Jogadores há que por mais que o tempo pule e avance a uma velocidade relâmpago jamais se esquecem. Notáveis artistas cujas obras de arte pintadas nos relvados do passado prevalecem em lugar de destaque nos corredores da nossa memória, tendo muitos deles contribuído para que hoje sejamos profundos admiradores do "belo jogo". É com esta entrada algo nostálgica que hoje faço uma viagem à minha infância, aos primeiros anos de contacto com este futebol que tanto me encanta. E faço-o recordando um dos principais responsáveis pela minha atração pelo jogo, aliás, mais do que me fazer encantar pelo jogo do povo ele foi um dos notáveis jogadores que fizeram despertar em mim a paixão por um pequeno grande clube, o emblema que desde o primeiro dia em que com ele travei conhecimento ficou gravado no meu coração, e ali permancerá para sempre, disso estou certo. Este nome que o Museu Virtual do Futebol irá hoje recordar pode até nem figurar no "Grande Atlas do Futebol Global" - a meu ver muito injustamente - mas por certo vive na memória de muitos, muitos mesmo, que o viram interpretar o jogo de uma forma sublime e ao mesmo tempo mágica. Jovica Nikolic, o seu nome. Fez parte de uma geração dourada de jogadores nascidos na então Jugoslávia, um país que ao longo da história "fabricou" centenas de ícones do futebol mundial.
Jovica Nikolic nasceu a 11 de julho de 1959, em Svetozarevo (atualmente uma localidade pertencente à Sérbia), tendo começado a sua brilhante carreira futebolística no FK Jagodina. Na qualidade de médio ofensivo Nikolic cedo daria nas vistas, e clubes de maior envergadura da Jugoslávia lançaram de imediato o isco ao talentoso artista, tendo o histórico e popular Estrela Vermelha levado então a melhor sobre a concorrência. Corria o ano de 1983 quando Jovica vestiu pela primeira vez a prestigiada camisola do emblema de Belgrado. E logo na temporada de estreia tornou-se um dos principais jogadores da equipa que em 83/84 viria a conquistar o título de campeão nacional jugoslavo, sobressaindo - e de que maneira - na posição 10, como o pensador de todo o jogo da sua equipa, mas também como um goleador, tendo efetuado nessa célebre temporada 8 remates certeiros.
Momento de bronze em Los Angeles
As boas aparições de Jovica Nikolic no campeonato jugoslavo não deixaram dúvidas aos responsáveis pela federação daquele país de que ele poderia ser um dos rostos da nova geração de futebolistas que por aqueles dias emergiam no país, uma geração capaz de levar a Juguslávia a (re)viver algumas das alegrias vivenciadas no passado. Nomes como o guarda-redes Tomislav Ivkovic, Srecko Katanec, ou Dragan Stojkovic eram alguns dos "diamantes por lapidar" que a Jugoslávia queria mostrar ao Mundo do futebol, e que na verdade anos mais tarde viriam mesmo a tornar-se lendas do desporto rei. A primeira vez que as luzes da ribalta incidiram sobres estes jovens astros foi em 1984, no palco do maior evento desportivo do planeta, os Jogos Olímpicos, que nesse ano tiveram lugar em Los Angeles (Estados Unidos da América). Naturalmente Nikolic estava entre os eleitos do técnico Ivan Toplak para guiar a jovem Jugoslávia o mais longe possível. E o que Jovica Nikolic fez em terras americanas ao serviço da sua seleção não foi mais do que um prolongamento daquilo o que havia feito no campeonato jugoslavo desse ano, isto é, colocando em campo toda a sua veia artística traduzida em exibições categóricas que ajudariam o país dos Balcãs a chegar até à medalha de bronze dessas Olimpiadas. Nikolic sobressaiu sobretudo na 1ª fase do torneio, ao apontar 3 dos 7 golos da sua seleção, um ante os Camarões, outro diante do Canadá, e outro perante o Iraque. Nos quartos-de-final não marcou, mas ajudou e muito a Jugoslávia a levar de vencida a poderosa Alemanha Ocidental - onde pontificavam nomes como Andreas Brehme, ou Guido Buchwald - por expressivos 5-2. Seguiu-se o duelo com a França orientada pelo mestre da tática Henri Michel, alusivo às meias-finais, o homem que acabaria com o sonho dos jovens artistas do leste europeu em chegar ao título olímpico na sequência de uma vitória - suada - por 4-2. A aventura de Nikolic nos Jogos de 1984 terminaria nesse dia, no Estádio Rose Bowl, em Pasadena, já que no jogo da disputa pela medalha de bronze o treinador Toplak optou por dar a oportunidade de jogar aos atletas menos utilizados na brilhante campanha olímpica, uma espécie de prémio, digamos assim, os quais não se mostraram em nada inferiores aos titulares e ofereceram à Jugoslávia a medalha de bronze na sequência de uma vitória por 2-1 ante a Itália do então jovem e promissor defesa Franco Baresi. A medalha de bronze dos Jogos Olímpicos de 1984, viria a ser o título mais pomposo da carreira de Jovica Nikolic.
