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quarta-feira, fevereiro 05, 2025

Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo (26)... Nuno Ferrari


Hoje é dia de lembrar Nuno Ferrari, o poeta da imagem. Falar desta figura nascida a 6 de março de 1935 é simplesmente falar do maior repórter fotográfico do desporto (muito em particular do futebol) português. E assim o é, não apenas pelo seu dom na arte de fotografar, mas de igual modo, e sobretudo, porque foi ele o grande operário da revolução – no bom sentido da palavra – no jornalismo desportivo nacional no que à imagem diz respeito. Nuno José da Fonseca Ferreira, o seu nome de batismo, e que adotou o nome de Ferrari devido a um dos pioneiros da fotografia desportiva em Portugal; apesar de não usar caneta nem a máquina de escrever criou centenas, se não mesmo milhares, de obras de arte jornalísticas na história da imprensa desportiva portuguesa. E tudo através da fotografia, imagens que só de olhar para elas erámos capazes de conhecer uma história sem precisar de ler o título ou a crónica que a acompanhava. Aliás, muitas das suas fotografias inspiraram grandes vultos da escrita desportiva a escrever as suas prosas, tendo ele mesmo, Nuno Ferrari, rivalizado, no sentido positivo, com esses monstros sagrados da escrita desportiva em termos de preponderância. Nuno Ferrari era um artista, um criativo, um fotojornalista que não se limitava a tirar simples bonecos (vulgo, fotografias) de um jogo de futebol, ou de outro qualquer evento desportivo. Ele captava o sentimento da pessoa que fotografava, a título de exemplo, sendo que este seu talento mudaria até aos dias de hoje a forma como vemos o futebol, e o desporto em geral, quando este é impresso num qualquer jornal desportivo. Combinava talento e qualidade com o saber esperar pelo momento certo para tirar a fotografia. Olhar para as fotografias de Nuno Ferrari era (e é) como se estivéssemos a viver o momento in loco. Existe um “antes” e um “depois” de Nuno Ferrari no jornalismo desportivo português. Antes da sua chegada ao jornal A Bola, a 7 de março de 1953, as primeiras páginas dos jornais desportivos praticamente só tinham texto, e mesmo o interior era composto apenas pelas prosas jornalísticas, sem o colorido (mesmo que a preto e branco) da imagem. Com a chegada de Ferrari ao jornal da Travessa da Queimada, isso mudou, e a suas fotos começaram a acompanhar não só as crónicas publicadas no interior do jornal, como também as manchetes da primeira página. A Bola, o jornal que Nuno Ferrari dedicou toda a sua vida profissional, pode considerar-se como uma publicação pioneira no que toca à espécie de nova linguagem jornalística criada, onde a imagem passou a fazer parte da história que era contada. Aliás, e como já fizemos alusão, as fotografias deste vulto do jornalismo desportivo só por si contavam muitas vezes as histórias que A Bola publicou. Carlos Pinhão, um dos muitos nomes míticos deste jornal, quando um dia foi desafio a definir Nuno Ferrari numa só palavra de pronto o rotulou como «insubstituível». Também Vítor Serpa, outro ícone de A Bola, disse certa vez que «se costuma dizer que não há ninguém insubstituível. Bom… talvez com exceção do Nuno Ferrari». Ao longo dos seus 43 anos de carreira, o célebre fotojornalista esteve presente em dezenas de momentos importantes do desporto nacional, com destaque, se calhar, para o Campeonato do Mundo de 1966, onde captou a lendária imagem de Eusébio a deixar o relvado de Wembley em lágrimas, após Portugal ter sido eliminado pela Inglaterra. Nuno Ferrari morreu em serviço, no Estádio da Luz, quando fazia a cobertura de um jogo do Benfica.

terça-feira, março 05, 2024

Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo (25)... Neves de Sousa

Fez de tudo um pouco no jornalismo, desde que deu os primeiros passos profissionais na revista Flama, em 1949. Mas foi na imprensa desportiva que se notabilizou enquanto grande contador de histórias. José Neves de Sousa, a sua graça. Nasceu em 1931 e pertenceu à vanguarda do jornalismo desportivo nacional, sendo da sua autoria diversas páginas de antologia desta profissão. Enquanto jornalista percorreu mais de 60 países em todo o Mundo, eternizando através de belos textos a história do desporto português, sobretudo a história do nosso futebol. Um dos seus grandes amores foi o Diário de Lisboa, diário vespertino onde entrou em 1968 e só de lá saiu aquando da morte deste histórico órgão de comunicação social, em 1990. Como grande referência que era, os grandes jornais desportivos portugueses não deixaram escapar esta ilustre figura do jornalismo, e também A Bola, o Record, e a Gazeta dos Desportos guardam muitos das suas prosas. Foi de igual modo cronista e comentador desportivo em programas de rádio, entre elas a Renascença, a Antena 1 e a ComercialNeves de Sousa era um jornalista conhecido pela energia com que diariamente abraçava a profissão, daqueles jornalistas que faziam a diferença – para melhor – nas redações por onde passou, tendo sido o mestre de outros vultos do jornalismo desportivo português. Inclusive, dois dos seus 10 filhos beberam da sua mestria, sendo hoje, também eles, jornalistas de profissão – Pedro Neves de Sousa e Margarida Neves de Sousa. José Neves de Sousa deixou-nos demasiado cedo, a 7 de julho de 1995, com apenas 64 anos. O seu nome e o seu legado jamais serão apagados da memória de quem o leu e de quem com ele privou. Legado esse que de tão importante que foi fez com que em 2003 a Câmara Municipal de Oeiras – o concelho onde Neves de Sousa residia – atribui-se o seu nome a uma rua daquela vila.


quarta-feira, maio 10, 2023

Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo (24)... Lança Moreira

Lança Moreira é um dos grandes exemplos de que um valoroso atleta também poderá vir a ser um virtuoso jornalista desportivo. Ou no seu caso desempenhou as duas "funções" em simultâneo com vincada distinção. No jornalismo ele foi uma figura destacada numa era em que a profissão foi agraciada com figuras de vulto, tendo ainda com tenra idade - por volta de 1933, e com apenas 10 anos de idade! - iniciado as lides jornalísticas na condição de colaborador da revista Stadium, com artigos sobre ténis de mesa, uma das muitas modalidades que enquanto atleta praticou. 

