vinha, ou Leão. A nação salgueirista mostrou nessa noite todo o seu orgulho e emoção ao ver o seu clube entrar pela primeira vez em campo para um jogo europeu, facto ocorrido no Estádio do Bessa, casa emprestada pelo vizinho Boavista, tendo em conta que o estádio do Salgueiros não possuía iluminação artificial na altura. À boleia do jornal A Bola vamos recordar este encontro histórico que terminou da melhor maneira para o clube de Paranhos, isto é, com o triunfo. Melhor batismo não poderia ter tido o Salgueiral!

Na crónica final traçada sobre o jogo, o jornalista António de Sousa escreveria que «as duas equipas estão bem uma para a outra! O desfecho da eliminatória é imprevisível, embora os franceses contem com futebolistas mais experientes e recebam os salgueiristas no seu estádio para o jogo decisivo». O jornalista explicaria esta sua visão de forma mais detalhada na crónica do encontro, referindo que apesar de as equipas se equivalerem em termos de qualidade, os franceses teriam a seu favor o facto de reunirem um conjunto de jogadores que pelo seu passado possuíam maior experiência internacional. Contudo, «não pretendemos, sequer, dizer que a formação de Vidal Pinheiro está já derrotada (…) Pelo contrário, a formação de Paranhos, possuindo uma equipa que assenta o seu futebol, sobretudo, na determinação e no empenho, aqui e ali reforçado com a experiência de um ou outro elemento, poderá perfeitamente prosseguir na prova, o que não constituiria surpresa de maior, dado o valor semelhante (pelo menos demonstrado no desafio do Bessa) ao do seu antagonista…».
Mais à frente na sua exposição jornalística, sublinharia que o triunfo por 1-0 do Salgueiros sobre o Cannes nesta 1.ª mão da eliminatória havia sido «justo e merecido, podendo até o resultado ter tido uma expressão ligeiramente mais ampla». Destacou nesse sentido que os jogadores salgueiristas se esforçaram para serem felizes nesta estreia, elegendo entre os mais esforçados Vinha, que «teve muita uva para pouca parra… e pena foi que a colheita não tivesse sido bem maior". Assim
 que a bola foi posta em movimento o nervosismo típico da estreia desapareceu nos salgueiristas, e os pupilos de Filipovic foram tomando conta das operações a partir do quarto de hora inicial. A prova disso foram as três oportunidades criadas pelos portuenses, em contraposto com os franceses, que só por uma vez chegaram com perigo à baliza de Madureira. 

No cômputo geral, António de Sousa escreveu que «não se pode dizer que o desafio tenha sido fértil em oportunidades de golo, Em situações de grande apuro. Não, não foi. Houve uma toada de ataque, mas travada à entrada dos meios-campos ou nas imediações das respetivas grandes áreas».

Numa primeira parte que terminou empatada a zero, a situação mais flagrante de golo aconteceu ao minuto 23, altura em que na sequência de um cruzamento de Álvaro Soares para o interior da área gaulesa o trio composto por Abílio, Vinha e Nikolic falhou o golo à boca da baliza! Isto numa altura em que era notório o crescimento do Salgueiros em campo, uma equipa que mostrava futebol acutilante e determinado, de acordo com a visão do jornalista de A Bola.

Ao minuto 42 o Salgueiros reclamou grande penalidade por uma eventual mão na bola de um defesa francês após uma bela jogada de combinação entre Nikolic e Jorge Plácido. Em cima da jogada o árbitro norte-irlandês Leslie Irvine mandou jogar. «Mas dois minutos depois, o Bessa irrompeu num coro de protestos pela decisão do irlandês Irvine de não validar um golo que o não foi… Expliquemos: Vinha cabeceou a bola e o guardião do Cannes agarrou-a mas caiu para dentro da baliza. A dúvida instalou-se entre os presentes: terá a bola, agarrada por Dussuyer, ultrapassado o risco? Não nos pareceu e por isso afigura-se-nos correta a decisão do árbitro e do fiscal de linha», analisou o jornalista. Só na segunda metade o marcador iria funcionar e a favor dos portugueses. Na sequência de um longo lançamento de linha lateral para o interior da área, Jorge Plácido ensaia um vistoso remate à meia volta e envia o esférico para o fundo da baliza. Estavam decorridos 50 minutos. O cenário do golo foi assim descrito por A Bola: «… O conjunto de Paranhos continuou (no início da segunda parte) no comando do prélio. E de tal modo que quatro minutos após o recomeço a Alma Salgueirista renasceu e com ela as esperanças: Jorge Plácido obtinha o golo. Aquele que viria a ser o único do encontro e na sequência de um dos excelentes e poderosos lançamentos de linha lateral de Nikolic, que fez a bola “pingar” no coração da área, motivando um subtil toque de cabeça de Vinha para trás, propiciando a intervenção vitoriosa de Jorge Plácido»

Após a festa do primeiro - e único até à data – golo europeu da turma de Paranhos, esta continuou a dominar, mas gradualmente as forças e discernimento começaram a não ser as melhores. «O Salgueiros continuou a desenvolver um futebol prático embora sem beleza (era preciso?), mas foi neste período que se tornou claro aos olhos de todos que nem a formação de Paranhos, nem o antagonista, teriam capacidade para grandes desempenhos», disse António de Sousa na sua crónica. E nesse sentido o resultado não mais sofreu alterações.

Era pois de satisfação o ambiente que pairava no balneário do Salgueiros após o apito final de Irvine. Para o treinador Zoran Filipovic tinha-se assistido a um bom jogo de futebol, «no qual deixámos uma boa imagem, perante um adversário aguerrido. Marcámos um golo, tivemos mais oportunidades para aumentar a vantagem, mas foi muito bom não termos sofrido nenhum. Agora, temos mais 90 minutos pela frente onde teremos de jogar com a mesma concentração, muita humildade e agressividade».

