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segunda-feira, maio 12, 2025

Histórias do Futebol em Portugal (50)... Pontapé de saída da 1.ª Divisão Nacional portuguesa deu-se há 90 anos

Manchete de Os Sports, dando conta
do arranque dos campeonatos

20 de janeiro de 1935. 15H00, mais minuto, menos minuto, e a bola rola pela primeira vez no Campeonato Nacional da 1.ª Divisão. Neste dia dava-se o pontapé de saída do escalão maior do futebol português. Noventa primaveras cumpriram-se no início deste ano de 2025 deste momento histórico do futebol luso. Coimbra, Porto e Lisboa foram as cidades onde nesse longínquo dia se jogou a 1.ª jornada daquela que é hoje em dia a competição mais importante do calendário futebolístico português. Recorrendo às páginas do extinto Diário de Lisboa (DL), iremos recordar um pouco as incidências de cada um dos quatro desafios que preencheram a ronda inaugural de uma «inovação de que muito há a esperar para bem do “apuramento” do jogo “association” em Portugal», assim dava conta o DL na sua edição desse (hoje) histórico dia. Olhando na diagonal para os resultados dos quatros jogos podemos chegar à conclusão que as equipas de Lisboa levaram a melhor sobre as suas adversárias do Porto e de Coimbra: duas vitórias e outros tantos empates averbados. Mas olhando mais a fundo as incidências dos matchs, vemos mais do que isso. Vemos a mestria e preponderância na manobra das respetivas equipas de alguns dos grandes jogadores do futebol português das décadas de 20 e 30, casos do sportinguista Soeiro, do belenense José Reis e do benfiquista Alfredo Valadas. Eles foram, e no rescaldo de uma leitura pelas quatro crónicas dos desafios, as estrelas daquela tarde histórica de 20 de janeiro de 1935. Já veremos porquê.

Dois fantasmas futebolísticos do presente esgrimam argumentos no também (hoje) fantasmagórico Estádio do Lima

A equipa do Académico do Porto
na época de estreia da 1.ª Divisão

Iniciamos esta viagem pelo primeiro dia de vida da 1.ª Divisão Nacional – hoje denominada de Liga Portugal, acrescida do nome do patrocinador, coisa que naquele tempo nem se imaginava que viesse a acontecer! – no norte do país, no Porto, onde dois emblemas cujo futebol – enquanto modalidade – já não existe nos dias de hoje, mediram forças numa das primeiras grandes catedrais do futebol português, o Estádio do Lima. No seu esplendoroso relvado evoluíram o Académico do Porto e o União de Lisboa. Os homens da capital entraram mais decididos no encontro, dispuseram de oportunidades para abrir a contagem, até que à passagem dos 20 minutos Gerardo Maia aproveita uma confusão na área academista para fazer o primeiro da tarde no Lima. A partir daqui, assiste-se a uma luta a meio campo, com os portuenses a deterem o controlo dos acontecimentos, sendo que quatro minutos volvidos dos festejos dos unionistas um cruzamento para a área lisboeta termina no golo do empate, apontado por Jordão. Ainda antes do intervalo, o árbitro Adelino Lima (de Coimbra) anula um golo ao Académico, por fora de jogo, que na opinião do jornalista que escreveu a crónica do encontro, não existiu. Na segunda metade o jogo melhorou a nível de emoção e de técnica, conforme dá nota o escriva do DL. Assistiu-se a uma toada de parada e resposta em ambas os lados: Jordão desempatou a favor do Académico, para na resposta Armando Silva fazer o 2-2. Gerardo Maia desfez o empate, mas quase em cima dos 90 minutos Fernandes fez o resultado final (3-3) de um jogo entusiasmante que o Académico merecia vencer, nas palavras do jornalista do DL, pela classe patenteada na segunda metade.

Em dose tripla, Soeiro inicia a subida ao trono de rei dos goleadores

Manuel Soeiro

Em Coimbra, no mítico Campo de Santa Cruz, assistiu-se à primeira (de muitas) demonstração de instinto felino do goleador desta edição inaugural do campeonato. Manuel Soeiro, o seu nome. Com as bancadas a abarrotar pelas costuras, o avançado nascido no Barreiro a 17 de março de 1909 ajudou o seu Sporting a derrotar a Académica por concludentes 6-0. Nessa tarde, Soeiro faria um hattrick, que o lançaria para o título de melhor marcador do campeonato, com 14 golos. Ao longo das 14 jornadas da competição o atacante que chegou ao Sporting em 1933 vindo do Luso do Barreiro só não fez o gosto ao pé em três jornadas, sendo que este jogo inaugural em Coimbra foi mesmo o seu mais produtivo em termos de golos na caminhada dos leões na 1.ª Divisão de 34/35. Soeiro foi a grande referência atacante do Sporting até à chegada do fenómeno Peyroteo ao clube em 1937, pese embora o avançado barreirense ainda tenha dividido o protagonismo com o seu colega de posto nascido em Angola até inícios da década de 40, antes do despoletar da mais famosa linha avançada leonina, os Cinco Violinos
Mas voltemos ao Campo de Santa Cruz na tarde de 20 de janeiro de 1935, para registar que antes de Vieira da Costa (do Porto) apitar para o pontapé de saída, os jogadores dos dois clubes trocaram entre si ramos de flores! Na descrição do cronista do DL, o Sporting saiu com a bola, jogando a favor do sol, num jogo que teve um início veloz e entusiasmante, embora sem jogadas de grande precisão. As bancadas manifestam-se quando o academista Rui Cunha teve duas incursões à área leonina, as quais embora não tivessem causado calafrios a Dyson, arrancaram aplausos nas hostes estudantis. 

O team da Académica de Coimbra
em 34/35
A partida era jogada a um ritmo acelerado de parte a parte. Até que ao minuto 10, Pacheco endossa o esférico a Soeiro, que no interior da área faz um chapéu a Abreu e abre assim o marcador a favor do Sporting. Após o golo os lisboetas passam a dominar a partida, dando mais trabalho ao setor recuado dos estudantes, sendo que num desses lances o guardião Abreu fez a defesa da tarde ao travar um remate venenoso de Soeiro. E seria precisamente neste período de avalanche ofensiva leonina, que Soeiro bisou no jogo, quando estavam decorridos 43 minutos. A segunda parte quase não teve história, ou melhor, a história dos segundos 45 minutos resumem-se ao largo domínio territorial dos leões, traduzido em mais quatro golos, dois de Mourão, um de Ferdinando, e outro de Soeiro, que foi assim o grande herói da partida.

