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quinta-feira, março 17, 2022

Histórias do Futebol em Portugal (34)... A estreia do Salgueiros na alta roda do futebol nacional

A equipa do Salgueiros que se estreou 
na 1.ª Divisão em 43/44
Com 110 anos de história, o Sport Comércio e Salgueiros procura hoje regressar a um lugar que por direito é seu: o patamar mais alto do futebol nacional, isto é, a 1.ª Liga. Com 24 presenças entre a elite do futebol luso, o clube portuense encontra-se entre os 20 primeiros do ranking de clubes com mais participações no escalão maior de Portugal.

A velha Europa procurava ainda sair do conflito bélico de proporções catastróficas que constituiu a 2.ª Guerra Mundial (1939-1945) quando o popular Salgueiral subiu pela primeira vez ao palco principal do futebol português. Facto ocorrido na temporada de 1943/44, altura que se jogou a 10,ª edição do Campeonato Nacional da 1.ª Divisão, e onde o Sporting - que ainda só tinha três dos seus Cinco Violinos - procurava destronar o Benfica de Guilherme Espírito Santo e de Julinho do trono do desporto rei nacional, e em que o FC Porto de Pinga e Correia Dias procurava sob a batuta do húngaro Lippo Hertzka, ex-treinador de Benfica e Real Madrid, recuperar um título que lhe fugia há três anos para os rivais da capital. Mas havia outros emblemas históricos que procuravam um lugar ao sol neste Nacional de 43/44, casos do Belenenses, da Académica, do Olhanense, do Atlético, ou dos dois Vitórias (o de Guimarães e o de Setúbal). E no meio da nata do futebol lusitano surgia um caloiro, o Salgueiros, emblema que surpreendeu o país futebolístico ao classificar-se em 2.º lugar no Campeonato Regional do Porto dessa temporada - e que antecedia o Nacional da 1.ª Divisão -, atrás do FC Porto, clube que dominava o futebol nortenho de então, mas à frente de clubes que haviam já pisado o palco do escalão maior de Portugal, casos do Leixões, do Académico do Porto, do Boavista e do próprio Leça.

Eng. Vidal Pinheiro
A boa campanha efetuada no Regional portuense trazia otimismo às hostes salgueiristas na antecâmara da 1.ª Divisão Nacional, conforme é possível comprovar numa entrevista concedida pelo então dirigente encarnado Vidal Pinheiro à revista "Stadium" - publicação que nos ajuda a escrever esta efeméride em torno da estreia do Salgueiros no escalão maior e cujas imagens ajudam a ilustrar esta viagem ao passado. Nessa conversa conduzida pelo jornalista Mário Afonso, o histórico Engenheiro Vidal Pinheiro, então presidente da chamada Comissão de Melhoramentos do clube, afirmava que o Salgueiros estava na 1.ª Divisão Nacional por mérito próprio, e não porque devesse essa subida a favores de qualquer espécie. «Depois do F. C. do Porto, o Salgueiros foi o clube mais regular. As suas únicas derrotas foram infligidas pelo campeão; os restantes vencemo-los com resultados mais ao menos volumosos», dizia o dirigente.  Quando questionado mais adiante sobre as possibilidades do clube nesta participação então inédita na 1.ª Divisão, o Eng. Vidal Pinheiro respondia que «haverá, certamente. um certo "tatear" nos primeiros jogos, mas, depois, haveremos de fazer algo de jeito. Boa posição na escalão (tabela)? Não sei.... tudo depende. Mas o que lhe posso afirmar é que nem deixaremos mal colocado o nosso nome e o brio da cidade que representamos de parceria com o F. C. do Porto, nem seremos um "mau amigo" do nosso campeão», vaticinava.

Questionado ainda se havia boa disposição no plantel, Vidal Pinheiro era perentório em dizer que ânimo, coragem e fé não faltava num grupo em que ele confiava em pleno para uma boa campanha. Quanto a moral, resistência.... «Sim, devem tê-la em grau superlativo. Recordemos, por momentos que só este ano após tanta vicissitude conseguimos atingir o fim almejado: entrar no Campeonato Nacional da 1.ª Divisão. Portanto, creio que não poderão ter mais moral do que nesta época. Quanto à resistência, eu lhe explico: deve ter notado que o grupo, ao concluir qualquer encontro, não dava, este ano, aquela exteriorização de fadiga, como em anos transatos. Sabe porquê? Pela simples razão de todos os jogadores terem sido obrigados a seguir, durante o defeso, um curso de gimnástica e preparação atlética, de forma que ao iniciar-se o campeonato regional, todos estivessem em boas condições físicas».

Vidal Pinheiro estava certo de que esta subida à 1.ª Divisão Nacional iria dar muito mais visibilidade a um clube que... não era só futebol. «Uma coisa lhe quero dizer. Para já, conseguimos isto: que se falasse, durante todo um ano no nome do meu clube. Já não é como outrora, em que, após a época do futebol, o Salgueiros desaparecia das gazetas, esquecido até ao ano seguinte. Agora não. Falou-se nele constantemente: a propósito da natação, do atletismo, do basquetebol, do andebol, do ciclismo, etc». Era o este o Salgueiros que Vidal Pinheiro e seus pares vinham trabalhando afincadamente naqueles anos, um clube eclético que pretendia chamar a atenção do público do desporto português. E conseguiu-o.

Dores de crescimento fizeram-se sentir no início

Atlético - Salgueiros
Tal como o Eng. Vidal Pinheiro previu na antevisão deste Nacional da 1.ª Divisão de 43/44, o Salgueiros acusou inicialmente alguma inexperiência na alta roda do futebol português. Algum desconhecimento até, face aos grupos do sul, com quem não estaria habituado a medir forças, acabando por pagar essa fatura sobretudo na primeira volta do campeonato. De facto, o Salgueiros surgiu muito tímido nos campos de batalha do futebol luso, e mais do que averbar derrotas mostrou muitas fragilidades ao nível do seu jogo. Porém, com o avançar da época a equipa foi ganhando outra alma, outro ânimo, mostrando que afinal também tinha valor e bom futebol para figurar entre a elite portuguesa. Mas vamos ao filme da primeira passagem do Salgueiral pelo palco maior do nosso futebol. O pontapé de saída aconteceu na Tapadinha, mítica casa do Atlético, onde as coisas não correram de feição aos encarnados, a julgar não pelo desaire por 4-0, mas de igual modo pelo conceituado jornalista da "Stadium", Tavares da Silva, que foi duro nas palavras na apreciação ao jogo dos salgueiristas: «O sub-campeão do Porto - segundo opinião unânime - traz para a prova pouco valor. Se isso não importa, de momento, interesso no futuro, porque o grupo representa a 2.ª região futebolística do país. Da má exibição - é possível que o bloco se ajeite melhor em futuras digressões - nada ficou senão a afirmação de um guarda-redes de razoável categoria (Peixoto). Pouco mais do que isto o Salgueiros deixou na sua primeira visita, podendo no entanto citar-se alguns dos seus lances na organização da defesa - porque o ataque quase não existiu».

Na ronda seguinte a tarefa do Salgueiros em apagar a má exibição da estreia era uma missão quase impossível, ou não tivesse pela frente o campeão nacional em título, o Benfica. Os lisboetas, orientados pelo antigo guarda-redes de Académico do Porto e Boavista, Janos Biri, surgiram no Campo Augusto Leça, o reduto dos salgueiristas, com uma linha de ataque de respeito, formada por Julinho, Rogério Pipi e Alfredo Valadas. No entanto, e de acordo com a pena de Tavares da Silva, o Benfica não esteve nos seus melhores dias nesta visita ao Porto, jogando no aproveitamento do erro do adversário. Erros que ao que tudo indica terão sido muitos para os encarnados do Norte. Para o consagrado jornalista, o Salgueiros voltou a mostrar sinais de muita fragilidade, tendo a equipa sido sempre dominada pelos campeões nacionais, que acabariam por vencer por claros 6-1. Contudo, apesar de dominados, os portuenses quando atacavam conseguiam provocar algum desentendimento entre a defesa benfiquista, uma nota que Tavares da Silva fez sobressair na sua crónica e que considerou um aviso a ter em conta aos lisboetas para quando defrontassem equipas que estivessem mais ao seu (alto) nível. Outra nota a realçar é o golo salgueirista, o primeiro na alta roda do futebol nacional, tendo o seu autor sido o médio Viana, um nome que ficará assim na história deste clube.