Radiante estava também o então presidente do Salgueiros, Carlos Abreu, que à reportagem de A Bola disse que «após um início muito tremido tomámos conta do jogo e conseguimos marcar um golo, que apareceu em boa altura. Depois foi gerir a vantagem e procurar não sofrer golos. O empate também se aceitava, o Cannes jogou bem, teve algumas oportunidades, mas penso que a vitória é o prémio para a nossa agressividade e para a forma como a equipa soube fechar-se no meio campo e na defesa».

Para o capitão Rui França o resultado estava certo. «Foi um jogo difícil, porque o Cannes tem uma grande equipa, recheada de bons jogadores, praticando um bom futebol. Contudo, através do nosso empenho, tentámos contrariar o favoritismo dos franceses e conseguimos um golo. O resultado acabou por ser escasso, mas não devemos esquecer que o adversário também dispôs de algumas oportunidades. Por tudo isto, penso que o resultado acaba por estar certo». Uma das figuras principais do jogo foi Jorge Plácido, autor do golo, ele que no final confessaria que «esforçámo-nos e batemo-nos por conseguir o melhor resultado possível. (…) A minha exibição poderia ter sido melhor, posso render mais, mas decaí fisicamente na segunda parte. Se tivesse um pouco mais de frescura, talvez pudesse ter marcado o segundo golo, o que para nós era o ideal. Em Cannes vai ser mais difícil do que aqui, já que o adversário tem uma equipa muito forte».

E foi na realidade uma viagem difícil aquela que o Salgueiros realizou até ao sul de França na 2.ª mão da eliminatória. A equipa portuguesa perdeu por 1-0 e seria afastada das provas da UEFA no desempate por grandes penalidades. O clube de Paranhos até pode ter perdido a eliminatória no campo, mas saiu desta “aventura” vitorioso, pois ver o velho Salgueiral na Europa do futebol foi um momento histórico.

No Estádio do Bessa sob arbitragem de Leslie Irvine as equipas alinharam da seguinte maneira: Salgueiros – Madureira, Paulo Duarte, Pedro Reis, Abílio, Pedrosa, Rui França, Jovica Nikolic, Stevan Milovac, Vinha, Álvaro Soares (Leão, 68), Jorge Plácido (Rui Alberto, 75). Treinador: Zoran Filipovic.
Cannes - Michel Dussuyer, Jean-Luc Sassus, Ludovic Pollet, Pierre Dréossi, Zinedine Zidane, Luis Fernández, José Bray, Franck Durix, Aljosa Asanovic, François Omam-Biyik, Robby Langers. Treinador: Boro Primorac.
Golo: Jorge Plácido (50).

ENTREVISTA:

PROFESSOR MANUEL GONÇALVES: «O ZORAN FILIPOVIC TROUXE UMA NOVA MENTALIDADE AO CLUBE»

Para recordar não só este momento ímpar na vida desportiva do Salgueiros mas também o ambiente místico de então que se vivia pelos lados de Vidal Pinheiro, nada melhor do que falar com alguém que viveu por dentro este período dourado da história do clube. Nesse sentido trocámos dois dedos de conversa com o professor Manuel Gonçalves, treinador-adjunto de Zoran Filipovic. 

Museu Virtual do Futebol (MVF): O professor Manuel Gonçalves chegou ao Salgueiros no final da década de 80 e acompanhou o clube em todo o trajeto realizado desde a 2.ª Divisão até à chegada às competições europeias. Pergunto-lhe como é que o popular Salgueiral conseguiu no espaço de duas épocas passar do segundo escalão nacional à Europa?

Manuel Gonçalves (MG): Cheguei ao Salgueiros no início da época de 1988/89 com o (treinador) Vieira Nunes. Em outubro houve chicotada psicológica. O senhor José António Linhares e o presidente Carlos Abreu falaram comigo, dizendo-me que gostavam que eu continuasse, uma vez que estavam a pensar contratar um treinador que ia treinar pela primeira vez e não tinha equipa técnica. Disseram-me, na altura, que tinham gostado do meu trabalho ao longo dos primeiros meses em que trabalhei no clube, assim como do que tinham auscultado em conversa com os capitães de equipa. Assim, entra o Zoran Filipovic para treinador principal e eu continuei como treinador-adjunto, isto com o clube a competir na Zona Norte da 2.ª Divisão Nacional.

O primeiro jogo do Zoran Filipovic como treinador principal foi em Amarante, onde o Salgueiros ganhou por 1-0. Foi um campeonato muito difícil, com muitos problemas para se assegurar a manutenção.
Recordo, aliás, um episódio que aconteceu no dia 15 de novembro de 1988, altura em que perdemos em casa com o Varzim por 3-0 e o Filipovic pediu para sair, ao que o presidente Carlos Abreu e o Chefe de Departamento de Futebol, José António Linhares, se opuseram e convocaram uma reunião com o plantel, a equipa técnica e todo o staff que envolvia o futebol do clube. Essa foi uma reunião que ainda hoje guardo como um marco do dirigismo, algo especial, e que me marcou ao longo da minha carreira com mais de 50 anos ligado ao futebol. O presidente Carlos Abreu, nessa reunião, inquiriu os jogadores que estavam há mais tempo no clube, perguntando-lhes precisamente há quantos anos ali estavam, e quantos treinadores haviam tido. Uns respondiam que estavam ali há 5 anos e que tiveram 7 treinadores, outros respondiam que estavam no clube há 8 anos e que tinham tido 10 treinadores, e por aí fora. Depois desta análise concluiu: “então a maioria tem muitos anos de clube e mudámos de treinador várias vezes. Já identifiquei o problema, o qual não está nos treinadores! Agora, não vamos mudar de treinador, e a mudar (algo) mudamos os jogadores”. Dessa forma na época de 1989/90 entre atletas promovidos dos juniores e contratações entraram no plantel do Salgueiros cerca de 16 novos jogadores. Essa temporada de 89/90 foi iniciada com um novo espírito e uma nova mentalidade. 

