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quarta-feira, agosto 10, 2022

Histórias do Futebol em Portugal (36)... A outrora gloriosa história de conquistas (nacionais) do hoje desertificado futebol alentejano

Apesar de há muito estar arredado dos grandes palcos do futebol nacional - o mesmo será dizer dos campeonatos profissionais - o Alentejo é detentor de uma rica e gloriosa história no que ao desporto rei português concerne. Lendários jogadores e famosas equipas fazem parte de um espólio que o futebol moderno parece esquecer, fruto de uma desertificação que esta lindíssima região portuguesa tem sido vítima nas décadas mais recentes. Desertificação dá azo a desinvestimento, e desinvestimento leva a um desaparecimento lento, mas contínuo. É um pouco este o cenário atual do futebol alentejano no que diz respeito aos primeiros três escalões nacionais, isto é, a I Liga, a II Liga, e a Liga 3, e se quisermos seguir com atenção um emblema daquela região temos de olhar para o Campeonato de Portugal, o atual quarto escalão do desporto rei luso. Mas nem sempre foi assim, já que o passado guarda a tal rica e gloriosa história que esta região escreveu na Grande Enciclopédia do futebol português pela mão - e pés e cabeças, sobretudo - de filhos nascidos em Évora, Elvas, Beja, Sines, Serpa, ou Campo Maior num passado mais recente. E são esses tesouros do futebol alentejano que hoje vamos não só recordar - ainda que ao de leve, porque eles são imensos - como de igual modo procurar preservar e divulgar junto de um público mais jovem que porventura poderá pensar que o Alentejo é só uma gigantesca planície desprovida de história futebolística! 

Um pouco de história para iniciar a... História

Lisboa (e zona envolvente) foi o berço do futebol em Portugal, nos finais do século XIX. A modalidade expandiu-se posteriormente para outras regiões do país, tendo o Alentejo visto pela primeira vez (que se saiba) uma bola no início do século XX, por intermédio de antigos alunos da Real Casa Pia de Lisboa. Registos históricos indicam que Évora foi a primeira localidade alentejana onde o futebol se jogou, por volta de 1908, havendo relatos de partidas disputadas no Largo da Porta de Machede. Nos anos seguintes os jogos multiplicaram-se na capital do Alto Alentejo, muito por ação dos alunos da Casa Pia de Évora, que tal como os seus congéneres da mesma instituição de Lisboa tiveram um papel preponderante na dinamização da modalidade em toda a região. Em 1909 é fundado em Évora o primeiro clube da cidade dedicado à prática do futebol, o Évora Sport, um emblema composto por operários que disputavam os seus encontros no Largo da Graça. O desporto foi crescendo, novos grupos foram surgindo, e em 1917 é fundada a Liga Eborense de Football, tendo como filiados o Lusitano, o Ateneu, e a Casa Pia de Évora. Esta entidade, quase uma década depois, viria a dar origem à atual Associação de Futebol de Évora.

Um jogo do Lusitano de Évora na 1.ª Divisão
Foi porém noutra grande cidade alentejana que em 1911 foi fundada a segunda associação de futebol mais antiga do país. Em Portalegre, a 29 de outubro do referido ano é criada a Associação de Futebol de Portalegre (AFP), a segunda mais antiga de Portugal - a seguir à Associação de Futebol de Lisboa -, tendo este organismo sido um três fundadores da Federação Portuguesa de Futebol. Na génese da AFP estiveram o Grupo de Bombeiros Voluntários de Portalegre, o Grupo de Bombeiros Voluntários Robinson, o Sport Clube Portalegrense e o Sport Clube Esperancense, entidades que ajudaram a dinamizar o futebol por todo o distrito. Mas houve um homem que pelo seu conhecimento - e talento - do jogo teve um papel fundamental na cimentação da modalidade na região. Leopoldo Mocho, o seu nome. Nascido em 1889, em Arronches, uma vila raiana do distrito de Portalegre, o primeiro ídolo futebolístico desta região cedo viajou para Lisboa no sentido de estudar na Real Casa Pia. Ali terá travado conhecimento com o Belo Jogo, e com muitos dos homens que em 1904 fundaram o Sport Lisboa - futuro Sport Lisboa e Benfica. Mocho seria um dos primeiros jogadores do clube encarnado, ao lado de Cosme Damião, Félix Bermudes, Manuel Goularde, entre outros. No início da década de 10, Leopoldo Mocho regressou a Portalegre para se empregar nos CTT daquela cidade, transferindo-se mais tarde para a estação de correios da sua terra natal, tendo nesses anos desempenhado um papel fundamental na fundação da AFP. Mas não só, pois ele foi de igual modo o responsável pela fundação, também em 1911, da primeira filial do Sport Lisboa e Benfica, no caso o Sport Lisboa e Portalegre. Muitos dos grandes êxitos do futebol alentejano ao longo das décadas seguintes seriam conquistados por clubes oriundos deste distrito, como mais à frente iremos constatar. Foi neste distrito que nasceu aquela que porventura é a maior figura de todos os tempos do Alentejo em termos desportivos, não só no que ao futebol diz respeito, mas também noutras modalidades. Cândido de Oliveira, para sermos mais precisos. Ele nasceu na vila de Fronteira, a 24 de setembro de 1896, sendo que por ser órfão de pai, em junho de 1905 foi admitido na Real Casa Pia de Lisboa, onde foi aluno interno e aí se formou para a vida e para o desporto.

A casa onde nasceu Cândido de Oliveira, em Fronteira

Em 1915 o futebol chega a outra das três maiores urbes alentejanas, Beja, pese embora hajam relatos de que a modalidade terá chegado à capital do Baixo Alentejo em 1906. Foi nesta cidade que nasceu um dos primeiros grandes clubes alentejanos, o Luso Sporting Clube, fundado em 1916, e que surge da génese do Águia, o primeiro clube a ser fundado na cidade e que se extinguiu em 1918. O Luso foi um clube eclético e ativo participante nas principais provas do futebol nacional. Em 1947, juntamente com o União Sporting Clube e o Pax Júlia Atlético Clube, funde-se num só clube, criando o Clube Desportivo de Beja, atualmente o maior clube da cidade.

A estreia do Alentejo na 1.ª Divisão Nacional

O jogo de estreia do SL Elvas na 1.ª Divisão 
aconteceu em Olhão
Coube ao distrito de Portalegre a honra de na temporada de 1923/24 inscrever uma equipa sua, no caso o União Portalegrense, na então única competição de âmbito nacional, o Campeonato de Portugal. A edição inaugural da 1.ª Divisão Nacional - atual I Liga - surgiria sensivelmente uma década depois, mas seria preciso esperar até à temporada de 1945/46 para ver uma equipa alentejana no mais alto escalão do futebol luso. Tal feito seria alcançado pelo Sport Lisboa e Elvas (filial do Benfica), que apenas dois anos mais tarde se juntou ao vizinho e rival da cidade, o Sporting Clube Elvense (filial do Sporting), para fundar O Elvas Clube Alentejano de Desportos. Esta fusão tem uma história que o jornal A Bola em 9 de junho de 1955 faz eco: «A rivalidade entre as filiais dos dois poderosos clubes da capital (Lisboa) atingira, nessa altura, uma agudeza que estava muito longe de se conciliar com a beleza da ideia desportiva. A tal ponto se levou então a mórbida paixão clubista, que os encontros entre os dois antagonistas locais (de Elvas) se transformavam, por vezes, em fonte de perturbações de certo vulto. O «Jornal de Elvas», reflectindo o estado de espírito das pessoas sensatas, que as havia nos dois campos opostos, dizia pela pena do seu director, ai propósito da fusão: "A Elvas não interessa uma rivalidade que, afinal, bem vistas as coisas à luz de um critério imparcial, está tornando o desporto local numa antipática luta de cores que já não distingue amizades e na qual nem o bom senso nem a inteligência conseguem ter mão"». É nesse seguimento de apaziguamento das hostes elvenses que a 23 de setembro de 1947 é fundado O Elvas CAD, que viria a tornar-se num dos principais emblemas do Alentejo nas décadas seguintes. 