FC Porto - Salgueiros
A grande sala de visitas do futebol portuense daquela altura, o mesmo será dizer o Estádio do Lima, foi a paragem seguinte do Salgueiros, que na 3.ª ronda enfrentava o vizinho e campeão regional FC Porto. E quem pensava um novo massacre enganou-se redondamente, pois o Salgueiral não só vendeu cara a derrota (3-1) ante os azuis-e-brancos como também fez uma agradável exibição, facto que mereceu destaque no relato do jornalista portuense Mário Afonso para a "Stadium". Para este homem das letras o Salgueiros tinha feito a sua melhor exibição até então neste campeonato, e o facto de ter sido ante um dos candidatos ao título era ainda mais digno de registo. Mas para Mário Afonso esta boa exibição aconteceu porque há equipas que se transcendem quando atuam perante outros conjuntos, e neste caso puxou da rivalidade que existia entre os dois emblemas para justificar esta boa exibição dos encarnados de Paranhos. «Quando joga contra o F. C. Porto, o Salgueiros parece outro. Vale muito mais. Quase não se acreditava que estivesse no Lima o mesmo grupo que jogou contra o Benfica! O Salgueiros, animado pela rivalidade que mantém com o campeão, e costumado ao ambiente, conseguiu praticar um futebol de conjunto, vivo, enérgico e com certa ligação. Daí, equilíbrio, jogo repartido pelas duas metades da relva do Lima. Porque não pode dizer-se que o Porto tenha jogado mal, e só ainda faz brilhar um pouco mais o seu adversário. (...) O elemento mais destacado do Salgueiros continua a ser o guarda-redes Peixoto. Um nome a apontar e a ver em exibições futuras: Oliveira, o avançado-centro». E foi precisamente de Oliveira o único golo do Salgueiros nesta derrota com... algum sabor a vitória pela boa exibição conseguida.

Estudantes testemunham uma vitória histórica!

Salgueiros - Académica
Apesar de novato nestas andanças e de nas primeiras duas jornadas ter mostrado um nível abaixo do que era exibido na alta roda do futebol português, não foi preciso esperar muito para que as hostes salgueiristas festejassem a primeira vitória no campeonato nacional. A primeira da sua história, visto desde os dias de hoje. Facto ocorrido na 4.ª jornada, no Campo Augusto Leça, diante da Académica de Coimbra. Um triunfo, por 3-1, que para o jornalista Tavares da Silva devia ser levado em conta, desde logo pelo fraco nível exibicional que os portuenses haviam mostrado nos primeiros jogos, pense embora na sua opinião este triunfo não se tenha devido tanto a uma grande exibição do Salgueiral. Na sua visão esta vitória teve como base o fator aproveitamento de três jogadores que atuavam nos setores recuados e intermédios do terreno: em primeiro lugar o guarda-redes Peixoto, o qual esteve magistral na 2.ª parte; o esforçado defesa João (Santos); e o médio centro Sousa, que imprimiu à equipa a necessária ligação tornando possível a realização dos golos. E se os estudantes estiveram bem no primeiro tempo, após o golo do empate baixaram de rendimento, facto aproveitado pelo Salgueiros para conquistar os primeiros pontos nesta prova.

Sporting - Salgueiros
A este triunfo seguiu-se a derrota mais pesada do grupo neste Nacional de 43/44, facto que aconteceu na visita ao reduto do poderoso Sporting, orientado por Joseph Szabo, e cuja força residia em jogadores como Fernando Peyroteo, Albano, Mourão, Cruz, entre tantos outros. 10-0 foi o pesado resultado final de um encontro onde o Salgueiros, de acordo com Tavares da Silva, chegou em alguns momentos a dar «agradável impressão da sua movimentação geral, nada há mais a dizer senão salientar a má tarde do seu guarda-redes, embora multo desprotegido».

Salgueiros - Belenenses
O oponente seguinte foi outro histórico do futebol luso, no caso o Belenenses, que na 6.ª jornada visitou o Campo Augusto Leça. Para este encontro os azuis de Belém apresentaram no seu "onze" um novo guarda-redes, que dava pelo nome de Capela, e que iria dali em diante marcar uma era no emblema da Cruz de Cristo. Segundo a crónica de Tavares da Silva na "Stadium", o estreante guardião cumpriu a sua missão, pese embora não tenha tido pela frente uma linha avançada que lhe causasse muito trabalho. Mas nas poucas vezes que foi chamado a intervir, fê-lo com segurança e classe. O Belenenses na opinião do jornalista não fez uma exibição de grande brilho, chegou para as encomendas, e quando garantiu a vitória atuou mais em ritmo de treino, acabando a partida por perder algum interesse. E mesmo a expulsão do belenense Mário Coelho, no final da primeira parte, não pôs em causa a supremacia do combinado orientado pelo húngaro Sándor Peics. Quanto ao Salgueiros, esse quase todo esteve mal, na visão de Tavares da Silva, «até a defesa, que costuma comportar-se menos mal. Só se salvou o médio centro Coura, rapaz com merecimento activo e com boa posição em campo, e um pouco Augusto, o interior direito. O ataque do Salgueiros quase não existiu, devendo anotar-se simplesmente sua reação no começo do jogo, no pôs intervalo. O que não quer dizer que o team não tenha posto na luta, em todos os momentos, uma bela energia». 6-1 foi o resultado final para o Belenenses, cabendo a Silva marcar o tento de honra dos salgueiristas.

Salgueiros - Olhanense
Seguiram-se mais dois jogos em casa, o primeiro deles ante os antigos campeões de Portugal, dez anos antes, o Olhanense. Nova derrota para o Salgueiral, desta feita por 2-5. Um resultado que para Tavares da Silva borrava o quadro da classificação geral, já que segundo aquele jornalista enquanto todas as outras equipas davam sinais de progressão, sendo que o Salgueiros não acompanhava essa tendência. E mesmo o setor defensivo, que até então era o que se exibia em melhor forma no campo em encontros anteriores, neste jogo abriu brechas por todo o lado. Apesar de evidenciar dificuldades, o conjunto de Paranhos continuava a dar sinais de querer contrariar a tendência de que era uma equipa ainda inexperiente nestas andanças, como comprovam as palavras do jornalista da "Stadium": «Não quer isto significar que os "salgueiros" não tenham dado um ar de graça, no passado domingo. Pelo contrário, durante certo período da segunda parte o ataque realizou coisas de bom jeito, mas depois perdeu o norte, reduzindo-se a uma ou outro tentativa, feita de quando em vez. Não fôra, mais uma vez, o médio Coura, e a coisa ainda seria pior. O Salgueiros estreou dois jogadores: Renato, a interior-direito e depois avançado-centro, e Faria, interior-esquerdo. Esta orientação, tirar dois interiores e pôr lá outros dois de uma só vazada, mostra claramente as dificuldades que o agrupamento atravessa, e os trabalhos de cabeça que os dirigentes se dão para modificar um estado de coisas que já não tem modificação possível, pelos vistos. Os estreantes revelaram alguma habilidade. Já não é mau de todo». Mas o cenário haveria de mudar, como veremos mais à frente. Ante os olhanenses os golos salgueiristas foram apontados pelo estreante Renato e por Silva.

O jogo seguinte mostrou, ainda que ao de leve, essa subida de forma, já que na receção ao Vitória Sport Clube (de Guimarães) a turma portuense conquistou mais um ponto, fruto de um empate a duas bolas. Sobre o jogo não há muitos relatos na "Stadium", que ressalva apenas que o Salgueiros lutou com entusiasmo. Coura e Silva apontaram os tentos dos salgueiristas.

O outro Vitória a competir nesta 1.ª Divisão de 43/44, neste caso o de Setúbal, foi o oponente seguinte. 2-1 a favor dos sadinos, foi o resultado final de uma partida que segundo Tavares da Silva teve um rol de oportunidades desperdiçadas, tantas foram as vezes que os avançados estiveram cara a cara com os guarda-redes e não os conseguiram bater. Os portuenses continuavam a dar indícios de crescimento no campeonato a julgar pelas palavras do jornalista: «o Salgueiros foi mais ameaçador do que o Vitória. Inesperadamente ameaçador, pois ao conseguir um goal, este teve o efeito de despertar as energias do adversário. Só quando começou a perder é que o Vitória se lembrou que tinha de ganhar...». O goleador Silva foi mais uma vez o artilheiro de serviço dos encarnados neste encontro.

Segunda volta mostra um Salgueiros diferente... para melhor

Salgueiros - Atlético
Em janeiro de 1944 arrancou a segunda volta do Nacional da 1.ª Divisão, tendo o Salgueiros retribuído a visita à Tapadinha em novembro do ano anterior. O Atlético era por esta altura uma das boas equipas do campeonato, ocupando os lugares da frente do pelotão, fruto da bela campanha que vinha fazendo. E Tavares da Silva na sua crónica habitual na "Stadium" frisou precisamente isso para justificar o triunfo dos lisboetas no Campo Augusto Leça por 3-0. No entanto, o Salgueiros continuava a dar sinais de crescimento... «O Salgueiros forçou a marche do encontro de modo a dominar durante largos períodos do jogo, instalando-se na grande área dos lisboetas. Mas estes nunca perderam o sangue frio, e aqueles nunca o encontraram em frente das redes para fazer aquilo que parece mais fácil mas que é o mais difícil: goal. A serenidade com que o Atlético suportou a tempestade, defendendo uma vitória preciosa que - certo, certo - nunca esteve praticamente ameaçada, diz-nos, além de tudo, que o grupo está a adquirir a categoria dos grandes teams». E a prova disso foi que os lisboetas acabariam este campeonato em 3.º lugar, à frente de clubes de maior poderio, como o FC Porto, ou o Belenenses.