Filipovic e Manuel Gonçalves

MVF: … O Filipovic ficou, portanto, rompendo assim com a prática de despedir o treinador quando as coisas corriam mal. E como é que foi trabalhar com ele todos aqueles anos em Vidal Pinheiro? Como era Zoran Filipovic como treinador?

MG: O Zoran Filipovic trouxe uma nova mentalidade ao clube, novas metodologias de treino. Neste último aspeto cortou com aquilo o que na altura era a metodologia de treino, baseada nos desportos individuais, onde a dimensão física ditava leis. E mudou para as metodologias que se utilizam hoje em dia, onde os exercícios com bola e exercícios de acordo com o jogo eram a base de trabalho. O microciclo semanal (de trabalhos) passou a ser muito diferente do que até então era habitual, o que gerou alguma polémica na altura, com a folga semana, por exemplo, a ser à quinta-feira, dia habitual do chamado treino de conjunto. Lembro-me perfeitamente que à segunda-feira havia treino de recuperação para os jogadores utilizados no jogo do domingo anterior, enquanto os menos utilizados faziam treino normal; à terça-feira havia treino da parte da manhã e da parte da tarde; à quarta-feira de manhã havia treino específico, dividido em dois grupos, em que se iniciava com os jogadores de características defensivas e depois treinava-se com os de características ofensivas, ao passo que da parte da tarde treinava todo o grupo. À quinta-feira era a folga; e à sexta-feira e ao sábado havia treino da parte da manhã. Ao longo da semana de trabalho os treinos tinham a duração máxima de 90 minutos, e as metodologias utilizadas eram muito bem aceites pelos jogadores, dado que a bola estava sempre presente em todos os exercícios de treino, o que era motivante para o trabalho.

MVF: Como é que o popular Salgueiros viveu em termos emocionais essa chegada à Europa? Falo não só do clube em si, mas também daquilo o que viu nos fiéis e apaixonados adeptos deste emblema?

MG: 1991/92 foi uma época de grande afirmação do clube e que muito estimulou os seus adeptos, que viveram esse período com grande entusiasmo, e ainda hoje os adeptos mais velhos recordam isso com saudade.

Filipovic com Manuel Gonçalves ao lado numa palestra em Vidal Pinheiro

MVF: Consumada a chegada à Europa quis o sorteio que a estreia fosse diante do Cannes. Como é que o Zoran Filipovic, em conjunto com o professor Manuel Gonçalves e o Jorginho (treinadores adjuntos), preparou este jogo?

MG: O jogo com o Cannes gerou grande expectativa. Quase todos os jogadores nunca tinham participado numa prova (europeia) desta natureza. Sabíamos que o Cannes tinha grandes jogadores, onde despontava o Zidane, mas também jogadores experientes como o Fernández, o Omam-Biyik, o Asanovic, o Sassus, o Dussuyer, etc…

MVF: … E perante esse conhecimento como era o espírito do grupo antes do jogo? Nervosismo, entusiasmo, ou um misto destes dois sentimentos?

MG: O espírito do grupo era muito bom, pois vínhamos de duas épocas de sucesso, uma em que fomos campeões nacionais da 2.ª Divisão, e a seguinte em que nos apurámos para a Taça UEFA na sequência de um 5.º lugar.

MFV: Na sua visão de treinador o golo de Jorge Plácido que deu a histórica vitória fez justiça ao que se passou em campo ou o empate também se ajustava?

MG: Os dois jogos da eliminatória foram muito equilibrados. No Bessa foi com inteira justiça que o Salgueiros ganhou por 1-0. O jogo da segunda mão ficou marcado pela expulsão do Pedrosa, aos 56 minutos. No final dos 90 minutos o Cannes ganhava por 1-0, ficando a eliminatória empatada, pelo que se jogou um prolongamento de 30 minutos, sem que o resultado se alterasse. Há que referir que o Salgueiros jogou o encontro da segunda mão durante 64 minutos com 10 jogadores! Na decisão das grandes penalidades o Cannes ganhou por 4-2.

MVF: Já agora, do outro lado da barricada estava um jovem chamado Zinedine Zidane. O que é que achou dele naquela noite no Bessa? Adivinhou que ali estaria um dos futuros maiores jogadores da história do futebol ou nem por isso?

MG: Nessa altura o Zidane estava a iniciar-se, era ainda muito jovem, mas já tinha muita qualidade. As grandes estrelas do Cannes eram o Fernández e o Omam-Biyik.

MVF: Olhando para trás, mais de 30 anos depois, o que é que em seu entender significou aquela ida à UEFA por parte de um clube como o Salgueiros?

MG: Depois dos jogos com o Cannes, que foram uma experiência única para a maioria dos elementos do grupo, essa experiência acabou por trazer mais responsabilidade ao clube, pela exposição a que tinha sido submetido com a eliminatória europeia, que ainda hoje é um marco na história do Salgueiros. A ida à Europa para um clube como o Salgueiros foi de facto um ato que perdurará para sempre na história do clube, assim como na memória da massa associativa.

MVF: Para terminar, peço-lhe que classifique os 13 heróis que naquela noite de 19 de setembro no Estádio do Bessa fizeram história com a camisola do Salgueiros. À frente de cada nome diga o que pensa desse jogador, com uma palavra ou um pensamento, em suma, que caraterize individualmente esse atleta. Cá vai:

Madureira: «Um guarda-redes histórico do clube, com muitos anos de Vidal Pinheiro. Esteve ligado a um período de ouro da história do Salgueiros e que sabia transmitir a mística (do clube) ao grupo»

Paulo Duarte: «Um defesa-central prático e regular, com um grande caráter e um excelente ser humano»

Pedro Reis: «Um central que não sabia jogar mal. Eficaz. Era um pêndulo no sistema defensivo de três centrais que o clube utilizava na altura»

