terça-feira, março 08, 2022

Histórias do Futebol em Portugal (33)... "É Carnaval, ninguém leva a mal", assim pensou a nata do futebol português em 1910

O Grupo das Patroas...
Não vai longe no tempo o Carnaval de 2022, e é ainda imbuídos no espírito do entrudo que abrimos hoje as portas do nosso Museu para recuar mais de um século - 112 anos para sermos mais precisos - para recordar um peculiar match protagonizado por algumas das principais estrelas do futebol luso de então. Tudo aconteceu no mítico campo da Palhavã, em Lisboa, onde fazendo jus à quadra carnavalesca que então se vivia resolveram mascarar-se de matrafonas e levar por diante um divertido encontro.

Os mantos sagrados da época, vulgo equipamentos de football, foram substituídos por finos e pomposos vestidos usados pelas damas daquele tempo. De um lado do campo estavam as "patroas" e do outro as "sopeiras" - o termo na época utilizado para denominar uma empregada doméstica. Assim que as "donzelas" entraram em campo travestidas a gargalhada foi geral do público que não perdeu a oportunidade de também se juntar a este pitoresco festejo carnavalesco protagonizado pelos sportsman da capital.

... e o Grupo das Sopeiras
O jogo teve honra de cobertura pela revista Tiro & Sport, a quem cujos créditos das fotografias desta breve história que aqui publicamos pertencem. O Grupo das Patroas era composto na sua maioria pelos jogadores do Clube Internacional de Football, o popular CIF, da família Pinto Basto. Desta ilustre família, responsável pela introdução do futebol em Portugal, deram azo a esta brincadeira, Gastão e Eduardo Luiz, que se faziam acompanhar por outros nomes aristocratas do futebol lisboeta, nomeadamente, Heraldo Ribeiro, Adolfo Burnay, Plácido Duro (que além de futebolista era também um popular tenista), José de Sousa Prego, Carlos Sobral, Nuno de Vasconcelos, Paulo de Eça e Augusto de Freitas. (nota: desconhece-se o nome do 11.º jogador desta equipa). Contava a reportagem da Tiro & Sport que Augusto de Freitas terá sido um reforço "contratado" à última da hora para substituir o benfiquista Cosme Damião, que ao que parece não terá encontrado um vestido que lhe servisse!

Por sua vez, o Grupo das Sopeiras era composto quase em exclusivo pelos donos do campo, o Império, nomeadamente, António Bentes, Borja Santos, Joaquim Alves, Daniel de Freitas, Albino Abranches, Travassos Lopes, Basileu Dantas, Jorge Cadete (não o conhecido futebolista que ainda estava longe de nascer, mas sim um famoso toureiro da época), Filipe Mendes, e o reforço de peso vindo do Sporting, Francisco Stromp.

Uma fase do jogo entre as "donzelas"

Do resultado não reza a história, não se sabendo se as patroas puxaram dos seus galões para controlar as sopeiras, ou se estas últimas se terão emancipado e reivindicado o prémio da vitória. Isso pouco ou nada interessa, ou não fosse aquela uma tarde de Carnaval em que ninguém levava a mal fosse o que fosse.  

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