Hoje é dia de lembrar Nuno Ferrari, o poeta da imagem. Falar desta figura nascida a 6 de março de 1935 é simplesmente falar do maior repórter fotográfico do desporto (muito em particular do futebol) português. E assim o é, não apenas pelo seu dom na arte de fotografar, mas de igual modo, e sobretudo, porque foi ele o grande operário da revolução – no bom sentido da palavra – no jornalismo desportivo nacional no que à imagem diz respeito. Nuno José da Fonseca Ferreira, o seu nome de batismo, e que adotou o nome de Ferrari devido a um dos pioneiros da fotografia desportiva em Portugal; apesar de não usar caneta nem a máquina de escrever criou centenas, se não mesmo milhares, de obras de arte jornalísticas na história da imprensa desportiva portuguesa. E tudo através da fotografia, imagens que só de olhar para elas erámos capazes de conhecer uma história sem precisar de ler o título ou a crónica que a acompanhava. Aliás, muitas das suas fotografias inspiraram grandes vultos da escrita desportiva a escrever as suas prosas, tendo ele mesmo, Nuno Ferrari, rivalizado, no sentido positivo, com esses monstros sagrados da escrita desportiva em termos de preponderância. Nuno Ferrari era um artista, um criativo, um fotojornalista que não se limitava a tirar simples bonecos (vulgo, fotografias) de um jogo de futebol, ou de outro qualquer evento desportivo. Ele captava o sentimento da pessoa que fotografava, a título de exemplo, sendo que este seu talento mudaria até aos dias de hoje a forma como vemos o futebol, e o desporto em geral, quando este é impresso num qualquer jornal desportivo. Combinava talento e qualidade com o saber esperar pelo momento certo para tirar a fotografia. Olhar para as fotografias de Nuno Ferrari era (e é) como se estivéssemos a viver o momento in loco. Existe um “antes” e um “depois” de Nuno Ferrari no jornalismo desportivo português. Antes da sua chegada ao jornal A Bola, a 7 de março de 1953, as primeiras páginas dos jornais desportivos praticamente só tinham texto, e mesmo o interior era composto apenas pelas prosas jornalísticas, sem o colorido (mesmo que a preto e branco) da imagem. Com a chegada de Ferrari ao jornal da Travessa da Queimada, isso mudou, e a suas fotos começaram a acompanhar não só as crónicas publicadas no interior do jornal, como também as manchetes da primeira página. A Bola, o jornal que Nuno Ferrari dedicou toda a sua vida profissional, pode considerar-se como uma publicação pioneira no que toca à espécie de nova linguagem jornalística criada, onde a imagem passou a fazer parte da história que era contada. Aliás, e como já fizemos alusão, as fotografias deste vulto do jornalismo desportivo só por si contavam muitas vezes as histórias que A Bola publicou. Carlos Pinhão, um dos muitos nomes míticos deste jornal, quando um dia foi desafio a definir Nuno Ferrari numa só palavra de pronto o rotulou como «insubstituível». Também Vítor Serpa, outro ícone de A Bola, disse certa vez que «se costuma dizer que não há ninguém insubstituível. Bom… talvez com exceção do Nuno Ferrari». Ao longo dos seus 43 anos de carreira, o célebre fotojornalista esteve presente em dezenas de momentos importantes do desporto nacional, com destaque, se calhar, para o Campeonato do Mundo de 1966, onde captou a lendária imagem de Eusébio a deixar o relvado de Wembley em lágrimas, após Portugal ter sido eliminado pela Inglaterra. Nuno Ferrari morreu em serviço, no Estádio da Luz, quando fazia a cobertura de um jogo do Benfica.
