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sexta-feira, setembro 11, 2015

Copa América (5)... Argentina 1921

Uma revista da época retratando o feito alvi-celeste
1921 é um ano especial para o povo argentino. Pela primeira vez a seleção das pampas subia ao trono do futebol sul-americano após arrebatar a coroa de campeão continental. Um feito alcançado em Buenos Aires, o mesmo local onde cinco anos antes havia sido dado o pontapé de saída para aquela que é hoje a maior competição de seleções de todo o continente americano, a Copa América. Para a quinta edição do então denominado Campeonato Sul-Americano de Futebol uma novidade saltou à vista: a estreia do Paraguai. Orientados por um argentino, de nome José Durand Laguna, os paraguaios - que neste preciso ano de 1921 acabavam de filiar-se na FIFA - juntavam-se aos habituais Brasil, Uruguai e Argentina, substituindo a seleção do Chile, que devido a problemas internos na sua federação esteve ausente do campeonato. Paraguai que teve uma estreia de sonho na copa, já que no Estádio do Club Sportivo Barracas, o palco com capacidade para 30.000 pessoas que acolheu os seis encontros do certame, bateu por 2-1 nada mais nada menos do que os campeões em título, o Uruguai. Um dos responsáveis por esta autêntica surpresa foi um niño de 16 anos, Gerardo Rivas, que apesar da sua tenra idade assumia já o estatuto de grande estrela do selecionado paraguaio. Foi ele que aos 9 minutos abriu um marcador que seria ampliado já na etapa complementar por intermédio de Ildefonso López. O máximo que os atordoados uruguaios conseguiram fazer foi reduzir a desvantagem, através de um dos seus jogadores mais virtuosos, José Piendibene. 


Jogo inaugural da Copa de 1921,
entre a Argentina e o Brasil

O certame havia sido aberto no dia 2 de outubro desse longínquo ano de 1921 pelos combinados da Argentina e do Brasil. Esta última seleção viajou para Buenos Aires desfalcada dos seus melhores futebolistas, desde logo a grande estrela do futebol brasileiro de então, Arthur Friedenreich, que não participou na copa por ser... mestiço! Mais uma vez o racismo voltava a evidenciar-se nas canchas do futebol sul-americano. A recusa do Brasil em levar alguns dos seus melhores jogadores, grande parte deles de origem negra, surgia como consequência de um cartoon que um jornal de Buenos Aires havia feito em 1916, por alturas da primeira edição do Campeonato Sul-Americano, em que os futebolistas brasileiros eram representados por macacos magricelas a saltar de galho em galho a fazer piruetas! Uma caracterização que ganhou fama, sendo que a partir de então os brasileiros passaram a ser apelidados de macaquinhos. Cinco anos volvidos, e preocupados com a imagem que o país passou a deter no exterior na sequência desta caracterização, o presidente da República de então, Epitácio Pessoa, convocou uma reunião com a Confederação Brasileira de Desportos onde recomendou que apenas poderiam representar a nação os futebolistas das famílias mais abastadas economicamente, e que fossem de pele clara e de cabelos lisos! É caso para dizer que não sabe quem era mais racista, se os argentinos ou se o próprio chefe da nação brasileira! De nada valeram os protestos da sociedade do Brasil, onde se destacou a voz do escritor Lima Barreto, também ele mestiço, sendo que a seleção ao ficar privada dos seus craques não fez uma grande figura na capital argentina. Ante a equipa da casa o Brasil sucumbiu por 1-0, com o tento dos alvi-celestes a ser apontado por aquele que viria a ser o melhor marcador e grande figura do torneio, Julio Libonatti. Neste encontro de estreia os comandados de Ferreira Vianna Netto atuaram durante 80 minutos com menos um homem, já que logo aos 10 minutos o avançado Nonô teve de sair do relvado por motivo de lesão. 


Paraguaios não tiveram argumentos
para derrotar a turma da casa
Dez dias mais tarde o Brasil voltou a entrar em campo, desta feita para defrontar os caloiros do Paraguai. Mesmo sem realizar uma exibição convincente o escrete esmagou os paraguaios por 3-0, com golos de Machado (2) e Candiota, todos eles na primeira parte. 
Por sua vez, o Paraguai mostrou que a surpreendente vitória de estreia ante o poderoso Uruguai havia sido, quiçá, um mero golpe de sorte, pois à má performance obtida diante do Brasil seguiu-se uma nova e modesta atuação ante os anfitriões. Libonatti, aos 43 minutos, abriu o caminho de uma vitória fácil por 3-0 dos argentinos que desta forma estavam a um pequeno passo de entrar para a história. Mas para o fazer a equipa do jogador/treinador Pedro Fournol precisa de vencer o vizinho e eterno inimigo da outra margem do Rio da Prata, o Uruguai, seleção que se recompôs da derrota inaugural com um triunfo curto mas importante sobre o Brasil. Dois golos de Ángel Romano, um dos principais jogadores dos charrúas, contra apenas um dos brasileiros, deram aos campeões em título um novo alento quanto a uma possível renovação do ceptro. Quanto ao Brasil despedia-se sem honra nem glória, ficando somente para a história as heróicas atuações do seu guarda-redes, Júlio Kuntz, performance que levou a que o maestro Francisco Canaro tivesse composto um tango em homenagem ao goleiro do Flamengo. 