Alfredo Valadas abre o marcador nas Amoreiras e entra na História da 1.ª Divisão

Alfredo Valadas
E nas Amoreiras o Benfica recebia o Vitória de Setúbal, num jogo que ficaria na história para o seu avançado Alfredo Valadas. Ainda antes do pontapé de saída deste encontro, Virgílio Paula, dirigente da Federação Portuguesa de Futebol, leu uma mensagem que o presidente daquele organismo, Cruz Filipe, havia escrito propositadamente para aquele dia histórico do futebol em Portugal, dia em que se inauguravam os campeonatos da liga, «chamando-lhes (aos atletas) a sua atenção para o que estes campeonatos representam e pedindo a sua compostura para prestígio do football português», assim dava nota do DL. O Vitória dá o pontapé de saída de um match que é jogado com entusiasmo por ambos os conjuntos, pese embora com muitas cautelas defensivas. Até que logo ao minuto 6, e de forma algo inesperada, tendo em conta que Benfica e Vitória de Setúbal até então nada tinham arriscado no plano ofensivo, Valadas inaugura o marcador a favor dos lisboetas. «Esperança atira a bola para dentro da grande área; Torres corre, e da direita centra com boa conta; a defesa do Vitória não interceta, e Valadas, com oportunidade, marca imparavelmente». Um golo histórico. O PRIMEIRO GOLO DO CAMPEONATO NACIONAL DA 1.ª DIVISÃO. Alfredo Valadas o seu autor. Alentejano, nascido em Mértola a 13 de fevereiro de 1912, Valadas iniciou a sua carreira no Luso de Beja, transferindo-se depois para a capital onde começou por defender a camisola do… Sporting. Fê-lo somente em duas temporadas, transitando, após uma breve passagem pelo Sport Lisboa e Beja, para o Sport Lisboa e Benfica, onde obteve fama e glória ao conquistar cinco campeonatos nacionais da 1.ª Divisão, um Campeonato de Portugal e três Taças de Portugal. Após o golo, o Vitória perde alguma vivacidade, permitindo ao Benfica jogar de forma tranquila e perigosa quando se acercava da área sadina. E foi nesta toada que aos 14 minutos, Valadas cobra de forma magistral um livre que leva a bola a anichar-se no fundo das redes de Crujeira. 2-0. O Benfica dominava o encontro a seu bel prazer, e os remates à baliza visitante sucedem-se de forma constante, obrigado Crujeira e a sua dupla de centrais, composta por Álvaro Cardoso e António Vieira, a trabalhos redobrados. «A linha média de Setúbal está fazendo uma exibição medíocre, salvando-se apenas, por vezes, Aníbal José. Assim, o labor do trio central do Benfica encontra-se bastante facilitado», analisava o jornalista de serviço do DL neste jogo. 

A equipa do Benfica em 34/35
Os setubalenses dão um ar de sua graça à passagem do minuto 30, mas sem causar grandes aflições ao setor recuado dos encarnados. Só por uma ocasião no decorrer da primeira parte o guarda-redes benfiquista, Manuel Serzedelo, foi chamado a intervir, fazendo-o de forma tranquila. A segunda metade inicia-se com o Benfica de novo no ataque, destacando-se neste plano o avançado interior Luís Xavier, «que peca por tentar o “shoot” de muito longe». O Benfica continua a carregar, domina, mas não consegue encontrar abertas para alvejar as redes de Crujeira. Até que o Vitória começa a ganhar alguma confiança, e na sequência de um pontapé de canto, João Cruz (que haveria de fazer furor anos mais tarde com a camisola do Sporting) obriga Serzedelo a aplicar-se e a fazer a defesa da tarde. Valadas tenta serenar os ânimos setubalenses com um remate que não leva perigo à baliza sadina quase de seguida, mas seria através de um belo pontapé do seu companheiro de equipa Torres que o Benfica faria o 3-0 que praticamente sentenciou o encontro. E este novo golo viria a refletir-se na atitude dos benfiquistas até final, visto que abrandaram o ritmo de jogo, permitindo ao Vitória algumas incursões perigosas à área encarnada. A insistência sadina seria premiada a 5 minutos do final, altura em que João Cruz encurtou distâncias no marcador: «João Cruz conduz a bola, Serzedelo a procurar arrebatar-lha, não o conseguindo», agradecendo assim o extremo setubalense para selar o marcador. Na análise final ao jogo, o jornalista do DL escreve que o Benfica ganhou com justiça, «e poderia ter conseguido um resultado mais confortável, o que não obteve pela deficiência de remate (…) enquanto que o Vitória jogou abaixo dos seus créditos».

José Reis inspirado trava o futuro campeão nacional nas Salésias 

O poster do futuro campeão
nacional: o FC Porto 
Também em Lisboa, mas no Campo das Salésias, o Belenenses recebia o FC Porto. Os nortenhos davam neste dia o primeiro passo rumo à conquista do título nacional dessa temporada de 34/35, tornando-se assim nos primeiros campeões da 1.ª Divisão Nacional, tal como hoje a conhecemos. Mas o arranque rumo ao título não foi fácil para os portistas, já que não foram além de um empate a uma bola nesta ronda inaugural, e muito por culpa do inspirado guardião belenense, José Reis, que fez uma exibição soberba. O FC Porto joga a primeira parte a favor do vento, e a sua linha ofensiva inicia o jogo com boas jogadas concluídas com remates que são travados por Reis. Aos poucos, o Belenenses serena, e passa a jogar com mais frequência no meio campo adversário «com energia e entusiasmo». Porém, era o seu guarda-redes quem mais brilhava. «As melhores jogadas do primeiro quarto pertencem a Reis, keeper do Belenenses, que se distingue e provoca aplausos», dava nota o jornalista do DL encarregue de fazer a cobertura da partida. O Belenenses cresce no jogo, e aos 20 minutos Bernardo Soares lançou em velocidade José Luís, este aguenta a carga de Avelino, e posteriormente num remate rasteiro bate o guardião portista, Soares dos Reis, abrindo assim o marcador. Os portistas reagiram, e pouco depois no seguimento de um livre apontado por Carlos Pereira, Reis volta a fazer uma grande defesa. Por esta altura o FC Porto era mais acutilante no plano ofensivo, mas a defesa local mostrava-se à altura para travar o ímpeto nortenho. «O Porto tem melhor técnica e classe, nota-se. Mas o Belenenses opõe-lhe mais entusiasmo, técnica suficiente e ligação», assim descrevia os acontecimentos o DL. Nos derradeiros 15 minutos da etapa inicial o FC Porto assume o controlo territorial do jogo, mas não tem a pontaria afinada, com os atacantes Acácio Mesquita a Pinga muito apáticos no desempenho das suas funções. No entanto, a grande figura dos primeiros 45 minutos é José Reis, «e só a ele se deve o não haver um empate»

José Reis
A segunda parte não poderia ter começado melhor para os visitantes, que chegaram ao empate por Carlos Nunes, golo esse que foi descrito da seguinte forma pelo DL: «Logo no primeiro minuto Lopes Carneiro correu pelo seu corredor direito, centrou bem, Reis defendeu a soco carregado por Acácio; Pinga com a cabeça passou a Nunes, e este, também de cabeça, atirou às redes, e fez o primeiro goal, vistoso e merecido». A partida ganhou ainda mais ânimo depois desta entrada fulgurante dos portistas. Tão animado que João Nova se entusiasmou demasiado quase de seguida e cometeu grande penalidade após ter metido mão à bola dentro da área portista. Foi então a vez do outro Reis – o Soares – brilhar. O guarda-redes nortenho defendeu o remate rasteiro de Bernardo Soares e manteve o empate. O belenense Tomaz da Silva vê aos 52 minutos um golo invalidado, por fora de jogo. O público afeto à equipa da casa protesta, ao mesmo tempo que incentiva os seus rapazes, mas até final o FC Porto é mais equipa, domina, ao passo que o Belenenses tem apenas lances de inspiração momentânea. «Na meia hora de jogo a vantagem técnica e territorial é do Porto, embora o Belenenses reaja e procure o desempate, que não merece, até agora, com justiça», analisa o escriva do DL. O FC Porto ataca, mas depara-se sempre com a grande figura do encontro, o guardião José Reis. Este homem, nascido em Loulé em 1911, e que tem o seu nome na história como o primeiro guarda-redes do Belenenses a chegar a internacional, esteve (quase) intransponível ao longo dos 90 minutos. Na reta final do encontro, os azuis da Cruz de Cristo melhoram ligeiramente o seu futebol, colocando de quando em vez em perigo as redes portistas. Porém, o marcador não se altera mais até final, «resultado que se aceita, sem incoerência, apesar de o FC Porto ter sido mais team». E foram estes os (alguns dos) incidentes de quatro desafios que deram início a uma longa maratona de desafios do escalão maior do futebol luso. 