Pedrosa: «Lateral-esquerdo que veio da 3.ª Divisão, mas que pela sua qualidade e empenho se impôs com facilidade, acabando por seguir para o Sporting e ter feito uma boa carreira no futebol português»

Rui França: «Era o capitão e um trinco de grande eficácia. Era um operário que não parava durante os 90 minutos. Taticamente era bom, era forte nos duelos, entregava-se ao jogo sempre em alta rotação»

Milovac: «Um central top. Muito forte no jogo aéreo, e difícil de transpor nos duelos com os avançados contrários. Era um pilar do sistema de três centrais que a equipa utilizava»

Nikolic: «Era o estratega. Tinha muita classe e visão de jogo. Foi um jogador que marcou a equipa em muitos jogos pela sua liderança e qualidade técnica acima da média»

Abílio: «O trato de bola, a qualidade técnica e visão de jogo faziam com ele acrescentasse à equipa sempre algo em cada lance do jogo. Jogava com alegria, algo que transmitia aos colegas e que se refletia no rendimento da equipa»

Álvaro Soares: «Jogador pragmático, de grande eficácia, e com processos simples. Era veloz e dos seus pés saíam muitos cruzamentos que proporcionavam golos aos avançados»

Vinha: «Entrou bem no sistema de jogo da equipa. Foi muito útil nesse sistema de jogo utilizado. Com a sua enorme estatura tirava partido dos lances de bola parada»

Jorge Plácido: «Jogador experiente, rápido, e que ficará para sempre ligado à história desta eliminatória pelo golo que deu a vitória na primeira mão»

Leão: «Naquela altura estava em início de carreira, e cumpriu sempre que foi chamado. Confirmou, pela carreira que viria a fazer, a aposta que a equipa técnica fez nele»

Rui Alberto: «Um jogador eficaz. Era um ponta de lança prático, que tinha qualidade e fazia golos com alguma facilidade»

O plantel do Salgueiros que foi à Europa

sexta-feira, outubro 14, 2011

Momentos altos da vida... do Sport Comércio e Salgueiros

Há paixões que não se explicam, acontecem à primeira vista, enfeitiçam-nos e vivem para sempre nos nossos corações. Para mim o futebol é uma dessas paixões arrebatadoras e eternas, e dentro dele outros encantos foram sendo cravados na minha alma ao longo da minha existência. Um desses encantos dá pelo nome de Sport Comércio e Salgueiros, o emblema que trago estampado no meu coração. Sobre esta eterna paixão já aqui falei (na vitrina dedicada aos emblemas históricos) noutros capítulos desta minha viagem virtual pelo mundo encantado da bola, pelo que hoje passo apenas em revista alguns momentos deste histórico clube português que neste preciso ano comemora a bonita idade de 100 ANOS! Parabéns Salgueiros.
Uma imagem rara e carregada de nostalgia apresenta um grupo do então adolescente Sport Comércio e Salgueiros no longínquo ano de 1922.

Foto histórica de uma equipa... histórica. Este foi o Salgueiros que na temporada de 1943/44 participou pela primeira no Campeonato Nacional da 1ª Divisão. Uma aventura de curta duração, já que na época seguinte a turma salgueirista estaria de volta ao escalão secundário, uma vez que na temporada de estreia entre os grandes não foi além do último lugar, somando apenas três pontos, em consequência de uma vitória (em casa diante da Académica) e de um empate (também em casa, mas ante o Vitória de Guimarães).

Corria a temporada de 1956/57 quando o Salgueiros viveu aquele que se pode chamar como o primeiro momento alto da sua vida: a conquista do Campeonato Nacional da 2ª Divisão.
Um onze do Salgueiros na temporada de 1973/74, época em que o clube competiu na Zona Norte da 2ª Divisão Nacional.
Mário Reis (que na fotografia é o quarto da direita para a esquerda na fina de baixo) foi um dos mais célebres terinadores da história do Sport Comércio e Salgueiros. Aqui, em 1976/77 integra o plantel salgueirista que teve uma performance negativa na Zona Norte da 2ª Divisão Nacional, já que o pobre 14º lugar originou a queda ao terceiro escalão. Mas seria por pouco tempo...
Época 1977/78, memorável! O Salgueiros vence a Série B da 3ª Divisão Nacional e alcança a subida ao segundo escalão do futebol em Portugal. 
Na temporada seguinte (78/79) o Slagueiros realiza uma temporada tranquila na Zona Norte da 2ª Divisão Nacional, terminando o certame num confortável 7º lugar. 1978/79 fica sobretudo marcada pela aparição de um jovem proveniente do vizinho e rival Boavista, de seu nome Jorginho, que com o passar dos anos se iria tornar num ícone do clube.
1979/80, mais uma temporada passava na 2ª Divisão Nacional. Campeonato tranquilo fizeram jogadores como Jorginho, Nélito, Mariano, ou Ernesto, como comprova o 8º lugar final.

