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segunda-feira, abril 25, 2022

Cidades do Futebol (5)... Vigo: o pontapé de saída do futebol em Espanha

Uma panorâmica da bela Cidade de Vigo
Os caminhos da História levam-nos por vezes a repensar factos que julgávamos inalteráveis, mas que afinal não o são. Vem isto a propósito da nossa viagem de hoje a Vigo... cidade onde nasceu o futebol em Espanha. É verdade, durante anos a fio pensou-se que Huelva teria sido o primeiro local onde se jogou pela primeira vez futebol no país vizinho, onde nasceu o primeiro clube, no caso o Club Inglés de Riotinto, mas já no século XXI, mais precisamente em 2012, um investigador de História local galega, de seu nome José Ramón Cabanelas, descobriu casualmente em pesquisas na hemeroteca do jornal Faro de Vigo uma referência ao juego de la pelota (jogo da bola) com data de 10 de junho de 1876 naquela cidade da região autónoma da Galiza. Esta notícia veio então contrariar o facto de que teria sido em 1878 que mineiros ingleses, que trabalhavam na mina de Riotinto, em Huelva, terão sido os introdutores do futebol em Espanha ao fundar o já referido Club Inglés de Riotinto.

Pois bem, estes novos factos comprovaram que foi pois em Vigo onde foram dados os primeiros pontapés numa bola de football no maior país da Península Ibérica pela mão, ou pelos pés neste caso, dos trabalhadores (engenheiros) ingleses do Eastern Telegraph Company.

Nesse sentido vamos então conhecer não só um pouco desta história como de igual modo algumas estórias do Belo Jogo que tiveram lugar nesta encantadora cidade galega pertencente à província de Pontevedra. Situada no sul da Galiza, Vigo é a segunda cidade mais povoada desta região autónoma, a seguir à Corunha. O seu porto marítimo trouxe-lhe riqueza e importância desde o século XIX, sendo hoje considerada a capital das Rias Baixas. Vigo é na atualidade o principal porto pesqueiro da Europa e o mais importante centro comercial e económico do sul da província de Pontevedra.

Os exilados ingleses introduzem o futebol em Vigo... e em Espanha

Uma rara imagem do Exiles Club,
em 1903
Recuando um pouco no tempo, constata-se que foi na segunda metade do século XIX que a cidade conheceu um crescimento acentuado, sobretudo no plano económico, com a abertura de inúmeras fábricas, o que trouxe a esta localidade banhada pelo Atlântico muitos trabalhadores estrangeiros. Ali instalou-se naquele período a telegrafia submarina do Cabo Inglês, a Eastern Telegraph Company, onde trabalhavam diversos engenheiros ingleses provenientes da região britânica da Cornualha. Foram estes cidadãos que em 1873 fundaram em Vigo um clube social, onde conviviam entre si e praticavam desporto, denominado de Exiles Club, ou se quisermos traduzir na língua de Camões, o Clube dos Exilados.

Ora, terá sido nesses convívios que a bola começou a rolar por aquelas paragens, sendo que sem rivais na região com quem pudesse medir forças, o Exiles defrontava equipas constituídas por marinheiros ingleses cujos barcos aportavam em Vigo. Jogos esses que eram disputados em terrenos situados na zona de Malecón. E a primeira referência a estes jogos, e que desmente a teoria de que o futebol em Espanha teve o seu início em Huelva, foi então descoberta pelo investigador viguês José Ramón Cabanelas, através de uma notícia publicada no Faro de Vigo e datada de 10 de junho de 1876 e que dizia o seguinte: "Os ingleses visitaram-nos novamente. Eles são tão gentis! Eles andam como quatro, pisam como seis e bebem como cinquenta. Pescam, caçam, fumam, pintam e jogam à bola de acordo com seu uso e modo". A juntar a esta notícia, Cabanelas afirma que inclusive que chegou a disputar-se uma competição entre as tripulações de marinheiros ingleses e o Exiles Club, denominada de Copa Primavera. Numa entrevista concedida ao Faro de Vigo em 2012, o investigador sustenta esta sua descoberta dizendo que os ingleses vieram para Vigo em 1873, precisamente dez anos depois da fundação em Inglaterra da Football Association, trazendo consigo, desde o primeiro momento, os seus costumes vitorianos para a cidade galega, entre eles o futebol.

Vestígios fotográficos do Exiles Club, que terá sido provavelmente o primeiro clube em Espanha a dedicar-se ao futebol, são raros, conhecendo-se apenas uma fotografia de uma equipa de 1903. Sabe-se de igual modo que as suas cores eram o preto e o branco, precisamente as cores da bandeira da região da Cornualha.

Os vizinhos que deram as mãos para fundar um grande clube na cidade

Vigo FC
Não se sabe ao certo quando este emblema foi extinto, sabendo-se apenas que do seu palmarés consta a vitória numa Copa Pontevedra, em 1907, um torneio regional, numa altura em que o futebol se tinha expandido já por toda a região com a existência de inúmeros clubes. Inclusive em Vigo, que era já a casa dos rivais Vigo Football Club (fundado em 4 de junho de 1903) e do Fortuna Football Club (criado a 11 de setembro de 1905). O primeiro emblema chegou mesmo a ser considerada a melhor equipa da cidade durante vários anos, tendo sido o vencedor da primeira edição do Campeonato Regional da Galiza, em 1905, após derrotar na final o vizinho e rival Fortuna.

Curiosamente, a primeira casa do Vigo FC foi precisamente o campo de jogo do Exiles Club, passando em 1908 para aquele que pode ser considerado como o primeiro grande estádio viguês, o Campo de Coya. Ali, jogou-se futebol até 1928, tendo sido inclusive palco de uma final da Copa del Rey (Taça de Espanha) entre o Barcelona e o Real Unión de Irún, ganha pelos catalães.

A camisola bipartida com as cores vermelha e branca, as cores da província marítima de Vigo, usada pelo Vigo FC ficaram famosas nas só na cidade como em toda a região da Galiza. O clube ganhou diversos campeonatos galegos, tendo inclusive um desses triunfos lhe permitido jogar a mais importante competição do futebol espanhol de então, a Copa del Rey.  E numa dessas edições chegou mesmo à final, ante o mais poderoso emblema do país, o Madrid Football Club, que anos mais tarde seria rebatizado como... Real Madrid. Nessa final, disputada no Estádio de O'Donnell, caso do Madrid FC (!), o Vigo FC saiu derrotado pela margem mínima (1-2), mas rezam as crónicas que apresentou bom futebol praticado por excelentes artistas. Na verdade, os melhores jogadores da Galiza daquele tempo vestiam as cores do Vigo FC, sendo que dois deles deixaram esta região autónoma para rumar à capital de Espanha para vestir as cores do emergente gigante Madrid FC. Falamos dos irmãos Yarza, Manuel e Joaquim, quiçá as primeiras lendas do futebol com origens em Vigo. Mas deles já iremos falar com detalhe mais adiante.

O Fortuna de Vigo em 1912
A cidade era naqueles dias habitada por outro clube com arte para o juego de la pelota, como era então denominado o futebol, no caso o Fortuna, dois anos mais novo que o seu vizinho. Repartiam entre si o domínio não só do futebol viguês como de toda a região, tendo o Fortuna vencido o Campeonato da Galiza em nove ocasiões: 1906, 1907, 1910, 1911, 1912, 1915, 1918, 1921 e 1922, ao passo que o seu rival o fez por oito vezes: 1907, 1908, 1914, 1917, 1918, 1919, 1920 e 1923.

O Fortuna está não só ligado à história do futebol galego como também do futebol português. É verdade. Tudo porque a 15 de dezembro de 1907 o clube viguês deslocou-se ao nosso país para defrontar o FC Porto, no Campo da Rainha. Este encontro foi histórico porque pela primeira vez um clube estrangeiro atuava em solo luso.

Irmãos Yarza: as primeiras lendas nascidas em Vigo

Os irmãos Yarza, Quincho e Manuel, 
com as cores do Real Madrid
Mas voltando aos irmãos Yarza, eles foram as primeiras estrelas nascidas em Vigo. Joaquín, ou Quincho como ficou eternizado, era o mais velho. Nasceu em 1881 e ficou na história do próprio futebol espanhol pelo facto de ter sido o primeiro futebolista a ser pago para jogar, algo inédito numa época onde reinava o amadorismo.

