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quinta-feira, março 17, 2022

Histórias do Futebol em Portugal (34)... A estreia do Salgueiros na alta roda do futebol nacional

A equipa do Salgueiros que se estreou 
na 1.ª Divisão em 43/44
Com 110 anos de história, o Sport Comércio e Salgueiros procura hoje regressar a um lugar que por direito é seu: o patamar mais alto do futebol nacional, isto é, a 1.ª Liga. Com 24 presenças entre a elite do futebol luso, o clube portuense encontra-se entre os 20 primeiros do ranking de clubes com mais participações no escalão maior de Portugal.

A velha Europa procurava ainda sair do conflito bélico de proporções catastróficas que constituiu a 2.ª Guerra Mundial (1939-1945) quando o popular Salgueiral subiu pela primeira vez ao palco principal do futebol português. Facto ocorrido na temporada de 1943/44, altura que se jogou a 10,ª edição do Campeonato Nacional da 1.ª Divisão, e onde o Sporting - que ainda só tinha três dos seus Cinco Violinos - procurava destronar o Benfica de Guilherme Espírito Santo e de Julinho do trono do desporto rei nacional, e em que o FC Porto de Pinga e Correia Dias procurava sob a batuta do húngaro Lippo Hertzka, ex-treinador de Benfica e Real Madrid, recuperar um título que lhe fugia há três anos para os rivais da capital. Mas havia outros emblemas históricos que procuravam um lugar ao sol neste Nacional de 43/44, casos do Belenenses, da Académica, do Olhanense, do Atlético, ou dos dois Vitórias (o de Guimarães e o de Setúbal). E no meio da nata do futebol lusitano surgia um caloiro, o Salgueiros, emblema que surpreendeu o país futebolístico ao classificar-se em 2.º lugar no Campeonato Regional do Porto dessa temporada - e que antecedia o Nacional da 1.ª Divisão -, atrás do FC Porto, clube que dominava o futebol nortenho de então, mas à frente de clubes que haviam já pisado o palco do escalão maior de Portugal, casos do Leixões, do Académico do Porto, do Boavista e do próprio Leça.

Eng. Vidal Pinheiro
A boa campanha efetuada no Regional portuense trazia otimismo às hostes salgueiristas na antecâmara da 1.ª Divisão Nacional, conforme é possível comprovar numa entrevista concedida pelo então dirigente encarnado Vidal Pinheiro à revista "Stadium" - publicação que nos ajuda a escrever esta efeméride em torno da estreia do Salgueiros no escalão maior e cujas imagens ajudam a ilustrar esta viagem ao passado. Nessa conversa conduzida pelo jornalista Mário Afonso, o histórico Engenheiro Vidal Pinheiro, então presidente da chamada Comissão de Melhoramentos do clube, afirmava que o Salgueiros estava na 1.ª Divisão Nacional por mérito próprio, e não porque devesse essa subida a favores de qualquer espécie. «Depois do F. C. do Porto, o Salgueiros foi o clube mais regular. As suas únicas derrotas foram infligidas pelo campeão; os restantes vencemo-los com resultados mais ao menos volumosos», dizia o dirigente.  Quando questionado mais adiante sobre as possibilidades do clube nesta participação então inédita na 1.ª Divisão, o Eng. Vidal Pinheiro respondia que «haverá, certamente. um certo "tatear" nos primeiros jogos, mas, depois, haveremos de fazer algo de jeito. Boa posição na escalão (tabela)? Não sei.... tudo depende. Mas o que lhe posso afirmar é que nem deixaremos mal colocado o nosso nome e o brio da cidade que representamos de parceria com o F. C. do Porto, nem seremos um "mau amigo" do nosso campeão», vaticinava.

Questionado ainda se havia boa disposição no plantel, Vidal Pinheiro era perentório em dizer que ânimo, coragem e fé não faltava num grupo em que ele confiava em pleno para uma boa campanha. Quanto a moral, resistência.... «Sim, devem tê-la em grau superlativo. Recordemos, por momentos que só este ano após tanta vicissitude conseguimos atingir o fim almejado: entrar no Campeonato Nacional da 1.ª Divisão. Portanto, creio que não poderão ter mais moral do que nesta época. Quanto à resistência, eu lhe explico: deve ter notado que o grupo, ao concluir qualquer encontro, não dava, este ano, aquela exteriorização de fadiga, como em anos transatos. Sabe porquê? Pela simples razão de todos os jogadores terem sido obrigados a seguir, durante o defeso, um curso de gimnástica e preparação atlética, de forma que ao iniciar-se o campeonato regional, todos estivessem em boas condições físicas».

Vidal Pinheiro estava certo de que esta subida à 1.ª Divisão Nacional iria dar muito mais visibilidade a um clube que... não era só futebol. «Uma coisa lhe quero dizer. Para já, conseguimos isto: que se falasse, durante todo um ano no nome do meu clube. Já não é como outrora, em que, após a época do futebol, o Salgueiros desaparecia das gazetas, esquecido até ao ano seguinte. Agora não. Falou-se nele constantemente: a propósito da natação, do atletismo, do basquetebol, do andebol, do ciclismo, etc». Era o este o Salgueiros que Vidal Pinheiro e seus pares vinham trabalhando afincadamente naqueles anos, um clube eclético que pretendia chamar a atenção do público do desporto português. E conseguiu-o.

Dores de crescimento fizeram-se sentir no início

Atlético - Salgueiros
Tal como o Eng. Vidal Pinheiro previu na antevisão deste Nacional da 1.ª Divisão de 43/44, o Salgueiros acusou inicialmente alguma inexperiência na alta roda do futebol português. Algum desconhecimento até, face aos grupos do sul, com quem não estaria habituado a medir forças, acabando por pagar essa fatura sobretudo na primeira volta do campeonato. De facto, o Salgueiros surgiu muito tímido nos campos de batalha do futebol luso, e mais do que averbar derrotas mostrou muitas fragilidades ao nível do seu jogo. Porém, com o avançar da época a equipa foi ganhando outra alma, outro ânimo, mostrando que afinal também tinha valor e bom futebol para figurar entre a elite portuguesa. Mas vamos ao filme da primeira passagem do Salgueiral pelo palco maior do nosso futebol. O pontapé de saída aconteceu na Tapadinha, mítica casa do Atlético, onde as coisas não correram de feição aos encarnados, a julgar não pelo desaire por 4-0, mas de igual modo pelo conceituado jornalista da "Stadium", Tavares da Silva, que foi duro nas palavras na apreciação ao jogo dos salgueiristas: «O sub-campeão do Porto - segundo opinião unânime - traz para a prova pouco valor. Se isso não importa, de momento, interesso no futuro, porque o grupo representa a 2.ª região futebolística do país. Da má exibição - é possível que o bloco se ajeite melhor em futuras digressões - nada ficou senão a afirmação de um guarda-redes de razoável categoria (Peixoto). Pouco mais do que isto o Salgueiros deixou na sua primeira visita, podendo no entanto citar-se alguns dos seus lances na organização da defesa - porque o ataque quase não existiu».

Na ronda seguinte a tarefa do Salgueiros em apagar a má exibição da estreia era uma missão quase impossível, ou não tivesse pela frente o campeão nacional em título, o Benfica. Os lisboetas, orientados pelo antigo guarda-redes de Académico do Porto e Boavista, Janos Biri, surgiram no Campo Augusto Leça, o reduto dos salgueiristas, com uma linha de ataque de respeito, formada por Julinho, Rogério Pipi e Alfredo Valadas. No entanto, e de acordo com a pena de Tavares da Silva, o Benfica não esteve nos seus melhores dias nesta visita ao Porto, jogando no aproveitamento do erro do adversário. Erros que ao que tudo indica terão sido muitos para os encarnados do Norte. Para o consagrado jornalista, o Salgueiros voltou a mostrar sinais de muita fragilidade, tendo a equipa sido sempre dominada pelos campeões nacionais, que acabariam por vencer por claros 6-1. Contudo, apesar de dominados, os portuenses quando atacavam conseguiam provocar algum desentendimento entre a defesa benfiquista, uma nota que Tavares da Silva fez sobressair na sua crónica e que considerou um aviso a ter em conta aos lisboetas para quando defrontassem equipas que estivessem mais ao seu (alto) nível. Outra nota a realçar é o golo salgueirista, o primeiro na alta roda do futebol nacional, tendo o seu autor sido o médio Viana, um nome que ficará assim na história deste clube.