Ainda num tempo em que a bola era jogada em terra batida o Salgueiros marca - em 1981/82 - presença entre os grandes do futebol luso, isto é, na 1ª Divisão. Treinado por Henrique Calisto o grupo de Vidal Pinheiro foi uma das revelações da prova, sobretudo na primeira metade do campeonato, afastando desde cedo o cenário da descida de divisão do seu horizonte. No final o Salgueiral foi 10º, com 27 pontos somados. Desse grupo faziam parte jogadores como Jorginho, Soares, Costeado, ou um tal de Rui França, um jovem acabado de chegar do Estarreja e que com o passar dos anos se tornou num símbolo do clube.
Apesar de ter tido várias presenças nos escalões secundários do futebol português ao longo da sua história era à 1ª Divisão que o popular Salgueiros pertencia. Nesta foto uma equipa que na temporada de 82/83 participou no escalão maior, cuja classificação final foi um honroso 10º lugar (com 27 pontos somados em 30 jogos disputados). Em 85/86 o Salgueiros foi 11ª na classificação geral da 1ª Divisão, com 25 pontos. Nesta campanha destaca-se o facto de em Vidal Pinheiro (casa dos salgueiristas) não ter perdido um único jogo com os 3 grandes do futebol português. Apesar de contar nas suas fileiras com jogadores de renome do futebol nacional e internacional, casos de Romeu (ex- FC Porto e Sporting), Festas (ex- Sporting e FC Porto), e o internacional irlandês Mike Walsh (ex-FC Porto) o Salgueiros não fez uma boa campanha em 86/87. No final foi 14º, com 24 pontos, e só não desceu à 2ª Divisão porque na temporada seguinte o escalão maior foi alargado de 16 para 20 clubes, pelo que em 1986/87 ninguém foi despromovido.
Um onze do Salgueiros na temporada de 1987/88, na 1ª Divisão Nacional. Um grupo do qual faziam parte lendas salgueiristas como Pedro Reis, Madureira, Jorginho, Rui França, ou Carlos Brito. Desportivamente esta não foi uma temporada famosa para os encarnados de Paranhos, já que o 19º, e penúltimo lugar da classificação geral deu origem a uma nova descida de divisão.
Em 1989/90 mais um momento de enorme festa para os lados de Paranhos (freguesia onde nasceu o Salgueiros) com a conquista do segundo título nacional da 2ªDivisão. Por estas alturas já se fazia notar a mão de um homem que haveria de mudar a vida do clube: Zoran Filipovic. Sob a batuta deste célebre treinador o Salgueiros atingiria na época seguinte (90/91) a sua melhor classificação de sempre na 1ª Divisão, o 5º lugar, e melhor do que isso garantia pela primeira e única vez na sua história o "bilhete" para participar na Taça UEFA de 91/92.
Ora aqui está, o lendário plantel salgueirista em 1990/91, o tal que conseguiu um mágico 5º lugar e o consequente apuramento para a Taça UEFA da época seguinte. Gravados a letras de ouro na história do clube ficaram nomes como Vinha, Pedro Reis, Rui França, Nikolic, Leão, Milovac, Madureira, Nélson (que seria campeão do Mundo sub-20 em 1991), Djoncevic, ou Tozé.
O Salgueiros europeu de 1991/92. O plantel que participou na aventura da Taça UEFA dessa inolvidável temporada, e da qual fazia parte Jorge Plácido, o homem que entrou para a história do clube por ter marcado o solitário tento com que o Salgueiros bateu os franceses do Cannes na primeira mão da 1ª eliminatória da citada competição europeia. Em França o Salgueiral - liderado por Filipovic - seria eliminado na lotaria das grandes penalidades. No campeonato nacional da 1ª Divisão o clube salvou-se da descida em cima da meta...
Ainda na "era" de Filipovic o Salgueiros viveu em 92/93 uma temporada de sobressaltos... mas no final o principal objectivo da época foi conseguido com a manutenção na 1ª Divisão Nacional. Ainda assim duas coroas de glória foram alcançadas, o mesmo é dizer as duas vitórias conseguidas ante o gigante Sporting, em casa por 2-0 e em Alvalade por 1-0. Neste grupo destacavam-se os nomes de alguns jogadores que nos dias de hoje são verdadeiras lendas do clube, casos de Pedro Reis, Madureira, Vinha, Nikolic, Milovac, Renato, Rui França, ou Sá Pinto.Já sob a batuta de outro técnico que se tornou célebre em Vidal Pinheiro, Mário Reis, o Salgueiros alcançou em 94/95 um 11º lugar no Nacional da 1ª Divisão, com 39 pontos. No grupo sobressaía um avançado brasileiro portador de uma elevada qualidade técnica e um instinto goleador apurado, o seu nome era Edmilson.Ainda com Mário Reis ao leme o clube foi 12º em 95/96. Uma temporada onde os gigantes de Lisboa (Benfica e Sporting) sentiram bem o peso da Alma Salgueirista. Os benfiquistas foram goleados no Porto por 4-2 e não foram além de um empate a zero em casa diante dos pupilos de Reis, ao passo que o Sporting não conseguiu melhor do que dois emaptes a duas bolas nos confrontos com as águias do Norte. No plantel destacavam-se nomes como o guarda-redes internacional Pedro Espinha, Nandinho (que mais tarde chegou ao Benfica), Toni (avançado campeão do Mundo de sub-20 em 1991), ou o estratega Abílio (ex- FC Porto).Nome grande do futebol português enquanto jogador Carlos Manuel pegou em 96/97 nos destinos do "Salgueiral". E logo na estreia esteve quase a igualar a melhor classificação de sempre do clube na 1ª Divisão, o 5º lugar de 90/91. Quedou-se por um brilhante 6º posto, ficando às portas da UEFA (a somente um ponto do último clube a garantir o "passaporte" para as competições europeias da temporada seguinte). Na caminhada gloriosa destacam-se dois triunfos históricos, o primeiro em casa do FC Porto por 2-1, e o segundo em casa do Benfica, por 4-3 (!!!). 1997/98 foi mais uma época tranquila para os salgueiristas com a obtenção de um 8º lugar final entre os grandes de Portugal. Na baliza deste grupo destacava-se um nome grande da história do futebol lusitina, Silvino Louro de seu nome, um homem que durante anos defendeu as balizas do Benfica, FC Porto e da própria Selecção Nacional. Por lá continuavam as lendas do clube... Pedro Reis, Vinha, Renato, Nandinho, ou Abílio. 2001/02 foi uma época triste na vida do Salgueiros, já que foi a última em que o clube participou num Campeonato Nacional da 1ª Divisão antes de ter extinguido o futebol profissional anos depois. Nesta temporada os salgueiristas foram 16ºs. e desceram de divisão.