Por sua vez, Manuel nasceu em 1884, e juntamente com o seu irmão ajudou a abrir o glorioso livro da história do Real Madrid. Os dois irmãos rumaram à capital no início do século XX, tendo ali ajudado a fundar o Moderno Football Club, emblema fundado em 1902 e que pouco tempo depois seria absorvido, digamos assim, pelo Madrid FC. Manuel e Quincho estiveram nessa transição, vestiram a camisola dos merengues entre 1903 e 1908, ajudando o clube a conquistar os seus primeiros títulos, mais em concreto quatro Copas del Rey (de 1905 a 1908). Além de jogador Manuel tinha de igual modo funções administrativas dentro do clube. Era membro do Conselho de Administração enquanto no retângulo de jogo atuava como um médio forte e eficaz. Por seu turno, Quincho, começou a jogar como ala, mas depressa se tornou num defesa implacável, formando uma dupla lendária com Berraondo graças à sua força física aliada à sua qualidade.

Após a aventura em Madrid, Quincho regressou à sua cidade natal onde defendeu as cores do Vigo FC durante duas temporadas, ao passo que o seu irmão Manuel continuou pela capital, tendo atuado entre 1908 e 1911 no Club Español de Madrid.

Vigo precisa de um clube único que una o povo da cidade

Manuel de Castro
Foi na segunda década do século passado que o célebre jornalista do Faro de Vigo, Manuel de Castro, acompanhava com atenção o futebol que era jogado não só na sua cidade como pelo resto da Espanha. Pelo punho do referido jornalista foram escritos alguns artigos dando nota de que Vigo precisava de um único clube, isto é, um clube que unisse as pessoas e que fosse forte o suficiente para fazer face aos outros emblemas que proliferavam pelo resto do país. Juntamente com Juán Baliño, Castro foi um dos impulsionadores do movimento «Todo por y para Vigo» (tudo por e para Vigo), tendo  objetivo a criação de um só clube na cidade. Esta proposta teve a aceitação dos dois clubes da terra, o Fortuna e o Vigo FC, sendo que a 10 de agosto de 1923 nascia, resultante da fusão destes dois emblemas, o Real Club Celta de Vigo.

Não foi contudo um parto fácil, desde logo pela escolha do nome do novo clube, que foi motivo de divergência de opiniões. Real Unión de Vigo, Club Galicia, Real Atlántic, Breogán e Real Club Olímpico, foram os nomes inicialmente propostos, até que para acabar com o impasse alguém propôs que se olhasse para as raízes das Rias Baixas, para a história daquela região mais a norte da Península Ibérica, outrora habitada pelos povos celtas... Celta, ora aí está um bom nome, que de pronto ficou assente.

O clube começou de pronto a saltar para o campo para mostrar a camisola azul celeste que se iria tornar célebre nas décadas seguintes, ao disputar os seus primeiros encontros - a estreia aconteceu numa partida entre todos os jogadores do plantel, uma parte liderada por Otero, outra por Clemente, tendo o "onze" do primeiro atleta vencido por 2-0. Como curiosidade refira-se que o primeiro jogo contra outro clube ocorreu a 23 de setembro de 1923, mais precisamente contra os portugueses do Boavista, que saíram do Campo de Coya, a primeira casa do Celta, com uma pesada derrota por 8-2.

O emblema rapidamente começou a competir nas provas regionais, ganhando o primeiro campeonato galego da sua história logo no ano de estreia, em 1923. O Celta foi crescendo nos anos seguintes, e na época de 1939/40 faz a estreia no principal escalão do futebol espanhol, onde esteve de forma quase ininterrupta durante 20 anos, exceção feita à temporada de 44/45, altura em que disputou a 2.ª Divisão.

Por esta altura era treinador do Celta Don Ricardo Comesaña, para muitos o primeiro grande técnico do clube, um homem também ele nascido em Vigo em finais do século XIX, e que entre 1935 e 1940 esteve ao leme da equipa. Ele foi o responsável pela primeira subida do Celta à 1.ª Divisão e ainda hoje qualquer adepto do clube, seja qual for a idade, sabe quem ele foi e o que ele significa para o celtismo.

Pahiño, o príncipe das Rias Baixas

Pahiño
1923 foi como já vimos o ano de fundação do Celta de Vigo e foi também o ano em que nasceu outro génio do futebol galego: Manuel Fernández Fernández, ou simplesmente Pahiño. A sua louca obsessão pelo golo fez com que seja ainda hoje recordado como um dos mais prolíferos avançados da história do futebol espanhol. Dos seus (bons) pés - sobretudo - foram disparadas autênticas balas de canhão que destruíram as balizas contrárias vezes sem conta. Ah, noutras ocasiões a meta adversária era igualmente fuzilada com letais cabeceamentos, já que além de dois bons pés Pahiño era também senhor de um bom jogo de cabeça. Talento(s) descobertos nas areias das praias de Vigo, onde Manuel Fernández Fernández esquecia - por certo - a vida dura do campo (agricultura), lides às quais desde muito novo se habituara com o objetivo de ajudar no sustento da sua família. Nas praias desta cidade estão pois guardadas as primeiras histórias de intimidade entre Pahiño e a bola, uma relação que se assumiu - de forma mais séria - em Arenas de Alcabre, o primeiro emblema a ser oficialmente representado pelo niño nascido a 21 de janeiro de 1923, em San Playo de Navia, nos arredores de Vigo. Estávamos ainda um pouco longe do casamento entre Pahiño e o Celta, mas não deixa de ser curioso que o jogador e o clube tivessem vindo ao Mundo no mesmo ano! Obra do acaso? Se calhar não... De Arenas de Alcabre para o Juventudes de Vigo - o seu segundo clube - o caminho foi curto, já que o poder de fogo de Pahiño começava a ter eco por toda a Galiza.

Apercebendo-se que mesmo por debaixo do seu nariz deambulava um talento na arte de bombardear o esférico para as balizas contrárias, eis que em 1943 o Celta de Vigo não mede esforços para contratar aquela que viria a ser a jóia da (sua) coroa nos cinco anos que se seguiram. O fichaje do poderoso avançado não foi contudo um parto fácil, longe disso. Na corrida pelo concurso do nativo de San Playo de Navias estava também o Salamanca, emblema que na altura tentava entrar na elite do futebol espanhol, o mesmo será dizer, ascender à 1.ª Divisão. No entanto, os helmánticos foram vencidos pelo coração! Pelo coração celtista que pulsava dentro do jovem Pahiño, que ainda criança, pela mão do seu pai, travou-se de amores pelas camisolas azuis celeste que aos domingos à tarde reluziam no relvado de Balaídos. Nessa época estaria ainda distante de imaginar que também ele um dia iria brilhar com a indumentária celtista nos retângulos do futebol espanhol, ajudando a edificar - em seu redor - uma das equipas mais lendárias da história do clube de Vigo, que durante uma mão cheia - pelo menos - de temporadas assombrou os gigantes do Belo Jogo castelhano.

Um aspeto do Campo da Coya, 
a primeira catedral do futebol viguês
Estávamos em 1943 quando Pahiño - com 19 anos - chegou a Balaídos. No entanto, e apesar da monstruosidade do seu poder de fogo, o Celta não foi feliz na temporada de 1943/44, foi último de uma Liga vencida por um Valência onde se destacava o goleador Mundo, e acabou por descer aos infernos da 2.ª Divisão. Passagem pelo inferno que seria fugaz, já que na época seguinte a garra de Pahiño aliada ao seu instinto de predador catapultou o Celta de novo para o convívio entre os grandes do futebol espanhol. Episódio lendário que ressalva do trajeto glorioso do Celta em 44/45 prende-se com o jogo final que dava acesso à promoção. Frente a frente mediram forças no (Estádio) Metropolitano de Madrid o Celta e o Granada, e quem vencesse ganhava o bilhete para a Primera. Pahiño, titular indiscutível dos celtistas desde que havia chegado a Balaídos, foi a estrela da tarde. No relvado do mítico recinto da capital fez jus ao seu estatuto de temível homem de área, fazendo dois golos durante a primeira parte. Performance que faria com que os defensores contrários lhe dedicassem atenções... suplementares. Alvo de uma entrada violenta de Milán González o goleador celtista fraturou o perónio, facto insuficiente para que deixasse de... continuar em campo na etapa complementar e ajudasse o Celta a vencer por 4-1.