Na Stadium começou como colaborador, passando depois a redator, chefe de redação, até diretor - embora nesta função num curto período de tempo, mais concretamente na altura em que a publicação passou das mãos dos irmãos Bertrand para outros proprietários - acompanhando para a famosa revista especializada em desporto inúmeros acontecimentos desportivos do país dos anos 30 e 40, com destaque para a popular Volta a Portugal em bicicleta. Isto numa altura em que a rádio começava a ter amplo destaque na cobertura de eventos desportivos, não sendo de estranhar que Lança Moreira se deixasse enfeitiçar pelo "bichinho da rádio". Foi então que passou a integrar os quadros do Rádio Clube Português, onde durante muitos anos deu vida ao programa "Previsões Desportivas". Passou depois para a Emissora Nacional, ficando também aqui célebres os seus relatos quer de futebol, quer de hóquei em patins. 

Reza a lenda que a popularidade desta última modalidade no nosso país muito se ficou a dever aos famosos relatos que Lança Moreira fazia numa altura em que a televisão ainda era uma miragem no quotidiano português. Não foi apenas na rádio que ele se tornou num produtor conceituado, já que quando a "caixinha mágica", vulgo televisão, surgiu no nosso país, ele de pronto foi convidado para produzir inúmeros programas, na esmagadora maioria ligados ao desporto, isto numa altura em que já tinha fundado a sua própria produtora, denominada Produções Lança Moreira, direcionadas para o desporto. 

Na televisão ele foi mesmo o primeiro comentador da história do fenómeno desportivo em Portugal.  Apesar de se ter distinguido, sobretudo, na rádio, Lança Moreira haveria de estar ligado a outros projetos de vulto da imprensa nacional desportiva, como foram os casos de A Bola, do Record, e do Mundo Desportivo, jornais onde destilou o seu talento e sabedoria em modalidades como o futebol e o ciclismo. Tentou ainda, mas sem sorte, implementar no cenário literário desportivo português o jornal Golo, do qual foi o fundador. Enquanto desportista foi praticante de remo, atletismo, basquetebol, natação, luta, rugby, e do já falado ténis de mesa. Morreu ainda novo, com apenas 47 anos, corria o ano de 1970.

segunda-feira, janeiro 16, 2023

Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo (23)... Alfredo Barbosa

O norte de Portugal sempre foi rico na área do jornalismo desportivo. Se olharmos este facto sob o prisma de uma linha do tempo o início dar-se-á, talvez, com Alves Teixeira, figura de vulto que começou a trilhar o seu brilhante percurso profissional nos anos 20 do século passado, sendo a sua escrita um verdadeiro manual para as gerações vindouras de jornalistas nortenhos. Um dos seus mais ilustres seguidores, digamos assim, foi Alfredo Barbosa. Em comum, ambos têm o facto de serem prodígios na arte da escrita, com ênfase para a escrita desportiva, claro, com textos sublimes, redigidos com sabedoria e conhecimento profundos, que marcaram (diferentes) eras no jornalismo desportivo não só do norte como do próprio país.

Em comum têm ainda o aspeto de terem sido timoneiros de um dos títulos mais populares da imprensa desportiva nortenha, O Norte Desportivo, jornal fundado e dirigido por Alves Teixeira onde Alfredo Barbosa (nascido no Porto em 1950) iniciou a sua carreira com apenas 18 anos no final da década de 60. Passou depois para outro título icónico da imprensa portuguesa, A Bola, jornal do qual foi redator (no Porto) ao longo de mais de 15 anos. A sua mestria ao serviço do jornal da Travessa da Queimada valeram-lhe convites para colaborar em diversas publicações desportivas por essa Europa fora, tendo ainda exibido os seus dotes de profundo conhecedor do desporto - com o futebol à cabeça - na condição de comentador de inúmeras rádios, nomeadamente Antena 1, Rádio Renascença, Rádio Comercial, e TSF), mas também na televisão, ao serviço da RTP. A experiência acumulada na profissão acrescida da referida sabedoria fez com que fosse sendo convidado para dirigir diversas publicações de índole desportiva, desde logo o seu O Norte Desportivo, que brilhantemente dirigiu na década de 90, tendo sido mestre de muitos jornalistas desportivos da atualidade. Também O Jogo bebeu da sua sabedoria enquanto diretor, sendo que paralelamente a estes cargos publicou vários livros ligados ao futebol e que hoje são verdadeiras pérolas da literatura desportiva nacional. Um deles - brilhante sob o ponto de vista de quem escreve estas linhas - foi a biografia de José Maria Pedroto, intitulado "Pedroto - o Mestre". Esta obra é o resultado de uma convivência - profissional e pessoal - profunda que Alfredo Barbosa manteve anos a fio com o lendário Pedroto. Outra obra digna de realce escrita pela pena de Alfredo Barbosa foi a "História Oficial do FC Porto", um conjunto de volumes editado pelo extinto jornal O Comércio do Porto - com quem o jornalista também colaborou - que se constituem nos registos mais atuais e aprofundados sobre o clube portuense.

