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sexta-feira, março 13, 2015

Histórias do Planeta da Bola (7)... Os anos dourados (1927-1939) da Taça Mitropa - A primeira montra de estrelas do futebol europeu (parte II)

Fase do jogo entre a Juventus e a Ambrosiana-Inter
na qual estava em discussão um lugar
na Mitropa Cup de 1929
Em 1929 abriram-se as portas da Taça Mitropa para os clubes italianos. Esta foi a novidade mais significativa da terceira edição da competição. O clima de tensão que se vivia na então Jugoslávia fez com que a organização da competição opta-se por não incluir os emblemas daquele país na edição de 29, convidando para o lugar destes os combinados oriundos de Itália. Nação cujo campeonato nacional abraçara neste período o profissionalismo, à semelhança do que ocorrera em Inglaterra na região central da Europa. A inclusão dos clubes transalpinos na Mitropa Cup acrescentou, de certa forma, uma maior elegância e virtuosismo técnico à competição, já que a Itália havia surgido - em finais da década de 20 - na senda internacional como uma poderosa potência futebolística que interpretava o jogo de forma majestosa. Os anos 30 iriam confirmar tudo isto... 
Itália, ou neste caso a federação italiana de futebol, que se viu obrigada a promover um play-off de qualificação para a Taça Mitropa de 1929, já que foram quartos os clubes que mostraram desde logo interesse em participar. O curioso é que nenhum destes quatro emblemas assumia por aqueles dias o papel de gigante do calcio, por outras palavras, nenhum deles era então uma equipa de topo. Esse estatuto pertencia ao Bologna, campeão italiano em 28/29, uma equipa perfeita sob todos os aspetos onde sobressaia, entre outros, Angelo Schiavio, um dos melhores futebolistas transalpinos da década de 30. Bologna que simplesmente declinou o convite para participar na Taça Mitropa, alegadamente por preferir realizar um passeio - digressão - pela América do Sul! Assim, e sem o poderoso Bologna Football Club em jogo, a Juventus, o Inter de Milão - na altura denominado de Ambrosiana-Inter -, o Milan, e o Génova lutaram entre si pelos dois bilhetes de acesso à competição continental. No primeiro encontro, a Juventus só necessitou de 90 minutos para afastar a Ambrosiana-Inter do seu caminho, já que após uma derrota por 1-0 em Turim a equipa de Milão desistiu de discutir a eliminatória num segundo encontro! A última vaga para a Taça Mitropa foi alcançada por... sorteio! Depois de empates (2-2 na primeira mão e 1-1 na segunda) entre si, Milan e Génova foram atirados para as teias de um sorteio, tendo a sorte bafejado esta última equipa.


O guarda-redes italiano Combi trava mais um ataque
do poderoso Slavia de Praga
.
Para além dos clubes italianos mais duas estreias ocorreram na terceira edição da prova, o First Viena, que se apresentava no certame depois de ter vencido a Taça da Áustria, e o Ujpest, que surgia aqui no lugar dos campeões da Mitropa Cup do ano anterior, o Ferencvaros. Ujpest que na primeira mão da ronda inaugural - ocorrida a 22 de junho de 1929 - despachou categoricamente os checoslovacos do Sparta de Praga por 6-1, com a particularidade do avançado István Avar - um romeno naturalizado húngaro - ter feito três golos, ele que haveria de se sagrar o melhor marcador desta edição da competição, com uma dezena de tentos apontados. Na segunda mão, uma vitória por 2-0 do Sparta foi insuficiente para evitar o adeus prematuro dos campeões da primeira edição da Mitropa. Estreia brilhante teve igualmente o First Viena, emblema que espantou a então Europa do futebol ao afastar por um total de 6-1 os campeões húngaros do MTK de Budapeste, sobretudo pela categórica vitória por 4-1 obtida na capital da Hungria, onde sobressaiu o médio criativo Friedrich Gshweidl, autor de dois golos na eliminatória. First Viena que na competição interna durante esse ano de 1929 apresentou um impressionante registo em termos ofensivos, com 76 golos marcados em 22 encontros realizados. Os eternos vice-campeões da Mitropa Cup - pelo menos até então eram vistos desta forma -, o Rapid de Viena - campeão austríaco em 1929 - derrotou o Génova por um resultado total - no conjunto das duas eliminatórias - de 5-1, enquanto que em Turim o talentoso Slavia de Praga encontrou algumas dificuldades perante uma Juventus onde se destacava na baliza um tal de Giampiero Combi, que hoje em dia repousa na Olimpo dos Deuses do Futebol. 1-0, venceu a Juve, graças a uma soberda exibição de Combi. Uma vitória que no entanto se afigurou demasiado curta com vista a uma viagem tranquila até Praga, a casa do Slavia, que à semelhança do rival Sparta era orientado por um treinador escocês, neste caso Jake Madden, que enquanto jogador defendeu as cores do Dumbarton e do Celtic de Glasgow, além de ter representado a seleção da Escócia em cinco ocasiões, duas delas como capitão de equipa, e que em 1909, após ter encerrado a sua carreira de futebolista, decide partir à aventura para a Checoslováquia, onde, e tal como o seu compatriota John Dick (do Sparta), teve um papel preponderante na dinamização do futebol daquele país da Europa Central. Edificou um temível Slavia, um conjunto que triturava adversários, tanto no plano interno como extreno. Recorrendo aos números, Madden oriuntou o clube de Praga em 169 ocasiões na liga doméstica, tendo obtido 134 triunfos, enquanto que no plano internacional disputou 429 partidas - oficiais e particulares - tendo vencido 304 delas. Impressionante. 
No embate da segunda mão com  a Juventus o herói deu pelo nome de Frantisek Junek, autor de dois dos três tentos que levaram os checoslovacos até às meias-finais.

Jake Madden
A 25 e 28 de agosto teve lugar a primeira mão das meias-finais, sendo que em Viena assistiu-se a um duelo empolgante entre o First e o Slavia de Praga. Aliás, ambas as meias-finais foram disputadas sob o signo do futebol espetáculo. O First Viena dominou amplamente o encontro da capital austríaca, mas uma exibição portentosa de Antónin Puc - autor de dois golos - e do guarda-redes Frantisek Plánicka deu origem a uma vitória mínima (3-2) da equipa da casa. 
Puc que voltou a fazer das suas na segunda mão, realizada em setembro, sendo da sua autoria dois dos quatro golos com que o Slavia derrotou (4-2) com muito esforço um combativo First de Viena. 
Rapid de Viena e Ujpest necessitaram de um terceiro jogo para decidir qual das equipas iria acompanhar o Slavia na grande final. 
A grande estrela deste confronto, sobretudo no play-off de desempate, foi o goleador István Avar, autor de um hattrick que colocou os estreantes do Ujpest no jogo decisivo. Num breve registo biográfico sobre uma das estrelas mais brilhantes - senão mesmo a mais cintilante - da terceira edição da Taça Mitropa, é de sublinhar István Avar nasceu em Arad, na Roménia, a 28 de maio de 1905, tendo representado a seleção romena em duas ocasiões entre 1926 e 1927. A sua veia goleadora chamou à atenção das grandes equipas do futebol continental de então, tendo em 1928 assinado um contrato profissional com o Ujpest, emblema que representou ao longo de seis épocas. Com este clube atuou em centena e meia de jogos, tendo marcado 161 golos. Naturalizou-se húngaro, tendo atuado em 21 ocasiões pela seleção magiar entre 1929 e 1935, tendo nesse período apontado um total de 24 golos com a camisola nacional húngara.

