terça-feira, abril 01, 2014

Histórias do Planeta da Bola (2)... O molde original da Liga das Nações

Hugo Meisl, o mentor
da Taça Internacional
Recentemente a UEFA anunciou a criação da Liga das Nações, uma competição destinada a seleções nacionais que irá entrar em ação no ano de 2018. Trata-se de uma prova que vai ser disputada nos intervalos das fases de qualificações para os campeonatos do Mundo e da Europa, e que substituirá os jogos amigáveis que por norma as seleções europeias levam a cabo sempre que não participam em partidas de caráter oficial. Será disputada entre setembro - ano par - e maio - ano ímpar - sendo que os quatro primeiros classificados terão bilhete garantido para o Campeonato da Europa seguinte.
Bom, estas são algumas das características de um modelo de competição que, na verdade, não é original! Nos anos 20 do século passado um visionário do belo jogo concebeu a ideia de criar uma grande competição continental que envolvesse algumas das melhores seleções da época. Essa ilustre figura era Hugo Meisl, que além de ser um dos mais reputados e talentosos mestres da tática da primeira metade do século XX, foi ainda um dos principais dinamizadores das competições internacionais, quer ao nível de clubes - com a criação da Taça MITROPA - quer ao nível de seleções, com a edificação desta Coupe Internationale européenne, o nome de batismo do molde original da recém criada Liga das Nações. 


A Taça
Antonín Svehla
E tal como a Liga das Nações, a Taça Internacional era jogada num sistema de poule, onde todos jogavam contra todos, sendo o vencedor a seleção que - naturalmente - somasse o maior número de pontos no final desse campeonato internacional disputado a duas voltas, com jogos em casa e fora, em tudo semelhante a um campeonato nacional.O campeão da prova recebia a vistosa Taça Antonín Svehla - elaborada em cristal -, que assim foi batizada em honra do doador do troféu, o primeiro-ministro da Checoslováquia, Antonín Svehla. Um dos aspetos negativos na curta história de uma competição que para muitos esteve ainda na génese do atual Campeonato da Europa terá sido a excessiva demora com que a mesma se desenrolava, sendo que por exemplo as duas derradeiras edições demoraram - respetivamente - cinco e seis anos a serem concluídas! De ressalvar que a Taça Internacional era integrada por um pequeno leque de seleções, alguns dos melhores combinados nacionais daquele tempo, com exceção da Inglaterra, que teimosamente continuava fechada no seu Mundo em relação ao resto do... Mundo. 

Lendária Squadra Azzurra de Pozzo inaugura a lista de campeões

Vittorio Pozzo, o arquiteto
da lendária Squadra Azzurra
da década de 30
A primeira edição arrancou a 18 de setembro de 1927, quando em Praga a Checoslováquia venceu a Áustria de Hugo Meisl por 2-1. A conclusão da edição de estreia da Coupe Internationale européenne deu-se a 11 de maio de 1930, em Budapeste, com a Itália a cilindrar a Hungria por 5-0, com um hattrick da sua estrela Giuseppe Meazza. No total foram 20 jogos, decorridos entre 1927 e 1930, consagrando uma seleção que haveria de dominar o Mundo na década seguinte, uma seleção arquitetada por uma das maiores lendas de todos os tempos no que ao treino e interpretação do jogo dizia respeito, de seu nome Vittorio Pozzo, que a par de Hugo Meisl e do inglês Herbert Chapman forma o trio de treinadores de maior talento da primeira metade do século XX. Esta primeira edição fica igualmente marcada por um certo equilíbrio na comeptição entre as melhores seleções, como facilmente se pode comprovar pela classificação final, tendo a Squadra Azzurra levado ao melhor sobre a Áustria de Hugo Meisl e a Checoslováquia por apenas um ponto, sendo por isso épico o tal último encontro em Budapeste, no qual a Hungria partia igualmente com aspirações à conquista do troféu, precisando somente de um triunfo para o conseguir. Como já vimos, tal não aconteceu, já que a Itália começava a dar mostras daquilo o que iria produzir na década seguinte. Para muitos, esta primeira vitória internacional dos italianos serviu de embalo para os triunfos da Nazionale nos campeonatos do Mundo de 1934, de 1938, e nos Jogos Olímpicos de Berlim (1936), e reza a lenda que no regresso a casa - viagem longa de comboio entre Budapeste e Roma - após a conquista da Taça Internacional Pozzo terá deixado cair o troféu, do qual terá saltado uma lasca, e sem que ninguém se apercebesse - tal era a alegria que tomava conta da delegação italiana - apanhou a dita lasca e meteu-a no bolso, confessando décadas mais tarde na sua autobiografia que tal objeto se tornou no seu amuleto dali em diante, no amuleto com que venceu os Mundiais de 34, de 38, e as Olimpíadas de 36. 
Uma última nota sobre esta edição de estreia para para falar de outra equipa maravilha dos anos 30, a Áustria, de Hugo Meisl, cujo futebol encantador granjeou precisamente o rótulo de Wunderteam... a equipa maravilha. Foi aquela inesquecível Wunderteam que aplicou à campeã Itália as suas duas únicas derrotas ao longo da prova, 1-0 em Bolonha, e 3-0 em Viena.

Classificação:

1-Itália: 11 pontos
2-Áustria: 10 pontos
3-Checoslováquia: 10 pontos
4-Hungria: 9 pontos
5-Suíça: 0 pontos

Uma Wunder... conquista

Pintura do Wunderteam de Hugo Meisl
A segunda edição da Taça Internacional foi conquistada pela tal equipa histórica austríaca, por um grupo de homens que interpretavam o jogo de uma forma sublime, transpondo para os relvados uma técnica apurada aliada a uma rapidez de movimentos estonteantes, encantando desta maneira todos aqueles que tiveram o privilégio de os ver atuar. Esse grupo de artistas ficou eternizado como a Wunderteam, a equipa maravilha, traduzindo para a língua de Camões. Edificada pelo lendário treinador Hugo Meisl - o criador desta Taça Intercontinental, recorde-se - a Wunderteam só por uma ocasião conheceu a derrota na caminhada vitoriosa nesta segunda edição da prova, logo no primeiro encontro do certame, em Milão, no dia 22 de fevereiro de 1931, diante dos campeões em título, a Itália, por 1-2. Milão, que três anos mais tarde haveria de ser novamente uma cidade de más recordações para os jogadores de Meisl, já que ali, no San Siro, seriam injustamente derrotados pela Itália de Pozzo na meia-final do Campeonato do Mundo de 34. Injustamente, porque não só foram melhores que os transalpinos - há quem defenda que a Áustria era de longe a melhor equipa desse Mundial - mas sobretudo porque uma arbitragem vergonhosa do suíço Rene Mercet - reza a lenda que a mando de Mussolini - atirou a Wunderteam para fora da competição. 