Alfredo Barbosa é desde 2010 consultor de comunicação da Universidade Fernando Pessoa (Porto).

sexta-feira, novembro 11, 2022

Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo (22)... Carlos Pinhão

É um dos vultos da história do jornalismo desportivo português, tendo sido mestre e inspiração de muitos dos nossos atuais escribas desportivos. Carlos Pinhão, é o seu nome. Carismática personalidade que ao longo de mais de 40 anos deixou a sua prosa cravada no jornal A Bola, cuja camisola defendeu com brio e talento, sendo hoje um dos nomes mais sonantes dos mais de 75 anos do jornal da Travessa da Queimada. Carlos Pinhão nasceu a 4 de maio de 1924, em Lisboa (na freguesia do Beato), cidade que pela qual sempre foi um eterno apaixonado, como ficou vincado em muitos dos seus trabalhos. E paixão foi também a causa pela qual trocou um curso de Direito na Universidade de Lisboa pelo caminho da escrita, do jornalismo e da literatura, tendo iniciado a sua brilhante carreira jornalística em 1947 no jornal Sports, seguindo depois para o Mundo Desportivo, jornal este onde exerceu o cargo chefe de redação. Passou ainda pelo Diário Popular, e pelo Século Ilustrado, antes de em 1955 assentar arraiais em A Bola, onde ao longo de mais de quatro décadas desempenhou na maior parte do tempo funções de redator, sendo que no reinado de Vítor Santos - na condição de diretor do jornal - foi sub-chefe da redação. O talento, profissionalismo e mestria de Carlos Pinhão não passou despercebido aos grandes títulos da imprensa desportiva internacional, tendo ao longo da sua carreira colaborado com a Marca (de Espanha), France Soir ( de França) e o Les Sports (da Bélgica). Em Portugal colaborou ainda com o Público e o Jornal do Fundão. Ele foi um dos grandes cronistas do nosso jornalismo desportivo, sendo considerado como um dos introdutores deste estilo de escrita na imprensa portuguesa. Uma das crónicas mais antigas do jornalismo luso e que durante décadas foi publicada em A Bola era da sua autoria, crónica essa muito apreciada pelos leitores de todo o país - e não só -, e que se intitulava de "Hoje Jogo Eu".

Os seus textos eram carregados de um humor refinado acrescido de vasto conhecimento desportivo. Paralelamente ao jornalismo desportivo outra das paixões de Carlos Pinhão era a escrita literária, tendo sido autor de inúmeros livros, notabilizando-se, sobretudo, na literatura infantil. Recebeu várias distinções pelo seu trabalho, entre outros, o Prémio Júlio César Machado (pelas suas crónicas no jornal Público sobre Lisboa); a Medalha de Ouro do Concelho de Oeiras; a Medalha de Mérito Desportivo do Ministério da Educação; e o Grau de Comendador da Ordem do Mérito. Faleceu a 15 de janeiro de 1993. É pai da também jornalista Leonor Pinhão.

quinta-feira, junho 16, 2022

Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo (21)... David Sequerra

Tempos houve em que os bons mestres da pena transportavam os seus conhecimentos técnico táticos do Belo Jogo para a prática e tornaram-se igualmente em notáveis mestres da tática. Trocado isto em miúdos, para dizer que o nosso país teve outrora grandes jornalistas desportivos que foram em simultâneo notáveis treinadores. O caso mais saliente terá sido talvez o de Cândido de Oliveira, cuja carreira – nas mais variantes facetas do mestre – já aqui foi esmiuçada em diversas ocasiões. Mas outros seguiram-lhe, por assim dizer, as pisadas e deixaram o seu nome na história do nosso futebol. E é sobre um desses mestres de duas facetas que vamos hoje traçar umas breves linhas.

Falamos de David Sequerra. Nasceu em Lisboa a 21 de junho 1933 e formou-se em engenharia, ciências históricas e ciências pedagógicas. Paralelamente às funções de agente técnico de engenharia, o bichinho pela escrita desportiva cedo o levou para um campo bem distinto da sua formação académica, sendo que com 18 anos inicia a sua brilhante carreira de jornalista no Mundo Desportivo, jornal onde desenvolveu a esmagadora maioria dos anos de ligação ao jornalismo e onde no qual se tornou numa lenda. Ali, foi subdiretor de pessoal e redator principal. Cedo mostrou de igual modo uma inclinação para o futebol de formação, estando constantemente atento às promessas emergentes do Desporto Rei, e dando-lhes o devido destaque na imprensa.

Conhecendo pois como ninguém os meandros do futebol jovem em Portugal e com apenas 28 anos o seu nome ficaria imortalizado na nossa história, tendo em conta que foi ele o selecionador nacional que conduziu a nossa nação ao seu primeiro título internacional: o de campeão europeu de juniores. Estávamos em 1961, e o Campeonato da Europa da categoria teve lugar em solo luso. Com José Maria Pedroto na condição de treinador de campo e David Sequerra enquanto selecionador, Portugal esmagou a Polónia no Estádio da Luz a 8 de abril desse ano, e sagrou-se campeão europeu.