quinta-feira, agosto 22, 2024

Histórias do Futebol em Portugal (49)... O dia em que o Ginásio de Alcobaça “comprou o bilhete” para a sua única presença na 1.ª Divisão

 


Penúltima jornada da Zona Centro do Campeonato Nacional da 2.ª Divisão da temporada de 1981/82. Vivia-se por esta altura um misto de euforia e nervosismo para as bandas de Alcobaça. Em caso de vitória sobre o Beira-Mar o Ginásio local carimbava uma histórica subida à 1.ª Divisão. Há que dizer que a acontecer esta subida era a cereja no topo do bolo daquela que foi talvez a época de glória do Ginásio Clube de Alcobaça. Ao trajeto sensacional na Zona Centro do segundo escalão nacional, o emblema da cidade de Região do Oeste logrou chegar às meias-finais da Taça de Portugal, onde apenas tombou aos pés do Sporting – do famoso tridente ofensivo composto por Jordão, Oliveira e Manuel Fernandes –, em pleno Estádio de Alvalade. E se as gentes de Alcobaça não conseguiam conter o seu entusiasmo nas vésperas do importante jogo da 29.ª jornada da 2.ª Divisão, os responsáveis e jogadores do clube azul e branco eram mais contidos na euforia. Isto a julgar pelas palavras do então Chefe do Departamento de Futebol do Ginásio, José Prateiro, proferidas à Gazeta dos Desportos. «A expectativa é grande, mas apesar de não prometermos nada a ninguém, estou confiante na capacidade da nossa equipa. Não gosto muito de dizer que vamos ganhar ou perder, não gosto de fazer a festa antes do tempo, e por isso as pessoas podem notar algumas reservas no que digo, mas isso não significa que não tenha confiança nas nossas capacidades. Só que o futebol é sempre futebol, e um jogo só termina ao fim de 90 minutos», frisou o dirigente, que apesar deste discurso cauteloso resumiu 1981/82 como: «a nossa época de ouro». Porém, no subconsciente dos dirigentes do clube já “morava” a 1.ª Divisão, conforme podemos perceber das palavras de Prateiro à Gazeta, onde vincava que o Ginásio estava preparado para subir ao patamar máximo do futebol português. E nesse sentido, atendendo à exigência maior da participação no escalão maior, deixava o aviso de que não iria continuar a chefiar o Departamento de Futebol do clube, pois entendia, que na 1.ª Divisão era necessário que as suas funções fossem desempenhadas por um dirigente a tempo inteiro. «Ao longo deste ano, felizmente, não tivemos problemas, mas de qualquer forma em muitas situações não pude acompanhar os jogadores e o técnico como deveria ter sido. (...) Tenho já 10/12 anos disto e tive a sorte de acompanhar o clube na subida da 3.ª à 2ª Divisão, e agora, espero, da 2.ª à 1.ª», referia José Prateiro em jeito de despedida, não sem antes aproveitar a presença da Gazeta, através do jornalista José Carlos Freitas, para agradecer publicamente ao presidente do Ginásio de Alcobaça, Guerra Madaleno, pelo apoio que sempre deu ao clube ao longo da época. 

O mítico plantel do Ginásio em 81/82

Mas voltando ao jogo decisivo ante os aveirenses, havia crença de que a subida era possível entre os jogadores do Ginásio. Dedeu e Robério, dois dos quatro brasileiros que integravam o plantel orientado por Dinis Vital, eram unânimes em afirmar que a equipa queria e podia subir de divisão. Dedeu, que defendia as cores do Ginásio pela segunda temporada consecutiva, era por aquela altura o melhor marcador do conjunto, com 14 golos. Ciente de que o Beira-Mar era um conjunto difícil, mostrava-se, porém, confiante de que com a ajuda do público o Ginásio poderia vencer a partida. Dedeu fazia ainda um balanço daquela memorável temporada da sua equipa, opinando que «o Ginásio foi a equipa mais regular (da Zona Centro) e a que merece subir de divisão. Um fator foi muito importante para a nossa boa época, o banco que estava à disposição do técnico, de longe o melhor de toda a Zona Centro». Com 11 anos de futebol português nas pernas encontrava-se Robério, ele que acumulava muita experiência de 2.ª Divisão, já que tinha atuado nas três zonas do segundo escalão ao serviço de sete emblemas distintos (Mirandela, Paços de Ferreira, Sanjoanense, Olhanense, Famalicão, Gil Vicente e Vizela). «Vamos mesmo subir, não há duvidas disso. (…) Temos equipa para subir e ficar na 1.ª Divisão, com estes jogadores e mais dois ou três reforços vamos estar à vontade». Também Robério nesta troca de palavra com José Carlos Freitas aproveitou a oportunidade para elogiar o presidente Guerra Madaleno, «que tem sido insuperável no apoio que tem dado a toda a equipa». 

Fase do jogo com os aveirenses

E chegou o dia do grande jogo. As bancadas em redor do pelado do Estádio Municipal de Alcobaça estavam a abarrotar (estima-se que 6000 pessoas terão presenciado o encontro). Nem mais um alfinete ali cabia. Foguetes estalaram antes do apito inicial do lisboeta António Ferreira. A bola começa a rolar e recordemos os incidentes dos 90 minutos à boleia do jornalista Rui Nuno, da Gazeta dos Desportos. «O Ginásio iniciou o encontro de forma a resolver depressa a questão. Caíram em cima dos aveirenses com Dedeu a cruzar sempre bem lá da ponta direita e João Cabral e Marconi a ganharem as bolas de cabeça dentro de área e a tabelarem bem. Aos 20 minutos já duas bolas tinham batido na madeira da baliza dos aveirenses: uma logo no primeiro minuto foi salva por Joca em cima do risco fatal, levando o esférico a bater ainda na barra; a outra sucedeu aos 19 minutos, bola no poste na sequência de um remate em arco feito por Romão» – esse mesmo, o José Romão que viria a fazer carreira como treinador na 1.ª Divisão anos mais tarde. 


Porém, quem não marca arrisca-se por norma a sofrer, e o Beira-Mar começou a mostrar que não vinha apenas participar na festa. Os seus homens mais avançados, Américo e José Carlos, davam o melhor seguimento aos lançamentos em profundidade dos seus companheiros dos setores mais recuados. E foi num desses lances que um balde de água gelada se abateu sobre Alcobaça. «José Carlos, aos 25 minutos, pelo meio dos centrais foi mais rápido, beneficiou de um erro do guardião Domingos e atirou para o fundo da baliza». Porém, após o golo o Ginásio foi bafejado pela sorte, já que o Beira-Mar perdeu os seus dois avançados por motivos de lesão (!), sendo que os substitutos não se mostraram à altura de voltar a importunar com perigo a defensiva azule branca. «Estava-se quase a chegar ao intervalo, quando o Ginásio conseguiu o seu golo do empate. Portanto, um golo na hora exata e altamente moralizador para o esforço que se pedia aos atletas para a segunda parte». O tento que ressuscitou a moral dos ginasistas foi da autoria de Marconi, ao minuto 44, na sequência de um cruzamento de José Rui. Faltava um golo para o Ginásio materializar o sonho da subida. E foi com esse objetivo em mente que os pupilos de Dinis Vital entraram na segunda metade. A fome de vencer era tanta que nos primeiros 3 minutos deste período o Ginásio dispôs de outras tantas oportunidades claras para marcar. 