quarta-feira, fevereiro 05, 2025
Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo (26)... Nuno Ferrari
Hoje é dia de lembrar Nuno Ferrari, o poeta da imagem. Falar desta figura nascida a 6 de março de 1935 é simplesmente falar do maior repórter fotográfico do desporto (muito em particular do futebol) português. E assim o é, não apenas pelo seu dom na arte de fotografar, mas de igual modo, e sobretudo, porque foi ele o grande operário da revolução – no bom sentido da palavra – no jornalismo desportivo nacional no que à imagem diz respeito. Nuno José da Fonseca Ferreira, o seu nome de batismo, e que adotou o nome de Ferrari devido a um dos pioneiros da fotografia desportiva em Portugal; apesar de não usar caneta nem a máquina de escrever criou centenas, se não mesmo milhares, de obras de arte jornalísticas na história da imprensa desportiva portuguesa. E tudo através da fotografia, imagens que só de olhar para elas erámos capazes de conhecer uma história sem precisar de ler o título ou a crónica que a acompanhava. Aliás, muitas das suas fotografias inspiraram grandes vultos da escrita desportiva a escrever as suas prosas, tendo ele mesmo, Nuno Ferrari, rivalizado, no sentido positivo, com esses monstros sagrados da escrita desportiva em termos de preponderância. Nuno Ferrari era um artista, um criativo, um fotojornalista que não se limitava a tirar simples bonecos (vulgo, fotografias) de um jogo de futebol, ou de outro qualquer evento desportivo. Ele captava o sentimento da pessoa que fotografava, a título de exemplo, sendo que este seu talento mudaria até aos dias de hoje a forma como vemos o futebol, e o desporto em geral, quando este é impresso num qualquer jornal desportivo. Combinava talento e qualidade com o saber esperar pelo momento certo para tirar a fotografia. Olhar para as fotografias de Nuno Ferrari era (e é) como se estivéssemos a viver o momento in loco. Existe um “antes” e um “depois” de Nuno Ferrari no jornalismo desportivo português. Antes da sua chegada ao jornal A Bola, a 7 de março de 1953, as primeiras páginas dos jornais desportivos praticamente só tinham texto, e mesmo o interior era composto apenas pelas prosas jornalísticas, sem o colorido (mesmo que a preto e branco) da imagem. Com a chegada de Ferrari ao jornal da Travessa da Queimada, isso mudou, e a suas fotos começaram a acompanhar não só as crónicas publicadas no interior do jornal, como também as manchetes da primeira página. A Bola, o jornal que Nuno Ferrari dedicou toda a sua vida profissional, pode considerar-se como uma publicação pioneira no que toca à espécie de nova linguagem jornalística criada, onde a imagem passou a fazer parte da história que era contada. Aliás, e como já fizemos alusão, as fotografias deste vulto do jornalismo desportivo só por si contavam muitas vezes as histórias que A Bola publicou. Carlos Pinhão, um dos muitos nomes míticos deste jornal, quando um dia foi desafio a definir Nuno Ferrari numa só palavra de pronto o rotulou como «insubstituível». Também Vítor Serpa, outro ícone de A Bola, disse certa vez que «se costuma dizer que não há ninguém insubstituível. Bom… talvez com exceção do Nuno Ferrari». Ao longo dos seus 43 anos de carreira, o célebre fotojornalista esteve presente em dezenas de momentos importantes do desporto nacional, com destaque, se calhar, para o Campeonato do Mundo de 1966, onde captou a lendária imagem de Eusébio a deixar o relvado de Wembley em lágrimas, após Portugal ter sido eliminado pela Inglaterra. Nuno Ferrari morreu em serviço, no Estádio da Luz, quando fazia a cobertura de um jogo do Benfica.
terça-feira, março 05, 2024
Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo (25)... Neves de Sousa
quarta-feira, maio 10, 2023
Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo (24)... Lança Moreira
Na Stadium começou como colaborador, passando depois a redator, chefe de redação, até diretor - embora nesta função num curto período de tempo, mais concretamente na altura em que a publicação passou das mãos dos irmãos Bertrand para outros proprietários - acompanhando para a famosa revista especializada em desporto inúmeros acontecimentos desportivos do país dos anos 30 e 40, com destaque para a popular Volta a Portugal em bicicleta. Isto numa altura em que a rádio começava a ter amplo destaque na cobertura de eventos desportivos, não sendo de estranhar que Lança Moreira se deixasse enfeitiçar pelo "bichinho da rádio". Foi então que passou a integrar os quadros do Rádio Clube Português, onde durante muitos anos deu vida ao programa "Previsões Desportivas". Passou depois para a Emissora Nacional, ficando também aqui célebres os seus relatos quer de futebol, quer de hóquei em patins.
Reza a lenda que a popularidade desta última modalidade no nosso país muito se ficou a dever aos famosos relatos que Lança Moreira fazia numa altura em que a televisão ainda era uma miragem no quotidiano português. Não foi apenas na rádio que ele se tornou num produtor conceituado, já que quando a "caixinha mágica", vulgo televisão, surgiu no nosso país, ele de pronto foi convidado para produzir inúmeros programas, na esmagadora maioria ligados ao desporto, isto numa altura em que já tinha fundado a sua própria produtora, denominada Produções Lança Moreira, direcionadas para o desporto.
