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quinta-feira, março 17, 2022

Histórias do Futebol em Portugal (34)... A estreia do Salgueiros na alta roda do futebol nacional

A equipa do Salgueiros que se estreou 
na 1.ª Divisão em 43/44
Com 110 anos de história, o Sport Comércio e Salgueiros procura hoje regressar a um lugar que por direito é seu: o patamar mais alto do futebol nacional, isto é, a 1.ª Liga. Com 24 presenças entre a elite do futebol luso, o clube portuense encontra-se entre os 20 primeiros do ranking de clubes com mais participações no escalão maior de Portugal.

A velha Europa procurava ainda sair do conflito bélico de proporções catastróficas que constituiu a 2.ª Guerra Mundial (1939-1945) quando o popular Salgueiral subiu pela primeira vez ao palco principal do futebol português. Facto ocorrido na temporada de 1943/44, altura que se jogou a 10,ª edição do Campeonato Nacional da 1.ª Divisão, e onde o Sporting - que ainda só tinha três dos seus Cinco Violinos - procurava destronar o Benfica de Guilherme Espírito Santo e de Julinho do trono do desporto rei nacional, e em que o FC Porto de Pinga e Correia Dias procurava sob a batuta do húngaro Lippo Hertzka, ex-treinador de Benfica e Real Madrid, recuperar um título que lhe fugia há três anos para os rivais da capital. Mas havia outros emblemas históricos que procuravam um lugar ao sol neste Nacional de 43/44, casos do Belenenses, da Académica, do Olhanense, do Atlético, ou dos dois Vitórias (o de Guimarães e o de Setúbal). E no meio da nata do futebol lusitano surgia um caloiro, o Salgueiros, emblema que surpreendeu o país futebolístico ao classificar-se em 2.º lugar no Campeonato Regional do Porto dessa temporada - e que antecedia o Nacional da 1.ª Divisão -, atrás do FC Porto, clube que dominava o futebol nortenho de então, mas à frente de clubes que haviam já pisado o palco do escalão maior de Portugal, casos do Leixões, do Académico do Porto, do Boavista e do próprio Leça.

Eng. Vidal Pinheiro
A boa campanha efetuada no Regional portuense trazia otimismo às hostes salgueiristas na antecâmara da 1.ª Divisão Nacional, conforme é possível comprovar numa entrevista concedida pelo então dirigente encarnado Vidal Pinheiro à revista "Stadium" - publicação que nos ajuda a escrever esta efeméride em torno da estreia do Salgueiros no escalão maior e cujas imagens ajudam a ilustrar esta viagem ao passado. Nessa conversa conduzida pelo jornalista Mário Afonso, o histórico Engenheiro Vidal Pinheiro, então presidente da chamada Comissão de Melhoramentos do clube, afirmava que o Salgueiros estava na 1.ª Divisão Nacional por mérito próprio, e não porque devesse essa subida a favores de qualquer espécie. «Depois do F. C. do Porto, o Salgueiros foi o clube mais regular. As suas únicas derrotas foram infligidas pelo campeão; os restantes vencemo-los com resultados mais ao menos volumosos», dizia o dirigente.  Quando questionado mais adiante sobre as possibilidades do clube nesta participação então inédita na 1.ª Divisão, o Eng. Vidal Pinheiro respondia que «haverá, certamente. um certo "tatear" nos primeiros jogos, mas, depois, haveremos de fazer algo de jeito. Boa posição na escalão (tabela)? Não sei.... tudo depende. Mas o que lhe posso afirmar é que nem deixaremos mal colocado o nosso nome e o brio da cidade que representamos de parceria com o F. C. do Porto, nem seremos um "mau amigo" do nosso campeão», vaticinava.

Questionado ainda se havia boa disposição no plantel, Vidal Pinheiro era perentório em dizer que ânimo, coragem e fé não faltava num grupo em que ele confiava em pleno para uma boa campanha. Quanto a moral, resistência.... «Sim, devem tê-la em grau superlativo. Recordemos, por momentos que só este ano após tanta vicissitude conseguimos atingir o fim almejado: entrar no Campeonato Nacional da 1.ª Divisão. Portanto, creio que não poderão ter mais moral do que nesta época. Quanto à resistência, eu lhe explico: deve ter notado que o grupo, ao concluir qualquer encontro, não dava, este ano, aquela exteriorização de fadiga, como em anos transatos. Sabe porquê? Pela simples razão de todos os jogadores terem sido obrigados a seguir, durante o defeso, um curso de gimnástica e preparação atlética, de forma que ao iniciar-se o campeonato regional, todos estivessem em boas condições físicas».

Vidal Pinheiro estava certo de que esta subida à 1.ª Divisão Nacional iria dar muito mais visibilidade a um clube que... não era só futebol. «Uma coisa lhe quero dizer. Para já, conseguimos isto: que se falasse, durante todo um ano no nome do meu clube. Já não é como outrora, em que, após a época do futebol, o Salgueiros desaparecia das gazetas, esquecido até ao ano seguinte. Agora não. Falou-se nele constantemente: a propósito da natação, do atletismo, do basquetebol, do andebol, do ciclismo, etc». Era o este o Salgueiros que Vidal Pinheiro e seus pares vinham trabalhando afincadamente naqueles anos, um clube eclético que pretendia chamar a atenção do público do desporto português. E conseguiu-o.

Dores de crescimento fizeram-se sentir no início

Atlético - Salgueiros
Tal como o Eng. Vidal Pinheiro previu na antevisão deste Nacional da 1.ª Divisão de 43/44, o Salgueiros acusou inicialmente alguma inexperiência na alta roda do futebol português. Algum desconhecimento até, face aos grupos do sul, com quem não estaria habituado a medir forças, acabando por pagar essa fatura sobretudo na primeira volta do campeonato. De facto, o Salgueiros surgiu muito tímido nos campos de batalha do futebol luso, e mais do que averbar derrotas mostrou muitas fragilidades ao nível do seu jogo. Porém, com o avançar da época a equipa foi ganhando outra alma, outro ânimo, mostrando que afinal também tinha valor e bom futebol para figurar entre a elite portuguesa. Mas vamos ao filme da primeira passagem do Salgueiral pelo palco maior do nosso futebol. O pontapé de saída aconteceu na Tapadinha, mítica casa do Atlético, onde as coisas não correram de feição aos encarnados, a julgar não pelo desaire por 4-0, mas de igual modo pelo conceituado jornalista da "Stadium", Tavares da Silva, que foi duro nas palavras na apreciação ao jogo dos salgueiristas: «O sub-campeão do Porto - segundo opinião unânime - traz para a prova pouco valor. Se isso não importa, de momento, interesso no futuro, porque o grupo representa a 2.ª região futebolística do país. Da má exibição - é possível que o bloco se ajeite melhor em futuras digressões - nada ficou senão a afirmação de um guarda-redes de razoável categoria (Peixoto). Pouco mais do que isto o Salgueiros deixou na sua primeira visita, podendo no entanto citar-se alguns dos seus lances na organização da defesa - porque o ataque quase não existiu».

Na ronda seguinte a tarefa do Salgueiros em apagar a má exibição da estreia era uma missão quase impossível, ou não tivesse pela frente o campeão nacional em título, o Benfica. Os lisboetas, orientados pelo antigo guarda-redes de Académico do Porto e Boavista, Janos Biri, surgiram no Campo Augusto Leça, o reduto dos salgueiristas, com uma linha de ataque de respeito, formada por Julinho, Rogério Pipi e Alfredo Valadas. No entanto, e de acordo com a pena de Tavares da Silva, o Benfica não esteve nos seus melhores dias nesta visita ao Porto, jogando no aproveitamento do erro do adversário. Erros que ao que tudo indica terão sido muitos para os encarnados do Norte. Para o consagrado jornalista, o Salgueiros voltou a mostrar sinais de muita fragilidade, tendo a equipa sido sempre dominada pelos campeões nacionais, que acabariam por vencer por claros 6-1. Contudo, apesar de dominados, os portuenses quando atacavam conseguiam provocar algum desentendimento entre a defesa benfiquista, uma nota que Tavares da Silva fez sobressair na sua crónica e que considerou um aviso a ter em conta aos lisboetas para quando defrontassem equipas que estivessem mais ao seu (alto) nível. Outra nota a realçar é o golo salgueirista, o primeiro na alta roda do futebol nacional, tendo o seu autor sido o médio Viana, um nome que ficará assim na história deste clube.

FC Porto - Salgueiros
A grande sala de visitas do futebol portuense daquela altura, o mesmo será dizer o Estádio do Lima, foi a paragem seguinte do Salgueiros, que na 3.ª ronda enfrentava o vizinho e campeão regional FC Porto. E quem pensava um novo massacre enganou-se redondamente, pois o Salgueiral não só vendeu cara a derrota (3-1) ante os azuis-e-brancos como também fez uma agradável exibição, facto que mereceu destaque no relato do jornalista portuense Mário Afonso para a "Stadium". Para este homem das letras o Salgueiros tinha feito a sua melhor exibição até então neste campeonato, e o facto de ter sido ante um dos candidatos ao título era ainda mais digno de registo. Mas para Mário Afonso esta boa exibição aconteceu porque há equipas que se transcendem quando atuam perante outros conjuntos, e neste caso puxou da rivalidade que existia entre os dois emblemas para justificar esta boa exibição dos encarnados de Paranhos. «Quando joga contra o F. C. Porto, o Salgueiros parece outro. Vale muito mais. Quase não se acreditava que estivesse no Lima o mesmo grupo que jogou contra o Benfica! O Salgueiros, animado pela rivalidade que mantém com o campeão, e costumado ao ambiente, conseguiu praticar um futebol de conjunto, vivo, enérgico e com certa ligação. Daí, equilíbrio, jogo repartido pelas duas metades da relva do Lima. Porque não pode dizer-se que o Porto tenha jogado mal, e só ainda faz brilhar um pouco mais o seu adversário. (...) O elemento mais destacado do Salgueiros continua a ser o guarda-redes Peixoto. Um nome a apontar e a ver em exibições futuras: Oliveira, o avançado-centro». E foi precisamente de Oliveira o único golo do Salgueiros nesta derrota com... algum sabor a vitória pela boa exibição conseguida.