De Lisboa era também o adversário seguinte dos encarnados do Porto, mas este de maior peso, já que lutava com o eterno rival Sporting pelo título de campeão nacional.

Benfica - Salgueiros
Numa altura da temporada em que os clubes já levavam muitos jogos nas pernas, o Benfica optou na receção ao Salgueiros por fazer descansar alguns dos seus titulares, substituídos por nomes menos conhecidos, como Cerqueira, Carvalho e Teixeira II, facto que terá, quiçá, pesado no facto de os benfiquistas terem feito uma exibição algo "cinzenta", pouco condizente com um candidato ao título. Valeu a inspiração de uma das suas maiores estrelas, Julinho, autor de quatro dos seis golos com que os comandados de Janos Biri bateram os salgueiristas por 6-1. Sobre estes últimos Tavares da Silva trazia boas novas: «É de notar também que o Salgueiros apresenta progressos nos esquemas do seu jogo - sinal evidente de que a permanência na competição de honra lhe tem feito bem». Renato foi o marcador do único tento do Salgueiral no Campo Grande.

De regresso à Cidade Invicta na jornada que se seguiu para defrontar o vizinho FC Porto, que estava longe de convencer neste campeonato. Foi uma partida que para o principal redator da "Stadium" teve duas partes distintas, uma pautada pelo equilíbrio e outra pelo... desequilíbrio. A primeira muito por culpa do facto de a equipa na teoria mais fraca, o Salgueiros, ter querido impor-se, de jogar de igual para o com o seu velho rival. A outra, quando essa mesma equipa de nível inferior perdeu o fôlego e começou a desaparecer do encontro, aspeto aproveitado para os portistas abrirem o marcador e chegarem à goleada final de 5-0. «Foi assim mesmo. Belo jogo, na primeira parte, com os grupos em acentuado equilíbrio, e porventura o Salgueiros, mais perigoso. Depois, no segundo tempo, o Salgueiros deixou-se dominar pela resistência e melhor técnica do adversário, que pôs a bola rente ao terreno para o passe da precisão, utilizando os extremos. Porque o mérito do Salgueiros está na luta que deu. Depois de sofrer o quinto goal - ainda quis espreguiçar-se, verdade seja. Era tarde!», assim resumiu Tavares da Silva o jogo.

Na ronda seguinte o Salgueiros sentiu o amargo sabor da vingança dos estudantes de Coimbra, que na primeira volta haviam sido batidos no Campo Augusto Leça. Frente a frente estavam as duas últimas equipas da classificação geral, pelo que só a vitória servia a cada uma delas para largar a "lanterna vermelha". Foi mais feliz a Académica, que no Campo de Santa Cruz entrou determinada não só a fugir ao último posto, mas de igual forma a vingar a tal derrota no Porto. Foi uma Briosa de ataque, conforme disse Tavares da Silva na sua crónica, e a comprovar isso foi o resultado de 9-4 a favor dos locais. Renato, Toninho, Oliveira e Alfredo foram os artilheiros do Salgueiros, que neste encontro marcou o maior número de golos, quatro, num só encontro desta época de estreia no escalão maior.

Salgueiros - Sporting
Após esta pesada derrota o Campo Augusto Leça engalanou-se para receber uma das mais fortes equipas daqueles anos, o Sporting, liderado por um Peyroteo letal! Com muito menos armas que o poderoso adversário, o Salgueiros deu luta, aliás, esta era uma postura que vinha patenteado de há uns jogos a esta parte, sinal de que começava a ambientar-se a estes palcos grandes. Porém, e segundo as palavras de Tavares da Silva, faltavam elementos condizentes com a elite do futebol português, isto é, jogadores de 1.ª Divisão ao Salgueiros. Facto que provocava nas suas palavras alguns momentos de desorganização na equipa nortenha. «Por tudo quanto ficou dito, deve já destacar-se o comportamento do Salgueiros na primeira parte, equilibrando a partida em termos de ver-se, mesmo com um pouco de emoção. Que, aquilo que sucedeu no segundo tempo, não deve causar a mais leve estranheza. A experiência, o fôlego, a melhor técnica, e ainda, por cima de tudo, a robustez do Sporting, impuseram-se de tal modo que o guarda-redes do Salgueiros não pode sossegar um simples minuto, pois a bola raramente saiu da sua órbita. Nessa altura, o Sporting impôs-se de alto a baixo, não estando em causa a classificação do jogo produzido e o resultado não podia ser outro, a não ser uma vitória mais volumosa». Pois é, 5-1 a favor dos sportinguistas, que haveriam de vencer esta edição do Campeonato Nacional, sendo que neste encontro Fernando Peyroteo apontou quatro dos cinco golos da sua equipa, ao passo que Coura fez o gosto ao pé para os nortenhos.

Belenenses - Salgueiros
Igual resultado, o mesmo será dizer uma derrota com números semelhantes, aconteceu na jornada seguinte em nova visita do Salgueiros à capital, desta feita para defrontar o Belenenses. Nas Salésias os azuis de Belém não sentiram dificuldades em bater os portuenses, pese embora tenham demorado a encontrar o caminho da baliza de Peixoto, algo que de acordo com Tavares da Silva terá apimentado o encontro na sua fase inicial. Quanto à performance dos nortenhos no Estádio das Salésias, o jornalista disse que «o simpático grupo do Salgueiros mostrou-se animoso, como sempre, mas o seu quadro, como já temos dito, não está ainda à altura da prova. Só nos jogos em casa pode oferecer realmente dificuldades aos adversários». Renato apontou o tento dos encarnados de Paranhos neste jogo.

Como não há duas sem três, a visita a Olhão cifrou-se numa nova de derrota também por 5-1. Um futebol rápido e ofensivo ajuda a justificar este triunfo do Olhanense. Contudo, não se julgue que o Salgueiros foi "bombo da festa", já que na crónica do encontro, a equipa portuense foi ofensiva, batalhadora, «chegando, mesmo, a desenvolver esquemas de jogo que lembraram à defesa algarvia a necessidade de se conservar alerta. Isto confirma aquilo que temos dito sobre o Salgueiros, isto é, que a prova só lhe tem feito bem - além de dar aos seus dirigentes preciosas indicações relativamente ao futuro», assim escrevia Tavares da Silva. Alfredo apontou o golo do Salgueiros no Algarve.

Salgueiros - Vitória de Setúbal
O Campo de Benlhevai, em Guimarães, foi a derradeira saída do Salgueiral neste Nacional. Pela frente tinha um Vitória que esteve longe de fazer uma boa prova, muito pelo contrário. Nesta jornada, a penúltima, o Sporting consagrava-se campeão nacional, ao passo que o Salgueiros com a derrota pela margem mínima (1-2) no Minho assegurava... a "lanterna vermelha" da prova. Em Guimarães os locais atacaram desde início e chegaram ao intervalo a vencer por 2-0. No reatamento, os portuenses reagiram, dando algum trabalho à defesa vitoriana, embora somente por uma ocasião tenham tido êxito, por intermédio de Ribeiro.