Na televisão ele foi mesmo o primeiro comentador da história do fenómeno desportivo em Portugal. Apesar de se ter distinguido, sobretudo, na rádio, Lança Moreira haveria de estar ligado a outros projetos de vulto da imprensa nacional desportiva, como foram os casos de A Bola, do Record, e do Mundo Desportivo, jornais onde destilou o seu talento e sabedoria em modalidades como o futebol e o ciclismo. Tentou ainda, mas sem sorte, implementar no cenário literário desportivo português o jornal Golo, do qual foi o fundador. Enquanto desportista foi praticante de remo, atletismo, basquetebol, natação, luta, rugby, e do já falado ténis de mesa. Morreu ainda novo, com apenas 47 anos, corria o ano de 1970.
segunda-feira, janeiro 16, 2023
Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo (23)... Alfredo Barbosa
Em comum têm ainda o aspeto de terem sido timoneiros de um dos títulos mais populares da imprensa desportiva nortenha, O Norte Desportivo, jornal fundado e dirigido por Alves Teixeira onde Alfredo Barbosa (nascido no Porto em 1950) iniciou a sua carreira com apenas 18 anos no final da década de 60. Passou depois para outro título icónico da imprensa portuguesa, A Bola, jornal do qual foi redator (no Porto) ao longo de mais de 15 anos. A sua mestria ao serviço do jornal da Travessa da Queimada valeram-lhe convites para colaborar em diversas publicações desportivas por essa Europa fora, tendo ainda exibido os seus dotes de profundo conhecedor do desporto - com o futebol à cabeça - na condição de comentador de inúmeras rádios, nomeadamente Antena 1, Rádio Renascença, Rádio Comercial, e TSF), mas também na televisão, ao serviço da RTP. A experiência acumulada na profissão acrescida da referida sabedoria fez com que fosse sendo convidado para dirigir diversas publicações de índole desportiva, desde logo o seu O Norte Desportivo, que brilhantemente dirigiu na década de 90, tendo sido mestre de muitos jornalistas desportivos da atualidade. Também O Jogo bebeu da sua sabedoria enquanto diretor, sendo que paralelamente a estes cargos publicou vários livros ligados ao futebol e que hoje são verdadeiras pérolas da literatura desportiva nacional. Um deles - brilhante sob o ponto de vista de quem escreve estas linhas - foi a biografia de José Maria Pedroto, intitulado "Pedroto - o Mestre". Esta obra é o resultado de uma convivência - profissional e pessoal - profunda que Alfredo Barbosa manteve anos a fio com o lendário Pedroto. Outra obra digna de realce escrita pela pena de Alfredo Barbosa foi a "História Oficial do FC Porto", um conjunto de volumes editado pelo extinto jornal O Comércio do Porto - com quem o jornalista também colaborou - que se constituem nos registos mais atuais e aprofundados sobre o clube portuense.
Alfredo Barbosa é desde 2010 consultor de comunicação da Universidade Fernando Pessoa (Porto).
sexta-feira, novembro 11, 2022
Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo (22)... Carlos Pinhão
Os seus textos eram carregados de um humor refinado acrescido de vasto conhecimento desportivo. Paralelamente ao jornalismo desportivo outra das paixões de Carlos Pinhão era a escrita literária, tendo sido autor de inúmeros livros, notabilizando-se, sobretudo, na literatura infantil. Recebeu várias distinções pelo seu trabalho, entre outros, o Prémio Júlio César Machado (pelas suas crónicas no jornal Público sobre Lisboa); a Medalha de Ouro do Concelho de Oeiras; a Medalha de Mérito Desportivo do Ministério da Educação; e o Grau de Comendador da Ordem do Mérito. Faleceu a 15 de janeiro de 1993. É pai da também jornalista Leonor Pinhão.
quinta-feira, junho 16, 2022
Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo (21)... David Sequerra
O dirigismo foi igualmente outra das suas grandes paixões, e cinco anos depois deste êxito como selecionador esteve na génese do CNID – Associação dos Jornalistas de Desporto. Foi um dos fundadores e associado número 3 desta entidade. Foi também membro fundador da Academia Olímpica de Portugal (AOP), tendo integrado o Comité Olímpico de Portugal a partir de 1976, tendo sido secretário-geral do organismo entre 1980 e 1989. Foi nesta condição que esteve presente nos Jogos Olímpicos de Los Angeles (1984) e de Seul (1988), sendo que na condição de jornalista já havia estado nas Olimpíadas de Roma, em 1960. Do seu currículo como jornalista destaca-se ainda o cargo de Diretor, durante alguns anos, de O Sesimbrense, jornal de Sesimbra, bela localidade costeira situada próximo de Setúbal onde fixou residência.