Estudantes testemunham uma vitória histórica!

Salgueiros - Académica
Apesar de novato nestas andanças e de nas primeiras duas jornadas ter mostrado um nível abaixo do que era exibido na alta roda do futebol português, não foi preciso esperar muito para que as hostes salgueiristas festejassem a primeira vitória no campeonato nacional. A primeira da sua história, visto desde os dias de hoje. Facto ocorrido na 4.ª jornada, no Campo Augusto Leça, diante da Académica de Coimbra. Um triunfo, por 3-1, que para o jornalista Tavares da Silva devia ser levado em conta, desde logo pelo fraco nível exibicional que os portuenses haviam mostrado nos primeiros jogos, pense embora na sua opinião este triunfo não se tenha devido tanto a uma grande exibição do Salgueiral. Na sua visão esta vitória teve como base o fator aproveitamento de três jogadores que atuavam nos setores recuados e intermédios do terreno: em primeiro lugar o guarda-redes Peixoto, o qual esteve magistral na 2.ª parte; o esforçado defesa João (Santos); e o médio centro Sousa, que imprimiu à equipa a necessária ligação tornando possível a realização dos golos. E se os estudantes estiveram bem no primeiro tempo, após o golo do empate baixaram de rendimento, facto aproveitado pelo Salgueiros para conquistar os primeiros pontos nesta prova.

Sporting - Salgueiros
A este triunfo seguiu-se a derrota mais pesada do grupo neste Nacional de 43/44, facto que aconteceu na visita ao reduto do poderoso Sporting, orientado por Joseph Szabo, e cuja força residia em jogadores como Fernando Peyroteo, Albano, Mourão, Cruz, entre tantos outros. 10-0 foi o pesado resultado final de um encontro onde o Salgueiros, de acordo com Tavares da Silva, chegou em alguns momentos a dar «agradável impressão da sua movimentação geral, nada há mais a dizer senão salientar a má tarde do seu guarda-redes, embora multo desprotegido».

Salgueiros - Belenenses
O oponente seguinte foi outro histórico do futebol luso, no caso o Belenenses, que na 6.ª jornada visitou o Campo Augusto Leça. Para este encontro os azuis de Belém apresentaram no seu "onze" um novo guarda-redes, que dava pelo nome de Capela, e que iria dali em diante marcar uma era no emblema da Cruz de Cristo. Segundo a crónica de Tavares da Silva na "Stadium", o estreante guardião cumpriu a sua missão, pese embora não tenha tido pela frente uma linha avançada que lhe causasse muito trabalho. Mas nas poucas vezes que foi chamado a intervir, fê-lo com segurança e classe. O Belenenses na opinião do jornalista não fez uma exibição de grande brilho, chegou para as encomendas, e quando garantiu a vitória atuou mais em ritmo de treino, acabando a partida por perder algum interesse. E mesmo a expulsão do belenense Mário Coelho, no final da primeira parte, não pôs em causa a supremacia do combinado orientado pelo húngaro Sándor Peics. Quanto ao Salgueiros, esse quase todo esteve mal, na visão de Tavares da Silva, «até a defesa, que costuma comportar-se menos mal. Só se salvou o médio centro Coura, rapaz com merecimento activo e com boa posição em campo, e um pouco Augusto, o interior direito. O ataque do Salgueiros quase não existiu, devendo anotar-se simplesmente sua reação no começo do jogo, no pôs intervalo. O que não quer dizer que o team não tenha posto na luta, em todos os momentos, uma bela energia». 6-1 foi o resultado final para o Belenenses, cabendo a Silva marcar o tento de honra dos salgueiristas.

Salgueiros - Olhanense
Seguiram-se mais dois jogos em casa, o primeiro deles ante os antigos campeões de Portugal, dez anos antes, o Olhanense. Nova derrota para o Salgueiral, desta feita por 2-5. Um resultado que para Tavares da Silva borrava o quadro da classificação geral, já que segundo aquele jornalista enquanto todas as outras equipas davam sinais de progressão, sendo que o Salgueiros não acompanhava essa tendência. E mesmo o setor defensivo, que até então era o que se exibia em melhor forma no campo em encontros anteriores, neste jogo abriu brechas por todo o lado. Apesar de evidenciar dificuldades, o conjunto de Paranhos continuava a dar sinais de querer contrariar a tendência de que era uma equipa ainda inexperiente nestas andanças, como comprovam as palavras do jornalista da "Stadium": «Não quer isto significar que os "salgueiros" não tenham dado um ar de graça, no passado domingo. Pelo contrário, durante certo período da segunda parte o ataque realizou coisas de bom jeito, mas depois perdeu o norte, reduzindo-se a uma ou outro tentativa, feita de quando em vez. Não fôra, mais uma vez, o médio Coura, e a coisa ainda seria pior. O Salgueiros estreou dois jogadores: Renato, a interior-direito e depois avançado-centro, e Faria, interior-esquerdo. Esta orientação, tirar dois interiores e pôr lá outros dois de uma só vazada, mostra claramente as dificuldades que o agrupamento atravessa, e os trabalhos de cabeça que os dirigentes se dão para modificar um estado de coisas que já não tem modificação possível, pelos vistos. Os estreantes revelaram alguma habilidade. Já não é mau de todo». Mas o cenário haveria de mudar, como veremos mais à frente. Ante os olhanenses os golos salgueiristas foram apontados pelo estreante Renato e por Silva.

O jogo seguinte mostrou, ainda que ao de leve, essa subida de forma, já que na receção ao Vitória Sport Clube (de Guimarães) a turma portuense conquistou mais um ponto, fruto de um empate a duas bolas. Sobre o jogo não há muitos relatos na "Stadium", que ressalva apenas que o Salgueiros lutou com entusiasmo. Coura e Silva apontaram os tentos dos salgueiristas.

O outro Vitória a competir nesta 1.ª Divisão de 43/44, neste caso o de Setúbal, foi o oponente seguinte. 2-1 a favor dos sadinos, foi o resultado final de uma partida que segundo Tavares da Silva teve um rol de oportunidades desperdiçadas, tantas foram as vezes que os avançados estiveram cara a cara com os guarda-redes e não os conseguiram bater. Os portuenses continuavam a dar indícios de crescimento no campeonato a julgar pelas palavras do jornalista: «o Salgueiros foi mais ameaçador do que o Vitória. Inesperadamente ameaçador, pois ao conseguir um goal, este teve o efeito de despertar as energias do adversário. Só quando começou a perder é que o Vitória se lembrou que tinha de ganhar...». O goleador Silva foi mais uma vez o artilheiro de serviço dos encarnados neste encontro.

Segunda volta mostra um Salgueiros diferente... para melhor

Salgueiros - Atlético
Em janeiro de 1944 arrancou a segunda volta do Nacional da 1.ª Divisão, tendo o Salgueiros retribuído a visita à Tapadinha em novembro do ano anterior. O Atlético era por esta altura uma das boas equipas do campeonato, ocupando os lugares da frente do pelotão, fruto da bela campanha que vinha fazendo. E Tavares da Silva na sua crónica habitual na "Stadium" frisou precisamente isso para justificar o triunfo dos lisboetas no Campo Augusto Leça por 3-0. No entanto, o Salgueiros continuava a dar sinais de crescimento... «O Salgueiros forçou a marche do encontro de modo a dominar durante largos períodos do jogo, instalando-se na grande área dos lisboetas. Mas estes nunca perderam o sangue frio, e aqueles nunca o encontraram em frente das redes para fazer aquilo que parece mais fácil mas que é o mais difícil: goal. A serenidade com que o Atlético suportou a tempestade, defendendo uma vitória preciosa que - certo, certo - nunca esteve praticamente ameaçada, diz-nos, além de tudo, que o grupo está a adquirir a categoria dos grandes teams». E a prova disso foi que os lisboetas acabariam este campeonato em 3.º lugar, à frente de clubes de maior poderio, como o FC Porto, ou o Belenenses.

De Lisboa era também o adversário seguinte dos encarnados do Porto, mas este de maior peso, já que lutava com o eterno rival Sporting pelo título de campeão nacional.

Benfica - Salgueiros
Numa altura da temporada em que os clubes já levavam muitos jogos nas pernas, o Benfica optou na receção ao Salgueiros por fazer descansar alguns dos seus titulares, substituídos por nomes menos conhecidos, como Cerqueira, Carvalho e Teixeira II, facto que terá, quiçá, pesado no facto de os benfiquistas terem feito uma exibição algo "cinzenta", pouco condizente com um candidato ao título. Valeu a inspiração de uma das suas maiores estrelas, Julinho, autor de quatro dos seis golos com que os comandados de Janos Biri bateram os salgueiristas por 6-1. Sobre estes últimos Tavares da Silva trazia boas novas: «É de notar também que o Salgueiros apresenta progressos nos esquemas do seu jogo - sinal evidente de que a permanência na competição de honra lhe tem feito bem». Renato foi o marcador do único tento do Salgueiral no Campo Grande.

