sexta-feira, janeiro 26, 2024

Histórias do Futebol em Portugal (43)... Braga levou para casa a única edição da Taça da Federação Portuguesa de Futebol

Sporting de Braga na temporada de 76/77, altura em que venceu 
a única edição da Taça da FPF


Braga e Estoril disputam neste início de ano de 2024 o primeiro título oficial do calendário futebolístico português, a Taça da Liga. Não será, por ventura, a final mais esperada – e desejada – dos responsáveis pelo futebol luso, que esperavam, por certo, ver um dérbi eterno (Sporting – Benfica) como cabeça de cartaz daquela que é a mais nova das quatro competições (além do campeonato nacional da 1.ª Divisão, da Taça de Portugal e da Supertaça Cândido de Oliveira) do "principal" futebol em Portugal. Porém, bracarenses e estorilistas atingem a final da Taça da Liga com todo o mérito, há que sublinhá-lo. Vem isto a propósito de um duelo que não é inédito numa final nacional. Por outras palavras, Estoril e Braga já disputaram uma final de uma prova nacional, uma competição relâmpago, visto que apenas conheceu uma edição, a Taça da Federação Portuguesa de Futebol (FPF). Organizada, como o próprio nome indica, pelo organismo que tutela o futebol português, a competição realizou-se após o términus dos Campeonatos Nacionais das 1ª, 2ª e 3ªDivisões da temporada 1976-77, e foi disputada entre os clubes que competiram em cada um dos respetivos escalões nacionais.

Assim, a 1.ª Divisão da Taça FPF foi dividida em quatro grupos de quatro equipas cada, apurando-se para as meias-finais os primeiros classificados. O Braga disputou o grupo A, levando a melhor sobre o grande rival Vitória Sport Clube (de Guimarães), o Varzim, e o Leixões; ao passo que o Estoril integrou o grupo C, terminando em 1.º à frente de Benfica, Sporting e Belenenses (!). Nas meias-finais o Braga (que havia concluído o campeonato da 1.ª Divisão em 8.º lugar) derrotou o campeão nacional dessa temporada, o FC Porto, por 3-1, ao passo que o Estoril (que findou o campeonato do escalão maior luso desse ano em 11.º lugar) bateu o último classificado do Nacional da 1.ª Divisão desse ano, o Atlético, por 2-1.

A final da única Taça FPF da história disputou-se no dia 1 de julho de 1977, e teve como palco o Estádio Municipal de Coimbra, o mítico Calhabé. Vamos assim e à boleia do jornal A Bola, e pela pena de um dos grandes mestres do jornalismo desportivo nacional de todos os tempos, Cruz dos Santos, recordar essa inédita e ímpar conquista dos bracarenses. 

Manchete de A Bola 

De acordo com o célebre jornalista, o Braga justificou a vitória na final, por 2-0, porque teve mais força, tendo sido «claramente superior a estorilistas que em dia de calor intenso saíram de Lisboa a meio da tarde por estrada» (!). Outros tempos, em que mesmo sendo de 1.ª Divisão o futebol português tinha contornos de amadorismo. A final, disputada nessa noite de 1 de julho, foi presenciada por cerca de 7000 espectadores, uma baixa assistência que Cruz dos Santos justificou com a razão de ser não só porque estávamos em plena época de verão como também pelos factos de em campo não estarem nenhum dos chamados "3 Grandes”, e de os dois finalistas atuarem a mais de 200 quilómetros dos respetivos “berços”. Daquela «meia dúzia de milhares de espectadores» - como visualizou o jornalista de A Bola – a maior parte viajou de Braga, dando colorido e ambiente às bancadas. Quanto ao jogo, o Braga apresentou «uma superioridade nítida, inapelável. A tal ponto que deu para na primeira parte, a equipa minhota chegar a jogar bastante bem, a impor-se em todos os capítulos (…) e, depois do intervalo, a afrouxar bastante o andamento e quase se limitar a deixar correr o tempo, sem por isso de deixar de controlar o duelo. (…) (O Braga foi) um vencedor brilhante, realmente, quer pela capacidade do conjunto evidenciada, quer até pelos que dela conseguiram sobressair, pela sua ação individual», analisou Cruz dos Santos, que precisamente neste plano individual destacou os braguistas António Fidalgo, Fernando Martins, Paulo Rocha, Caio Cambalhota, e Chico Faria.

