sexta-feira, agosto 03, 2018

Histórias do Futebol em Portugal (22)... A excentricidade de António Medeiros que colocou o Estoril Praia na História

O histórico 11 estorilista que no dia 12 de setembro de 1976 subiu
ao relvado do Estádio do Restelo com nomes nas costas das camisolas
pela primeira vez em Portugal
Numa não muito distante viagem ao passado (https://bit.ly/2O81DsR) recordámos a primeira vez que em Portugal uma equipa usou numeração (de 1 a 11) nas costas das camisolas. Facto ocorrido a 15 de setembro de 1946, quando o recém fundado Clube Oriental de Lisboa subiu ao mítico relvado das Salésias para defrontar o Belenenses naquele que era o primeiro jogo da vida do (hoje) histórico – e popular – clube de Marvila. 30 anos volvidos desta (histórica) curiosidade, um outro clube da região da Grande Lisboa também inscreveu o seu nome no “livro das curiosidades” do futebol português, ao introduzir os nomes dos jogadores nas costas das camisolas. Uma “moda”, que diga-se em nota de rodapé, foi passageira, e que apenas viria a cimentar-se no nosso país em finais dos anos 90 do século passado. Esse clube pioneiro foi o Estoril Praia, popular emblema da Linha, que na temporada de 1976/77 convivia entre os grandes de Desporto Rei luso, o mesmo é dizer, competia então na 1.ª Divisão Nacional.

Nomes nas costas das camisolas que na altura se podia afigurar como uma “americanice”, já que todos os clubes da velha NASL (North American Soccer League) se apresentavam nos campos de batalha sintéticos norte-americanos com estes pormenores nas suas indumentárias. Além dos nomes inscritos nas costas, era igualmente comum os jogadores do então mediático campeonato dos States – uma espécie de liga galática de jogadores em idade de pré-reforma… dourada – apresentarem os seus respetivos dorsais na parte superior direita da frente da camisola. Também o Estoril Praia, além dos nomes nas costas da camisola, introduziu nessa temporada a numeração na frente do seu manto sagrado.

O plantel do Estoril Praia na temporada de 1976/77, onde pontificava o magriço José Torres
Essa novidade para o futebol português aconteceu no dia 12 de setembro de 1976, data em que se jogava a 2.ª jornada do Campeonato Nacional da 1.ª Divisão da citada temporada. E aqui, uma coincidência salta à vista, pois tal como aconteceu no dia em que o Oriental estreou os dorsais nas costas das camisolas em Portugal, o Belenenses foi igualmente o adversário que nesse 12 de setembro de 1976 apadrinhou a indumentária estorilista. Um dos jogadores que fazia parte desse plantel do Estoril Praia era Quim, também conhecido como o Cruyff de Marvila, alcunha que conquistou nos seus tempos de glória ao serviço do Oriental (de 1.ª Divisão), não só pelos seus apreciados dotes técnicos com a bola nos pés, mas sobretudo pela semelhança física que tinha com o astro holandês. Nesse encontro, disputado no Restelo, Quim foi suplente utilizado por António Medeiros, o treinador estorilista de então, e que segundo o Cruyff de Marvila terá sido o responsável por tal modernice no futebol português.

Numa visita ao Museu Virtual do Futebol, Quim recorda esta moda pioneira na altura, a qual foi uma invenção do próprio António Medeiros. «Na altura, havia em Portugal um treinador inovador chamado Joaquim Meirim e o António Medeiros não gostava de lhe ficar atrás em matéria de inovações. Daí, ele ter a alcunha de Medeirim (risos)», conta o antigo craque, que lembra ainda que pelo facto de os nomes não serem impressos na camisola – como hoje em dia acontece – mas antes colados com uma espécie de material aderente à malha da camisola, levava ao entretenimento dos adversários, os quais para chatear os estorilistas passavam o jogo todo a arrancar a aplicação com os nomes das camisolas. Manuel Fernandes era outro craque dessa equipa canarinha, jogador este que apresenta uma outra explicação para esta efeméride, referindo que foi o atleta Rui Paulino que trouxe a moda do Canadá depois de ali ter atuado durante três meses. Aqui chegado, apresentou a ideia ao grupo, que de pronto a aceitou com a aprovação do inovador treinador estorilista de então. Esta excentricidade - para a época - durou até ao final dessa temporada, segundo nos disse Quim, visto que a modernice não resultou muito bem.

Bom, mas quanto ao jogo em que foram estreados os nomes nas costas das camisolas no nosso país este terminou empatado a um golo, tendo Óscar marcado para o Estoril Praia aos 57 minutos e José Rocha restabelecido a igualdade para os azuis do Restelo ao minuto 80. Nesse dia, o Estoril fez alinhar: Ferro, Vieirinha, Amilcar, Fernando Santos (esse mesmo, o atual selecionador nacional), Carlos Pereira, Eurico Caires, Óscar, Nélson Reis, Manuel Fernandes, Cepeda, Clésio. Na segunda parte entraram Quim e Fernando Martins. Nomes que entram pois na História do futebol português pela via da tal excentricidade de Medeirim, perdão, de António Medeiros.