FC Porto - Salgueiros
A grande sala de visitas do futebol portuense daquela altura, o mesmo será dizer o Estádio do Lima, foi a paragem seguinte do Salgueiros, que na 3.ª ronda enfrentava o vizinho e campeão regional FC Porto. E quem pensava um novo massacre enganou-se redondamente, pois o Salgueiral não só vendeu cara a derrota (3-1) ante os azuis-e-brancos como também fez uma agradável exibição, facto que mereceu destaque no relato do jornalista portuense Mário Afonso para a "Stadium". Para este homem das letras o Salgueiros tinha feito a sua melhor exibição até então neste campeonato, e o facto de ter sido ante um dos candidatos ao título era ainda mais digno de registo. Mas para Mário Afonso esta boa exibição aconteceu porque há equipas que se transcendem quando atuam perante outros conjuntos, e neste caso puxou da rivalidade que existia entre os dois emblemas para justificar esta boa exibição dos encarnados de Paranhos. «Quando joga contra o F. C. Porto, o Salgueiros parece outro. Vale muito mais. Quase não se acreditava que estivesse no Lima o mesmo grupo que jogou contra o Benfica! O Salgueiros, animado pela rivalidade que mantém com o campeão, e costumado ao ambiente, conseguiu praticar um futebol de conjunto, vivo, enérgico e com certa ligação. Daí, equilíbrio, jogo repartido pelas duas metades da relva do Lima. Porque não pode dizer-se que o Porto tenha jogado mal, e só ainda faz brilhar um pouco mais o seu adversário. (...) O elemento mais destacado do Salgueiros continua a ser o guarda-redes Peixoto. Um nome a apontar e a ver em exibições futuras: Oliveira, o avançado-centro». E foi precisamente de Oliveira o único golo do Salgueiros nesta derrota com... algum sabor a vitória pela boa exibição conseguida.

Estudantes testemunham uma vitória histórica!

Salgueiros - Académica
Apesar de novato nestas andanças e de nas primeiras duas jornadas ter mostrado um nível abaixo do que era exibido na alta roda do futebol português, não foi preciso esperar muito para que as hostes salgueiristas festejassem a primeira vitória no campeonato nacional. A primeira da sua história, visto desde os dias de hoje. Facto ocorrido na 4.ª jornada, no Campo Augusto Leça, diante da Académica de Coimbra. Um triunfo, por 3-1, que para o jornalista Tavares da Silva devia ser levado em conta, desde logo pelo fraco nível exibicional que os portuenses haviam mostrado nos primeiros jogos, pense embora na sua opinião este triunfo não se tenha devido tanto a uma grande exibição do Salgueiral. Na sua visão esta vitória teve como base o fator aproveitamento de três jogadores que atuavam nos setores recuados e intermédios do terreno: em primeiro lugar o guarda-redes Peixoto, o qual esteve magistral na 2.ª parte; o esforçado defesa João (Santos); e o médio centro Sousa, que imprimiu à equipa a necessária ligação tornando possível a realização dos golos. E se os estudantes estiveram bem no primeiro tempo, após o golo do empate baixaram de rendimento, facto aproveitado pelo Salgueiros para conquistar os primeiros pontos nesta prova.

Sporting - Salgueiros
A este triunfo seguiu-se a derrota mais pesada do grupo neste Nacional de 43/44, facto que aconteceu na visita ao reduto do poderoso Sporting, orientado por Joseph Szabo, e cuja força residia em jogadores como Fernando Peyroteo, Albano, Mourão, Cruz, entre tantos outros. 10-0 foi o pesado resultado final de um encontro onde o Salgueiros, de acordo com Tavares da Silva, chegou em alguns momentos a dar «agradável impressão da sua movimentação geral, nada há mais a dizer senão salientar a má tarde do seu guarda-redes, embora multo desprotegido».

Salgueiros - Belenenses
O oponente seguinte foi outro histórico do futebol luso, no caso o Belenenses, que na 6.ª jornada visitou o Campo Augusto Leça. Para este encontro os azuis de Belém apresentaram no seu "onze" um novo guarda-redes, que dava pelo nome de Capela, e que iria dali em diante marcar uma era no emblema da Cruz de Cristo. Segundo a crónica de Tavares da Silva na "Stadium", o estreante guardião cumpriu a sua missão, pese embora não tenha tido pela frente uma linha avançada que lhe causasse muito trabalho. Mas nas poucas vezes que foi chamado a intervir, fê-lo com segurança e classe. O Belenenses na opinião do jornalista não fez uma exibição de grande brilho, chegou para as encomendas, e quando garantiu a vitória atuou mais em ritmo de treino, acabando a partida por perder algum interesse. E mesmo a expulsão do belenense Mário Coelho, no final da primeira parte, não pôs em causa a supremacia do combinado orientado pelo húngaro Sándor Peics. Quanto ao Salgueiros, esse quase todo esteve mal, na visão de Tavares da Silva, «até a defesa, que costuma comportar-se menos mal. Só se salvou o médio centro Coura, rapaz com merecimento activo e com boa posição em campo, e um pouco Augusto, o interior direito. O ataque do Salgueiros quase não existiu, devendo anotar-se simplesmente sua reação no começo do jogo, no pôs intervalo. O que não quer dizer que o team não tenha posto na luta, em todos os momentos, uma bela energia». 6-1 foi o resultado final para o Belenenses, cabendo a Silva marcar o tento de honra dos salgueiristas.

Salgueiros - Olhanense
Seguiram-se mais dois jogos em casa, o primeiro deles ante os antigos campeões de Portugal, dez anos antes, o Olhanense. Nova derrota para o Salgueiral, desta feita por 2-5. Um resultado que para Tavares da Silva borrava o quadro da classificação geral, já que segundo aquele jornalista enquanto todas as outras equipas davam sinais de progressão, sendo que o Salgueiros não acompanhava essa tendência. E mesmo o setor defensivo, que até então era o que se exibia em melhor forma no campo em encontros anteriores, neste jogo abriu brechas por todo o lado. Apesar de evidenciar dificuldades, o conjunto de Paranhos continuava a dar sinais de querer contrariar a tendência de que era uma equipa ainda inexperiente nestas andanças, como comprovam as palavras do jornalista da "Stadium": «Não quer isto significar que os "salgueiros" não tenham dado um ar de graça, no passado domingo. Pelo contrário, durante certo período da segunda parte o ataque realizou coisas de bom jeito, mas depois perdeu o norte, reduzindo-se a uma ou outro tentativa, feita de quando em vez. Não fôra, mais uma vez, o médio Coura, e a coisa ainda seria pior. O Salgueiros estreou dois jogadores: Renato, a interior-direito e depois avançado-centro, e Faria, interior-esquerdo. Esta orientação, tirar dois interiores e pôr lá outros dois de uma só vazada, mostra claramente as dificuldades que o agrupamento atravessa, e os trabalhos de cabeça que os dirigentes se dão para modificar um estado de coisas que já não tem modificação possível, pelos vistos. Os estreantes revelaram alguma habilidade. Já não é mau de todo». Mas o cenário haveria de mudar, como veremos mais à frente. Ante os olhanenses os golos salgueiristas foram apontados pelo estreante Renato e por Silva.

O jogo seguinte mostrou, ainda que ao de leve, essa subida de forma, já que na receção ao Vitória Sport Clube (de Guimarães) a turma portuense conquistou mais um ponto, fruto de um empate a duas bolas. Sobre o jogo não há muitos relatos na "Stadium", que ressalva apenas que o Salgueiros lutou com entusiasmo. Coura e Silva apontaram os tentos dos salgueiristas.