Sporting - SL Elvas, no Nacional
da 1.ª Divisão de 45/46 
Mas antes deste emblema ver a luz do dia seria um dos seus progenitores, o SL Elvas, a levar o nome da região pela primeira vez ao escalão mais alto do futebol nacional. A estreia não foi feliz, já que na primeira ronda do Nacional da 1.ª Divisão de 45/56, o clube do distrito de Portalegre foi derrotado em Olhão por 4-1 diante da equipa local. Sobre este encontro, o jornalista Tavares da Silva escrevia na revista Stadium que «os algarvios conseguiram, na primeira parte, pelo menos, um domínio quase absoluto. (...) O Elvas, de atitude passiva na primeira parte, passou para uma orientação activa. Logo no abrir do tempo, forçando a ofensiva, conquistou o empate emprestando ao encontro o interesse que provém da incerteza do resultado, e obrigando o antagonista a dar-se generosa e completamente ao jogo. Abrindo o seu futebol - o Elvas viu-se batido com mais facilidade do que antes do intervalo. Nem admira. Já os jogadores não estavam tão aglomerados em frente das redes e as reações e contra-ofensivas do Algarve, team de melhor técnica, despedidas em comunhão de esforços, encontraram o ponto vulnerável. O onze mais apurado venceu, mas o Elvas continua a mostrar-se um conjunto de fibra e de vida ardente». A primeira vitória do SL Elvas, e consequentemente de um clube alentejano, na 1.ª Divisão Nacional aconteceu na 2.ª jornada deste campeonato. O campeão de Aveiro, a Sanjoanense, foi então copiosamente goleada no Alentejo por 8-0. Tavares da Silva escreveria na Stadium que «Na segunda parte, o Elvas caiu a fundo, e falou o saber e o futebol de conjunto. Neste tempo, os elvenses evolucionaram com brilho no ataque, desmarcando-se todas as suas unidades com perfeição».

Patalino
Esta foi uma das nove vitórias que os elvenses conseguiram naquele campeonato, alcançando com mérito e reconhecimento da elite do futebol luso a manutenção, como se pode testemunhar numa entrevista da antiga lenda benfiquista Alfredo Valadas, aquando de uma visita do SL Elvas à capital. Nessa entrevista à Stadium, conduzida pelo jornalista Fernando Sá, Valadas caracterizava a estreante turma alentejana como um conjunto que na sua voz era formado por jogadores habilidosos e rijos. «Estas duas qualidades constituem o ponto de partida para se obter o bom rendimento de uma equipa - para mais se, como sucede no Elvas, o grupo é formado por jogadores novos». Valadas citava nomes como Rosário, Virgílio, Neves, Toninho, Henrique e Oliveira, como atletas em que eram depositadas as melhores esperanças para o futuro. Mas havia atletas mais experientes que davam um toque de classe a esta equipa, casos de Massano, Rebelo, e Patalino. «São dos que mais se têm evidenciado. Mos todos os componentes do grupo dão bom rendimento. Reconheço-lhes boas qualidades e registo um pormenor que ajuda sempre o trabalho do treinador e aos bons resultados de um team: boa vontade e espírito de colaboração entre todos os jogadores», dizia Alfredo Valadas.

Patalino foi provavelmente o maior jogador que o Alentejo produziu no que a futebol diz respeito. Sobre ele já dedicámos longas linhas em viagens passadas, mas nunca será por demais recordar que este talentoso avançado, que chegou a internacional, nasceu em Elvas e o amor ao clube da sua terra fê-lo recusar ao longo da sua carreira propostas tentadoras de clubes como o Bordéus, o Atlético de Madrid, ou o gigante vizinho - deste - Real Madrid. Diz quem com ele de perto privou que era um homem simples, ingénuo, até, bem diferente do rápido, fogoso, e viril jogador que assombrava as balizas adversárias. Na pacatez de Elvas ele era feliz, despindo a glória e a fama angariadas nos muitos campos de futebol por onde passeava a sua classe.

Évora conquista os primeiros títulos nacionais

A equipa do Juventude campeã 
nacional da 3.ª Divisão em 1951
O distrito de Portalegre pode ter tido o privilégio de ser a casa do primeiro clube alentejano a pisar o palco da 1.ª Divisão Nacional, de ser o berço do melhor jogador alentejano da história (Patalino), mas as primeiras conquistas, vulgo títulos, são pertença da cidade de Évora. E neste ponto a extinta e saudosa 3.ª Divisão Nacional é a praia, por assim dizer, dos clubes alentejanos, já que a esmagadora maioria dos cetros nacionais conquistados foram neste escalão.

E o primeiro deles surgiu na temporada de 1950/51 por intermédio de um dos dois filhos de Évora, no caso o Juventude. Ao vencer a 1.ª fase da Série 6 da 3.ª Divisão, os azuis e brancos da capital do Alto Alentejo qualificaram-se para a fase final, não só com o intuito de discutir a subida de divisão, como também o título de campeão. Na 2.ª e decisiva fase começaram por derrotar os algarvios do Silves (7-0 no conjunto das duas mãos), seguindo-se na meia-final o Cova da Piedade por um total de 8-5. E na grande final, disputada a 18 de março de 1951, o Juventude defrontou a Sanjoanense, tendo o encontro terminado empatado a três bolas (após prolongamento), obrigando assim a uma finalíssima, que seria realizada dois dias mais tarde em Santarém, no Campo das Pedreiras. Na primeira final os golos dos eborenses foram da autoria de João Mendonça (2) e Mana.  E no tira teimas o Juventude levou a melhor, vencendo por 1-0, golo da autoria de João Mendonça, que executou de forma superior um livre direto.

Para a história deste clube e do próprio futebol alentejano ficam nomes como António Maria, Mochila, Serra, Martins, Eduardo, Jorge Santos, Casimiro, Rogério Contreiras, Daniel, Lampreia, João Mendonça, ou Gomes.

Na temporada seguinte, e já na 2.ª Divisão, o Juventude continuava nas bocas do país pelo futebol vistoso que praticava, de tal modo que num jogo a contar para a Taça de Portugal, ante o Atlético, disputado na Tapadinha, um jornalista disse «tinham florido malmequeres na Tapadinha dada a categoria do futebol praticado pelos alentejanos». Na verdade, os experts do futebol português de então afirmaram que na época de 51/52 a equipa que melhor futebol praticou em Portugal foi o Juventude de Évora, pelo que foi denominada como equipa maravilha, a qual tinha nomes como Casimiro, o argentino Bucheli, Serra, Pinto de Almeida, Rogério Contreiras (ex-Benfica), Jorge Santos, Passos, Matos, João Mendonça, Fernando Mendonça e Chitas.

