Aproveitando a viagem da “Máquina do Tempo” a terras sul americanas vamos hoje fazer uma pequena visita a uma das primeiras lendas da gloriosa história do futebol uruguaio. Um talentoso “pintor” que deu vida a alguns dos mais belos quadros do belo jogo num tempo em que este vivia ainda longe dos holofotes do mediatismo que o circundam nos dias de hoje, mas que carregava consigo uma inocente e desmedida paixão difícil de encontrar atualmente.
Isabelino Gradín, um nome, um mito melhor dizendo, que deixou atrás de si um rasto de saudade nos que tiveram a honra e o privilégio de o ver atuar e... uma enorme tristeza para todos aqueles que – como eu próprio – nunca puderam rasgar um sorriso de felicidade após visionarem uma jogada sua. Mais parecendo animados desfiles carnavalescos as “jugaditas” deste avançado inspiraram as gerações seguintes de um pequeno país que é descrito por muitos como o primeiro grande alfobre de magos da arte de conduzir a bola. Isabelino veio ao Mundo a 8 de julho de 1897, tendo a bela Montevideu como berço. Nasceu pobre, muito pobre, num dos bairros mais carenciados da capital uruguaia, Palermo. Era bisneto de escravos africanos (oriundos do Lesotho) e cedo obteve o respeito de um povo numa época em que o racismo atacava ferozmente em cada esquina.
O reinado de Gradín começa em 1915, ano que o também (já) lendário Peñarol atraía a “pérola negra” para os seus quadros, e não perdeu tempo a maravilhar os ferverosos adeptos do clube de Montevideu.
A forma veloz e serpenteada como conduzia o mágico objeto esférico, deixando para trás adversários em catadupa, fazia as pessoas levantarem-se como uma mola esboçando olhares de encantamento perante aquela espécie de magia negra que brotava nas “canchas” de Montevideu.
Os seus dotes não passaram despercebidos a ninguém, muito menos aos responsáveis da seleção uruguaia, que de imediato quiseram ter aquele diamante nas suas mãos. 1915 é então um ano inolvidável para Isabelino: estreia ao serviço do colosso Peñarol onde de imediato ascende ao patamar de estrela-mor, e veste pela primeira vez a mágica camisola (azul) celeste do Uruguai.
Mas este era apenas o primeiro apontamento de uma história que haveria de ter muitos outros capítulos memoráveis. Um ano depois (1916) integra o combinado uruguaio que disputa na Argentina a 1ª edição do Campeonato Sul Americano de Futebol, mais tarde rebatizado como Copa América. Em casa dos vizinhos – e inimigos – argentinos Isabelino e companhia levariam a melhor sobre a concorrência, oferecendo ao Uruguai o primeiro título de campeão das américa da história. Gradín foi uma das principais – senão mesmo a principal – personagens desta fábula uruguaia, atraindo até si as luzes – da ribalta – de um torneio onde foi o melhor marcador com 3 golos.
História curiosa – ou talvez não atendendo ao teor da mesma – dessa primeira Copa América alude ao facto de o Chile ter protestado o jogo em que foi goleado pelos magos uruguaios, por 0-4, pela razão de que estes haviam jogado com dois atletas... negros! Eram eles Isabelino Gradín e Juan Delgado (também ele descendente de escravos africanos). Uma nota sobre o racismo – e também de impotência, porque não dizê-lo, para anular a invulgar arte africana de “acariciar” a bola transposta para o campo de batalha por aqueles dois descendentes de escravos – que imperava numa época em que o futebol era de forma esmagadora praticada por “brancos”. O Uruguai era mesmo, na altura, o único país do Mundo que tinha jogadores negros na sua seleção. Em 1922 Gradín abandona o Peñarol, emblema com o qual conquistou dois títulos de campeão uruguaio (1918 e 1921) para ajudar à fundação do Olimpia (mais tarde rebatizado de River Plate), clube onde jogou até ao final da sua carreira (em 1929).
A lenda de Gradín vai mais longe quando à sua ímpar interpretação técnica do futebol se junta o seu talento para o atletismo! A sua abismal velocidade não foi apenas aplicada nos dribles e escapadas pelos retangulos do belo jogo senão também nas pistas sul americanas. Ali bateu inúmeros recordes e conquistou diversos títulos continentais, entre outros os 400m (em 1918 ,1920 e1922), ou os 200m (em 1919 e 1920). Era uma força da natureza. Lamentavelmente não fez parte daquela que é talvez a maior seleção uruguaia de sempre, a mítica equipa que venceu dois títulos olímpicos (1924 e 1928) e o primeiro Campeonato do Mundo da história (1930), comandada por outro negro, esse rotulado como o primeiro grande jogador negro da modalidade, José Leandro Andrade, de quem aliás já aqui falámos noutras visitas ao passado.