E eis que chegávamos à última jornada deste Campeonato Nacional, sendo que no Porto o Salgueiros encerrava a sua estreia entre os maiores do futebol nacional com uma receção ao Vitória de Setúbal. Já com a classificação definida, o Salgueiros perdeu por 3-5 um encontro onde o seu jogador Renato brilhou ao apontar os três golos dos encarnados. Falando de contas, o emblema de Paranhos ficou na última posição, com três pontos somados, 23 golos marcados e 84 sofridos, números que à primeira vista são maus, mas que se olharmos ao "resto da história" significaram só o início de uma caminhada entre a elite do futebol português, o lugar que este histórico clube conquistou nas décadas seguintes e que como tal é seu por mérito próprio.

quinta-feira, março 29, 2018

Histórias do Planeta da Bola (20)... A vitória do negro sobre o racismo através do Desporto... e do futebol em particular

A história tem-nos mostrado que o Desporto tem tido um papel preponderante na construção de um mundo sem fronteiras, assumindo-se ao longo de anos, décadas e séculos não só como um veículo importante na promoção da paz e união entre povos de diferentes raças e culturas mas também como uma arma poderosa no combate ao preconceito e ao racismo entre os habitantes da aldeia global.
Ao conquistar, com o passar desses mesmos anos, décadas e séculos, o estatuto de fenómeno social de massas, o Desporto ergueu em seu redor uma espécie de civilização, geradora de deuses e mitos, mas também afigurando-se como um trono apetecido por todos os que procuravam o poder para impor os seus ideais políticos e sociais.
E é precisamente olhando para este poder que o Desporto agrega em si que por um lado iremos relembrar a oportunidade que os grandes eventos desportivos mundiais – sobretudo os Jogos Olímpicos – constituíram para que muitos regimes políticos e sociedades marcadas pela xenofobia e preconceito quisessem através deles mostrar ao mundo a superioridade da sua raça em relação às demais, atentando assim contra alguns dos principais ideais Olímpicos, que passavam pela paz, fraternidade, respeito e democracia entre os povos. Por outro lado, este trabalho visa mostrar que em vários episódios da história o mérito alcançado por atletas de raça negra contribuiu não só para a queda das pretensões desses regimes ou sociedades, mas igualmente para a quebra das barreiras do racismo, numa demonstração de que o desporto pode construir um elo de ligação harmoniosa entre os povos.
Os ideais olímpicos
Mas para compreender melhor esta filosofia de paz e harmonia aliada à exaltação em torno do mérito do atleta há que fazer uma viagem até à Grécia Antiga, o berço dos Jogos Olímpicos. Durante a ocorrência dos Jogos da Antiguidade as guerras entre as cidades gregas paravam, as hostilidades e os conflitos entre os homens cessavam durante o período em que Olímpia recebia gentes de toda a Grécia para contemplar as proezas dos atletas. Os vencedores eram elevados à categoria de heróis pelo povo grego, conquistando desta forma um lugar no patamar da imortalidade tal e qual os Deuses do Olimpo. Os Jogos Olímpicos assumiam-se assim como uma festa do mundo grego, sendo-lhes conferido um papel unificador e promotor da paz entre as cidades gregas, despertando nos homens um sentimento de pertença a uma só nação que em Olímpia se reunia para exultar o culto do corpo e do espírito, e onde os vencedores conquistavam um lugar ao lado dos Deuses do Olimpo.
Pierre de Coubertin, o sonhador dos Jogos Olímpicos
da Era Moderna
Invocando questões de ordem religiosa Teodósio interrompe no ano de 394 d.C. as Olimpíadas da Antiguidade. 1500 anos depois os Jogos reaparecem na Era Moderna pela mão de Pierre de Coubertin, um idealista francês cuja perspectiva do desporto enquanto veículo educativo poderia aperfeiçoar a conduta de uma cidadania democrata no ser humano. Partilhando a filosofia da Grécia Antiga Coubertin via os Jogos Olímpicos como os portadores mais fiéis e eficazes da ideia de paz e fraternidade entre os povos. Numa época em que conquistas técnicas como o caminho de ferro e o telégrafo propiciavam a comunicação entre as gentes de diversos pontos do Mundo Coubertin restituía os Jogos Olímpicos como uma inovação: a internacionalização. Os Jogos da Era Moderna iam assim muito além das fronteiras da Grécia Antiga. No final do 1º Congresso Olímpico Internacional, realizado em 1894, seria aprovado por unanimidade que “deveriam efetuar-se competições desportivas de quatro em quatro anos, continuando as diretivas dos Jogos Olímpicos Gregos, e que seriam convidadas todas as nações para que participassem, sem distinções de pessoas, cor, religião ou ideias políticos”. O renascimento dos Jogos deu-se precisamente no local onde há mais de 2500 anos atrás haviam nascido, a Grécia, tendo na cerimónia de abertura Coubertin sublinhado a ambição de fazer desta uma das maiores manifestações pacíficas da Humanidade, onde todos homens pudessem confraternizar admirando e enaltecendo a alta performance atlética. Reclamando para cada cultura um igual respeito os Jogos Olímpicos pretendiam assim atingir a sociedade e consciencializar os homens a melhorar as relações entre si.
Mas nem sempre os ideais olímpicos foram respeitados ao longo das edições dos Jogos que se seguiram a Atenas em 1896. Em 1904, na cidade de Saint Louis, assistiu-se a um dos ataques mais ferozes à ideia de que no seio do Jogos Olímpicos todas as culturas merecem igual respeito. No programa dos primeiros Jogos realizados em solo americano seria criada uma competição à parte para negros, índios e diminuídos físicos, a qual seria batizada de Dias Antropológicos, destinada ao entretenimento da raça branca, transparecendo desta forma para o resto do Mundo uma América racista.
Esta não era porém uma característica que se restringia unicamente ao povo norte americano. No início do século XX o advento da industrialização conferia à Europa uma capacidade económica muito superior em relação aos restantes continentes. Uma superioridade que se viria a estender aos ideais sociológicos e culturais dos europeus que no processo da colonização africana e sul americana, essencialmente, procuravam expandir as suas religiões, a sua língua, os seus costumes, por entenderem que havia uma superiorização do povo europeu em relação a todos os “não brancos”.
O futebol derruba barreiras racistas...
José Leandro Andrade
Contudo, seria em solo europeu que o ideal olímpico de igualdade e respeito entre todos os povos conheceria uma das suas primeiras grandes manifestações. Nas Olimpíadas de Paris, em 1924, as atenções seriam direcionadas para um negro uruguaio, filho de um escravo africano que no século XIX havia chegado à América do Sul, de seu nome José Leandro Andrade (de quem já aqui falámos em diversas ocasiões). Na pele de um talentoso futebolista Andrade causou espanto e deslumbramento entre os europeus. Exibindo uma agilidade felina e dotes técnicos invulgares o futebolista uruguaio encantou todos aqueles que nesse ano presenciaram o torneio olímpico de futebol, ganho com naturalidade pela seleção do Uruguai, que com a preciosa ajuda de Andrade introduziu o conceito até então desconhecido pelos europeus de arte aliada à técnica no jogo. José Leandro Andrade despontou para o Mundo nos Jogos Olímpicos de 1924, ganhando então a alcunha de “Maravilha Negra”. Em Paris Andrade passeava-se como um Deus, venerado pelos comuns mortais que com ele se cruzavam durante a sua estadia na capital francesa. Além de sublinhar a visão de respeito e igualdade entre todas as raças este exemplo mostra que o mérito e a mestria atlética de um ser humano conseguiu provocar um sentimento unânime de admiração e encantamento nos olhares centrados naquela manifestação desportiva. O Desporto conseguia aqui superar a barreira do racismo e do preconceito.
na Grã-Bretanha...
Andrew Watson
A história do endeusamento de Andrade abre-nos caminho para recordarmos aquele que foi o primeiro cidadão negro a ter o seu nome inscrito no Grande Atlas do Futebol. Mais do que isso, ele terá sido o primeiro negro a triunfar no desporto a nível planetário. O seu nome é Andrew Watson. Nasceu a 24 de maio de 1856 na então Guiana Britânica fruto de uma relação entre um barão escocês – Peter Miller Watson – e uma escrava local – Hanna Rose. Peter Watson, proprietário de uma plantação de açúcar naquela então colónia sul-americana do império britânico, não renegou o seu filho (bastardo) e na década de 60 do século XIX envia-o ainda muito jovem para a Grã-Bretanha onde inicia os estudos numa das mais reputadas escolas de Londres, a King's College School. Aos 19 anos viaja para Glasgow, para frequentar a universidade local onde cursa Filosofia, Matemática e Engenharia. É precisamente naquela cidade escocesa que o jovem Andrew tem um contacto mais próximo com o football. É então que evidencia os seus dotes de veloz e robusto defesa (tanto atuava na direita como na esquerda do setor recuado) ao serviço de emblemas de pequena dimensão, o Maxwell FC e o Parkgrove FC. O seu talento é de tal forma reconhecido que em 1880 é chamado o combinado de Glasgow (uma espécie de selecão que reuniu os melhores jogadores da cidade) para enfrentar o selecionado de Sheffield, em que os escoceses venceram por 1-0.
Mas foi já depois de ter concluído o seu percurso académico que Andrew Watson escreveu os capítulos mais sonantes da sua ligação com o futebol. Em 1880, e já depois da morte de seu pai, o qual lhe terá deixado uma considerável fortuna para que pudesse ter uma vida desafogada, Watson chega ao Queen's Park Football Club, tão só o mais reputado emblema escocês de então, como também para muitos o maior clube da Grã-Bretanha por aqueles dias. A sua perícia ajuda o clube a vencer as Taças da Escócia de 1880, 1881, 1882, 1884 e 1886, tornando-se desta forma no primeiro futebolista negro a vencer a prestigiada competição. Mas o triunfo do negro Watson num universo de brancos ganha contornos mais vincados quando em 1881 é-lhe concedida a honra de representar a seleção escocesa. 
Gravura do célebre Inglaterra - Escócia de 1881