István Avar, o goleador
da edição de 1929
da Taça Mitropa,
com 10 golos

A 13 de novembro de 1929 o Estádio Hungária Korut acolheu 18.000 pessoas que começaram por presenciar uma primeira parte equilibrada, conforme traduz a igualdade a uma bola no marcador ao intervalo. Porém, no segundo tempo uma exibição avassaladora da equipa da casa aniquilou por completo os jogadores do Slavia. Com quatro golos o Ujpest construiu uma robusta vitória 5-1, resultado que lhe dava sérias hipóteses de levantar o troféu. Ao nível particular este encontro fica marcado pela soberba performance do defesa húngaro Ferenc Borsanyi. Ele, que havia sido igualmente uma peça fundamental no play-off de desempate ante o Rapid de Viena. A 16 de novembro o Estádio Letna, em Praga, recebeu o jogo da segunda mão, e tal como lhe era pedido o Slavia entrou a todo o gás na tentativa de anular a pesada desvantagem que trazia da Hungria. Aos 28 minutos Junek abriu o marcador para os da casa, que no início do segundo tempo iriam aumentar a vantagem com um golo de Josef Kratochvil, na transformação de uma grande penalidade, golo este que fazia renascer a esperança entre os checoslovacos, que precisavam agora de apenas dois golos para empatar a final e quem sabe levar a decisão para um terceiro encontro. Porém, e mais uma vez, a estrela do goleador da terceira edição da Mitropa Cup, István Avar, iria voltar a brilhar. Antes de Avar dar nas vistas Gábor Szábo reduziu aos 84 minutos a desvantagem dos húngaros nesta partida, sendo que dois minutos depois Avar colocou de vez um ponto final nas aspirações do conjunto checoslovaco em erguer a taça. 2-2, o resultado final, um empate com sabor a vitória para o Ujpest, que assim sucedia aos compatriotas do Ferencvaros como campeão daquela que era já a competição internacional de clubes mais popular do Velho Continente.

Números e nomes:

Quartos-de-final (1ª e 2ª mãos)

Ujpest (Hungria) - Sparta Praga (Checoslováquia): 6-1/0-2

MTK Budapeste (Hungria) - First Vienna (Áustria): 1-4 /1-2

Rapid Viena (Áustria) - Génova (Itália): 5-1/0-0

Juventus (Itália) - Slavia Praga (Checoslováquia): 1-0/0-3

Meias-finais (1ª e 2ª mãos)

First Vienna (Áustria) - Slavia Praga (Checoslováquia): 3-2/2-4

Ujpest (Hungria) - Rapid Viena (Áustria): 2-1/2-3/3-1 (desempate)

Final (1ª mão)

Ujpest (Hungria) - Slavia Praga (Checoslováquia): 5-1

Data: 3 de novembro de 1929
Estádio: Hungária Korut (Hungria)
Árbitro: Eugen Braun (Áustria)

Ujpest: János Aknai, Károly Kovágó, Jozsef Fogl (c), Ferenc Borsanyi, János Koves, János Víg-Wilhelm, Albert Strock, István Avar, István Meszáros, Illés Spitz, e Gábor Szábo. Treinador: Lajos Bányai.

Slavia Praga: Frantisek Plánicka, Ladislav Zenisek, Antonín Novák, Antonín Vodicka, Josef Pleticha (c), Karel Cipera, Frantisek Junek, Bohumil Joska, Frantisek Svoboda, Antonín Puc, e Josef Kratochvil. Treinador: Jake Madden.

Golos: 1-0 (Spitz, aos 42m), 1-1 (Puc, aos 44m), 2-1 (Avar, aos 60m), 3-1 (Strock, aos 67m), 4-1 (Szábo, aos 69m), 5-1 (Spitz, aos 80m)

Final (2ª mão)

Slavia Praga (Checoslováquia) - Ujpest (Hungria): 2-2

Data: 17 de novembro de 1929
Estádio: Letna, em Praga (Checoslováquia)
Árbitro: Eugen Braun (Áustria)

Slavia Praga: Frantisek Plánicka, Ladislav Zenisek, Antonín Novák, Antonín Vodicka, Josef Pleticha (c), Karel Cipera, Frantisek Junek, Bohumil Joska, Frantisek Svoboda, Antonín Puc, e Josef Kratochvil. Treinador: Jake Madden.

Ujpest: János Aknai, Károly Kovágó, Jozsef Fogl (c), Ferenc Borsanyi, János Koves, János Víg-Wilhelm, Albert Strock, István Avar, István Meszáros, Illés Spitz, e Gábor Szábo. Treinador: Lajos Bányai.

Golos: 1-0 (Junek, aos 28m), 2-0 (Kratochvil, aos 57m), 2-1 (Szábo, aos 84m), 2-2 (Avar, aos 86m). 

Os onze heróis que em 1929 conquistaram o título mais pomposo da história dos húngaros do Ujpest

1930: Taça Mitropa viaja finalmente para a nação que a idealizou, no ano em que uma estrela italiana começou a brilhar no céu internacional


Giuseppe Meazza, uma das maiores estrelas
do futebol internacional da década de 30
foi a grande estrela da quarta
edição da Mitropa Cup




Finalistas vencidos nas duas primeiras edições, semi-finalistas em 1929, eis à quarta tentativa o Rapid de Viena viu finalmente a luz ao fundo do túnel, o mesmo será dizer, venceu a Mitropa, levando desta forma o troféu pela primeira vez para o país que sonhou uma competição onde começavam a despontar estrelas em catadupa. Em 1930 surge aquela que é considerada como a primeira lenda do futebol italiano, o primeiro grande ídolo dos tiffosi, de seu nome Giuseppe Meazza. Nascido em Milão, a 23 de agosto de 1910, Peppino, como carinhosamente era tratado por colegas e adeptos, cedo mostrou os seus deslumbrantes atributos de futebolista, tendo com apenas 17 anos conquistado a titularidade no Ambrosiana-Inter, clube cuja camisola envergou em mais de 400 ocasiões - 408 para sermos mais precisos, distribuídas entre jogos oficiais e particulares - ao longo de 17 anos, tendo marcado 287 tentos. Em 1940 como que apunhala o clube que o revelou ao Mundo após assinar pelo vizinho e eterno inimigo, o Milan, onde esteve durante duas temporadas, Jogou ainda pela Juventus, Varese, e Atalanta. É um dos melhores marcadores de todos os tempos da Serie A - o principal campeonato transalpino - com 367 golos apontados em 216 partidas realizadas. Pela Squadra Azzurra atuou em 53 jogos, tendo feito balançar as redes adversárias por 33 ocasiões. Entre as suas numerosas conquistas destacam-se os dois títulos de campeão do Mundo - obtidos em 1934 e 1938 - com a nazionale italiana. Com 20 anos Peppino Meazza fez então a sua primeira aparição na montra do futebol continental ao nível de clubes, fazendo-o na qualidade de principal figura da Ambrosiana-Inter, emblema que surgia nesta edição da Taça Mitropa na qualidade de campeão de Itália. 
Ditou o sorteio que logo na primeira ronda os italianos defrontassem os campeões em título, o Ujpest, duelo que haveria de ter contornos históricos.