O Lusitano de Évora que em 1952
se sagrou campeão nacional da 2.ª Divisão
1951/52 é pois uma época memorável para o futebol eborense, não só pelo facto do Juventude encantar plateias com o seu futebol, mas também porque o outro filho futebolístico da cidade, o Lusitano, conquistou o título de campeão nacional da 2.ª Divisão. E pode dizer-se que esta glória dos verde-e-brancos teve um sabor muito especial, pois foi arrecadada, de certa forma, à custa do vizinho e rival Juventude. As duas equipas competiram na 1.ª fase da 2.ª Divisão, na Zona D deste escalão - na altura o segundo escalão do futebol luso era disputado em três fases.

Juventude e Lusitano disputavam taco a taco o acesso à 2.ª fase do campeonato, que lhes podia assegurar a subida à 1.ª Divisão.

No Estádio Sanches de Miranda, casa do Juventude, os dois rivais disputaram um dos mais empolgantes dérbis de Évora de que há memória. O Lusitano vencia ao intervalo os seus vizinhos por 4-1, sendo que no reatamento a tal equipa maravilha do Juventude, fez uma recuperação extraordinária, levando o resultado para uma diferença mínima. Nos instantes finais os campeões nacionais da 3.ª Divisão da temporada anterior beneficiariam de uma grande penalidade, a qual foi convertida e selaria o marcador num fantástico e inesquecível 5-5. O equilíbrio entre os dois rivais foi de tal maneira vincado que ambos chegariam ao final desta 1.ª fase em igualdade pontual na tabela classificativa, com 28 pontos. Porém, o Lusitano levou a melhor no desempate no goal-average (marcou 66 golos contra 64 do Juventude), e qualificou-se assim para a fase seguinte do campeonato, ao passo que o rival ficava pelo caminho.

O Benfica numa visita a Évora nos anos
em que o Lusitano estava na 1.ª Divisão
Na fase intermédio ao classificar-se em segundo lugar, atrás do Vitória de Setúbal e à frente de União de Montemor e da CUF, o Lusitano avançou para a 3.ª e decisiva fase da prova, onde iria lutar pela subida de divisão e pelo título de campeão. Conduzidos tecnicamente pelo argentino Anselmo Pisa os alentejanos venceram a poule, com 9 pontos, superando Vitória de Setúbal, Torreense e União de Coimbra, sagrando-se assim campeões nacionais da 2.ª Divisão e logrando chegar à 1.ª Divisão, onde fariam história. E porquê? Porque hoje o Lusitano é tão somente o clube do Alentejo com mais presenças no principal escalão do futebol português: 14 épocas consecutivas! 364 jogos disputados entre os grandes, 116 vitórias, 64 empates, e 184 derrotas, são alguns dos números dos verde-e-brancos na elite do futebol luso. Esta longa permanência entre a elite do futebol lusitano transformou este clube numa bandeira de todo o Alentejo. Jogadores como Falé, Dinis Vital, José Pedro, José Cardona, Teotónio, Mitó, Paixão, entre muitos outros levaram e honram o nome da cidade e da região por todo o país com as cores do Lusitano de Évora.

Distrito de Portalegre chama a si a glória (parte I)

O futebol alentejano vivia, na década de 50, dias de glória, e mais um exemplo disso foi a conquista do título de campeão nacional da 3.ª Divisão por um dos seus emblemas mais sonantes, O Elvas Clube Alentejano de Desportos. A equipa venceu sem espinhas, como se diz na gíria popular, a Série 7 do citado escalão na temporada de 1954/55, com oito triunfos em outros tantos jogos disputados, facto que a levou à disputa da fase final - disputada na época em sistema de eliminatórias.

O Elvas que em 1955 trouxe o primeiro título
nacional da 3.ª Divisão para o Alentejo
Nos quartos-de-final a vítima dos elvenses foi o Silves, que no conjunto das duas mãos da eliminatória foi derrotado por 5-2.  Seguiu-se o Seixal, que nas meias finais obrigou os alentejanos a um jogo de desempate, o qual seria ganho por 3-1. E na final O Elvas defrontaria o Desportivo de Chaves, no Estádio Municipal de Coimbra. Em entrevista ao jornal A Bola, de 4 de junho de 1955, o jogador/treinador Luís de Sousa dizia que «a equipa está fortemente moralizada, mas necessita de trabalhar muito na próxima competição, pois conta com elementos muito jovens, mas de real valor», Sobre a final de Coimbra ... «vai ser bem disputada, pois o Chaves deve ser adversário difícil. Está convencido de que a vitória não escapará à sua equipa, que neste momento se encontra em boa forma. Será para mim grande alegria trazer para Elvas o título de campeão da III Divisão. Isso seria um remate feliz da minha longa carreira desportiva, pois tenciono retirar-me, no final desta época, das lides futebolísticas». Questionado se queria emitir um prognóstico para a final de Coimbra, Luís de Sousa respondeu que «nunca faço prognósticos, porque não gosto de armar em bruxo. Apenas lhe posso afirmar que vamos a Coimbra dispostas a ver a bela "sultana do Mondego" e... a fazer tudo para que Elvas volte a viver horas de intenso entusiasmo». 

E assim foi. O Elvas venceu o Chaves por 2-1 e sagrou-se campeão nacional. A Bola escrevia que esta foi uma «vitória do melhor dos finalistas. O êxito do O Elvas foi nítido e claro e só não foi mais expressivo porque a linha avançada alentejana hábil e revolta fez cerimónia a visar a baliza do opositor. Em qualidade e quantidade de jogo os elvenses superaram largamente o adversário que se entregou de modo surpreendente quase sem um assomo de reacção».

Na chegada a Elvas a taça de campeão nacional andou de mão em mão em clima de natural euforia. «Logo que a caravana de O Elvas chegou às portas da cidade, às 6 horas da manhã de segunda-feira, jogadores e dirigentes foram envolvidos por uma chuva de abraços e de aplausos que pareciam não ter fim, enquanto no ar estralejavam foguetes a anunciar que os campeões já estavam de regresso», escreva o jornal da Travessa da Queimada na sequência deste título. Eurico Gama, presidente do clube e em simultâneo diretor do Jornal de Elvas, dizia à reportagem de A Bola que «sinto-me emocionado, radiante, feliz por ser na minha gerência que O Elvas conquistou pela primeira vez um titulo nacional. Lutámos com imensas dificuldades, passámos duros momentos e horas muito amargas, sobretudo, quando as deslocações eram longas e caríssimas. Graças a Deus, tudo torneámos e conseguimos, finalmente, o nosso objectivo». Nomes como Semedo (guarda-redes), Pedras, Nanque, Romão, Oliveira, Justino, Costal, Velasquez, Conceição, Balola, César, o já referido Luís de Sousa, entre outros, ficaram assim perpetuados na história deste clube e da região.