Numa altura em que o profissionalismo estava prestes a bater à porta do jovem football, Watson enfrenta o vizinho e eterno rival da Escócia, a Inglaterra, em solo inimigo, isto é, no Kennington Oval, de Londres. Como se já não bastasse a honra de ter sido selecionado para este encontro amigável, Watson vê ainda ser-lhe entregue a responsabilidade de capitanear o onze escocês em território inglês, tornando-se desta forma não só no primeiro jogador negro a chegar a internacional como também no primeiro a capitanear uma seleção nacional. Estávamos a 12 de março de 1881, um dia histórico para Watson e para o desporto (sem barreiras étnicas). Ah, quanto ao resultado esse também entrou para a história, tendo a Escócia humilhado o eterno rival por 6-1 (!), que constitui assim a derrota caseira mais pesada da seleção dos “Três Leões”. Watson realizou mais dois jogos com a sua seleção – ante o País de Gales (1881) e novamente com a Inglaterra (1882) – antes de se mudar para Londres, onde entre 1882 e 1885 defendeu as cores de afamados emblemas locais, como o Swifts e o Corinthian FC – a “inspiração” do Corinthians brasileiro. Também em Inglaterra entrou na história do futebol daquele país, ao tornar-se no primeiro negro a jogar a famosa FA Cup – Taça de Inglaterra -, facto ocorrido na temporada de 1882/83 ao serviço do Swifts Football Club. Depois da aventura escocesa retorna a casa, Glasgow, para voltar a atuar pelo colosso Queen's Park, tendo conquistado a FA Cup escocesa de 1886 – como já vimos. No ano seguinte volta a Londres, terminando ai uma reputada carreira futebolística ao serviço do Bootle Football Club. Mais do que um notável full back, Andrew Watson era descrito como um cavalheiro, dentro e fora dos relvados, onde convivia com a fina flor britânica numa altura em que o preconceito com o cidadão negro era uma realidade um pouco por todo o Mundo. Andrew Watson quebrou esse preconceito em torno da sua figura, não se conhecendo – de acordo com a história – qualquer episódio de racismo para com Watson que depois de abandonar o futebol se tornou num respeitado e conceituado engenheiro naval. Morreu a 8 de março de 1921 o primeiro cidadão negro que levou a melhor sobre o racismo por meio do desporto.
na América do Sul...
Isabelino Gradín, a primeira lenda do futebol
na América do Sul
Há no entanto, um outro episódio (do qual já fizemos eco noutras viagens ao passado) em que o preconceito para com o negro veio ao de cima. Estávamos em 1916, ano em que a Argentina acolhe a primeira edição do Campeonato Sul-Americano de futebol, hoje denominado de Copa América. Chile e Uruguai defrontaram-se no encontro inaugural da estreante competição, no Estádio Gimnasia y Esgrima, de Buenos Aires. Sob a arbitragem do argentino Hugo Gronda os uruguaios mostraram na cancha toda a sua arte, o seu futebol rendilhado, fascinante, e... letal. Que o digam os chilenos, que caíram aos pés dos charrúas por 4-0! Episódio negativo - lamentável, na verdade - deste jogo inaugural do Campeonato Sul-Americano seria a posterior postura dos chilenos perante os factos ocorridos. Jogadores e dirigentes do Chile protestaram o encontro, queixando-se à organização que os uruguaios haviam jogado com... dois negros na sua equipa! Esses negros, ou melhor, essas lendas, eram o centro-campista Juan Delgado e o atacante Isabelino Gradín. Apelidados de "atletas do carnaval" eles foram ridicularizados pelos chilenos numa época em que o racismo imperava um pouco por todo o Mundo. este ato racista chileno seria inglório, já que tanto Gradín como Delgado seriam reconhecidos pela organização como uruguaios de berço - e na verdade eram-no - tendo o triunfo da seleção charrúa sido validado para descontentamento dos preconceituosos chilenos. Mais do que uma rotunda vitória obtida dentro de campo o Uruguai - e de um modo muito em particular Gradín e Delgado - vencia o racismo! Gradín é, aliás, tido como a primeira lenda negra do futebol (fantasista) sul-americano. Mais parecendo animados desfiles carnavalescos, as “jugaditas” deste avançado inspiraram as gerações seguintes de um pequeno país (Uruguai) que é descrito por muitos como o primeiro grande alfobre de magos da arte de conduzir a bola. A forma veloz e serpenteada como conduzia o mágico objeto esférico, deixando para trás adversários em catadupa, fazia as pessoas levantarem-se como uma mola esboçando olhares de encantamento perante aquela espécie de magia negra que brotava nas canchas de Montevideu.
e em Portugal
Guilherme Espírito Santo
No plano português, evocamos (ainda que ao de leve) a figura de Guilherme Espírito Santo, o primeiro negro a vestir o manto sagrado da seleção nacional. E o primeiro grande artista (na arte de manusear a bola) descendente de africanos a triunfar no futebol luso, há que dizê-lo. Nasceu em Lisboa, em 1919, pese embora tenha regressado ao país dos seus pais (Angola) com apenas oito anos de idade. Regressa à Metrópole em 1936, ainda adolescente, para continuar os estudos e... triunfar no Benfica com apenas 16 anos! Substituiu o lendário Vítor Silva (curiosamente o seu ídolo de infância) na liderança do ataque do clube encarnado, e o seu cavalheirismo aliado ao instinto predador pela baliza adversário são desde logo notados e admirados pela sociedade. Defendeu as cores do Benfica ao longo de 12 anos, vencendo quatro campeonatos nacionais e três Taças de Portugal, tendo certo dia outra lenda lenda daquele tempo dito que: «O Guilherme sempre foi melhor jogador de futebol que eu». Palavras de Fernando Peyroteo. Espírito Santo fez 199 golos em 285 jogos ao serviço das águias. O seu nome ganha contornos mais vincados de lenda a partir do dia 28 de novembro de 1937, altura em que representa pela primeira vez a seleção nacional, num particular ante a Espanha realizado em Vigo. Nesse dia, Espírito Santo não só efetuou o primeiro dos oito jogos em que defendeu a camisola das quinas como entrou igualmente para a história do futebol português por ter sido o primeiro jogador negro a ter tal honra. À semelhança de tantos outros pontos do globo, também o Portugal de então vivia com os seus tiques racistas. E Espírito Santo sentiu na pele esse preconceito. Corria o ano de 1947 quando numa deslocação à Madeira é negado ao atleta do Benfica o direito de pernoitar juntamente com os restantes colegas num hotel da região pelo facto de ser... negro. «Lugar de preto é no anexo», terá dito alguém responsável por essa unidade hoteleira. Frase que de imediato gerou entre a comitiva encarnada uma onda de solidariedade para com Espírito Santos, pois nessa noite todos os jogadores do Benfica dormiram no anexo! Mais uma vez o racismo foi goleado!
O caso mediático do herói negro Jesse Owens na Berlim fascista de Hitler
Jesse Owens nos Jogos Olímpicos de 1936
Com o avançar dos anos os Jogos Olímpicos tornaram-se num acontecimento mediático à escala mundial. A industrialização – as vias de comunicação, o telégrafo, a imprensa, a rádio, e mais tarde a televisão – ajudou a que as Olimpíadas da Era Moderna adquirissem o estatuto de maior espetáculo desportivo do planeta. De quatro em quatro anos olhares provenientes dos mais diversos pontos do Mundo centravam-se nas demonstrações da mestria atlética de homens das mais variadas raças, credos e religiões. Na qualidade de grande evento global os Jogos Olímpicos tornaram-se alvo de interesses políticos, adquirindo o papel de importante veículo de promoção de ideologias políticas. Olhando para as Olimpíadas como um instrumento para conquistar o poder, regimes políticos serviram-se do mediatismo do evento para vangloriar o seu nacionalismo e mostrar a superioridade da raça em relação às demais. O significado de uma medalha de ouro foi alterado, o que dantes premiava a excecionalidade de um atleta era visto pelos regimes políticos como um meio para mostrar ao Mundo a superioridade da sua nação em relação às suas congéneres. O atleta tornava-se assim num objeto do seu Estado de origem com a finalidade de evidenciar a supremacia de uma raça, enquanto que o mediatismo global do evento olímpico era visto como uma vitrine para que regimes políticos e/ou sociedades pudessem vincar no plano externo as suas ideologias políticas e/ou sociais.
O ano de 1936 é um bom exemplo de como os meios políticos procuraram usar a popularidade dos Jogos Olímpicos para evidenciar ao Mundo as suas ideologias. Berlim acolheu nesse referido ano aquela que era já inequivocamente a maior manifestação desportiva do planeta. A Alemanha de então vivia sob o regime nazista comandado por Adolf Hitler. Vendo nos Jogos a ferramenta ideal para mostrar ao Mundo a superioridade da raça ariana o líder nazi não se pouparia a esforços para fazer destas as Olimpíadas mais espetaculares da história. Hitler montou uma autêntica máquina de propaganda política através dos Jogos. Com um orçamento ilimitado não deixou ao acaso o mínimo detalhe que pudesse colocar em perigo a sua estratégia de assalto ao poder através do mega evento desportivo. Um estádio olímpico foi construído propositadamente, e aos atletas alemães tudo era dado e permitido para que se pudessem preparar conveniente para o evento e desta forma conquistar o máximo número de medalhas de ouro que traduzissem a superioridade da raça ariana.
Owens é endeusado nos Jogos do fascismo e racismo
O mediatismo dos Jogos atingia o ponto mais alto da sua história até então. 49 países marcavam presença em Berlim representados por cerca de 4000 atletas. Um recorde para a altura. Pela primeira vez a televisão associava-se ao evento, difundindo imagens do populismo nazi que tomou conta de Berlim para todo o Mundo. O maior evento desportivo do planeta estava transformado numa gigantesca manifestação de índole nazi perante o olhar do Mundo. Tudo parecia correr de feição a Hitler até ao momento em que surge um descendente de escravos que com a mestria da sua performance atlética desmoronou a máquina de propaganda nazi edificada por Hitler. Jesse Owens, era o nome deste norte americano que logo nas primeiras provas dos Jogos de 1936 arrecadou quatro medalhas de ouro para espanto do planeta que seguia com atenção os desenlaces de Berlim. A proeza do negro Owens desde logo se tornou numa epopeia que deitou por terras as aspirações de Hitler em transformar um evento desportivo de cariz global numa manifestação do regime nazista por si liderado. A saga de Owens fez com saísse de Berlim endeusado por todos, inclusive pelo próprio público alemão, com exceção de Adolf Hitler, por motivos óbvios, claro está.
As histórias de Jesse Owens e José Leandro Andrade (mas também um pouco as de Andrew Watson, Isabelino Gradín, Juan Delgado e Espírito Santo), dois negros descendentes de escravos, unem-se na visão de que a virtuosidade do atleta superou as barreiras do racismo e das tentativas de superiorização de raças em relação a outras, numa época em que estas tendências vigoravam em diversas sociedades. A excecionalidade dos atletas mereceu o reconhecimento e os aplausos de raças opostas as suas, residindo neste último aspeto a ideia de uma união global em torno do espetáculo desportivo, cumprindo e enaltecendo assim um dos ideais da essência olímpica, precisamente o de promover a união e a paz entre povos dos mais diversos pontos do Mundo.