Ricardo Comesaña
De volta à 1.ª Divisão, o Celta viveu nas três temporadas seguintes alguns dos capítulos mais cintilantes da sua história. Sempre... aos ombros daquela que era já a sua maior estrela, Pahiño. Nos palcos da Primera o goleador galego foi pedra fundamental para que os celestes se afirmassem como uma das equipas mais encantadoras da liga, e sobretudo num osso duro de roer para emblemas de maior dimensão. Que o diga o poderoso Real Madrid, que em 45/46 tombou em Balaídos por concludentes 3-0, ou o campeão dessa temporada, o Sevilha, que nas Rias Baixas afundou-se depois de ter levado quatro (a zero)! Foi igualmente durante o regresso do Celta ao convívio entre os grandes que nasceu uma rivalidade protagonizada entre dois mitos da história do futebol espanhol na arte de fuzilar as redes contrárias. Pahiño, claro está, e Telmo Zarra, o herói basco do Athletic de Bilbao que ainda hoje detém o título de melhor marcador de sempre da 1.ª Divisão espanhola, com 252 remates certeiros. Zarra, como iremos perceber nas próximas linhas, foi quiçá o grande obstáculo que Pahiño encontrou ao longo da sua carreira para conquistar um lugar de destaque no... Olimpo do futebol global. Em 45/46 o celtista apontou 15 golos, menos nove que Zarra, que desta forma levava para a sua vitrina pessoal o troféu Pichichi, galardão que distingue o melhor marcador do campeonato espanhol. E se Pahiño e Zarra lutavam entre si por um lugar na eternidade do Belo Jogo, na época seguinte Vigo acolhe de braços abertos um homem que há muito repousava no panteão do desporto rei planetário. O seu nome? Ricardo Zamora. Il Divino, como ficou imortalizado na história do jogo, era agora treinador, e depois de ter passado pelos bancos do Nice (França) e do Atlético Aviación (nome pelo qual na época era conhecido o atual Atlético de Madrid) assentava arraiais nas Rias Baixas, onde iria construir uma equipa lendária. E se a primeira temporada (46/47) de Zamora em Vigo não foi por ai além, já que o Celta não conseguiu melhor do que um 9º lugar, a segunda foi a todos os títulos memorável. Para o Celta e para... Pahiño. A nível coletivo os celtistas alcançariam um inédito quarto posto, ficando a somente seis pontos do campeão Barcelona, na sequência de uma coleção de resultados absolutamente brilhantes. Vejamos: de Balaídos saíram humilhados o campeão Barcelona (3-2), o vice-campeão Valência (5-2), o Atlético de Madrid (3-1), e o Real Madrid (4-1). Aliás, os merengues iriam sofrer nessa mítica época uma dupla humilhação aos pés dos pupilos de Zamora, visto que na capital a dose (4-1) repetiu-se a favor dos galegos. Mas a epopeia galega não se ficou por aqui. Na Copa del Generalíssimo - atualmente denominada como Copa del Rey - o Celta alcançou a final, onde seria travado pelo Sevilla (4-1) no Metropolitano de Madrid, o mesmo recinto onde poucos anos antes Pahiño e o Celta haviam sido tão felizes.

Apesar da derrota, o Celta foi rotulada como a equipa sensação dessa temporada, muito graças ao cunho pessoal da sua estrela-mor, Pahiño, que com 23 golos venceu o seu primeiro Troféu Pichichi.

A veia goleadora de Pahiño era por demais saliente, e nesse ano de 1948 atinge a sua primeira internacionalização, ao representar a Espanha num amigável ante a Suíça, ocorrido em Zurique.

A brilhante caminhada celtista chamou à atenção dos tubarões do futebol espanhol, que centravam os seus olhares devoradores em nomes como Miguel Muñoz, Alonso, e claro, Pahiño, as estrelas daquele Celta. Sabendo que o seu talento era por demais admirado por clubes de maior envergadura o internacional galego exigiu à direção azul celeste um aumento de salário, argumentando que era não só um dos grandes abonos de família da equipa, como também que outros colegas seus que raramente pisavam o relvado - na condição de titulares - usufruíam de salários muito mais elevados do que o seu. A ação de Pahiño foi desde logo apelidada de anti-celtista, e o jogador é de pronto olhado por dirigentes, (alguns) companheiros e muitos adeptos como mercenário, anti-galego, ou conflituoso, alguns do mimos que recolheu naquele verão de 48. Cansado deste braço de ferro, equacionou a hipótese de abandonar o futebol (!), pensamento somente travado pelo Real Madrid, que nesse final de temporada de 47/48 viaja até Vigo para pescar Miguel Muñoz, Alonso, e Pahiño. Consumado o divórcio com o Celta o goleador galego celebra um casamento de cinco épocas com o laureado emblema da capital, conquistado de pronto a admiração dos exigentes adeptos merengues na sequência da sua infindável garra aliada à vincada veia de concretizador nato.

Balaídos nos anos 30
Na primeira temporada equipado de blanco, o galego aponta 21 golos, ficando a somente sete do Pichichi desse ano, César, do Barcelona. Nos anos que se seguiram o seu nome figurou sempre no top 5 da lista dos melhores marcadores da 1.ª Divisão, sendo que em 51/52 alcança o título de Pichichi da Liga pela segunda vez na sua carreira, fruto dos 28 golos convertidos. Despediu-se do Real Madrid na temporada seguinte, porque Don Santiago Bernabéu, o lendário presidente do clube, não renovava por mais de um ano contrato com jogadores cujo Bilhete de Identidade apresentasse uma idade superior a 30 anos. Pahiño queria mais tempo - três anos de contrato, ao que consta - e a polémica instalou-se de novo na carreira de um jogador que se viu obrigado a procurar abrigo noutro local. Consta-se - ainda - que o Real Madrid não fez grande esforço em tentar segurar o galego, até porque tinha acabado de contratar um jovem prodígio argentino chamado... Alfredo Di Stéfano. Aquele que muitos afirmam ter sido o melhor jogador da história do clube merengue herdou a camisola número 9 do galego Pahiño, que partia de Madrid com um impressionante registo de 108 golos apontados em 122 jogos disputados, mas com a mágoa de nunca ter ganho um troféu coletivo com o colosso madrileno.

Algo frustrado, Pahiño procura abrigo na sua região natal, a Galiza, para onde regressa no verão de 1953, com o intuito de representar o... Deportivo da Corunha! Foi como um punhal cravado nas costas da afición celtista, que via uma das suas maiores lendas, um filho da terra, vestir agora a camisola do eterno inimigo do norte, o Depor. Na Corunha esteve três temporadas - sempre na 1.ª Divisão - tendo apontado perto de meia centena de golos com a camisola azul e branca. Após abandonar a Corunha ainda jogou uma temporada na 2.ª Divisão ao serviço do Granada, o tal clube que anos antes lhe havia dado cabo do perónio no Metropolitano de Madrid, mas o tempo acabou por apagar as más memórias desse momento menos feliz da carreira do homem de San Playo de Navia, o qual ajudou os granadenses a subir à divisão maior do futebol espanhol.

Posto isto: missão cumprida, e Pahiño pendurava as chuteiras com um impressionante registo de 212 golos apontados em quase 300 encontros - 295 para sermos mais precisos - disputados. Viria a falecer em Madrid, aos 89 anos, a 12 de junho de 2012, precisamente no ano em que José Ramón Cabanelas descobriu que Vigo - a cidade natal de Pahiño - foi o local onde se jogou futebol pela primeira vez em Espanha. Há coincidências fantásticas!