Libonatti marca o golo (contra o Uruguai)
que consagrou a Argentina
como campeã das américas
E no dia 30 de outubro o Estádio do Club Sportivo Barracas encheu para ver o encontro decisivo da copa. Aos argentinos um empate bastaria para celebrar o primeiro título continental da sua história, ao passo que uma derrota poderia dar o tetra à celeste. Contudo, os argentinos estavam dispostos a mudar o rumo da história, além de que contavam com um goleador em grande forma, Julio Libonatti, que aos 57 minutos apontou o único golo do encontro para gáudio do 30.00o espetadores presentes. Pelos seus golos Libonatti pode ter sido para muitos a chave do êxito argentino nesta competição, mas há que fazer igualmente uma referência ao guarda-redes alvi-celeste, Américo Tesoriere, que ao manter a sua baliza inviolável (!) deu um forte contributo para a conquista do título. Para a história do futebol argentino ficam os nomes de Florindo Bearzotti, Américo Tesoriere, Pedro Calomino, Aldolfo Celli, Jaime Chavín, Miguel Dellavalle, Raúl Echeverría, Alfredo Elli, José López, Vicente González, Julio Libonatt, Ernesto Kiessel, Juan Presta, Blas Saruppo, Emilio Solari e Gabino Sosa. Contudo, esta quinta edição ficou igualmente marcada pelo reduzido poder de finalização das quatro seleções em prova, já que somente 14 golos foram apontados em seis partidas.  

A figura: Julio Libonatti


Julio Libonatti com a camisola
da Argentina
Reza a lenda que mal o árbitro brasileiro Pedro Santos apitou para o final do decisivo Argentina - Uruguai os hinchas locais correram para agarrar Julio Libonatti, pegando nele e levando-o em ombros até à Plaza de Mayo! Ainda hoje, recordar o primeiro título do futebol argentino no que a seleções diz respeito obriga a proferir o nome de Libonatti, o herói da copa de 1921. Este atacante nasceu em Rosário a 5 de julho de 1901 tendo iniciado o seu percurso futebolístico num dos clubes locais, neste caso o Newell's Old Boys. Ao serviço deste emblema deu nas vistas durante os oito anos em que vestiu o seu manto sagrado, essencialmente devido aos seus atributos de temível matador, o mesmo será dizer, de homem-golo. A estas características não ficaram indiferentes os responsáveis pela seleção argentina, os quais em 1919 chamam Libonatti pela primeira vez. Um ano depois integrou o grupo que defendeu a Argentina no Campeonato Sul-Americano de 1920, vencido, como se sabe, pelo Uruguai, Em 1921 foi então uma peça fundamental, para muitoa foi mesmo a peça fundamental, do êxito alvi-celeste, ao apontar três golos decisivos para a conquista do primeiro título continental para aquela nação. A sua fama subiu pois em flecha, sendo que quatro anos mais tarde do outro lado do Atlântico chegou-lhe um convite para exibir o seu talento em terras italianas. O convite surgiu da parte do Torino, e Libonatti - descendente de italianos - não recusou, entrando para a história como o primeiro jogador sul-americano a atuar no Velho Continente. Em Turim continuou a fazer o que melhor sabia, isto é, golos. Juntamente com Gino Rossetti e Adolfo Baloncieri formou um trio mortífero para os rivais do Toro, de tal modo que a imprensa italiana o batizou de trio maravilha. Durante os nove anos em que defendeu as cores do Torino Libonatti apontou mais de 150 golos, tendo tido um papel preponderante na conquista de dois scudettos por parte do clube. Pelo facto de ter descendência italiana Julio Liboantti defendeu em 17 ocasiões as cores da Squadra Azzurra - seleção nacional - tendo sido o primeiro oriundi - descendente - a fazê-lo. Na reta final da sua carreira ficou-se por Itália, onde defendeu ainda os emblemas do Génova e do Rimini. Ao serviço deste último clube teve a sua curta experiência como treinador - em 1936. Viria a falecer a 9 de outubro de 1981, com 80 anos de idade. 

Números e nomes: 

2 de outubro de 1921

Argentina - Brasil: 1-0
(Libonatti, aos 27m)
A seleção do Paraguai que em 1921 participou pela primeira vez na Copa América
9 de outubro 1921

Paraguai - Uruguai: 2-1
(Rivas, aos 9m, López, aos 66m)
(Piendibene, aos 83m)
Um ângulo da bancada e da tribuna central do Estádio do Club Sportivo Barracas,
onde decorreu o campeonato sul-americano de 1921
12 de outubro de 1921

Brasil - Paraguai: 3-0
(Machado, aos 21m, aos 44m, Candiota, aos 45m)

16 de outubro de 1921
Capitães do Paraguai e da Argentina cumprimentam-se antes do duelo travado entre si
Argentina - Paraguai: 3-0
(Libonatti, aos 43m, Saruppo, aos 71m, Echeverría, aos 76m)

23 de outubro de 1921

Uruguai - Brasil: 2-1
(Romano, ao 1n, aos 8m)
(Zézé, aos 53m)

30 de outubro de 1921

Argentina - Uruguai: 1-0
(Libonatti, aos 57m)