ALGUNS JOGOS HISTÓRICOS DA VIDA DO SPORT COMÉRCIO E SALGUEIROS

Sp. Espinho - SALGUEIROS (Jogo decisivo da época de 1989/90 para apurar quem subia à 1ª Divisão Nacional)
SALGUEIROS - Cannes (1ª mão da Taça UEFA de 1991/92)
 FC Porto - SALGUEIROS (Vitória histórica do SC Salgueiros nas Antas, na temporada de 96/97)
 SALGUEIROS - Sporting (Vitória sobre os lisboetas, em casa emprestada - Estádio do Bessa - a contar para o Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 92/93) 
SALGUEIROS - FC Porto (Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 83/84)

segunda-feira, setembro 22, 2008

Estrelas cintilantes (14)... Vinha

Depois de um – longo – período de férias o Museu Virtual de Futebol volta a abrir as suas portas aos apaixonados pelo belo jogo da bola. E regressamos com uma visita a um jogador que fez as minhas delícias de garoto. Um homem que para os mais familiarizados com a história do futebol foi um verdadeiro matreco da bola, um tosco, daqueles jogadores a quem a bola só atrapalha. Sim, até pode ser verdade, de craque da bola ele tinha muito pouco, ou mesmo nada. Mas tinha o que hoje em dia falta a muitas vedetas, ou pseudo-vedetas, do planeta da bola: humildade, companheirismo, trabalhador incansável, e sobretudo... uma alma enorme. Aliadas ao seu aspecto – físico – invulgar para um jogador de futebol estas características fizeram deste nobre cidadão um dos meus ídolos dentro do mundo do futebol. Senhoras e senhores visitantes fiquem nas próximas linhas com Alves Nilo Marcos Lima Fortes, popularmente conhecido no futebol como Vinha.
Nascido em Cabo Verde a 6 de Novembro de 1966 este gigante chegou a Portugal para representar o Atlético Clube de Portugal na temporada de 1988/89. E digo gigante não por ter sido, e volto a frisar a ideia, um mago da bola mas sim pela sua estampa física. O Vinha era – e continua a sê-lo - um rapaz alto, muito alto, alto demais para um jogador de futebol, com 1.93m (!!!) e muito magrinho. Na Tapadinha ficou duas temporadas antes de se mudar para o clube que o haveria de tornar famoso, o Salgueiros. A sua época de estreia pelo velho salgueiral, em 1990/91, coincide com a melhor fase vivida pelo popular clube portuense em toda a sua história, a época em que os encarnados do Norte terminaram o campeonato no 5º lugar, o que daria direito à participação na Taça UEFA da temporada seguinte. A época em que eu me deixei encantar pela Alma Salgueirista, em que me tornei membro da grande e nobre família salgueirista. A história do meu amor (à primeira vista) pelo Salgueiros já a confessei aqui em Janeiro passado, altura em que falei deste muito querido emblema portuense. Recordei também na altura alguns jogadores dessa mágica equipa que alcançou a qualificação para as competições europeias, tais como o Pedro Reis, o Rui França, o Leão, o Madureira, o Milovac ou o Nikolic. Mas houve um que me chamou à atenção, não só pela sua invulgar figura, muito alto, com uma corrida desengonçada, muito trapalhão com a bola nos pés, mas sobretudo pela sua alma, pela sua entrega ao jogo. Sim, era o Vinha, um homem que personificava como ninguém o verdadeiro significado do que era a alma salgueirista. Trabalhador humilde e dedicado ele era um dos jogadores mais queridos da massa associativa do clube. Um verdadeiro cavalheiro do futebol. Na época de estreia pelo Salgueiros fez 26 jogos e apontou 7 golos. Apesar de jogar como avançado esta foi a temporada em que fez mais vezes o gosto ao pé, dando para ver que de facto o Vinha era tudo menos um grande goleador. Ele era o operário daquela grande equipa, o rapaz humilde, envergonhado, que quando a bola lhe chegava aos pés, ou à cabeça, tratava de fazer o melhor que podia com ela para ajudar a sua equipa a atingir os objectivos. Era daqueles jogadores que não queria protagonismo mas sim ajudar a equipa... sempre. Era isso que me fascinava no Vinha, a sua postura em campo.
Na aventura europeia do Salgueiros participou nos dois jogos na eliminatória com os franceses do Cannes, ficando desde logo o seu nome gravado a letras de ouro na história do clube.
De aspecto frágil relembro um dos papéis principais deste homem noutro episódio da história do salgueiral, mais concretamente na última jornada do campeonato da época de 1992/93 no terreno do Espinho onde a poucos minutos do fim o Salgueiros perdia por 0-1 e com aquele resultado estava matematicamente na 2ª Divisão. E eis que no último minuto do encontro o desengonçado Vinha estica a sua perna longa e põe a bola no fundo da baliza espinhense fazendo o 1-1 final que manteve o Salgueiros na 1ª Divisão. E ainda hoje recordo esse momento, em que de rádio ao ouvido pulei de alegria gritando o nome do herói cabo-verdiano.
Esse golo terá ajudado, por certo, a que na temporada seguinte o FC Porto tenha ido a casa do vizinho Salgueiros contratar o gigante Vinha. E de azul e branco equipado o cabo-verdiano não podia ter tido melhor estreia, quando no encontro da 2ª mão da Supertaça Cândido de Oliveira, ante o Benfica, disputado nas Antas, entrou em campo já na 2ª parte e aos 84 minutos fez o único golo do jogo, empatando naquele momento a “eliminatória” da supertaça, já que na 1ª mão os benfiquistas haviam vencido também por 1-0. Alguns meses mais tarde o FC Porto venceria a prova que seria decidida numa finalíssima realizada em Coimbra. Alguns dias depois do golo da supertaça Vinha voltaria a ser carrasco do Benfica, quando o FC Porto recebeu na 1ª jornada do campeonato os seus rivais de Lisboa. A girafa cabo-verdiana marcaria de cabeça o primeiro golo desse jogo que terminaria empatado a três golos. Confirmaria alguns meses mais tarde a sua vocação para marcar golos aos grandes de Lisboa quando nas Antas fez um dos dois golos com que o FC Porto bateu o Sporting. Outro grande momento de azul e branco vestido aconteceu no final dessa temporada quando participou na vitória do emblema nortenho na finalíssima da Taça de Portugal também diante do Sporting (a final tinha terminado empatada a zero) que foi concluída com um resultado de 2-1. Vinha foi suplente utilizado nesse dia, vencendo assim o primeiro dos seus dois únicos troféus conquistados ao serviço dos dragões (o outro foi a supertaça).
Depois dessa época seria dispensado pelos portistas, tendo então regressado ao seu Salgueiros onde cumpriu mais quatro temporadas. Na 1ª Divisão fez mais de 150 jogos pelo seu clube de coração. Após a saída do clube de Paranhos, em 1997/98, teria ainda curtas passagens pelos escalões secundários do futebol português, mais concretamente pelo Paços de Ferreira, Lousada, Imortal e Tirsense, clube este que há poucas semanas atrás tinha sido o último em que Vinha havia jogado. Isto porque com o anunciado regresso do futebol sénior do Salgueiros foi anunciado que o gigante cabo-verdiano iria integrar o plantel do clube na 2ª Divisão Distrital da época 2008/09. Este regresso de Vinha ao futebol, aos 41 anos de idade, não tem senão a ver com o facto de querer ajudar o Salgueiros a reconquistar o seu espaço no futebol nacional. Mais uma vez Vinha mostrou que os grandes jogadores não se medem apenas pelas qualidades técnicas mas também pelas qualidades humanas, e neste aspecto este homem é um Senhor.


