sexta-feira, março 15, 2024

Histórias do Futebol em Portugal (47)… O último ato do Académico do Porto nos palcos da “Primeira” (Parte IV)

A equipa do Benfica que se sagrou-se campeã nacional em 41/42,
época em que por duas vezes aplicou a chapa 4 ao Académico

12 de abril de 1942, dia de chuva na cidade do Porto, mas nada que impedisse o Estádio do Lima de registar uma boa casa na receção ao então líder do Campeonato Nacional da 1.ª Divisão, o Benfica. Facto curioso, o de os encarnados serem treinados pelo húngaro János Biri, que enquanto futebolista (foi guarda-redes) tinha passado pelo Académico do Porto, precisamente na época de estreia do campeonato nacional do escalão maior. Mas neste encontro com o Benfica a contar para a jornada 13 da época de 41/22, o Académico apresenta-se em campo sem um dos seus habituais titulares, o defesa António Jorge, um algarvio de gema que figura no top 10 dos jogadores com mais jogos realizados pelos academistas no escalão maior. Depois de os minutos iniciais serem de estudo mútuo, sem que a emoção empolgasse as bancadas do Lima, eis que «o Académico denota boa convicção no sentido de dar à pugna o máximo rendimento», escrevia o jornalista Domingos Castro. O Benfica respondeu de forma positiva à postura dos portuenses, e com uma «série de regulares combinações invade o terreno do Académico com mais insistência». E no seguimento dessas tentativas eis que Alfredo Valadas efetua um forte remate do lado esquerdo do seu ataque, com a bola ainda a raspar em Rafael e a aninhar-se no fundo das redes de Levy de Sousa. O golo trouxe mais alma aos benfiquistas, que assumiram o controlo da partida, e apenas um minuto volvido, em mais uma jogada de ataque bem conduzida, Nelo Barros aponta o segundo golo da tarde para os visitantes. «Os alvi-negros não acusam a desvantagem. Nota-se, no entanto, que mercê da vantagem do vento o Benfica insiste com mais frequência e Levy (de Sousa) é chamado várias vezes a intervir», analisava o jornalista do Norte Desportivo que esteve de serviço neste jogo. 



A partida continuava a ser disputada debaixo de chuva torrencial, e com o relvado do Lima alagado, ambas as equipas têm dificuldade em explanar o seu futebol. Ainda assim, o Benfica continua por cima dos acontecimentos, e só aos 35 minutos o guardião encarnado, Martins, é chamado a intervir com mais afinco. A partir daqui o Académico acreditou que podia fazer mais, e esse mais foi mesmo o golo, e Marques consegue-o na reta final da primeira parte. Com o relvado empapado o futebol joga-se de forma mais individual, e numa dessas jogadas a solo, Francisco Rodrigues tem uma investida pelo flanco direito, endossa depois a bola para Nelo Barros, que com um potente remate que leva a bola a bater na barrar e a dirigir-se depois para o fundo das redes. 3-1 para o Benfica na saída para o descanso. A chuva cai cada vez com mais intensidade no Porto, encharcando ainda mais o terreno de jogo. O Académico começa melhor. Álvaro Pereira dá o primeiro sinal de aviso no reatamento, com o esférico a sair ao lado. Depois disto o Benfica volta a invadir o meio campo contrário, tecnicamente os seus jogadores são mais evoluídos, e acima de tudo adaptam-se melhor às condições do tapete verde. E mercê da superioridade patenteada, eis que aos 65 minutos os benfiquistas chegam ao quarto golo. A jogada é feita entre Francisco Albino e Joaquim Teixeira, com este último, bem colocado em frente à baliza, a não dar hipóteses a Levy de Sousa. O jogo perde a partir daqui algum interesse, com o Benfica a gerir calmamente a folgada vantagem. Porém, em jogada de transição, Marques aproveita uma jogada confusa na área de Martins para estabelecer o resultado final 2-4 a favor dos lisboetas, que iriam chegar ao final desta maratona que é o campeonato nacional com o título de campeões no bolso.

Nesta partida o Académico jogou com: Levy de Sousa, Eliseu, Rafael, Manau, Guimarães, Gamboa, Raul Castro, Larsen, Julinho, Marques e Álvaro Pereira.


Pesadelo em Lisboa (parte III)

Aquela que seria a quinta e última viagem do Académico a Lisboa no âmbito desta edição do campeonato nacional, ficou saldada pela goelada mais pesada que a turma orientada por Albertino Andrade sofreu nesta época. 11-2 ante o Sporting. No Estádio do Lumiar pouco público, não só porque o adversário era pouco convidativo, mas de igual modo porque o Sporting de Joseph Szabo estava longe de encantar os seus adeptos. E na realidade o jogo teve pouco interesse, como contou o correspondente do Norte Desportivo na capital. «O Sporting venceu sem grandes dificuldades, e para tal não necessitou de se empregar a fundo. A sua defesa não teve muito que fazer, porque a linha de médios conseguiu tomar ascendente sobre o ataque contrário. A linha dianteira dos leões gisou alguns belos esquemas de jogo, atuando com um equilíbrio notável», analisou o jornalista destacado para este encontro.

Às mãos deste Sporting, o Académico sofreu a derrota
mas pesada da época: 11-2


Por sua vez, do lado do Académico só a defesa e o guarda-redes mereceram alguns elogios, sobretudo Levy de Sousa, que fez magníficas defesas. A linha de meio campo e o ataque academista «raramente tiveram jogadas capazes de permitir fácil seguimento». O Sporting foi inequivocamente superior, a prova disso é que ao intervalo a vantagem dos lisboetas era de 5-1. Na segunda metade o marcador foi dilatado… e de que maneira! Mais seis golos para os leões, sendo que ao décimo o azar bateu à porta do Académico. Levy de Sousa teve de sair do campo, por motivo de lesão, e numa altura em que ainda não havia substituições, Julinho foi para a baliza, ainda a tempo de a dois minutos do fim sofrer o 11.º golo do Sporting. E podiam ter sido mais, não fosse a defesa do Académico ter tido «o papel de mais relevo com algumas intervenções magníficas que obrigaram o Sporting a inutilizar algumas jogadas que aparentemente dariam pontos (golos)», elucidou o jornalista.