Classificação

1-Argentina: 6 pontos
2-Brasil: 2 pontos
3-Uruguai: 2 pontos
4-Paraguai: 2 pontos
A célebre seleção argentina que em 1921 alcançou o seu primeiro título oficial

quinta-feira, janeiro 08, 2015

Copa América (4)... Chile 1920

Uma multidão aguarda no Porto de Valparaíso a chegada
do navio que transportou as delegações do Brasil,
Uruguai, e Argentina, para a 4ª edição
Campeonato Sul-Americano
Setembro acabara de se iniciar naquele longínquo ano de 1920, para gáudio da população de Valparaíso, pitoresca cidade costeira situada no Chile, e que acolheu a quarta edição do então denominado Campeonato Sul-Americano de Futebol. Atraído por aquela jovem e encantadora modalidade que pouco mais do que um par de décadas antes havia desembarcado naquela região do continente americano, o povo de Valparaíso mostrou todo o seu entusiasmo ainda antes de ter sido dado o pontapé de saída do torneio, quando em massa se deslocou ao porto da cidade para receber em euforia as três seleções que juntamente com o Chile iriam dar vida ao certame. Argentina, Uruguai, e Brasil, eis os ilustres convidados recebidos no porto de Valparaíso como verdadeiros reis do futebol continental. Reis, ou astros da bola, neste caso, que na verdade foram muito poucos no Campeonato Sul-Americano de 1920, uns porque, entretanto, haviam feito a sua retirada da alta competição, caso do mago uruguaio Isabelino Gradín, outros por desavenças entre organismos internos, casos dos brasileiros Arthur Friedenreich, Neco, Marcos de Mendonça, Haroldo, ou Píndaro de Carvalho - cinco pedras basilares na conquista do título por parte do escrete (que ainda não era canarinho) um ano antes. E foi precisamente um Brasil composto por jogadores reservistas que juntamente com a seleção da casa deu a 11 de setembro o pontapé de saída de um torneio que à semelhança dos três anteriores iria ser desenrolado em sistema de poule, onde todos jogariam contra todos a uma só volta, sendo o campeão o país que somasse o maior número de pontos.

Alvariza, autor do único
golo brasileiro em Valparaíso
As guerrilhas internas entre as federações paulista e carioca privou então a seleção brasileira de defender o título com os seus melhores intérpretes, tendo o selecionador Oswaldo Gomes não tido outro remédio senão levar alguns jogadores de segundo plano internacional, casos do defesa Telefone - alcunha curiosa do cidadão José Almeida Netto - João de Maria, Sisson, Fortes, Zézé, Junqueira, ou Ismael Alvariza. Seria este último jogador que no relvado do Valparaíso Sporting Club - o recinto que serviu de palco aos seis encontros deste campeonato - apontou o único golo da vitória sobre um Chile em reconstrução, uma seleção moldada pelo conceituado treinador uruguaio Juan Carlos Bertone com uma mescla de experiência - com futebolistas como Manuel Guerrero, Alfredo France, ou Horacio Muñoz - e juventude - casos de Pedro Vergara, Víctor Toro, Victor Varas, ou Humberto Elgueta - e que sobretudo deixou uma imagem bem mais positiva em relação aos três torneios anteriores. Um dia mais tarde entraram em campo os velhos inimigos do rio da Prata, Argentina e Uruguai, seleções que disputaram uma partida intensa e em certos períodos desenrolada nos limites da agressividade. 1-1 foi o resultado final deste clássico das américas onde sobressaiu o génio de uma das maiores estrelas do selecionado uruguaio orientado por Ernesto Figoli, José Piendibene de seu nome. El Maestro, como era conhecido, realizou uma soberba exibição, a qual seria coroada com um golo, o primeiro desse encontro, apontado aos 10 minutos. Porém, Raul Echevarría igualou a contenda no segundo tempo quando o relógio marcava 75 minutos. Com este resultado o Brasil era líder isolado ao final da 1ª jornada, dependendo apenas de si para revalidar o título conquistado um ano antes no Rio de Janeiro, mas... do céu ao inferno o trajeto foi curto para os brasileiros nesta Copa de 1920.