O dirigismo foi igualmente outra das suas grandes paixões, e cinco anos depois deste êxito como selecionador esteve na génese do CNID – Associação dos Jornalistas de Desporto. Foi um dos fundadores e associado número 3 desta entidade. Foi também membro fundador da Academia Olímpica de Portugal (AOP), tendo integrado o Comité Olímpico de Portugal a partir de 1976, tendo sido secretário-geral do organismo entre 1980 e 1989. Foi nesta condição que esteve presente nos Jogos Olímpicos de Los Angeles (1984) e de Seul (1988), sendo que na condição de jornalista já havia estado nas Olimpíadas de Roma, em 1960.  Do seu currículo como jornalista destaca-se ainda o cargo de Diretor, durante alguns anos, de O Sesimbrense, jornal de Sesimbra, bela localidade costeira situada próximo de Setúbal onde fixou residência.

Em 2012 recebe a medalha de Mérito Desportivo, atribuída pelo Governo Português. Foi também agraciado, a título de exemplo, pela organização do mundialmente prestigiado Torneio de Toulon – competição destinada ao futebol de formação -, tendo além de muitos textos escritos sobre este torneio, David Sequerra estado como selecionador na primeira edição da competição, em 1967. Sobre a vocação de David Sequerra para este campo do futebol de formação, o CNID refere que biografia que traça deste homem que «o seu trabalho jornalístico, no período em que este foi mais permanente, reflete com evidência, um trabalho insano de análise e de promoção dos jovens futebolistas que despontavam, ao tempo das suas atentas observações. Muitos desses atletas ficaram-lhe a dever apoio, conselhos e soluções para os seus futuros profissionais. Nos vários jornais nacionais, desportivos e/ou generalistas, noutras publicações também estrangeiras, ou na Imprensa Regional, onde David Sequerra publicou um acervo valioso de textos, manteve este tema como assunto recorrente».

No sentido de perpetuar a figura deste homem, a AOP criou já no novo milénio um concurso de jornalismo, sobre a temática olímpica, destinado a jornalistas da Imprensa Regional, cujo prémio se denomina… David Sequerra. 

Esta ilustre figura faleceu do dia 14 de janeiro 2016.

sexta-feira, março 11, 2022

Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo (20)... Alberto Freitas

Ele imprimiu o seu cunho muito próprio em nobre publicações como "Os Sports", o "Mundo Desportivo", ou "O Eco dos Sports", hoje desaparecidas mas que ajudaram a projetar e a dinamizar o desporto português na primeira metade do século XX. Apelidaram-no de culto, estudioso, brilhante na redação de crónicas e artigos desportivos, e possuidor de um estilo muito próprio, caracterizações que fizeram dele um dos grandes jornalistas desportivos da primeira metade do século passado. Sem mais demoras vamos hoje evocar Alberto Freitas (1903-1966), distinto jornalista que iniciou a sua brilhante carreira em 1923, no "Sport de Lisboa", publicação então dirigida por Raul de Oliveira. Última figura esta que nesse ano endereça a Alberto Freitas um convite para escrever na citada publicação, onde na qual ao longo de cerca de um ano o nosso mestre da pena escreveu crónicas sobre o desporto no estrangeiro e sobre o nosso futebol. Escrevia de acordo com a sua consciência, sem querer agradar a "este ou aquele", uma postura que o levaria em outubro de 1924 a ingressar num dos grandes títulos da imprensa desportiva nacional daquele tempo, "Os Sports", dirigido então por Campos Júnior. Ali, privou de perto com outro grande vulto da imprensa nacional, Cândido de Oliveira.  O seu primeiro artigo nesta publicação intitulou-se "Os ensinamentos da época de atletismo". Paralelamente colaborou com o "Mundo Desportivo", outro jornal de grande prestígio, bem como em duas revistas portuguesas, nomeadamente "O Ás" e a "Éco dos Sports", ambos dirigidos por Artur Inês. Como bom olheiro que sempre foi em matéria de craques, Cândido de Oliveira não tardou a convidar o seu colega de redação para escrever numa publicação criada por si - antes de A Bola -, intitulada "Gazeta Desportiva", onde Alberto Freitas também se notabilizou ao escrever sobre ténis.

O homem das letras que hoje recordamos exerceu ainda cargos de chefia em "Sports Ilustrados" e do jornal do Sport Lisboa e Benfica. Foi ainda correspondente de inúmeros jornais internacionais, casos de "A Gazeta de S. Paulo" , "Vida Desportiva", de Barcelona, "Mundo Desportivo", também da cidade condal, e o "Football", de Paris. Era acima de tudo um conhecedor profundo sobre o desporto de um modo geral, sendo a prova disso o facto de ao longo da sua carreira ter abordado as mais diversas modalidades, pese embora se sentisse mais à vontade a escrever sobre atletismo, futebol, pugilismo e râguebi. Numa das raras entrevistas que deu, neste caso em 1950 à revista "Stadium", contou que esteve quase para ir ao primeiro Campeonato do Mundo de futebol, realizado em 1930, em Montevidéu, mas na véspera da partida para a capital do Uruguai terá comunicado a sua indisponibilidade para viajar, porque em Lisboa se realizava uma prova de estafetas 4X4, sendo que uma das equipas que nela entrava era a do Belenenses, clube que ele treinava nessa modalidade, acabando assim Alberto Freitas de perder uma das páginas mais importantes da história do futebol planetário. Atletismo que era a sua modalidade de eleição, tendo além de praticante, na sua mocidade, sido igualmente fundador e dirigente da Associação de Atletismo de Lisboa. 