De regresso à Cidade Invicta na jornada que se seguiu para defrontar o vizinho FC Porto, que estava longe de convencer neste campeonato. Foi uma partida que para o principal redator da "Stadium" teve duas partes distintas, uma pautada pelo equilíbrio e outra pelo... desequilíbrio. A primeira muito por culpa do facto de a equipa na teoria mais fraca, o Salgueiros, ter querido impor-se, de jogar de igual para o com o seu velho rival. A outra, quando essa mesma equipa de nível inferior perdeu o fôlego e começou a desaparecer do encontro, aspeto aproveitado para os portistas abrirem o marcador e chegarem à goleada final de 5-0. «Foi assim mesmo. Belo jogo, na primeira parte, com os grupos em acentuado equilíbrio, e porventura o Salgueiros, mais perigoso. Depois, no segundo tempo, o Salgueiros deixou-se dominar pela resistência e melhor técnica do adversário, que pôs a bola rente ao terreno para o passe da precisão, utilizando os extremos. Porque o mérito do Salgueiros está na luta que deu. Depois de sofrer o quinto goal - ainda quis espreguiçar-se, verdade seja. Era tarde!», assim resumiu Tavares da Silva o jogo.

Na ronda seguinte o Salgueiros sentiu o amargo sabor da vingança dos estudantes de Coimbra, que na primeira volta haviam sido batidos no Campo Augusto Leça. Frente a frente estavam as duas últimas equipas da classificação geral, pelo que só a vitória servia a cada uma delas para largar a "lanterna vermelha". Foi mais feliz a Académica, que no Campo de Santa Cruz entrou determinada não só a fugir ao último posto, mas de igual forma a vingar a tal derrota no Porto. Foi uma Briosa de ataque, conforme disse Tavares da Silva na sua crónica, e a comprovar isso foi o resultado de 9-4 a favor dos locais. Renato, Toninho, Oliveira e Alfredo foram os artilheiros do Salgueiros, que neste encontro marcou o maior número de golos, quatro, num só encontro desta época de estreia no escalão maior.

Salgueiros - Sporting
Após esta pesada derrota o Campo Augusto Leça engalanou-se para receber uma das mais fortes equipas daqueles anos, o Sporting, liderado por um Peyroteo letal! Com muito menos armas que o poderoso adversário, o Salgueiros deu luta, aliás, esta era uma postura que vinha patenteado de há uns jogos a esta parte, sinal de que começava a ambientar-se a estes palcos grandes. Porém, e segundo as palavras de Tavares da Silva, faltavam elementos condizentes com a elite do futebol português, isto é, jogadores de 1.ª Divisão ao Salgueiros. Facto que provocava nas suas palavras alguns momentos de desorganização na equipa nortenha. «Por tudo quanto ficou dito, deve já destacar-se o comportamento do Salgueiros na primeira parte, equilibrando a partida em termos de ver-se, mesmo com um pouco de emoção. Que, aquilo que sucedeu no segundo tempo, não deve causar a mais leve estranheza. A experiência, o fôlego, a melhor técnica, e ainda, por cima de tudo, a robustez do Sporting, impuseram-se de tal modo que o guarda-redes do Salgueiros não pode sossegar um simples minuto, pois a bola raramente saiu da sua órbita. Nessa altura, o Sporting impôs-se de alto a baixo, não estando em causa a classificação do jogo produzido e o resultado não podia ser outro, a não ser uma vitória mais volumosa». Pois é, 5-1 a favor dos sportinguistas, que haveriam de vencer esta edição do Campeonato Nacional, sendo que neste encontro Fernando Peyroteo apontou quatro dos cinco golos da sua equipa, ao passo que Coura fez o gosto ao pé para os nortenhos.

Belenenses - Salgueiros
Igual resultado, o mesmo será dizer uma derrota com números semelhantes, aconteceu na jornada seguinte em nova visita do Salgueiros à capital, desta feita para defrontar o Belenenses. Nas Salésias os azuis de Belém não sentiram dificuldades em bater os portuenses, pese embora tenham demorado a encontrar o caminho da baliza de Peixoto, algo que de acordo com Tavares da Silva terá apimentado o encontro na sua fase inicial. Quanto à performance dos nortenhos no Estádio das Salésias, o jornalista disse que «o simpático grupo do Salgueiros mostrou-se animoso, como sempre, mas o seu quadro, como já temos dito, não está ainda à altura da prova. Só nos jogos em casa pode oferecer realmente dificuldades aos adversários». Renato apontou o tento dos encarnados de Paranhos neste jogo.

Como não há duas sem três, a visita a Olhão cifrou-se numa nova de derrota também por 5-1. Um futebol rápido e ofensivo ajuda a justificar este triunfo do Olhanense. Contudo, não se julgue que o Salgueiros foi "bombo da festa", já que na crónica do encontro, a equipa portuense foi ofensiva, batalhadora, «chegando, mesmo, a desenvolver esquemas de jogo que lembraram à defesa algarvia a necessidade de se conservar alerta. Isto confirma aquilo que temos dito sobre o Salgueiros, isto é, que a prova só lhe tem feito bem - além de dar aos seus dirigentes preciosas indicações relativamente ao futuro», assim escrevia Tavares da Silva. Alfredo apontou o golo do Salgueiros no Algarve.

Salgueiros - Vitória de Setúbal
O Campo de Benlhevai, em Guimarães, foi a derradeira saída do Salgueiral neste Nacional. Pela frente tinha um Vitória que esteve longe de fazer uma boa prova, muito pelo contrário. Nesta jornada, a penúltima, o Sporting consagrava-se campeão nacional, ao passo que o Salgueiros com a derrota pela margem mínima (1-2) no Minho assegurava... a "lanterna vermelha" da prova. Em Guimarães os locais atacaram desde início e chegaram ao intervalo a vencer por 2-0. No reatamento, os portuenses reagiram, dando algum trabalho à defesa vitoriana, embora somente por uma ocasião tenham tido êxito, por intermédio de Ribeiro.

E eis que chegávamos à última jornada deste Campeonato Nacional, sendo que no Porto o Salgueiros encerrava a sua estreia entre os maiores do futebol nacional com uma receção ao Vitória de Setúbal. Já com a classificação definida, o Salgueiros perdeu por 3-5 um encontro onde o seu jogador Renato brilhou ao apontar os três golos dos encarnados. Falando de contas, o emblema de Paranhos ficou na última posição, com três pontos somados, 23 golos marcados e 84 sofridos, números que à primeira vista são maus, mas que se olharmos ao "resto da história" significaram só o início de uma caminhada entre a elite do futebol português, o lugar que este histórico clube conquistou nas décadas seguintes e que como tal é seu por mérito próprio.

quinta-feira, março 10, 2016

Grandes Mestres da Táctica (11)... Manuel Oliveira

Manuel Oliveira, uma eterna lenda viva da tática 
Génios há que nunca viram reconhecidas as suas obras nas (mais diversas) áreas em que se notabilizaram. No futebol, em concreto, foram muitas as figuras que imprimiram o seu cunho na história do jogo mas que por "esta ou aquela razão" - inveja, ausência de mediatismo, personalidade controversa, são algumas das razões que poderemos apontar para justificar o facto de não figurarem no hall of fame do futebol - passaram ao largo das (merecidas) vénias e da fama global. É o caso do nosso mestre da tática de hoje, uma personalidade singular, ou não tivesse reunidas em si características tão distintas como inovação, disciplina, sabedoria, polémica, ou frontalidade. Manuel Oliveira, a sua graça, indiscutivelmente uma dos maiores treinadores da história do futebol português, e porque não dizê-lo a esta distância do(s) tempo(s) em desempenhou com mestria a sua função... um dos maiores a nível internacional. Afirmação exagerada? Se calhar não, e já vamos ver porquê?
Manuel Oliveira Santos, nasceu a 29 de maio de 1932, na margem sul, Distrito de Setúbal, mais precisamente em Pinhal Novo. Oriundo de uma família pobre - o pai era ferroviário - foi de pé descalço, como tantos outros meninos da época, que se deixou enamorar, ali, ao lado do lar, pelos encantos do belo jogo. Travou-se de amores com o futebol enquanto arte, espetáculo, simplicidade, e não com o futebol negócio, jogo de interesses, povoado por vilões com que muitas vezes foi confrontado ao longo da sua ímpar carreira e contra quem sempre lutou. A sua entrada oficial no desporto rei dá-se em 1949 pela mão de outro lendário treinador que teve grande influência no percurso que Manuel Oliveira iria trilhar enquanto treinador, Fernando Vaz. Este ícone do futebol luso dirigia na altura os juniores B do Sporting, que defrontariam o Estrela, um combinado formado por jogadores da margem sul - um verdadeiro alfobre de grandes futebolistas ao longo da história -, onde pontificava o jovem Manuel - que até então havia tido uma curta passagem pelos escalões de formação do Barreirense - que nesse dia, na posição de interior/extremo direito, fez uma exibição de gala, culminada com dois golos que derrotaram os poderosos leões, facto que levaria Vaz a aproximar-se do jovem, lançando-lhe além dos merecidos elogios um convite: treinar no Sporting. Manuel Oliveira estava desta forma prestes a transpor a fronteira entre o sonho e a realidade, ele, que tinha como ídolo um vulto que atuava na principal equipa leonina, Carlos Canário. O jovem de Pinhal Novo convence Fernando Vaz, passa no teste, e efetua duas temporadas de grande nível na equipa júnior do gigante de Lisboa. Como o próprio Manuel Oliveira fez questão de confessar décadas mais tarde nas suas memórias, aqueles dois anos foram de extrema importância para a sua formação enquanto homem do futebol. Aprendeu imenso, não só com treinadores como também com os jogadores que formavam aquele poderoso Sporting Clube de Portugal, onde pontificavam os 5 Violinos (Peyroteo, Albano, Vasques, Travassos, e Jesus Correia).