Rivalidade Celta vs Deportivo da Corunha

E já que neste longo registo biográfico foi mencionado o nome do Deportivo da Corunha, há que frisar que hoje, quase 100 anos após a sua fundação, o Celta tem no clube do norte da Galiza o seu eterno rival. Há inclusive uma história que conta os primeiros capítulos desta rivalidade (quase) centenária e que remonta a 1928, ano em que foi criada a 1.ª Divisão de Espanha. Pelo facto de o Vigo FC ter disputado anos antes uma final da Copa del Rey a Real Federación Española de Fútbol quis oferecer ao Celta um presente, isto é, o privilégio de fazer parte da elite do futebol espanhol nesse primeiro campeonato nacional. Porém, outros clubes da liga achavam que os azuis celestes teriam de fazer por merecer a sua presença no escalão maior, tendo o emblema de Vigo acabado por ir disputar a 2.ª Divisão. E um dos clubes que mais pressão fez para que o Celta não disputasse a Primera foi o... Deportivo da Corunha. Nascia assim a eterna rivalidade que nas décadas seguintes teve tantos outros episódios históricos. 

Celta: um clube de altos e baixos

A equipa do Celta que fez
a estreia na UEFA
Os anos 60 foram algo cinzentos para os lados da Rias Baixas, com o Celta mergulhado no segundo escalão de Espanha. Nos anos 70 a situação foi ligeiramente alterada, com o emblema viguês a disputar em algumas épocas a 1.ª Divisão. Porém, não foram criadas raízes neste escalão, e o Celta era então uma espécie de clube ió-ió, ou seja, do sobe e desce constante. No entanto, a década de 70 trouxe outro registo histórico ao emblema viguês, que em 1972 participa na Taça UEFA como prémio para um fantástico 6.º lugar na temporada de 70/71. Em setembro de 72 o Estádio de Balaídos entrou na Europa, com o Celta a receber os escoceses do Aberdeen. Os 17.000 celtistas presentes no recinto viram o seu clube pagar caro a inexperiência nas eurotaças, já que o Celta caiu por 0-2. Duas semanas mais tarde nova derrota (1-0) na Escócia e dava-se o adeus à Europa na estreia. Mas... décadas mais tarde o cenário ira mudar por completo.

Em 1994, o Celta atinge pela segunda vez na sua história a final da Copa del Rey. 20.000 adeptos celtistas deslocaram-se a Madrid para assistir ao jogo diante do Real Zaragoza, naquela que foi a maior mobilização, até então, de adeptos do clube para fora da região da Galiza. Porém, a vitória foi para os aragoneses, nas grandes penalidades, e o Celta deixava escapar novamente a taça.  

Nos finais do século XX eis que surge o Euro Celta. A equipa que encantou a Europa, vergando alguns dos gigantes do futebol continental. Com uma equipa que contava com estrelas como Mostovoi, Karpin, Mazinho, Dutruel, ou Gudelj, orientada pelo técnico Javier Irureta, o Celta afastou em 1998, na Taça UEFA, clubes como o Aston Villa e o Liverpool, acabando por cair nos quartos-de-final da prova ante o Marselha. Mas o aviso estava dado, o Celta queria apanhar o comboio da Europa.

O Celta na final da Copa de 1994
Em 2000 os vigueses vencem a Taça Intertoto, o seu único troféu oficial em quase 100 anos de vida, e voltam a entrar na UEFA. Na fase a eliminar desta competição o Celta atropelou numa das eliminatórias o famoso Benfica por 7-0 nos Balaídos, deixando depois pelo caminho a Juventus e caindo de novo nos quartos-de-final ante um clube francês, no caso o Lens. Na temporada seguinte as camisolas celestes voltam à Taça UEFA, atingindo de novo os quartos-de-final, tendo o emblema de Vigo sido eliminado pelos conterrâneos do Barcelona, após deixarem pelo caminho clubes como o Estugarda, o Estrela Vermelha ou o Shakhtar. Nesta altura o clube era orientado pelo treinador Víctor Fernández e tinha no seu plantel nomes famosos como Claude Makelele, Penev, Catanha, Gustavo López, ou Jesuli.

O Celta que atropelou o Benfica em 2000
Em 2001 surge outro amargo de boca na vida do clube. O Celta chega pela terceira vez na história a uma final da Taça de Espanha, tendo como opositor um velho conhecido nestas andanças, o Real Zaragoza. Em Sevilha, a equipa aragonesa leva de novo a melhor sobre os azuis celestes, desta feita por 3-1. As lágrimas voltaram a cair sobre os rostos celtistas, mas por pouco tempo. Em 2003/04 Vigo entra na rota da Liga dos Campeões Europeus. O 4.º lugar conquistado na temporada anterior garante ao Celta uma inédita participação na prova mais importante do futebol mundial a nível de clubes. José Manuel Pinto, Eduardo Berizzo, Sylvinho, Fernando Cáceres,  Giovanella, Gustavo López, Mostovoi, ou Milosevic, eram alguns dos nomes que passearam a camisola celeste na liga milionária. O Celta começou a fase de grupos com um empate no terreno do Club Brugge, onde Juanfran foi herói e vilão, ao marcar pelas duas equipas. Seguiu-se outro empate, desta feita a zero, em casa, frente ao Milan e uma derrota em Amesterdão por 1-0, com o Ajax. Na segunda volta o Celta conquista a primeira vitória na prova ao vencer os holandeses por 3-2 em Vigo. Depois disso, novo jogo em casa e novo empate com o Club Brugge, de novo por 1-1. Chegados à derradeira jornada o  Celta precisava de vencer o já qualificado Milan. E num dos palcos mais famosos do futebol mundial, San Siro, o Celta venceu por 2-1 e qualificou-se para a fase a eliminar da prova. Nos oitavos-de-final, o sonho azul celeste foi desfeito pelo Arsenal, que com duas vitórias eliminou os galegos por um total de 5-2.

Após algumas passagens pelo inferno da 2.ª Divisão eis que a partir de 2012 o Celta fixou-se, até aos dias atuais, na elite do futebol espanhol, tendo de lá para cá tido algumas aparições brilhantes, como foi o caso da campanha europeia de 2016/17, em que o clube só caiu aos pés do Manchester United, de José Mourinho, nas meias-finais da Liga Europa. Hoje, o Celta é mais do que o tal clube que um dia o jornalista Manuel de Castro sonhou: um clube da cidade. O Celta é hoje uma das principais bandeiras desportivas da Galiza, e um dos mais populares e acarinhados emblemas de Espanha.

Balaídos, a mítica catedral onde começou a caminhada gloriosa da Itália no Mundial de 1982

O mítico Estádio Balaídos
Como já vimos, o Campo de Coya foi a primeira grande catedral futebolística de Vigo.

Porém, um ano após a sua fundação o clube é notificado para abandonar o terreno, com vista à construção da linha de elétrico naquela zona da cidade. É então que se começa a idealizar o projeto de construção do que viria a ser o Estádio de Balaídos, a mítica casa do Celta. O estádio começa a ser construído em 1925, e seria destinado a 20.000 espectadores. A sua conclusão estava prevista para o ano seguinte, mas contratempos na empreitada fizeram com que só em dezembro de 1928 o recinto abrisse oficialmente as suas portas. 30 de dezembro desse ano foi pois um dia de festa na cidade de Vigo. Pessoas de várias localidades vizinhas como Gondomar, Baiona ,ou Cangas acorreram ao local para presenciar a inauguração, abrilhantada por uma goleada (7-0) do Celta ao Real Unión Irún. De lá para cá Balaídos tornou-se no santuário do celtismo, vivendo muitas alegrias e muitas tristezas também, mas sempre com a paixão azul celeste a transbordar nas suas bancadas. Com o passar dos anos este estádio tornou-se num dos símbolos do futebol espanhol, não só pela paixão com que ali se vive os jogos, mas de igual modo porque fez parte, ou faz, dos poucos recintos que hoje guarda a história do único Campeonato do Mundo da FIFA realizado em solo espanhol, no ano de 1982.

Foi em Vigo, e nos Balaídos, que a Itália começou a caminhar rumo ao título mundial nesse ano de 82, um início que até não foi muito prometedor para a Squadra Azzurra.