sexta-feira, março 11, 2022
Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo (20)... Alberto Freitas
O
homem das letras que hoje recordamos exerceu ainda cargos de chefia em "Sports
Ilustrados" e do jornal do Sport Lisboa e Benfica. Foi ainda
correspondente de inúmeros jornais internacionais, casos de "A Gazeta de
S. Paulo" , "Vida Desportiva", de Barcelona, "Mundo
Desportivo", também da cidade condal, e o "Football", de Paris. Era
acima de tudo um conhecedor profundo sobre o desporto de um modo geral, sendo a
prova disso o facto de ao longo da sua carreira ter abordado as mais diversas
modalidades, pese embora se sentisse mais à vontade a escrever sobre atletismo,
futebol, pugilismo e râguebi. Numa das raras entrevistas que deu, neste caso em
1950 à revista "Stadium", contou que esteve quase para ir ao primeiro
Campeonato do Mundo de futebol, realizado em 1930, em Montevidéu, mas na
véspera da partida para a capital do Uruguai terá comunicado a sua indisponibilidade
para viajar, porque em Lisboa se realizava uma prova de estafetas 4X4, sendo que
uma das equipas que nela entrava era a do Belenenses, clube que ele treinava
nessa modalidade, acabando assim Alberto Freitas de perder uma das páginas mais
importantes da história do futebol planetário. Atletismo que era a sua modalidade de eleição, tendo além de praticante, na sua mocidade, sido igualmente fundador e dirigente da Associação de Atletismo de Lisboa.
Nesta
entrevista à "Stadium", Alberto Freitas contava ainda que por aqueles
dias era tão só o jornalista que mais serviços fazia no estrangeiro,
relembrando que o primeiro havia sido um desafio de futebol entre as seleções
de Lisboa e de Madrid, precisamente em 1930. Nessa entrevista contava ainda que
teve convites para trabalhar fora de Portugal, mais concretamente no Brasil, em
São Paulo, mas declinou por estar mais interessado no desporto português,
escolhendo as suas reportagens nos Jogos Olímpicos de Londres, em 1498, como um
dos trabalhos que mais prazer lhe deram. Em termos de Olimpíadas esteve ainda presente nos Jogos de Helsínquia (1952) e de Tóquio (1964), sendo que no regresso da capital nipónica seria homenageado pelo Comité Olímpico de Portugal precisamente pelas suas reportagens - eternizadas nas páginas do "Diário de Notícias", jornal para o qual escreveu como enviado especial aos Jogos Olímpicos - feitas em contexto olímpico.
Alberto Freitas era um jornalista preocupado com o estilo de escrita, assumindo, nessa mesma entrevista, que tinha um estilo próprio, algo que na sua opinião era indispensável ao jornalista. Retiramos desta sua entrevista uma visão curiosa do jornalista sobre a arte de escrever no desporto: «O jornalismo desportivo é o mais difícil de todos, porque requer verdadeira especialização, mas não deve ser embebido apenas de conceitos técnicos e táticos. Por exemplo, uma crónica de futebol para interessar o leitor e definir o jornalista, precisa de ser aligeirada pelo estilo, por um pouco de "romance", por um comentário sorridente. É necessário que o leitor viva o acontecimento sem se fatigar, ficando com disposição para ler os outros artigos do jornal».
Não
se considerava um jornalista amigo das polémicas, um estilo que nas suas
palavras não o seduzia. Dizia que não se contentava com o que sabia, procurava
informar-se sempre mais, comprando livros sempre que viajava para o estrangeiro
a fim de se instruir mais e estar ao lado dos melhores. E ele foi um dos
melhores, sem margem para dúvida.
quinta-feira, janeiro 06, 2022
Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo (19)... Rebelo Carvalheira
Nascido em Nine (Famalicão), o Recas, como também era conhecido pelos seus camaradas das andanças jornalísticas, viveu em Angola, tendo sido funcionário do Banco Comercial de Angola. Foi neste país onde terá sido "atacado" pelo bichinho do jornalismo, tendo trabalhado nos jornais ABC e Província de Angola, para além de ser correspondente de A Bola num país que na época era ainda um colónia portuguesa. Foi depois do 25 de Abril de 1974 que regressa a Portugal, a convite de Vítor Santos, para fazer parte de A Bola. Convite aceite e Rebelo Carvalheira tornou-se nos anos que se seguiram num dos grandes profissionais do famoso jornal da Travessa da Queimada. E é aqui que fazemos referência aos dois blogs/sites onde conhecemos com mais aprumo a história de Rebelo Carvalheira. No blog "ecosferaportuguesa", da autoria do não menos consagrado jornalista Gonçalo Pereira Rosa, escreve-se que Rebelo Carvalheira «era um jornalista tarimbado, daqueles que não falhavam serviços, que cumpriam sempre as missões. No Sporting, João Rocha respeitava-o e, normalmente, guardava para ele e para A Bola alguma informação exclusiva».