O outro Vitória a competir nesta 1.ª Divisão de 43/44, neste caso o de Setúbal, foi o oponente seguinte. 2-1 a favor dos sadinos, foi o resultado final de uma partida que segundo Tavares da Silva teve um rol de oportunidades desperdiçadas, tantas foram as vezes que os avançados estiveram cara a cara com os guarda-redes e não os conseguiram bater. Os portuenses continuavam a dar indícios de crescimento no campeonato a julgar pelas palavras do jornalista: «o Salgueiros foi mais ameaçador do que o Vitória. Inesperadamente ameaçador, pois ao conseguir um goal, este teve o efeito de despertar as energias do adversário. Só quando começou a perder é que o Vitória se lembrou que tinha de ganhar...». O goleador Silva foi mais uma vez o artilheiro de serviço dos encarnados neste encontro.

Segunda volta mostra um Salgueiros diferente... para melhor

Salgueiros - Atlético
Em janeiro de 1944 arrancou a segunda volta do Nacional da 1.ª Divisão, tendo o Salgueiros retribuído a visita à Tapadinha em novembro do ano anterior. O Atlético era por esta altura uma das boas equipas do campeonato, ocupando os lugares da frente do pelotão, fruto da bela campanha que vinha fazendo. E Tavares da Silva na sua crónica habitual na "Stadium" frisou precisamente isso para justificar o triunfo dos lisboetas no Campo Augusto Leça por 3-0. No entanto, o Salgueiros continuava a dar sinais de crescimento... «O Salgueiros forçou a marche do encontro de modo a dominar durante largos períodos do jogo, instalando-se na grande área dos lisboetas. Mas estes nunca perderam o sangue frio, e aqueles nunca o encontraram em frente das redes para fazer aquilo que parece mais fácil mas que é o mais difícil: goal. A serenidade com que o Atlético suportou a tempestade, defendendo uma vitória preciosa que - certo, certo - nunca esteve praticamente ameaçada, diz-nos, além de tudo, que o grupo está a adquirir a categoria dos grandes teams». E a prova disso foi que os lisboetas acabariam este campeonato em 3.º lugar, à frente de clubes de maior poderio, como o FC Porto, ou o Belenenses.

De Lisboa era também o adversário seguinte dos encarnados do Porto, mas este de maior peso, já que lutava com o eterno rival Sporting pelo título de campeão nacional.

Benfica - Salgueiros
Numa altura da temporada em que os clubes já levavam muitos jogos nas pernas, o Benfica optou na receção ao Salgueiros por fazer descansar alguns dos seus titulares, substituídos por nomes menos conhecidos, como Cerqueira, Carvalho e Teixeira II, facto que terá, quiçá, pesado no facto de os benfiquistas terem feito uma exibição algo "cinzenta", pouco condizente com um candidato ao título. Valeu a inspiração de uma das suas maiores estrelas, Julinho, autor de quatro dos seis golos com que os comandados de Janos Biri bateram os salgueiristas por 6-1. Sobre estes últimos Tavares da Silva trazia boas novas: «É de notar também que o Salgueiros apresenta progressos nos esquemas do seu jogo - sinal evidente de que a permanência na competição de honra lhe tem feito bem». Renato foi o marcador do único tento do Salgueiral no Campo Grande.

De regresso à Cidade Invicta na jornada que se seguiu para defrontar o vizinho FC Porto, que estava longe de convencer neste campeonato. Foi uma partida que para o principal redator da "Stadium" teve duas partes distintas, uma pautada pelo equilíbrio e outra pelo... desequilíbrio. A primeira muito por culpa do facto de a equipa na teoria mais fraca, o Salgueiros, ter querido impor-se, de jogar de igual para o com o seu velho rival. A outra, quando essa mesma equipa de nível inferior perdeu o fôlego e começou a desaparecer do encontro, aspeto aproveitado para os portistas abrirem o marcador e chegarem à goleada final de 5-0. «Foi assim mesmo. Belo jogo, na primeira parte, com os grupos em acentuado equilíbrio, e porventura o Salgueiros, mais perigoso. Depois, no segundo tempo, o Salgueiros deixou-se dominar pela resistência e melhor técnica do adversário, que pôs a bola rente ao terreno para o passe da precisão, utilizando os extremos. Porque o mérito do Salgueiros está na luta que deu. Depois de sofrer o quinto goal - ainda quis espreguiçar-se, verdade seja. Era tarde!», assim resumiu Tavares da Silva o jogo.

Na ronda seguinte o Salgueiros sentiu o amargo sabor da vingança dos estudantes de Coimbra, que na primeira volta haviam sido batidos no Campo Augusto Leça. Frente a frente estavam as duas últimas equipas da classificação geral, pelo que só a vitória servia a cada uma delas para largar a "lanterna vermelha". Foi mais feliz a Académica, que no Campo de Santa Cruz entrou determinada não só a fugir ao último posto, mas de igual forma a vingar a tal derrota no Porto. Foi uma Briosa de ataque, conforme disse Tavares da Silva na sua crónica, e a comprovar isso foi o resultado de 9-4 a favor dos locais. Renato, Toninho, Oliveira e Alfredo foram os artilheiros do Salgueiros, que neste encontro marcou o maior número de golos, quatro, num só encontro desta época de estreia no escalão maior.

Salgueiros - Sporting
Após esta pesada derrota o Campo Augusto Leça engalanou-se para receber uma das mais fortes equipas daqueles anos, o Sporting, liderado por um Peyroteo letal! Com muito menos armas que o poderoso adversário, o Salgueiros deu luta, aliás, esta era uma postura que vinha patenteado de há uns jogos a esta parte, sinal de que começava a ambientar-se a estes palcos grandes. Porém, e segundo as palavras de Tavares da Silva, faltavam elementos condizentes com a elite do futebol português, isto é, jogadores de 1.ª Divisão ao Salgueiros. Facto que provocava nas suas palavras alguns momentos de desorganização na equipa nortenha. «Por tudo quanto ficou dito, deve já destacar-se o comportamento do Salgueiros na primeira parte, equilibrando a partida em termos de ver-se, mesmo com um pouco de emoção. Que, aquilo que sucedeu no segundo tempo, não deve causar a mais leve estranheza. A experiência, o fôlego, a melhor técnica, e ainda, por cima de tudo, a robustez do Sporting, impuseram-se de tal modo que o guarda-redes do Salgueiros não pode sossegar um simples minuto, pois a bola raramente saiu da sua órbita. Nessa altura, o Sporting impôs-se de alto a baixo, não estando em causa a classificação do jogo produzido e o resultado não podia ser outro, a não ser uma vitória mais volumosa». Pois é, 5-1 a favor dos sportinguistas, que haveriam de vencer esta edição do Campeonato Nacional, sendo que neste encontro Fernando Peyroteo apontou quatro dos cinco golos da sua equipa, ao passo que Coura fez o gosto ao pé para os nortenhos.

Belenenses - Salgueiros
Igual resultado, o mesmo será dizer uma derrota com números semelhantes, aconteceu na jornada seguinte em nova visita do Salgueiros à capital, desta feita para defrontar o Belenenses. Nas Salésias os azuis de Belém não sentiram dificuldades em bater os portuenses, pese embora tenham demorado a encontrar o caminho da baliza de Peixoto, algo que de acordo com Tavares da Silva terá apimentado o encontro na sua fase inicial. Quanto à performance dos nortenhos no Estádio das Salésias, o jornalista disse que «o simpático grupo do Salgueiros mostrou-se animoso, como sempre, mas o seu quadro, como já temos dito, não está ainda à altura da prova. Só nos jogos em casa pode oferecer realmente dificuldades aos adversários». Renato apontou o tento dos encarnados de Paranhos neste jogo.

Como não há duas sem três, a visita a Olhão cifrou-se numa nova de derrota também por 5-1. Um futebol rápido e ofensivo ajuda a justificar este triunfo do Olhanense. Contudo, não se julgue que o Salgueiros foi "bombo da festa", já que na crónica do encontro, a equipa portuense foi ofensiva, batalhadora, «chegando, mesmo, a desenvolver esquemas de jogo que lembraram à defesa algarvia a necessidade de se conservar alerta. Isto confirma aquilo que temos dito sobre o Salgueiros, isto é, que a prova só lhe tem feito bem - além de dar aos seus dirigentes preciosas indicações relativamente ao futuro», assim escrevia Tavares da Silva. Alfredo apontou o golo do Salgueiros no Algarve.