Nesta entrevista à "Stadium", Alberto Freitas contava ainda que por aqueles dias era tão só o jornalista que mais serviços fazia no estrangeiro, relembrando que o primeiro havia sido um desafio de futebol entre as seleções de Lisboa e de Madrid, precisamente em 1930. Nessa entrevista contava ainda que teve convites para trabalhar fora de Portugal, mais concretamente no Brasil, em São Paulo, mas declinou por estar mais interessado no desporto português, escolhendo as suas reportagens nos Jogos Olímpicos de Londres, em 1498, como um dos trabalhos que mais prazer lhe deram. Em termos de Olimpíadas esteve ainda presente nos Jogos de Helsínquia (1952) e de Tóquio (1964), sendo que no regresso da capital nipónica seria homenageado pelo Comité Olímpico de Portugal precisamente pelas suas reportagens - eternizadas nas páginas do "Diário de Notícias", jornal para o qual escreveu como enviado especial aos Jogos Olímpicos - feitas em contexto olímpico. 

Alberto Freitas era um jornalista preocupado com o estilo de escrita, assumindo, nessa mesma entrevista, que tinha um estilo próprio, algo que na sua opinião era indispensável ao jornalista. Retiramos desta sua entrevista uma visão curiosa do jornalista sobre a arte de escrever no desporto: «O jornalismo desportivo é o mais difícil de todos, porque requer verdadeira especialização, mas não deve ser embebido apenas de conceitos técnicos e táticos. Por exemplo, uma crónica de futebol para interessar o leitor e definir o jornalista, precisa de ser aligeirada pelo estilo, por um pouco de "romance", por um comentário sorridente. É necessário que o leitor viva o acontecimento sem se fatigar, ficando com disposição para ler os outros artigos do jornal».

Não se considerava um jornalista amigo das polémicas, um estilo que nas suas palavras não o seduzia. Dizia que não se contentava com o que sabia, procurava informar-se sempre mais, comprando livros sempre que viajava para o estrangeiro a fim de se instruir mais e estar ao lado dos melhores. E ele foi um dos melhores, sem margem para dúvida.

quinta-feira, janeiro 06, 2022

Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo (19)... Rebelo Carvalheira

Ele foi um dos bons jornalistas desportivos do seu tempo, convivendo com outros nomes consagrados que ajudaram a fazer de A Bola um nome de referência na imprensa desportiva nacional e internacional. Porém, a sua história é ainda hoje alvo de enigmas, muito devido ao seu trágico e misterioso desaparecimento do mundo terrestre. Descobrimos a sua história ao acaso, deambulando pelos caminhos virtuais da blogosfera, e achamos pertinente trazê-la para as nossas vitrinas, não só porque efetivamente se trata de um nome que merece ser evocado nos meandros do (bom) jornalismo, mas de igual modo porque a sua história é digna de dar vida a um guião de um qualquer filme que envolve um misterioso assassinato. Falamos de Manuel de Jesus Rebelo Carvalheira, ou simplesmente Rebelo Carvalheira, o seu nome profissional, que deu os primeiros passos da sua carreira jornalística em Angola. 

Nascido em Nine (Famalicão), o Recas, como também era conhecido pelos seus camaradas das andanças jornalísticas, viveu em Angola, tendo sido funcionário do Banco Comercial de Angola. Foi neste país onde terá sido "atacado" pelo bichinho do jornalismo, tendo trabalhado nos jornais ABC e Província de Angola, para além de ser correspondente de A Bola num país que na época era ainda um colónia portuguesa. Foi depois do 25 de Abril de 1974 que regressa a Portugal, a convite de Vítor Santos, para fazer parte de A Bola. Convite aceite e Rebelo Carvalheira tornou-se nos anos que se seguiram num dos grandes profissionais do famoso jornal da Travessa da Queimada. E é aqui que fazemos referência aos dois blogs/sites onde conhecemos com mais aprumo a história de Rebelo Carvalheira. No blog "ecosferaportuguesa", da autoria do não menos consagrado jornalista Gonçalo Pereira Rosa, escreve-se que Rebelo Carvalheira «era um jornalista tarimbado, daqueles que não falhavam serviços, que cumpriam sempre as missões. No Sporting, João Rocha respeitava-o e, normalmente, guardava para ele e para A Bola alguma informação exclusiva».

E foi precisamente o seu estilo de jornalista responsável que começou por levantar o mistério do desaparecimento do popular Recas. Tudo começou na madrugada de 3 de junho de 1984, quando o jornalista se despediu dos seus colegas da Travessa da Queimada. O também jornalista Carlos Alberto Alves, colega de Rebelo Carvalheira em A Bola, conta no seu site, www.portalsplishsplash.com, que nesse dia o achou «muito esquisito no jornal, pouco falava, ao invés do que era habitual». Carvalheira folgava no dia seguinte, estando destacado para no domingo, 5 de junho, fazer a cobertura de um Boavista - Salgueiros. Jogo este ao qual nunca chegou a comparecer, facto que deixou preocupado e ao mesmo tempo admirado o também jornalista Simões Lopes, que nesse dia estava no Estádio do Bessa a título particular (estava de folga) e notou a estranha ausência do colega Rebelo Carvalheira. 