Itália - Perú, do Mundial de 82,
jogado no Balaídos
A Itália, então orientada por Enzo Bearzot, e que estava recheada de craques como Dino Zoff, Claudio Gentile, Marco Tardelli, Bruno Conti, ou Paolo Rossi, disputou todos os seus jogos da 1.ª fase desse Mundial em Vigo, uma das 14 cidades espanholas que acolheu a prova. Previa-se que os italianos não tivessem grandes dificuldades para ultrapassar um grupo composto por Polónia, Perú e os estreantes e então desconhecidos Camarões. Porém, a realidade foi outra. No primeiro encontro, ante a Polónia de Boniek, empate a zero. Tudo bem, nada de alarmes, até por os adversários seguintes eram na teoria mais acessíveis. Com o Perú, Bruno Conti marcou primeiro, mas Rúben Díaz empatou e a Itália estava em maus lençóis. A última partida era com os Camarões, que na frente tinham um até então desconhecido Roger Milla. À mesma hora jogava-se o Polónia-Perú, na Corunha. No início da segunda parte deste encontro os polacos marcaram quase cinco golos de rajada, enquanto a Itália voltava a empatar, e de novo a um golo. Graziani e M’Bida fizeram os golos. A Itália só passou o grupo porque marcou mais um golo do que os Camarões, que também haviam tido três empates, sendo que a Polónia acabou em primeiro do grupo. A Itália despedia-se de Vigo com um futebol medíocre, sem um antídoto para chegar às vitórias, e muitos pensavam então que aquela equipa pouco iria durar no Mundial espanhol a jogar daquela maneira. Puro engano. Tudo mudou na 2.ª fase, graças a um tal de Paolo Rossi que comandou a Azzurra rumo ao título conquistado em Madrid. Ah, e pelo caminho deixou aquela que muitos dizem ter sido uma das melhores seleções brasileiras de todos os tempos.

O futuro Estádio de Balaídos

Balaídos poderá ter sido uma pedra no sapato a Itália, ou então um alarme que o acordou a seleção de Enzo Bearzot, mas acima de tudo é um estádio que mítico, que já vivenciou grandes tardes e noites (muitas delas europeias) do Celta. Hoje, o recinto está em profunda remodelação, e dará lugar a um novo Balaídos, mas sempre com a ideia de continuar a fazer de Vigo uma... cidade de futebol.

quinta-feira, junho 12, 2014

Estrelas cintilantes (38)... Pahiño - O príncipe das Rias Baixas que ofereceu o trono merengue a Di Stéfano

Pahiño, com a camisola
do emblema da sua terra natal,
o Celta de Vigo
Vigo... a beleza dos seus traços naturais aliada ao seu posicionamento geográfico, conferem-lhe um imponente destaque no idílico cenário das Rias Baixas galegas. Berço do principal porto pesqueiro da Europa, a cidade mais populosa da Galiza - com cerca de 300 milhões de habitantes - é além de tudo o mais importante centro comercial e económico da região. Vigo assume contornos de maior encanto quando enquadrada no cenário futebolístico. Ali, o Celta arrebata os corações viguenses e... não só. O emblema fundado em 1923 - resultante da fusão entre o Real Vigo Sporting e o Fortuna de Vigo - desperta paixões em toda a Galiza, lutando - no patamar da eternidade, assim estamos em crer - pelo título de clube mais popular da região com o eterno rival do norte, o Deportivo da Corunha. Apesar de a ascensão do Celta aos grandes palcos do futebol europeu - vulgo, as eurotaças - se ter dado num passado muito recente, estando ainda bem fresca na memória de muitos as épicas noites de Balaídos - a mítica casa dos celtistas - onde Golias como o Liverpool, a Juventus, o Milan, ou o Benfica - lembram-se dos 7-0??? - caíram aos pés do pequeno David das Rias Baixas, as primeiras páginas douradas do nobre representante de Vigo foram escritas ainda na primeira metade do século passado, pela pena da estrela mais cintilante do futebol galego, Manuel Fernández Fernández, ou simplesmente Pahiño, a alcunha - desconhece-se a sua origem! - que o tornou célebre no Olimpo do Belo Jogo. A sua louca obsessão pelo golo fez com que Pahiño seja ainda hoje recordado como um dos mais prolíferos avançados da história do futebol espanhol. Dos seus (bons) pés - sobretudo - foram disparadas autênticas balas de canhão que destruíram as balizas contrárias vezes sem conta. Ah, noutras ocasiões a meta adversária era igualmente fuzilada com letais cabeceamentos, já que além de dois bons pés Pahiño era também senhor de um bom jogo de cabeça. Talento(s) descobertos nas areias das praias viguenses, onde Manuel Fernández Fernández esquecia - por certo - a vida dura do campo (agricultura), lides às quais desde muito novo se habituara com o objetivo de ajudar no sustento da sua família.

Pahiño conforta um jogador do Espanyol
depois de ajudar a eliminar os catalães
na meia-final da Copa Generalíssimo de 47/48
Nas praias de Vigo estão pois guardadas as primeiras histórias de intimidade entre Pahiño e a bola, uma relação que se assumiu - de forma mais séria - em Arenas de Alcabre, o primeiro emblema a ser oficialmente representado pelo niño nascido a 21 de janeiro de 1923, em San Playo de Navia, nos arredores de Vigo. Estávamos ainda um pouco longe do casamento entre Pahiño e o Celta, mas não deixa de ser curioso que o jogador e o clube tivessem vindo ao Mundo no mesmo ano! Obra do acaso? Se calhar não...
De Arenas de Alcabre para o Juventudes de Vigo - o seu segundo clube - o caminho foi curto, já que o poder de fogo de Pahiño começava a ter eco por toda a Galiza. Apercebendo-se que mesmo por debaixo do seu nariz deambulava um talento na arte de bombardear o esférico para as balizas contrárias, eis que em 1943 o Celta de Vigo não mede esforços para contratar aquela que viria a ser a joia da (sua) coroa nos cinco anos que se seguiram. O fichaje do poderoso avançado não foi contudo um parto fácil, longe disso. Na corrida pelo concurso do nativo de San Playo de Navias estava também o Salamanca, emblema que na altura tentava entrar na elite do futebol espanhol, o mesmo será dizer, ascender à Primeira Divisão. No entanto, os helmánticos foram vencidos pelo coração! Pelo coração celtista que pulsava dentro do jovem Pahiño, que ainda criança, pela mão do seu pai, travou-se de amores pelas camisolas azul celeste que aos domingos à tarde reluziam no relvado de Balaídos. Nessa época estaria ainda distante de imaginar que também ele um dia iria brilhar com a indumentária celtista nos retângulos mágicos do futebol espanhol, ajudando a edificar - em seu redor - uma das equipas mais lendárias da história do clube de Vigo, que durante uma mão cheia - pelo menos - de temporadas assombrou os gigantes do belo jogo castelhano.

Fase do jogo decisivo entre o Celta e o Granada,
realizado no Metropolitano de Madrid
Estávamos em 1943 quando Pahiño - com 19 anos - chegou a Balaídos. No entanto, e apesar da monstruosidade do seu poder de fogo, o Celta não foi feliz na temporada de 1943/44, foi último de uma Liga vencida por um Valência onde se destacava o goleador Mundo, e acabou por descer aos infernos da Segunda Divisão. Passagem pelo inferno que seria fugaz, já que na época seguinte a garra de Pahiño aliada ao seu instinto de predador catapultou o Celta de novo para o convívio entre os grandes do futebol espanhol. Episódio lendário que ressalva do trajeto glorioso do Celta em 44/45 prende-se com o jogo final que dava acesso à promoção. Frente a frente mediram forças no (Estádio) Metropolitano de Madrid o Celta e o Granada, e quem vencesse ganhava o bilhete para a Primeira. Pahiño, titular indiscutível dos celtistas desde que havia chegado a Balaídos, foi a estrela da tarde. No relvado do mítico recinto da capital fez jus ao seu estatuto de temível homem de área, fazendo dois golos durante a primeira parte. Performance que faria com que os defensores contrários lhe dedicassem atenções... suplementares. Alvo de uma entrada violenta de Milán González o goleador celtista fraturou o perónio, facto insuficiente para que deixasse de... continuar em campo na etapa complementar e ajudasse o Celta a vencer por 4-1.