Baixo Alentejo também experimenta o sabor das vitórias nacionais

FC Serpa foi o primeiro emblema 
Baixo Alentejo a conquistar um título nacional
Dois anos mais tarde o título de campeão nacional da 3.ª Divisão fez uma viagem até ao Alentejo mais profundo. Já bem perto de terras algarvias situa-se o Município de Serpa, que na temporada de 1956/57 escreveu a página mais brilhante da sua vida desportiva ao ver o seu clube sagrar-se campeão nacional do terceiro escalão. Este foi igualmente o ponto alto da história do Futebol Clube de Serpa, coletividade que em 56/57 se classificou em 1.º lugar da Série 8 da 3.ª Divisão, garantindo assim a presença numa fase intermédia em que voltou a ocupar o lugar mais alto do pódio, superando nomes de peso do futebol alentejano de então, como O Elvas, ou o Estrela de Portalegre. Estes sucessivos êxitos permitiram ao Serpa disputar a fase final da 3.ª Divisão Nacional, juntamente com o Ateneu de Leiria, o Vila Real, e o Águia Vilafranquense. Na antevisão desta fase final, o presidente dos alentejanos, Oliveira Pombeiro, dizia à A Bola que a sua equipa  encontrava-se «bem apetrechada e fortemente moralizada, pois em toda a presente época, ainda uma só vez conheceu a derrota. Contamos com 16 jogadores de primeira categoria, cuja orientação desde meados do mês passado, está a cargo de Josef Fabian que se tem mostrado inteiramente à altura, não só pela sua competência profissional, como ainda pelo seu trato afável e que tem conquistado a maior simpatia de todos: directores, jogadores e massa associativa». Sobre as possibilidades da sua equipa para esta fase final, o líder do clube era perentório em afirmar que «embora desconhecendo o valor do adversário que nos coube para a disputa da meia final, tenho a maior confiança na minha equipa. Espero, confiado, que ela chegue, pelo menos, até à final, o que já será suficiente para ascender de divisão». Mas o FC Serpa fez bem mais do que isso. Na meia-final bateu no conjunto das duas mãos, por 6-1 o Águia Vilafranquense, qualificando-se não só para a final como também garantindo a tal promoção à 2.ª Divisão. E na grande final, disputada em Coimbra, o Serpa venceu o Vila Real por 2-0, com golos de Teixeira da Silva e Coureles, que se juntam a outros nomes como Garcia, Eduardo, Manuel Baião, Sardinha, Diamantino, Fidalgo, Picareta, Célio, Manolo, e... Patalino, esse mesmo, o maior futebolista alentejano de todos os tempos que então (com 37 anos) dava os últimos passos da sua brilhante carreira.

O Vasco da Gama de Sines tornou-se em 1980
a primeira - e única - equipa do litoral alentejano
a vencer um título nacional

Seria preciso esperar mais de duas décadas, 23 anos para sermos mais precisos, para ver de novo uma equipa do Baixo Alentejo, ou neste caso, da Costa Vicentina, celebrar um título de campeão nacional do terceiro escalão. E esse feito foi alcançado por uma terra de conquistadores, ou de um grande conquistador, de seu nome Vasco da Gama, célebre figura da História de Portugal que viu a sua terra natal, Sines, escrever o seu nome no mapa futebolístico nacional por intermédio do seu homónimo, o Vasco da Gama Atlético Clube. Em 1979/80 este emblema começou por vencer a Série F do terceiro escalão, com 50 pontos, qualificando-se para a 2.ª fase/sul, onde na qual iria novamente ascendeu ao lugar mais alto do pódio, levando a melhor sobre emblemas como o Lusitânia e o Cartaxo. Este primeiro posto permitiu ao Vasco da Gama disputar a final do campeonato, onde venceria a Sanjoanense, por 1-0, conquistando o primeiro de dois títulos de campeão nacional da 3.ª Divisão. Canastra, Belchior, Toca, Frutas, René Só, Tito, Orlando, Sargaço, e Jorge Roçadas, foram alguns dos nomes que contribuíram para este primeiro êxito do emblema vicentino. Desta geração de campeões, Roçadas foi quiçá aquele que teve maior êxito nos anos vindouros, já que de Sines viajou para paragens de "primeira", como por exemplo Setúbal, onde defendeu o emblema do Vitória na 1.ª Divisão ao longo de cinco temporadas.

O segundo título nacional deste escalão viria na temporada de 1990/91. Na 1.ª fase da competição, o Vasco da Gama venceu a Série F, com 49 pontos, seguindo-se um novo primeiro lugar na 2.ª fase da zona sul, com cinco pontos, facto que fez com que se apurasse para a final da competição. Final essa onde bateu o Lourosa por 4-2, fazendo parte deste êxito Kudeca, Caixeirinho, Canastra, René Menezes, Bezica, René Só, Fortes, João Canhoto, entre outros.

O título da 3.ª Divisão Nacional foi em 94/95
para Beja, pela mão do Desportivo 
A última conquista de um emblema do Baixo Alentejo no Campeonato Nacional da 3.ª Divisão, antes de ele ser extinto em 2013, aconteceu em 1994/95, altura em que o Desportivo de Beja se sagrou campeão. Fundado em 1947, este emblema rapidamente se impôs a nível nacional, marcando presenças sucessivas na 3.ª Divisão - entre 1966 e 1979 o Desportivo disputou, de forma consecutiva, este escalão - e pontualmente na 2.ª Divisão. Os anos 80 foram de alguma turbulência, com alternâncias entre os campeonatos nacionais e os distritais de Beja, até que o sobe e desce constante acabou com a chegada à presidência de José António Chalaça. Foi sob a sua alçada que o Desportivo viveu na década de 90 a melhor fase da sua história, sendo que um ano após a sua eleição, Chalaça leva o clube à conquista do seu único título de campeão nacional até à data, o da 3.ª Divisão. Depois de vencer a Série F, o emblema venceu a fase intermédia/zona sul, à frente de Mafra e Machico, qualificando-se para a final do campeonato, disputada em Torres Novas, onde viria a vencer Sporting de Lamego, por 1-0. Carlos Agatão, Mohammed Sbae, Guerreiro, ou Grosso são alguns dos nomes que faziam parte de um clube que nos anos seguintes sonhou com voos mais altos. Na época seguinte, o Desportivo disputou 2.ª Divisão B, tendo José António Chalaça apostado todas as fichas numa nova subida, desta feita à recém criada Divisão de Honra ao contratar o treinador Diamantino Miranda. Este sairia pouco antes do Natal, por alegados incumprimentos financeiros e divergências com o ambicioso presidente, e para o seu lugar chegou o histórico treinador Manuel de Oliveira. Esta incontornável figura do nosso futebol carimbou a subida a subida à Divisão de Honra, na altura o segundo escalão do futebol nacional, contando com isso com a ajuda de peso de jogadores como Nunes (ex-Benfica) e Morato, (ex-Sporting). Em apenas dois anos Chalaça levava o clube da 3.ª Divisão - com um título de campeão nacional no bolso - à Divisão de Honra. O presidente queria mais, queria a 1.ª Divisão, e para isso abriu os cordões à bolsa e contratou figuras experientes e sonantes do então futebol luso, como Edmundo e Hernâni, ambos ex-Benfica, e Vado, ex-jogador do Marítimo e do Braga. Para treinar a equipa chegava José Torres, o Bom Gigante, que nem 10 anos antes havia levado Portugal à fase final do Mundial de 1986. A ambição de Chalaça revelou-se demasiado grande para o clube, que caiu logo a seguir de novo na 2.ª Divisão B, deambulando entre os nacionais e os distritais até aos dias de hoje.