Matthias Sindelar, a estrela do Wunderteam
Mas voltando à segunda edição da Taça Internacional para referir que esta foi a edição mais curta da... curta história do evento. Teve início, como já vimos, a 22 de fevereiro de 1931, e final a 28 de outubro de 1932, dia em que a Checoslováquia derrotou em Praga a Itália por 2-1. Destaque ainda nesta edição para os primeiros pontos conquistados pelo Suíça, que na edição de estreia haviam ficado a zeros. Comandados pelos talentosos irmãos Abegglen - Max e Trello - os helvéticos somaram cinco pontos, fruto de dois triunfos - ante a Checoslováquia e a Hungria - e um empate surpreendente perante os campeões em título, a Itália.
Transalpinos que além da derrota de Praga foram vergados ao vistoso futebol austríaco em Viena, com as luzes da ribalta desse encontro - que terminou com a vitória da turma de Meisl por 2-1 - a centrarem-se na grande estrela daquela inesquecível seleção, Matthias Sindelar, o virtuoso homem de papel, sobre quem o Museu já falou noutras viagens ao passado, e que nesse encontro faria os dois golos da sua equipa. Sobre esta célebre equipa austríaca muitos historidores do belo jogo defendem ter sido a fonte de inspiração para o futebol total edificado pela Holanda na década de 70. 
O inesquecível Wunderteam da Áustria que em 1932 venceu a Taça Internacional

Classificação:

1-Áustria: 11 pontos
2-Itália: 9 pontos
3-Hungria: 8 pontos
4-Checoslováquia: 7 pontos
5-Suíça: 5 pontos

Campeões do Mundo prolongam festejos


Golos de Schiavio e Meazza deram
início à caminhada triunfal da
Squadra Azzurra na 3ª edição do torneio
Com mais ao menos polémica - por influência do ditador Benito Mussolini - a Itália havia conquistado o Mundo em 1934, isto é, o Mundial organizado pela FIFA. Este feito coincidiu no tempo com a reconquista da Taça Internacional, que com a extinção da competição, em 1960, fez da Squadra Azzurra a nação mais titulada. Na verdade, a caminhada triunfal dos pupilos de Vittorio Pozzo começou cerca de um ano antes da consagração planetária em Roma, quando a 2 de abril de 1933 a terceira edição da Coupe Internationale européenne arrancou em Genebra com uma vitória italiana sobre a Suíça por 3-0, com golos de duas das maiores estrelas da Azzurra, Angelo Schiavio (2) e Giuseppe Meazza. O derradeiro encontro do certame ocorreu mais de um ano após a conquista do Mundial de 1934, quando a 24 de novembro de 1935 os italianos empataram - em Milão - a dois golos ante a Hungria, prologando assim, de certa forma, a festa iniciada em Roma no dia 10 de junho de 34, quando um triunfo por 2-1 sobre a Checoslováquia permitiu aos italianos alcançarem o topo do Mundo pela primeira vez. A década de 30 foi, como já referimos no início desta viagem ao passado, o período dourado do calcio italiano, com o domínio absoluto em todas as competições em que a squadra edificada pelo mestre Pozzo participou. O cheiro da pólvora proveniente das armas que edificaram a II Grande Guerra Mundial fez desaparecer o perfume futebolístico daqueles mágicos anos 30. As nuvens negras do confronto bélico eclipsaram estrelas como Sindelar, Meazza, Schiavio, Hiden, Monti, Combi, Orsi, os irmãos Abegglen, ou os mestres da tática Meisl e Pozzo, que por direito próprio ganharam para sempre um lugar no Olimpo dos Deuses do desporto rei

Classificação:

1-Itália: 11 pontos
2-Áustria: 9 pontos
3-Hungria: 9 pontos
4-Checoslováquia: 8 pontos
5-Suíça: 3 pontos

Uma quarta edição da Taça Internacional arrancou a 22 de março de 1936, tendo-se realizado até abril de 1938 mais de uma dezena de encontros. Porém, a chegada da guerra (1939) aliada à anexação político-militar da Áustria por parte da Alemanha fez com que o torneio não chegasse ao fim. 

Mágicos magiares apresentam-se ao Mundo


Major Puskas parece estar a ensinar
aos seus companheiros de seleção
como se faz um golo de belo efeito
Com o desaparecimento do mapa futebolístico internacional da Áustria e da Itália abriu-se a porta da fama - e da glória - a uma outra equipa lendária do planeta da bola, a Hungria. Após mais de uma década de interrupção eis que a 21 de abril de 1948 a Taça Internacional estava de volta, e com novas figuras. Nesse dia a Hungria esmagava em Budapeste a Suíça por 7-4, com dois golos de um até então desconhecido - para o futebol internacional - Ferenc Puskas. Estava dado o primeiro passo de uma caminhada que haveria de terminar em glória...em 13 de dezembro de 1953, data do último jogo desta quinta edição. Cinco anos foram precisos para coroar a Hungria de Puskas, Czibor, Hidgkuti, ou Koczis, jogadores que sob as ordens do mestre da tática Gusztav Sebes, edificaram uma das mais belas equipas da história do jogo, um conjunto de artistas que praticou um futebol de fino recorte técnico e tático, uma seleção que na opinião de muitos historiadores foi a melhor... do Mundo da década de 50, melhor até que o Brasil de 1958, orquestrado pelas então estrelas emergentes Pelé, e Garrincha. 1953 foi um ano inolvidável para o futebol húngaro, não só porque venceu este título continental - um ano antes havia conquistado o ouro olímpico em Helsínquia - mas sobretudo porque os magiares humilharam os inventores do futebol, a Inglaterra, na sua própria casa, na catedral de Wembley, jogo esse - que terminou com uma categória vitória magiar por 6-3 - já evocado pelo Museu Virtual do Futebol noutras viagens históricas. Porém, do sonho ao pesadelo o trajeto foi curto para um um grupo de lendários intérpretes do jogo que ficaram eternizados como os Mágicos Magiares, pois no - chuvoso - verão de 54 deram de caras com o azar... na final do Campeonato do Mundo, onde uma inferior - em todos os sentidos - Alemanha protagonizou o Milagre de Berna, o milagre que impediu as estrelas húngaras de subir aos céus do planeta da bola, o mesmo será dizer, de conquistar um Mundial que lhes estava previamente destinado. 
Os Mágicos Magiares, uma das mais brilhantes equipas que o Mundo conheceu


Classificação

1-Hungria: 11 pontos
2-Checoslováquia: 9 pontos
3-Áustria: 9 pontos
4-Itália: 8 pontos
5-Suíça: 3 pontos 