Ricardo Zamora, em Vigo,
na qualidade de treinador
De volta à Primeira Divisão, o Celta viveu nas três temporadas seguintes alguns dos capítulos mais cintilantes da sua história. Sempre... aos ombros daquela que era já a sua maior estrela, Pahiño. Nos palcos da Primeira o goleador galego foi pedra fundamental para que os celestes se firmassem como uma das equipas mais encantadoras da liga, e sobretudo num osso duro de roer para emblemas de maior dimensão. Que o diga o poderoso Real Madrid, que em 45/46 tombou em Balaídos por concludentes 3-0, ou o campeão dessa temporada, o Sevilha, que nas Rias Baixas afundou-se depois de ter levado quatro (a zero)! Foi igualmente durante o regresso do Celta ao convívio entre os grandes que nasceu uma rivalidade protagonizada entre dois mitos da história do futebol espanhol na arte de fuzilar as redes contrárias. Pahiño, claro está, e Telmo Zarra, o herói basco do Athletic de Bilbao que ainda hoje detém o título de melhor marcador de sempre da Primeira Divisão espanhola, com 252 remates certeiros. Zarra, como iremos perceber nas próximas linhas, foi quiçá o grande obstáculo que Pahiño encontrou ao longo da sua carreira para conquistar um lugar de destaque no... Olimpo do futebol global. Em 45/46 o celtista apontou 15 golos, menos nove que Zarra, que desta forma levava para a sua vitrina pessoal o troféu Pichichi, galardão que distingue o melhor marcador do campeonato espanhol. E se Pahiño e Zarra lutavam entre si por um lugar na eternidade do belo jogo, na época seguinte Vigo acolhe de braços abertos um homem que há muito repousava no panteão do desporto rei planetário. O seu nome? Ricardo Zamora. Il Divino, como ficou imortalizado na história do jogo, era agora treinador, e depois de ter passado pelos bancos do Nice (França) e do Atlético Aviación (nome pelo qual na época era conhecido o atual Atlético de Madrid) assentava arraiais nas Rias Baixas, onde iria construir uma equipa lendária.
A lendária equipa do Celta de Vigo que subiu ao relvado do Metropolitano de Madrid
para jogar a final da Copa del Generalíssimo de 1948
E se a primeira temporada (46/47) de Zamora em Vigo não foi por ai além, já que o Celta não conseguiu melhor do que um 9º lugar, a segunda foi a todos os títulos memorável. Para o Celta e para... Pahiño. A nível coletivo os celtistas alcançariam um inédito quarto posto, ficando a somente seis pontos do campeão Barcelona, na sequência de uma coleção de resultados absolutamente brilhantes. Vejamos: De Balaídos saíram humilhados o campeão Barcelona (3-2), o vice- campeão Valência (5-2), o Atlético de Madrid (3-1), e o Real Madrid (4-1). Aliás, os merengues iriam sofrer nessa mítica época uma dupla humilhação aos pés dos pupilos de Zamora, visto que na capital a dose (4-1) repetiu-se a favor dos galegos. Mas a epopeia galega não se ficou por aqui. Na Copa del Generalíssimo - atualmente denominada como Copa del Rey - o Celta alcançou a final, onde seria travado pelo Sevilla (4-1) no Metropolitano de Madrid, o mesmo recinto onde poucos anos antes Pahiño e o Celta haviam sido tão felizes.
Apesar da derrota, o Celta foi rotulada como a equipa sensação dessa temporada, muito graças ao cunho pessoal da sua estrela-mor, Pahiño, que com 23 golos venceu o seu primeiro Troféu Pichichi.
A veia goleadora de Pahiño era por demais saliente, e nesse ano de 1948 atinge a sua primeira internacionalização, ao representar a Espanha num amigável ante a Suíça, ocorrido em Zurique.

Com a camisola do Real Madrid
A brilhante caminhada celtista chamou à atenção dos tubarões do futebol espanhol, que centravam os seus olhares devoradores em nomes como Miguel Muñoz, Alonso, e claro, Pahiño, as estrelas daquele Celta. Sabendo que o seu talento era por demais admirado por clubes de maior envergadura o internacional galego exigiu à direção azul celeste um aumento de salário, argumentando que era não só um dos grandes abonos de família da equipa, como também que outros colegas seus que raramente pisavam o relvado - na condição de titulares - usufruíam de salários muito mais elevados do que o seu. A ação de Pahiño foi desde logo apelidada de anti-celtista, e o jogador é de pronto olhado por dirigentes, (alguns) companheiros, e muitos adeptos, como mercenário, anti-galego, ou conflituoso, alguns do mimos que recolheu naquele verão de 48. Cansado deste braço de ferro, equacionou a hipótese de abandonar o futebol (!), pensamento somente travado pelo Real Madrid, que nesse final de temporada de 47/48 viaja até Vigo para pescar Miguel Muñoz, Alonso, e Pahiño. Consumado o divórcio com o Celta o goleador galego celebram casamento de cinco épocas com o laureado emblema da capital, conquistado de pronto a admiração dos exigentes adeptos merengues na sequência da sua infindável garra aliada à vincada veia de concretizador nato. Na primeira temporada equipado de blanco, o galego aponta 21 golos, ficando a somente sete do Pichichi desse ano, César, do Barcelona. Nos anos que se seguiram o seu nome figurou sempre no top 5 da lista dos melhores marcadores da Primeira Divisão, sendo que em 51/52 alcança o título de Pichichi da Liga pela segunda vez na sua carreira, fruto dos 28 golos convertidos. Despediu-se do Real Madrid na temporada seguinte, porque Don Santiago Bernabéu, o lendário presidente do clube, não renovava por mais de um ano contrato com jogadores cujo Bilhete de Identidade apresentasse uma idade superior a 30 anos. Pahiño queria mais tempo - três anos de contrato, ao que consta - e a polémica instalou-se de novo na carreira de um jogador que se viu obrigado a procurar abrigo noutro local. Consta-se - ainda - que o Real Madrid não fez grande esforço em tentar segurar o galego, até porque tinha acabado de contratar um jovem prodígio argentino chamado... Alfredo Di Stéfano. Aquele que muitos afirmam ter sido o melhor jogador da história do clube merengue herdou a camisola número 9 do galego Pahiño, que partia de Madrid com um impressionante registo de 108 golos apontados em 122 jogos disputados, mas com a mágoa de nunca ter ganho um troféu coletivo com o colosso madrileno.

Pahiño festeja um golo com a camisola do Depor
Algo frustrado, Pahiño procura abrigo na sua região natal, a Galiza, para onde regressa no verão de 1953, com o intuito de representar o... Deportivo da Corunha! Foi como um punhal cravado nas costas da afición celtista, que via uma das suas maiores lendas, um filho da terra, vestir agora a camisola do eterno inimigo do norte, o Depor. Na Corunha esteve três temporadas - sempre na Primeira Divisão - tendo apontado perto de meia centena de golos com a camisola azul e branca. Dois deles tiveram um sabor muito especial. Em 1955/56 o Depor visita Chamartín, a casa do Real Madrid, tendo ai alcançado a sua primeira vitória de sempre na capital, na sequência de um resultado de 2-1... com dois golos de Pahiño. Estava consumada a vingança. Após abandonar a Corunha ainda jogou uma temporada na Segunda Divisão ao serviço do Granada, o tal clube que anos antes lhe havia dado cabo do perónio no Metropolitano de Madrid, mas o tempo acabou por apagar as más memórias desse momento menos feliz da carreira do homem de San Playo de Navia, o qual ajudou os granadenses a subir à divisão maior do futebol espanhol. Posto isto: missão cumprida, e Pahiño pendurava as chuteiras com um impressionante registo de 212 golos apontados em quase 300 encontros - 295 para sermos mais precisos - disputados.