Simões Lopes terá alertado Vítor Santos, em Lisboa, para este facto, levando a que o chefe de redação de A Bola informasse a polícia, horas mais tarde, para o estranho desaparecimento do jornalista, que não dava notícias desde a madrugada de 3 de junho. Gonçalo Pereira Rosa conta no seu blog que a polícia terá então arrombado na manhã de 6 de junho a porta do apartamento de Carvalheira, situado na Rua Carlos Mardel, tendo encontrado o jornalista morto! Fora agredido com uma garrafa de vidro no crânio, sendo que o resto do corpo mostrava sinais de agressões. «A perícia posterior apurou que o homicídio ocorrera provavelmente na própria sexta-feira. Os salpicos de sangue indiciavam uma luta feroz pela sobrevivência», conta ainda Gonçalo Pereira Rosa. Em quase 40 anos nunca se desvendou o mistério deste assassinato, especulando-se "aqui e ali" as razões do mesmo, como por exemplo, o facto de Rebelo Carvalheira saber muito acerca sobre um grupo organizado de tráfico de diamantes, segundo relata no seu site Carlos Alberto Alves. Mas tudo não passaram de boatos, e o que é certo é que Rebelo Carvalheira perdeu a vida aos 47 anos.

terça-feira, maio 18, 2021

Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo (18)... Vítor Santos

Contam-se pelos dedos de uma só mão os jornalistas desportivos que graças ao seu talento e profissionalismo contribuíram para que os órgãos de comunicação social cuja camisola envergaram se tornassem referências tanto a nível nacional como internacional. Um desses exemplos é Vítor Santos, um dos maiores jornalistas de sempre da imprensa desportiva nacional e um ícone do seu jornal de sempre, A Bola.

Nascido a 31 de maio de 1923, na freguesia de Triana (Alenquer), Vítor Gonçalves dos Santos fez todo o seu percurso profissional no jornal da Travessa da Queimada, para onde entrou em 1950 como colaborador.

Embora não tivesse feito parte dos fundadores de A Bola, ele foi um dos grande impulsionadores para o prestígio do jornal. Reza a história que a entrada para este jornal se deu a 1 de novembro de 1950 e que o seu primeiro trabalho terá sido a crónica de um Benfica - Oriental. Quatro anos depois passa a redator, facto que faz com que abandone o 3.º ano da licenciatura no Instituto Superior de Agronomia.

Cândido de Oliveira, figura maior de A Bola naqueles dias, cedo percebe as qualidades de Vítor Santos, convidando-o a assumir o cargo de chefe de redação. Sob a batuta do jornalista de Alenquer o jornal vive alguns dos seus melhores anos de vida, tornando-se uma referência na imprensa desportiva nacional e internacional.

Vítor Santos fundou ainda juntamente com outros vultos do jornalismo desportivo português, como Alves dos Santos, Artur Agostinho, Mário Zambujal, Fernando Soromenho, Manuel Mota, Vítor Sérgio, Mário Cília, Vasco Resende, Carlos Pinhão, e, Aurélio Márcio, em 1966, o CNID – Clube Nacional de Imprensa Desportiva, que institui um prémio com o seu nome para distinguir uma jovem promessa da imprensa escrita desportiva. A mestria e profissionalismo de Vítor Santos valeram-lhe inúmeras distinções ao longo de uma carreira desenrolada somente ao serviço da sua amada A Bola. Entre os muitos prémios que recebeu destacam-se o facto de em 1886 ter sido distinguido pelo Presidente da República com a Medalha de Mérito Desportivo e em 1990 com a Comenda da Ordem do Infante. Foi ainda distinguido pela FIFA com a Bola de Ouro, troféu cultural que distingue os principais nomes do jornalismo.

Viria a falecer a 21 de dezembro de 1990 e dele outro vulto do jornalismo desportivo português, Alfredo Farinha, disse um belo dia: "Vítor Santos está para A Bola como São Pedro está para a Igreja Católica". Palavras para quê?

O nome de Vítor Santos faz parte da toponímia de: Lisboa (Freguesia de Carnide, ex- Rua B da Urbanização da Horta Nova); Sintra (Freguesia de Algueirão-Mem Martins).

Seria ainda homenageado pela sua terra natal, que a 30 de junho de 1995 descerrava a placa do Complexo Municipal de Piscinas Vítor Santos. 

quinta-feira, março 11, 2021

Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo (17)... Alfredo Farinha

Ele é titular indiscutível do dream team dos jornalistas desportivos portugueses. Faz parte da restrita galeria de nomes notáveis que marcaram uma era na nobre arte da escrita jornalística desportiva. Alfredo Farinha é o seu nome.

Os mais novos talvez se recordem dele como um dos comentadores residentes do extinto programa "Donos da Bola", emitido pela SIC nos anos 90, mas o percurso de Alfredo Farinha nos caminhos da comunicação vai muito, mas muito além dessa presença televisiva.

Nasceu a 19 de julho de 1925, em Cimadas Cimeiras, no concelho de Proença a Nova, mas cedo adotou Lisboa como o seu lar. E cedo também começou a mostrar mestria na escrita, tendo sido aluno de mérito na Associação dos Salesianos da Amoreira. Com o conto "Vitória Amarga" venceu o concurso literário organizado por A Bola, mal sabia ele que o histórico jornal da Travessa da Queimada iria ser a sua casa durante 40 anos.

Antes de entrar na Bola - a convite de Vítor Santos - fez uma perninha durante três anos no Mundo Desportivo. Fez da criatividade na escrita aliada a um forte sentido crítico o seu cartão de visita no jornalismo, profissão que desenvolveu com mérito a par das funções de inspetor do trabalho, depois de ter sido precetor e professor de Português e Latim.

Frontal, nunca deixou de exprimir textual e verbalmente aquilo que pensava, tendo comprado muitas guerras com diversos dirigentes desportivos. E por falar em dirigismo desportivo, também ele teve uma notável ligação a esta área, tendo sido, por exemplo, dirigente do Estoril Praia, clube este onde no qual entre outros cargos exerceu o de presidente da Direção.