Escola de Leste encerra a história da Taça Internacional


Masopust, o maior jogador checo de todos os tempos
conduz os esférico
A sexta e última edição da Taça Internacional surgiu com algumas mudanças. Desde logo o troféu seria rebatizado, passando a chamar-se Dr. Gero Cup, em memória do presidente da Federação Austríaca de Futebol, Josef Gero, que em 1954 havia falecido de forma repentina. Outra novidade era o aumento para seis equipas, juntandando-se aos cinco países fundadores a Jugoslávia - que no seu grupo contava com um jogador chamado Bora Milutinovic, que quatro décadas mais tarde haveria de entrar para a história do futebol por ser o técnico com mais presenças consecutivas em fases finais de Campeonatos do Mundo. E seria precisamente a seleção austríaca, bem longe no que a qualidade dizia respeito à Wunderteam de Meisl na década de 30, que a 27 de março de 1955 dava o pontapé de saída nesta última edição, sendo derrotada (2-3) em Brno pelos futuros campeões da competição, a Chescoslováquia. Apesar de não ser tão encantadora como a Hungria - na opinião de muitos - a seleção checa foi digamos que a última intérpreta da famosa escola do Leste europeu, uma escola que escreveu dezenas das mais brilhantes páginas da história do jogo, graças a um estilo técnico-tático muito próprio, um estilo onde o futebol espetáculo era aliado à esquemas táticos revolucionários e inovadores. A última Taça Internacional terminaria a 6 de janeiro de 1960, em Nápoles, com a Itália a bater a Suíça por 3-0, quase dois meses depois da Checoslováquia - liderada no relvado pela estrela Masopust - ter assegurado matematicamente o título graças a um trinfro sobre esta mesma Itália por 2-1. 
Quiçá inspirada na competição idealizada e criada por Hugo Meisl nos finais da década de 20, a UEFA - fundada em 1954 - lançou em 1960 o Campeonato da Europa, prova aberta a todas as nações europeias, bem diferente desta Coupe Internationale européenne, que apesar de ter tido vida curta foi disputada por alguns dos melhores jogadores, treinadores, e equipas do planeta do futebol... de todos os tempos. 
Checoslováquia, os derradeiros campeões da Coupe Internationale européenne


Classificação:

1-Checoslováquia: 16 pontos
2-Hungria: 15 pontos
3-Áustria: 11 pontos
4-Jugoslávia: 9 pontos
5-Itália: 7 pontos
6-Suíça: 2 pontos 

sexta-feira, março 28, 2014

Grandes Mestres da Táctica (10)... Brian Clough

Brian Clough, segura a Taça dos Campeões Europeus,
a qual venceu não por uma, mas por duas ocasiões
com o até então desconhecido Nottingham Forest
Para além do seu inquestionável talento em conduzir as suas equipas rumo ao patamar do sucesso, José Mourinho é hoje um ícone do planeta da bola muito graças à sua controversa personalidade, a qual faz com que seja amado por uns, e odiado por outros - mais odiado do que amado, na verdade. A imagem que o treinador português construiu assemelha-se - e muito - à de um outro mestre da tática que no início da segunda metade do século XX ganhou por mérito próprio o estatuto de imortal do futebol. Polémico, frontal, arrogante, carismático, egocêntrico, vencedor, e sobretudo genial, eis alguns dos adjetivos que poderão catalogar o inglês Brian Clough, para muitos o melhor técnico britânico de todos os tempos. Concordo, devo confessar, e peço desde já desculpa aos visitantes do Museu por estar a emitir uma opinião pessoal num texto biográfico que tal como todos os outros aqui publicados deverá ter - como deve ser - um cunho imparcial, mas... não só concordo com esta visão como acrescento que Clough foi não só o melhor técnico britânico de todos os tempos como um dos melhores a nível global. Que exagero, pensarão alguns ao ler esta visão pessoal, mas para esses céticos em relação a esta opinião proponho o seguinte desafio: imaginem alguém que pega num Moreirense, ou num Penafiel - isto, olhando à escala do futebol português - ou se preferirem outros universos futebolísticos, um Badajoz (Espanha), ou um Siena (Itália) e conduz, num curto espaço de tempo, um desses emblemas da 2ª Divisão à conquista da Liga dos Campeões! Só possível num jogo de computador, dirá a maioria dos inquiridos. Pois bem, Brian Clough operou esse milagre em finais dos anos 70 com o até então desconhecido Nottingham Forest... e fê-lo por duas vezes! Só ao alcance de um génio, não é verdade?


O temível avançado Brian Clough
ao serviço do Middlesbrough
Génio esse que nasceu a 21 de março de 1935, na pequena cidade de Middlesbrough, no seio de uma numerosa - Brian foi o sexto dos nove filhos do clã Clough - e modesta família, tendo ainda cedo (aos 15 anos) deixado a escola para ajudar no sustento da casa, conseguindo um trabalho numa indústria química. Foi por essa altura que deu início à sua curta, mas interessante, carreira de futebolista, ingressando nos amadores do Billingham Synthonia, clube que deixou em 1953 para ingressar na Força Aérea. Cumprido o serviço militar, em 1955, ingressa no emblema da terra natal, o Middlesbrough Football Club. Ao serviço do Boro - nickname (alcunha) pelo qual o clube é tratado pelos seus fãs - Clough tornou-se num brilhante e temido avançado-centro, um verdadeiro terror para os guarda-redes adversários, conforme comprovam os 197 golos apontados nos 213 desafios em que envergou a camisola do clube que defendeu durante seis temporadas (entre 1955 e 1961). Foi durante este período que os seus atributos de goleador chamaram à atenção dos responsáveis técnicos da seleção inglesa, que em duas ocasiões convocam Clouhg para vestir a camisola principal dos Três Leões. Seria durante o seu percurso de categorizado goleador do Boro que Brian Clough conheceu aquele que haveria de ser o seu braço direito, o seu conselheiro, no reino da bola, e mais do que isso, o seu melhor amigo, de nome Peter Taylor, na época guarda-redes do clube do nordeste de Inglaterra.
A veia goleadora de Clough não passou despercebida a outros emblemas britânicos, sobretudo ao Sunderland, clube que certa ocasião foi abatido pelo poder de fogo do avançado-centro. Eterno rival do Middlesbrough, o Sunderland não descansou enquanto não adquiriu aquele diamante, que incompreensivelmente para a maioria dos súbitos de Sua Majestade apenas tinha sido chamado à seleção por um par de ocasiões. Em 1961 Clough transfere-se para o Sunderland, por uma quantia de 55 000 libras, ali permanecendo somente uma temporada enquanto jogador, alcançando um impressionante registo de 63 golos em 74 partidas disputadas. A carreira de Brian ia de vento em popa, até ao fatídico - ou não, como mais tarde se iria comprovar - boxing day - 26 de dezembro - de 1962, quando num encontro ante o Bury o atleta sofre uma grave lesão no joelho - rutura de ligamentos - após um violento choque com Chris Harker, o guardião contrário. Um acidente que obrigou o goleador a parar durante dois anos (!), uma paragem que viria a ditar o final de uma carreira que estava a ser brilhante, já que no seu regresso ao ativo, em 1964, Clough não fez mais do que três jogos, sendo forçado - por motivos físicos - a dar por terminado o seu trajeto de futebolista. Contava somente com 29 anos de idade, e para a história ficava um impressionante registo de 251 golos apontados em 274 encontros disputados!
Mas, e como diz o velho ditado, há males que vêm por bem, e incentivado pelo seu treinador de então, de nome Alan Brown, o jovem Clough dá início a uma não menos brilhante carreira de treinador.

O início de uma caminhada gloriosa...
na arte de conduzir ao sucesso 
equipas de menor dimensão!