Isto diante de um Estoril que na visão do jornalista se apresentou em Coimbra «amorfo, sem chama, e desligado». De referir que o Estoril tinha nos seus quadros nomes sonantes do então futebol português, sendo o maior de todos eles José Torres, o lendário ponta de lança do Benfica e da seleção nacional que brilhou no Mundial de 1966. Na defesa estorilista pontificava Fernando Santos… futuro selecionador nacional e responsável pela conquista do Campeonato da Europa de 2016 e pela Liga das Nações de 2019.

Braguistas posam para a fotografia com a Taça FPF 

Quanto à marcha do marcador, Caio Cambalhota fez o primeiro golo da noite, aos 17 minutos, na sequência de uma jogada descaída pela direita, com Chico Faria a cruzar rasteiro para a área onde surgiu o brasileiro a antecipar-se à defesa estorilista para rematar para o fundo da baliza de Ruas. O 2-0 aconteceu à passagem do minuto 40, altura em que também numa jogada desenhada pela direita, Chico Faria voltou a cruzar para o interior da área, ao que o guardião canarinho, em mergulho, não consegue intercetar a bola, desviando-a para a frente, onde oportuno Carlos Garcia remata na recarga com êxito. No final, o magriço (de 1966) Hilário, ex-jogador do Sporting que neste final de época 76/77 orientou os nortenhos, explicou que a final da Taça FPF opôs duas excelentes equipas, sendo que na sua opinião o Braga soube aproveitar as duas melhores oportunidades que dispôs na 1.ª parte. Do lado do Estoril, o técnico José Bastos considerou o Braga um justo vencedor, explicando que os golos marcados na primeira metade praticamente sentenciaram o desfecho da partida. 

Lance da final da Taça FPF da 1.ª Divisão 

Sob arbitragem de Castro e Sousa, auxiliado por Mário Martins e Monteiro da Cunha (trio da Associação de Futebol de Coimbra) as equipas alinharam da seguinte forma: Braga – Fidalgo, Mendes, Serra, Fernando Martins, Manuel Vilaça, Paulo Rocha, Pinto, Carlos Garcia (Zézinho, 75), Chico Faria (Beck, 70), Caio Cambalhota, e Chico Gordo. Treinador: Hilário.

Estoril – Ruas, Vieirinha, Fernando Santos, Amílcar, Carlos Peixoto, Óscar Duarte (Quim 64), Nélson Reis, José Torres (Manuel Fernandes, 46), Fernando Martins, Clésio, e João Cepêda. Treinador: José Bastos.

Resta referir que os vencedores das 2.ª e 3.ª divisões desta Taça FPF foram, respetivamente, o Barreirense, e o Bragança.

A Taça FPF

Classificações e resultados da única edição da Taça da FPF:  

1.ª Divisão

Primeira Fase:

Grupo A

                     J-V.E.D.GM-GS-Pts. 

Braga. . . . . .6-4-1-1-13-2-9 pts.

Guimarães. . . .6-3-2-1-11-4-8 pts.

Varzim . . . . .6-3-1-2-7-7 -7 pts.

Leixões. . . . .6-0-0-6-4-22-0 pts.

Grupo B

FC Porto. . . . . .6-5-1-0-13-2-11 pts.

Académico. . . .6-2-2-2- 8-6-6 pts. 

Beira-Mar. . . .6-1-2-3-6-16-4 pts.

Boavista . . . .6-0-3-3-6-9-3 pts. 

Grupo C

Estoril. . . . .6-3-2-1-11-8-8 pts.

Benfica. . . . .6-3-2-1-13-8-8 pts.

Sporting . . . .6-2-2-2-11-12-6 pts.

Belenenses . . .6-1-0-5-6-13-2 pts. 

Grupo D 

Atlético . . . .6-5-0-1-17-4-10 pts.

Portimonense . .6-3-1-2-11-10- 7 pts.

Setúbal. . . . .6-3-1- 2- 11-10- 7 pts.

Montijo. . . . .6-0-0- 6- 6-21-0 pts.

Meias-Finais:

Braga: 3 Porto: 1

Atlético: 1 Estoril: 2

Final:

Braga: 2 Estoril: 0

Conjunto do Barreirense que em 76/7 venceu a 2.ª Divisão da Taça FPF

2.ª Divisão

Primeira Fase:

Grupo A

                        J-V.E.D.GM-GS-Pts.