Terminada a aventura americana o jogador voltou ao Estrela Vermelha, ao serviço do qual em 1984/85 iria vencer a Taça da Jugoslávia. A estrela de Nikolic brilhava a grande altura por estes dias, não sendo de estranhar que em setembro de 1985 fizesse a sua estreia pela seleção principal do seu país, num encontro referente à fase de qualificação para o Campeonato do Mundo do México (1986) diante da Alemanha Oriental. Encontro de boas e más recordações para Nikolic, uma vez que esta estreia não correu nada bem como comprova a surpreendente derrota caseira (1-2) com os alemães de leste.
A não qualificação da Jugoslávia para o México 86 como que coincidiu com a inexplicável curva descendente de Jovica Nikolic no Estrela Vermelha. O atleta começou a aparecer menos vezes no conjunto de Belgrado, sendo que nas duas últimas temporadas ao serviço deste emblema apenas participou em 14 encontros! Mesmo assim ainda se sagrou campeão nacional em 1987/88.
Ídolo no Salgueiros
E no fim da temporada de 88/89 Nikolic colocou um ponto final num casamento de 6 anos com o Estrela Vermelha, e numa altura em que contava já com 30 anos de idade decide aventurar-se no estrangeiro, seguindo as pisadas de tantos outros compatriotas seus rumo a paragens mais atrativas. E Portugal foi o país escolhido para relançar uma carreira que se encontrava algo estagnada... de forma incompreensível. Escolheu o Salgueiros, popular emblema da cidade do Porto, que na época se encontrava a militar nos escalões secundários do futebol português. E logo na época de estreia no clube de Paranhos Nikolic deu nas vistas, assumindo-se de imediato como o cérebro da equipa, o homem que criava todo o jogo ofensivo, mostrando aos apaixonados adeptos salgueiristas a sua técnica apurada aliada a uma invulgar e notável visão de jogo. Nessa temporada de estreia (1989/90) ajudou o Salgueiros a voltar ao seu "habitat natural", o mesmo é dizer, à 1ª Divisão, o principal campeonato português, uma subida conquistada de forma épica e memorável na última jornada da Zona Centro da 2ª Divisão, em Espinho, onde o Salgueiros bateu por 2-1 o Sporting local e fez a festa. Na qualidade de vencedor da Zona Centro da 2ª Divisão Nacional os encarnados do Norte disputaram com os vencedores das zonas Norte e Sul (respetivamente o Gil Vicente e o Farense) o título de campeão do referido escalão, título esse que viria a ser arrecadado pelo Salgueiros, que no banco - como treinador - tinha uma ex-estrela do futebol jugoslavo, Zoran Filipovic.
E de regresso à 1ª Divisão Nacional na época seguinte poucos acreditavam que os comandados de Filipovic não fizessem mais do que lutar até à última jornada para evitar nova descida ao inferno do segundo escalão. Enganaram-se. Em 1990/91 o Salgueiros foi tão somente uma das equipas que melhor futebol praticou em Portugal, com ajuda de uma equipa de aplicados "operários" como Madureira, Rui França, Pedro Reis, Tozé, Vinha, ou o trio de jugoslavos composto por Djoncevic, Milovac, e claro, Nikolic. Nomes que fizeram com estes fossem os anos dourados do popular clube portuense, tendo o prémio - mais do que justo - para o excelente e inolvidável trajeto de 90/91 sido um pomposo 5º lugar final, o mesmo é dizer, o apuramento para a Taça UEFA da temporada seguinte! Histórico. A título pessoal já aqui falei - noutras visitas ao passado - que 90/91 foi a temporada em que o meu coração foi conquistado pelo Salgueiros, a época em que descobri a mística da alma salgueirista, um sentimento inexplicável e ao mesmo tempo único. O amor ao Salgueiros não se explica, vive-se, ponto final. Um amor descoberto num célebre encontro dessa temporada de 90/91 diante do Estrela da