No entanto, a bola teimava em não entrar na baliza aveirense, ao passo que do outro lado do campo o último reduto dos azuis e brancos de Alcobaça assistia de cadeirinha à avalanche ofensiva, dado que os avançados do Beira-Mar eram inofensivos. Até que aos 66 minutos o Ginásio seria premiado com o tento que lhe reabriu a porta da 1.ª Divisão. Bom trabalho de Romão no interior da área, remate deste médio para defesa incompleta do aveirense Domingos, e na recarga apareceu oportuno João Cabral a empurrar o esférico para o fundo das malhas. «Golo do Alcobaça. Invasão de campo. A subida já não podia ser adiada, era questão de “mais golo, menos golo”. Foguetes, buzinas, e (gritos de) Ginásio, Ginásio, Ginásio, encheram a vila», assim descreveu o ambiente que ali se vivia o jornalista Rui Nuno. A subida estava cada vez mais perto, e definitivamente consumada ficou quando ao minuto 83, Marconi fez o 3-1 final, levando Alcobaça à loucura. «Marconi ainda provocou mais uma invasão (de campo) antecipada com o terceiro golo. Vários minutos de paragem à espera que as pessoas saíssem do pelado. Apelo pelos altifalantes: “Por favor, saiam do campo, não estraguem a festa”. O Ginásio estava na 1.ª Divisão. Ascensão meteórica de um clube que ainda há cinco épocas atrás estava a disputar os Distritais. Linda prenda de aniversário para um clube que amanhã celebra o seu 36.ºaniversário. A festa continuava lá em baixo através da “cerimónia” de despir os jogadores». 


A ficha deste que foi um dos jogos mais célebres na vida do Ginásio de Alcobaça foi a seguinte: Ginásio – Domingos, José Rui, Florival (Sabu, 74’), Varela, Quim, Romão, Alberto, Álvaro, Dedeu (Modas, 66’), Marconi e João Cabral. Treinador: Dinis Vital.

Beira-Mar – Domingos, Silva, Joca, Cansado, Marques, Celton, Dias, Nogueira, Toni, José Carlos (Meireles, 46’), e Américo (Pedro, 32’). Treinador: Vieirinha. 

segunda-feira, março 18, 2024

Histórias do Futebol em Portugal (48)… O último ato do Académico do Porto nos palcos da “Primeira” (Parte V)

A turma da Académica de Coimbra que disputou
a 1.ª Divisão Nacional em 1941/42


Chegamos ao último capítulo desta memória sobre a derradeira e longínqua – já lá vão 82 anos – aparição do histórico Académico do Porto na 1.ª Divisão Nacional. E começamos esta derradeira viagem pela vitória dos academistas do Porto ante os academistas de Coimbra, no Estádio do Lima. “Bola cá, bola lá”, assim se afigura o encontro nos primeiros minutos, com ambas as defesas em alerta permanente. E mais uma vez, o relvado do Lima é abençoado – ou não – pela chuva que caí à hora do encontro na cidade do Porto. «As duas equipas e o árbitro (o lisboeta João Vaz) heroicamente se aguentam no terreno» escreve o jornalista ao serviço do Norte Desportivo. A chuva faz com que a partida não desperte grande entusiasmo, visto que não é possível praticar-se um futebol vistoso, dadas as condições do relvado do Lima. Os de Coimbra são os que mais tentam remar contra a maré, com tentativas de avanços no terreno, mas são os academistas que nas vezes em que se aventuram na área contrária mais perigo lá têm semeado. A Académica tem razões de queixa do árbitro lisboeta, já que em duas ocasiões reclama penalty, por derrube a Gomes e a Armando, com o juiz a mandar seguir.  As más condições do terreno fazem com que o portuense Marques abandone temporariamente o relvado, aparentemente com queixas físicas. Até que aos 33 minutos o encontro conhece o primeiro grande sinal de interesse, o golo da Académica de Coimbra. «Nini, de longe, ensaia um pontapé que sai com violência e que Santiago não pôde deter». Quase de seguida o Académico espreita o empate, não fosse o guardião Acácio fazer uma estirada espetacular. Até que na entrada para os últimos cinco minutos da primeira parte, os portuenses chegam à igualdade. «Raul, lançado pela esquerda, serviu excelentemente Julinho, e quando Acácio se lhe lançava aos pés, aquele fez-lhe passar a bola sobre o corpo, para o fundo da rede». 



O golo espicaçou os anfitriões, que apenas dois minutos volvidos ampliaram a vantagem. O lance começa em Álvaro Pereira, que executa um centro para a cabeça de Marques – que, entretanto, já havia voltado ao campo –, que desvia o esférico para Raul, que também de cabeça faz o segundo para o Académico. E assim termina a primeira metade. No recomeço os estudantes de Coimbra surgem mais velozes e lançados ao ataque. «Parece que os visitantes vão dar tudo por tudo para modificar a feição do encontro. Aparecem jogadas, agora mais claras, por parte dos visitantes». E numa delas Lemos tem uma fuga pelo centro do terreno, e de seguida cruza para a cabeça de Armando fazer o segundo tento da Briosa para espanto de Santiago. Este golo despertou os portuenses, que passaram a ter mais domínio no encontro, «obrigando os visitantes a ceder cantos em série». E como diz o ditado “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, eis que Raul Castro fez o 3-2 final à passagem da hora de jogo, garantindo assim o triunfo dos alvi-negros, que nesta partida alinharam com: Santiago, António Jorge, Rafael, Manau, Marques, Eliseu, Álvaro Pereira, Gamboa, Julinho, Raul Castro e Raul.


Nova viagem de má memória ao sul de Portugal

Nesta sua derradeira aparição no Nacional da 1.ª Divisão não se pode dizer, muito longe disso, que as viagens ao sul do país tenham sido felizes para as hostes do Académico do Porto. Além dos 35 golos sofridos só na capital, os academistas encaixaram mais 13 (!) noutras deslocações a sul do Tejo. Isto é, aos cinco sofridos em Olhão na 8.ª jornada, averbaram mais oito na deslocação ao Barreiro. Caso para dizer que os ares do sul fizeram mal aos portuenses. No Campo do Rossio, «o Barreirense impôs uma toada rápida e de passes curtos que desconcertaram o adversário», escrevia o correspondente do Norte Desportivo. O jornalista retratava ainda que no primeiro quarto de hora, a equipa da “margem sul” «delineou avançadas vistosas a que os seus dianteiros deram boa conclusão». Por seu turno, o Académico alternou entre o bom e o mau, sendo que neste último capítulo o ataque esteve «muito irregular». Este encontro marcou ainda o regresso de Levy de Sousa à baliza academista, ele que apesar dos oito golos encaixados teve lances de bom desempenho, e talvez por isso no final da temporada tivesse rumado precisamente ao Barreirense. 8-1 a favor do conjunto do Barreiro num encontro em que o Académico apresentou o seguinte “onze”: Levy de Sousa, António Jorge, Rafael, António Silva, Marques, Eliseu, Larsen, Campos, Raul Castro, Julinho (que apontou o tento solitário dos portuenses) e Raul.