Famalicão. . . . . .6-4-1-1-10-4 -9

Fafe . . . . . . . .6-3-1-2 -5-6 -7

Chaves . . . . . . .6-2-1-3-8-8- 5

Gil Vicente. . . . .6-0-3-3-3-8-3

Grupo B 

U. Lamas . . . . . .6-3-2-1-11-9-8

Penafiel . . . . . .6-3-1-2-10-8-7

Paços de Ferreira. .6-3-1-2-11-11-7

Régua. . . . . . . .6-0-2-4 -6-10-2

Grupo C

Sp. Covilhã. . . . . . .6-4-0-2-15-10-8

Marinhense . . . . .6-3-1-2 -7-7-7

Sanjoanense. . . . .6-3-1-21-3-4-7

Acad. Viseu. . . . .6-1-0-5-5-19-2

Grupo D 

Portalegrense. . . .6-3-1-2-10-4- 7

Peniche. . . . . . .6-2-2-2-5-6-6

U. Santarém. . . . .6-1-4-1-5-8- 6

U. Coimbra . . . . .6-2-1-3-6-8-5

Grupo E

Barreirense. . . . .6-4-1-1-8-2-9

Odivelas . . . . . .6-4-0-2-9-6-8

Almada . . . . . . .5-1-2-2- 5-8- 4*

Sesimbra . . . . . .5-0-1-4- 2-8- 1*

Grupo F 

Olhanense. . . . . .6-4-1-1-11-9- 9

Vasco da Gama. . . .6-3-2-1-16-13-8

Farense. . . . . . .6-1-2-3 -6-9-4

Juventude de Évora . . . . .6-1-1-4-10-12-3

*Nota: O jogo Almada-Sesimbra não foi homologado pela FPF.

Segunda Fase:

Grupo A

Famalicão. . . . . .2-1-1-0-3-0-3

Covilhã. . . . . . .2-0-2-0-3-3-2

U. Lamas . . . . . .2-0-1-1-3-6-1

Grupo B

Barreirense. . . . .2-1-1-0-3-1-3

Portalegrense. . . .2-1-0-1-2-2-2

Olhanense. . . . . .2-0-1-1-1-3-1

Final:

Famalicão – Barreirense: 0-1

 

A equipa do Bragança que se sagrou campeã da Taça FPF da 3.ª Divisão 

3.ª Divisão

Primeira Fase:

                     J-V.E.D.GM-GS-Pts.

Grupo A

Bragança. . . . . . .6-3-2-1-14-2-8

Monção. . . . . . . .6 -3- 0-3-10-16-6

Vianense. . . . . . .6-2-1-3 -9-10-5

D. Aves . . . . . . .6 -2 -1- 3 - 7-12- 5

Grupo B

Lamego. . . . . . . .6-3-2-1-6-3 -8

Avintes . . . . . . .6-4-0-2- 9-12-8

Oliveirense . . . . .6-2-2-2-12-7-6

Paços de Brandão. . .6-0-2-4 -7-12-2

Grupo C 

Águeda. . . . . . . .6-4-1-1- 8-39

Oliveira do Bairro. .6-3-0-3 -8-10-6

Marialvas . . . . . .6-1-3-2 -7-11-5

Naval  1º Maio. . . . . . . .6-1-2-3 -8-7-4

Grupo D

Marrazes. . . . . . .6-3-2-1 -4-6 -8

Alcobaça. . . . . . .6-2-3-1 -6-4- 7

Batalha . . . . . . .6-1-3-2 -5-6- 5

Elétrico . . . . . .6-2-0-4 -8-7 -4

Grupo E

O Elvas . . . . . . .6-4-0-2-10-6- 8

Nacional. . . . . . .6-3-1-2-11-6 -7

SL Olivais. . . . . .6-3-1-2 -9-9 -7

Alverca . . . . . . .6 -0- 2- 4 - 4-13 -2

Grupo F

Luso. . . . . . . . .6-3-2-19-5 - 8

Aljustrelense . . . .6-4-0-2 -11-8- 8

Santiago do Cacém . .6-1-2-3 -7-8- 4

Silves. . . . . . . .6-1-2-3 -6-12-4

Segunda Fase:

Bragança: 3 Águeda: 0.

Lamego desqualificado.

O Elvas . .2-1-0-1-3-2-2

Luso. . . .2 -1- 0- 1- 2-2-2

Marrazes. .2-1-0-1-2-3-2

Final:

Bragança – O Elvas: 1-0

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