Pahiño, numa das suas curtas
aparições com a camisola da seleção
Face a este cartão de visita uma pergunta impõe-se: E a seleção, porque não aproveitou o faro pelo golo que Pahiño sempre patenteou mais do que cinco ocasiões (?) - as vezes que o jogador vestiu a camisola da Roja em partidas de caráter particular. A resposta é simples. Aliás, a dupla resposta. Em primeiro lugar porque o número 9 da seleção era propriedade quase exclusiva do basco Zarra, e em segundo porque o galego era uma figura incómoda para o regime franquista! Passamos a explicar. Pahiño era um devorador de livros de Tolstoi, ou Dostoyevski, autores mal amados na Espanha dominada pelo ditador Franco. As influências destes autores na personalidade do galego eram evidentes, sendo que a sua (diferente?) forma de pensar, de ver o Mundo que o rodeava, ter-lhe-á causado inúmeros dissabores ao longo da carreira, o mais duro deles todos quiçá o facto de poucas vezes ter sido chamado à seleção do seu país, já que os dirigentes da federação não iam muito à bola com o... goleador comunista, como era então conhecido Pahiño nos meandros do futebol espanhol. Não fosse isso - e claro está, Zarra - e talvez o galego tivesse sido uma das grandes figuras do Mundial de 1950, onde a seleção de Espanha tão boa conta deu de si. Mas... «gozei do pior dos amores: o amor próprio», disse um dia Pahiño quando resumiu a sua (curta) carreira internacional. Viria a falecer em Madrid, aos 89 anos, a 12 de junho de 2012.

sábado, abril 09, 2011

Lista de Campeões... Espanha




CAMPEÕES NACIONAIS

2025: Barcelona
2024: Real Madrid
2023: Barcelona
2022: Real Madrid
2021: Atlético Madrid 
2020: Real Madrid
2019: Barcelona
2018 Barcelona
2017 Real Madrid

2016 Barcelona
2015 Barcelona
2014 Atlético Madrid
 2013 Barcelona
2012 Real Madrid
2011 Barcelona2010 Barcelona2009 Barcelona2008 Real Madrid2007 Real Madrid2006 Barcelona2005 Barcelona2004 Valencia2003 Real Madrid
2002 Valencia2001 Real Madrid2000 Deportivo La Coruña1999 Barcelona1998 Barcelona1997 Real Madrid1996 Atlético Madrid1995 Real Madrid1994 Barcelona1993 Barcelona1992 Barcelona1991 Barcelona1990 Real Madrid1989 Real Madrid1988 Real Madrid1987 Real Madrid1986 Real Madrid1985 Barcelona1984 Athletic Bilbao1983 Athletic Bilbao1982 Real Sociedad1981 Real Sociedad1980 Real Madrid1979 Real Madrid1978 Real Madrid
1977 Atlético Madrid1976 Real Madrid1975 Real Madrid
1974 Barcelona1973 Atlético Madrid1972 Real Madrid
1971 Valencia1970 Atlético Madrid1969 Real Madrid1968 Real Madrid 1967 Real Madrid1966 Atlético Madrid1965 Real Madrid1964 Real Madrid1963 Real Madrid1962 Real Madrid1961 Real Madrid1960 Barcelona1959 Barcelona1958 Real Madrid1957 Real Madrid1956 Athletic Bilbao1955 Real Madrid1954 Real Madrid1953 Barcelona1952 Barcelona
1951 Atlético Madrid
1950 Atlético Madrid1949 Barcelona1948 Barcelona
1947 Valencia1946 Sevilla1945 Barcelona1944 Valencia
1943 Athletic Bilbao1942 Valencia1941 Atlético Madrid
1940 Atlético Madrid

1937 a 1939 Não houve competição
1936 Athletic Bilbao1935 Real Betis1934 Athletic Bilbao1933 Real Madrid1932 Real Madrid
1931 Athletic Bilbao
1930 Athletic Bilbao1929 Barcelona

TAÇA DE ESPANHA



2025: Barcelona 
2024: Athletic Bilbao
2023: Real Madrid 
2022: Real Bétis
2021: Barcelona
2020: Real Sociedad
2019: Valencia
2018: Barcelona
2017: Barcelona
2016: Barcelona
2015: Barcelona
2014: Real Madrid
2013: Atlético Madrid
2012 Barcelona
2011 Real Madrid2010 Sevilla2009 Barcelona2008 Valencia2007 Sevilla2006 Espanyol2005 Real Bétis2004 Real Zaragoza2003 Real Mallorca
2002 Deportivo La Coruña2001 Real Zaragoza2000 Espanyol1999:Valencia1998 Barcelona1997 Barcelona1996 Atlético Madrid
1995 Deportivo La Coruña1994 Real Zaragoza1993 Real Madrid1992 Atlético Madrid
1991 Atlético Madrid1990 Barcelona
1989 Real Madrid1988 Barcelona1987 Real Sociedad1986 Real Zaragoza
1985 Atlético Madrid1984 Athletic Bilbao1983 Barcelona1982 Real Madrid1981 Barcelona1980 Real Madrid
 1979 Valencia1978 Barcelona1977 Real Bétis
1976 Atlético Madrid1975 Real Madrid1974 Real Madrid1973 Athletic Bilbao
1972 Atlético Madrid
1971 Barcelona1970 Real Madrid
1969 Athletic Bilbao
1968 Barcelona
1967 Valencia
1966 Real Zaragoza
1965 Atlético Madrid1964 Real Zaragoza
1963 Barcelona1962 Real Madrid
1961 Atlético Madrid
1960 Atlético Madrid1959 Barcelona
1958 Athletic Bilbao
1957 Barcelona1956 Athletic Bilbao1955 Athletic Bilbao
1954 Valencia
1953 Barcelona1952 Barcelona1951 Barcelona
1950 Athletic Bilbao1949 Valencia
1948 Sevilla1947 Real Madrid1946 Real Madrid
1945 Athletic Bilbao
 1944 Athletic Bilbao
1943 Athletic Bilbao1942 Barcelona1941 Valencia1940 Españyol
1939 Sevilla

1938 não houve competição

1937 não houve competição1936 Real Madrid
1935 Sevilla1934 Real Madrid
1933 Athletic Bilbao1932 Athletic Bilbao1931 Athletic Bilbao
1930 Athletic Bilbao1929 Españyol
1928 Barcelona

1927 Real Unión1926 Barcelona1925 Barcelona1924 Real Unión1923 Athletic Bilbao1922 Barcelona
1921 Athletic Bilbao
1920 Barcelona
1919 Arenas de Guecho

1918 Real Unión1917 Real Madrid
1916 Athletic Bilbao1915 Athletic Bilbao
1914 Athletic Bilbao

1913 Racing Irún*

1913 Barcelona*
1912 Barcelona1911 Athletic Bilbao 1910 Barcelona*
1910 Athletic Bilbao*1909 Ciclista (San Sebastián)
1908 Real Madrid
1907 Real Madrid 1906 Real Madrid 1905 Real Madrid

1904 Athletic Bilbao1903 Athletic Bilbao1902 Vizcaya (Bilbao)

*Foram jogadas duas competições

SUPERTAÇA DE ESPANHA

2025: Barcelona
2024: Barcelona
2023: Real Madrid
2022: Barcelona
2021 Real Madrid
2020 Athletic Bilbao
2019 Real Madrid
2018 Barcelona
2017 Real Madrid
2016 Barcelona
2015 Athletic Bilbao
2014 Atlético Madrid
2013 Barcelona
2012 Real Madrid
2011 Barcelona
2010 Barcelona
2009 Barcelona
2008 Real Madrid
2007 Sevilla
2006 Barcelona
2005 Barcelona
2004 Real Zaragoza
2003 Real Madrid
2002 Deportivo La Coruña
2001 Real Madrid
2000 Deportivo La Coruña
1999 Valencia
1998 Real Mallorca
1997 Real Madrid
1996 Barcelona
1995 Deportivo La Coruña
1994 Barcelona
1993 Real Madrid
1992 Barcelona
1991 Barcelona
1990 Real Madrid

1989 Real Madrid
1988 Real Madrid

De 1986 a 1987 não se disputou
1985 Atlético Madrid
1984 Athletic Bilbao
1983 Barcelona
1982 Real Sociedad
 (GOLDEN BOOT)
MELHORES MARCADORES DO CAMPEONATO ESPANHOL 