Brasil sofre humilhação histórica

El Loco Romano
Após cinco dias de descanso a competição voltou a entrar em ação no dia 18 de setembro. Frente a frente as duas seleções que haviam disputado o jogo final da edição anterior, o Brasil e Uruguai. O duelo disputado no Valparaíso Sporting Club teve um desfecho trágico para os campeões em título, já que um autêntico vendaval celeste varreu com os brasileiros do mapa do campeonato. 6-0, uma goleada que até há bem pouco tempo era a maior derrota averbada pela seleção do Brasil ao longo da sua centenária história, um recorde - negativo - que seria batido em 2014, altura em que a canarinha foi humilhada (7-1) em casa pela Alemanha, nas meias-finais do Campeonato do Mundo. Mas voltando a 1920, e a Valparaíso, para recordar que a avalanche ofensiva dos uruguaios teve início aos 23 minutos, quando Ángel Romano, mais conhecido como El Loco Romano, bateu pela primeira vez o infeliz Júlio Kuntz, goleiro que na época atuava no Flamengo. Três minutos volvidos Urdinarán, na conversão de uma grande penalidade, aumentou a vantagem, sendo que ainda antes da saída para o intervalo o centro-campista José Pérez fez o terceiro. Nada corria bem a um Brasil muito desfalcado das suas grandes estrelas da altura, e logo no reatamento da partida Antonio Campolo faria o quarto da tarde. O pesadelo ganhou contornos mais vincados quando à passagem do minuto 60 El Loco Romano voltou a bater Kuntz, que não iria para o duche sem antes ir buscar por uma última vez a bola ao fundo da sua baliza, desta feita enviada, de novo, por José Pérez. Exibição de gala do Uruguai, que provou no Chile que a derrota no Campeonato Sul-Americano de 1919 não havia sido senão um mero acidente de percurso, já que era evidente que continuava a ser a mais virtuosa e letal seleção da América do Sul.
No dia 20 de setembro o Valparaíso Sporting Club encheu para ver a seleção da casa defrontar a Argentina. Contando com o apoio maciço dos seus hinchas, a seleção chilena fez - segundo rezam as poucas crónicas de então - o seu melhor jogo do torneio, culminado com um impensável empate a um golo que deixava a Argentina em maus lençóis quanto à questão do título. Ainda em relação ao Chile, uma particularidade saltou à vista neste torneio, a qual prendeu-se com a cor da camisola usada pela seleción. Pela primeira vez a seleção chilena vestiu a camisola vermelha - nos primeiros anos de vida aquele combinado nacional vestiu-se de branco -, indumentária que persiste até aos dias de hoje, como se sabe.

O nascimento da relação amor/ódio entre argentinos e brasileiros

A principal bancada do Valparaíso Sporting Club,
estádio onde decorreram os seis jogos
da Copa de 1920
A 25 de setembro Argentina e Brasil disputaram o jogo do tudo ou nada. Ambas as seleções precisavam de uma dupla vitória para garantir o título, ou seja, precisavam não só de vencer este jogo como esperar que o anfitrião Chile derrotasse uma semana mais tarde o Uruguai. Os brasileiros, mais uma vez, voltaram a demonstrar que não estavam à altura da seleção que em 1919 havia guiado o país à sua primeira grande conquista internacional, como comprovou o resultado de 2-0 favorável aos argentinos. O Brasil saia sem honra nem glória da Copa do Chile. Quanto aos argentinos, um milagre era aquilo por que suspiravam para o último jogo da competição, que iria decorrer no dia 3 de outubro, e no qual estariam frente a frente chilenos e uruguaios. Antes de passarmos aos factos deste encontro decisivo para as contas finais do torneio importa sublinhar que foi no seguimento do Brasil-Argentina do Campeonato Sul-Americano de 1920 que nasceu a acérrima rivalidade entre os dois países, no que a futebol diz respeito. Até então as duas nações viviam uma relação cordial, a qual mudou como da água para o vinho precisamente depois de um artigo escrito pelo jornalista uruguaio Antonio Palacio Zino ser publicado no jornal argentino "Crítica", onde além de tecer severas... críticas aos jogadores brasileiros ainda os apelidou de macacos. O texto foi o embrião para o nascimento da relação de amor e ódio entre os dois povos, sendo que o aspeto mais curioso nesta bipolaridade sentimental é o facto dela ter sido criada por um uruguaio!

O árbitro do jogo decisivo,
o chileno Carlos Fanta
Voltemos à ação, ao campo de batalha, ao derradeiro dia da prova para nos centramos no confronto entre Chile e Uruguai. Apesar de técnica e taticamente superiores, os uruguaios não tiveram tarefa fácil diante de uma aguerrida seleção do Chile que contou com o apoio frenético de 16 000 espetadores ao longo dos 90 minutos. Uruguai que antes da partida torceu o nariz à nomeação do árbitro do jogo, Carlos Fanta, do... Chile! Contudo, a atuação do juiz chileno, considerado um dos melhores daqueles anos, foi impecável, facto que fez esquecer a todos os presentes que o seu coração batia pela sua pátria. A muralha chilena apenas seria derrubada já muito próximo do intervalo, altura em que El Loco Romano inaugurou o marcador para a celeste. No segundo tempo a multidão presente num estádio que nos dias hoje acolhe corridas de cavalo (!) entrou em delírio, por culpa de Aurelio Dominguez, que aos 60 minutos igualou a contenda. Sol de pouca dura, já que cinco minutos volvidos José Pérez voltou a colocar o Uruguai em vantagem, a qual não mais seria perdida até final, e que mais do que garantir a segunda vitória dos charrúas no torneio assegurou a conquista do terceiro Campeonato Sul-Americano em quatro edições realizadas! A melhor equipa da América do Sul era de novo a rainha do continente.