Legendas das fotografias:
1- O "cromo" de Vinha
2- Integrando um "11" do seu Salgueiros (Vinha é o segundo da fila de cima a contar da esquerda para a direita)

quarta-feira, janeiro 02, 2008

Emblemas Históricos (6)... SC Salgueiros

Ora aí está 2008! Desde já aproveitamos para dirigir aos senhores visitantes um ano novo pleno de alegria, saúde, paz, sucessos, amor, e sobretudo muito e bom futebol.
E na primeira visita ao Museu neste novo ano os ilustres visitantes terão a oportunidade de conhecer um pouco da história de um clube que me diz muito. Um glorioso e histórico emblema do futebol português que comecei a amar desde os meus 12/13 anos, paixão que se mantém até aos dias de hoje. Falo do Sport Comércio e Salgueiros, o popular Salgueiral.
Nascido na mui nobre cidade do Porto, mais concretamente na freguesia de Paranhos, no dia 8 de Dezembro de 1911, o Salgueiros tornou-se ao longo dos anos num dos mais populares e queridos clubes do nosso país.
Clube humilde, das classes operárias, o Salgueiral surgiu numa época em que o futebol era praticado nas ruas pelos miúdos de pé descalço, com bolas de trapos feitas a partir de meias velhas. No já referido ano de 1991 um grupo de pequenos amigos, mais precisamente o Joaninha (de seu nome completo João da Silva Almeida), o Aníbal Jacinto e o Antenor depois de assistirem a um FC Porto-Benfica, no Campo da Rainha, reuniram-se e resolveram fundar um clube de futebol.
«Embora parecendo um impulso de euforia após um escaldante FCPorto-Benfica, de facto, junto do candeeiro 1047, entre as ruas da Constituição e Particular de Salgueiros, nasceu o sonho de um grupo de rapazes, e que começou a ganhar forma e daí nasceu o Sport Grupo e Salgueiros. Embora já houvesse nome, era necessário dar forma à equipa! Com muita carolice, todas as noites após o trabalho e o jantar, os "rapazes" reuniam-se debaixo do candeeiro 1047 para debater e acertar ideias, e começar a construir o clube.
O clube oficializa-se com os primeiros jogos, mas era necessário arranjar dinheiro para comprar camisolas e umas botas para os jogadores. Estava-se próximo do Natal de 1911 e os rapazes lembraram-se de organizar um grupo de boas festas e foram cantar as janeiras aos vizinhos de porta em porta, estendendo o boné! Angariaram a modesta quantia de 2.800 reis, o que lhes permitiu comprar a primeira bola de futebol. Bola já havia, mas faltavam as camisolas. Ficou decidido que estas seriam vermelhas, tal como as do Benfica, distanciando assim do futuro rival que vestia de azul e branco, o FC Porto. Seria então de vermelho, vermelho cor de sangue e paixão que seriam as camisolas do Sport Grupo e Salgueiros até aos dias de hoje! O primeiro terreno seria na Arca D´Água, onde o clube teve como primeiros adversários o Sport Progresso, o Carvalhido Football Clube entre outros. A partir daí o Sport Grupo e Salgueiros começou a sua longa caminhada no futebol nacional. Na época de 1916/17 o clube ostentava a designação de Sport Porto e Salgueiros, esta mudança de nome deve-se a uma questão de orgulho. Em 1920 após uma profunda crise do Sport Porto e Salgueiros, o clube decidiu fundir-se com o Sport Comércio, outro clube da cidade, e surgiu então o Sport Comércio e Salgueiros como hoje conhecemos», é assim desta forma que são relatados os primeiros anos de vida do Salgueiral.



Amor à primeira vista!