Gradín nasceu pobre e pobre morreu em 1944.
Legenda das fotografias:
1-Isabelino com a camisola do Uruguai
2-Seleção uruguaia que venceu a 1ª Copa América (1916)
3-Com as cores do seu Peñarol
Isabelino Gradín, um nome, um mito melhor dizendo, que deixou atrás de si um rasto de saudade nos que tiveram a honra e o privilégio de o ver atuar e... uma enorme tristeza para todos aqueles que – como eu próprio – nunca puderam rasgar um sorriso de felicidade após visionarem uma jogada sua. Mais parecendo animados desfiles carnavalescos as “jugaditas” deste avançado inspiraram as gerações seguintes de um pequeno país que é descrito por muitos como o primeiro grande alfobre de magos da arte de conduzir a bola. Isabelino veio ao Mundo a 8 de julho de 1897, tendo a bela Montevideu como berço. Nasceu pobre, muito pobre, num dos bairros mais carenciados da capital uruguaia, Palermo. Era bisneto de escravos africanos (oriundos do Lesotho) e cedo obteve o respeito de um povo numa época em que o racismo atacava ferozmente em cada esquina.
O reinado de Gradín começa em 1915, ano que o também (já) lendário Peñarol atraía a “pérola negra” para os seus quadros, e não perdeu tempo a maravilhar os ferverosos adeptos do clube de Montevideu.
A forma veloz e serpenteada como conduzia o mágico objeto esférico, deixando para trás adversários em catadupa, fazia as pessoas levantarem-se como uma mola esboçando olhares de encantamento perante aquela espécie de magia negra que brotava nas “canchas” de Montevideu.
Os seus dotes não passaram despercebidos a ninguém, muito menos aos responsáveis da seleção uruguaia, que de imediato quiseram ter aquele diamante nas suas mãos. 1915 é então um ano inolvidável para Isabelino: estreia ao serviço do colosso Peñarol onde de imediato ascende ao patamar de estrela-mor, e veste pela primeira vez a mágica camisola (azul) celeste do Uruguai.
Mas este era apenas o primeiro apontamento de uma história que haveria de ter muitos outros capítulos memoráveis. Um ano depois (1916) integra o combinado uruguaio que disputa na Argentina a 1ª edição do Campeonato Sul Americano de Futebol, mais tarde rebatizado como Copa América. Em casa dos vizinhos – e inimigos – argentinos Isabelino e companhia levariam a melhor sobre a concorrência, oferecendo ao Uruguai o primeiro título de campeão das américa da história. Gradín foi uma das principais – senão mesmo a principal – personagens desta fábula uruguaia, atraindo até si as luzes – da ribalta – de um torneio onde foi o melhor marcador com 3 golos.
História curiosa – ou talvez não atendendo ao teor da mesma – dessa primeira Copa América alude ao facto de o Chile ter protestado o jogo em que foi goleado pelos magos uruguaios, por 0-4, pela razão de que estes haviam jogado com dois atletas... negros! Eram eles Isabelino Gradín e Juan Delgado (também ele descendente de escravos africanos). Uma nota sobre o racismo – e também de impotência, porque não dizê-lo, para anular a invulgar arte africana de “acariciar” a bola transposta para o campo de batalha por aqueles dois descendentes de escravos – que imperava numa época em que o futebol era de forma esmagadora praticada por “brancos”. O Uruguai era mesmo, na altura, o único país do Mundo que tinha jogadores negros na sua seleção. Em 1922 Gradín abandona o Peñarol, emblema com o qual conquistou dois títulos de campeão uruguaio (1918 e 1921) para ajudar à fundação do Olimpia (mais tarde rebatizado de River Plate), clube onde jogou até ao final da sua carreira (em 1929).
A lenda de Gradín vai mais longe quando à sua ímpar interpretação técnica do futebol se junta o seu talento para o atletismo! A sua abismal velocidade não foi apenas aplicada nos dribles e escapadas pelos retangulos do belo jogo senão também nas pistas sul americanas. Ali bateu inúmeros recordes e conquistou diversos títulos continentais, entre outros os 400m (em 1918 ,1920 e1922), ou os 200m (em 1919 e 1920). Era uma força da natureza. Lamentavelmente não fez parte daquela que é talvez a maior seleção uruguaia de sempre, a mítica equipa que venceu dois títulos olímpicos (1924 e 1928) e o primeiro Campeonato do Mundo da história (1930), comandada por outro negro, esse rotulado como o primeiro grande jogador negro da modalidade, José Leandro Andrade, de quem aliás já aqui falámos noutras visitas ao passado.
Gradín nasceu pobre e pobre morreu em 1944.
Legenda das fotografias:
1-Isabelino com a camisola do Uruguai
2-Seleção uruguaia que venceu a 1ª Copa América (1916)
3-Com as cores do seu Peñarol
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