A figura: José Piendibene

El maestro Piendibene, com
as cores do seu Peñarol
Ángel El Loco Romano e José Pérez sagraram-se os melhores marcadores deste 4º Campeonato Sul-Americano, mas a estrela que mais brilhou ao longo do torneio foi a de José Piendibene. El maestro, como era conhecido, pela forma como pautava o jogo da sua equipa, era um avançado alto, portador de uma qualidade técnica apurada, a qual encantou os adeptos sul-americanos ao longo das décadas em que defendeu com brio as camisolas do Uruguai e do seu amado Peñarol de Montevidéu. José Antonio Piendibene nasceu na capital uruguaia, a 10 de junho de 1890, sendo que com apenas 17 anos vestiu pela primeira vez o manto sagrado da primeira equipa do Peñarol num jogo ante o French, em 1908, e onde no qual o jovem oriundo do bairro de Pocitos maravilhou o público com a marcação de dois golos e uma exibição deslumbrante. A partir dai não mais largou a titularidade no emblema de Montevidéu, tendo chegado à seleção em 1911. A estreia pela celeste deu-se diante do inimigo do outro lado do rio da Prata, a Argentina, tendo a alcunha de maestro nascido precisamente no rescaldo desse encontro, já que de acordo com a história, no final do duelo, o defesa argentino Alumni terá proferido o seguinte elogio ao jovem José Piendibene: «Usted es un maestro, muchacho...». E a alcunha ficou para o resto da sua vida. Ao serviço do Peñarol atuou em mais de meia centena de ocasiões - 506, para sermos mais precisos - tendo apontado 253 golos, registo que faz dele uma lenda eterna do clube aurinegro. Venceu seis campeonatos uruguaios (1911, 1918, 1921, 1924, 1926, e 1928), e em 1916 entrou para a história do Campeonato Sul-Americano de Futebol após ter marcado o primeiro golo da história daquela que hoje em dia é conhecida como Copa América. Fê-lo diante do Chile, a 2 de julho desse longínquo ano de 1916.

Este primeiro Campeonato Sul-Americano seria conquistado, como nunca é demais recordar, pelo Uruguai, tendo este sido o primeiro dos dois títulos continentais - esteve ausente na caminhada triunfal do Uruguai na segunda edição do certame - que Piendibene conquistou ao serviço da seleção celeste, a qual defendeu por 56 ocasiões, tendo apontado 26 golos. Outro recorde que ainda hoje predura prende-se com o facto de Piendibene ser o jogador que mais golos marcou no clássico do rio da Prata, o qual opõe a Argentina ao Uruguai, tendo o jogador do bairro de Pocitos apontado 17 tentos. O reinado do poderoso avançado no seio da seleção terminou nas vésperas de o Uruguai conquistar o Mundo, o mesmo é dizer, os Jogos Olímpicos de 1924. Piendibene só não fez parte dessa célebre equipa onde pontificavam nomes como José Nasazzi, Pedro Cea, Ángel Romano, Pedro Petrone, Héctor Scarone, ou a maravilha negra José Leandro Andrade porque o seu clube estava de candeias às avessas com a Associação Uruguaia de Futebol, e como tal proibiu os seus futebolistas de envergarem o manto celeste nas Olimpíadas de Paris. Nesse mesmo ano de 1924 foi atribuído a José Piendibene o título de sócio honorário do Peñarol. Antes de ser um exímio futebolista ele era um perfeito cavalheiro nas canchas em que passeou a sua classe, já que reza a lenda que sempre que marcava um golo nunca o festejava, em sinal de respeito para com o seu adversário. Faleceu em 1969, na sua cidade natal, Montevidéu.

Nomes e números:

11 de setembro de 1920

A desoladora seleção do Brasil que marcou presença no Chile, em 1920
Brasil - Chile: 1-0
(Alvariza, aos 53m)

12 de setembro de 1920

Uruguai - Argentina: 1-1
(Piendibene, aos 10m)
(Echeverría, aos 75m)

18 de setembro de 1920

Uruguai - Brasil: 6-0
(Ángel Romano, aos 23m, aos 60m, José Pérez, aos 29m, aos 65m, Antonio Urdinarán, aos 26m, Antonio Campolo, aos 48m)

20 de setembro de 1920
A equipa da casa, que pela primeira vez vestiu de vermelho
Argentina - Chile: 1-1
(Dellavale, aos 13m)
(Bolados, aos 30m)

25 de setembro de 1920

Argentina - Brasil: 2-0
(Echeverría, aos 40m, Libonatti, aos 73m)

3 de outubro

Chile - Uruguai: 1-2
(Aurelio Dominguez, aos 60m)
(Ángel Romano, aos 37m, José Pérez, aos 65m)

Classificação

1- Uruguai: 5 pontos
2- Argentina: 4 pontos
3- Brasil: 2 pontos
4- Chile: 1 ponto
A celeste uruguaia, que em terras chilenas alcançou o seu terceiro título de campeão das américas

sexta-feira, abril 12, 2013

Copa América (1)... Argentina 1916

O prometido é devido, e tal como foi anunciado recentemente inauguramos hoje uma nova vitrina no Museu Virtual do Futebol. Um espaço onde a garra, a paixão, e a arte - futebolística, claro está - são condimentos que irão saltar inevitavelmente à vista de todos aqueles que o visitarão, condimentos esses bem vincados em cada edição desta que é hoje em dia a segunda competição disputada por seleções nacionais mais antiga do Mundo - a primeira dá pelo nome de torneio olímpico de futebol - em atividade. Iniciamos hoje então uma fascinante - sem margem para dúvidas - viagem pela Copa América, a quase centenária prova disputada árdua e apaixonadamente pelos guerreiros do continente americano, que viu oficialmente a luz do dia em 1916, embora a primeira tentativa de erguer um torneio continental tenha ocorrido seis antes, na Argentina. Por essa altura o futebol começava a despertar intensas paixões no já de si apaixonado povo sul-americano, e já era bem viva a chama da rivalidade que deflagrava entre alguns países nas canchas entretanto desenhadas, com destaque para os duelos entre os eternos inimigos separados pelo Rio de la Plata, Uruguai e Argentina. E seria precisamente este último país que em 1910 decide apimentar um pouco mais as rivalidades que iam crescendo um pouco por toda a zona sul do continente em torno do belo jogo ao criar uma competição continental, a qual seria batizada de Copa Centenario de la Revolución de Mayo, e que para além da seleção da casa contou ainda com o Chile e o Uruguai, os outros dois selecionados convidados. A este primeiro torneio organizado juntaram-se ainda as equipas locais do Alumni, Liga de Rosario, e Belgrano FC, as quais disputaram entre si uma série de jogos exibicionais, que serviam de aperitivo ao torneio principal, digamos assim. 