2025: Kylian Mbappé (Real Madrid/31 golos)
2024: Artem Dovbyk (Girona/24 golos)
2023: Robert Lewandowski (Barcelona/23 golos)
2022: Karim Benzema (Real Madrid/27 golos)
2021: Lionel Messi (Barcelona/30 golos)
2020: Lionel Messi (Barcelona/25 golos)
2019: Lionel Messi (Barcelona/36 golos)
2018 Lionel Messi (Barcelona/34 golos)
2017 Lionel Messi (Barcelona/37 golos)
2016 Luis Suárez (Barcelona/40 golos)
2015 Cristiano Ronaldo (Real Madrid/48 golos)
2014 Cristiano Ronaldo (Real Madrid/31 golos)
2013 Lionel Messi (Barcelona/46 golos)
2012 Lionel Messi (Barcelona/50 golos)
2011 Cristiano Ronaldo (Real Madrid/41 golos)
2010 Lionel Messi (Barcelona/34 golos)
2009 Diego Forlán (Atletico Madrid/32 golos)
2008 Guiza (Mallorca/27 golos)
2007 Ruud Van Nistelrooy (Real Madrid/25 golos)
2006 Samuel Eto'o (Barcelona/27 golos)
2005 Diego Forlán (Villarreal/25 golos)
2004 Ronaldo (Real Madrid/24 golos)
2003 Roy Makaay (Deportivo/29 golos)
2002 Diego Tristán (Deportivo/20 golos)
2001 Raúl (Real Madrid/24 golos)
2000 Salva (Racing Santander/27 golos)
1999 Raúl (Real Madrid/25 golos)
1998 Christian Vieri (Atletico Madrid/24 golos)
1997 Ronaldo (Barcelona/34 golos)
1996 Juan Antonio Pizzi (Tenerife/31 golos)
1995 Ivan Zamorano (Real Madrid/28 golos)
1994 Romário (Barcelona/30 golos)
1993 Bebeto (Deportivo/29 golos)
1992 Manolo (Atletico Madrid/27 golos)
1991 Butragueño (Real Madrid/19 golos)
1990 Hugo Sánchez (Real Madrid/38 golos)
1989 Baltazar (Atletico Madrid/35 golos)
1988 Hugo Sánchez (Real Madrid/29 golos)
1987 Hugo Sánchez (Real Madrid/34 golos)
1986 Hugo Sánchez (Real Madrid/22 golos)
1985 Hugo Sánchez (Atletico Madrid/19 golos)
1984 Jorge da Silva (Valladolid/17 golos) / Juanito (Real Madrid/17 golos)
1983 Poli Rincón (Betis/20 golos)
1982 Quini (Barcelona/27 golos)
1981 Quini (Barcelona/20 golos)
1980 Quini (Sporting Gijón/24 golos)
1979 Hans Krankl (Barcelona/29 golos)
1978 Mario Kempes (Valencia/28 golos)
1977 Mario Kempes (Valencia/24 golos)
1976 Quini (Sporting Gijón/21 golos)
1975 Carlos Ruiz (Athletic Bilbao/19 golos)
1974 Quini (Sporting Gijón/20 golos)
1973 Marianin (Real Oviedo/19 golos)
1972 Enrique Porta (Granada/20 golos)
1971 José Gárate (Atletico Madrid/17 golos) / Carles Rexach (Barcelona/17 golos)
1970 José Gárate (Atletico Madrid/16 golos) / Amaro Amancio (Real Madrid/16 golos) / Luis Aragonés (Atletico Madrid/16 golos)
1969 José Gárate (Atletico Madrid/14 golos) / Amaro Amancio (Real Madrid/14 golos)
1968 Uriarte (Athletic Bilbao/22 golos)
1967 Waldo (Valencia/24 golos)
1966 Vavá (Elche/18 golos) Luis Aragonés (Atletico Madrid/18 golos)
1965 Cayetano Ré (Barcelona/26 golos)
1964 Ferenc Puskas (Real Madrid/21 golos)
1963 Ferenc Puskas (Real Madrid/21 golos)
1962 Juan Seminario (Real Zaragoza/25 golos)
1961 Ferenc Puskas (Real Madrid/28 golos)
1960 Ferenc Puskas (Real Madrid/25 golos)
1959 Alfredo Di Stefano (Real Madrid/23 golos)
1958 Alfredo Di Stefano (Real Madrid/19 golos) / Ricardo Alós (Valencia/19 golos/sem foto) / Badenes (Valladolid/19 golos)
1957 Alfredo Di Stefano (Real Madrid/31 golos)
1956 Alfredo Di Stefano (Real Madrid/24 golos) / Mauro (Celta Vigo/24 golos)
1955 Arza (Sevilla/29 golos)
1954 Alfredo Di Stefano (Real Madrid/27 golos)
1953 Zarra (Athletic Bilbao/24 golos)
1952 Pahiño (Real Madrid/28 golos)
1951 Zarra (Athletic Bilbao/38 golos)
1950 Zarra (Athletic Bilbao/24 golos)
1949 César (Barcelona/28 golos)
1948 Pahiño (Celta Vigo/20 golos) / Peralta (Gimnàstic/20 golos)
1947 Zarra (Athletic Bilbao/33 golos)
1946 Zarra (Athletic Bilbao/24 golos)
1945 Zarra (Athletic Bilbao/20 golos)
1944 Mundo (Valencia/28 golos)
1943 Mariano Martín Alonso (Barcelona/30 golos)
1942 Mundo (Valencia/27 golos)
1941 Pruden (Atletico Madrid/33 golos)
1940 Victor Unamuno (Athletic Bilbao/20 golos)

Entre 1937 e 1939 não houve competição
1936 Lángara (Real Oviedo/28 golos)
1935 Lángara (Real Oviedo/27 golos)
1934 Lángara (Real Oviedo/26 golos)
1933 Olivares (Real Madrid/16 golos)
1932 Bata (Athletic Bilbao/13 golos)
1931 Bata (Athletic Bilbao/27 golos)
1930 Guillermo Gorostiza (Athletic Bilbao/20 golos)
1929 Francisco Bienzobas (Real Sociedad/17 golos)

Campeões da Liga Nacional de Fútbol Sala (Futsal)

2023: Barcelona
2022: Barcelona
2021: Barcelona
2020: Inter Movistar
2019: Barcelona
2018: Inter Movistar
2017: Inter Movistar
2016: Inter Movistar
2015: Inter Movistar
2014: Inter Movistar
2013: Barcelona
2012: Barcelona
2011: Barcelona
2010: El Pozo Murcia
2009: El Pozo Murcia
2008: Interviú Fadesa (atualmente denominado de Inter Movistar)
2007: El Pozo Murcia
2006: El Pozo Murcia
2005: Boomerang Interviú (atualmente denominado de Inter Movistar)

2004: Boomerang Interviú (atualmente denominado de Inter Movistar)
2003: Boomerang Interviú (atualmente denominado de Inter Movistar)

2002: Antena 3 Boomerang (atualmente denominado de Inter Movistar)
2001: Playas de Castellón

2000: Playas de Castellón
1999: Caja Segovia
1998: El Pozo Murcia

1997: CLM Talavera
1996: Interviú Boomerang (atualmente denominado de Inter Movistar)

1995: Pinturas Lepanto Zaragoza
1994: Maspalomas Sol de Europa

1993: Marsanz Torrejón

1992: Caja Toledo

1991: Interviú Lloyd's (atualmente denominado de Inter Movistar)
1990: Interviú Lloyd's (atualmente denominado de Inter Movistar)

Campeões da Liga Espanhola de Futebol de Praia

2024: Empie Málaga Fútbol Playa
2023: Recreativo de Huelva
2022: Levante
2021: Melistar

2020: Nota: não se disputou devido à pandemia de Covid-19

2019: Levante
2018: Levante
2017: Melistar 
2016: Cádiz CF Sotelo
2015: CN Almería

2014: CD Murcia

2013: Cádiz CF Sotelo

2012: Nàstic