Brian Clough, à porta dos balneários
do Derby County, modesto clube que sob o comando
deste homem alcançou a glória
Adotando o estilo disciplinador, agressivo, por vezes, de Brown, Brian Clough inicia em 1965 a carreira de técnico nos escalões secundários do futebol britânico. A sua primeira experiência dá pelo nome de Hartlepools United, modesto emblema que militava na 4ª divisão inglesa. A sua primeira ação é convidar o seu antigo companheiro de equipa no Boro, Peter Taylor, para se juntar a ele nesta aventura, na qualidade de treinador assistente. Uma dupla que iria entrar na história do futebol internacional, como se irá perceber no desenrolar deste excerto biográfico. Num clube orfão de dinheiro, de infraestruturas, o máximo que a dupla Clough/Taylor consegue é levar a equipa ao oitavo posto do quarto escalão inglês, uma posição para lá de satisfatória para um emblema habituado a bater no fundo da garrafa sistematicamente e sem grandes sonhos no mundo do futebol. 
No Hartlepools United Brian Clough dá igualmente início à(s) sua(s) relações problemática(s) com os dirigentes clubísticos. Desde pronto ele mostra que não se dá bem com ordens vindas dos quadros diretivos, oriundas de membros superiores, como o chairman - presidente - do clube, por exemplo. Clough chama a si todo o tipo de decisões que se prendem com a vida do clube. Não se limitando aos treinos e às táticas o ex-goleador também decide sobre as políticas de contratações: quem contratar, quando contratar, quanto gastar, etc. Um estilo autoritário que ignora por completo as opiniões/decisões dos dirigentes, o qual iria perdurar ao longo de toda a carreira, o que fez com que ganhasse mais inimigos do que amigos... tal como José Mourinho. Farto da personalidade controversa de Clough o chairman do Hartlepools United, Ernest Ord, decide despedir o técnico e o seu assistente Peter Taylor ao fim de um ano de ligação. Porém, após algumas reuniões com outros membros da direção, Ord - já de cabeça fria - recua na decisão, mantendo até ao final da temporada de 1966/67 o treinador que se fazia sobressair pelo temperamento forte e um estilo de comando muito peculiar. 


«Senhoras do chá... RUAAAAAA», parece ordenar Brian
Na conclusão dessa temporada de 66/67 a dupla Clough/Taylor ruma para outras paragens, para um clube pouco maior em termos de dimensão que o Hartlepools United, para um emblema habituado a percorrer os tortuosos e lamacentos caminhos da 2ª Divisão inglesa, o Derby County. Ali chegado, logo vinca a sua autoritária personalidade, levando a cabo uma pequena revolução no clube, não só no aspeto desportivo, como também no plano administrativo. Reza a lenda que assim que chegou despediu a secretária, o jardineiro, e duas simples senhoras que serviam chá, por alegadamente se terem rido de uma derrota do Derby. Seria neste pequeno clube que teria início verdadeiramente o legado de Clough, dando então a conhecer o seu ímpar talento para extrair o máximo de jogadores nada mediáticos, oriundos de divisões secundárias, e cujos nomes eram facilmente eclipsados quando colocados a par das estrelas do Liverpool, do Manchester United, ou do Leeds United. Com um bando de desconhecidos a dupla Clough/Taylor construiu uma equipa vencedora em pouco tempo, capaz de ombrear com qualquer equipa britânica - e não só -, capaz de concretizar objetivos até então impensáveis como...sair do último lugar da Second Division para erguer o troféu de campeão inglês num curto período de cinco anos. Há no entanto que fazer um atalho nesta nossa história para sublinhar o importante papel do fiel escudeiro de Clough no seu trajeto imperial. Brian Clough poderia ter o carisma, o condão de revolucionar as mentes dos seus atletas, de os guiar até à glória, mas era Peter Taylor quem os descobria nos campos de batatas dos escalões secundários. Era o seu olho cirúrgico que a mando de Clough - claro está, ele é que dava as ordens - descobria jogadores completamente anónimos, e que posteriormente sob a alçada do treinador principal eram trabalhados e lançados às feras na alta roda do futebol inglês, vulgarizando as mega-estrelas do Manchester United, Liverpool, Arsenal, ou do Leeds United. 


Até 1967 nenhum adepto do modesto Derby County
sonhava com esta imagem: ver o seu clube erguer o troféu
de campeão inglês! Clough e Taylor realizaram esse...
sonho irreal em 1972
Com este tipo de liderança, chamando a si tudo o que envolvia o clube, Clough criou um novo conceito de treinador. Ele não se limitava a treinar ou a dar táticas, como já referimos, ele decidia sobre assuntos de ordem administrativa, ele era o responsável pela melhoria das condições de trabalho, ele era o responsável por todas as contratações, ele era o número um dentro do clube, era o manager, o primeiro verdadeiro manager do futebol inglês. Tudo o que dizia respeito ao clube centrava-se em Brian Clough. Algo que irritava profundamente os dirigentes, que para Clough tinham a única função de...assinar os cheques para contratar os jogadores que ele e Taylor escolhiam. Esta pequena revolução fez com que modesto Derby County abandonasse o habitual último lugar da 2ª Divisão para ascender no curto espaço de dois anos ao principal campeonato inglês, a First Division, atualmente o correspondente à Premier League. Clough e Taylor chegaram ao clube na temporada de 67/68 e duas épocas depois ao vencerem a 2ª Divisão garantiram o passaporte para o escalão principal, sendo que na temporada da promoção o Derby County estabeleceu um recorde de 22 jogos consecutivos sem conhecer a derrota. Isto com uma equipa de - até então desconhecidos - operários, como Roy McFarland, John O´Hare, Alan Hilton, ou John McGovern, os tais homens que o perspicaz Peter Taylor havia descoberto no sub-mundo do futebol britânico. Mais do que um líder estes jogadores viam em Clough um amigo, um amigo que quando era preciso era duro, insultava-os se fosse necessário, é certo, mas que estaria sempre ali ao lado deles na frente de batalha. De batalha não, porque na ótica de Brian Clough o futebol não era uma guerra, de socos e pontapés, baseado no típico estilo inglês do kick and rush (pontapé para a frente), mas sim uma arte, um beautiful game, como ele chamava ao jogo que tanto amava. E como jogo bonito que era o futebol tinha de ser jogado de uma forma atrativa, limpa, sem faltas violentas. E foi assim que Clough conseguiu levar o modesto Derby County ao patamar mais alto do futebol inglês, sendo que na primeira temporada que o clube militou na First Division alcançou um brilhante 9º lugar. Mas o melhor ainda estava para vir. 
O plantel do Derby County que em 1972 conquistou o impensável
título de campeão inglês
Em 1971/72 o Derby surpreende tudo e todos ao ombrear teimosamente com Leeds United, Manchester City, e Liverpool na luta pelo título de campeão. Título esse que seria decidido apenas na última jornada, quando Brian Clough já estava de... férias em Palma de Maiorca! Como lhe competia o Derby County tinha vencido o seu derradeiro encontro do campeonato e desta forma ascendido de forma provisória à liderança, sendo que Leeds United e Liverpool apenas jogavam no dia seguinte. Para o Derby ser campeão estes dois concorrentes não podiam vencer os seus respetivos jogos, cenário que teoricamente era pouco provável atendendo à supremacia de ambos, pelo que Clough, de certa forma descontraída, bem ao seu estilo, resolve partir de imediato para as ilhas espanholas de férias. Acontece que nem Liverpool, nem Leeds venceram, e o título foi conquistado de forma surpreendente pelo pequeno Derby County, e reza a lenda que Brian Clough e o seu amigo e fiel escudeiro Peter Taylor apenas souberam que de facto haviam sido campeões de Inglaterra quando viram o hotel onde passavam férias com as respetivas famílias rodeado de jornalistas, que lhes deram a boa nova!!! Outros tempos em que as comunicações entre países praticamente não existiam. 