A equipa da Ambrosiana-Inter (de Milão) que disputou a edição número quatro da Mitropa Cup
Quatro jogos foram necessários para decidir quem seguia para as meias-finais, ou a Ambrosiana-Inter, ou o Ujpest. A primeira mão, em Budapeste, ficou marcada por uma exibição memorável de Meazza, astro que apontou dois dos quatro golos com que a sua equipa deixou a capital húngara. 4-2 o resultado final de um encontro épico. Igualmente bem jogada foi a partida da segunda mão, em Milão, com a vingança do Ujpest servida em bandeja igual à que os italianos haviam oferecido ao seu rival em Budapeste, ou seja, 4-2 a favor dos campeões da Mitropa. Em jeito de nota de rodapé será importante dizer que em 1930 a organização da competição continental decidiu que o vencedor da Mitropa Cup teria sempre lugar assegurado na edição seguinte, independentemente de vencer ou não o seu campeonato nacional. Voltando ao tira-teimas entre Ambrosiana-Inter e Ujpest para recordar que o primeiro jogo de desempate foi pautado pela postura extremamente defensiva que ambas as equipas apresentaram no terreno. Um encontro onde as principais estrelas dos dois combinados, István Avar do lado húngaro, e Meazza do lado italiano, foram totalmente neutralizadas pelas rígidas defesas. 1-1 foi o resultado final que obrigou assim a um novo play-off. Este quarto duelo primou pela emoção, espetáculo, e fartura de golos. Os italianos tiveram uma entrada demolidora, chegando com relativa facilidade ao 3-0, graças a dois golos de Meazza e um de Leopoldo Conti. Porém, do outro lado da barricada não estava uma equipa qualquer, e num abrir e fechar de olhos o Ujpest chegou à igualdade, muito devido à inspiração de Avar, autor de dois tentos. Os húngaros estavam muito melhor sobre o retângulo de jogo, mas no futebol nem sempre vence quem joga melhor e foi precisamente isto o que aconteceu. A Ambrosiana-Inter, quase sem querer, e numa altura de jogo em que era dominada pelo seu oponente, chegou ao 5-3, arrumando - finalmente - a questão a seu favor.

O belga Raymond Braine semeia o perigo
na sequência de mais um ataque do Sparta
Destino contrário ao do emblema de Milão teve a outra equipa transalpina em prova, o Génova, que depois de um empate a um golo na primeira mão, em casa, foi goleada em território austríaco pelos futuros campeões, o Rapid de Viena. O azar bateu à porta dos genoveses ao minuto 40 da partida da segunda mão, altura em que o seu principal esteio, o seu notável guarda-redes Manlio Bacigalupo, sofre uma grave lesão que o obriga a abandonar o terreno, sendo substituído por um jogador de campo - na altura as substituições estavam ainda muito longe de ser permitidas. O Rapid aproveitou a inexperiência do guardião improvisado para chegar à goleada, com realce para o bis de Weselik e Wessely. Giuseppe Meazza não foi a única estrela a emergir nesta quarta edição da Mitropa. No Sparta de Praga orientado por John Dick aparecia um prodígio belga, avançado, de nome Raymond Braine, um verdadeiro terror para os guarda-redes oponentes. Natural de Antuérpia, Braine vestiu durante seis épocas a camisola do clube checoslovaco, assumindo-se desde logo como uma das suas principais estrelas a par de Karel "Kada" Pasek, ou Josef Silny. O belga realizou um total de 106 encontros pelo emblema de Praga, tendo apontado 128 golos. Um deles ocorreu precisamente no embate da primeira mão dos quartos-de-final da Mitropa Cup de 1930, ante o First Viena, o tento que selou um magro mas justo triunfo (2-1) dos vice-campeões da Checoslováquia. Na segunda mão, em Viena, nova vitória do Sparta de Ferro, desta feita por 3-2, sendo que com apenas 20 minutos de jogo os checoslovacos já lideravam o marcador por 3-1. À festa do apuramento para as meias-finais os adeptos do Sparta rejubilaram com o afastamento do seu grande rival, o Slavia, que caiu aos pés do Ferencvaros após uma eliminatória muito equilibrada.

Ambrosiana-Inter coloca anúncio em jornal para recrutar um guarda-redes para o duelo das meias-finais!


Pietro Miglio, o guarda-redes
que a Ambrosiana-Inter contratou
através de um anúncio de jornal!
Facto insólito ocorreu numa das meias-finais da prova. Poucos dias antes da partida da segunda mão com o Sparta de Praga a turma da Ambrosiana-Inter vê-se privada dos seus dois guarda-redes, Smerzi e Degani, ambos a contas com graves lesões. Os nerazzurri viram-se então forçados a colocar um anúncio num jornal desportivo (!) com a finalidade de encontrar um keeper para o que restava da temporada. Não se sabe ao certo quantos candidatos apareceram, mas o que se sabe é que a escolha recaiu em Pietro Miglio, que atuava numa equipa amadora de Turim, o Crocetta. A inexperiência do Miglio na alta roda internacional - e profissional - acabaria por deixar marcas na eliminatória, já que depois de uma igualdade a dois golos na primeira mão, em Milão, o descalabro ocorreu em Praga, onde o Sparta além de dominar amplamente o encontro graças a soberbas exibições de Braine e Kada humilhou os italianos com uma goleada de 6-1. À Ambrosiana-Inter restou a consolação de ver a sua estrela-mor, Giuseppe Meazza, ter alcançado o título de goleador da Taça Mitropa de 1930, com sete remates certeiros. A outra meia-final foi uma repetição do jogo decisivo da segunda edição da prova, entre Ferencvaros e o Rapid de Viena, tendo na altura os húngaros sido mais felizes. Dois anos demorou a vingança dos austríacos, que no encontro da primeira mão beneficiaram do facto de terem pela frente um adversário que apesar de ter mais posse de bola cometeu demasiados erros no capítulo da finalização. Resultado: 5-1 a favor dos vienenses, com o destaque individual a recair sobre Matthias Kaburek, autor de um hattrick, e com isto a final estava ali ao virar da esquina. Na segunda mão, em Budapeste,a defesa do Rapid ditou leis, apresentando-se praticamente intransponível, e dizemos praticamente porque somente por uma ocasião o Ferencvaros conseguiu bater o guardião Bugala. 

