sexta-feira, março 11, 2022

Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo (20)... Alberto Freitas

Ele imprimiu o seu cunho muito próprio em nobre publicações como "Os Sports", o "Mundo Desportivo", ou "O Eco dos Sports", hoje desaparecidas mas que ajudaram a projetar e a dinamizar o desporto português na primeira metade do século XX. Apelidaram-no de culto, estudioso, brilhante na redação de crónicas e artigos desportivos, e possuidor de um estilo muito próprio, caracterizações que fizeram dele um dos grandes jornalistas desportivos da primeira metade do século passado. Sem mais demoras vamos hoje evocar Alberto Freitas (1903-1966), distinto jornalista que iniciou a sua brilhante carreira em 1923, no "Sport de Lisboa", publicação então dirigida por Raul de Oliveira. Última figura esta que nesse ano endereça a Alberto Freitas um convite para escrever na citada publicação, onde na qual ao longo de cerca de um ano o nosso mestre da pena escreveu crónicas sobre o desporto no estrangeiro e sobre o nosso futebol. Escrevia de acordo com a sua consciência, sem querer agradar a "este ou aquele", uma postura que o levaria em outubro de 1924 a ingressar num dos grandes títulos da imprensa desportiva nacional daquele tempo, "Os Sports", dirigido então por Campos Júnior. Ali, privou de perto com outro grande vulto da imprensa nacional, Cândido de Oliveira.  O seu primeiro artigo nesta publicação intitulou-se "Os ensinamentos da época de atletismo". Paralelamente colaborou com o "Mundo Desportivo", outro jornal de grande prestígio, bem como em duas revistas portuguesas, nomeadamente "O Ás" e a "Éco dos Sports", ambos dirigidos por Artur Inês. Como bom olheiro que sempre foi em matéria de craques, Cândido de Oliveira não tardou a convidar o seu colega de redação para escrever numa publicação criada por si - antes de A Bola -, intitulada "Gazeta Desportiva", onde Alberto Freitas também se notabilizou ao escrever sobre ténis.

O homem das letras que hoje recordamos exerceu ainda cargos de chefia em "Sports Ilustrados" e do jornal do Sport Lisboa e Benfica. Foi ainda correspondente de inúmeros jornais internacionais, casos de "A Gazeta de S. Paulo" , "Vida Desportiva", de Barcelona, "Mundo Desportivo", também da cidade condal, e o "Football", de Paris. Era acima de tudo um conhecedor profundo sobre o desporto de um modo geral, sendo a prova disso o facto de ao longo da sua carreira ter abordado as mais diversas modalidades, pese embora se sentisse mais à vontade a escrever sobre atletismo, futebol, pugilismo e râguebi. Numa das raras entrevistas que deu, neste caso em 1950 à revista "Stadium", contou que esteve quase para ir ao primeiro Campeonato do Mundo de futebol, realizado em 1930, em Montevidéu, mas na véspera da partida para a capital do Uruguai terá comunicado a sua indisponibilidade para viajar, porque em Lisboa se realizava uma prova de estafetas 4X4, sendo que uma das equipas que nela entrava era a do Belenenses, clube que ele treinava nessa modalidade, acabando assim Alberto Freitas de perder uma das páginas mais importantes da história do futebol planetário. Atletismo que era a sua modalidade de eleição, tendo além de praticante, na sua mocidade, sido igualmente fundador e dirigente da Associação de Atletismo de Lisboa. 

Nesta entrevista à "Stadium", Alberto Freitas contava ainda que por aqueles dias era tão só o jornalista que mais serviços fazia no estrangeiro, relembrando que o primeiro havia sido um desafio de futebol entre as seleções de Lisboa e de Madrid, precisamente em 1930. Nessa entrevista contava ainda que teve convites para trabalhar fora de Portugal, mais concretamente no Brasil, em São Paulo, mas declinou por estar mais interessado no desporto português, escolhendo as suas reportagens nos Jogos Olímpicos de Londres, em 1498, como um dos trabalhos que mais prazer lhe deram. Em termos de Olimpíadas esteve ainda presente nos Jogos de Helsínquia (1952) e de Tóquio (1964), sendo que no regresso da capital nipónica seria homenageado pelo Comité Olímpico de Portugal precisamente pelas suas reportagens - eternizadas nas páginas do "Diário de Notícias", jornal para o qual escreveu como enviado especial aos Jogos Olímpicos - feitas em contexto olímpico. 

Alberto Freitas era um jornalista preocupado com o estilo de escrita, assumindo, nessa mesma entrevista, que tinha um estilo próprio, algo que na sua opinião era indispensável ao jornalista. Retiramos desta sua entrevista uma visão curiosa do jornalista sobre a arte de escrever no desporto: «O jornalismo desportivo é o mais difícil de todos, porque requer verdadeira especialização, mas não deve ser embebido apenas de conceitos técnicos e táticos. Por exemplo, uma crónica de futebol para interessar o leitor e definir o jornalista, precisa de ser aligeirada pelo estilo, por um pouco de "romance", por um comentário sorridente. É necessário que o leitor viva o acontecimento sem se fatigar, ficando com disposição para ler os outros artigos do jornal».

Não se considerava um jornalista amigo das polémicas, um estilo que nas suas palavras não o seduzia. Dizia que não se contentava com o que sabia, procurava informar-se sempre mais, comprando livros sempre que viajava para o estrangeiro a fim de se instruir mais e estar ao lado dos melhores. E ele foi um dos melhores, sem margem para dúvida.

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