Conduzindo a bola, nos tempos de jogador na CUF
Com naturalidade e merecimento Manuel Oliveira transita para os seniores do clube de Alvalade, onde convive com alguns destes vultos, que a bem dizer dificultaram a sua entrada no onze titular leonino ao longo das cinco épocas em que envergou a camisola verde-e-branca. Foi quase sempre escolha na equipa de reservas, e a espaços conheceu a titularidade na primeira categoria - ou equipa principal, como hoje é denominada - tendo atingido o topo da carreira de futebolista com a conquista do título de campeão nacional de 51/52. Nas épocas em que defendeu o leão conheceu inúmeros e sonantes treinadores, como, a título de exemplo, Joseph Szabo, Tavares da Silva, ou Randolph Galloway. Mas houve um que indiscutivelmente o marcou, ainda de acordo com as suas memórias: Fernando Vaz.
Ainda como jogador representou o Atlético, durante uma temporada. Pelo meio passou pela seleção nacional militar, a qual representou em oito ocasiões. Posteriormente veio a CUF, onde jogaria seis épocas, tendo neste emblema pendurado as chuteiras em 62/63 para substituir no banco o então treinador Anselmo Pisa. Manuel Oliveira tinha então 30 anos de idade. E é aqui que se dá início à verdadeira história desta lenda.

O início do percurso lendário

O mestre Manuel Oliveira na atualidade
Dezembro de 1962, um ano inesquecível para Manuel Oliveira, que por esta altura se vê diante da responsabilidade de pegar na equipa da CUF que ocupava uma posição perigosa no Campeonato Nacional da 1ª Divisão. Grupo Desportivo da CUF que foi o primeiro clube-empresa a nascer no nosso país, e muito provavelmente aquele que nesta condição mais notoriedade atingiu na história do futebol luso. Numa altura em que nem todos os futebolistas viviam única e exclusivamente da bola, Manuel Oliveira acumulava com a atividade desportiva a função de empregado de escritório na empresa do Barreiro. Após a 9ª jornada do Nacional do escalão maior do futebol português o capitão do emblema fabril é chamado a pegar na equipa de modo a evitar a catastrófica descida de divisão que estava então eminente. Nas declarações à imprensa da altura, Manuel Oliveira admitiu a sua inexperiência enquanto treinador, mas desde logo mostrou ambição e vincou o compromisso de que iria dar o seu melhor para que a equipa voltasse aos resultados positivos. Dito e feito. A CUF fez um resto de época imaculada, remodelou-se nos aspetos físicos e técnico-táticos sob orientação do seu ex-capitão de equipa - que passou então só a desempenhar o cargo de treinador - e acabou por escapar à temível despromoção ao alcançar um tranquilo 11º lugar. Estava assim dado o pontapé de saída de uma grande carreira para o jovem técnico. E quem pensasse que este pequeno grande feito poderia ter sido obra do acaso enganou-se redondamente na temporada seguinte, em que Manuel Oliveira conduziu a equipa do Barreiro a um inédito e inesperado - só para quem ainda não conhecia os métodos de trabalho e a sabedoria técnico-tática do cidadão de Pinhal Novo - 5º lugar. Mas a escalada do sucesso do jovem treinador estava longe de terminar. Em 64/65 a fasquia é elevada com a conquista do... 3º lugar! O prémio deste brilharete foi a qualificação inédita dos barreirenses para a edição seguinte da Taça das Cidades com Feira - antecessora da Taça UEFA. E se o futebol português começava a dar-se conta da mestria do técnico o resto da Europa iria conhecê-la em 65/66 quando o poderoso Milan caiu no Barreiro por 2-0, na primeira mão da segunda eliminatória da citada competição europeia. Manuel Oliveira tinha passado definitivamente de aprendiz a mestre.
A sua faceta de homem honesto e frontal iria, contudo, e a partir daqui, chocar de frente com o tal lado negro do futebol, o lado dos interesses, da intriga, do conflito e do oportunismo. Numa entrevista concedida ao jornal A Bola no regresso da partida de Milão, onde a CUF perdeu por igual resultado ao conseguido na primeira mão e obrigando assim os milanistas a uma partida de desempate, o treinador, em jeito de desabafo, enumerou as várias dificuldades que afetavam a sua equipa, desde logo a ausência de apoio - sobretudo vindo dos diretores da empresa. Esta entrevista acabaria por custar o lugar ao treinador, que a partir dali levaria o seu talento para outras paragens. E foram muitas ao longo das mais de três décadas que se seguiram. Tantas que seria de certa forma exaustivo para o leitor ter conhecimento dos contornos de cada uma delas (mas caso o leitor pretenda fazer esse exercício, aconselhamos vivamente a leitura das fascinantes Memórias de Manuel Oliveira, editadas em livro. De certo que não se irá arrepender). Leixões, Barreirense, Sanjoanense, Farense, Olhanense, Benfica de Nova Lisboa (Angola), Lusitano de Évora, Espinho, Beira-Mar (onde foi treinador de Eusébio da Silva Ferreira), Vila Real, Portimonense, União de Leiria, Marítimo, Vitória de Setúbal, Louletano, Seleção da Guiné Bissau, Fafe, Varzim, Nacional da Madeira, Sintrense, Desportivo de Beja, Gondomar, Imortal e Lusitanos de Saint-Maur (França) foram emblemas que beberam da sabedoria do mestre. Em quase todas elas fez história. Umas vezes evitava a temida descida de divisão, outras conduzia a nau desde os caminhos tortuosos das divisões secundárias até bom porto, isto é, à 1ª Divisão, noutras ainda criou grupos que combinavam arte, garra e inovação, batendo o pé a quem quer que fosse, grande ou pequeno, tombou vezes sem conta às mãos do mestre Oliveira. A sua já referida personalidade frontal - embora ainda hoje muitos preferem continuar a recorda-lo como polémico e controverso - valeu-lhe inúmeros dissabores, que, por várias ocasiões, barraram a sua continuidade ao leme dos notáveis projetos futebolísticos que foi construindo.

Inovador no plano tático

O 4-4-2 que o Brasil de 70 apresentou ao Mundo
e que foi criado por Manuel Oliveira em 1965? Eis a questão
Já escrevemos que Manuel Oliveira foi um treinador inovador, um homem que deixou marca no futebol. O Mundo inteiro, ou quase, ainda hoje atribui a autoria do 4-4-2 ao inesquecível Brasil de 1970, que no Mundial do México nesse ano alcançou o tri. Justo será dizer- que o resto do Mundo terá travado conhecimento com tal sistema tático através de Pelé e companhia, mas anos antes em Portugal já um certo treinador colocava - pela primeira vez - esta tática em ação. O seu nome? Manuel Oliveira. Facto ocorrido a 15 de fevereiro de 1965, quando a CUF defrontou em casa o poderoso Benfica de Eusébio, Coluna, José Augusto, Simões, Torres, entre outros vultos encarnados da década de 60. Oliveira surpreendeu todos ao colocar em campo uma tática nunca dantes vista, o tal 4-4-2, que viria a dar os seus frutos na sequência de uma vitória por 2-0. Espantado com este sistema o então técnico do Benfica, o romeno Elke Schwartz, queixou-se que os barreirenses haviam ganho o jogo com uma tática de... basquetebol! Pois, mas cinco depois o Brasil encantou e ganhou o Mundo com a mesma tática. Teria o escrete de Pelé, Jairzinho, Tostão, Rivelino, ou Carlos Alberto bebido da sabedoria de Manuel Oliveira? Ou simplesmente tudo não passou de uma coincidência? É uma questão para a qual ainda hoje não se encontra resposta.

O 3-5-2, outra inovação
tática do mestre
Mas não se ficou por aqui a criatividade tática do homem de Pinhal Novo. Ao leme do Barreirense apresenta na época de 69/70 um outro sistema tático então nunca dantes visto em Portugal, o 3-5-2. Capítulo histórico que foi escrito em dezembro de 1969, altura em que o emblema do Barreiro se deslocou à Póvoa de Varzim para defrontar a turma local em mais um jogo do Nacional da 1ª Divisão. Visionário, sábio e astuto Manuel Oliveira voltou a surpreender o Planeta da Bola. No plano internacional, este sistema atingiu o pico da fama no Mundial de 2002, altura em que o Brasil venceu o penta-campeonato. Mas como não há duas sem três, em 82/83, ao serviço do Vitória de Setúbal, o mestre da tática volta a inovar no plano tático, ao apresentar no Estádio do Bonfim, diante do FC Porto, a sua equipa disposta em 3-4-3, sistema também na época nunca dantes visto por estas bandas. A sua sabedoria foi ao longo de décadas não só colocada ao dispor das centenas de atletas (Jorge Jesus, por exemplo, foi um deles, e que mais tarde, e já na qualidade de treinador, confessou ter sido influenciado por Oliveira) como também por outros colegas de profissão. Com mais de 600 jogos no currículo este notável pensador de jogo ministrou inúmeros cursos de formação tática, moderou colóquios, palestras, foi comentador de rádio, fundou a Associação Nacional de Treinadores, sempre na vanguarda do conhecimento.