segunda-feira, janeiro 11, 2016

Histórias do Futebol em Portugal (16)... Taça Império e Taça Estádio: As "sementes" da Supertaça Cândido de Oliveira

A vistosa Taça Império
1944 é um ano marcante não só na história do futebol português como na história do desporto lusitano de uma forma geral. A 10 de junho desse ano eram oficialmente abertas as portas daquela que ainda hoje é considerada a mais emblemática sala de visitas do desporto de Portugal, o Estádio Nacional. Uma obra - à época - majestosa, que colocava a nação lusa em pé de igualdade com as maiores potências europeias de então, no que dizia respeito a infraestruturas desportivas modernas e de grande dimensão. Uma obra que teve o cunho do Estado Novo, nascida no berço da ditadura salazarista e cuja idealização remontou a 1933, altura em que na sessão de encerramento do Congresso dos Clubes Desportivos o presidente do Conselho, Oliveira Salazar, vincaria a importância do desporto enquanto veículo de educação da juventude com vista «ao crescimento de uma raça forte e sã que pudesse vir a defender o seu país». Concluída essa sua visão deixaria no ar uma promessa aos desportistas lusos: a construção de um Estádio Nacional! Um ano depois foi lançado o concurso para a edificação da catedral do desporto português, ficando definindo que esta seria erguida no Vale do Jamor e iria contemplar não só um moderno estádio como também um vasto leque de outras infraestruturas desportivas. O pontapé de saída na empreitada - projetada por (Eng.) Duarte Pacheco - foi dado em 1939, sendo que o apito final ocorreu cinco anos volvidos. Para a inauguração da obra uma pomposa festa foi agendada então para o dia 10 de junho de 1944, naquela que se constituiu como uma das maiores manifestações populares promovidas pelo Estado Novo e onde na qual marcaram presença cerca de 80.000 pessoas. Densa massa humana que preencheu as bancadas do imponente recinto que ali se inaugurava e que testemunhou o vasto programa festivo desenhado para celebrar a efeméride, programa esse pautado - sobretudo - por inúmeros desfiles de desportistas oriundos de inúmeras representações nacionais da Mocidade Portuguesa. 
Um dos muitos desfiles que ocorreram no dia
da inauguração do Estádio Nacional
Porém, o ponto alto da cerimónia foi protagonizado pelos dois mais laureados clubes da capital, Sporting e Benfica, emblemas que disputaram um sempre animado e intenso duelo futebolístico. Os leões subiam ao recém inaugurado tapete verde do Estádio Nacional na qualidade de campeões nacionais, ao passo que as águias o faziam enquanto detentores da Taça de Portugal. O prémio para o vencedor deste capítulo do dérbi eterno seria atribuído em dobro, isto é, o clube que chegasse ao fim na frente do marcador levaria para casa dois troféus, a Taça Império, instituída pela Federação Portuguesa de Futebol, e a Taça Estádio, oferecida por Salazar para celebrar a ocasião. E eis que a bola começa a rolar perante o olhar das bancadas que fervilhavam de entusiasmo. O Benfica teve um ligeiro ascendente no iníco do encontro, mas seria o Sporting a abrir o marcador quando estavam decorridos 10 minutos por intermédio do feroz leão Fernando Peyroteo, que assim batia pela primeira vez naquela tarde festiva o guardião Martins, escrevendo desde logo uma página na história do desporto nacional, e muito em particular do futebol luso, já que dos seus pés havia saído o primeiro de muitos remates certeiros que seriam desenhados no mítico palco. Já no segundo tempo Espírito Santo empataria a contenda, oferecendo desta forma aos presentes mais 30 minutos suplementares de futebol. Quase logo após o pontapé de saída do prolongamento Peyroteo voltou a fazer estragos na área encarnada ao fazer o seu segundo golo da tarde. Tento que animou os leões, que embalados chegariam ao 3-1 por intermédio de Eliseu. Julinho ainda iria reduzir para o Benfica, um golo que seria insuficiente para impedir a vitória sportinguista por 3-2. Nesse encontro as equipas alinharam com: Sporting - Azevedo, Manecas, Canário, Álvaro Cardoso, Barrosa, Eliseu, Mourão, António Marques, Peyroteo, Cruz e Albano. Benfica - Martins, César Ferreira, Carvalho, Jacinto, Albino, Francisco Ferreira, Espírito Santo, Arsénio, Julinho, Jaime e Rogério. 
Uma vista panorâmica do duelo entre Sporting e Benfica no dia 10 de junho de 1944
O Sporting arrecadava os dois troféus em disputa e mostrava o porquê de ser a melhor equipa do futebol português daquele tempo. Este simples jogo de futebol - e apontamento principal do cartaz festivo de propaganda fascista daquela tarde de junho de 44 - acabaria por servir de inspiração aos responsáveis vindouros do futebol português, os quais cerca de três décadas mais tarde se basearam nele para criar a terceira competição futebolística de maior importância do futebol português: a supertaça. Prova esta que desde 1979 é disputada pelo campeão nacional e pelo vencedor da Taça de Portugal, e que desde 1981 passou a chamar-se Supertaça Cândido de Oliveira, em homenagem a um dos maiores vultos da história do futebol em Portugal, precisamente o mestre Cândido de Oliveira.
Vídeo: EXCERTO DE UM DOCUMENTÁRIO SOBRE A INAUGURAÇÃO DO ESTÁDIO NACIONAL EM QUE SURGE UM BREVE RESUMO DO JOGO ENTRE SPORTING E BENFICA 

quarta-feira, dezembro 22, 2010

Memórias lusitanas (5)...