Salgueiros - Vitória de Setúbal
O Campo de Benlhevai, em Guimarães, foi a derradeira saída do Salgueiral neste Nacional. Pela frente tinha um Vitória que esteve longe de fazer uma boa prova, muito pelo contrário. Nesta jornada, a penúltima, o Sporting consagrava-se campeão nacional, ao passo que o Salgueiros com a derrota pela margem mínima (1-2) no Minho assegurava... a "lanterna vermelha" da prova. Em Guimarães os locais atacaram desde início e chegaram ao intervalo a vencer por 2-0. No reatamento, os portuenses reagiram, dando algum trabalho à defesa vitoriana, embora somente por uma ocasião tenham tido êxito, por intermédio de Ribeiro.

E eis que chegávamos à última jornada deste Campeonato Nacional, sendo que no Porto o Salgueiros encerrava a sua estreia entre os maiores do futebol nacional com uma receção ao Vitória de Setúbal. Já com a classificação definida, o Salgueiros perdeu por 3-5 um encontro onde o seu jogador Renato brilhou ao apontar os três golos dos encarnados. Falando de contas, o emblema de Paranhos ficou na última posição, com três pontos somados, 23 golos marcados e 84 sofridos, números que à primeira vista são maus, mas que se olharmos ao "resto da história" significaram só o início de uma caminhada entre a elite do futebol português, o lugar que este histórico clube conquistou nas décadas seguintes e que como tal é seu por mérito próprio.

quinta-feira, março 10, 2016

Grandes Mestres da Táctica (11)... Manuel Oliveira

Manuel Oliveira, uma eterna lenda viva da tática 
Génios há que nunca viram reconhecidas as suas obras nas (mais diversas) áreas em que se notabilizaram. No futebol, em concreto, foram muitas as figuras que imprimiram o seu cunho na história do jogo mas que por "esta ou aquela razão" - inveja, ausência de mediatismo, personalidade controversa, são algumas das razões que poderemos apontar para justificar o facto de não figurarem no hall of fame do futebol - passaram ao largo das (merecidas) vénias e da fama global. É o caso do nosso mestre da tática de hoje, uma personalidade singular, ou não tivesse reunidas em si características tão distintas como inovação, disciplina, sabedoria, polémica, ou frontalidade. Manuel Oliveira, a sua graça, indiscutivelmente uma dos maiores treinadores da história do futebol português, e porque não dizê-lo a esta distância do(s) tempo(s) em desempenhou com mestria a sua função... um dos maiores a nível internacional. Afirmação exagerada? Se calhar não, e já vamos ver porquê?
Manuel Oliveira Santos, nasceu a 29 de maio de 1932, na margem sul, Distrito de Setúbal, mais precisamente em Pinhal Novo. Oriundo de uma família pobre - o pai era ferroviário - foi de pé descalço, como tantos outros meninos da época, que se deixou enamorar, ali, ao lado do lar, pelos encantos do belo jogo. Travou-se de amores com o futebol enquanto arte, espetáculo, simplicidade, e não com o futebol negócio, jogo de interesses, povoado por vilões com que muitas vezes foi confrontado ao longo da sua ímpar carreira e contra quem sempre lutou. A sua entrada oficial no desporto rei dá-se em 1949 pela mão de outro lendário treinador que teve grande influência no percurso que Manuel Oliveira iria trilhar enquanto treinador, Fernando Vaz. Este ícone do futebol luso dirigia na altura os juniores B do Sporting, que defrontariam o Estrela, um combinado formado por jogadores da margem sul - um verdadeiro alfobre de grandes futebolistas ao longo da história -, onde pontificava o jovem Manuel - que até então havia tido uma curta passagem pelos escalões de formação do Barreirense - que nesse dia, na posição de interior/extremo direito, fez uma exibição de gala, culminada com dois golos que derrotaram os poderosos leões, facto que levaria Vaz a aproximar-se do jovem, lançando-lhe além dos merecidos elogios um convite: treinar no Sporting. Manuel Oliveira estava desta forma prestes a transpor a fronteira entre o sonho e a realidade, ele, que tinha como ídolo um vulto que atuava na principal equipa leonina, Carlos Canário. O jovem de Pinhal Novo convence Fernando Vaz, passa no teste, e efetua duas temporadas de grande nível na equipa júnior do gigante de Lisboa. Como o próprio Manuel Oliveira fez questão de confessar décadas mais tarde nas suas memórias, aqueles dois anos foram de extrema importância para a sua formação enquanto homem do futebol. Aprendeu imenso, não só com treinadores como também com os jogadores que formavam aquele poderoso Sporting Clube de Portugal, onde pontificavam os 5 Violinos (Peyroteo, Albano, Vasques, Travassos, e Jesus Correia).

Conduzindo a bola, nos tempos de jogador na CUF
Com naturalidade e merecimento Manuel Oliveira transita para os seniores do clube de Alvalade, onde convive com alguns destes vultos, que a bem dizer dificultaram a sua entrada no onze titular leonino ao longo das cinco épocas em que envergou a camisola verde-e-branca. Foi quase sempre escolha na equipa de reservas, e a espaços conheceu a titularidade na primeira categoria - ou equipa principal, como hoje é denominada - tendo atingido o topo da carreira de futebolista com a conquista do título de campeão nacional de 51/52. Nas épocas em que defendeu o leão conheceu inúmeros e sonantes treinadores, como, a título de exemplo, Joseph Szabo, Tavares da Silva, ou Randolph Galloway. Mas houve um que indiscutivelmente o marcou, ainda de acordo com as suas memórias: Fernando Vaz.
Ainda como jogador representou o Atlético, durante uma temporada. Pelo meio passou pela seleção nacional militar, a qual representou em oito ocasiões. Posteriormente veio a CUF, onde jogaria seis épocas, tendo neste emblema pendurado as chuteiras em 62/63 para substituir no banco o então treinador Anselmo Pisa. Manuel Oliveira tinha então 30 anos de idade. E é aqui que se dá início à verdadeira história desta lenda.