Na cancha a vitória da Copa Centenario de la Revolución de Mayo foi alcançada pela Argentina, que assim se proclamava campeã das Américas. Os argentinos venceram os dois encontros disputados, o primeiro ante o Chile, por expressivos 5-1 - com golos de Juan Hayes (2), José Viale, Eduardo Weiss, e Maximiliano Susán - e o segundo perante os inimigos do outro lado do Rio de la Plata, o Uruguai, que saiu do Estádio Gimnasia y Esgrima de Buenos Aires, o palco onde foi desenrolado o evento - vergado a uma humilhante derrota por 1-4 - tendo os tentos argentinos sido apontados por Hayes, Susán, Viale, e Arnold Hutton. Porém, anos mais tarde, a Confederação Sul-Americana de Futebol não validou, digamos assim, este primeiro torneio como a edição estreia da Copa América, por razões que na verdade são pouco claras! O que se reconhece sim na Copa Centenario de la Revolución de Mayo é que ela galvanizou os países sul-americanos a darem aso à sua rivalidade dentro das canchas no seio de competições deste género, tal havia sido o sucesso do torneio idealizado pelos argentinos. Sucesso foi pois a principal palavra extraída desta Copa, a julgar não só pelo desmedido entusiasmo que a competição provocou nos fervorosos adeptos mas também pelo interesse dos dirigentes desportivos da época, que viam neste tipo de campeonatos internacionais o veículo ideal para levar o jovem futebol do continente a patamares mais elevados! 
E seria a pensar desta forma que seis anos mais tarde os argentinos - mais uma vez - orquestraram um novo capítulo dos acontecimentos ocorridos entre maio e junho de 1910. Aproveitando as comemorações do centenário da sua independência a Argentina leva então a cabo entre 2 e 17 de julho desse longínquo ano de 1916 o Campeonato Sul-Americano de Futebol, este sim, o tiro de partida oficial da atual Copa América. 


Entre os convidados voltavam a estar o Uruguai e o Chile, aos quais se juntava outra potência que começava a emergir no continente, o Brasil. Quarteto de luxo que se reuniu em Buenos Aires para dar vida a uma competição disputada em forma de poule, ou seja, em que todos jogavam contra todos, sendo o campeão a seleção que mais pontos contabilizasse. Mas até ao pontapé de saída algumas peripécias ficariam para a história desta primeira edição oficial do certame. A mais saliente foi protagonizada pela seleção brasileira, que esteve muito perto de... não participar no torneio. 
Nascida apenas dois anos antes a seleção teve algumas dificuldades no embarque para Buenos Aires, já que a planeada viagem marítima a bordo do navio Júpiter foi cancelada em cima da hora pelo jurista Ruy Barbosa que recusou que malandros - expressão por si usada (!) - viajassem no mesmo barco com diversos magistrados que iriam na mesma altura para a capital argentina. O Ministro das Relações Exteriores, Lauro Muller, tentou mediar este braço de ferro, mas em vão, pois a equipa brasileira teve mesmo de fazer a viagem para Buenos Aires de comboio, uma travessia que demorou quatro dias e cinco noites! Apesar do cansaço - evidente - provocado pela longa viagem o Brasil apresentou um futebol atrativo sob o ponto de vista técnico, caracterísitca que seria aprimorada com o passar dos anos e que faria deste país o rei do futebol planetário.
Apesar de muito jovem o futebol brasileiro daquela altura já tinha os seus ícones, as suas primeiras lendas, sendo a maior delas todas Arthur Friedenreich. Mas não só El Tigre - alcunha que imortalizou Friedenreich - atraía até si as luzes da ribalta deste primeiro Campeonato Sul-Americano. O Uruguai atravessava o Rio de la Plata com algumas das suas primeiras lendas, casos de José Piendibene, Juan Delgado, ou Isabelino Gradín - asto já aqui recordado noutros caminhos da história por nós trilhados -, assumindo-se como o maior rival da Argentina na luta pelo ceptro continental.