Assim como o 3-4-3, nunca
dantes visto em Portugal
Um verdadeiro génio da tática, homem de fortes convicções, intransigível, a quem faltou um reconhecimento maior por parte das altas instâncias do futebol lusitano. E quando nos referimos a este reconhecimentos falamos de um patamar maior, e amplamente merecido, que devia ter sido atingido pelo mestre Manuel Oliveira, Ter treinado um Benfica, um FC Porto, um Sporting, ou mesmo a seleção nacional, seria um prémio mais do que justo para uma figura que é indiscutivelmente um dos nomes mais sonantes - no que ao capítulo do treino diz respeito - da história do futebol em Portugal. Mas, e voltando ao início da nossa visita de hoje, nem sempre todos os génios deste Mundo foram aceites - talvez pela sua maneira diferente de ver e estar na sociedade - e reconhecidos por esse mesmo Mundo. Manuel Oliveira foi, talvez, um desses génios maldosamente ignorados. Injusto, muito injusto, é o que nos apraje dizer.

terça-feira, dezembro 03, 2013

Histórias do Futebol em Portugal (14)... A revolta dos operários de Alcântara!


A revolta dos operários de Alcântara, bem que podia ser o nome de um filme da autoria do malogrado João César Monteiro, ou o título de uma notícia sensacionalista aludindo ao corte de salários ou a uma ação de despedimento coletivo - situações tão comuns no Portugal dos dias de hoje! - de uma qualquer empresa do popular bairro lisboeta. Mas não, não se trata de qualquer notícia bombástica ou de uma obra de ficção cinematográfica, mas antes de um facto - ainda que metaforizado - que surpreendeu o Portugal futebolístico no ano de 1928, e que ainda hoje é encarada como uma das vitórias mais sensacionais - e sobretudo inesperadas - alcançadas por um modesto emblema na centenária história do desporto rei lusitano. Fazemos alusão ao triunfo do Carcavelinhos Futebol Clube na primeira grande competição de nível nacional - vulgo, o Campeonato de Portugal - na temporada de 1927/28. Fundado em 1912 o Carcavelinhos vivia na sombra dos grandes do futebol lisboeta, o mesmo será dizer, do Sporting, do Benfica, e do Belenenses, sendo apoiado entusiasticamente por um pequeno grupo de operários do emblemático bairro de Alcântara. A popularidade do Carcavelinhos estava porém longe de significar que este pequeno clube pudesse alcançar a glória na exigente prova que era já o Campeonato de Portugal. Mas o que é certo, é que pé ante pé, os operários de Alcântara chegaram ao topo, escrevendo quiçá o capítulo mais entusiasmante da fábula David vence Golias da Grande Enciclopédia do Futebol Português.

Este Campeonato de Portugal fica ainda marcado pelos números expressivos, não só o elevado números de clubes participantes - além dos seus campeões regionais algumas associações, casos de Lisboa e Porto, inscreveram na prova os segundo, terceiro, e quarto classificados dos seus respetivos campeonatos - mas também pelo avolumado número de golos marcados. Uma nota de rodapé também para dizer que à semelhança da temporada transata voltou a instituir-se a Competição de Classificação, uma prova disputada à margem dos campeonatos regionais que servia para apurar mais um leque de clubes para o Campeonato de Portugal.

Vendaval de golos em Lisboa e no Porto

Campeonato de Portugal cuja primeira eliminatória decorreu no dia 4 de março de 1928, e logo com uma série de goleadas que fizeram com que este fosse o certame mais produtivo - no que a golos concerne - da história desta competição que em 1938/39 encerrou portas para dar lugar à atual Taça de Portugal. A maior avalanche de golos ocorreu em Lisboa, no Campo Grande, recinto que acolheu o desnivelado duelo entre o gigante Sporting e o Torres Novas, o respresentante da Associação de Futebol de Santarém saído da Competição de Classificação. Encontro que não teve grande história, ou melhor, a história foi escrita somente em tons de verde e branco, como comprova o pesado resultado de 18-0 (!), a maior goleada de sempre do Campeonato de Portugal. Jurado foi o leão mais feroz apontado à baliza do modesto Torres Novas, já que na sua conta pessoal registou cinco golos, seguido de muito perto por José Manuel Martins e Abrantes Mendes, ambos com quatro tentos.
A norte, no Porto, o emblema mais representativo da cidade, o Futebol Clube do Porto não quis ficar atrás do rival de Lisboa, e na receção - no Campo do Bessa - ao Vila Real alcançou um triunfo por 13-1, com o destaque individual a ir para os hattricks de Freire, Valdemar Mota, e Acácio Mesquita, sendo que este último iria sair deste campeonato consagrado como o melhor marcador dos dragões, com quatro tentos.

Campo do Bessa que nesse dia teve sessão tripla, ou seja, após o vendaval portista seguiu-se um novo vendaval, desta feita protagonizado pelos donos do recinto, o
Boavista, que esmagaram o Lusitano de Vildemoinhos - o representante da Associação de Futebol de Viseu que fazia a estreia na prova - por 8-0, ao passo que para encerrar a maratona futebolística do Bessa o também caloiro Leça Futebol Clube derrotava o experiente - nestas andanças - Sporting de Braga por 2-1, graças à veia goleadora do avançado João da Costa, o autor dos dois tentos leceiros.
Na cidade conhecida como a Princesa do Lima, isto é, Viana do Castelo, o emblema local, o Vianense, caiu aos pés de outra das equipas sensação deste campeonato, o Salgueiros, por 2-1.
Estreia auspiciosa teve também o Fafe - um dos dois representantes da Associação de Futebol de Braga - que em casa, no Campo de S. Jorge, derrotou também por 2-1 a Académica, graças a dois golos de Freitas. Vitória curta seria igualmente alcançada pelo Beira-Mar, de Aveiro, que no seu Campo de S. Domingos bateu os portuenses do Sport Progresso por 3-2. Quanto aos campeões de Portugal em título, o Belenenses, receberam no Campo Grande o Luso Beja, tendo uma tarde inspirada do avançado azul Severo Tiago, autor de três golos, ajudado os pupilos de Artur José Pereira a vencer o combinado alentejano - que até esteve a ganhar - por 7-1.

Também no Campo Grande, que à semelhança do Campo do Bessa foi palco de mais do que um jogo nesse dia, o Casa Pia - cuja estrela-mor era o guarda-redes António Roquete, jogador este que no verão de 1928 defendeu a baliza da seleção nacional portuguesa nos Jogos Olímpicos de Amesterdão - derrotou por 2-1 os setubalenses do Comércio e Indústria. No Barreiro, Bento de Almeida, José Correia, e Agrípio Cardoso, desenharam um triunfo por 3-0 do Barreirense orientado por Augusto Sabbo sobre o União de Lisboa.
Por fim, em Setúbal, o finalista vencido da edição anterior, o Vitória Futebol Clube, não dava hipótese aos representantes do Algarve, o Lusitano de Vila Real de Santo António, que saiu do Campo dos Arcos vergado a uma derrota por 6-1. Vitória de Setúbal que nessa temporada tinha nas suas fileiras um atleta chamado António Palhinhas, que anos mais tarde haveria de se distinguir como...árbitro de futebol, tendo sido ele o juíz da primeira final da Taça de Portugal, disputada em 1939, entre a Académica e o Benfica.

Salgueiristas de alma grande eliminam o poderoso vizinho FC Porto

Quase dois meses depois da realização da ronda inaugural foi dada luz verde para que entrasse em cena a ronda dos oitavos-de-final, e logo com uma enorme supresa a norte. No Campo do Ameal - recinto dos portuenses do Progresso - a balança do favoritismo pendia para o lado do FC Porto na antecâmara do duelo com os vizinhos do Salgueiros. Partida que começou a um ritmo elevado, sendo que logo ao minuto cinco os salgueiristas presentes no Ameal foram ao delírio na sequência de um golpe fatal de Fernando Castro, talentoso extremo-esquerdo de Paranhos que na época posterior a esta histórica campanha da sua equipa iria transferir-se para... o FC Porto, onde jogaria nas oito temporadas seguintes. Festa do Salgueiros que no entanto iria durar apenas um minuto, já que pouco depois da bola ter ido ao centro do terreno Acácio Mesquita restabeleceu o empate. O pequeno - grande - Sport Comércio e Salgueiros não se amedrontou com esta recuperação do gigante da Invicta, e ainda antes do intervalo voltou para a frente do marcador no seguimento de um lance infeliz do portista Augusto Freire, médio que introduziu o esférico na baliza à guarda do seu colega de equipa Mihaly Siska. 2-1 para o Salgueiros, que na etapa complementar segurou heroicamente aquela que seria uma vitória histórica, e para a qual muito contribuiram Soares, Faísca, Sousa, Coentro Faria, Francisco Castro, Evaristo, Ventura, Teixeira, Américo Marques Teixeira, Reis, e Alberto Augusto (este jogador foi, recorde-se, o autor do primeiro golo da história da seleção nacional), os onze magníficos salgueiristas de alma imensa...
Quiçá envergonhados pela derrota ante o modesto vizinho de Paranhos os portistas desafiaram - mês e meio depois - os salgueiristas para um novo duelo - particular, desta feita - para tentar vingar a humilhante derrota, mas aquele não era de facto um bom ano para o FC Porto defrontar o Salgueiros, que na Constituição arrancaria um empate a duas bolas.