O início do percurso lendário

O mestre Manuel Oliveira na atualidade
Dezembro de 1962, um ano inesquecível para Manuel Oliveira, que por esta altura se vê diante da responsabilidade de pegar na equipa da CUF que ocupava uma posição perigosa no Campeonato Nacional da 1ª Divisão. Grupo Desportivo da CUF que foi o primeiro clube-empresa a nascer no nosso país, e muito provavelmente aquele que nesta condição mais notoriedade atingiu na história do futebol luso. Numa altura em que nem todos os futebolistas viviam única e exclusivamente da bola, Manuel Oliveira acumulava com a atividade desportiva a função de empregado de escritório na empresa do Barreiro. Após a 9ª jornada do Nacional do escalão maior do futebol português o capitão do emblema fabril é chamado a pegar na equipa de modo a evitar a catastrófica descida de divisão que estava então eminente. Nas declarações à imprensa da altura, Manuel Oliveira admitiu a sua inexperiência enquanto treinador, mas desde logo mostrou ambição e vincou o compromisso de que iria dar o seu melhor para que a equipa voltasse aos resultados positivos. Dito e feito. A CUF fez um resto de época imaculada, remodelou-se nos aspetos físicos e técnico-táticos sob orientação do seu ex-capitão de equipa - que passou então só a desempenhar o cargo de treinador - e acabou por escapar à temível despromoção ao alcançar um tranquilo 11º lugar. Estava assim dado o pontapé de saída de uma grande carreira para o jovem técnico. E quem pensasse que este pequeno grande feito poderia ter sido obra do acaso enganou-se redondamente na temporada seguinte, em que Manuel Oliveira conduziu a equipa do Barreiro a um inédito e inesperado - só para quem ainda não conhecia os métodos de trabalho e a sabedoria técnico-tática do cidadão de Pinhal Novo - 5º lugar. Mas a escalada do sucesso do jovem treinador estava longe de terminar. Em 64/65 a fasquia é elevada com a conquista do... 3º lugar! O prémio deste brilharete foi a qualificação inédita dos barreirenses para a edição seguinte da Taça das Cidades com Feira - antecessora da Taça UEFA. E se o futebol português começava a dar-se conta da mestria do técnico o resto da Europa iria conhecê-la em 65/66 quando o poderoso Milan caiu no Barreiro por 2-0, na primeira mão da segunda eliminatória da citada competição europeia. Manuel Oliveira tinha passado definitivamente de aprendiz a mestre.
A sua faceta de homem honesto e frontal iria, contudo, e a partir daqui, chocar de frente com o tal lado negro do futebol, o lado dos interesses, da intriga, do conflito e do oportunismo. Numa entrevista concedida ao jornal A Bola no regresso da partida de Milão, onde a CUF perdeu por igual resultado ao conseguido na primeira mão e obrigando assim os milanistas a uma partida de desempate, o treinador, em jeito de desabafo, enumerou as várias dificuldades que afetavam a sua equipa, desde logo a ausência de apoio - sobretudo vindo dos diretores da empresa. Esta entrevista acabaria por custar o lugar ao treinador, que a partir dali levaria o seu talento para outras paragens. E foram muitas ao longo das mais de três décadas que se seguiram. Tantas que seria de certa forma exaustivo para o leitor ter conhecimento dos contornos de cada uma delas (mas caso o leitor pretenda fazer esse exercício, aconselhamos vivamente a leitura das fascinantes Memórias de Manuel Oliveira, editadas em livro. De certo que não se irá arrepender). Leixões, Barreirense, Sanjoanense, Farense, Olhanense, Benfica de Nova Lisboa (Angola), Lusitano de Évora, Espinho, Beira-Mar (onde foi treinador de Eusébio da Silva Ferreira), Vila Real, Portimonense, União de Leiria, Marítimo, Vitória de Setúbal, Louletano, Seleção da Guiné Bissau, Fafe, Varzim, Nacional da Madeira, Sintrense, Desportivo de Beja, Gondomar, Imortal e Lusitanos de Saint-Maur (França) foram emblemas que beberam da sabedoria do mestre. Em quase todas elas fez história. Umas vezes evitava a temida descida de divisão, outras conduzia a nau desde os caminhos tortuosos das divisões secundárias até bom porto, isto é, à 1ª Divisão, noutras ainda criou grupos que combinavam arte, garra e inovação, batendo o pé a quem quer que fosse, grande ou pequeno, tombou vezes sem conta às mãos do mestre Oliveira. A sua já referida personalidade frontal - embora ainda hoje muitos preferem continuar a recorda-lo como polémico e controverso - valeu-lhe inúmeros dissabores, que, por várias ocasiões, barraram a sua continuidade ao leme dos notáveis projetos futebolísticos que foi construindo.

Inovador no plano tático

O 4-4-2 que o Brasil de 70 apresentou ao Mundo
e que foi criado por Manuel Oliveira em 1965? Eis a questão
Já escrevemos que Manuel Oliveira foi um treinador inovador, um homem que deixou marca no futebol. O Mundo inteiro, ou quase, ainda hoje atribui a autoria do 4-4-2 ao inesquecível Brasil de 1970, que no Mundial do México nesse ano alcançou o tri. Justo será dizer- que o resto do Mundo terá travado conhecimento com tal sistema tático através de Pelé e companhia, mas anos antes em Portugal já um certo treinador colocava - pela primeira vez - esta tática em ação. O seu nome? Manuel Oliveira. Facto ocorrido a 15 de fevereiro de 1965, quando a CUF defrontou em casa o poderoso Benfica de Eusébio, Coluna, José Augusto, Simões, Torres, entre outros vultos encarnados da década de 60. Oliveira surpreendeu todos ao colocar em campo uma tática nunca dantes vista, o tal 4-4-2, que viria a dar os seus frutos na sequência de uma vitória por 2-0. Espantado com este sistema o então técnico do Benfica, o romeno Elke Schwartz, queixou-se que os barreirenses haviam ganho o jogo com uma tática de... basquetebol! Pois, mas cinco depois o Brasil encantou e ganhou o Mundo com a mesma tática. Teria o escrete de Pelé, Jairzinho, Tostão, Rivelino, ou Carlos Alberto bebido da sabedoria de Manuel Oliveira? Ou simplesmente tudo não passou de uma coincidência? É uma questão para a qual ainda hoje não se encontra resposta.

O 3-5-2, outra inovação
tática do mestre
Mas não se ficou por aqui a criatividade tática do homem de Pinhal Novo. Ao leme do Barreirense apresenta na época de 69/70 um outro sistema tático então nunca dantes visto em Portugal, o 3-5-2. Capítulo histórico que foi escrito em dezembro de 1969, altura em que o emblema do Barreiro se deslocou à Póvoa de Varzim para defrontar a turma local em mais um jogo do Nacional da 1ª Divisão. Visionário, sábio e astuto Manuel Oliveira voltou a surpreender o Planeta da Bola. No plano internacional, este sistema atingiu o pico da fama no Mundial de 2002, altura em que o Brasil venceu o penta-campeonato. Mas como não há duas sem três, em 82/83, ao serviço do Vitória de Setúbal, o mestre da tática volta a inovar no plano tático, ao apresentar no Estádio do Bonfim, diante do FC Porto, a sua equipa disposta em 3-4-3, sistema também na época nunca dantes visto por estas bandas. A sua sabedoria foi ao longo de décadas não só colocada ao dispor das centenas de atletas (Jorge Jesus, por exemplo, foi um deles, e que mais tarde, e já na qualidade de treinador, confessou ter sido influenciado por Oliveira) como também por outros colegas de profissão. Com mais de 600 jogos no currículo este notável pensador de jogo ministrou inúmeros cursos de formação tática, moderou colóquios, palestras, foi comentador de rádio, fundou a Associação Nacional de Treinadores, sempre na vanguarda do conhecimento.

Assim como o 3-4-3, nunca
dantes visto em Portugal
Um verdadeiro génio da tática, homem de fortes convicções, intransigível, a quem faltou um reconhecimento maior por parte das altas instâncias do futebol lusitano. E quando nos referimos a este reconhecimentos falamos de um patamar maior, e amplamente merecido, que devia ter sido atingido pelo mestre Manuel Oliveira, Ter treinado um Benfica, um FC Porto, um Sporting, ou mesmo a seleção nacional, seria um prémio mais do que justo para uma figura que é indiscutivelmente um dos nomes mais sonantes - no que ao capítulo do treino diz respeito - da história do futebol em Portugal. Mas, e voltando ao início da nossa visita de hoje, nem sempre todos os génios deste Mundo foram aceites - talvez pela sua maneira diferente de ver e estar na sociedade - e reconhecidos por esse mesmo Mundo. Manuel Oliveira foi, talvez, um desses génios maldosamente ignorados. Injusto, muito injusto, é o que nos apraje dizer.

sexta-feira, abril 06, 2012

Histórias do Futebol em Portugal (6)... A orquestra mais virtuosa do futebol lusitano