Amadora, em Vidal Pinheiro, o lar do Salgueiral - nome popular pelo qual o Sport Comérico e Salgueiros é chamado -, o lar que senti desde logo meu assim que lá entrei pela primeira vez nessa tarde domingueira na companhia do meu pai e do meu tio. Os gritos de incentivo das gentes do Salgueiros, o sentir do pulsar dos seus corações a cada passe de um jogador vestido com aquela mágica camisola vermelha, a proximidade aos Deuses salgueiristas, tudo isto, e muito mais, fizeram de mim um membro daquela família única. Deixei-me encantar com a alma enorme do desengonçado Vinha (de quem já aqui falei no MVF), um alto avançado de origem cabo-verdiana que faz parte da galeria dos notáveis atletas que um dia vestiram a camisola do Salgueiros, e vibrei com a arte do cerebral número 10 daquela mágica equipa: Nikolic. Ou melhor, o Niko, como era carinhosamente chamado nas bancadas do mítico estádio Vidal Pinheiro. «Anda Niko, chuta Niko», eram alguns dos gritos de guerra populares sempre que este gigante jugoslavo (de 1,87m) pegava na bola. O Niko ensinou-me a gostar de futebol, mais do que aquilo que já gostava, e acima de tudo fez-me gostar do Salgueiros. Na temporada seguinte ele entrou novamente para a história do clube, participando nos dois jogos da 1ª eliminatória da Taça UEFA ante os franceses do Cannes, onde começava a aparecer um jovem de origem argelina chamado Zidane. E aqui faço uma ponte entre estes dois génios, Zidane e Nikolic, o primeiro com o passar dos anos tornou-se numa das maiores lendas da história do futebol, enquanto que ao outro faltou quiçá uma ponta de sorte para se tornar numa estrela do futebol internacional. Talento não lhe faltou, mas a sorte nada quis com ele. Posso até estar a dizer uma asneira, mas quando Zidane começou a despontar internacionalmente para o futebol eu via nos seus rasgos mágicos uma ponta de... Nikolic, verdade, o Niko tratava a bola como um cavalheiro, conduzindo-a num estilo muito semelhante ao do franco-argelino.
Nikolic abandonou o Salgueiros no final da temporada de 1992/93, despindo uma camisola que vestiu aproximadamente numa centena de ocasiões. Não deixou Portugal, tendo ainda atuado nas duas épocas seguintes ao serviço do Maia, na 2ª Divisão, mas sem o fulgor de outros tempos. A idade começava a pesar. De Portugal partiu posteriormente, quase sem deixar rasto, sabendo-se apenas que entre 2008 e 2010 teve uma aventura enquanto treinador, ao serviço do FC Ordabasy, do Cazaquistão.
Tal como eu, são muitos os salgueiristas que ainda hoje falam com saudade do Niko, um dos artistas do melhor Salgueiros de todos os tempos, um homem que me fez gostar do futebol... no que ele tem de melhor, pois claro. Obrigado Niko.
Legenda das fotografias:
1-No Estrela Vermelha de Belgrado
2-Com a camisola da Jugoslávia
3-No Salgueiros
Jovica Nikolic nasceu a 11 de julho de 1959, em Svetozarevo (atualmente uma localidade pertencente à Sérbia), tendo começado a sua brilhante carreira futebolística no FK Jagodina. Na qualidade de médio ofensivo Nikolic cedo daria nas vistas, e clubes de maior envergadura da Jugoslávia lançaram de imediato o isco ao talentoso artista, tendo o histórico e popular Estrela Vermelha levado então a melhor sobre a concorrência. Corria o ano de 1983 quando Jovica vestiu pela primeira vez a prestigiada camisola do emblema de Belgrado. E logo na temporada de estreia tornou-se um dos principais jogadores da equipa que em 83/84 viria a conquistar o título de campeão nacional jugoslavo, sobressaindo - e de que maneira - na posição 10, como o pensador de todo o jogo da sua equipa, mas também como um goleador, tendo efetuado nessa célebre temporada 8 remates certeiros.