À terceira tentativa o Rapid ergueu finalmente a Taça Mitropa


Karl Rappan
O dinamarquês Sophus Hansen foi o árbitro escolhido pela organização para dirigir os dois encontros da final da Mitropa Cup de 1930. No dia 2 de novembro o Estádio Letna acolhe o primeiro encontro, o qual ficou marcado pela excelente exibição do guardião vienense, Josef Bugala, e pela eficácia do contra-ataque da sua equipa, que em duas ocasiões fez balançar as redes do guardião checoslovaco Belik na sequência de jogadas de contra-golpe. O Rapid de Viena estava assim bem lançado para finalmente colocar as mãos numa taça que lhe havia escapado nas duas primeiras edições, sendo que no encontro da segunda mão entrou em campo com uma postura distinta da que foi patenteada em Praga. Lançados ao ataque desde o apito inicial de Hansen, os jogadores do Rapid cedo chegaram à vantagem, por intermédio de Kaburek, logo ao minuto sete. No esteio da defesa vienense militava um homem que um par de décadas mais tarde haveria de atingir o patamar das celebridades futebolísticas, já que é da sua autoria a conhecida tática do... ferrolho, a(s) base(s) do catenaccio que os italianos tornaram célebre a partir dos anos 60. Karl Rappan era o seu nome. No Hohe Warte Stadium de Viena não brilhou o génio do belga Raymond Braine mas em seu lugar apareceu o inspirado Josef Kostalek, que nos espaço de três minutos (entre os minutos 25 e 27) apontou dois golos que fizeram tremer os austríacos. Tremedeira que na segunda parte iria ter um fim, quando ao minuto 67 Smistik fez o 2-2 que praticamente garantiu o título, de nada valendo um terceiro golo de Kostalek. 
Depois de duas finais perdidas o Rapid de Viena era por fim campeão da Mitropa, ou na realidade daquela altura... campeão da Europa.

Números e nomes:

Quartos-de-final (1ª e ª mãos) 

Slavia Praga (Checoslováquia) – Ferencvaros (Hungria): 2-2/0-1 

Sparta Praga (Checoslováquia) - First Viena (Áustria): 2-1/3-2

Génova (Itália) - Rapid Viena (Áustria): 1-1/1-6 

Ujpest (Hungria) – Ambrosiana-Inter (Itália): 2-4/4-2/1-1/3-5 (desempate)

Meias-finais (1ª e 2ª mãos) 

Ambrosiana-Inter (Itália) - Sparta Praga (Checoslováquia): 2-2/1-6 

Rapid Viena (Áustria) - Ferencvaros (Hungria): 5-1/0-1

Final (1ª mão)

Sparta Praga (Checoslováquia) - Rapid Viena (Áustria): 0-2

Data: 2 de novembro de 1930 

Estádio: Letna, em Praga (Checoslováquia)

Árbitro: Sophus Hansen (Dinamarca)

Sparta Praga: Ladislav Belik, Jaroslav Brugr, Antonín Hojer, Madelon, Kada (c), Erich Srbek, Adolf Patek, Josef Kostalek, Raymond Braine, Josef Silný, e Karel Hejma. Treinador: John Dick. 

Rapid Viena: Josef Bugala, Roman Schramseis, Leopold Czejka, Karl Rappan, Josef Smistik, Johann Vana, Willibald Kirbes, Franz Weselik, Matthias Kaburek, Johann Luef, e Ferdinand Wesely (c). Treinador: Edi Bauer.

Golos: 0-1 (Luef, aos 9m), 0-2 (Wesely, aos 57m)

Final (2ª mão)

Rapid Viena (Áustria) - Sparta Praga (Checoslováquia): 2-3

Data: 11 de novembro de 1930

Estádio: Hohe Warte, em Viena (Áustria)

Árbitro: Sophus Hansen (Dinamarca)

Rapid Viena: Josef Bugala, Roman Schramseis, Leopold Czejka, Karl Rappan, Josef Smistik, Johann Vana, Willibald Kirbes, Franz Weselik, Matthias Kaburek, Johann Luef, e Ferdinand Wesely (c). Treinador: Edi Bauer.

Sparta Praga: Ladislav Belik, Jaroslav Brugr, Josef Ctyroky, Madelon, Kada (c), Erich Srbek, Karel Podrazil, Josef Kostalek, Raymond Braine, Josef Silný, e Karel Hejma. Treinador: John Dick. 

Golos: 1-0 (Kaburek, aos 7m), 1-1 (Kostalek, aos 25m), 1-2 (Kostalek, aos 27m), 2-2 (Smistik, aos 67), 2-3 (Kostalek, aos 87m).

À terceira tentativa (numa final) o Rapid de Viena conseguiu levar o troféu para casa

terça-feira, março 10, 2015

Histórias do Planeta da Bola (6)... Os anos dourados (1927-1939) da Taça Mitropa - A primeira montra de estrelas do futebol europeu (parte I)

A Taça Mitropa
Atualmente, a Champions League (da UEFA) é sem margem de dúvida o palco de sonho que qualquer futebolista deseja pisar. É a grande montra do futebol planetário, onde se passeiam com glamour os maiores artistas do belo jogo. Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar, Ibrahimovic, Suárez, Pirlo, Bale, Casillas, Benzema, Gotze, Neuer, ou Hazard são apenas algumas das mega estrelas que hoje desfilam na passerelle da prova rainha da UEFA. Antes deles muitas outras lendas do jogo exibiram a sua classe numa prova que em 2016 irá cumprir 60 anos de vida, e onde na qual estão escritos centenas de capítulos dourados da história da modalidade. Como alguém diz: o melhor futebol do Mundo está ali, na Champions League (ou Liga dos Campeões, na língua de Camões). Está, e arriscamos dizer que... dificilmente algum dia irá deixar de estar. O sonho teve início nos anos 50, coincidente com o nascimento da UEFA (1954), altura em que um leque de personalidades ligadas ao futebol de então idealizaram, ou sonharam, esta será mesmo a melhor definição para o que então se passou, reunir os melhores clubes - e consequentemente os melhores futebolistas - do Velho Continente em torno de uma competição. Entre esses sonhadores encontravam-se os ilustres Don Santiago Bernabéu - então presidente do Real Madrid - e Henri Delaunay, jornalista francês por muitos considerado o verdadeiro pai das competições europeias, quer de clubes, quer de seleções. Assim, na época de 1955/56 arrancava oficialmente aquela que com o passar dos anos se tornou na prova mais importante de clubes do planeta da bola, a Taça dos Clubes Campeões Europeus, hoje denominada de Liga dos Campeões Europeus. 
Este foi contudo um sonho recalcado (!), um sonho inspirado num outro sonho tornado realidade um par de décadas antes quando no leste da Europa se disputou a primeira competição europeia de clubes da história, que agregou a si algumas das melhores equipas e atletas daquele tempo. Eis a Taça Mitropa, a precursora das competições europeias chanceladas pela UEFA. Numa (longa) viagem ao passado vamos (tentar) desfiar as memórias daquela que foi - sem dúvida - a primeira (grande) Liga dos Campeões da história. 

Hugo Meisl: O pai das competições europeias de clubes e de seleções?