Distrito de Portalegre chama a si a glória (parte II)

O Portalegrense, que em 1976 venceu o
primeiro dos seus dois títulos nacionais
da 3.ª Divisão
Antes de Desportivo de Beja e Vasco da Gama trazerem para o Alentejo mais três títulos de campeão nacional da 3.ª Divisão, já o Distrito de Portalegre guardava nas suas vitrinas mais um cetro deste escalão. Facto ocorrido na temporada de 1975/76, quando um dos filhos de Portalegre, no caso o Desportivo Portalegrense, venceu o seu primeiro de dois títulos nacionais. Portalegre era naqueles anos pós 25 de Abril de 1974 uma cidade tranquila, com cerca de 12.000 habitantes, cujos corações estavam divididos pelo Club Desportivo Portalegrense e pelo Estrela de Portalegre. Numa longa reportagem publicada a 5 de junho de 1976 nas páginas de A Bola, o jornalista Vítor Serpa abordava esta rivalidade, desde logo sob o ponto de vista social, em que dizia que o Estrela era um clube de menores possibilidades, que atraia a si as classes baixas/operária da cidade, ao passo que o Desportivo, era o clube dos grandes senhores da terra, dos que não sofriam com a falta de dinheiro. Prova de que o Desportivo Portalegrense era mais abastado está o facto de na altura ter já nove atletas profissionais, aspeto relativamente novo para a realidade do terceiro escalão do futebol português nos anos 70. Sócios eram cerca de 1100, que mensalmente depositavam nos cofres do clube, 25 contos, fruto da quotização. Por estes dias o Desportivo gastava 120 contos com o futebol sénior, uma fortuna para aquele tempo. João Mourato, dirigente de então do clube, dizia que com muito trabalho da equipa diretiva, com quotas suplementares, com algumas rifas, e com a organização de alguns bailes o seu emblema lá ia conseguindo levar o barco a bom porto. O sacrifício era enorme, mas entre ter jogadores amadores, a baixo custo, e andar pelos distritais, ou ter atletas profissionais, pagos, e ter como meta a subida de divisão, os sócios do clube haviam escolhido esta segunda via, de acordo com a entrevista daquele dirigente ao jornal A Bola. Foi esta aposta que ajudou o Portalegrense a atingir a glória na temporada de 75/76. Venceram a Série C da 3.ª Divisão, com 57 pontos, os mesmos que o Odivelas, embora os alentejanos tivessem ficado no primeiro lugar pela melhor diferença entre golos marcados e sofridos. Na fase final, começaram por bater nas meias finais, disputadas a duas mãos, o Vasco da Gama de Sines, por um total de 7-5, ao passo que no dia 10 de julho de 1976 derrotaram em Tomar o União de Coimbra, por 4-0, sagrando-se campeões nacionais. Figueiredo, Gilberto, Catinana, Vitor Nozes,  Rodrigues; Nelo, Humaitá, Zinho, Arnaldo José, Orivaldo e Mulatinho, foram os heróis dessa histórica tarde e dessa inesquecível temporada.

«Os azuis, que por acaso nessa tarde alinharam de branco, entraram em campo e a verdade é que não pareciam nada intimidados, nem com o ambiente contrário, a relva desconhecida, a fama do adversário, enfim todos esses clássicos argumentos com que é costume justificar as derrotas. O encontro foi magnífico e creio que não mais se apagará da memória dos espectadores (...) Uma certa simpatia que, apesar, dos "denodados" esforços de alguns, muitos portalegrenses sentem pelo seu Desportivo foi nesse dia amplamente compensada pela proeza daquela equipa humilde, nada favorita, que deu uma autêntica lição de futebol e conquistou o mais significativo troféu da história do clube», assim escrevia o jornal Fonte Nova (de Portalegre) no rescaldo deste triunfo.

Em 1987/88 o clube de Portalegre repete o feito. Após vencer de forma isolada a Série D, com 62 pontos, qualifica-se para a 2.ª fase/zona sul onde leva a melhor sobre o Juventude de Évora e o Olivais e Moscavide. Na final, defronta o Luso, em Penafiel, tendo vencido por 1-0. Na base deste novo título de campeão nacional estiveram nomes como Carlinhos (capitão dessa equipa), Costa Almeida, Alcino, José Carlos, ou Semedo.

Campomaiorense, campeão Nacional
da Divisão de Honra na época de 96/97
A nossa viagem pela história das conquistas do futebol alentejano chega ao fim já no novo milénio, através do último clube da região a pisar não só os palcos primodivisionários do futebol lusitano, como também o primeiro - e único até à data - a atingir uma final da Taça de Portugal, o Sporting Clube Campomaiorense. Depois do Lusitano de Évora, nas décadas de 50 e 60, de O Elvas na década de 80, o emblema de Campo Maior foi o terceiro clube alentejano a participar na 1.ª Divisão, e o segundo pertencente ao Distrito de Portalegre. Fundado em 1926 só nos anos 70 é que esta coletividade se conseguiu fixar nos campeonatos nacionais, onde permaneceu - na 3.ª Divisão, mais concretamente - até finais da década seguinte. Este feito, se atendermos ao facto de falarmos de um clube com parcos recursos económicos, foi alcançado muito graças ao esforço e investimento da família Nabeiro, a dona do império dos Cafés Delta, sediado em Campo Maior. Primeiro sob a presidência do hoje comendador Rui Nabeiro, que entre 1979 e 1990 guiou os destinos do clube, e dali em diante com a gestão do seu filho, João Nabeiro, que guia o clube na fase mais brilhante da sua história. Com o apoio - dinheiro - dos Cafés Delta, o objetivo passa por colocar no espaço de cinco anos o clube ao mais alto patamar do futebol nacional, a 1.ª Divisão. Em 90/91 o emblema sobe à 2.ª Divisão B, e na temporada seguinte ascende à Divisão de Honra, sagrando-se campeão nacional deste escalão, pese embora tempos mais tarde um problema burocrático lhe tenha retirado essa conquista do palmarés. A partir 92/93 o clube estabelece alicerces na Divisão de Honra, e na temporada 94/95, sob o comando da antiga glória do Sporting, Manuel Fernandes, o Campomaiorense classifica-se em 2.º lugar da Divisão de Honra e garante a história subida à 1.ª Divisão Nacional. O Alentejo estava assim de regresso ao topo.

Na temporada seguinte a inexperiência dos homens de Campo Maior entre os grandes pagou-se cara, e o clube desceu da elite do futebol português. Mas por pouco tempo, já que com Diamantino Miranda ao leme o Campomaiorense sagra-se em 1996/97 campeão nacional da Divisão de Honra e garante uma nova subida ao escalão principal.

Figuras como Portela, Abel Silva (campeão do Mundo sub-20 em 1989 por Portugal), Jorge Ferreira, Stoilov, Stefan, Fernando Gonçalves, Jorginho, entre outros estiveram na base daquele que foi o único título de campeão nacional - validado - dos alentejanos de Campo Maior. Desde 1997/98 até 2000/01 o clube permaneceu entre os grandes do futebol nacional. O Campomaiorense contabiliza cinco presenças na 1.ª Divisão, tantas como O Elvas, o outro clube dos distrito que marcou presença no escalão maior.