Teve um papel importante no Clube Nacional de Imprensa Desportiva (CNID), já que foi um dos seus membros fundadores. Assumidamente benfiquista, clube pelo qual se apaixonou graças às célebres pedaladas do não menos célebre ciclista José Maria Nicolau, escreveu ainda vários livros, entre eles a biografia do antigo presidente do Sporting, João Rocha, ou o livro sobre futebol intitulado de "O Apagão".

O Governo português atribuiu-lhe a Medalha de Mérito Desportivo e Mário Soares, na qualidade de Presidente da República o grau de Comendador.

Em outubro de 2008 recebeu o prémio Prestígio Fernando Soromenho, atribuído pelo CNID. A este propósito disse então: "Não sou um fã incondicional de Saramago, mas li recentemente uma frase sua genial: que um Nobel nada significa às portas da morte. Para mim, confesso, este prémio tem uma importância nobel, por ser do CNID, uma célula viva de apoio ao desporto, que nasceu de um grito de revolta contra a prepotência. Nesses idos anos 60, nós, jornalistas de desporto, éramos vistos apenas como colaboradores desportivos dos jornais, enquanto outros que se limitavam a copiar e a colar informações da Reuters é que eram jornalistas! Hoje as coisas e os reconhecimentos são, felizmente, muito diferentes. É por isso que recebo apaixonadamente este prémio mesmo que morra daqui a dois ou três minutos".  

Viria a falecer a 27 de março de 2009, aos 83 anos.

terça-feira, março 03, 2020

Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo (16)... Fernando Marques "O Formidável"


"Há imagens que valem mais do que mil palavras!". Um cliché para muitos, enquanto que para outros ajuda a caracterizar os génios da arte de fotografar, os prodígios da arte de captar e eternizar um momento numa simples imagem.
O desporto, e o futebol em particular, devem muito aos homens que de máquina fotográfica na mão eternizaram momentos que ajudaram a escrever a História. E sem imagens provavelmente essa História não seria tão nítida e bela como é. É pois de elementar justiça incluir nesta vitrina virtual dedicada aos jornalistas desportivos aqueles que os ajudaram (aos ilustres homens da pena) a complementar (através da imagem) as prosas jornalísticas que legaram ao Mundo. Falamos dos fotojornalistas, neste caso em concreto, nos criadores de "bonecos da bola". E Portugal ao longo da sua História teve grandes vultos do fotojornalismo desportivo. Caso de Fernando Marques, um fotojornalista... Formidável.

Pois, assim era popularmente conhecido este cidadão nascido em Coimbra a 20 de setembro de 1911 e cuja objetiva captou não só inúmeros momentos históricos do nosso futebol como também deixou à cidade que o viu nascer - e morrer, em 1996 - um manancial de fotografias que mostram esta bela localidade ao longo de mais de meio século.
Em Coimbra não só nasceu e morreu, mas também trabalhou, como vendedor de lotaria, profissão que desempenhou a par da atividade que o tornou célebre: a de um fotojornalista genial.

Em Coimbra residia uma das suas grandes paixões no que ao desporto dizia respeito, a Académica. As outras duas eram o Benfica e a seleção Nacional. À boleia destas duas últimas "instituições" percorreu o Mundo, sempre com a sua máquina fotográfica na mão para captar o momentos, ou os momentos que marcaram a História do Benfica e da seleção. Talvez ao "serviço" desta viveu o momento alto da sua longínqua carreira. Estávamos em 1966 e Portugal participava pela primeira vez num Campeonato do Mundo. O Formidável partiu nesta aventura juntamente com os Magriços, sozinho, como tantas vezes o fez ao longo de décadas por esse Mundo fora. Em Inglaterra captou e eternizou com a sua objetiva a saga de Eusébio e companhia, e quem não se lembra da mítica imagem do Pantera Negra a deixar o relvado do Wembley em lágrimas após a eliminação da Seleção de Todos Nós aos pés dos ingleses enquanto era confortado pelo admirável Formidável? Essa fotografia, célebre, foi tirada por outro ícone do fotojornalismo desportivo nacional, de seu nome Nuno Ferrari. Uma imagem que captou não só a tristeza profunda daquele que talvez era o jogador mais virtuoso daquela lendária seleção de 66, mas igualmente o ser humano excecional que era o Formidável.

Com a seleção esteve ainda noutros dois grandes momentos, o Euro 84 e o Mundial de 86. Os seus trabalhos estão perpetuados nas páginas de jornais como a "A Bola", "Record", "Diário de Notícias", "Jornal de Notícias" e "Diário de Coimbra", entre outros com os quais colaborou. Figura mítica de Coimbra ele é ainda hoje o único cidadão que não tendo sido nem jogador de futebol, nem treinador, nem dirigente desportivo, é sócio de mérito da Associação de Futebol de Coimbra. Formidável era a sua alcunha desde novo pelo facto de rotular qualquer coisa à qual se referia como "formidável", mas também pelo legado fotográfico que nos deixou e pela pessoa que era.
A ele, Manuel Alegre escreveu e dedicou este poema:

Foi visto em Wembley a consolar Eusébio.
Também a nós muitas vezes nos consolou
Viu-nos nascer viu-nos partir viu-nos voltar
Muitas vezes até nos viu morrer
Marcou connosco os nossos golos
Chorou connosco as nossas lágrimas
Meteu o coração dentro da máquina
Trabalha sem rolo.
Quem sabe o que retrata?
Há uma cidade que só ele vê
E é mais certo que só ele capta
O insondável.
Fotógrafo de Coimbra ele é
O Formidável.