Hugo Meisl, mais do que um dos melhores
mestres da tática de todos os tempos,
ele foi o mentor das competições continentais
As opiniões dividem-se quando se discute sobre qual a grande potência do futebol europeu dos anos 20 e 30 do século passado. Para muitos - sobretudo para os britânicos - os melhores intérpretes dos desporto rei eram os ingleses, eles foram os (re)criadores do futebol moderno, criaram as leis, as (primeiras) táticas, e também as primeiras lendas. Contudo, como em tudo na vida, por vezes o aprendiz supera o mestre, e na voz de muitos historiadores do belo jogo o melhor futebol daquelas décadas era jogado na região do (rio) Danúbio. Três nações interpretavam a modalidade com elegância e mestria ímpares. Áustria, Checoslováquia, e Hungria, eram na época encaradas como as nações onde o jogo tocava o céu em termos de perfeição. Mas qual delas o fazia melhor? Qual dos nobres emblemas destes três países era capaz de se sentar no trono do futebol continental? Poderá, eventualmente, ter sido esta a questão que passou pela cabeça de Hugo Meisl,  um cidadão nascido em 1881 na antiga região da Boêmia - hoje território pertencente à República Checa - que nos inícios do século passado se destacou como um dos mais prestigiados estudiosos do jogo. Oriundo de uma família de comerciantes judeus, Meisl cedo deixou o seu lar para prosseguir os seus estudos em Viena, a capital austríaca, onde a sua paixão pelo futebol cedo começou a ganhar vincados contornos. A sua ligação ao jogo começou pela prática do mesmo, envergando - desde que em finais do século XIX assentou arraiais na capital da Áustria - a camisola do Vienna Cricket and Football Club. Fê-lo até 1905, altura em que se tornou árbitro, e posteriormente dirigente da Federação Austríaca de Futebol. Era pois uma figura multifacetada dentro do meio futebolístico daquele país. Mas seria na qualidade de treinador que o seu nome iria atingir o Olimpo dos Deuses. Corria o ano de 1912 quando Meisl assumiu as funções de selecionador da equipa nacional da Áustria, começando a edificar a partir de então não só a melhor seleção de todos os tempos daquele país, como uma das mais brilhantes da história centenária da modalidade. Seleção essa que encantou o Mundo nos anos 20 e 30, e que ficou eternizada como o Wunderteam (a equipa maravilha). Além de um notável estudioso e revolucionário - no bom sentido - mestre da tática, vulgo, treinador, Hugo Meisl era um visionário, característica que aplicou com mestria quer na evolução tática que implementou na sua seleção, quer na criação de provas que fomentassem a competição entre seleções e clubes. 


Meisl (à direita) posa
com a Mitropa Cup
Nesse sentido, em 1927 Meisl viu não uma, mas duas das suas ideias pioneiras atingirem o patamar da realidade. Assim, era dado o pontapé de saída da Taça Internacional e da Taça Mitropa. A primeira - cuja história já foi evocada pelo Museu Virtual do Futebol numa anterior viagem ao passado - destinava-se às seleções da Europa Central, ao passo que a segunda foi equacionada para os clubes oriundos da citada região continental - sim, porque os mestres ingleses continuavam, teimosamente, fechados na sua concha, orgulhosamente sós, e convencidos de que eram os melhores do Mundo no que a futebol dizia respeito, não precisando de provar essa teórica supremacia no campo de batalha, isto é, nos retângulos de jogo. Como facilmente podemos vislumbrar, quer a Taça Internacional quer a Taça Mitropa foram, respetivamente, as sementes dos atuais Campeonato da Europa e Liga dos Campeões da UEFA. Mas será que Meisl foi mesmo pai das eurotaças? As dúvidas são poucas em torno desta questão, já que grande parte dos historiadores sustenta que ele foi o mentor das competições continentais, tendo a UEFA - assim que nasceu - recriado a(s) ideia(s) da lendária figura que viria a falecer em Viena no ano de 1937, mas... há quem pense o contrário, ou seja, tal como Henri Delaunay plagiou, por assim dizer, a ideia de Meisl, também este se terá inspirado na Chalange Cup, certame criado pelo inglês John Gramlick que entre 1897 e 1911 foi disputado por clubes do Império Austro-Húngaro, para erguer tanto a Mitropa Cup como a Coupe Internationale Européene (o nome de batismo da Taça Internacional). Mentor ou não das provas continentais, o que é certo é que Hugo Meisl teve um papel fundamental na dinamização da ligação competitiva entre clubes e nações do Velho Continente

1927: A primeira edição da Taça Mitropa


Johann Horvath, uma das principais
figuras do Rapid Viena e da seleção
austríaca nas décadas de 20 e 30
A ideia de Hugo Meisl era simples: colocar frente a frente as melhores equipas dos campeonatos nacionais (profissionais) da Europa Central, para entre si disputar o título continental, isto é, é Taça Mitropa, cuja designação faz precisamente alusão aos países daquele eixo do continente, por outras palavras, Mitropa é uma contração da expressão alemã Mitteleuropa, que traduzido para português significa Europa Central. As linhas gerais da nova competição foram traçadas numa reunião realizada em Veneza a 17 de julho de 1927. À competição podiam aderir somente os países que tivessem instituído o profissionalismo nos seus respetivos campeonatos. Depois da Inglaterra - que continuava renitente em abraçar os restantes vizinhos continentais no sentido de organizar e participar em provas internacionais oficiais - o ter feito, a Áustria foi o segundo país europeu a criar uma liga profissional, facto ocorrido em 1924. A esta seguiu-se a Hungria (1925), a Checoslováquia (1926) e a Jugoslávia (1927), precisamente os quatro países que participaram do pontapé de saída da primeira edição da Mitropa Cup. Idealizada num sistema de eliminatórias a duas mãos, com um jogo em casa e outro fora, a competição foi integrada pelos campeões e vice-campeões nacionais dos quatro países envolvidos. 14 de agosto de 1927 é pois um dia histórico para a... histórica prova, com a ocorrência dos 1ª eliminatória - equivalente aos quartos-de-final. Viena, Praga, e Belgrado foram as cidades que serviram de palco para os primeiros embates de um certame que desde cedo deixou bem vincado o poderio do futebol praticado por austríacos e checoslovacos. Na capital austríaca um autêntico vendaval de golos varreu desde logo com os jugoslavos do Hajduk Split da prova, vendaval esse protagonizado pelo lendário conjunto do Rapid de Viena, que nas suas fileiras contava com alguns dos mitos que formaram o Wunderteam de Hugo Meisl na década seguinte, casos de Pepi Smistik, Franz Weselik, ou Johann Horvath. 8-1, o resultado da avalanche austríaca, com destaque para o hattrick de Johann Hoffmann. O futebol austríaco vivia por estes dias indiscutivelmente alguns dos seus melhores dias - embora o melhor ainda estava para acontecer, como iriam comprovar os inícios dos anos 30 - pelo que a viagem a Split para disputar a segunda mão mais não foi do que um passeio para os vienenses, que graças a um novo golo de Hoffmann obtiveram uma nova vitória - esta mais magra, por 1-0 - que garantiu a presença nas meias-finais. 