Brian Clough a preparar-se para mais uma, por certo,
entrevista bombástica
O inédito título trouxe a fama a Clough. Toda a Inglaterra queria conhecer melhor o homem que transformou um pequeno clube em campeão inglês. As constantes entrevistas para a televisão começam a tornar Brian Clough numa estrela mediática, e logo ele, que sempre foi dado a egocentrismos. Na verdade, este era o seu mundo, ele sentia-se incrivelmente à vontade diante das câmaras, dizendo tudo o que lhe apetecia, não importando se eram palavras insultuosas a colegas de profissão, a dirigentes, ou a jogadores de outras equipas. Não tinha papas na língua, como se diz na gíria. Conhecendo a sua frontalidade as televisões faziam dele convidado sistemático de programas desportivos, sabendo de antemão que a sua presença iria trazer para cima da mesa declarações polémicas, e desde logo merecedoras de captar a atenção de milhares de espetadores. Clough sabia lidar muito bem com a imprensa, sabia tirar partido deste poder, colocando diante das câmaras toda a sua arte em levar a cabo os mind games que tanto gostava de travar com outras figuras do futebol. Os mind games de que agora Mourinho é mestre... mas dos quais Clough foi o inventor. 


Cloug e o seu fiel escudeiro Peter Taylor
A sua língua afiada aliada à sua personalidade egocêntrica, digamos assim, fez com que o número de inimigos subisse consideravelmente, inclusive dentro do próprio Derby County, com o chairman do clube, Sam Longson, à cabeça. Longson não suportava o ego de Clough, e por várias vezes ao longo da relação entraram em choque. Na pré-temporada a seguir à conquista do campeonato Sam Longson ordenou que a equipa fosse fazer um estágio para a Holanda, sendo que Clough retorquiu que iria caso a sua família pudesse ir também. O presidente do Derby contra-atacou dizendo que não se tratava de uma viagem de férias, mas sim de trabalho, ao que Brian Clough simplesmente respondeu: «então... não vou eu». Reza a lenda também que o treinador contratou alguns jogadores sem o conhecimento de Longson, gastando avultadas verbas, que deterioraram ainda mais as já de si débeis finanças do clube. Os ataques de Clough não surgiam apenas na direção dos adversários, ou dos dirigentes do seu clube, mas também dos próprios adeptos do seu emblema, a quem muitas vezes chamada de escumalha, quando estes assobiavam os seus jogadores, ou criticando-os por falta de apoio à equipa quando esta estava em desvantagem no marcador. Um rol de episódios conflituosos que nem a boa campanha europeia de 72/73 valeu para Clough salvar a pele. Competições europeias onde o Derby County foi eliminado nas meias-finais da Taça dos Campeões Europeus pela Juventus, a quem o treinador no final da eliminatória apelidou de bastardos trapaceiros, pela forma pouco limpa, segundo a sua visão, com que tinham eliminado a sua equipa. Os constantes ataques que o treinador fazia a tudo e a todos fez Sam Longson perder a paciência, e nesse ano de 73 despede a dupla Clough/Taylor para desespero dos adeptos do Derby, que mesmo alvo de insultos por parte do célebre treinador manifestaram o seu incondicional apoio a este. Os próprios jogadores do clube fizeram uma greve, exigindo a readmissão de Brian Clough e Peter Taylor, mas Longson não voltaria atrás e a dupla de sucesso estava no desemprego. 

Damned United (maldito United)


Brian Cloug aguentou apenas 44 dias como
treinador do gigante Leeds United
Mas não por muito tempo, já que em 73/74 são convidados a pegar nos destinos de outro pequeno clube, o Brighton & Hove Albion, da 3ª Divisão. No emblema do sul do Reino Unido o sucesso só não se fez sentir de imediato porque Clough apenas ali esteve um par de meses, já que um convite do gigante Leeds United o fez de imediato abandonar Brighton e... o seu fiel escudeiro Peter Taylor. Este não quis quebrar o contrato que havia feito com os responsáveis do Brighton & Hove Albion, e decide ficar, pegando sozinho na equipa enquanto que Brian parte para aquela que ele julgava ser a maior aventura da sua vida... e que na realidade viria a ser a mais curta. Nos anos anteriores o Leeds United, e muito em particular o seu treinador, Don Revie, haviam sido ferozmente atacados na imprensa por Clough, que caracterizava o United - campeão inglês em 1973/74 - uma equipa violenta - e na verdade, era -, que praticava um jogo sujo e trapaceiro, contrariamente ao seu Derby, cujo futebol era limpo, honesto, e atraente. Revie, adepto do jogo viril, saiu no final de 73/74 para o comando técnico da seleção inglesa, sendo que para o seu lugar os responsáveis do Leeds chamaram Clough, o homem que denegria sistematicamente a imagem do clube na praça pública. Esta seria a primeira e única experiência de Brian Clough num dos chamados grandes emblemas do futebol inglês. 
Assim que chegou a Elland Road, a casa do Leeds United, e no seu jeito frontal e sem qualquer tipo de misericórdia, dirigiu-se às estrelas do clube dizendo: «peguem nas vossas medalhas de campeões e atirem-nas para o lixo, pois elas foram conquistadas de uma forma suja e trapaceira. Comigo vocês vão ganhar de forma limpa e bonita». Diz-se que havia sido o ódio que Clough tinha por Revie que o fez aceitar o cargo de treinador do Leeds United, pois queria superá-lo com a equipa que o próprio Revie tinha construído. Este tipo de expressões causou desconforto no balneário do Leeds, cujos jogadores nunca viram Clough como um amigo, ou um pai, tal como viam o seu antigo treinador Don Revie. Brian não conseguiu ter pulso no núcleo duro do campeão inglês. Diz-se que o ego de treinador chocou de frente contra o ego de estrelas como Johnny Giles, Norman Hunter, ou Billy Bremner, e como é impossível demasiados egos conviverem debaixo do mesmo teto a aventura do treinador em Elland Road só durou 44 dias! Diz-se ainda também que a experiência de Clough no Leeds havia falhado porque Peter Taylor não esteve a seu lado, o seu fiel escudeiro, amigo, e conselheiro. Brian Clough deixou o Leeds United num impróprio 19º lugar, com uma vitória em seis derrotas! A curta passagem do técnico por Leeds está retratada num excelente - recomendo vivamente o seu visionamento - filme, intitulado Damned United (maldito United), que traduz para a tela de cinema não só a sua passagem atribulada por Elland Road mas igualmente grande parte da sua restante e brilhante carreira. 
Mais uma vez no desemprego o treinador passou a ir com mais regularidade à televisão, desempenhando não só a função de comentador mas sobretudo a de crítico, papel que tanto gostava, agredindo verbalmente ilustres colegas de profissão como Sir Matt Busby, Sir Alf Ramsey, e claro, Don Revie, o seu ódio de estimação. Brian Clough sempre ao seu estilo. 