Equipas há que pelo virtuosismo desenhado num retângulo de jogo são capazes de transportar a nossa imaginação para a “degustação” de um concerto de música clássica. Ao longo da sua história o futebol deu-nos muitos e grandes tenores, inolvidáveis maestros, ou incomparáveis solistas, mas raras vezes nos terá dado uma orquestra tão afinada e virtuosa como a dos “Cinco Violinos”.
Esta foi a designação dada pelo conceituado treinador/jornalista Tavares da Silva ao quinteto mais célebre do futebol português, e porque não dizê-lo do futebol mundial, formado por um grupo de notáveis e virtuosos jogadores de futebol que na década de 40 encantou multidões nos campos nacionais defendendo as cores do Sporting Clube de Portugal. Fernando Peyroteo, Vasques, Albano, Jesus Correia e José Travassos são os cinco famosos violinistas dessa memorável orquestra que entre 1946 e 1949 tornou o leão num animal impossível de domar.
Um quinteto que atuando no setor ofensivo do terreno de jogo ofereceu ao clube de Alvalade a glória na sequência de centenas de golos, saborosos títulos, e acima de tudo momentos deslumbrantes de futebol baseados num exímio entrosamento aliado a um elevado grau de qualidade futebolística de todos os seus elementos nunca dantes visto no “desporto rei”. Quem teve o privilégio de assistir aos recitais desta orquestra afirma não ter dúvidas em rotular este como um dos períodos mais dourados do futebol nacional, lamentando apenas que estes cinco artistas não tenham tido a oportunidade de actuar juntos mais do que as três épocas em que fizeram furor de leão ao peito.
Tempo suficiente para conferir ao Sporting a grandeza sonhada pelo seu fundador José de Alvalade. Com os “Cinco Violinos” em campo os leões foram sempre campeões, degulando no campo de batalha, domingo após domingo, adversários atrás de adversários, fossem eles quem fossem.
A saga destes homens também conheceu alguns episódios na Selecção Nacional, embora sem o sucesso granjeado com a camisola verde-e-branca.
Fernando Peyroteo era talvez a estrela mor dos violinos de Alvalade, o homem que dava as pinceladas finais nas obras de arte criadas pelo quinteto, o mesmo é dizer, o goleador da equipa. Para o grande mestre do futebol português, Cândido de Oliveira, ele era uma máquina de fazer golos. Ao longo da sua carreira fez mais de 500 golos, 529 para sermos mais precisos, sendo que destes 331 (mais 22 do que Eusébio) foram apontados no campeonato. Nasceu em Humpata, Angola, a 10 de Março de 1918, e estreou-se de leão ao peito a 12 de Outubro de 1937 num jogo diante do Benfica onde apontou dois golos, apresentando desde logo o seu cartão de visita. O seu poder de remate (forte e colocado) aliado a um excelente jogo de cabeça fizeram com por seis ocasiões fosse rei dos marcadores do campeonato nacional, e entre muitos outros factos históricos ficam os 9 golos apontados num só jogo ante o Leça.
A completar a orquestra figuarava ainda o “pintor Malhoa”, a alcunha recebida por Vasques, o jogador mais tecnicista da célebre equipa, o elemento mais artístico dos violinos que entre 1946 e 1959 apontou 221 golos pelo seu Sporting. Do Seixal veio o veloz Albano, um criativo senhor de um drible desconcertante que disputou mais de 500 jogos com a camisola dos leões.
Fabuloso foi também o Zé da Europa, ou melhor, José Travassos, um galã que entrava em campo sempre com o seu famoso penteado brilhantina que na qualidade de interior-direito criava obras de arte do outro Mundo que o levariam a tornar-se no primeiro jogador português a representar uma Selecção da Europa, ganhando assim a alcunha de Zé da Europa.
A fechar a orquestra o multifacetado Jesus Correia, que dividia o seu talento pelo futebol e pelo hóquei em patins, sendo que na primeira modalidade o Necas – como era tratado pelos seus colegas de equipa – além de ter apontado mais de 250 golos com as cores do leão fez furor através dos seus magistrosos cruzamentos para o letal Peyroteo.

 Vídeo: DOCUMENTÁRIO SOBRE OS "5 VIOLINOS"

quarta-feira, dezembro 22, 2010

Memórias lusitanas (20)...

Campeonato Nacional da 1ª Divisão, Época 1953/54

CAMPEÃO NACIONAL: SPORTING CLUBE DE PORTUGAL

CLASSIFICAÇÃO GERAL:


CLUBES-JOGOS-VITÓRIAS-EMPATES-DERROTAS-GM-GS-PONTOS

1º Sporting----26---20---3---3---80---25---43

2º FC Porto-------26---16---4---6---83---35---36

3º Benfica---------26---13---6---7---62---40---32

4º Belenenses----26---13---5---8---43---39---31

5º Braga------------26---12---4---10---54---36---28

6º Atlético---------26---10---8---8---49---43---28

7º Sp. Covilhã-----26---10---8---8---43---39---28

8º V. Guimarães--26---10---5---11---44---64---25

9º Barreirense------26---8---6---12---34---47---22

10º L. Évora---------26---9---3---14---47---66---21

11º Boavista---------26---7---5---14---29---66---19

12º V. Setúbal------26---7---4---15---51---66---18

13º Académica------26---8---2---16---29---50---18

14º Oriental----------26---4---7---15---35---67---15

OS RESULTADOS DO CAMPEÃO:

FC PORTO: 2-1 / 0-1

BENFICA: 2-0 / 3-2

BELENENSES: 4-0 / 0-2

BRAGA: 2-0 / 3-1

ATLÉTICO: 7-0 / 1-3

SP. COVILHÃ: 7-0 / 2-2

V. GUIMARÃES: 5-0 / 5-1

BARREIRENSE: 2-0 / 1-1

L. ÉVORA: 9-0 / 3-3

BOAVISTA: 2-1 / 3-1

V. SETÚBAL: 2-1 / 4-1

ACADÉMICA: 3-1 / 2-0

ORIENTAL: 2-1 / 4-2

OS NOMES DOS CAMPEÕES NACIONAIS:

Albano, Aparício, Barros, Caldeira, Fabian, Faustino, Galaz, Galileu, Carlos Gomes, Gonçalves, Hrotko, Hugo, Juca, Lourenço, Martins, Mendonça, Passos, Serra Coelho, Travassos, Vasques e Vicente. Treinadores: Tavares da Silva/Joseph Szabo

Tetra-campeões nacionais!!!! Em 1953/54 o Sporting Clube de Portugal estabelecia um novo recorde no futebol português: a conquista de quatro Campeonatos Nacionais consecutivos! Foi obra... não há dúvidas!

 Clássicos do Futebol Português
(Jogos entre os Três Grandes - FC Porto, Benfica, e Sporting - no Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época de 1953/54)


2ª Jornada

FC Porto - Sporting: 1-0
Data: 11 de outubro de 1953
Estádio das Antas (Porto)
Árbitro: Manuel Lousada (Santarém)

FC Porto: Barrigana, Virgílio, Carvalho, Valle, Albasini, Eleutério, Carlos Duarte, Hernâni, Monteiro da Costa, Pedroto, e José Maria. Treinador: Cândido de Oliveira

Sporting: Carlos Gomes, Caldeira, Vicente, Passos, Barros, Juca, Hugo I, Vasques, Janos Hrotko, Travassos, e Martins. Treinador: Joseph Szabo

Golo: 1-0 (Hernâni, aos 31m)
Hernâni foi uma das maiores figuras de todos os tempos do FC Porto. Depois de uma época cedido por empréstimo ao Estoril o atletas natural de Águeda regressou ao clube da Invicta em 53/54 onde pegaria de estaca na equipa titular... nas 11 temporadas seguintes!

12ª Jornada

FC Porto - Benfica: 5-3
Data: 10 de janeiro de 1954
Estádio das Antas (Porto)
Árbitro: Libertino Domingues (Setúbal)

FC Porto: Barrigana, Virgílio, Carvalho, Valle, Porcel, Eleutério, Carlos Duarte, Hernâni, Monteiro da Costa, Teixeira I, e José Maria. Treinador: Cândido de Oliveira

Benfica: Sebastião, Artur Santos, Joaquim Fernandes, Gato, Calado, Caiado, Rosa, Arsénio, Palmeiro, Fialho, e Rogério. Treinador: José Valdivieso

Golos: 1-0 (Teixeira I, aos 30m), 2-0 (Monteiro da Costa, aos 39m), 3-0 (Hernâni, aos 48m), 4-0 (Hernâni, aos 54m), 5-0 (Monteiro da Costa, aos 57m), 5-1 (Arsénio, aos 60m), 5-2 (Rosa, aos 64m), 5-3 (Palmeiro, aos 67m)
Luta acérrima entre Juca e Palmeiro na relva sagrada do Estádio Nacional. No final o jogador leonino levou a melhor.