John Dick
Nem todos os ingleses estavam de costas voltadas para o que se passava no resto da Europa no que a futebol dizia respeito. John Dick, um escocês de berço que enquanto futebolista se notabilizou ao serviço do Arsenal (cuja camisola envergou por mais de 250 ocasiões), e que na sequência de uma digressão do clube londrino pela Europa Central se terá - dizem - deixado encantar pelo futebol que se praticava naquela região, era um desses britânicos cuja mente estava aberta para outros futebóis. Após ter pendurado as chuteiras partiu à aventura para aquelas bandas, começando por treinar o Deutscher, da Boêmia, onde foi campeão. Assentou posteriormente arraiais na Checoslováquia, em 1919, tendo desde logo assumido um papel de destaque na dinamização do futebol naquele país. Assumiu o comando do Sparta de Praga, edificando uma equipa lendária, praticamente imbatível, e que ficou conhecida como o Zelezná Sparta, que na tradução para português significa Sparta de Ferro. Um conjunto forte fisicamente cujo futebol ofensivo esmagou adversários atrás de adversários, sobretudo na competição interna, onde os homens da capital venceram cinco campeonatos consecutivos sob as ordens de Dick. Super potência interna o Sparta mostrou-se igualmente sedutor e poderoso na Mitropa Cup, começando por bater em casa nos quartos-de-final, sem apelo nem agrado, o campeão da Áustria, o Admira de Viena, por 5-1. Entre as figuras maiores do conjunto de John Dick destacava-se Josef Silny - que seria um dos principais responsáveis pela chegada da seleção checoslovaca à final do Campeonato do Mundo de 1934. Na viagem à capital austríaca, para disputar o encontro da segunda mão, uma chuva de golos caiu sobre o relvado do Hohe Warte. 5-3 a favor dos vienenses, resultado que mesmo assim não chegou para afastar os homens de John Dick das meias-finais. Do lado dos checoslovacos um homem voltou a evidenciar a sua veia goleadora nesta eliminatória: Evzen Vesely, autor de dois golos, repetindo assim a receita do encontro da primeira mão, onde havia marcado outros dois tentos. Ele que até nem era titular absoluto deste Zelezná Sparta!


Gyorgy Orth
A outra grande nação futebolística da Europa Central daqueles anos era a Hungria. No entanto, nesta primeira edição da Mitropa Cup os húngaros não se fizeram representar pelo seu melhor conjunto de então, o Ferencvaros, outra máquina de jogar (bom) futebol. O MTK de Budapeste foi o combinado daquele país que melhor desempenho obteve neste arranque da Mitropa, ao alcançar um lugar entre os quatro melhores conjuntos. Na primeira ronda despacharam os vice-campeões da Jugoslávia, o BSK Belgrado, por um total de 8-2 no conjunto da eliminatória (com 4-2 na primeira e 4-0 na segunda), sendo que no plano individual o sublinhado deste embate vai para o húngaro Gyorgy Orth, autor de três dos oito golos do conjunto de Budapeste, figura esta que após ter encerrado a sua brilhante carreira de futebolista (em 1928) enveredou pela vida de treinador, tornando-se então num autêntico globetrotter, saltando de país para país, de continente para continente, acabando os seus dias na cidade do Porto, onde viria a falecer em 1962, numa altura em que orientava a turma do FC Porto.
O derradeiro embate destes quartos-de-final colocou frente a frente os vice-campeões da Hungria e da Checoslováquia, respetivamente o Ujpest e o Slavia de Praga. Neste último emblema despontava aquele que hoje em dia é considerado como um dos melhores guarda-redes de todos os tempos do futebol internacional, de seu nome Frantisek Plánicka. E se este homem fechava - com classe - a sete chaves a baliza, lá na frente Antonin Puc aterrorizava os guardiões contrários com o seu instinto matador. Puc, esse mesmo, o homem que em 1934 assustou o ditador Benito Mussolini após ter colocado a Checoslováquia na frente do marcador na final do Campeonato do Mundo de Itália... ante a Squadra Azzurra. Na edição de estreia da Mitropa Cup Antonin Puc iria brilhar sobretudo no encontro da segunda mão, na Hungria, quando apontou os dois golos da sua equipa que valeram um empate a duas bolas, e o consequente carimbo de acesso às meias-finais.

Equilíbrio foi nota dominante nas meias-finais


Exibição de gala do guardião Plánicka
não chegou para apurar o Slavia de Praga para a final
A rivalidade existente entre austríacos, húngaros, e checoslovacos subiu de tom nas meias-finais da competição, fase esta onde ficou evidente a dificuldade em decifrar qual das três nações era a mais forte no contexto futebolístico da época, tal o equilíbrio que se verificou nas meias-finais. Aqui podemos até falar na estrelinha da sorte, que acabou por se posicionar ao lado dos futuros campeões, o Sparta de Praga, que depois dois empates (2-2 e 0-0) ante o MTK de Budapeste foram dispensados de discutir um terceiro encontro - de desempate - devido a uma inscrição irregular de um atleta húngaro, neste caso o extremo-direito Kálmán Konrad, que pelo facto de nessa temporada ter aliando pelos norte-americanos dos Brooklyn Wanderers estava impedido de representar outro clube nessa época. O jogador e o clube não deram ouvidos à lei, e no terceiro jogo lá estava Konrad do lado do MTK, ato que iria custar caro ao combinado de Budapeste, já que a organização decidiu anular o encontro e qualificar diretamente o Sparta para a final.
No outro jogo o Rapid de Viena teve de suar para ultrapassar uma autêntica fortaleza chamada... Frantisek Plánicka. O célebre guardião nascido em Praga defendeu tudo o que havia para defender nas duas partidas da eliminatória. Ou quase tudo. Sobretudo na primeira mão, na capital da então Checoslováquia, onde as suas espetaculares defesas garantiram um empate a duas bolas. Bem bom, tendo em conta a verdadeira avalanche ofensiva que os austríacos edificaram ao longo do encontro junto da baliza checoslovaca. Na segunda volta uma nova exibição de gala de Plánicka não evitou o adeus do Slavia à competição. 2-1 a favor do Rapid que desta forma se juntava ao Sparta na primeira final da Mitropa Cup.

Campeão encontrado na... primeira mão


Josef Silný, o melhor marcador
da primeira Mitropa Cup
No dia 30 de outubro de 1927 o Estádio Letna, em Praga, foi pequeno demais para acolher os 25.000 espectadores que ali se deslocaram para assistir ao embate entre Sparta de Praga e Rapid de Viena. A turma da casa não poderia ter tido melhor início de jogo, já que logo na primeira jogada o capitão Karel Pesek, conhecido entre os colegas por Kada, abriu o marcador. Ambas as equipas entraram em campo algo nervosas, desconcentradas na sua zona defensiva, de tal maneira que aos 15 minutos o marcador já tinha funcionado por três vezes, duas para o Sparta e uma para o Rapid. Atuando ambos num peculiar esquema tático de 2-3-5 os dois conjuntos ainda apontariam mais dois golos até ao descanso. 3-2 era o resultado ao intervalo. Na etapa complementar o jogo foi amplamente dominado pelos homens de John Dick, cujo futebol ofensivo e tremendamente eficaz causaria estragos na defensiva austríaca em mais três ocasiões, com destaque para a pontaria letal de Josef Silný, autor de dois golos, ele que se iria consagrar como o melhor marcador desta primeira edição da Mitropa Cup, com cinco golos. 6-2, o score final, e o campeão estava praticamente encontrado, já que o Rapid de Viena precisava de um verdadeiro milagre para inverter o rumo dos acontecimentos no encontro de volta, o qual teria lugar a 13 de novembro. Pressentindo que o grande Sparta dos anos 20 e 30 estava prestes a entrar para a história do futebol continental, os adeptos do clube invadiram o relvado no final da partida para carregar em ombros os... futuros campeões. E de facto confirmou-se que a tarefa do Rapid em dar a volta à eliminatória era uma tarefa muito complicada. A turma vienense até deu alguma esperança aos adeptos presentes no Hohe Warte Stadium, quando ao minuto cinco Franz Weselik colocou a sua equipa em vantagem. Porém, só no segundo tempo é que o Rapid voltaria a balançar as redes dos checoslovacos, graças a um golo de Luef. A esperança voltava assim a renascer para os comandados de Edi Bauer, que neste segundo encontro atuou como jogador-treinador. Porém, o goleador da equipa de Praga, Silný, voltou a fazer das suas, e aos 81 minutos acabou de vez com as dúvidas quanto ao campeão da competição, fazendo o 1-2 final. O Sparta de Ferro era desta forma coroado como o primeiro rei do futebol continental.
A acesa rivalidade entre países - com cenas de violência em grande parte dos jogos - e a falta de fair-play foram aspetos amplamente notados ao longo desta primeira edição. A provar isso o facto de na cerimónia da entrega da taça de campeão o capitão do Sparta, Kada, ter sido apedrejado pelos adeptos do Rapid (!) e não fosse a rápida intervenção dos agentes da autoridade ali presentes e os recém consagrados vencedores da Mitropa Cup dificilmente teriam saído com vida do estádio Hohe Warte.