Final da Taça de Portugal de 1999
Pelo meio, em 1998/99, o Campomaiorense viveu outro momento grande da sua história e do próprio futebol alentejano, ao tornar-se no primeiro clube da região a marcar presença na final da Taça de Portugal. Para chegar ao Jamor, os alentejanos deixaram pelo caminho o Braga, o Penafiel, o Alverca, o Marítimo, e o Esposende.

13 de junho de 1999 e pois um dia histórico para o Alentejo, tendo muitos alentejanos, com o apoio mais uma vez dos Cafés Delta, marcado presença em força no mítico Estádio Nacional. O adversário era o Beira-Mar, que nessa temporada até tinha descido da 1.ª para a Divisão de Honra. Na relva da catedral do futebol português os alentejanos apresentaram Paulo Sérgio, Quim Machado, Marco Almeida, Rene Rivas, Basílio, Mauro Soares, Nuno Campos, Rogério Matias, Isaías; Demétrios e Laelson, sendo que o técnico José Pereira lançou ainda em jogo Vítor Manuel e Wellington. Nomes que ficam guardados na história do futebol alentejano. E esta história não foi ainda mais bonita porque o Beira-Mar levou a taça para casa, fruto de um único golo de Ricardo Sousa.

Esta foi a última imagem de uma região cujo futebol parece hoje esquecido no tempo, mas guarda uma histórica riquíssima, que merece louvores, e mais do que isso deve permanecer na memória de todos aqueles que amam o futebol.

sexta-feira, dezembro 23, 2016

Histórias do Planeta da Bola (18)... Terá sido o Palmeiras o primeiro campeão mundial de clubes?


Palmeiras ergue a Copa Rio de 1951
A recente polémica instalada em torno do número de títulos de campeão nacional alcançados pelo Sporting (18 ou 22) abre-nos hoje a porta para outro facto histórico que durante anos levantou - e continua a levantar - algumas dúvidas sobre a sua autenticidade e, por consequência, importância. Referimo-nos ao título conquistado pelo Palmeiras na Copa Rio Internacional de 1951, que é olhado hoje, com 65 anos de distância, como a primeira ocasião em que foi atribuído a um clube o estatuto de campeão mundial. É no entanto um facto encarado por muitos historiadores desportivos e/ou simples curiosos do fenómeno futebolístico com profunda insignificância, desprovido de veracidade, e como tal sem qualquer tipo de fundamento para sequer constar no Grande Atlas do Futebol planetário. Pelo contrário, outros sustentam que este longínquo torneio realizado em solo brasileiro foi o molde, a inspiração, do atual Campeonato do Mundo de Clubes organizado sob a batuta da FIFA, e que os contornos intencionais desse torneio oficializam o Palmeiras como o primeiro campeão mundial de clubes da história. Não existe, portanto, consenso para este facto histórico que hoje vamos recordar, e que só pela polémica instalada em seu redor merece, sem dúvida, ser retratado com algum detalhe nas vitrinas do Museu Virtual do Futebol.

A Copa Rio
Após uma derrota dolorosa é costume os jogadores, treinadores, dirigentes ou adeptos de uma equipa desejarem que o próximo jogo se realize o mais rápido possível no sentido de esquecer um capítulo sombrio ocorrido no presente. Terá sido este o pensamento dos dirigentes da Confederação Brasileira de Desportos (CBD) quando em 1951 idealizaram aquele que inicialmente foi batizado de Torneio Mundial dos Campeões. 
Por estes dias o Brasil ainda lutava para esquecer o pesadelo vivido um ano antes, quando o Uruguai roubou, em pleno Estádio do Maracanã, o título mundial aos anfitriões do maior evento chancelado pela FIFA. 
No sentido de limpar as lágrimas do provo brasileiro, a CBD projetou um outro torneio de dimensão planetária capaz de apagar as tristes memórias do Maracanazo de 1950. Um evento que agregasse a si alguns dos maiores clubes do Mundo de então, assim terão idealizado os dirigentes federativos. A ideia agradou de pronto aos membros da FIFA, tendo Ottorino Barassi, o braço direito do então presidente do organismo que tutela o futebol a nível global, Jules Rimet, dado o seu apoio para que o projeto fosse avante. 

O time do Vasco da Gama que na sua cidade falhou o assalto à conquista da Copa Rio
Há, no entanto, uma nota importante a reter nesta história: a FIFA apoiou e autorização a realização do torneio mas não chamou a si a organização do mesmo, atribuindo essa responsabilidade à CBD. Por outras palavras, na época a FIFA não oficializou como seu este Torneio Mundial dos Campeões, facto que só por si gerou ao longo das décadas seguintes muitos pontos de interrogação sobre a veracidade da designação do Palmeiras como o primeiro campeão mundial de clubes da História. Mas voltando aos contornos desta nossa viagem ao passado, com o aval da FIFA dado, a CBD tratou de convidar alguns dos gigantes do futebol internacional de então, na sua esmagadora maioria campeões dos seus respetivos países. Uma das exceções foi o Real Madrid, que mesmo não sendo o detentor do título espanhol de 50/51 recebeu o convite para participar, algo que acabaria por não acontecer devido a incompatibilidades de ordem financeira. Tal como hoje, já naquela época o colosso espanhol exigia elevados cachets para desfilar o seu emblema fosse em que parte do planeta fosse! Também o campeão italiano de 50/51, o Milan, recusou o convite que recebeu para viajar para a América do Sul, dando prioridade à Taça Latina que nesse ano se disputava precisamente em solo italiano. Com a nega dos merengues e dos rossoneri o Torneio Mundial dos Campeões foi integrado pelos vencedores dos dois principais campeonatos estaduais do Brasil, Rio de Janeiro e São Paulo, no caso, e respetivamente, o Vasco da Gama e o Palmeiras, aos quais se juntaram os campeões do Uruguai (Nacional), de França (Nice), da Áustria (FK Austria de Viena), de Portugal (Sporting), a Juventus (escolhida para substituir o Milan) e ainda o vencedor da Taça da Jugoslávia da época (Estrela Vermelha). 
A equipa da Juventus que participou na Copa Rio... ou terá sido o primeiro
Mundial de clubes?
Os oito clubes foram divididos em dois grupos de quatro equipas cada, sendo que o Grupo A (integrado pelo Vasco da Gama, Sporting, Austria de Viena e Nacional) teve como cenário a Cidade Maravilhosa do Rio de Janeiro, tendo o palco da competição sido instalado no majestoso Estádio do Maracanã, o tal que no ano anterior amparou as lágrimas de mais de 200.000 brasileiros na sequência da trágica derrota da sua seleção diante do Uruguai. Em São Paulo, no Estádio do Pacaembu, realizaram-se os encontros do Grupo B (composto por Palmeiras, Estrela Vermelha, Nice e Juventus). A bola começou a rolar no dia 30 de junho, sendo que no Pacaembu o campeão paulista realizou uma segunda parte verdadeiramente demolidora diante do Nice, performance traduzida num expressivo score de 3-0, com golos de Aquiles, De León e Richard. Na outra partida, ocorrida no dia seguinte no mesmo local, a Juve sentiu algumas dificuldades para bater por 3-2 o Estrela Vermelha, tendo valido aos transalpinos a tarde inspirada da sua então estrela-mor, o atacante Giampiero Boniperti, autor de dois golos. O campeão italiano repetiu a dose dois mais tarde diante do Nice, sendo que desta feita o golo do triunfo (3-2) surgiu à passagem do minuto 70, por intermédio de Ermes Muccinelli. Com esta vitória a Juventus selava a qualificação para as meias-finais, já que de acordo com os regulamentos do torneio os dois primeiros de cada grupo avançavam para a fase de eliminação direta. No dia 5, e contra todas as expectativas o Palmeiras sentiu grandes dificuldades para bater o Estrela Vermelha por 2-1. O internacional jugoslavo Ognjanov colocou os europeus em vantagem. A perder, o Verdão teve então de puxar dos seus galões e ainda na primeira parte Aquiles empatou, para na etapa complementar Liminha consolidar a reviravolta e garantir a qualificação da sua equipa para as meias-finais. 