Campeonato Nacional da 1ª Divisão, Época 1938/39

CAMPEÃO NACIONAL: FUTEBOL CLUBE DO PORTO

CLASSIFICAÇÃO GERAL:


CLUBES-JOGOS-VITÓRIAS-EMPATES-DERROTAS-GM-GS-PONTOS

1º FC Porto-------14---10----3---1---57---20---23

2º Sporting----------14---10----2---2---44---17---22

3º Benfica------------14---9----3---2---44---24---21

4º Belenenses------14---6---1---7---38---29---13

5º Académica--------14---4---3----7---27---39---11

6º Barreirense--------14---4---2---8---21---27---10

7º Acd. Porto---------14---5---0---9---30---61---10

8º Casa Pia-------------14---1---0---13---12---56---2

OS RESULTADOS DO CAMPEÃO:

SPORTING: 4-4- / 2-1

BENFICA: 1-4 / 3-3

BELENENSES: 3-1 / 5-2

ACADÉMICA: 2-1 / 3-1

BARREIRENSE: 0-0 / 6-1

ACD. PORTO: 12-1 / 4-0

CASA PIA: 2-1 / 10-0

OS NOMES DOS CAMPEÕES NACIONAIS:

Baptista, Carlos Nunes, Castro, Costuras, Guilhar, Lopes, Magalhães, Pereira, Pinga, Pocas, Reboredo, Rosado, Sacadura, Santos, Soares dos Reis e Tavares. Treinador: Mihaly Siska

Os dragões que venceram o segundo título nacional da história do clube

 Clássicos do Futebol Português
(Jogos entre os Três Grandes - FC Porto, Benfica, e Sporting - no Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1938/39)

1ª Jornada

FC Porto - Sporting: 2-1
Data: 8 de janeiro de 1939
Campo da Constituição (Porto)
Árbitro: Henrique Rosa (Setúbal)

FC Porto: Soares dos Reis, Carlos Pereira, Sacadura, Anjos, Reboredo, Baptista I, Lopes Carneiro, António Santos, Costuras, Pinga, e Carlos Nunes. Treinador: Mihaly Siska

Sporting: Azevedo, Jurado, Galvão, Figueiredo, Paciência, Oliveira, Mourão, Soeiro, Rui Araújo, Canário, e Cruz. Treinador: Joseph Szabo

Golos: 1-9 (Carlos Nunes, aos 30m), 2-0 (Costuras, aos 54m), 2-1 (Soeiro, aos 77m)


 Francisco Ferreira com um leão às costas inicia mais um ataque à baliza de Azevedo

2ª Jornada

Sporting - Benfica: 0-1
Data: 15 de janeiro de 1939
Campo do Lumiar (Lisboa)
Árbitro: Vale Ramos (Porto)

Sporting: Azevedo, Jurado, Galvão, Figueiredo, Paciência, Manuel Marques, Mourão, Soeiro, Peyroteo, Canário, e Cruz. Treinador: Joseph Szabo

Benfica: Martins, Vieira, Gustavo, Gaspar Pinto, Albino, Francisco Ferreira, Barbosa, Rogério, Espírito Santo, Brito, e Valadas. Treinador: Lipo Hertzka

Golo: 0-1 (Brito, aos 17m)


Nas Amoreiras o portista Carlos Nunes enceta mais um remate sem êxito à baliza de um Benfica que esteve avassaldor no plano ofensivo
7ª Jornada

Benfica - FC Porto: 4-1
Data: 5 de março de 1939
Campo das Amoreiras (Lisboa)
Árbitro: Henrique Rosa (Setúbal)

Benfica: Martins, Vieira, Gustavo, Gaspar Pinto, Albino, Francisco Ferreira, Barbosa, Duarte, Espírito Santo, Brito, e Valadas. Treinador: Lipo Hertzka

FC Porto: Soares dos Reis, Carlos Pereira, Sacadura, Anjos, Reboredo, Baptista I, Lopes Carneiro, António Santos, Costuras, Pinga, e Carlos Nunes. Treinador: Mihaly Siska

Golos: 1-0 (Gaspar Pinto, aos 25m), 1-1 (Pinga, aos 30m), 2-1 (Brito, aos 44m), 3-1 (Duarte, aos 59m), 5-1 (Espírito Santo, aos 60m)


8ª Jornada

Sporting - FC Porto: 4-4
Data: 12 de março de 1939
Campo do Lumiar (Lisboa)
Árbitro: Henrique Rosa (Setúbal)

Sporting: Azevedo, Jurado, Galvão, Figueiredo, Paciência, Manuel Marques, Rui Araújo, Soeiro, Peyroteo, Pireza, e Mourão. Treinador: Joseph Szabo

FC Porto: Soares dos Reis, Sacadura, Guilhar, Anjos, Carlos Pereira, Baptista I, Castro, António Santos, Costuras, Pinga, e Carlos Nunes. Treinador: Mihaly Siska

Golos: 1-0 (Peyroteo, aos 8m), 1-1 (Costuras, aos 17m), 1-2 (António Santos, aos 20m), 1-3 (Carlos Nunes), 1-4 (Costuras), 2-4 (Paciência, aos 47m), 3-4 (Peyroteo, aos 59m), 4-4 (Sacadura, aos 87m p.b.)


9ª Jornada

Benfica - Sporting: 1-4
Data: 19 de março de 1939
Campo das Amoreiras (Lisboa)
Árbitro: Eduardo Augusto

Benfica: Amaro, Freire, Gustavo, Gaspar Pinto, Albino, Francisco Ferreira, Barbosa, Rogério, Espírito Santo, Brito, e Valadas. Treinador: Lipo Hertzka

Sporting: Azevedo, Jurado, Galvão, Figueiredo, Paciência, Manuel Marques, Mourão, Daniel, Peyroteo, Pireza, e Cruz. Treinador: Joseph Szabo

Golos: 1-0 (Valadas, aos 38m), 1-1 (Peyroteo, aos 47m), 1-2 (Peyroteo, aos 51m), 1-3 (Cruz, aos 72m), 1-4 (Mourão, aos 79m)


 Na última jornada do Nacional de 38/39 o FC Porto recebeu o Benfica na Constituição, duelo que terminou com empate a três bolas, resultado suficiente para que os portistas festejassem a conquista do seu segundo título de campeão

14ª Jornada

FC Porto - Benfica: 3-3
Data: 23 de abril de 1939
Campo da Constituição (Porto)
Árbitro: Henrique Rosa (Setúbal)

FC Porto: Soares dos Reis, Sacadura, Guilhar, Anjos, Carlos Pereira, Reboredo, Lopes Carneiro, António Santos, Costuras, Pinga, e Carlos Nunes. Treinador: Mihaly Siska

Benfica: Martins, Vieira, Gustavo, Gaspar Pinto, Albino, Francisco Ferreira, Barbosa, Rogério, Espírito Santo, Brito, e Valadas. Treinador: Lipo Hertzka

Golos: 1-0 (António Santos, aos 2m), 1-1 (Rogério, aos 7m), 2-1 (Costuras, aos 44m), 2-2 (Brito, aos 47m), 3-2 (António Santos, aos 61m), 3-3 (Brito, aos 62m)

Melhor marcador do Campeonato Nacional da 1ª Divisão de 1938/39:
Costuras (FC Porto): 18 golos

CAMPEÃO NACIONAL DA 2ª DIVISÃO: CARCAVELINHOS

CLASSIFICAÇÃO GERAL MINHO:

CLUBES-JOGOS-VITÓRIAS-EMPATES-DERROTAS-GM-GS-PONTOS

1º V. Guimarães---10---8---2---0---32---6---18

2º Fafe---10---7---2---1---31---7---16

3º Vianense---10---4---0---6---15---20---8

4º Monção---10---4---0---6---12---20---8

5º Braga---10---3---0---7---17---34---6

6º Valenciano---10---2---0---8---6---26---4

CLASSIFICAÇÃO GERAL ALTO DOURO:

CLUBES-JOGOS-VITÓRIAS-EMPATES-DERROTAS-GM-GS-PONTOS

1º Vila Real---1---1---0---0---3---0---2

2º Mirandela---1---0---0---1---0---3---0

CLASSIFICAÇÃO GERAL DOURO LITORAL:

CLUBES-JOGOS-VITÓRIAS-EMPATES-DERROTAS-GM-GS-PONTOS

1º Salgueiros---10---7---3---0---29---9---17

2º Boavista---10---6---1---3---27---14---13

3º Leixões---10---5---1---4---30---18---11

4º Leça---10---4---0---6---17---19---8

5º Sp. Espinho---10---2---2---6---10---20---6

6º União Desportiva---10---2---1---7---14---39---5

CLASSIFICAÇÃO GERAL BEIRA LITORAL:

CLUBES-JOGOS-VITÓRIAS-EMPATES-DERROTAS-GM-GS-PONTOS

1º Ovarense---10---6---1---3---25---13---13

2º Oliveirense---10---6---1---3---22---12---13

3º U. Coimbra---10---6---0---4---29---13---12

4º Beira-Mar---10---5---0---5---22---27---10

5º Sp. Pombal---10---4---1---5---17---21---9

6º Naval 1º Maio---10---2---1---7---4---33---5

CLASSIFICAÇÃO GERAL BEIRA ALTA:

CLUBES-JOGOS-VITÓRIAS-EMPATES-DERROTAS-GM-GS-PONTOS

1º U. Viseu---2---1---1---0---8---5---3

2º Mortágua---2---0---1---1---5---8---1

CLASSIFICAÇÃO GERAL BEIRA BAIXA:

CLUBES-JOGOS-VITÓRIAS-EMPATES-DERROTAS-GM-GS-PONTOS

1º Sp. Covilhã---6---6---0---0----31---0---12

2º SL Castelo Branco---6---3---0---3---10---10---6

3º Os Covilhanenses---6---2---0---4---5---14---4

4º Tortozense---6---1---0---5---5---18---2

CLASSIFICAÇÃO GERAL RIBATEJO:

CLUBES-JOGOS-VITÓRIAS-EMPATES-DERROTAS-GM-GS-PONTOS

1º Acd. Santarém---4---4---0---0---14---5---8

2º Scalabitanos---4---2---0---2---7---6---4

3º U. Operária---4---0---0---4---4---14---0

CLASSIFICAÇÃO GERAL EXTREMADURA/SÉRIE 1:

CLUBES-JOGOS-VITÓRIAS-EMPATES-DERROTAS-GM-GS-PONTOS

1º Carcavelinhos---10---7---1---2---30---13---15

2º Luso---10---7---0---3---23---15---14

3º Torreense---10---5---1---4---21---19---11

4º Marvilense---10---4---2---4---17---17---10

5º Marinhense---10---2---2---6---28---30---6

6º Operário---10---1---2---7---14---39---4

CLASSIFICAÇÃO GERAL EXTREMADURA/SÉRIE 2:

CLUBES-JOGOS-VITÓRIAS-EMPATES-DERROTAS-GM-GS-PONTOS

1º U. Lisboa---10---6---3---1---29---9---15

2º V. Setúbal---10---5---4---1---26---12---14

3º Fabril---10---5---3---2---25---12---13

4º Seixal---10---1---4---5---25---16---6

5º Chelas---10---1---4---5---21---29---6

6º Bonfim---10---0---1---9---6---54---1

CLASSIFICAÇÃO GERAL BAIXO ALENTEJO:

CLUBES-JOGOS-VITÓRIAS-EMPATES-DERROTAS-GM-GS-PONTOS

1º Luso Beja---2---1---0---1---6---1---2

2º S. Domingos---2---1---0---1---1---6---2

CLASSIFICAÇÃO GERAL ALTO ALENTEJO:

CLUBES-JOGOS-VITÓRIAS-EMPATES-DERROTAS-GM-GS-PONTOS

1º Juv. Évora---10---7---2---1---31---9---16

2º Estrela de Portalegre---10---5---3---2---23---5---13

3º Portalegrense---10---6---1---3---26---17---13

4º L. Évora---10---5---1---4---23---20---11

5º SL Elvas---10---2---0---8---11---42---4

6º Estremoz---10---1---1---8---14---25---3

CLASSIFICAÇÃO GERAL ALGARVE:

CLUBES-JOGOS-VITÓRIAS-EMPATES-DERROTAS-GM-GS-PONTOS

1º Farense---10---7---1---2---33---7---15

2º Olhanense---10---7---0---3---35---12---14

3º Lusitano VRSA---10---6---0---4---30---17---12

4º Portimonense---10---5---0---5---27---28---10

5º SL Faro---10---2---2---6---18---23---6

6º Silves---10---1---1---8---9---65---3

APURAMENTO DO CAMPEÃO/PROMOÇÃO

1ª Eliminatória

Ovarense - U. Viseu: 10-0

Luso Beja - Juv. Évora: 2-0

Sp. Covilhã - Vila Real: 2-0

Carcavelinhos - U. Lisboa: 1-0

Quartos-de-final

Carcavelinhos - Acd. Santarém: 1-0

V. Guimarães - Ovarense: 5-0

Farense - Luso Beja: 3-0

Salgueiros - Sp. Covilhã: 0-0 / 1-2 (desempate)

Meias-finais

Carcavelinhos - Farense: 3-0

Sp. Covilhã - V. Guimarães: 2-0

Final

Carcavelinhos - Sp. Covilhã: 1-0*

*Carcavelinhos subiu à 1ª Divisão

Taça de Portugal, Época 1938/39

1ª Eliminatória (1ª e 2ª mãos)


Académica - Sp. Covilhã: 5-1 / 3-2

Académico do Porto - Casa Pia: 2-3 / 5-0

Sporting- Farense: 7-0 / 2-1

Belenenses - Vila Real: 3-3 / 9-0

FC Porto - V.Guimarães: 2-3 / 11-1

Carcavelinhos - Barreirense: 2-1 / 2-2

Benfica - Luso Beja: 5-1 / 3-0

Quatos-de-final (1ª e 2ª mãos)

Académica - Académico do Porto: 5-3 / 2-1

Sporting - Belenenses: 3-1 / 1-1

FC Porto - Carcavelinhos: 3-1 / 4-4

Benfica - Nacional: 9-0 / 4-0

Meias-finais (1ª e 2ª mãos)

Académica - Sporting: 0-2 / 5-2

Benfica - FC Porto: 1-6 / 6-0

Final

Académica - Benfica: 4-3


Data: 25 de Junho de 1939

Estádio: Campo das Salésias, em Lisboa

Árbitro: António Palhinhas, de Setúbal

Académica: Tibério Antunes, José Maria Antunes e César Machado, Carlos Portugal, Faustino Duarte e Octaviano Oliveira, Manuel da Costa, Alberto Gomes, Arnaldo Carneiro, António Conceição e Bernardo Pimenta. Treinador: Albano Paulo

Benfica: António Martins, João Correia e Gustavo Teixeira, Gaspar Pinto, Francisco Albino e Francisco Ferreira, Feliciano Barbosa, Rogério Sousa, Espírito Santo, Alexandre Brito e Alfredo Valadas. Treinador: Lipo Hertzka

Golos: Arnaldo Carneiro (2), Alberto Gomes e Manuel da Costa; Rogério Sousa (2) e Alexandre Brito

Uma fotografia para... a eternidade: a equipa da Académica de Coimbra que venceu a primeira edição da Taça de Portugal...

 Clássicos do Futebol Português
(Jogos entre os Três Grandes - FC Porto, Benfica, e Sporting - na Taça de Portugal da época de 1938/39)

1ª  mão das meias-finais

FC Porto - Benfica: 6-1
Data: 11 de junho de 1939
Estádio do Lima (Porto)
Árbitro: Santos Palma (Santarém)

FC Porto: Soares dos Reis, Sacadura, Guilhar, Anjos, Carlos Pereira, Reboredo, Lopes Carneiro, António Santos, Costuras, Pinga, e Carlos Nunes. Treinador: Mihaly Siska

Benfica: Martins, Vieira, Gustavo, Gaspar Pinto, Albino, Francisco Ferreira, Barbosa, Rogério, Espírito Santo, Brito, e Valadas. Treinador: Lipo Hertzka

Golos: 1-0 (Lopes Carneiro, aos 6m), 2-0 (Costuras, aos 16m), 2-1 (Brito, aos 22m), 3-1 (?, aos 46m), 4-1 (Carlos Nunes, aos 62m), 5-1 (Costuras, aos 69m), 6-1 (Carlos Nunes, aos 81m)


 Com uma segunda parte verdadeiramente demolidora o Benfica protagonizou uma reviravolta impensável diante do rival do norte. Num jogo que ficaria para a história dos clássicos os encarnados venceram nas Amoreiras por seis golos sem resposta, isto depois de os portistas terem entrado em campo com a sensação de que estavam ali apenas para cumprir calendário, já que do Porto traziam uma vantagem de cinco golos. Como estavam enganados...

2ª  mão das meias-finais

Benfica - FC Porto: 6-0
Data: 18 de junho de 1939
Campo das Amoreiras (Lisboa)
Árbitro: António Palhinhas (Setúbal)

Benfica: Martins, Correia, Gustavo, Gaspar Pinto, Albino, Francisco Ferreira, Barbosa, Rogério, Espírito Santo, Brito, e Valadas. Treinador: Lipo Hertzka

FC Porto: Soares dos Reis, Sacadura, Guilhar, Anjos, Carlos Pereira, Reboredo, Lopes Carneiro, António Santos, Costuras, Pinga, e Carlos Nunes. Treinador: Mihaly Siska

Golos: 1-0 (Espírito Santo, aos 26m), 2-0 (Valadas, aos 55m), 3-0 (Barbosa, aos 60m), 4-0 (Espírito Santo, aos 65m), 5-0 (Rogério, aos 68m), 6-0 (Valadas, aos 71m)