E foi precisamente o seu estilo de jornalista responsável que começou por levantar o mistério do desaparecimento do popular Recas. Tudo começou na madrugada de 3 de junho de 1984, quando o jornalista se despediu dos seus colegas da Travessa da Queimada. O também jornalista Carlos Alberto Alves, colega de Rebelo Carvalheira em A Bola, conta no seu site, www.portalsplishsplash.com, que nesse dia o achou «muito esquisito no jornal, pouco falava, ao invés do que era habitual». Carvalheira folgava no dia seguinte, estando destacado para no domingo, 5 de junho, fazer a cobertura de um Boavista - Salgueiros. Jogo este ao qual nunca chegou a comparecer, facto que deixou preocupado e ao mesmo tempo admirado o também jornalista Simões Lopes, que nesse dia estava no Estádio do Bessa a título particular (estava de folga) e notou a estranha ausência do colega Rebelo Carvalheira.
Simões Lopes terá alertado Vítor Santos, em
Lisboa, para este facto, levando a que o chefe de redação de A Bola informasse
a polícia, horas mais tarde, para o estranho desaparecimento do jornalista, que
não dava notícias desde a madrugada de 3 de junho. Gonçalo Pereira Rosa conta
no seu blog que a polícia terá então arrombado na manhã de 6 de junho a porta
do apartamento de Carvalheira, situado na Rua Carlos Mardel, tendo encontrado o
jornalista morto! Fora agredido com uma garrafa de vidro no crânio, sendo que o
resto do corpo mostrava sinais de agressões. «A perícia posterior apurou que o
homicídio ocorrera provavelmente na própria sexta-feira. Os salpicos de sangue
indiciavam uma luta feroz pela sobrevivência», conta ainda Gonçalo Pereira
Rosa. Em quase 40 anos nunca se desvendou o mistério deste assassinato,
especulando-se "aqui e ali" as razões do mesmo, como por exemplo, o
facto de Rebelo Carvalheira saber muito acerca sobre um grupo organizado de
tráfico de diamantes, segundo relata no seu site Carlos Alberto Alves. Mas tudo
não passaram de boatos, e o que é certo é que Rebelo Carvalheira perdeu a vida
aos 47 anos.
terça-feira, maio 18, 2021
Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo (18)... Vítor Santos
Nascido
a 31 de maio de 1923, na freguesia de Triana (Alenquer), Vítor Gonçalves dos
Santos fez todo o seu percurso profissional no jornal da Travessa da Queimada,
para onde entrou em 1950 como colaborador.
Embora
não tivesse feito parte dos fundadores de A Bola, ele foi um dos grande
impulsionadores para o prestígio do jornal. Reza a história que a entrada para
este jornal se deu a 1 de novembro de 1950 e que o seu primeiro trabalho terá
sido a crónica de um Benfica - Oriental. Quatro anos depois passa a redator,
facto que faz com que abandone o 3.º ano da licenciatura no Instituto Superior
de Agronomia.
Cândido
de Oliveira, figura maior de A Bola naqueles dias, cedo percebe as qualidades
de Vítor Santos, convidando-o a assumir o cargo de chefe de redação. Sob a
batuta do jornalista de Alenquer o jornal vive alguns dos seus melhores anos de
vida, tornando-se uma referência na imprensa desportiva nacional e internacional.
Vítor
Santos fundou ainda juntamente com outros vultos do jornalismo desportivo
português, como Alves dos Santos, Artur Agostinho, Mário Zambujal, Fernando
Soromenho, Manuel Mota, Vítor Sérgio, Mário Cília, Vasco Resende, Carlos Pinhão,
e, Aurélio Márcio, em 1966, o CNID – Clube Nacional de Imprensa Desportiva, que
institui um prémio com o seu nome para distinguir uma jovem promessa da
imprensa escrita desportiva. A mestria e profissionalismo de Vítor Santos
valeram-lhe inúmeras distinções ao longo de uma carreira desenrolada somente ao
serviço da sua amada A Bola. Entre os muitos prémios que recebeu destacam-se o
facto de em 1886 ter sido distinguido pelo Presidente da República com a
Medalha de Mérito Desportivo e em 1990 com a Comenda da Ordem do Infante. Foi
ainda distinguido pela FIFA com a Bola de Ouro, troféu cultural que distingue
os principais nomes do jornalismo.