13ª Jornada

Benfica - Sporting: 0-2
Data: 17 de janeiro de 1954
Estádio Nacional (Lisboa)
Árbitro: Abel Macedo Pires (Lisboa)

Benfica: Sebastião, Zézinho, Joaquim Fernandes, Gato, Calado, Caiado, Vieira, Arsénio, Palmeiro, Fialho, e Rogério. Treinador: José Valdivieso

Sporting: Carlos Gomes, Caldeira, Galaz, Passos, Janos Hrotko, Juca, Hugo I, Vasques, Martins, Travassos, e Albano. Treinador: Joseph Szabo

Golos: 0-1 (Martins, aos 18m), 0-2 (Martins, aos 73m)


15ª Jornada

Sporting - FC Porto: 2-1
Data: 31 de janeiro de 1954
Estádio do Lumiar (Lisboa)
Árbitro: Inocêncio Calabote (Évora)

Sporting: Carlos Gomes, Caldeira, Galaz, Passos, Janos Hrotko, Juca, Hugo I, Vasques, Martins, Travassos, e Mendonça. Treinador: Joseph Szabo

FC Porto: Barrigana, Virgílio, Carvalho, Miguel Arcanjo, Albasini, Eleutério, Carlos Duarte, Hernâni, Monteiro da Costa, Porcel, e José Maria. Treinador: Cândido de Oliveira

Golos: 1-0 (Travassos, aos 14m), 1-1 (José Maria, aos 21m), 2-1 (Vasques, aos ?)


25ª Jornada

Benfica - FC Porto: 2-2
Data: 9 de maio de 1954
Estádio Nacional (Lisboa)
Árbitro: Paulo de Oliveira (Santarém)

Benfica: Bastos, Gato, Joaquim Fernandes, Moreira, Calado, Caiado, Palmeiro, Arsénio, José Águas, Salvador, e Rogério. Treinador: José Valdivieso

FC Porto: Barrigana, Virgílio, Carvalho, Valle, Porcel, Eleutério, Pedroto, Hernâni, Monteiro da Costa, Teixeira I, e José Maria. Treinador: Cândido de Oliveira

Golos: 0-1 (Porcel, aos 44m), 0-2 (Teixeira, aos 67m), 1-2 (Gato, aos 69m), 2-2 (José Águas, aos 85m)
O argentino José Valdivieso teve uma primeira passagem pelo comando técnico do Benfica para esquecer. No duelo com os principais rivais (Sporting e FC Porto) não venceu uma única vez em jogos do campeonato nacional!

26ª Jornada

Sporting - Benfica: 3-2
Data: 16 de maio de 1954
Estádio Nacional (Lisboa)
Árbitro: Cunha Pinto (Setúbal)

Sporting: Carlos Gomes, Caldeira, Galaz, Janos Hrotko, Gonçalves, Juca, Galileu, Vasques, Martins, Travassos, e Mendonça. Treinador: Joseph Szabo

Benfica: Bastos, Gato, Joaquim Fernandes, Moreira, Calado, Caiado, Palmeiro, Arsénio, José Águas, Salvador, e Rogério. Treinador: José Valdivieso

Golos: 0-1 (José Águas, aos 7m), 1-1 (Janos Hrotko, aos 27m), 1-2 (Salvador, aos 43m), 2-2 (Martins, aos 52m), 3-2 (Martins, aos 66m)

Melhor marcador do Campeonato Nacional da 1ª Divisão da época 1953/54:
Martins (Sporting): 31 golos

Campeonato Nacional da 2ª Divisão, Época 1953/54

CAMPEÃO NACIONAL DA 2ª DIVISÃO: CUF

CLASSIFICAÇÃO GERAL ZONA NORTE:

CLUBES-JOGOS-VITÓRIAS-EMPATES-DERROTAS-GM-GS-PONTOS

1º Leixões---26---16---5---5---57---38---37

2º Sp. Espinho---26---15---6---5---73---39---36

3º Tirsense---26---14---8---4---56---39---36

4º Salgueiros---26---11---9---6---57---47---31

5º Oliveirense---26---12---6---8---65---50---30

6º Sanjoanense---26---13---2---11---51---47---28

7º Acd. Viseu---26---10---6---19---57---50---26

8º Vianense---26---10---5---10---45---66---25

9º Gil Vicente---26---7---10---9---57---52---24

10º Vila Real---26---9---6---11---41---42---24

11º Chaves---26---9---4---12---54---56---22

12º Beira-Mar---26---9---3---14---55---63---21

13º Famalicão---26---4---5---16---40---78---13

14º Sp. Lamego---26---2---3---20---21---90---7

CLASSIFICAÇÃO GERAL ZONA CENTRO:

CLUBES-JOGOS-VITÓRIAS-EMPATES-DERROTAS-GM-GS-PONTOS

1º Leões Santarém---26---15---4---7---50---26---34

2º Torreense---26---14---5---7---69---34---33

3º Estoril---26---14---4---8---52---36---32

4º Portalegrense---26---14---2---10---54---45---30

5º Peniche---26---13---3---10---58---53---29

6º Arroios---26---13---3---10---51---50---29

7º U. Coimbra---26---11---6---9---43---49---28

8º Caldas---26---13---2---11---53---43---28

9º Olivais---26---11---4---11---56---62---26

10º O Elvas---26---11---3---12---59---55---25

11º Torres Novas---26---10---4---12---45---50---24

12º Naval 1º Maio---26---8---4---14---33---46---20

13º Casa Pia---26---8---3---15---32---58---19

14º Marialvas---26---1---5---20---15---68---7

CLASSIFICAÇÃO GERAL ZONA SUL:

CLUBES-JOGOS-VITÓRIAS-EMPATES-DERROTAS-GM-GS-PONTOS

1º CUF---22---16--3---3---59---22---35

2º Juv. Évora---22---12---7---3---42---19---31

3º Portimonense---22---11---5---6---48---28---27

4º U. Montemor---22---13---1---8---45---28---27

5º Olhanense---22---11---3---8---41---28---25

6º Farense---22---9---6---7---43---40---24

7º Montijo---22---10---2---10---42---29---22

8º Desp. Beja---22---8---5---9---27---36---21

9º Almada---22---9---2---11---36---45---20

10º Lusitano VRSA---22---7---2---13---30---43---16

11º Luso Barreiro---22---3---4---15---24---52---10

12º São Domingos---22---2---2---18---15---82---6

APURAMENTO DO CAMPEÃO

CLUBES-JOGOS-VITÓRIAS-EMPATES-DERROTAS-GM-GS-PONTOS

1º CUF---10---6---2---2---18---13---14

2º Torreense---10---6---2---2---21---14---14

3º Sp. Espinho---10---4---2---4---30---22---10

4º Leões Santarém---10---5---0---5---19---18---10

5º Juv. Évora---10---2---2---6---13---24---6

6º Leixões---10---3---0---7---15---25---6

Uma autêntica fábrica de campeões, é desta forma que poderemos caracterizar a cidade o Barreiro. Depois do Barreirense era agora a vez dos "operários" da CUF saborearem o gosto de um título nacional  

CAMPEÃO NACIONAL DA 3ª DIVISÃO: CORUCHENSE


Taça de Portugal, Época 1953/54

1ª Eliminatória (1ª e 2ª mãos)


Atlético - Oriental: 4-1 / 2-2

Belenenses - Braga: 4-1 / 1-2

Boavista - Académica: 6-1 / 1-2

FC Porto - Barreirense: 1-1 / 2-1

Sporting - Benfica: 3-2 / 1-2 / 4-2 (desempate)

V. Guimarães - Sp. Covilhã: 3-0 / 4-5

V. Setúbal - L. Évora: 4-0 / 1-2

Quartos-de-final (1ª e 2ª mãos)

Belenenses - Marítimo: 2-1 / 1-0

Boavista - V. Guimarães: 1-1 / 3-2

Sporting - FC Porto: 1-1 / 4-2

V. Setúbal - Atlético: 3-0 / 2-1

Meias-finais (1ª e 2ª mãos)

Sporting - Belenenses: 2-4 / 6-0

V. Setúbal - Boavista: 6-0 / 2-6

Final

Sporting - V. Setúbal: 3-2


Data: 27 de Junho de 1954

Estádio: Estádio Nacional, em Lisboa

Sporting: Carlos Gomes, António Lourenço, João Galaz, Janos Hrotko, Mário Gonçalves, Juca, Galileu, Vasques, Martins, Travassos e Fernando Mendonça. Treinador: Tavares da Silva