Momento de bronze em Los Angeles
As boas aparições de Jovica Nikolic no campeonato jugoslavo não deixaram dúvidas aos responsáveis pela federação daquele país de que ele poderia ser um dos rostos da nova geração de futebolistas que por aqueles dias emergiam no país, uma geração capaz de levar a Juguslávia a (re)viver algumas das alegrias vivenciadas no passado. Nomes como o guarda-redes Tomislav Ivkovic, Srecko Katanec, ou Dragan Stojkovic eram alguns dos "diamantes por lapidar" que a Jugoslávia queria mostrar ao Mundo do futebol, e que na verdade anos mais tarde viriam mesmo a tornar-se lendas do desporto rei. A primeira vez que as luzes da ribalta incidiram sobres estes jovens astros foi em 1984, no palco do maior evento desportivo do planeta, os Jogos Olímpicos, que nesse ano tiveram lugar em Los Angeles (Estados Unidos da América). Naturalmente Nikolic estava entre os eleitos do técnico Ivan Toplak para guiar a jovem Jugoslávia o mais longe possível. E o que Jovica Nikolic fez em terras americanas ao serviço da sua seleção não foi mais do que um prolongamento daquilo o que havia feito no campeonato jugoslavo desse ano, isto é, colocando em campo toda a sua veia artística traduzida em exibições categóricas que ajudariam o país dos Balcãs a chegar até à medalha de bronze dessas Olimpiadas. Nikolic sobressaiu sobretudo na 1ª fase do torneio, ao apontar 3 dos 7 golos da sua seleção, um ante os Camarões, outro diante do Canadá, e outro perante o Iraque. Nos quartos-de-final não marcou, mas ajudou e muito a Jugoslávia a levar de vencida a poderosa Alemanha Ocidental - onde pontificavam nomes como Andreas Brehme, ou Guido Buchwald - por expressivos 5-2. Seguiu-se o duelo com a França orientada pelo mestre da tática Henri Michel, alusivo às meias-finais, o homem que acabaria com o sonho dos jovens artistas do leste europeu em chegar ao título olímpico na sequência de uma vitória - suada - por 4-2. A aventura de Nikolic nos Jogos de 1984 terminaria nesse dia, no Estádio Rose Bowl, em Pasadena, já que no jogo da disputa pela medalha de bronze o treinador Toplak optou por dar a oportunidade de jogar aos atletas menos utilizados na brilhante campanha olímpica, uma espécie de prémio, digamos assim, os quais não se mostraram em nada inferiores aos titulares e ofereceram à Jugoslávia a medalha de bronze na sequência de uma vitória por 2-1 ante a Itália do então jovem e promissor defesa Franco Baresi. A medalha de bronze dos Jogos Olímpicos de 1984, viria a ser o título mais pomposo da carreira de Jovica Nikolic.
Terminada a aventura americana o jogador voltou ao Estrela Vermelha, ao serviço do qual em 1984/85 iria vencer a Taça da Jugoslávia. A estrela de Nikolic brilhava a grande altura por estes dias, não sendo de estranhar que em setembro de 1985 fizesse a sua estreia pela seleção principal do seu país, num encontro referente à fase de qualificação para o Campeonato do Mundo do México (1986) diante da Alemanha Oriental. Encontro de boas e más recordações para Nikolic, uma vez que esta estreia não correu nada bem como comprova a surpreendente derrota caseira (1-2) com os alemães de leste.
A não qualificação da Jugoslávia para o México 86 como que coincidiu com a inexplicável curva descendente de Jovica Nikolic no Estrela Vermelha. O atleta começou a aparecer menos vezes no conjunto de Belgrado, sendo que nas duas últimas temporadas ao serviço deste emblema apenas participou em 14 encontros! Mesmo assim ainda se sagrou campeão nacional em 1987/88.
Ídolo no Salgueiros
E no fim da temporada de 88/89 Nikolic colocou um ponto final num casamento de 6 anos com o Estrela Vermelha, e numa altura em que contava já com 30 anos de idade decide aventurar-se no estrangeiro, seguindo as pisadas de tantos outros compatriotas seus rumo a paragens mais atrativas. E Portugal foi o país escolhido para relançar uma carreira que se encontrava algo estagnada... de forma incompreensível. Escolheu o Salgueiros, popular emblema da cidade do Porto, que na época se encontrava a militar nos escalões secundários do futebol português. E logo na época de estreia no clube de Paranhos Nikolic deu nas vistas, assumindo-se de imediato como o cérebro da equipa, o homem que criava todo o jogo ofensivo, mostrando aos apaixonados adeptos salgueiristas a sua técnica apurada aliada a uma invulgar e notável visão de jogo. Nessa temporada de estreia (1989/90) ajudou o Salgueiros a voltar ao seu "habitat natural", o mesmo é dizer, à 1ª Divisão, o principal campeonato português, uma subida conquistada de forma épica e memorável na última jornada da Zona Centro da 2ª Divisão, em Espinho, onde o Salgueiros bateu por 2-1 o Sporting local e fez a festa. Na qualidade de vencedor da Zona Centro da 2ª Divisão Nacional os encarnados do Norte disputaram com os vencedores das zonas Norte e Sul (respetivamente o Gil Vicente e o Farense) o título de campeão do referido escalão, título esse que viria a ser arrecadado pelo Salgueiros, que no banco - como treinador - tinha uma ex-estrela do futebol jugoslavo, Zoran Filipovic.