Giampiero Boniperti
Faltava saber em que lugar os paulistas iriam terminar esta primeira fase, e talvez por isso o Pacaembu tenha registado uma afluência massiva de torcedores para assistir ao embate da última jornada da fase de grupos ante a poderosa Juve. Na realidade, assistiu-se a uma verdadeira avalanche italiana em direção à baliza paulista. 4-0 a favor dos italianos, o resultado final de uma partida onde brilhou a grande altura Giampiero Boniperti, que voltou a fazer o gosto ao pé em duas ocasiões. Ele que ainda hoje é um dos grandes nomes da história da Vecchia Signora, com mais de 400 jogos disputados com a equipa de Turim ao longo de 10 épocas e quase duas centenas de golos apontados (178 para sermos mais precisos). Boniperti que, refira-se a título de curiosidade, depois de abandonar os relvados enquanto futebolista foi durante largos anos dirigente da Juve, sendo hoje presidente honorário do clube. Foi ainda nos finais dos anos 90 eurodeputado eleito pelas listas da Forza Italia, o partido de Silvio Berlusconi. Com este expressivo triunfo a Juventus conquistava o topo do grupo, e iria medir forças com o segundo colocado do Grupo B, o Austria de Viena, ao passo que o Palmeiras iria enfrentar os conterrâneos do Vasco da Gama, vencedores de uma chave que tinha um Sporting que vivia ainda sob a aura gloriosa dos Cinco Violinos, ou Quatro Violinos, neste caso, porque a temível lança do mais famoso quinteto do futebol português, Fernando Peyroteo, havia-se retirado dois anos antes, restando Jesus Correia, Vasques, Albano e Travassos. A estes juntavam-se outros nomes de peso, casos de Mário Wilson, João Martins, Juca, Canário, Patalino e Ben David. Patalino e Ben David?  
A equipa do Sporting que alinhou diante do Vasco da Gama no Maracanã.
Na fila de baixo,ao centro estava o "convidado" Ben David, entre os Violinos
Jesus Correia, Vasques, Travassos e Albano
Mas estes dois astros dos futebol português dos anos 40 e 50 não pertenciam aos quadros do Sporting, dirão, e com razão, os leitores mais atentos à história do belo jogo. Ambos os jogadores integraram a comitiva leonina que rumou ao Rio de Janeiro na condição de convidados, assim como Serafim, então jogador do Belenenses, que aceitou o convite para vestir de verde nos três jogos que os leões disputaram na meca do futebol brasileiro, o Maracanã. Treinados pelo inglês Randolph Galloway o Sporting partia como um dos mais sérios candidatos à vitória nesta Copa, mas na prática as coisas não correram de feição aquele que era então o grande emblema do futebol lusitano. Aliás, e em jeito de curiosidade, refira-se que em 1951 o Sporting havia vencido o primeiro de uma série de quatro títulos de campeão nacional consecutivos, que haveriam de dar ao clube de Alvalade o primeiro tetra da história do futebol português. Mas no Rio o prestígio do Sporting não se vislumbrou, e logo na estreia os leões sofreram uma das derrotas mais pesadas da prova às mãos do Vasco da Gama. 5-1, numa partida em que atuaram cinco homens que no ano anterior tinham vertido lágrimas naquele mesmo relvado do templo do Maracanã. Friaça, Eli, Maneca, Danilo e Barbosa, cinco jogadores que haviam sido vergados à mestria do Uruguai na final do Mundial de 1950, mas que desta vez saíram com motivos para sorrir do tapete verde sagrado da Cidade Maravilhosa. O tento de honra dos portugueses saiu dos pés de Patalino, um dos três jogadores convidados, e que na altura defendia as cores do seu querido Elvas. No outro encontro desta 1ª jornada o Austria de Viena esmagava por 4-0 o Nacional de Montevideu. 

Verdão festeja um golo na final diante da Juve
Uruguaios que na ronda seguinte vingaram a derrota da estreia, ao aplicar um KO direto (vitória por 3-2) ao desolador Sporting que assim se despedia da possibilidade de lutar pelo título. Neste encontro brilhou mais uma vez o génio de Patalino, ele que aos dois minutos colocou os portugueses em vantagem no marcador, a qual seria no entanto sol de pouca dura, já que dez minutos volvidos Bernardes restabeleceu a vantagem. Pouco depois Jesus Correia recolocou os leões na frente, liderança que seria perdida após o intervalo, altura em que Ramires voltaria a colocar tudo de novo em pé de igualdade. O só seria desfeito a dois minutos do fim, quando Ambrois bateu o mítico Azevedo. A título de curiosidade diga-se que a capitanear a turma do Nacional estava o homem que um ano anos tinha recebido das mãos de Jules Rimet (então presidente da FIFA) o troféu de campeão mundial de seleções, de seu nome Obdulio Varela. 
De pé quente estava o Vasco da Gama, que brindou o Austria de Viena com a mesma receita que havia aplicado ao Sporting na jornada de estreia, ou seja, 5-1, resultado que garantia aos cariocas desde logo a presença na fase seguinte.  
A 7 de julho o Sporting despedia-se da Copa com mais um dissabor, desta feita diante do campeão austríaco, por 1-2. Adolf Huber apontou aos 83 minutos do encontro o golo da vitória dos vienenses, depois de Aurednik ter inaugurado o marcador ao minuto três e de Albano ter restabelecido a igualdade aos 46. Os leões saiam do Rio sem honra nem glória, ao passo que os austríacos carimbavam desta maneira o passaporte para as meias-finais. Isto, porque no outro encontro da terceira e última jornada da fase de grupos o Nacional caiu aos pés do Vasco da Gama por 2-1.