E eis que a 2 de julho a festa começou. No Estádio Gimnasia y Esgrima de Buenos Aires - que acolheu a esmagadora maioria de jogos do torneio - entraram em campo Chile e Uruguai, com três mil espetadores a lotarem por completo o recinto. Sob a arbitragem do argentino Hugo Gronda os uruguaios mostraram na cancha toda a sua arte, o seu futebol rendilhado, fascinante, e... letal. Que o digam os chilenos, que cairam aos pés dos charrúas por 4-0! Para a história dessa partida ficaram dois homens. José Piendibene é um deles, médio-ofensivo alto, robusto, e criativo que aos 44 minutos desse célebre encontro fez balançar as redes pela primeira vez, entrando para a história como o autor do primeiro golo da - hoje - quase centenária Copa América. Descendente de italianos Piendibene saiu deste torneio endeusado pelos que o viram atuar, tendo ganho mesmo a alcunha de El Maestro, pela forma como comandava o jogo da sua equipa desde o centro do terreno, onde ditava leis como um centro campista de fino recorte técnico-tático. Mas a sua estrela não era a única a brilhar naquele cintilante coletivo. No setor ofensivo um negro, desecendente de escravos africanos, encantava a multidão com a magia do seu futebol. Isabelino Gradín se chamava. Nessa lendária tarde de 2 de julho ele apontou dois dos quatro tentos uruguaios - Piendibene apontou os outros dois - assombrando, no bom sentido, todos os presentes com o seu futebol, assente numa mescla de magia, velocidade, e força.

Vitória contra o racismo 

Episódio negativo - lamentável, na verdade - deste jogo inaugural do Campeonato Sul-Americano seria a posterior postura dos chilenos perante os factos ocorridos. Jogadores e dirigentes do Chile protestaram o encontro, queixando-se à organizção que os uruguaios haviam jogado com... dois negros na sua equipa! Esses negros, ou melhor, essas lendas, eram o centro-campista Juan Delgado e - claro - o atacante Isabelino Gradín. Apelidados de "atletas do carnaval" eles foram ridicularizados pelos chilenos numa época em que o racismo imperava um pouco por todo o Mundo. Felizmente, para o sucesso deste torneio inaugural, este ato racista chileno seria inglório, já que tanto Gradín como Delgado seriam reconhecidos pela organização como uruguaios de berço - e na verdade eram-no - tendo o triunfo da seleção charrúa sido validado para descontentamento dos preconceituosos chilenos. Mais do que uma rotunda vitória obtida dentro de campo o Uruguai - e de um modo muito em particular Gradín e Delgado - vencia o racismo!
E se este seria o argumento do Chile para tentar apagar a má imagem deixada no encontro de abertura do certame a Seleción Roja não teve sequer palavras para quatro dias depois justificar a tareia que levou da equipa da casa. 6-1, vitória da Argentina, com particularidade para a ocorrência de três bis - dois golos - da autoria de Alberto Ohaco, Juan Brown, e Alberto Marcovecchio, num encontro arbitrado pelo inglês Sidney Pullen, que era nada mais nada menos do que uma das principais estrelas da seleção do Brasil!  
Canarinhos que depois de muitas aventuras e desventuras subiram à cancha do Gimnasia y Esgrima de Buenos Aires no dia 8 de julho para defrontar o pobre Chile, que com duas derrotas - bem pesadas na verdade - nada mais jogava do que o seu bom nome nesta sua derradeira aparição na competição. Talvez por isso, e já sem nada a ganhar, os chilenos entraram descontraídos em campo, dificultando ao máximo a vida dos artistas oriundos de Terras de Vera Cruz. Estes, comandados por uma comissão técnica composta por Joaquim de Souza Ribeiro, Benedicto Montenegro e Mário Sérgio Cardim, tinham a particularidade de ter no seu grupo dois... estrangeiros! A seleção do Brasil com dois estrangeiros? Impensável nos dias de hoje, mas realidade naquele tempo. Um deles era - como já vimos - o médio inglês Sidney Pullen, um dos grandes nomes do Flamengo dos anos 10 e 20, o outro era o guarda-redes português Casemiro do Amaral - já aqui evocado no Museu Virtual do Futebol noutras viagens ao passado - e habitual suplente do lendário goleiro Marcos Carneiro de Mendonça.

E foi com Pullen no onze - e Casemiro do Amaral na bancada - que o escrete fez então a sua estreia na prova. No entanto, e apesar de apresentar melhor futebol que os chilenos os canarinhos - que neste torneio apresentaram um equipamento peculiar: camisola listada de verde e amarelo, e calções brancos (!) - não foram além de um empate a um golo. Para a história do futebol brasileiro entra então o nome de Demósthenes, o avançado da Associação Atlética de Palmeiras, que aos 29 minutos desse duelo aponta aquele que foi o primeiro golo do Brasil na fase final de uma competição internacional oficial. A cinco minutos do final Hernando Salazar estraga a festa brasileira ao fazer o injusto 1-1 final. O Chile ia assim para casa com um pontinho no bolso, ao passo que os brasileiros tinham ainda pela frente os tubarões Argentina e Uruguai.

Fundação da CONMEBOL

Com apenas três jogos realizados o Campeonato Sul-Americano de Futebol fazia-se rodear de êxito a todos os níveis. Talvez olhando para isso o dirigente uruguaio Héctor Rivadavia Gómez propôs às confederações dos quatro países participantes a criação de um organismo que tutelasse todo o futebol da América do Sul, organismo esse que veria a luz do dia a 9 de julho desse ano - bem no decorrer da competição, portanto, e que seria batizado de Confederação Sul Americana de Futebol, a popular CONMEBOL. No dia seguinte à fundação deste organismo o Brasil teve pela frente o aguerrido conjunto da casa, que aos 10 minutos de jogo já traduzia em golos o seu teórico favoritismo no duelo, cabendo ao avançado do Huracán José Laguna encarnar o papel de herói ao violar as redes do português Casemiro do Amaral, que nesse jogou relegou para a bancada o titular Marcos. No entanto, os brasileiros não se deixaram influenciar pelo ambiente hostil que imanava das lotadas - de argentinos, pois claro - bancadas do Estádio Gimnasia y Esgrima de Buenos Aires, e ainda antes do intervalo Alencar repôs a igualdade com que se atingiu os 90 minutos. O Brasil tinha superado o difícil teste argentino, e naquele momento ninguém no seio da seleção não sonhava com a coroa de campeão continental. Mas... ainda faltava o Uruguai.