A vitória mais dilatada do Académico na 1.ª Divisão

E à 19.ª jornada o Académico do Porto tirou a barriga de misérias. E fê-lo à custa do Olhanense, que veio ao Lima “levar” nove! 9-0 foi o score daquela que foi a vitória mais robusta do combinado portuense nesta temporada. Aliás, este é o resultado mais dilatado alcançado pelos academistas nas suas cinco participações na 1.ª Divisão, estabelecendo, como tal, um recorde que perdura até hoje. A história deste encontro é simples de ser contada, e resume-se ao festival de golos do Académico, festival esse que começou mal a bola rolou pela primeira vez. Logo ao primeiro minuto Julinho marcou o primeiro na sequência de uma ação individual. Os alvi-negros dominavam os algarvios, e aos cinco minutos Raul Castro amplia a vantagem com um remate colocado. «O Olhanense parece sentir o piso relvado. A inconsistência das suas jogadas não lhes permite a realização de grandes feitos, pelo que o Académico se torna senhor da iniciativa e domínio», dizia o jornalista de serviço neste encontro, no sentido de explicar a apatia dos algarvios. Porém, a pouco e pouco os visitantes sacodem um pouco a pressão dos locais, embora sem conseguir criar perigo na baliza de Santiago. 

O Olhanense foi a vítima maior do Académico
na passagem dos portuenses pela 1.ª Divisão


O jogo perde alguma da sua beleza, dado os excessos de tentativas sem sucesso de jogadas individuais de parte a parte. Mas sobre o intervalo uma jogada individual de Julinho – que desta vez contrariou a tendência do individualismo de baixa qualidade – resultou numa grande penalidade, que Raul Castro converteu com êxito. 3-0, o resultado na saída para o descanso. No reatamento o Olhanense ainda dá um ar de sua graça, mas rapidamente o Académico esfria o ânimo algarvio e volta a assumir o controlo da partida. Aos 51 minutos Gamboa aponta o quarto tento dos academistas, que apenas três minutos volvidos veem Larsen fazer o 5-0. «Os algarvios acusam a ascendência do grupo local», e permitem que o mesmo Larsen dois minutos depois faça um novo golo. A avalanche dos portuenses não se ficaria por aqui, e Larsen, que teve uma tarde endiabrada, à passagem da hora de jogo, faz o 7-0. Aos 65 minutos foi a vez de Julinho voltar a fazer o gosto ao pé após uma série de dribles sobre os adversários, e a 10 minutos do fim este mesmo jogador, mesmo sendo carregado em falta, consegue faz o 9-0 com que foi selado o marcador. Inolvidável este jogo e o consequente resultado na história do futebol do Académico do Porto.

Os portuenses alinharam com: Santiago, António Jorge, Rafael, Manau, Eliseu, Marques, Álvaro Pereira, Gamboa, Julinho, Raul Castro e Neca.


Regresso às derrotas no meio da ventania de Leça da Palmeira

A festa duraria pouco, já que na semana seguinte uma curta viagem até Leça da Palmeira seria concluída por um desaire de 2-0 ante o conjunto local. O jornalista do Norte Desportivo, José Parreira, relata que os leceiros iniciam a partida a jogar contra o vento e que o duelo se desenrola com uma certa velocidade. As primeiras oportunidades de golo pertencem ao Leça, «que apesar de jogar contra o vento tem sido mais equipa». Por seu turno, o Académico só a partir da meia hora esboça uma reação, que não dura muito tempo. Na segunda metade, os leceiros, desta feita com o vento a seu favor, comandam abertamente a partida. «O Académico só esporadicamente aparece sobre a meia defesa dos locais. O goal custa a aparecer, as situações de perigo desenham-se continuamente junto dos postes de Levy (de Sousa), mas os dianteiros do Leça, umas vezes por falta de sorte, outras por pelos efeitos caprichosos que o vento imprime ao esférico, não encontram a finalidade desejada». Até que aos 65 minutos acontece uma “embrulhada” na área academista, e «Rocha, por entre um cacho de jogadores, atira a um canto, sem possibilidades para Levy (de Sousa)», abrindo assim o marcador. O Leça não abranda o ritmo, continua a dominar, e já sobre o final, Mendes tem um potente remate que o guardião academista não segurou e na recarga, oportuno, Lúcio fez o 2-0 final de um encontro onde o Académico alinhou com: Levy de Sousa, António Jorge, Rafael, Eliseu, Manau, Marques, Larsen, Gamboa, Julinho, Raul Castro e Carvalho.


Ânimos exaltados no duelo com os vizinhos da Invicta

Na penúltima ronda do campeonato e a precisar de pontuar para ainda ter esperanças de ficar na 1.ª Divisão, o Académico fez uma curtíssima viagem até ao Campo da Constituição, casa do vizinho FC Porto. Portistas que há muito já estavam afastados da luta pelo título de campeão, que estava já praticamente entregue ao Benfica. Sem nada a perder o FC Porto lança-se ao ataque, e logo nos minutos iniciais António Santos envia o esférico para o fundo das redes de Santiago, embora o árbitro invalide o golo por alegado fora de jogo do avançado da casa. Este foi o primeiro sinal de aviso do que iria acontecer logo aos 3 minutos, altura em que António Jorge carrega Correia Dias dentro de área. Desta feita, o árbitro Correia da Costa não tem dúvidas e assinala grande penalidade, a qual seria convertida precisamente por Correia Dias. «Os azuis e brancos usufruem maior quinhão de domínio, obrigando a defesa academista a um trabalho apurado», escreve o jornalista José Parreira. Com uma técnica mais apurada e maior pendor ofensivo, os portistas ameaçam continuamente a baliza de Santiago. Porém, aos 21 minutos o Académico tem uma oportunidade soberana para chegar à igualdade, quando numa das raras incursões à baliza de Béla Andrasik, o defesa Sárria mete mão à bola, com o juiz a apontar para a marca de castigo máximo. 

Correia Dias tenta furar a defesa academista


Na conversão, Raul Castro permite a defesa ao guarda-redes húngaro do FC Porto. Logo de seguida, Carlos Pratas envia uma bola ao poste, e já sob o intervalo este mesmo jogador faz o 2-0 a para os locais, resultado com que as equipas saem para o descanso. O jogo é retomado praticamente com o terceiro golo dos portistas, altura em que no meio de um aglomerado de jogadores na área de Santiago, Pratas é mais rápido a esticar a perna e rematar a bola para o fundo das malhas. O lance gera alguma confusão entre jogadores das duas equipas. António Santos e Eliseu agridem-se mutuamente, com o árbitro a expulsar o jogador do Académico e a deixar o portista em campo! Decisão incompreensível. Eliseu reclama da decisão, e o juiz é obrigado a chamar a polícia para retirar o atleta alvi-negro do terreno. Depois disto, Correia da Costa perde o controlo da partida, e acumula asneiras atrás de asneiras até final. Até que aos 21 minutos da etapa regulamentar Larsen foge aos adversários pelo flanco esquerdo, e aproveitando um dos raros deslizes de Andrasik faz o tento de honra do Académico, ainda assim insuficiente para evitar a derrota. Na Constituição, os academistas alinharam com: Santiago, António Jorge, Rafael, Manau, Eliseu, Marques, Raul Castro, Larsen, Gamboa, Julinho e Raul.