Palmeiras surpreendeu Vasco no duelo brasileiro

Imagem do duelo entre cariocas e paulistas
Pelo que havia feito até então e por jogar diante do seu público, o Vasco da Gama era olhado pela imprensa de então como o grande favorito a alcançar a final. Mas para isso teria de ultrapassar a dupla batalha diante dos conterrâneos do Palmeiras. E dupla porque de acordo com os regulamentos as meias finais seriam jogadas a duas mãos! No dia 12 de julho o Maracanã (lotado) acolheu então o primeiro duelo entre os rivais cariocas e paulistas, sendo que estes últimos para além de partirem como outsiders na bolsa das apostas debateram-se à última da hora com a ausência forçada do seu mítico guarda-redes Cattani, o qual seria substituído por Fábio Crippa. Mas, e como diz o ditado, um azar nunca vem só, e no decorrer do jogo o temível Aquiles é forçado a abandonar o relvado na sequência de um violento choque com o guardião vascaíno, Barbosa. Porém, o Palmeiras não baixou os braços e foi à luta. A atitude guerreira dos paulistas seria premiada com uma justa vitória por 2-1 (com os golos do Verdão a serem apontados por Richard e Liminha).
No mesmo dia, mas no Pacaembu de São Paulo, a Juventus empatava a três bolas com o Austria de Viena, sendo de sublinhar a estupenda exibição individual do dinamarquês ao serviço dos transalpinos Karl Aage Praest, autor de dois golos. Dois dias depois, no mesmo local, as duas equipas voltaram a encontrar-se para o tira-teimas. Depois de um nulo ao intervalo a Juve teve um início de segunda parte verdadeiramente demolidor, e a prova disso é que aos 14 minutos já vencia por 3-0 (dois golos de Muccinelli e um de Boniperti). O melhor que o Austria conseguiu fazer foi reduzir na reta final da partida, mas já sem fôlego para impedir que os italianos fossem os primeiros a carimbar o passaporte para a final do Maracanã.   
E neste templo da bola jogar-se-ia a segunda mão da outra meia final, com o Vasco a entrar em campo com a esperança de inverter o resultado negativo do primeiro encontro. Não conseguiu, porque o Palmeiras esteve simplesmente soberbo no plano defensivo, mantendo o nulo até final que lhe abriu as portas da final.

Vingança em tons de verde na génese do primeiro "título mundial" de clubes


Os dois capitães e o árbitro
antes da final
Sob a arbitragem do austríaco Franz Grill, Palmeiras e Juventus subiram ao relvado de um Maracanã que - mais uma vez - apresentava uma numerosa moldura humana para disputar a primeira mão da final (nota: à semelhança das meias finais também a final foi disputada a duas mãos). A Juve procurava confirmar o favoritismo, até porque na fase de grupos já havia atropelado o Verdão por quatro golos sem resposta. No entanto, esta era uma final, além de que no futebol não há dois jogos iguais. E o Palmeiras viria a confirmar esta teoria por intermédio de Rodrigues, que aos 20 minutos do primeiro tempo bateu Giovanni Viola e selou o triunfo dos brasileiros. Quatro dias mais tarde - a 22 de julho - as duas equipas voltaram a medir forças no derradeiro jogo da competição. A Juventus precisava de marcar dois golos - e não sofrer nenhum - para erguer o troféu diante um estádio repleto que esperava um fim bem mais alegre do que aquele que ali havia acontecido um ano antes por altura do Campeonato do Mundo da FIFA. O dinamarquês Praest ainda colocou o gigante Maracanã em sentido quando aos 17 minutos bateu Crippa pela primeira vez. O fantasma de 1950 voltava assim a pairar sobre o Maracanã. No entanto, e no início da segunda parte Rodrigues aproveita da melhor maneira uma defesa incompleta de Viola - que não segurou um remate de Lima - para fazer o empate. A Juve não esmoreceu, e aos 18 minutos o goleador Boniperti (que seria o melhor marcador do torneio) voltaria a colocar os transalpinos na frente, os quais precisavam agora de mais um golo para levantar o caneco. Esse golo da glória acabou por não acontecer, ou melhor, ele surgiu, mas para o lado do Palmeiras, na sequência de uma magistral jogada individual de Liminha que só parou no fundo da baliza de Viola. 2-2, o resultado final. Com o apito final do francês Gaby Tordjman a festa estalou por todo o Brasil. O Palmeiras era campeão... do Mundo. Sim, do Mundo, foi dessa forma que toda a imprensa da época rotulou os paulistas. Com este título o Brasil inteiro sentia, de certa forma, que o Maracanazo de 1950 não tinha passado de um mero acidente de percurso de uma nação que queria revelar aos olhos do Mundo como a potência que se viria a confirmar nos anos e décadas seguintes.

Copa Rio de 51 foi o molde do atual Mundial de clubes da FIFA

Gooooollllll de Liminha!
No dia seguinte ao da segunda mão da final, o Palmeiras regressou a São Paulo. À espera da comitiva do Verdão estava uma cidade em peso. A Copa Rio Internacional de 1951 resultou num verdadeiro êxito desportivo, facto que terá levado nos anos seguintes outros pensadores do futebol planetário a organizar torneios de âmbito internacional entre clubes de continentes diferentes. Foi o caso do Torneio de Paris, cuja primeira edição foi realizada em 1957 entre equipas de França, Espanha, Alemanha e Brasil, e que durante alguns anos foi considerado como uma das mais importantes e prestigiadas competições internacionais de clubes. Aliás, muitos dos seus vencedores intitulavam-se mesmo campeões do Mundo.  Em 1960, a UEFA e a CONMEBOL uniram-se na criação de uma outra competição, a Taça Intercontinental, disputada (até 2004) entre os campeões das duas maiores provas de ambas as confederações, sendo que o vencedor deste troféu era encarado como o campeão mundial de clubes. No entanto, em 2005 a FIFA decide chamar a si a responsabilidade de coroar o rei do globo no que a clubes concerne, e de lá para cá organiza no final de cada ano civil o Mundial de Clubes, prova que junta os campeões das cinco confederações do Mundo. E aqui, sim, a nosso ver, podemos rotular o vencedor do Mundial da FIFA como um autêntico campeão mundial, já que no mesmo torneio estão representados clubes de todo o Mundo, contrariamente ao que acontecia com a Taça Intercontinental, que só incluía clubes de duas confederações. 

Jornais titulam Palmeiras
campeão do Mundo!
Mas voltando à Copa Rio de 51 para dizer que para muitos dos adeptos do futebol a nível planetário este torneio não passou disso mesmo... de um mero torneio internacional. No entanto, o Palmeiras sempre viu neste um dos principais motivos de orgulho da sua longa e rica história, intitulando-se desde sempre como o primeiro campeão do Mundo de clubes. Na tentativa de ver reconhecido por parte da FIFA este título uma delegação do Palmeiras construiu já no novo milénio um dossier com a intenção de ser remetido à FIFA no sentido de a entidade máxima do futebol planetário oficializar a conquista de 1951, e desta forma reconhecer o emblema paulista como o primeiro campeão mundial da história. Na resposta, a FIFA, então presidida por Joseph Blatter, reconheceu a vitória do Palmeiras como "de âmbito mundial", embora descartando-se de atribuir um carimbo oficial à efeméride, isto é, tal como em 1951 o organismo não chamou a si a responsabilidade do torneio, e como tal não atribuiu cariz oficial (no âmbito da FIFA) a esta conquista, como, aliás, acontece em relação à Taça Intercontinental, prova somente oficializada pela UEFA e pela CONMEBOL. Apesar de tudo, Blatter e a FIFA emitiram um certificado ao Palmeiras reconhecendo este como o vencedor do primeiro torneio de clubes de âmbito planetário. Parecer confuso? Talvez. Perante isto a questão mantém-se: será justo, ou credível, classificar o Palmeiras como o primeiro campeão do Mundo de clubes? Uns continuarão a dizer que sim, outros asseguram que não. 
A equipa do Palmeiras que se sagrou campeã mundial de clubes em 1951... ou não...