A conquista do Olimpo do futebol com um pequeno clube... mais um


Na condição de arquiteto do
pequeno/grande
Nottingham Forest
Brian Clough esteve sem trabalho desde setembro até dezembro de 1974, sendo que com a entrada do novo ano surge mais um convite ao técnico oriundo de Middlesbrough. Mais um pequeno e desconhecido clube, na realidade, que militava nas divisões secundárias de Inglaterra, oriundo de uma cidade mais conhecida pela fábula do herói que roubava aos ricos para dar aos pobres, Robin Hood de seu nome, traduzindo para português, Robin dos Bosques. Esse clube era o Nottingham Forest, vizinho e grande rival do Derby County que Clough e Taylor haviam conduzido à glória poucos anos antes. Além de pequeno o Forest era um emblema mergulhado em graves problemas financeiros que ocupava o fundo da tabela da Second Division. Clough assumiu a equipa a meio da temporada de 74/75, e em meados de 1976 faz as pazes com o amigo e companheiro de trabalho Peter Taylor, convencendo-o a reconstruir a velha dupla de sucesso que tanta glória havia tido ali bem perto, em Derby. Taylor aceitou, e o resto é pura lenda. Tal como haviam feito quando chegaram ao Derby County Clough e Taylor levaram a cabo uma autêntica revolução no balneário, dispensando uma série de jogadores, contratando para o seu lugar outros completamente desconhecidos, descobertos pelo olheiro brilhante que era Peter Taylor. Ao clube chegam então jogadores como Peter Shilton, Viv Anderson, Kenny Burns, Martin O´Neil, ou John McGovern, que no final da temporada de 76/77 conseguem levar o clube à elite do futebol inglês, isto é, a 1ª Divisão. Claro está que Clough continuava a ser a estrela do clube, o arquiteto deste feito, a figura que centrava em si todos os setores do clube. Mas o público gostava desta personalidade, e os... dirigentes do Forest pareciam nem se importar, talvez porque pressentissem que Brian Clough iria ser o condutor do clube a patamares nunca dantes sonhados. E assim foi.


A dupla maravilha: Taylor e Clough, no banco
do Nottingham Forest
Na temporada seguinte, no convívio entre os grandes do futebol inglês, o Nottingham Forest foi campeão! É verdade, em 77 foi campeão da 2ª Divisão, e na temporada seguinte campeão da 1ª. Para além do campeonato a máquina montada por Clough e Taylor vence ainda a Taça da Liga de 77/78. Factos que seriam eternizados como o milagre de Nottingham. Mas o sonho real não acabaria aqui, já que na época seguinte, a dulpa maravilha, Clough/Taylor, através do seu futebol ofensivo e de rasgo bonito, vai mais longe e conduz o pequeno clube à glória europeia! O Forest chega à final da Taça dos Campeões Europeus de 1979, realizada em Munique, onde derrota por 1-0 os suecos do Malmo. Nunca o Nottingahm Forest em toda a sua história havia participado numa prova europeia, e na primeira vez que o fazia era campeão. Pura sorte, terão dito alguns. Pura sorte? Clough contrariou, ao seu estilo, os céticos em aceitar o sucesso do Forest, e na época seguinte venceu de novo a maior competição europeia, derrotando na final o poderoso Hamburgo, igualmente por 1-0, em Madrid. A juntar a isto vence ainda a Supertaça Europeia - à custa do poderoso Barcelona - e mais uma Taça da Liga. Brilhante. Ainda hoje os historiadores do futebol olham para o Forest como uma ave rara, o único clube europeu que tem mais Taças dos Campeões Europeus (2) do que campeonatos nacionais (1).


A lenda Brian Clough, numa das
últimas aparições no banco do Forest
Brain Clough transformou um pequeno e modesto clube numa potência continental, capaz de aniquilar fosse qual fosse o clube. Foram 18 anos consecutivos de uma ligação que ainda hoje é histórica, de uma história que assume contornos de lenda, e que terminaria em 1992/93, quando um Brian Clough já muito debilitado, e sem o seu fiel escudeiro Peter Taylor - retirado do futebol em 82 -, não evita a descida do Nottingham Forest à 2ª Divisão, de onde... nunca mais saiu, até hoje. Na década de 80 Clough fez ainda com que mais duas Taças da Liga viajassem para Nottingham, estabelecendo ainda outros recordes que ainda hoje perduram no Hall of Fame do futebol britânico, como, por exemplo, o facto de o clube ter estado 42 jogo seguidos sem conhecer a derrota para o campeonato. Com ele o Forest somente por uma ocasião ficou abaixo dos 10 primeiros lugares ao longo dos 18 anos em que o treinador comandou os destinos do clube, precisamente o ano em que desceu de divisão. Deixou o Nottingham Forest com um registo de 411 vitórias em 907 jogos, e muitas, e saborosas, coroas de glória conquistadas.
Após a sua saída o clube entrou em declínio, e Clough também, na verdade. De novo de costas voltadas para Peter Taylor, que viria a falecer em 1990, sem que tivesse feito as pazes com o seu velho companheiro de aventuras futebolísticas, Brian Clough entregou-se ao álcool - no início do novo milénio teve mesmo de ser submetido a um transplante de fígado. 

Seleção inglesa? «Nunca me contrataram, pois sabiam que eu iria mandar naquilo»


Sim, eu fui o melhor de todos!
Brian Clough viveu um conto de fadas no futebol, podemos hoje afirmar ao olhar para o seu ímpar trajeto. Contudo, apenas uma mágoa o acompanhou até ao fim dos seus dias: nunca ter sido selecionador inglês. Hoje em dia os ingleses costumam brincar com este facto, ao dizerem que Clough foi o melhor treinador que a sua seleção... nunca teve. E porquê nunca teve? «Tenho a certeza de que eles acharam que, caso me dessem o emprego, eu quereria mandar naquilo», explicou vezes sem conta o lendário Brian Clough sempre que questionado sobre tal mistério. Há quem defenda, um pouco mais a sério, que a sua forma irreverente de atacar outros colegas de profissão, jogadores, ou dirigentes, não era digna... de um selecionador inglês. O único treinador que reuniu numa só figura ingredientes como carisma, arrogância, egocentrismo, autoritarismo, talento, e uma vontade férrea de vencer faleceu aos 69 anos em 20 de setembro de 2004, vitimado por um cancro. O homem que um dia disse «Não fui o maior treinador, mas sempre estive entre os primeiros» é hoje um mito, sobretudo para as comunidades rivais de Derby e Nottingham, sendo exemplo disso a estrada que liga as duas cidades ser batizada de Brian Clough Way (estrada Brian Clough). As opiniões no mundo do futebol sobre quem é o melhor nisto ou naquilo dividiram-se sempre ao longo dos anos, mas para mim, e desculpem mais uma vez os estimados visitantes estar eu a emitir mais uma vez a minha opinião pessoal, Brian Clough foi o maior génio da classe dos treinadores, o molde original do nosso José Mourinho. 