V. Setúbal: Francisco Baptista, Jacinto Forreta, Manuel Joaquim, Artur Vaz, Emídio Graça, Orlando Barros, António Inácio, Joaquim Soares, João Mendonça, Pinto de Almeida e António Fernandes. Treinador: Janos Biri

Marcadores: Martins, Fernando Mendonça (2); Joaquim Soares (2)

1953/54 foi uma temporada inolvidável para o Sporting. Depois da conquista do histórico e até então inédito tetra-campeonato os "leões" arrecadavam a Taça de Portugal

 Clássicos do Futebol Português
(Jogos entre os Três Grandes - FC Porto, Benfica, e Sporting - na Taça de Portugal da época de 1953/54)

1ª mão da 1ª eliminatória

Sporting - Benfica: 3-2
Data: 23 de maio de 1954
Estádio Nacional (Lisboa)
Árbitro: Mário Garcia (Aveiro)

Sporting: Carlos Gomes, Caldeira, Galaz, Barros, Gonçalves, Juca, Galileu, Vasques, Martins, Travassos, e Mendonça. Treinador: Joseph Szabo

Benfica: Bastos, Artur Santos, Joaquim Fernandes, Moreira, Calado, Ângelo, Palmeiro, Arsénio, José Águas, Caiado, e Rogério. Treinador: José Valdivieso

Golos: 0-1 (Arsénio, aos 34m), 1-1 (Galileu, aos 37m), 1-2 (Calado, aos 77m), 2-2 (Travassos, aos 82m), 3-2 (Mendonça, aos 88m)


2ª mão da 1ª eliminatória

Benfica - Sporting: 2-1
Data: 30 de maio de 1954
Estádio Nacional (Lisboa)
Árbitro: Correia da Costa (Porto)

Benfica: Bastos, Artur Santos, Caiado, Moreira, Calado, Ângelo, Palmeiro, Arsénio, José Águas, Salvador, e Fialho. Treinador: José Valdivieso

Sporting: Carlos Gomes, Caldeira, Galaz, Barros, Gonçalves, Juca, Galileu, Vasques, Martins, Travassos, e Mendonça. Treinador: Joseph Szabo

Golos: 0-1 (Calado, aos 2 na p.b.), 1-1 (Salvador, aos 36m), 2-1 (Arsénio, aos 71m)


Desempate da 1ª eliminatória 

Sporting - Benfica: 4-2
Data: 31 de maio de 1954
Estádio da Tapadinha (Lisboa)
Árbitro: Cunha Pinto (Setúbal)

Sporting: Carlos Gomes, Caldeira, Galaz, Travassos, Gonçalves, Juca, Galileu, Vasques, Albano, Martins, e Mendonça. Treinador: Joseph Szabo

Benfica: Bastos, Artur Santos, Gato, Moreira, Calado, Gonzaga, Palmeiro, Arsénio, Rosa, Salvador, e Fialho. Treinador: José Valdivieso

Golos: 0-1 (Arsénio, aos 30s), 1-1 (Travassos, aos 12m), 1-2 (Arsénio, aos 30m), 2-2 (Vasques, aos 74m), 3-2 (Albano, aos 76m), 4-2 (Martins, aos 87m)


1ª mão dos quartos-de-final

Sporting - FC Porto: 1-1
Data: 6 de junho de 1954
Estádio do Lumiar (Lisboa)
Árbitro: Cunha Pinto (Setúbal)

Sporting: Carlos Gomes, Caldeira, Galaz, Mendes, Gonçalves, Juca, Galileu, Vasques, Albano, Martins, e Travassos. Treinador: Joseph Szabo

FC Porto: Barrigana, Virgílio, Carvalho, Miguel Arcanjo, Valle, Eleutério, Porcel, Perdigão, Carlos Duarte, Hernâni, e José Maria. Treinador: Cândido de Oliveira

Golos: 0-1 (perdigão, aos 6m), 1-1 (Martins, aos 76m)


2ª mão dos quartos-de-final

FC Porto - Sporting: 2-4
Data: 13 de junho de 1954
Estádio das Antas (Porto)
Árbitro: Mário Garcia (Aveiro)

FC Porto: Barrigana, Virgílio, Carvalho, Miguel Arcanjo, Valle, Carlos Duarte, Porcel, Perdigão, Teixeira I, Hernâni, e José Maria. Treinador: Cândido de Oliveira

Sporting: Carlos Gomes, Caldeira, Galaz, Janos Hrotko, Gonçalves, Juca, Galileu, Vasques, Albano, Martins, e Travassos. Treinador: Joseph Szabo

Golos: 1-0 (José Maria, aos 4m), 1-1 (Albano, aos 43m), 1-2 (Albano, aos 55m), 1-3 (Martins, aos 57m), 2-3 (José Maria, aos 63m), 2-4 (Martins, aos 87m)

terça-feira, setembro 14, 2010

Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo (7)... Tavares da Silva

O seu nome figura com distinção entre a elite dos jornalistas desportivos de Portugal. Nome que deu uma forte contribuição para o nascimento da época dourada do jornalismo desportivo luso na qual se encontram milhares das mais belas prosas futebolísticas guardadas a letras de ouro nos arquivos de inúmeras publicações do nosso país. Foi além de tudo um multifacetado do “Desporto Rei”, sendo de sublinhar o seu contributo a este como treinador, dirigente, e até mesmo árbitro. Não parecem existir dúvidas que o futebol deve muito a Tavares da Silva, a lenda das letras que hoje visitamos.
Nasceu em Estarreja bem no início do século passado, mais precisamente em 1903, tendo na hora de escolher um futuro profissional optado pelo Direito. Advogado de créditos firmados seria então, mas... dentro de si algo mais forte se pronunciava em detrimento do Direito: o futebol. Uma paixão avassaladora a quem deu sempre o que tinha e o que não tinha de si, foi jogador, treinador, árbitro, dirigente, mas seria como “artista das letras” que enalteceria o desporto que tanto amava. Nos idos anos 40 foi um dos fundadores do primeiro jornal “A Bola”, desaparecido posteriormente e “re-fundado” - entre outros – pelo mestre Cândido de Oliveira. Ligação ao jornalismo que havia iniciado na década de 30, altura em que as suas deliciosas metáforas para “pintar os mais belos cenários futebolísticos” começaram a ser impressos em diversos jornais nacionais. Os seus inigualáveis escritos estão guardados em publicações como a (revista) “Stadium”, o “Diário de Lisboa” (ambos já desaparecidos), ou o “Norte Desportivo”, para além da mítica “A Bola”, claro está.

Criador dos “Cinco Violinos”

Um dos maiores legados de Tavares da Silva ao futebol terá sido possivelmente a designação que “rotulou” uma das linhas avançadas mais famosas de todos os tempos do futebol planetário. Uma linha que actuava no Sporting Clube de Portugal e que era composta pelos magos Peyroteo, Travassos, Jesus Correia, Albano, e Vasques, e que ficou mundialmente conhecida como os “Cinco Violinos”. O autor desta designação? Tavares da Silva.
Mas não seria só desta forma que este homem do futebol ficaria ligado eternamente ao clube lisboeta, pois na temporada de 1953/54 ele seria o treinador que conduziria os “leões” à célebre conquista do “treta-campeonato” (quatro campeonatos nacionais consecutivos). Ainda como técnico passou pelos bancos do Belenenses, Sporting da Covilhã, Lusitano de Évora, Académica, e da própria Selecção Nacional, na qual o seu nome ficou igualmente gravado a letras de ouro já que seria sob a sua batuta que Portugal venceria pela primeira vez na história (corria o ano de 1947) a vizinha e rival Espanha. Seria ainda o obreiro do triunfo inaugural da nossa selecção no estrangeiro, mais concretamente na Irlanda.
Com a máquina de escrever à sua frente foi ainda autor, juntamente com outros dois vultos do jornalismo desportivo, nomeadamente Ricardo Ornelas e Ribeiro dos Reis, da História dos Desportos em Portugal, uma obra importante sobre esta temática. Morreu em 1958 numa altura em que era redactor principal do “Norte Desportivo” e chefe da secção de desporto do “Diário de Notícias”.