E de regresso à 1ª Divisão Nacional na época seguinte poucos acreditavam que os comandados de Filipovic não fizessem mais do que lutar até à última jornada para evitar nova descida ao inferno do segundo escalão. Enganaram-se. Em 1990/91 o Salgueiros foi tão somente uma das equipas que melhor futebol praticou em Portugal, com ajuda de uma equipa de aplicados "operários" como Madureira, Rui França, Pedro Reis, Tozé, Vinha, ou o trio de jugoslavos composto por Djoncevic, Milovac, e claro, Nikolic. Nomes que fizeram com estes fossem os anos dourados do popular clube portuense, tendo o prémio - mais do que justo - para o excelente e inolvidável trajeto de 90/91 sido um pomposo 5º lugar final, o mesmo é dizer, o apuramento para a Taça UEFA da temporada seguinte! Histórico. A título pessoal já aqui falei - noutras visitas ao passado - que 90/91 foi a temporada em que o meu coração foi conquistado pelo Salgueiros, a época em que descobri a mística da alma salgueirista, um sentimento inexplicável e ao mesmo tempo único. O amor ao Salgueiros não se explica, vive-se, ponto final. Um amor descoberto num célebre encontro dessa temporada de 90/91 diante do Estrela da Amadora, em Vidal Pinheiro, o lar do Salgueiral - nome popular pelo qual o Sport Comérico e Salgueiros é chamado -, o lar que senti desde logo meu assim que lá entrei pela primeira vez nessa tarde domingueira na companhia do meu pai e do meu tio. Os gritos de incentivo das gentes do Salgueiros, o sentir do pulsar dos seus corações a cada passe de um jogador vestido com aquela mágica camisola vermelha, a proximidade aos Deuses salgueiristas, tudo isto, e muito mais, fizeram de mim um membro daquela família única. Deixei-me encantar com a alma enorme do desengonçado Vinha (de quem já aqui falei no MVF), um alto avançado de origem cabo-verdiana que faz parte da galeria dos notáveis atletas que um dia vestiram a camisola do Salgueiros, e vibrei com a arte do cerebral número 10 daquela mágica equipa: Nikolic. Ou melhor, o Niko, como era carinhosamente chamado nas bancadas do mítico estádio Vidal Pinheiro. «Anda Niko, chuta Niko», eram alguns dos gritos de guerra populares sempre que este gigante jugoslavo (de 1,87m) pegava na bola. O Niko ensinou-me a gostar de futebol, mais do que aquilo que já gostava, e acima de tudo fez-me gostar do Salgueiros. Na temporada seguinte ele entrou novamente para a história do clube, participando nos dois jogos da 1ª eliminatória da Taça UEFA ante os franceses do Cannes, onde começava a aparecer um jovem de origem argelina chamado Zidane. E aqui faço uma ponte entre estes dois génios, Zidane e Nikolic, o primeiro com o passar dos anos tornou-se numa das maiores lendas da história do futebol, enquanto que ao outro faltou quiçá uma ponta de sorte para se tornar numa estrela do futebol internacional. Talento não lhe faltou, mas a sorte nada quis com ele. Posso até estar a dizer uma asneira, mas quando Zidane começou a despontar internacionalmente para o futebol eu via nos seus rasgos mágicos uma ponta de... Nikolic, verdade, o Niko tratava a bola como um cavalheiro, conduzindo-a num estilo muito semelhante ao do franco-argelino.
Nikolic abandonou o Salgueiros no final da temporada de 1992/93, despindo uma camisola que vestiu aproximadamente numa centena de ocasiões. Não deixou Portugal, tendo ainda atuado nas duas épocas seguintes ao serviço do Maia, na 2ª Divisão, mas sem o fulgor de outros tempos. A idade começava a pesar. De Portugal partiu posteriormente, quase sem deixar rasto, sabendo-se apenas que entre 2008 e 2010 teve uma aventura enquanto treinador, ao serviço do FC Ordabasy, do Cazaquistão.
Tal como eu, são muitos os salgueiristas que ainda hoje falam com saudade do Niko, um dos artistas do melhor Salgueiros de todos os tempos, um homem que me fez gostar do futebol... no que ele tem de melhor, pois claro. Obrigado Niko.
Legenda das fotografias:
1-No Estrela Vermelha de Belgrado
2-Com a camisola da Jugoslávia
3-No Salgueiros
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