Nesta ronda entraria em ação o Benfica - orientado pelo lendário Ribeiro dos Reis, clube cuja estrela principal era Raul Tamanqueiro -, que na deslocação ao terreno do Fafe venceu facilmente a equipa local por 6-1. Fácil também foi o triunfo dos leões - Sporting - sobre os vizinhos do Império, por 4-1. No recém inaugurado Campo do Restelo - propriedade do Belenenses - um bis de José Correia dava a vitória (2-0) do Barreirense sobre os gansos do Casa Pia, enquanto que a norte - no Porto - o Boavista socumbia aos pés do Vitória de Setúbal por 2-4, enquanto que a aventura do Leça terminava diante de um avassalador Belenenses, que no Ameal venceu os leceiros por 8-1. Por fim, em Aveiro, sob a arbitragem do portuense Armando Moura, o futuro campeão de Portugal vencia a equipa da casa, o Beira-Mar, por 3-0, e mal passava pela cabeça dos quase desconhecidos jogadores do emblema de Alcântara que esta seria o início de uma odisseia memorável.

Agressões, insultos, e expulsões na reedição da final de 1927

A 13 de maio deu-se o pontapé de saída nos quartos-de-final da prova, e quis o sorteio que Belenenses e Vitória de Setúbal reeditassem a final da época anterior, que recorde-se havia sorrido aos azuis do Restelo. Só que este foi tudo menos um jogo de futebol, mais se assemelhando a uma batalha campal entre jogadores dos dois lados, travada no Campo das Amoreiras. Pautado por uma constante troca de insultos e agressões que levaram o árbitro do encontro, Armando Moura, a ter de dar ordem de expulsão a alguns atletas, entre outros o internacional belenense César de Matos, que estava já selecionado por Cândido de Oliveira para representar as cores nacionais no Torneio Olímpico de Amesterdão dali a poucas semanas. Pelo facto de ser um lemento fundamental na equipa das quinas a Federação Portuguesa de Futebol perdoou o castigo ao jogador belenense, que assim embarcou na aventura olímpica. Ah, quanto ao resultado desportivo desta final antecipada - assim foi denominado por muitos dos especialistas da bola daquela época - saldou-se numa vitória setubalense por 4-1, com golos de Nazaré (2), Armando Martins, e Luís Xavier, para os rapazes do Sado, enquanto que o lendário Pepe fez o tento de honra dos campeões em título, que assim caiam por terra.

Também nas Amoreiras, mas sem problemas e de forma tranquila, o Sporting batia o Barreirense por 5-0, com tentos de José Manuel Martins, Jurado, João Francisco, Abrantes Mendes, e Agostinho Cervantes.
Épico e emotivo até final foi o Benfica - União da Madeira. Aos 18 minutos os insulares colocaram as Amoreiras em silêncio, na sequência do golo de João Tomás de Sousa. A cinco minutos do descanso Pedro Sousa amplia a vantagem madeirense, e o público da casa teme o pior.
Porém, na etapa complementar apareceu Mário de Carvalho, virtuoso avançado benfiquista, que logo aos dois minutos reduziu para 1-2. O União - que teria nesta a sua única aparição no Campeonato de Portugal - não se acanhou, e três minutos volvidos fez o 3-1, de novo por intermédio de João Tomás de Sousa. A partir daqui Ribeiro dos Reis deu ordem aos seus jogadores para atacarem de todas as formas e feitios a baliza de Manuel de Sousa - de facto esta equipa do União tinha muitos Sousa's! - e ao minuto 63 Jorge Tavares encurta para 2-3 a desvantagem encarnada. O último quarto de hora foi diabólico, muito por culpa de um autêntico diabo à solta no retângulo das Amoreiras, Mário de Caravalho, de seu nome. Com dois golos - aos minutos 75 e 80 - ofereceu ao seu Benfica a passagem à meia-final frente a um União que até final lutou por um resultado positivo.

No Porto, mais precisamente no Campo do Covelo, um confronto de outsiders. Salgueiros e Carcavelinhos, lutavam pela última vaga nas meias-finais. E se contra o FC Porto os salgueiristas haviam sido heróis, ante o conjunto da capital foram uma sombra de si próprios. Os rapazes de Alcântara fizeram o que quiseram dos portuenses, chegando com facilidade à goleada (8-1), com destaque para os três golos de José Domingos e de Carlos Canuto, sendo que este último acumulava as funções de treinador e jogador. Reis foi o autor do tento solitário dos salgueiristas que assim saiam de cena mais cedo do que imaginariam, ainda para mais depois de terem posto fora do comboio um dos favoritos a chegar à estação final.

O sonho começa a transformar-se em realidade

Face ao enquadramento das meias-finais poucos seriam aqueles que não visionavam já um duelo Sporting - Benfica na final do campeonato. Os leões tinham pela frente o Vitória sadino, enquanto que as águias mediam forças com o Carcavelinhos. Favoritos eram pois os grandes de Lisboa. Mas nem sempre a teoria se confirma na prática, pelo menos no caso do Benfica. Nas Amoreiras, a 24 de junho, o Carcavelinhos fez história, Com um futebol dinâmico e artístico o emblema de Alcântara trocou as voltas ao poderoso Benfica, tendo vencido por 3-0 - todos os golos foram apontados na segunda parte. José Domingos, por duas ocasiões, e Carlos Canuto fizeram o gosto ao pé. Acontecesse o que quer que fosse este campeonato já tinha sido marcado pela surpresa chamada Carcavelinhos. Mas a história ainda não estava toda contada.
No outro jogo, também no mítico Campo das Amoreiras, o Sporting derrotava o Vitória de Setúbal por 3-1, com golos de Abrantes Mendes, José Manuel Martins, e Agostinho Cervantes, alcançando assim a desejada final.

Sporting tinha o pensamento no Brasil... e acabou por viver um pesadelo na Palhavã

No dia 30 de junho de 1928 o Campo da Palhavã (Lisboa) era pela primeira vez na sua história palco de uma final do Campeonato de Portugal. Tudo estava preparado para que a festa final fosse pintada em tons de verde e branco, as cores do super-favorito Sporting, que teria como missão provar que o surpreendente trajeto vitorioso do pequeno clube de Alcântara não tinha sido senão um mero golpe de sorte. Como estavam enganados os leões orientados por Filipe dos Santos. Além disso a equipa leonina queria rapidamente decidir aquela final, pois já tinha as malas feitas para no dia seguinte à final fazer uma longa viagem até ao Brasil, país onde iria realizar uma digressão a convite do Fluminense. O passeio até Terras de Vera Cruz terá subido em demasia à cabeça dos jogadores sportinguistas, que não querendo de maneira alguma perder o bilhete de embarque no paquete que os haveria de levar até ao Rio de Janeiro logo trataram de tirar o pé de acelerador na final do campeonato, de modo a evitar lesões que os impedisse de ir passear até ao outro lado do Atlântico. Ousadia que haveria de sair cara ao Sporting.
Até porque do outro lado estava o Carcavelinbos, equipa que para o treinador/jornalista Ribeiro dos Reis, o qual nas meias-finais havia visto o seu Benfica ser eliminado pelo clube de Alcântara, jogava de fato macaco, à operário, pois claro. «Uma equipa que possuí um sistema de ataque verdadeiramente sui generis: eram simulações a passar a bola, simulações a recebê-la, jogadores em corrida para o esférico dando a impressão de o irem dominar mas deixando-o seguir para um companheiro que já previa a manha do movimento, era, enfim, toda uma série de lances em que imaginação se aguçava, rasgava, encantava», escrevia Ribeiro dos Reis na sua análise aos campeões de Portugal de 1928.

Bom, quanto ao jogo propriamente dito - rico ao nível da qualidade técnica, de parte a parte -, o Sporting até entrou melhor, com duas oportunidades flagrantes no primeiro quarto de hora, primeiro por José Manuel Martins, que com um remate forte levou o esférico a sair a escassos centímetros do poste da baliza de Gabriel Santos, e posteriormente por Abrantes Mendes, que isolado perante o guardião de Alcântara permitiu que este num ato de bravura lhe saisse aos pés e ficasse com a posse da bola. Depois disto só deu Carcavelinhos. A magia dos operários de Alcântara entrou em campo, e aos 20 minutos na sequência de uma boa jogada de entendimento José Domingos inaugurou o marcador.
No segundo tempo o Sporting correu atrás do prejuízo, e com apenas sete minutos jogados Abrantes Mendes repõe a igualdade. Pouco depois o árbitro lisboeta Silvestre Rosmaninho é obrigado a interromper o encontro devido aos confrontos físicos que jogadores de ambos os lados da barricada levavam a efeito. Durante alguns minutos a magia do futebol - do Carcavelinhos - deu lugar a tristes cenas de pugilato, na sequência de uma entrada violenta de José Manuel Martins sobre o guarda-redes Gabriel Santos. Serenados os ânimos voltou-se ao futebol, e à magia do Carcavelinhos, traduzida em mais um golo de José Domingos. Depois disto os pupilos de Carlos Canuto tomaram as devidas precauções defensivas, abrandando um pouco o ritmo frenético do seu peculiar estilo de jogar futebol. Mas nem assim o Sporting - com a cabeça no Brasil? Ainda? - aproveitou, muito por culpa da desinspiração do seu setor ofensivo. A machadada final foi dada por Manuel Rodrigues, aos 75 minutos, com o 3-1, e este mesmo jogar ainda viria a desperdiçar uma grande penalidade já perto do final. No cair do pano a festa estalou para os lados de Alcântara, bairro popular que nesse ano viveu uma segunda noite de Santo António, devido à carreira memorável de uma equipa de artistas operários.