Vídeo: Documentário sobre Brian Clough - 
The Greatest Manager That England Never Had

terça-feira, março 11, 2014

Estrelas cintilantes (37)... Jaguaré

Jaguaré
Hugo Gatti, René Higuita, José Luis Chilavert, Juan Carlos Henao, ou Rogério Ceni, nomes que para além de sul-americanos têm em comum o facto de serem lendas excêntricas das balizas, ou traduzido em linguagem popular, guarda-redes detentores de uma boa dose de loucura. Característica esta tão comum nos keepers nascidos na região mais a sul do continente americano, expressas em dribles serpenteantes por entre os dianteiros rivais, em defesas acrobáticas, ou na arte de concretizar na baliza contrária. O primeiro louco das balizas reuniu em torno da sua figura estas três características, que como é óbvio, fizeram dele o primeiro ícone excêntrico que no retângulo de jogo não se contentou apenas em ocupar a solitária posição de guarda-redes. Jaguaré Bezerra de Vasconcellos quis muito mais, ambicionou conquistar terrenos que não eram seus, e ali chegado criou obras de arte futebolísticas só ao alcance dos grandes astros da bola, como Pelé, Maradona, Di Stéfano, Eusébio, Cruyff, ou Garrincha, o anjo das pernas tortas, figura mítica do futebol mundial que serviu de molde para que em 1954 uma revista desportiva imortalizasse Jaguaré como o Garrincha das Metas (balizas). E tal como Mané a nossa estrela cintilante de hoje nasceu sob os raios de sol - quase sempre abrasador - que iluminam de uma forma muito especial o Rio de Janeiro, cidade onde a 14 de maio de 1905 nasce então o filho de Antônio Bezerra de Vasconcellos e de Raimunda Tavares de Vasconcellos. No bairro carioca da Saúde, lugar habitado na sua esmagadora maioria por famílias pobres, cresceu o menino Jaguaré. Localizado nas margens da Baía de Guanabara, a Saúde era um dos cinco bairros cariocas que partilhavam o porto da Cidade Maravilhosa, sendo por isso vulgar que a maioria dos seus habitantes - quase todos afro-descendentes - estivesse profissionalmente ligada à estiva. O caminho de Jaguaré não foi diferente dos seus conterrâneos, e ainda muito novo troca as brincadeiras de criança pela dureza do cais, onde abraça a profissão de estivador.


O "Garrincha das Metas" a atuar em terrenos
do campo que não o seu
Nos poucos tempos livres da sua cinzenta infância fazia da bola o seu brinquedo de eleição. Tratava-a carinhosamente por «minha bichinha», uma relação de amor puro e... eterno, que teve os seus primeiros capítulos oficiais no Vasco da Gama, clube carioca no qual Jaguaré deu os primeiros passos no futebol. Aconselhado por um amigo seu a fazer uns testes no emblema Cruz Maltino o rapaz rapidamente foi mandado para debaixo dos postes, onde desde logo demonstrou qualidades, valentia, e sobretudo um... enorme sentido de humor quando se cruzava no campo de batalha com os seus colegas de ataque. Passamos a explicar. A vincada habilidade de Jaguaré com a bola nos pés era traduzida em dribles serpenteantes aplicados aos jogadores de campo contrários, jogadas que levavam diversão à torcida, e revolta aos adversários. São muitas as histórias que eternizam as brincadeiras - de mau gosto, para alguns - do guarda-redes nos anos em que este defendeu a baliza vascaína, algumas delas guardadas no livro "O Negro no Futebol Brasileiro", da autoria de Mário Filho, destacando-se entre muitas aquela em que Jaguaré num jogo ante o América «quase mata Alfredinho de raiva. Primeiro, defendeu um chute do atacante americano somente com uma das mãos. Depois atirou a bola na cabeça de Alfredinho para fazer nova defesa». Lances como este ficariam celebrizados na história do jogo como as molecagens de Jaguaré. E foram tantas... 

Ídolo vascaíno


Equipa do Vasco da Gama que conquistou
o título de campeão estadual do Rio de Janeiro em 1929
A veia circense de Jaguaré lotava os estádios onde o Vasco da Gama jogava. A ligação do menino estivador ao popular emblema carioca deu-se em 1928, o tal ano em que aconselhado pelo seu amigo, e defesa vascaíno, Espanhol, o rapaz do Bairro da Saúde vai prestar provas ao clube. Bastou um treino apenas para que os responsáveis do Vasco admitissem Jaguaré para a sua equipa principal, onde desde logo se apoderou da baliza. Reza a lenda que uma vez titular absoluto das redes vascaínas, Jaguaré afugentava com o seu poderoso remate todos os pretendentes ao seu trono. Quando alguém se aventurava a ir fazer um teste para tentar ser o novo dono da baliza vascaína Jaguaré assumia o papel de examinador, ou seja, assim que o candidato a goleiro assumia posição entre os postes o dito examinador encarnava na pele de um feroz avançado, fazendo uso do seu forte pontapé numa sessão de tiro ao alvo, sendo que o alvo não era a baliza mas sim o pretendente a guarda-redes. Assim que o pobre era apanhado em cheio por uma das bombas de Jaguaré, fugia dali a sete pés, continuando o gol (baliza) vascaíno nas mãos do moleque da Saúde. Em 1929 o Vasco da Gama agregou a si um leque de talentosos jogadores, sobressaindo, para além de Jaguaré, que era já um dos ídolos do futebol carioca daqueles anos 20, nomes como Fausto, Brilhante, Itália, Tinoco, e um tal de 84 (!) - nome curioso para um jogador de futebol, sem dúvida. Juntos guiaram o emblema Cruz Maltino à conquista do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro desse ano. 
Jaguaré na seleção

A veia artística de Jaguaré não passa despercebida aos responsáveis pela seleção brasileira, sendo que entre 1928 e 1929 o goleiro é chamado por três ocasiões ao escrete - que ainda não era canarinho - para a disputa de partidas amigáveis ante as equipas do Motherwell (Escócia), do Barracas (Argentina), e do Rampla Juniors (Uruguai). Em 1931 a vida do guarda-redes que adorava desafiar os avançados contrários com saídas aventureiras da sua zona de ação conhece um novo capítulo. O Vasco da Gama promove uma digressão da sua equipa principal até Portugal e Espanha, países cuja interpretação do futebol deixou Jaguaré maravilhado. O goleiro mostrou-se fascinado com os modos cavalheirescos e profissionais com que o belo jogo era tratado no Velho Continente, em contraste com o rude amadorismo como era vivido no seu país. Face a esse fascínio Jaguaré e o seu colega de equipa Fausto não fizeram a viagem de regresso ao Brasil, forçando, em Espanha, a saída imediata do Vasco da Gama, para em seguida firmar contrato com o Barcelona. Ligação que seria histórica, já que desta forma Jaguaré e Fausto tornavam-se nos primeiros futebolistas brasileiros a jogar - profissionalmente - na Europa.