Números e nomes:

Quartos-de-final (1ª e 2ª mãos) 

MTK Budapeste (Hungria) – BSK Belgrado (Jugoslávia): 4-2/4-0 

Rapid Viena (Áustria) - Hajduk Split (Jugoslávia): 8-1/1-0

Sparta Praga (Checoslováquia) - Admira Viena (Áustria): 5-1/3-5

Slavia Praga (Checoslováquia) – Ujpest (Hungria): 4-0/2-2 

Meias-finais (1ª e 2ª mãos)  

Slavia Praha (Checoslováquia) - Rapid Viena (Áustria): 2-2/1-2

MTK Budapeste (Hungria) - Sparta Praga (Checoslováquia): 2-2/0-0 (Sparta avança para a final pelo facto de o MTK ter sido castigado por ter alinhado com um jogador impedido de atuar no terceiro jogo) 
Goleado em Praga na primeira mão da final o Rapid de Viena praticamente disse adeus
à possibilidade de colocar a mão num troféu que haveria de conquistar em 1930
Final (1ª mão)
Sparta Praga (Checoslováquia) - Rapid Viena (Áustria). 6-2
Data: 30 de outubro de 1927
Estádio: Letna, em Praga (Checoslováquia)
Árbitro: Raphaël Van Praag (Bélgica)
Sparta Praga: František Hochmann, Jaroslav Burgr, Antonín Perner, František Kolenatý, Káda (c), Ferdinand Hajný, Adolf Patek, Josef Šíma, Josef Miclík, Josef Silný, e Josef Horejs.Treinador: John Dick.
Rapid Viena: Walter Feigl, Otto Jellinek, Leopold Czejka, Josef Madlmayer, Josef Smistik, Leopold Nitsch (c), Karl Wondrak, Franz Weselik, Richard Kuthan, Johann Horvath, e Ferdinand Wesely. Treinador: Edi Bauer.
Golos: 1-0 (Kada, ao 1m), 2-0 (Šíma, aos 14m) 2-1 (Weselik, aos 15m), 3-1 (Silný, aos 33m), 3-2 (Wesely, aos 34m), 4-2 (Patek, aos 62m), 5-2 (Silný, aos 76m) 6-2 (Patek, aos 78m).
Final (2ª mão)
Rapid Viena (Áustria) - Sparta Praga (Checoslováquia): 2-1
Data: 13 de novembro de 1927
Estádio: Hohe Warte, em Viena (Áustria)
Árbitro: Willem Eymers (Holanda).
Rapid Viena: Walter Feigl, Roman Schramseis, Leopold Nitsch (c), Johann Richter, Josef Smistik, Josef Madlmayer, Edi Bauer, Johann Horvath, Franz Weselik, Johann Luef, e Ferdinand Wesely. Treinador: Edi Bauer.
Sparta: Praga: František Hochmann, Jaroslav Burgr, Antonín Perner, František Kolenatý, Káda (c), Ferdinand Hajný, Adolf Patek, Josef Šíma, Josef Miclík, Josef Silný, e Josef Horejs. Treinador: John Dick. 
Golos: 1-0 (Weselik, aos 5m), 2-0 (Luef, aos 55m), 2-1 (Silný, aos 81m).
O temível Sparta de Ferro, equipa construída pelo mestre da tática escocês John Dick, que em 1927
venceu a primeira edição da Mitropa Cup

1928: Judeus de Budapeste entram na história do futebol 
Ferencvaros em ação durante a sua caminhada
rumo à glória na segunda edição da Taça Mitropa
O sucesso da primeira edição da Mitropa Cup confirmou-se no ano seguinte, quando num formato idêntico oito equipas lutaram pelo ceptro. No entanto, algumas supresas saltaram à vista no quadro dos quartos-de-final. Desde logo, a ausência do campeão em título, o Sparta de Praga, conjunto que devido à má campanha interna - ficou em terceiro lugar do seu campeonato nacional - viu-se impedido de defender a taça. Outra novidade foi a estreia - na competição - dos húngaros do Ferencvaros, equipa de Budapeste apoiada pela comunidade judaíca daquele país. Ferencvaros das décadas de 20 e 30 que se pode considerar como a semente do que o futebol húngaro viria a colher (sobretudo) na década de 50, um estilo de fina classe, encantador, revolucionário sob o ponto de vista tático, e que teria o seu ponto alto na citada década de 50, através dos eternos Mágicos Magiares (alcunha dada à seleção húngara desses anos). Ferencvaros cujo plantel era composto por algumas das primeiras lendas do futebol magiar, casos do implacável defesa Márton Bukovi, e do demolidor avançado-centro József Takács, sendo que este último haveria de se sagrar o máximo goleador desta segunda edição graças aos seus 10 golos. A veia goleadora de Takács e do Ferencvaros fez-se notar logo na primeira eliminatória, quando os jugoslavos do BSK Belgrado foram esmagados por um total - no conjunto das duas mãos - de 13-1. Takács e Turay, repartiram entre si o papel de carrascos do combinado da Jugoslávia, ao apontarem, cada um deles, seis golos. 

Com 10 golos apontados, o húngaro
József Takács foi o melhor marcador
da segunda edição da prova
Estreia igualmente auspiciosa teve o campeão da Checoslováquia de 1928, o Viktoria Zizkov, que na ronda inaugural despachou o Gradanski de Zagreb por um total de 8-4, vitória que foi consumada na segunda mão, graças a uma robusta vitória por 6-1 que apagou a má imagem deixada no encontro de ida na Jugoslávia - derrota por 2-3. Igualmente poderoso e talentoso apresentou-se o campeão austríaco, o Admira de Viena, que nas suas fileiras com um jovem e fino avançado de nome Anton Schall, o qual haveria de ser uma das peças fundamentais do Wunderteam de Hugo Meisl. Schall ajudou a eliminar o Slavia de Praga da fortaleza Frantisek Plánicka, com um resultado total de 6-4. E no derradeiro encontro alusivo aos quartos-de-final o finalista vencido da edição de estreia, o Rapid de Viena necessitou de fazer horas extras para garantir um lugar entre os quatro semi-finalistas. Depois de um triunfo na primeira mão em Viena por 6-4, o Rapid caiu em Budapeste diante do MTK por 3-1, facto que obrigou a organização a agendar um terceiro jogo para desempatar a contenda. Numa partida de desempate onde cautelas e caldos de galinha ditaram leis - ambas as equipas arriscaram pouco - foi o defesa Anton Sitschel a ir lá à frente fazer o único golo do duelo e dar assim a passagem da eliminatória à sua equipa. 