terça-feira, maio 28, 2019

Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo (15)... Vítor Cândido


Poucos serão os jornalistas desportivos a quem se lhes perdoa – ou perdoou, no caso daqueles que já nos deixaram – o facto de não esconderem a sua fervorosa paixão por determinado clube que não aquele pelo qual o nosso coração bate. Por outras palavras, poucos serão os mestres da pena que ao longo da sua carreira recolheram aplausos e sobretudo são – ou foram – merecedores da admiração de adeptos de todos os clubes pelo profissionalismo exibido ao longo da sua carreira. Poucos serão ainda os que exibiram valores como honestidade, justiça, imparcialidade, rigor, e claro está, talento para a criação de verdadeiras prosas jornalísticas desportivas que serão lidas e relidas eternamente tal e qual as grandes obras de vultos da História literária de Portugal.
Em suma, nomes que serão eternos quando o tema de conversa for: “grandes jornalistas desportivos”, ou “verdadeiros jornalistas”. Uma “espécie” em vias de extinção na atualidade no que ao jornalismo desportivo diz respeito, há que dizê-lo.

Mas a nossa figura de hoje apesar de pertencer a uma geração passada de grandes vulto da comunicação social desportiva, continua no ativo, a brindar todos aqueles que gostam de bom jornalismo com as suas histórias e talento para fazer bailar as palavras.
Essa ilustre figura é Vítor Cândido, notável jornalista que sobressaiu sobretudo ao serviço de A Bola… e adepto confesso do Sporting Clube de Portugal.
Natural do Concelho de Arganil, Vítor Cândido foi não só um notável jornalista do jornal da Travessa da Queimada como também um dedicado colaborador e dirigente do clube de Alvalade.

Foi precisamente o seu amor pelo Sporting que o introduziu no mundo do jornalismo desportivo, quando ainda jovem acompanhava religiosamente algumas modalidades ditas amadoras na toca do leão, o mesmo será dizer, Alvalade.
Os combates de boxe travados pelos pugilistas do seu amado clube a que assistia, levaram elementos desta secção a convidar o então jovem Vítor Cândido a colaborar mais de perto com esta. Depois do boxe seguiram-se as lutas amadoras e o halterofilismo, secções que constatando in loco a dedicação e competência daquele jovem em prol do Sporting também o “requisitaram” para dar uma ajuda… nas “catacumbas” de Alvalade, como o próprio Vítor Cândido ainda hoje se refere, com carinho e saudade, aos locais (sombrios) onde estas modalidades então se desenvolviam/eram praticadas no reino do leão. Cenário bem diferente daquele que é oferecido hoje no moderno e confortável Pavilhão João Rocha, a casa das modalidades do Sporting. Outros tempos.

A sua dedicação, sempre a custo zero, ao Sporting valeu-lhe em meados dos anos 80 um convite da Direção presidida por Amado de Freitas para integrar os quadros diretivos leoninos. Mas muito antes deste convite um outro convite haveria de mudar a vida do jovem Vítor. Enquanto acompanhante atento das modalidades do clube foi convidado pelo Jornal Sporting (então o único órgão de oficial dos leões) para escrever uns textinhos sobre as competições em que muitas dessas secções do clube participavam. Era o pontapé de saída de uma brilhante carreira de jornalista.
Os seus atributos não demoraram a sair das fronteiras de Alvalade e eis que certo dia recebe um telefonema do chefe de redação da Rádio Comercial, Fernando Correia, que sabendo que Vítor Cândido acompanhava muitas competições dessas modalidades lhe acenou com um convite de colaborador da rádio – que consistia em transmitir à estação de rádio os resultados das várias competições, atendendo a que esta não tinha então colaboradores em muitas das chamadas modalidades amadoras.
Uma semana depois deste convite recebe outro telefonema. Era A Bola. Nomes históricos deste jornal, como Carlos Pinhão e Homero Serpa convidam o jovem Vítor Cândido – que na altura, em termos profissionais, era técnico de vendas – para colaborador.
Em inícios dos anos 80 fixa-se no jornal da Travessa da Queimada, em cujas páginas, nas décadas seguintes, cravou largas centenas – porque não dizer milhares – de peças jornalísticas que fizeram a delícia dos verdadeiros amantes do desporto, em particular do futebol. Fossem eles sportinguistas, benfiquistas, portistas, ou de qualquer outro emblema.
Aliada à sua mestria jornalística exibia com simplicidade à sua figura simpática e amigo do seu amigo, traços de uma personalidade que lhe valeram não só a admiração mas acima de tudo a amizade de centenas de figuras ligadas ao desporto, independentemente da camisola que defendiam ou amavam. Quantos jornalistas poderão gabar-se de terem cultivado amizade com “gentes” de inúmeros clubes? Só os grandes, sem dúvida.

Paralelamente à carreira de jornalista Vítor Cândido continuou ligado ao seu Sporting na condição de dirigente, ora coordenando algumas modalidades amadoras, ora como dirigente do futebol juvenil leonino. A sua dedicação extrema ao clube seria por diversas vezes reconhecida, como por exemplo em 1981, altura em que foi distinguido (na qualidade de dirigente do ano) com o Prémio Stromp, tão só o mais alto galardão do Sporting.
No jornalismo foi também por diversas vezes galardoado, destacando-se entre os muitos prémios o de “Jornalista do Ano”, atribuído pela Associação Nacional de Treinadores de Futebol, bem como o prestigiado Prémio Cândido de Oliveira.
Na atualidade, Vítor Cândido tem exibido os seus créditos de exímio contador de histórias na Sporting TV (televisão oficial do seu clube), dando vida a inúmeros programas onde o passado se cruza com o presente.