Despedida inglória do palco da “Primeira”

E eis que chegávamos à 22.ª e última jornada do Nacional da 1.ª Divisão de 41/42. Jornada decisiva para as duas equipas que mediam forças no Estádio do Lima, Académico e Carcavelinhos. O conjunto da capital tinha somente mais um ponto que os portuenses, sendo que a ambos só a vitória interessava para poderem continuar a sonhar com a permanência, visto que à mesma hora também o Olhanense lutava pelo mesmo objetivo. O encontro nem parecia de decisões, já que as bancadas do Lima se apresentavam despidas de público. Até ao minuto 10 o perigo rondou com mais insistência a baliza lisboeta, sendo que nas palavras do jornalista Bolero «o balanço ao quarto de hora dá vantagem territorial aos portuenses. Vinca-se a opinião que os academistas jogam melhor. Conduzem os seus ataques com mais método. O Carcavelinhos só a espaços elabora jogadas vistosas». Contudo, aos 20 minutos, contra a corrente do jogo os lisboetas marcam. Um cruzamento de Marques é bem aproveitado por Bernardo, que de cabeça bateu Santiago. O golo animou os rapazes de Alcântara, que passam a ter uma certa vantagem sobre o adversário. No entanto, até final do primeiro tempo o Académico recupera o comando da partida, atua mais próximo da área contrária, mas os seus avançados revelam pouca perícia na conclusão dos lances. A defesa também está nervosa, e Rafael quase oferece o segundo golo aos de Lisboa. Na segunda metade o encontro não muda de feição. «Joga-se mal de parte a parte e o entusiasmo pela luta também é escasso. A bola anda cá e lá em esquemas improvisados. Joga-se como calha e como a bola quer. O jogo quase não tem história», conta Bolero. A partir dos 55 minutos o Académico procura o golo com mais vontade, e o Carcavelinhos defende a sua magra vantagem com “unhas e dentes”. A partida caminha para o final, até que um balde de água fria cai sobre os lisboetas a três minutos dos 90, altura em que Larsen faz o empate. O resultado (1-1) não agrada a ninguém, já que ambas as equipas descem de divisão. O Académico despedia-se assim do principal palco do futebol português. Os portuenses encerraram o campeonato no 10.º lugar, com 13 pontos somados. Neste derradeiro encontro na “primeira” os academistas alinharam com: Santiago, Rafael, António Jorge, Manau, Américo, Gamboa, Raul, Marques, Larsen, Raul Castro e Julinho.

sexta-feira, março 15, 2024

Histórias do Futebol em Portugal (47)… O último ato do Académico do Porto nos palcos da “Primeira” (Parte IV)

A equipa do Benfica que se sagrou-se campeã nacional em 41/42,
época em que por duas vezes aplicou a chapa 4 ao Académico

12 de abril de 1942, dia de chuva na cidade do Porto, mas nada que impedisse o Estádio do Lima de registar uma boa casa na receção ao então líder do Campeonato Nacional da 1.ª Divisão, o Benfica. Facto curioso, o de os encarnados serem treinados pelo húngaro János Biri, que enquanto futebolista (foi guarda-redes) tinha passado pelo Académico do Porto, precisamente na época de estreia do campeonato nacional do escalão maior. Mas neste encontro com o Benfica a contar para a jornada 13 da época de 41/22, o Académico apresenta-se em campo sem um dos seus habituais titulares, o defesa António Jorge, um algarvio de gema que figura no top 10 dos jogadores com mais jogos realizados pelos academistas no escalão maior. Depois de os minutos iniciais serem de estudo mútuo, sem que a emoção empolgasse as bancadas do Lima, eis que «o Académico denota boa convicção no sentido de dar à pugna o máximo rendimento», escrevia o jornalista Domingos Castro. O Benfica respondeu de forma positiva à postura dos portuenses, e com uma «série de regulares combinações invade o terreno do Académico com mais insistência». E no seguimento dessas tentativas eis que Alfredo Valadas efetua um forte remate do lado esquerdo do seu ataque, com a bola ainda a raspar em Rafael e a aninhar-se no fundo das redes de Levy de Sousa. O golo trouxe mais alma aos benfiquistas, que assumiram o controlo da partida, e apenas um minuto volvido, em mais uma jogada de ataque bem conduzida, Nelo Barros aponta o segundo golo da tarde para os visitantes. «Os alvi-negros não acusam a desvantagem. Nota-se, no entanto, que mercê da vantagem do vento o Benfica insiste com mais frequência e Levy (de Sousa) é chamado várias vezes a intervir», analisava o jornalista do Norte Desportivo que esteve de serviço neste jogo. 



A partida continuava a ser disputada debaixo de chuva torrencial, e com o relvado do Lima alagado, ambas as equipas têm dificuldade em explanar o seu futebol. Ainda assim, o Benfica continua por cima dos acontecimentos, e só aos 35 minutos o guardião encarnado, Martins, é chamado a intervir com mais afinco. A partir daqui o Académico acreditou que podia fazer mais, e esse mais foi mesmo o golo, e Marques consegue-o na reta final da primeira parte. Com o relvado empapado o futebol joga-se de forma mais individual, e numa dessas jogadas a solo, Francisco Rodrigues tem uma investida pelo flanco direito, endossa depois a bola para Nelo Barros, que com um potente remate que leva a bola a bater na barrar e a dirigir-se depois para o fundo das redes. 3-1 para o Benfica na saída para o descanso. A chuva cai cada vez com mais intensidade no Porto, encharcando ainda mais o terreno de jogo. O Académico começa melhor. Álvaro Pereira dá o primeiro sinal de aviso no reatamento, com o esférico a sair ao lado. Depois disto o Benfica volta a invadir o meio campo contrário, tecnicamente os seus jogadores são mais evoluídos, e acima de tudo adaptam-se melhor às condições do tapete verde. E mercê da superioridade patenteada, eis que aos 65 minutos os benfiquistas chegam ao quarto golo. A jogada é feita entre Francisco Albino e Joaquim Teixeira, com este último, bem colocado em frente à baliza, a não dar hipóteses a Levy de Sousa. O jogo perde a partir daqui algum interesse, com o Benfica a gerir calmamente a folgada vantagem. Porém, em jogada de transição, Marques aproveita uma jogada confusa na área de Martins para estabelecer o resultado final 2-4 a favor dos lisboetas, que iriam chegar ao final desta maratona que é o campeonato nacional com o título de campeões no bolso.

Nesta partida o Académico jogou com: Levy de Sousa, Eliseu, Rafael, Manau, Guimarães, Gamboa, Raul Castro, Larsen, Julinho, Marques e Álvaro Pereira.


Pesadelo em Lisboa (parte III)

Aquela que seria a quinta e última viagem do Académico a Lisboa no âmbito desta edição do campeonato nacional, ficou saldada pela goelada mais pesada que a turma orientada por Albertino Andrade sofreu nesta época. 11-2 ante o Sporting. No Estádio do Lumiar pouco público, não só porque o adversário era pouco convidativo, mas de igual modo porque o Sporting de Joseph Szabo estava longe de encantar os seus adeptos. E na realidade o jogo teve pouco interesse, como contou o correspondente do Norte Desportivo na capital. «O Sporting venceu sem grandes dificuldades, e para tal não necessitou de se empregar a fundo. A sua defesa não teve muito que fazer, porque a linha de médios conseguiu tomar ascendente sobre o ataque contrário. A linha dianteira dos leões gisou alguns belos esquemas de jogo, atuando com um equilíbrio notável», analisou o jornalista destacado para este encontro.