Viria
a falecer a 21 de dezembro de 1990 e dele outro vulto do jornalismo desportivo
português, Alfredo Farinha, disse um belo dia: "Vítor Santos está para A
Bola como São Pedro está para a Igreja Católica". Palavras para quê?
O
nome de Vítor Santos faz parte da toponímia de: Lisboa (Freguesia de Carnide,
ex- Rua B da Urbanização da Horta Nova); Sintra (Freguesia de Algueirão-Mem
Martins).
Seria
ainda homenageado pela sua terra natal, que a 30 de junho de 1995 descerrava a
placa do Complexo Municipal de Piscinas Vítor Santos.
quinta-feira, março 11, 2021
Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo (17)... Alfredo Farinha
Ele é titular indiscutível do dream team dos jornalistas desportivos portugueses. Faz parte da restrita galeria de nomes notáveis que marcaram uma era na nobre arte da escrita jornalística desportiva. Alfredo Farinha é o seu nome.
Os
mais novos talvez se recordem dele como um dos comentadores residentes do extinto
programa "Donos da Bola", emitido pela SIC nos anos 90, mas o
percurso de Alfredo Farinha nos caminhos da comunicação vai muito, mas muito
além dessa presença televisiva.
Nasceu
a 19 de julho de 1925, em Cimadas Cimeiras, no concelho de Proença a Nova, mas
cedo adotou Lisboa como o seu lar. E cedo também começou a mostrar mestria na
escrita, tendo sido aluno de mérito na Associação dos Salesianos da Amoreira.
Com o conto "Vitória Amarga" venceu o concurso literário organizado
por A Bola, mal sabia ele que o
histórico jornal da Travessa da Queimada iria ser a sua casa durante 40 anos.
Antes
de entrar na Bola - a convite de Vítor Santos - fez uma perninha durante três
anos no Mundo Desportivo. Fez da criatividade na escrita aliada a um forte
sentido crítico o seu cartão de visita no jornalismo, profissão que desenvolveu
com mérito a par das funções de inspetor do trabalho, depois de ter sido
precetor e professor de Português e Latim.
Frontal,
nunca deixou de exprimir textual e verbalmente aquilo que pensava, tendo
comprado muitas guerras com diversos dirigentes desportivos. E por falar em
dirigismo desportivo, também ele teve uma notável ligação a esta área, tendo
sido, por exemplo, dirigente do Estoril Praia, clube este onde no qual entre
outros cargos exerceu o de presidente da Direção.
Teve
um papel importante no Clube Nacional de Imprensa Desportiva (CNID), já que foi
um dos seus membros fundadores. Assumidamente benfiquista, clube pelo qual se
apaixonou graças às célebres pedaladas do não menos célebre ciclista José Maria
Nicolau, escreveu ainda vários livros, entre eles a biografia do antigo presidente
do Sporting, João Rocha, ou o livro sobre futebol intitulado de "O Apagão".
O
Governo português atribuiu-lhe a Medalha de Mérito Desportivo e Mário Soares,
na qualidade de Presidente da República o grau de Comendador.
Em
outubro de 2008 recebeu o prémio Prestígio Fernando Soromenho, atribuído pelo
CNID. A este propósito disse então: "Não sou um fã incondicional de
Saramago, mas li recentemente uma frase sua genial: que um Nobel nada significa
às portas da morte. Para mim, confesso, este prémio tem uma importância nobel,
por ser do CNID, uma célula viva de apoio ao desporto, que nasceu de um grito
de revolta contra a prepotência. Nesses idos anos 60, nós, jornalistas de
desporto, éramos vistos apenas como colaboradores desportivos dos jornais,
enquanto outros que se limitavam a copiar e a colar informações da Reuters é
que eram jornalistas! Hoje as coisas e os reconhecimentos são, felizmente,
muito diferentes. É por isso que recebo apaixonadamente este prémio mesmo que
morra daqui a dois ou três minutos".
Viria
a falecer a 27 de março de 2009, aos 83 anos.