A figura: Carlos Alves

Até à conquista do título de campeão de Portugal a maioria dos jogadores do Carcavelinhos era totalmente desconhecida do grande público afeto ao futebol lusitano. A excessão a este quase total anonimato era Carlos Alves, o defesa-direito daquela célebre equipa de operários, e para muitos o melhor jogador português de sempre nesta posição! Carlos Alves nasceu em Lisboa, a 10 de outubro de 1903, e o Carcavelinhos foi o seu primeiro grande amor no futebol. Estreou-se no combinado de Alcântara nessa temporada de 27/28, e logo com o título de campeão de Portugal. As suas soberbas exibições nessa epopeia convenceram o selecionador nacional da altura, Cândido de Oliveira, a convocá-lo para o Torneio Olímpico de Futebol de Amesterdão, na época o maior evento futebolístico a nível global. Era além disso a primeira vez que Portugal surgia na alta roda do futebol internacional. Talvez por isso 1928 tenha sido o ano dourado da carreira de Alves: campeão de Portugal e titular do onze nacional nos Jogos Olímpicos, onde a seleção haveria somente de cair nos quartos-de-final aos pés do Egito. Portugal fez uma campanha memorável, para a qual muito contribuiu o talento de lendas como Pepe, Valdemar Mota, Vítor Silva, Raul Tamanqueiro, Jorge Vieira, Augusto Silva, César de Matos, e claro, Carlos Alves, o luvas pretas! Assim ficou eternizado o defesa direito. A razão desta alcunha? Porque jogava sempre de luvas pretas. Mas porquê? Ao que parece antes da final do Campeonato de Portugal de 1928 uma admiradora dele se abeirou e disse que se as utilizasse seria campeão. Carlos assim o fez, e de facto foi campeão. Dali em diante nunca mais deixou de usar as luvas, fosse em que jogo fosse. Deram sorte. Ainda em relação aos Jogos Olímpicos de 1928 os críticos da altura nomearam Carlos Alves como o melhor defesa-direito do torneio em parceria com o espanhol Jacinto Quincoces. Um luxo, e uma honra. Quem o viu jogar disse que era um jogador diferente, um homem que refinou a posição de defesa-direito, priveligiando a classe no toque de bola em simultâneo com a destreza do desarme, em vez do habitual - até então - estilo duro - e quase violento - dos defesas de roubar a bola ao adversário. Tinha um pé direito fortíssimo, e foi autor de muitos golos ao longo da sua carreira, muitos deles de livre direto, arte da qual era mestre.

Defendeu com brio a camisola do Carcavelinhos até 1933, altura em que viaja para o Porto para defender as cores do Académico Futebol Clube, entre 1934 e 1936. Ao serviço dos academistas participa na primeira edição do Campeonato Nacional da 1ª Divisão (34/35), ganho pelo FC Porto, emblema que em 35/66 contrata o valoroso jogador. De azul e branco vestido o luvas pretas não foi feliz, já que problemas pulmonares o atiraram para um sanatório onde ficou internado durante dois anos, e como consequência colocou um ponto final numa carreira formidável.
Depois, foi para Faro, onde treinou o Farense, criando ai a famosa equipa "o 8º Exército" - assim apelidada pela larga invencibilidade em todo o Algarve -, mas devido ao seu feitio - dizem - conflituoso abriu guerra a muitos jogadores do clube algarvio, o que levou à sua saída.
Veio depois para Albergaria-a-Velha, para treinar o modesto emblema local, o Alba, o clube onde começou a despontar o seu neto, João (Alves), que haveria de abraçar a fama na década de 70 ao serviço de clubes como o Benfica, o Paris Saint-Germain, ou o Salamanca.
Carlos Alves - que foi internacional por Portugal em 18 ocasiões - viria a falecer a 12 de novembro de 1970.

Nomes e números do Campeonato de Portugal de 1928

1ª eliminatória

Vianense - Salgueiros: 1-2

FC Porto - Vila Real: 13-1

Boavista - Lusitano Vildemoinhos: 8-0

Leça - Sp. Braga: 2-1

Fafe - Académica: 2-1

Beira-Mar - Progresso: 3-2

Sporting - Torres Novas: 18-0

Casa Pia - Comércio e Indústria: 2-1

Belenenses - Luso Beja: 7-1

Barreirense - União Lisboa: 3-0

Vitória de Setúbal - Lusitano VRSA: 6-1

Oitavos-de-final

Beira-Mar - Carcavelinhos: 0-3

Leça - Belenenses: 1-8

Sporting - Império: 4-1

Casa Pia - Barreirense: 0-2

Salgueiros - FC Porto: 2-1

Fafe - Benfica: 1-6

Quartos-de-final

Belenenses - Vitória de Setúbal: 1-4

Sporting - Barreirense: 5-0

Salgueiros - Carcavelinhos: 1-8

Benfica - União da Madeira: 4-3

Meias-finais

Benfica - Carcavelinhos: 0-3

Sporting - Vitória de Setúbal: 3-1

Final

Carcavelinhos - Sporting: 3-1

Data: 30 de junho de 1928

Árbitro: Silvestre Rosmaninho (Lisboa)

Estádio: Campo da Palhavã, em Lisboa

Carcavelinhos: Gabriel Santos, Carlos Alves, Abreu, Artur Pereira, Daniel Vicente, Carlos Domingues, Manuel Abrantes, Armando Silva, Carlos Canuto, José Domingos, e Manuel Rodrigues. Treinador: Carlos Canuto.

Sporting: Cipriano Santos, António Penafiel, Jorge Vieira, Martinho de Oliveira, Serra e Moura, Matias Lopes, João Francisco, Abrantes Mendes, João Jurado, Agostinho Cervantes, e José Manuel Martins. Treinador: Filipe dos Santos

Golos: 1-0 (José Domingos, aos 20m), 1-1 (Abrantes Mendes, aos 52m), 2-1 (José Domingos, aos 53m), 3-1 (Manuel Rodrigues, aos 75m)

Legenda das fotografias:
1-O poster do Carcavelinhos, campeão de Portugal em 1928
2-Acácio Mesquita, o melhor marcador do FC Porto nesta edição
3-Belenense Severo Tiago espreita mais uma oportunidade de golo durante o encontro com o Luso Beja
4-O guarda-redes internacional do Casa Pia, António Roquete
5-Fase do emblemático jogo entre FC Porto e Salgueiros
6-A equipa do Benfica
7-Jogadores do Carcavelinhos em ação
8-Mário de carvalho, o herói do Benfica nos quartos-de-final
9-Carlos Canuto, jogador/treinador do Carcavelinhos, e mais tarde árbitro internacional
10-O conjunto do Sporting
11-Carlos Alves disputa um lance na final do campeonato
12-Mais um lance da final do Campo da Palhavã
13-Carlos Alves, com a camisola do Carcavelinhos...
14-... e com a do Académico do Porto

quarta-feira, outubro 16, 2013

Estrelas cintilantes (35)... Ben David

Não fosse o seu excesso de humildade e o facto de a estrela da sorte ter deixado de iluminar cedo de mais o seu caminho, quiçá hoje não estaríamos aqui a recordar uma das lendas dos futebol internacional da década de 50! Diz quem o viu jogar que talento para subir ao Olimpo dos Deuses do Futebol era coisa que não lhe faltava, e a provar isso - uma de muitas provas, aliás - o facto de os mestres ingleses o terem rotulado como o melhor avançado centro que até então tinham visto jogar!!!
Henrique Ben David, assim se chama a nossa estrela cintilante de hoje, considerado o primeiro grande diamante futebolístico extraído de Cabo Verde, onde nasceu a 5 de dezembro de 1926, mais concretamente na cidade do Mindelo, na ilha de São Vicente. Como tantos outros filhos de famílias pobres foi de pé descalço que nas artérias de terra batida conduzia com arte as bolas de trapos que com ele se cruzavam. Figura alta, esguia, com uma impulsão invulgar, detentor de um remate poderoso, e um cavalheiro a tratar o esférico, Ben David despertou de imediato a cobiça dos clubes locais, iniciando aquela que se adivinhava como uma promissora carreira no Clube Sportivo Mindelense, onde ingressou no escalão de infantis, ali permanecendo até aos 18 anos de idade, altura em que o seu talento era já gigante demais para continuar a figurar entre as idílicas paisagens do arquipélago de Cabo Verde.

Estávamos em 1946, e o seu destino seria a metrópole, o mesmo é dizer Portugal, e a sua capital, Lisboa. E desde logo vincou a sua faceta modesta, de moço adverso a ser o centro das atenções em grandes palcos - ou clubes neste caso - pelo que na hora de traçar o seu caminho na sede do Império Colonial escolheu o Unidos de Lisboa, ao invés dos gigantes Sporting, Benfica, e Belenenses, afamados emblemas da capital que tendo travado conhecimento com as qualidades do moço cabo-verdiano logo trataram de o agarrar para as suas fileiras. A razão pela escolha do modesto Unidos era simples, Ben David queria um emprego que lhe garantisse um futuro desafogado, porque o futebol, e parece que já pressentia a sua sina, era sol de pouca dura.
Porém, a empresa que suportava o Unidos de Lisboa deixou de o fazer, e o humilde cabo-verdiano teve de procurar outras paragens, outros portos de abrigo, longe das por vezes sinuosas estradas do estrelato futebolístico. A CUF acenou-lhe com um lugar cativo na sua equipa de futebol, e mais do que isso, muito mais importante para Ben David, um emprego como mecânico de automóveis na sua fábrica.
Mecânico de automóveis, este sim, o grande sonho daquele diamante cabo-verdiano.