Certo domingo, após de um belo repasto em família, e sem nada para fazer da parte da tarde eis que depois de muito pensar em diversas tarefas para ocupar o tempo o meu pai disse a seguinte frase: «E se fossemos ver o Salgueiral?» Teria eu os meus 12/13 anos nessa altura. Nem se pensou duas vezes perante tal convite. Então, eu, o meu pai, e o meu tio, saímos em direcção ao velhinho Estádio Engenheiro Vidal Pinheiro, a casa do popular clube, onde aí assistimos a um Salgueiros – Estrela da Amadora, referente à temporada 1990/91.
Recordo esse dia como se fosse hoje. As bancadas cheias, a emoção e a paixão vermelha estavam bem vivas aos olhos de todos. Adeptos apaixonados e ferrenhos pelo seu clube. Uma atmosfera única e cativante.
De imediato fui contagiado por aquele ambiente. De tal maneira que comecei a vibrar com cada jogada que aquela grande equipa do Salgueiros fazia. Ainda me lembro da frase que o meu tio disse quando me viu emocionado e empolgado com...o Salgueiros: «Ui, temos aqui um novo salgueirista!». Tinha razão, foi amor à primeira vista. Fiquei louco com aquele ambiente, com aquele clube, com aqueles adeptos, com aqueles jogadores.
Desde logo fixei os nomes dos craques do Salgueiral. O meu preferido de imediato foi o Nikolic, ou Niko como carinhosamente era tratado pela massa associativa do clube, um jugoslavo que jogava com o número 10, um verdadeiro artista com a bola nos pés. Na baliza actuava o grande Madureira, tendo à sua frente uma defesa onde pontificavam nomes como Pedro Reis (um salgueirista de coração), ou o “barbas” Djoncevic. No meio campo o capitão Rui França comandava as tropas, tendo ao seu lado nomes como Álvaro Gregório e Leão. Na frente de ataque estava um dos meus ídolos de infância, de seu nome Vinha, um calmeirão cabo-verdiano, algo desengonçado, mas com um coração e uma alma enorme. Homens treinados por um grande senhor do futebol internacional, Zoran Filipovic.
Nesse dia eu senti e percebi o que era a ALMA SALGUEIRISTA, o espírito, a mística, deste grande clube.
Na semana seguinte a este jogo entrei para a grande família salgueirista ao fazer-me sócio do clube. De lá para cá vivi muitas alegrias e tristezas no meu apoio incondicional ao Salgueiros, se bem que nos últimos anos foram mais as tristezas do que as alegrias.


Vídeo do resumo do encontro Salgueiros - Estrela da Amadora referente à temporada 90/91, o jogo que despoletou a minha paixão pelo clube de Paranhos 

O rico palmarés

São muitos os feitos que o Salgueiros vem coleccionando desde a sua fundação. No futebol, a modalidade rainha do clube, são de destacar as 21 presenças no escalão maior do futebol português, sendo que a melhor classificação foi alcançada precisamente na época em que começou a minha paixão pelo clube, 90/91, um fantástico 5º lugar, que deu acesso à Taça UEFA da temporada seguinte. Nesta competição o Salgueiros defrontaria o Cannes, de França, que na altura tinha nos seus quadros um jovem que anos mais tarde se haveria de tornar num dos maiores jogadores de todos os tempos do futebol mundial, de seu nome Zidane. O primeiro jogo europeu do Salgueiros foi realizado em casa emprestada, no vizinho Estádio do Bessa, tendo o resultado cifrado-se em 1-0 a favor dos locais, com Jorge Plácido a fazer esse golo histórico. Quinze dias mais tarde, em Cannes, o resultado iria repetir-se, só que a favor dos franceses, tendo a eliminatória decidido-se na marcação de grandes penalidades onde o conjunto do sul de França seria mais feliz.
Na Taça de Portugal o Salgueiros participou em 44 ocasiões, tendo como melhor resultado a presença nos quartos-de-final da prova em 51/52.
Em 37 presenças no campeonato da 2ª divisão alcançou por duas vezes o título de campeão, em 56/57 e 89/90. Participou ainda por duas vezes no nacional da 3ª divisão.
O maior número de vitórias na 1ª divisão (14) foi alcançado nas épocas de 93/93 e 96/97. Neste escalão a vitória mais expressiva foi obtida em 94/95, ante o Estrela da Amadora por 6-0, em Vidal Pinheiro.
O jogador que mais vezes actuou com a camisola do Salgueiral na 1ª divisão foi o defesa-central Pedro Reis, com 340 jogos. Abílio, foi o melhor marcador do clube nesta divisão, com 30 tentos.
Jogadores históricos

Foram muitos os jogadores que passaram pelo clube, muitos dos quais deixaram o seu nome escrito a letras de ouro na história do emblema de Paranhos. Já aqui falei de Nikolic, Vinha, Rui França, Pedro Reis, Madureira e Abílio, mas outros houveram que atingiram o patamar da fama do futebol internacional, casos de Deco (actualmente no FC Barcelona), Sá Pinto (representou o Sporting e a selecção nacional com distinção), ou Silvino (um dos melhores guarda-redes da história do futebol português). Chico Fonseca, Pedro Espinha, Chao, Jorginho, Mike Walsh, Edmilson, Miklós Féher, Santana (bi-campeão europeu pelo Benfica na década de 60), e os treinadores Zoran Filipovic, Octávio Machado, Mário Reis, e Carlos Manuel têm também um lugar na história do clube.

O triste presente...

Actualmente o Salgueiros vive dias de tristeza, e de angústia. O clube está moribundo, praticamente morto. Com a extinção do futebol profissional há cerca de três anos atrás, na sequência de uma grave crise financeira, o clube hoje em dia apenas comporta, no futebol, os escalões de formação. O polo aquático tem sido a modalidade rainha nos últimos tempos, com a obtenção de vários títulos nacionais.
O futuro é uma incógnita para a família salgueirista, que vivem na incerteza se o clube irá ou não fechar as portas a curto prazo. No entanto, a esperança é a última coisa a morrer, e tal como eu são muitos os verdadeiros salgueiristas que sonham ver de novo as camisolas vermelhas a fazer furor nos relvados portugueses ao nível do futebol profissional.
Legenda das fotografias:
1- Emblema do SC Salgueiros
2- Uma imagem do museu do clube
3- A equipa de 56/57 que se sagrou campeã nacional da 2ª divisão
4- Um "onze" dos anos 80
5- Um dos últimos plantéis profissionais do Salgueiros, o da temporada 96/97
6- O luso-brasileiro Deco, um mágico que já vestiu as cores do Salgueiros
7- O já extinto Estádio Eng.Vidal Pinheiro