Às mãos deste Sporting, o Académico sofreu a derrota
mas pesada da época: 11-2


Por sua vez, do lado do Académico só a defesa e o guarda-redes mereceram alguns elogios, sobretudo Levy de Sousa, que fez magníficas defesas. A linha de meio campo e o ataque academista «raramente tiveram jogadas capazes de permitir fácil seguimento». O Sporting foi inequivocamente superior, a prova disso é que ao intervalo a vantagem dos lisboetas era de 5-1. Na segunda metade o marcador foi dilatado… e de que maneira! Mais seis golos para os leões, sendo que ao décimo o azar bateu à porta do Académico. Levy de Sousa teve de sair do campo, por motivo de lesão, e numa altura em que ainda não havia substituições, Julinho foi para a baliza, ainda a tempo de a dois minutos do fim sofrer o 11.º golo do Sporting. E podiam ter sido mais, não fosse a defesa do Académico ter tido «o papel de mais relevo com algumas intervenções magníficas que obrigaram o Sporting a inutilizar algumas jogadas que aparentemente dariam pontos (golos)», elucidou o jornalista.

Com estes 11 golos sofridos, o Académico elevou para 35 o número de tentos encaixados na capital! Julinho e Raul Castro apontaram os tentos de honra dos academistas no jogo do Lumiar, sendo que os portuenses alinharam com: Levy de Sousa, António Jorge, Rafael, Manau, Guimarães, Eliseu, Larsen, Raul Castro, Julinho, Marques e Gamboa.


A vingança (ante o Unidos de Lisboa) serviu-se com três golos

Na 15.ª jornada o Académico obteve a sua quarta vitória na temporada, um triunfo que teve um certo sabor a vingança pelo que se tinha passado na primeira volta do campeonato. A turma portuense bateu no Lima, por 3-2, o Unidos de Lisboa, equipa esta que tinha derrotado os academistas por 10-1 em Lisboa. Foi mais uma partida disputada debaixo de chuva, que nas palavras do jornalista do Norte Desportivo, Joaquim de Castro, contribuiu para a má qualidade do futebol praticado. «Joga-se sem plano, definido à mercê do que o jogo dá», retratou o jornalista. O Unidos começa a registar um maior domínio territorial, com o Académico a ripostar, sendo que as suas incursões à área lisboeta eram sempre perigosas. «Numa delas Julinho passa em profundidade a Álvaro Pereira, que marca aos 16 minutos, imparavelmente, o primeiro goal do Académico. Este ponto parece despertar um pouco o ânimo do grupo academista que consegue usufrui um certo domínio», retratou Joaquim de Castro. Os portuenses acercam-se cada vez com mais perigo da baliza de Eduardo Santos, desperdiçando clamorosamente algumas oportunidades, como seria o caso de Marques após passe “açucarado” de Julinho. E como quem não marca sofre, o Unidos de Lisboa acaba por chegar à igualdade à passagem da meia hora. Arnaldo Carneiro desmarca Tanganho, que perante a indecisão da defesa local bateu Santiago, guarda-redes que substituiu neste encontro o habitual titular, Levy de Sousa. 

Álvaro Pereira


O jogo mudou de feição, isto, é o Unidos passou a dominar, ao passo que o Académico entregou-se em demasia aos trabalhos defensivos, permitindo aos lisboetas criarem várias ocasiões para ampliar o marcador. Não foi de estranhar que ainda antes do descanso, na marcação de um canto, «depois de uma embrulhada junto às redes de Santiago», Arnaldo Carneiro fizesse o 2-1 para os visitantes. Na segunda metade, e com o relvado do Lima alagado, o Académico surge com outra atitude, mais mandão, uma postura que seria premiada com a reviravolta no marcador. «O Unidos começa a sofrer um domínio dos academistas», até que num ataque pelo lado esquerdo, «Álvaro Pereira endossa a bola a Julinho, este parece perder a excelente oportunidade de passe, mas insiste e marca o segundo aos seis minutos», assim relatou o jornalista do Norte Desportivo. Arnaldo Carneiro ainda introduziu a bola na baliza de Santiago, mas o golo foi de pronto invalidado por nítido fora de jogo do avançado lisboeta. E eis que na sequência da marcação de um pontapé de canto Álvaro Pereira faz o golo da vitória (3-2) academista. E sobre este último futebolista, há que voltar a referir que a par de Levy de Sousa foi o único homem que esteve nas cinco participações do Académico do Porto na 1.ª Divisão Nacional. Mais do que isso, Álvaro Pereira é o jogador com mais jogos disputados pelos academistas na elite do futebol luso, 58 encontros para sermos mais precisos.

Diante do Unidos de Lisboa os portuenses alinharam com: Santiago, Rafael, António Jorge, Eliseu, Américo, Guimarães, Raul Castro, Gamboa, Larsen, Julinho e Álvaro Pereira.


Derrota tangencial no Campo do Benlhevai (Guimarães)

Na 16.ª jornada a equipa treinada por Albertino Andrade viajou até ao berço da nação, a Guimarães, para defrontar o Vitória local. Partida onde na primeira meia hora os academistas se mostraram «mais ao ataque, dando ensejo a que a extrema defesa dos vimaranenses brilhe em algumas intervenções decididas», escreveu o correspondente do Norte Desportivo encarregue de contar as incidências do encontro. Até que no último quarto de hora da primeira metade os locais ganharam ascendente, obrigado Santiago a intervir com redobrada atenção e perícia em duas ocasiões. 

Campo do Benlhevai (Guimarães)


Mas seria o Académico a abrir o marcador, por intermédio de Larsen, aos 26 minutos, na sequência de um canto apontado por Raul Castro. Pouco depois da meia hora Alexandre empata após um bom passe de Arlindo. Oito minutos volvidos o autor do primeiro tento dos vimaranenses bisou, depois de receber a bola dos pés de Ferraz. Na segunda metade, de nada valeu aos portuenses a pontaria afinada de Larsen, autor de mais dois tentos, já que Ferraz e Miguel asseguraram a vitória… do Vitória no Campo do Benlhevai por 4-3.

O Académico do Porto alinhou com: Santiago, António Jorge, Rafael, Manau, Eliseu, Marques, Raul Castro, Julinho, Larsen, Álvaro Pereira e Raul.

(continua)

quinta-feira, março 14, 2024

Histórias do Futebol em Portugal (46)… O último ato do Académico do Porto nos palcos da “Primeira” (Parte III)


Estreante nestas andanças de 1.ª Divisão Nacional era o Leça, clube modesto que nesta primeira aparição entre os “Grandes” se fazia representar na sua esmagadora maioria por jogadores da terra, todos amadores, e sem experiência no mais alto patamar do futebol luso. Leça que se deslocou ao Estádio do Lima na 9.ª jornada para disputar um «jogo de vizinhos» como lhe chamou o jornalista Bolero, do Norte Desportivo. Perante reduzida assistência a partida teve um início tímido, sendo que nos primeiros cinco minutos há apenas a registar uma oportunidade de golo perdida do academista Álvaro Pereira. Apesar de ser disputado a grande velocidade, o encontro não apresenta um padrão tático definido, o que o torna um pouco desinteressante. «Ambas as equipas jogam à base da energia, com uma ou outra jogada onde se vislumbra o desejo de conjunto (…) Uma e outra defesa, continuamente em ação, batalham ardorosamente. Se os setores dianteiro e médio têm trabalho sucessivo, o mesmo sucede com as extremas defesas, sempre na liça. Tem motivos de certo agrado esta partida entre leceiros e académicos», assim retratava Bolero.