Catalães não acharam muita graça às molecagens de Jaguaré



Jaguaré e Fausto, os primeiros brasileiros
a jogar no estrangeiro
A permanência na Catalunha é porém curta. Alvos de preconceito por parte dos dirigentes e adeptos do Barça os dois atletas somente aguentaram cerca de um ano com a camisola blaugrana. Ao que se diz não foi só a cor da pele - em tons de negro - de ambos que deu aso à antipatia dos catalães face às suas figuras, mas sobretudo as brincadeiras de Jaguaré no terreno de jogo. Na pele de uma criança grande o carioca continuava a gingar entre os adversários com a bola nos pés por terrenos pouco habituais para um guarda-redes, pelo menos na ótica dos responsáveis e adeptos do Barcelona, que nunca acharam muita piada às molecagens de Jaguaré. Após a aventura falhada em Espanha regressa ao Brasil... como um herói. A notícia do seu regresso foi recebida em delírio por um país que continuava a idolatrar o seu estilo inconfundível de interpretar o jogo. No retorno à pátria foi para São Paulo, cidade onde defendeu com estilo a baliza do Corinthians. Com estilo na verdadeira ascensão da palavra, uma vez que da Europa trouxe algumas modas até então nunca vistas nos goleiros de futebol, como por exemplo o uso de luvas e do boné que caracterizava os guarda-redes europeus. Jaguaré tornava-se assim cada vez mais num espetáculo dentro do próprio espetáculo.

Nova travessia no Atlântico: rumo a Lisboa


Jaguaré com as cores do Sporting frente
grande rival Benfica

Jaguaré não ficou perturbado pela experiência menos positiva de Barcelona, e em 1935 atravessa de novo o Atlântico rumo a Lisboa, desta feita para defender as cores do Sporting. À semelhança do ocorrido na Catalunha também a estadia do brasileiro em solo luso foi curta, mas ao que se sabe um pouco mais feliz em relação à primeira experiência. Jaguaré fez, de certa forma, história no futebol português, desde logo por ter sido o primeiro guarda-redes a usar luvas, tal como havia acontecido no Brasil. Entre novembro de 1935 e abril de 1936 o excêntrico jogador defendeu por sete ocasiões a baliza leonina, tendo vencido seis jogos e perdido apenas um - para o rival Benfica. Tal como no Brasil e em Espanha o estilo brincalhão e provocador que Jaguaré exibia em campo causou algum impacto em Portugal. Certo dia, num embate contra o Benfica, Jaguaré cuspiu na bola antes do benfiquista Aníbal José partir para a conversão de uma grande penalidade. Desconhecendo-se se com algum nojo ou não por tal atitude o que é certo é que Aníbal José atirou o esférico por cima da baliza. O árbitro mandou repetir o lance, e Jaguaré voltou a cuspir na bichinha, como ele gostava de chamar a sua companheira das brincadeiras, e mais uma vez o jogador do Benfica voltou a falhar o penalti. Reza ainda a lenda que num outro encontro, desta feita ante a Académica, Jaguaré sai a correr da baliza para travar um ataque contrário, sendo que posteriormente na posse da bola sai ele próprio a jogar em contra-ataque perante o espanto de colegas, adversários, e do próprio público. Como já foi referido a estadia do brasileiro em Lisboa durou apenas seis meses, muito por culpa de um jovem de 20 anos chamado Azevedo, figura esta que ao agarrar a titularidade da baliza sportinguista iniciava um trajeto que o haveria de o levar até ao Olimpo dos Deuses do futebol português. Mesmo tapado por aquele que viria a ser caracterizado como um dos melhores guardiões lusos de todos os tempos, Jaguaré enriqueceu ao serviço do Sporting o seu currículo desportivo, na sequência da conquista do título de campeão de Lisboa de 35/36. 


O penalti da fama em França


Equipa do Olympique de Marseille campeã de França em 1937

Deixando para trás a capital portuguesa Jaguaré rumou para a edílica região do sul de França, para representar o Olympique de Marseille (OM), onde se tornou ídolo. As suas excêntricas exibições ao serviço dos marselheses atraíram até si as luzes da ribalta, a fama que tanto buscou em Espanha e em Portugal e nunca alcançou. No Marselha foi peça fundamental para a conquista de títulos que ainda hoje se destacam no vasto currículo do emblema marselhês muito por culpa das brincadeiras que Le Jaguar - como a imprensa gaulesa o iria apelidar - efetuava em campo. Reza a lenda que em França a excentricidade de Jaguaré atingiu contornos vincados: danças com a bola nos pés em frente aos adversários, defesas com pontapés de bicicleta - terá sido nele que Higuita se inspirou para edificar a sua famosa defesa escorpião? - provocações constantes a adversários que os levavam à profunda irritação, e goleador. É verdade, goleador. Jaguaré foi o primeiro guarda-redes a converter grandes penalidades, facto ocorrido na final da Taça de França de 1938, a qual colocou frente a frente o OM e o Metz. Lance imortalizado da seguinte forma pela revista Sport Ilustrado na edição de 22 de junho de 1938:  «Aos 22 minutos, Laurent, do Metz, fez um penalty. Com surpresa de todos os assistentes, Jaguaré abandonou o seu posto e encaminhou-se para o goal adversário. Jaguaré collocou-se diante da bola, e quando o árbitro apitou, bateu o penalty. Ouviu-se uma exclamação da assistência. Jaguaré enviou a bola a um canto e marcou o goal de empate. Foi um lance sensacional. Um arqueiro fazer um goal contra o adversário! Em nossa capital, jamais houve um caso, em partida official, de um arqueiro executar um penalty».  
Final onde a excentricidade do brasileiro iria mais além ao defender uma grande penalidade com um salto impressionante, onde mais parecia um... jaguar a agarrar a sua presa.



Jaguaré atuando pelo Corinthians
disputa uma bola com o astro do
futebol brasileiro da época:
Arthur Friendenreich
Entre 1936 e 1939 - o período de permanência no OM - Jaguaré atingiu o ponto mais alto da sua carreira ao serviço do futebol gaulês. Foi campeão nacional em 1937 e venceu, como já vimos, a Taça de França de 38. O eclodir da II Grande Guerra Mundial na Europa fê-lo regressar a casa, assustado (com a guerra)... e pobre. A criança grande que Jaguaré exibia dentro dos campos de futebol era igualmente transportada para o seu dia-a-dia pessoal. Não soube poupar um único cêntimo do que havia ganho na Europa, gastando todo o dinheiro que ganhava com amigos nas molecagens da vida mundana. Ao voltar à sua pátria abraçou de novo a dura profissão de estivador. No Rio de Janeiro ainda atuou pelo São Cristóvão, mas sem o sucesso arrecadado no Vasco da Gama ou no Marselha. A vida dura no seu país aliada às saudades que tinha da Europa fazem-no regressar ao Velho Continente, e de novo com Portugal como destino. Desta feita ruma ao norte do país, onde defende as balizas do Académico do Porto , entre 1938 e 1940. As informações sobre a estadia - e sobretudo sobre as peripécias - de Jaguaré na Cidade Invicta são escassas, ou mesmo nenhumas. Atravessou pela última vez o Atlântico para morrer na mais profunda miséria na sua pátria. Sabe-se que passa os últimos anos da sua vida em Santo Anastácio (Estado de São Paulo) onde se entrega às bebidas alcoólicas e às lutas de rua. E seria precisamente na sequência de uma dessas lutas de rua que Jaguaré voltaria a ser notícia nos jornais por uma última vez, depois de ser espancado até à morte por três polícias com quem se tinha envolvido em confrontos. Estávamos a 27 de agosto de 1946, data em que o pioneiro das loucuras de Higuita, Gatti, Henao, ou Chilavert dizia adeus ao mundo terrestre. 
Uma rara fotografia de Jaguaré aquando da sua
passagem pelo Académico do Porto