No emblema do Barreiro andou pelos frios pelados dos escalões secundários durante duas épocas (45/46, e 46/47), tendo na primeira delas partilhado o ataque dos operários com dois homens que anos mais tarde - não muitos mais - haveriam de ascender ao tal Olimpo dos Deuses do Futebol. Eram eles Manuel Vasques, e José Travassos, que no Sporting se juntaram a Jesus Correia, Albano, e Fernando Peyroteo, edificando aquela que seria a orquestra mais virtuosa da história do futebol luso, os Cinco Violinos. Mas poderiam muito bem ter sido seis os violinos do clube lisboeta, caso Ben David não tivesse resistido a uma nova investida sportinguista ja em 1951, quando representou os leões - a convite destes - numa digressão que estes fizeram pelo Brasil. Em Terras de Vera Cruz David encantou, e pasmou os ocupantes do colossal Maracanã, o maior templo de futebol do Mundo daquela época, com os seus dotes de temível goleador.

Amor eterno ao Atlético

Na altura em que Ben David brilhou com a camisola leonina no Maracanã o seu coração era já do Atlético Clube de Portugal, popular emblema lisboeta que em 1947 apareceu na vida do talentoso cabo-verdiano. As enormes exibições ao serviço da CUF mais uma vez aguçaram o apetite dos grandes da capital, mas de novo Ben David fugiu dos holofotes mediáticos do futebol nacional, preferindo atravessar o (rio) Tejo em direção ao bairro de Alcântara, berço do pequeno Atlético. Ben David continuava assim fiel à humildade que caracterizava a sua personalidade.
Atlético que lhe ofereceu 500 escudos por mês, não se sabendo no entanto se o diamante africano terá continuado a exercer a sua amada profissão de mecânico na fábrica da CUF. Certo e sabido é que Ben David fez do emblema de Alcântara uma sombra dos grandes do desporto rei lusitano no que toca a lutar por galardões coletivos, isto é, títulos. Por outras palavras, Henrique Ben David colocou o Atlético Clube de Portugal no mapa do futebol português.
Demorou no entanto a afirmar-se na modesta coletividade, que por aqueles dias ocupava um lugar quase despercebido no primeiro plano nacional, isto é, a 1ª Divisão. Fez a estreia com a camisola do Atlético a 5 de outubro de 1947, num encontro ante o Belenenses.
Apesar de marcar muitos golos e de traçar nos retângulos nacionais ótimas exibições, Ben David só explodiu verdadeiramente na época de 1949/50, altura em que guiou o Atlético até um impensável 3º lugar na classificação final - ficando à frente dos grandes FC Porto, e Belenenses - de um campeonato ganho pelo Benfica, dos génios Julinho, Espírito Santo, Arsénio, ou Rogério Pipi.
Porém, uma temporada antes, os seus golos ajudaram o pequeno emblema a pisar pela segunda vez na história a relva sagrada do Estádio nacional, para discutir a final da Taça de Portugal. No duelo com o Benfica os rapazes de Alcântara venderam muito cara a derrota por 1-2.
Nesta célebre temporada de 49/50 os guarda-redes contrários foram vítimas do reconhecido poder de fogo do cabo-verdiano em 21 ocasiões, número apenas superado pelo benfiquista Julinho, o melhor marcador da prova, com 28 tentos.

Ingleses rendidos ao talento do diamante de Alcântara

As boas exibições do diamante daquela que era já a estrela cintilante dos rapazes de Alcântara fizeram com que em 1950 fosse chamado a representar a seleção nacional para o jogo com a poderosa Inglaterra, seleção esta então de má memória para o futebol luso, já que três anos antes havia vergado Portugal por uns humilhantes 10-0! O palco deste novo amigável era o mesmo da concludente derrota de 1947, o Estádio Nacional, cujas bancadas se apresentavam repletas de uma massa adepta que encarava este novo duelo com alguma expetativa e... receio. Estariam Sir Stanley Matthews - a estrela da seleção da rosa - e companhia a preparar outro massacre ao combinado luso? Era a questão que circulava nas graníticas bancadas do Jamor. A resposta chegou pelos pés do génio Ben David, que com uma exibição soberba fez passar quase por despercebidas as diferenças abismais que naquele tempo separavam o modesto futebol lusitano do evoluído football britânico. Apesar da derrota por 3-5 a seleção portuguesa mereceu rasgados elogios, que no plano individual se estenderam a Ben David, autor de dois golos. Reza a lenda que no final do jogo os mestres ingleses teceram rasgados elogios ao jogador do Atlético, classificando-o de tecnicamente muito evoluído, acrescentando que aquele rapaz era tão só o melhor avançado centro que até então tinham visto jogar! Ele que com aquela primeira internacionalização se havia tornado no primeiro nativo de Cabo Verde a vestir a camisola das quinas.

No plano interno, isto é, o campeonato nacional, a chama de Ben David continuava bem acesa, e nas temporadas de 50/51 e 51/52 ele continuou a liderar o seu Atlético no assalto aos lugares cimeiros da 1ª Divisão. Em 50/51 o clube de Alcântara foi 4º colocado, sendo apenas superado pelo campeão Sporting, Benfica, e FC Porto, sendo que plano individual a estrela do Atlético fez o gosto ao pé em 26 ocasiões, o seu melhor registo no escalão principal, ficando somente a três golos do seu ex-companheiro da CUF, o violino Vasques. 

Por aqueles dias o seu natural talento era já sobejamente conhecido no plano nacional e... internacional. De França chegou a Alcântara uma proposta de um afamado clube daquele país mostrando interesse em adquirir o diamante de Cabo Verde. Era o Stade Français, clube milionário parisiense que propôs a Ben David um luxuoso ordenado de seis mil escudos por mês, acrescido de mil e oitocentos escudos por vitórias obtidas fora de casa, mil por cada triunfo caseiro, e oitocentos escudos por empate. Para além desta tentação financeira, e sabendo da paixão de Ben David pela mecânica, o clube da capital gaulesa oferecia-lhe ainda uma espécie de estágio de especialização em mecânica numa fábrica à sua escolha entre as famosas marcas Citroen, Renault, e Peugeot. Perante estas ímpares condições Ben David não podia recusar a mudança para a majestosa capital francesa. Não recusou Ben David mas fê-lo o Atlético, que para libertar a sua joia pedia 300 contos ao Stade Français, verba essa desde logo recusada por estes, que assim desistiam do sucessor de... Peyroteo!

Sucessor de Peyroteo depara-se com o azar

Para muitos dos especialistas do fenómeno futebolístico daquele tempo Ben David reunia todas as condições para ser o maior avançado centro do país. Muitos diziam mesmo que o sucessor do lendário e feroz - na hora de rematar à baliza - leão Fernando Peyroteo - o maior avançado centro do futebol luso da primeira metade do século XX - estava encontrado. Faltava-lhe quiçá apenas dar o salto definitivo para um grande de Portugal, para poder traduzir em títulos a arte do seu jogo.
Mas Ben David era leal à sua humildade e modéstia, e sobretudo ao seu Atlético, e por Alcântara continuou, tendo em 51/52 realizado mais uma soberba temporada no plano individual ao apontar 24 golos, ficando a apenas quatro do então emergente homem golo do Benfica, José Águas, o melhor marcador do campeonato. Em termos coletivos 1951/52 não correu tão bem a Ben David, que viu o Atlético quedar-se por um modesto 12º lugar!
Em 1952/53 chegou à Tapadinha - o nome do estádio do Atlético - o lendário treinador Joseph Szabo, que tantos títulos havia somado ao serviço do FC Porto e do Sporting. E o que até aqui tinham sido rosas para o talentoso Ben David transformou-se num penoso calvário durante as três épocas que se seguiram. Uma grave lesão no menisco fez com que a sua carreira entrasse prematuramente na reta final. A magia que Ben David trouxera de África eclipsou-se, e até 1954/55, a sua derradeira época como futebolista, ele foi uma sombra de si mesmo! Não tinha sequer 30 anos quando pendurou as chuteiras! Em oito temporadas ao serviço do Atlético o rapaz do Mindelo apontou quase uma centena de golos (98 para sermos mais precisos) em 119 jogos oficiais, e mais do que isso perpetuou-se como o jogador mais lendário da história do popular clube de Alcântara.

Pela seleção nacional atuou em seis ocasiões, sendo que para além do histórico embate com a Inglaterra em 1950, defrontou ainda o País de Gales - a quem marcou um golo, em Cardiff, a 12 de maio de 1951 -, a Bélgica - que a 17 de junho de 1951 também conheceu a veia goleadora de David -, novamente a Inglaterra, e por fim a França, em Paris, a 20 de abril de 1952.
Aquele que outrora fora respeitado, admirado, e sobretudo temido, por adversários de vários quadrantes futebolísticos deixou cedo demais os campos de batalha, mas não o futebol.
Em 55 viaja para os Açores onde inicia uma carreira de treinador ao serviço do Santa Clara. Naquele arquipélago orienta ainda os conjuntos do União Sportiva, do Marítimo (da ilha Graciosa), e do União Micaelense. Posteriormente, e depois de deixar de vez o belo jogo, trabalhou na RTP Açores, sendo o responsável pelo programa Teledesporto.
Curioso, é que nasceu e morreu num arquipélago. Foi pois nos Açores - em Ponta Delgada - que no dia 5 de dezembro de 1978 - precisamente o dia em que completava 52 anos de vida - que o primeiro grande artista nascido em Cabo Verde deixou o mundo terrestre.

Legenda das fotografias:
1-Henrique Ben David com a camisola do seu Atlético
2-Um aspeto aéreo da fábrica da CUF nos anos 40
3-A entrada em campo de uma equipa do Atlético (Ben David surge em terceiro lugar a contar da esquerda para a direita)
4-Com a camisola da seleção nacional
5-Novamente envergando o manto sagrado do clube de Alcântara
6-A equipa do Atlético treinada por Joseph Szabo em 52/53
7-Uma das últimas imagens do homem nascido em Cabo Verde