No dia 12 de julho o Brasil entrou na cancha determinado a continuar a evidenciar o seu bom futebol até ali patenteado, e mais do que isso vencer os temíveis uruguaios e assim poder lutar pelo título. E as coisas até nem começaram mal para os artistas brasileiros. Aos oito minutos a estrela Friedenreich inaugura o marcador. Porém, a felicidade canarinha teria vida curta, já que pouco depois o defesa Orlando fica lesionado na sequência de um choque com El Maestro Piendibene. Ora, os regulamentos do torneio diziam que as substituições não eram permitidas, a não ser que os capitães de ambas as equipas concordassem em autorizá-las! E aqui entra a polémica. Jorge Germán Pacheco, capitão uruguaio, não aceitou a substituição, e a celeste uruguaia atuou o resto do encontro com mais um elemento sobre o retângulo de jogo, de nada valendo os protestos brasileiros. Mesmo com um elemento a menos o Brasil lutou, mas na segunda parte veio ao de cima toda a mestria uruguaia, em especial do mágico Isabelino Gradín, que aos 58 minutos restableceu o empate, apontando assim o seu terceiro golo na competição, e que lhe valeria o título de melhor marcador. A reviravolta dos charrúas seria consumada aos 77 minutos por intermédio de José Tognola, que batia o desamparado Casemiro do Amaral e acabava com o sonho brasileiro. 

Duelo mais desejado no jogo do título


Quiseram os caprichos do sorteio que o último jogo do Campeonato Sul-Americano de 1916 colocasse frente a frente os dois velhos inimigos do Rio de la Plata, e indiscutivelmente as duas melhores equipas do continente. No dia 16 de julho o Estádio  Gimnasia y Esgrima de Buenos Aires engalanou-se para receber o decisivo encontro para o qual os uruguaios partiam em vantagem, pois um empate bastaria para garantirem o título, enquanto que os argentinos estavam obrigados a ganhar para poderem lançar os foguetes. O fervor dos adeptos de ambos os conjuntos era bem evidente, e com apenas cinco minutos decorridos a final - como era encarada - teve de ser interrompida devido a acesos confrontos nas bancadas para lá de lotadas, chegando mesmo a surgir uma ameaça de incêndio! Para o dia seguinte seria marcado um novo encontro, desta feita no Estádio do Racing Club, em Avelleneda,  que viu um empate a zero golos oferecer o primeiro título de campeão das Américas ao Uruguai.
Nascia assim a lenda das camisolas celestes, que no futuro próximo haveria de ter outros contornos de glória protagonizados por nomes como Scarone, Nasazzi, ou José Leandro Andrade. Mas por agora os imortais eram Piendibene, Juan Delgado, Jorge Germán Pacheco, Tognola, e claro Isabelino Gradín, o negrito mágico, melhor marcador deste torneio com três remates certeiros, e que além do futebol era também estrela no atletismo! 

Números e nomes:

2 de julho de 1916


Uruguai - Chile: 4-0
(Piendibene, aos 44m, aos 75m, Gradín, aos 55m, aos 70m)

6 de julho de 1916

Argentina - Chile: 6-1
(Ohaco, aos 2m, aos 75m, Brown, aos 60m, aos 62m, Marcovecchio, aos 67m, aos 89m)
(Báez, aos 44m)

8 de julho de 1916

Chile - Brasil: 1-1
(Salazar, aos 85m)
(Demósthenes, aos 29m)

10 de julho de 1916


Argentina - Brasil: 1-1
(Laguna, aos 10m)
(Alencar, aos 23m)

12 de julho de 1916

Uruguai - Brasil: 2-1
(Gradín, aos 58m, Tognola, aos 77m)
(Friedenreich, aos 8m)

17 de julho de 1916

Argentina - Uruguai: 0-0

Classificação

1-Uruguai: 5 pontos
2-Argentina: 4 pontos
3-Brasil: 2 pontos
4-Chile: 1 ponto

Legenda das fotografias.
1-Cartaz oficial da primeira Copa América, na altura denominada de Campeonato Sul-Americano de Futebol
2-Jogo entre Argentina e Uruguai, na Copa Centenario de la Revolución de Mayo de 1910

3-A seleção do Brasil que atuou ante o Chile, no Campeonato Sul-Americano de 1916. 
4-A bancada central do Estádio Gimnasia y Esgrima de Buenos Aires
5-A estrela do torneio: Isabelino Gradín
6-Lance do jogo entre Brasil e Argentina (1)
7-Lance do jogo entre Brasil e Argentina (2)
8-Demósthenes, autor do primeiro golo de Brasil numa competição internacional
9-Uruguaios entram em campo no jogo final
10-José Piendibene, autor do primeiro golo do torneio
11-Seleção da Argentina
12-Os primeiros campeões da América, o Uruguai