Com estes 11 golos sofridos, o Académico elevou para 35 o número de tentos encaixados na capital! Julinho e Raul Castro apontaram os tentos de honra dos academistas no jogo do Lumiar, sendo que os portuenses alinharam com: Levy de Sousa, António Jorge, Rafael, Manau, Guimarães, Eliseu, Larsen, Raul Castro, Julinho, Marques e Gamboa.


A vingança (ante o Unidos de Lisboa) serviu-se com três golos

Na 15.ª jornada o Académico obteve a sua quarta vitória na temporada, um triunfo que teve um certo sabor a vingança pelo que se tinha passado na primeira volta do campeonato. A turma portuense bateu no Lima, por 3-2, o Unidos de Lisboa, equipa esta que tinha derrotado os academistas por 10-1 em Lisboa. Foi mais uma partida disputada debaixo de chuva, que nas palavras do jornalista do Norte Desportivo, Joaquim de Castro, contribuiu para a má qualidade do futebol praticado. «Joga-se sem plano, definido à mercê do que o jogo dá», retratou o jornalista. O Unidos começa a registar um maior domínio territorial, com o Académico a ripostar, sendo que as suas incursões à área lisboeta eram sempre perigosas. «Numa delas Julinho passa em profundidade a Álvaro Pereira, que marca aos 16 minutos, imparavelmente, o primeiro goal do Académico. Este ponto parece despertar um pouco o ânimo do grupo academista que consegue usufrui um certo domínio», retratou Joaquim de Castro. Os portuenses acercam-se cada vez com mais perigo da baliza de Eduardo Santos, desperdiçando clamorosamente algumas oportunidades, como seria o caso de Marques após passe “açucarado” de Julinho. E como quem não marca sofre, o Unidos de Lisboa acaba por chegar à igualdade à passagem da meia hora. Arnaldo Carneiro desmarca Tanganho, que perante a indecisão da defesa local bateu Santiago, guarda-redes que substituiu neste encontro o habitual titular, Levy de Sousa. 

Álvaro Pereira


O jogo mudou de feição, isto, é o Unidos passou a dominar, ao passo que o Académico entregou-se em demasia aos trabalhos defensivos, permitindo aos lisboetas criarem várias ocasiões para ampliar o marcador. Não foi de estranhar que ainda antes do descanso, na marcação de um canto, «depois de uma embrulhada junto às redes de Santiago», Arnaldo Carneiro fizesse o 2-1 para os visitantes. Na segunda metade, e com o relvado do Lima alagado, o Académico surge com outra atitude, mais mandão, uma postura que seria premiada com a reviravolta no marcador. «O Unidos começa a sofrer um domínio dos academistas», até que num ataque pelo lado esquerdo, «Álvaro Pereira endossa a bola a Julinho, este parece perder a excelente oportunidade de passe, mas insiste e marca o segundo aos seis minutos», assim relatou o jornalista do Norte Desportivo. Arnaldo Carneiro ainda introduziu a bola na baliza de Santiago, mas o golo foi de pronto invalidado por nítido fora de jogo do avançado lisboeta. E eis que na sequência da marcação de um pontapé de canto Álvaro Pereira faz o golo da vitória (3-2) academista. E sobre este último futebolista, há que voltar a referir que a par de Levy de Sousa foi o único homem que esteve nas cinco participações do Académico do Porto na 1.ª Divisão Nacional. Mais do que isso, Álvaro Pereira é o jogador com mais jogos disputados pelos academistas na elite do futebol luso, 58 encontros para sermos mais precisos.

Diante do Unidos de Lisboa os portuenses alinharam com: Santiago, Rafael, António Jorge, Eliseu, Américo, Guimarães, Raul Castro, Gamboa, Larsen, Julinho e Álvaro Pereira.


Derrota tangencial no Campo do Benlhevai (Guimarães)

Na 16.ª jornada a equipa treinada por Albertino Andrade viajou até ao berço da nação, a Guimarães, para defrontar o Vitória local. Partida onde na primeira meia hora os academistas se mostraram «mais ao ataque, dando ensejo a que a extrema defesa dos vimaranenses brilhe em algumas intervenções decididas», escreveu o correspondente do Norte Desportivo encarregue de contar as incidências do encontro. Até que no último quarto de hora da primeira metade os locais ganharam ascendente, obrigado Santiago a intervir com redobrada atenção e perícia em duas ocasiões. 

Campo do Benlhevai (Guimarães)


Mas seria o Académico a abrir o marcador, por intermédio de Larsen, aos 26 minutos, na sequência de um canto apontado por Raul Castro. Pouco depois da meia hora Alexandre empata após um bom passe de Arlindo. Oito minutos volvidos o autor do primeiro tento dos vimaranenses bisou, depois de receber a bola dos pés de Ferraz. Na segunda metade, de nada valeu aos portuenses a pontaria afinada de Larsen, autor de mais dois tentos, já que Ferraz e Miguel asseguraram a vitória… do Vitória no Campo do Benlhevai por 4-3.

O Académico do Porto alinhou com: Santiago, António Jorge, Rafael, Manau, Eliseu, Marques, Raul Castro, Julinho, Larsen, Álvaro Pereira e Raul.

(continua)

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