A equipa do Leça que disputou a 1.ª Divisão em 41/42

À passagem da meia hora de jogo o Académico toma conta dos acontecimentos, perante um Leça que começa a dar sinais de alguma fraqueza à medida que se aproxima o intervalo. Levy de Sousa, guarda-redes do Académico do Porto, é um mero espectador, em contraste com Jaguaré – não o excêntrico guardião brasileiro que jogou no Académico anos antes, mas sim Alfredo Dias, conhecido pelo Jaguaré do Leça – que tem trabalhos redobrados. A avalanche academista produziu resultados antes do descanso, com Marques e Larsen a darem expressão ao marcador. A toada de jogo manteve-se na segunda metade, e quando estavam decorridos 62 minutos Raul Castro desfere um remate a cerca de 30 metros da baliza de Jaguaré, guardião que é traído pela trajetória da bola e não evita desta forma o terceiro tento dos portuenses. Tecnicamente o Académico era superior ao seu adversário, e o marcador seria fechado por Larsen a 15 minutos do fim, na sequência de um canto apontado por Machado. 4-0, vitória de um Académico que alinhou da seguinte forma: Levy de Sousa, António Jorge, Rafael, Manau, Guimarães, Eliseu, Larsen, Raul Castro, Marques, Julinho e Álvaro Pereira.


O derby da Invicta pende para o lado azul-e-branco

E na 10.ª ronda houve aquele que foi o primeiro dérbi da Cidade Invicta no patamar mais alto do futebol em Portugal. Académico e FC Porto mediram forças no Lima. O jornalista Lopes Gaya conta que os portistas entraram em campo a pressionar os academistas, mostrando assim «certas tendências para abrir o ativo, porque aparecem com mais frequência no ataque. Levy (de Sousa) é chamado duas vezes a intervir, e fá-lo com certa felicidade a dois remates, um de Pinga e outro de António Santos». Após este começo mais afoito dos azuis e brancos o jogo entra numa toada de maior equilíbrio, com o Académico a espreitar com mais frequência o ataque, pese embora com a defesa portista sempre atenta. Até que à chegada da meia hora de jogo o FC Porto aplica dois rudes golpes ao Académico. O mesmo é dizer dois golos apontados quase de rajada. O primeiro por intermédio do possante avançado Correia Dias, aos 24 minutos, e o segundo dois minutos volvidos por Carlos Nunes. A equipa comandada pelo técnico Mihaly Siska saiu para o intervalo em vantagem, descanso esse que lhe parece ter feito mal, a julgar por uma entrada na segunda metade algo relaxada. Aproveitou o Académico que logo aos 10 minutos reduz a desvantagem. «Larsen lança um bom centro sobre a esquerda, a bola vai para Julinho que marca (passa) para Álvaro Pereira que fuzila rápido as redes de Béla (Andrasik)». A bola vai ao centro do terreno e… novo golo para o Académico. Julinho recebe a bola de um companheiro seu, e sem marcação corre em direção à baliza portista, rematando sem hipóteses para o fundo das redes. Estava feito o empate para delírio da claque do Académico, que «aplaude com entusiasmo a sua equipa». Do outro lado os adeptos do FC Porto também puxam pelo seu conjunto, e «estabelece-se um curioso duelo de claques. Um orfeão ruidoso a dar ambiente de espectativa ao encontro», descreveu Lopes Gaya. O FC Porto parece despertar da entrada sonolenta, e aos 65 minutos o árbitro Vieira da Costa assinala um livre perigoso para a baliza de Levy de Sousa. Na cobrança, António Baptista envia com habilidade a bola para o fundo da baliza academista, colocando novamente a sua equipa em vantagem. Aos 42 minutos, os portistas acabam com as esperanças dos seus vizinhos em pontuar. «Pratas desce e é carregado com certa violência. Pinga marca o castigo direto com um pontapé bem colocado e fixa o resultado em 4-2». No derby da Invicta o Académico alinhou com: Levy de Sousa, Rafael, António Jorge, Guimarães, Eliseu, Raul Castro, Larsen, Gamboa, Julinho, Marques e Álvaro Pereira.

Lance do dérbi da Cidade Invicta, entre Académico e FC Porto

Na derradeira jornada da primeira volta do campeonato o Académico voltou a não ser feliz na deslocação a Lisboa. Desta feita seria o Carcavelinhos a aplicar a chapa 6 aos portuenses. Sobre encontro não conseguimos encontrar o relato escrito das incidências do mesmo.

Treinador do Académico não atira a toalha ao chão

Conseguimos sim descobrir uma pequena entrevista concedida ao Norte Desportivo pelo treinador do Académico do Porto nesta temporada, Albertino Ferreira de Andrade, a sua graça. Nesta troca de palavras com aquele jornal portuense, o técnico fazia um balanço da primeira volta do campeonato, começando por opinar que tinha gostado de ver a equipa do Sporting em ação, e que em seu entender o FC Porto parecia querer regressar à boa forma do passado. 

O treinador do Académico:
Albertino Andrade

E sobre a sua equipa, Albertino Andrade não atirava a toalha ao chão, pelo contrário. «O orientador técnico do Académico parece, no entanto, não possuir fibra para o desânimo. (…) Sente na entrega à preparação física dos seus pupilos o melhor dos seus esforços. Percebe nos jogadores de futebol imensas deficiências, que procura corrigir, assim como determinados defeitos de formação». E mais adiante, ao falar dos resultados averbados até então, diz mesmo: «Pouca sorte, muito pouca sorte, é o que tem havido».


Nova viagem para esquecer à capital

O Início da segunda volta do campeonato marca uma nova viagem do emblema do Porto à capital, agora para defrontar o Belenenses, no mítico Estádio das Salésias. Os lisboetas vinham de uma vitória animadora no Campo da Constituição diante do FC Porto, na ronda anterior, e talvez por isso a massa adepta belenense fosse em grande número ver a sua equipa. Por seu turno, o Académico neste jogo «não foi melhor nem pior que noutras deslocações. A equipa, habilidosa por intermédio de alguns elementos, não tem fundo de resistência. No jogo de hoje transpareceu mais uma vez essa ideia. Em lampejos, o grupo consegue organizar algumas jogadas interessantes, mas com a sua linha de médios se divorcia muitas vezes do ataque, a equipa vive partida ao meio quase sempre», assim analisou a turma portuense o correspondente do Norte Desportivo na capital. O Belenenses entrou praticamente a ganhar, quando aos dois minutos Eliseu corta a bola com a mão dentro da área, com o árbitro setubalense Trindade a assinalar de pronto o castigo máximo. Na conversão, Feliciano marcou o primeiro tento dos azuis. O Belenenses teve quase sempre o ascendente do encontro, sendo que os campeões do Porto apenas se mostraram mais audazes no segundo quarto de hora da primeira parte. «De resto, a vontade mais forte foi a do Belenenses». Porém, contra a maré azul os academistas empatam a partida à passagem do minuto 19, por intermédio de Larsen. Empate que seria sol de pouca dura, já que três minutos passados António Jorge derruba Gilberto dentro da área e o árbitro não volta a ter dúvidas em assinalar nova grande penalidade a favor dos de Belém. Feliciano volta a não dar hipóteses de defesa a Levy de Sousa. E ainda antes do intervalo os locais ampliaram a vantagem, por intermédio de Artur Quaresma. «No segundo período, inicialmente, ainda o Académico se manteve com certa galhardia, mas depois o encontro entrou num período de certa monotonia dada a superioridade dos visitados», escrevia o Norte Desportivo. E seria dessa forma que Gilberto faria o quarto tento dos lisboetas, que praticamente sentenciou a partida, de nada valendo o facto de Larsen, aos 64 minutos, ter reduzido para 4-2, que seria, assim, o resultado final de um jogo onde o Académico alinhou com: Levy de Sousa, António Jorge, Rafael, Manau, Eliseu, Raul Castro, Larsen, Gamboa, Julinho, Marques e Álvaro Pereira.

(continua)