Rapid Viena volta a fazer horas extras para alcançar de novo a final

Contrariamente ao que era esperado, a julgar pela força ofensiva que ambas as equipas patenteavam, o embate entre o Admira de Viena e o Ferencvaros ficou um pouco aquém do esperado em termos de golos. Somente por quatros ocasiões, no conjunto das duas mãos, a bola beijou as malhas das duas balizas, numa eliminatória demasiado... defensiva. Na primeira mão, em Viena, o Ferencvaros dominou por completo o jogo, com Takács a selar tardiamente um curto mas justo triunfo por 2-1. Na partida de volta, em Budapeste, uma exibição magnífica do guardião do Admira fez com que os húngaros apenas por uma ocasião chegassem ao golo, mais do que suficiente para garantir um lugar na final. 
No outro encontro das meias-finais o Rapid de Viena voltou a necessitar de fazer horas extras para lograr alcançar a sua segunda final consecutiva. A primeira mão do embate com os checoslovacos do Viktoria Zizkov - realizada em Praga - foi um jogo de loucos! O defesa Karl Steiner colocou a turma da casa em vantagem, mas pouco depois o inspirado Franz Weselik fez um hattrick num abrir e fechar de olhos que colocou os vienenses a vencer por 3-1. Sol de pouca dura, já que Jan Dvoracek não quis ficar atrás de Weselik e também ele fez três golos de rajada que deram a vitória ao... Viktoria. No encontro da segunda mão, Karel Podrazil estragou a festa aos vienenses, que ao minuto 64 desse embate venciam por 3-1, resultado que lhes dava a qualificação para a final. Porém, esse seria um minuto fatídico para os planos do rapid, já que Podrazil fez o resultado final (3-2) e obrigou a que um terceiro jogo - de desempate - fosse necessário. No play-off o Rapid de Viena realizou uma exibição de gala, sobretudo Johann Horvath que com dois golos na conta pessoal ajudou a sua equipa a construir um triunfo por 3-1 e assegurar assim a presença numa nova final. 

Ferencvaros demolidor resolve questão na 1ª mão

Fase da grande final de 1928, entre o Rapid de Viena
e o Ferencvaros
A primeira mão da grande final foi jogada a 28 de outubro de 1928, em Budapeste, perante 25.000 pessoas. O italiano Albino Carraro foi o árbitro de um encontro... sem história. Ou melhor, um jogo cuja história resume-se quase exclusivamente ao festival de golos apontados pela equipa da casa, que praticamente naquele dia assegurou o título. 7-1, foi o resultado final, e tal como na edição anterior o Rapid de Viena morria na praia logo no rescaldo do primeiro jogo da final. No plano individual o sublinhado vai para os três golos do artilheiro da segunda edição da Mitropa Cup, József Takács, que assim chegava à dezena de remates certeiros. 
Em Viena, no Hohe Warte Stadium unicamente cumpriu-se calendário, até porque se na época anterior a reviravolta do Rapid diante do Sparta de Praga foi uma tarefa para lá de complicada, em 1928 afigurava-se como uma missão impossível. Mesmo assim os vienenses lutaram por um resultado positivo, que os fizesse sair da competição de cabeça erguida. Venceram por 5-3, resultado insuficiente para impedir que o Ferencvaros fizesse a festa. Este triunfo marca aliás o início de uma era dourada para a equipa de Budapeste, que até ao estalar da II Guerra Mundial iria vencer ainda mais cinco títulos de campeão da Checoslováquia, outras tantas taças daquele país, e uma segunda Taça Mitropa (1937). 

Números e nomes:

Quartos-de-final (1ª e 2ª mãos)
Admira Viena (Áustria) - Slavia Praga (Áustria): 3-1/3-3

BSK Belgrado (Jugoslávia) – Ferencvaros (Hungria): 0-7/1-6

Gradanski Zagreb (Jugoslávia) - Viktoria Zizkov (Checoslováquia): 3-2/1-6

Rapid Viena (Áustria) – MTK Budapeste (Hungria): 6-4/1-3(1-0 (desempate) 

Meias-finais (1ª e 2ª mãos) 

Admira Viena (Áustria) – Ferencvaros (Hungria): 1-2/0-1

Viktoria Zizkov (Checoslováquia) - Rapid Viena (Áustria): 4-3/2-3/1-3 (desempate)  

Final (1ª mão)

Ferencvaros (Hungria) - Rapid Viena (Áustria): 7-1 

Data: 28 de outubro de 1928 
Estádio: Ulloi Uti, em Budapeste (Hungria) 
Árbitro: Albino Carraro (Itália)

Ferencvaros: Ignác Amsel, Géza Takács, János Hungler (c), Károly Furmann, Márton BukoviElemér Berkessy, Imre Koszta, József Takács, József Turay, Ferenc Szedlacsik, e Vilmos Kohut. Treinador: Istvan Tóth 

Rapid Viena: Franz Hribar, Roman Schramseis, Franz Kral, Josef Frühwirth, Josef Smistik, Josef Madlmayer, Willibald Kirbes, Franz Weselik, Johann Hoffmann,Johann Horvath, e Ferdinand Wesely (c). Treinador: Edi Bauer. 

Golos: 1-0 (Szedlacsik, aos 15m), 2-0 (Takács, aos 18m), 3-0 (Szedlacsik, aos 20m), 4-0 (Kohut, aos 56m), 5-0 (Kohut, aos 58m), 6-0 (Takács, aos 64m), 7-0 (Takácks, aos 76m), 7-1 (Horvath, aos 85m) 

Final (2ª mão)

Rapid Viena (Áustria) - Ferencvaros (Hungria): 5-3

Data: 11 de novembro de 1928
Estádio: Hohe Warte, em Viena (Áustria)
Árbitro: Albino Carraro (Itália)

Rapid Viena: Franz Hribar, Roman Schramseis, Anton Witschel, Johann Hoffmann, Josef Madlmayer, Josef Fruhwirth, Willibald Kirbes, Franz Weselikm Richard Kuthan, Johann Horvath, e Ferdinand Wesely (c). Treinador: Edi Bauer.

Ferencvaros: Ignác Amsel, Géza Takács, János Hungler (c), Károly Furmann, Márton Bukovi, Elemér Bersessy, Imre Koszta, József Takács, József Turay, Ferenc Szedlacsik, e Vilmos Kohut. Treinador: István Tóth.

Golos: 1-0 (Kirbes, aos 5m), 2-0 (Kirbes, aos 22m), 2-1 (Kohut, aos 33m), 2-2 (Turay, aos 36m), 3-2 (Wesely, aos 37m), 4-2 (Weselik, aos 50m), 5-2 (Wesely, aos 53m(, 5-3 (Szedlacsik, aos 79m).
O demolidor Ferencvaros (26 golos marcados em seis encontros disputados) que em 1928
venceu a sua primeira Mitropa Cup