sexta-feira, janeiro 11, 2008

Grandes lendas do futebol mundial (4)... Enzo Francescoli - O príncipe herdeiro da garra charrúa

Sabe quem foi o ídolo do francês Zinedine Zidane? O jogador que inspirou este famoso gaulês a tornar-se no grande futebolista que todos o conhecemos? A resposta é... Enzo Francescoli.
Isso mesmo, el príncipe do futebol uruguaio, é o génio que hoje vamos visitar na vitrina das grandes lendas do futebol mundial.
Nasceu em Montevideu, no dia 12 de Novembro de 1961, e foi um dos mais brilhantes futebolistas da década de 80 do século passado. Ele foi o sucessor de outros génios uruguaios, como as lendas das décadas de 20 e 30 José Leandro Andrade (de quem aqui já falámos), Scarone, ou Nasazzi, ou os heróis da década de 50 Varela, Maspoli, Ghiggia e Schiaffino.
Foi uma lenda não só no seu país como também na Argentina, onde jogou grande parte da sua carreira. Este é aliás um facto curioso, ou seja, o povo argentino idolatrar um uruguaio, sabendo nós da rivalidade quase de morte existente entre os dois países.
Embora sempre se tenha declarado como adepto incondicional do Peñarol, revelou-se no modesto Wanderers, o único clube que representou no seu país. Neste emblema da capital uruguaia Enzo disputou 74 jogos e apontou 20 golos entre 1980 e 1882. No ano de 1981 ele ajudou a selecção de júniores do Uruguai a conquistar o campeonato sul-americano da categoria, realizado no Equador, tendo sido eleito o melhor jogador da competição.

O futebol elegante, habilidoso e clássico deste avançado (posição onde actuou em grande parte da sua carreira) chamou à atenção dos grandes clubes sul-americanos, e em 1983 o River Plate, da Argentina, contratou-o por 360 mil dólares, naquele que ainda hoje é considerado como um dos melhores negócios da história do clube de Buenos Aires.
Nesta sua primeira passagem pelo River Francescoli jogou até 1986, tendo vencido o Campeonato Nacional Argentino de 1986. No River Plate atingiu um estatuto e reconhecimento quase sem paralelo, sendo respeitado por todo um país, independentemente das cores clubísticas, muito por força do seu perfil de caballero.
A Europa chamou então por si, e o primeiro emblema a contar com os seus préstimos foi o Matra Racing de Paris, na altura orientado pelo português Artur Jorge, onde jogaria até 1989. Considerado como um dos melhores futebolistas do campeonato francês não foi com estranheza que Enzo se mudaria na temporada de 1989/90 para o gigante Olympique de Marselha, onde na altura pontificavam estrelas como o inglês Chris Waddle, o francês Jean Tigana e as então promessas do futebol gaulês Didier Deschamps e Jean-Pierre Papin. Esteve somente uma temporada no poderoso e popular clube do sul de França, o suficiente para se tronar também ali num ídolo, tendo ajudado a equipa a vencer o campeonato dessa época. Ao serviço do Marselha foi considerado o melhor jogador estrangeiro a actuar em França. Neste país realizou 117 jogos e apontou 43 golos.
Mas o paraíso dos melhores futebolistas do planeta nestas décadas era a Itália. País cujo poderoso campeonato ficou enriquecido com a chegada de Enzo Francescoli, em 1990/91, para defender as cores do Cagliari onde esteve três anos. Mudaria-se em seguida para o Torino, em 1993/94, onde não seria feliz. Em Itália disputou 122 jogos e marcou 20 golos, uma prestação menos feliz do que aquela que havia tido em França.
Em 1994 regressaria à Argentina para voltar a defender as cores do seu River Plate, tendo ajudado o clube a vencer o Torneio Abertura de 1994, 1996 e 97, o Torneio Clausura de 1997, e o título mais importante da sua carreira ao nível de clubes a Taça Libertadores da América de 1996 (a primeira da história do River). Venceria ainda em 1997 a Supercopa Libertadores. Com a camisola do River efectuou um total de 197 jogos e apontou 115 golos.
Cada vez que ele entrava em campo, a claque do River Plate cantava: "U-ru-guayo!". Vindo de argentinos, não podia haver maior homenagem. Ao deixar o futebol, no início de 1998 (ano em que recusou uma proposta de 1 milhão de dólares para continuar), Francescoli já estava consagrado como o maior jogador do Uruguai da sua geração.
Quando deixou de jogar o seu rosto foi estampado numa bandeira da claque do River, ao lado de lendas como Di Stefano e Labruna, entre outros. Depois de ter abandonado o futebol, o River deixou de ser temido como antes...


A excepção de uma geração perdida

Apelidado de El Príncipe, Francescoli foi o ídolo do seu país numa época em que o futebol uruguaio estava em nítida decadência. Nesta época a selecção do Uruguai estava muito, mas mesmo muito, longe das poderosas equipas que venceram os Mundiais de 30 e 50. Era uma selecção algo fraca, mas que no entanto alcançou três Copas Américas no espaço de 12 anos! O grande responsável por este feito? Pois claro, Enzo Francescoli. Envergando a mítica camisola 10 azul celeste Enzo carregou a equipa às costas nas grandes competições em que participou. As principais vitórias foram, como já vimos, as conquistas da Copa América de 1983, 1987 e 1995 (cujas fases finais foram realizadas respectivamente no Uruguai, Argentina, e Uruguai). Na de 1987, brilhou na meia.final contra a Argentina, em pleno Monumental de Núñez, em Buenos Aires. Das quatro Copas Américas que disputou perdeu apenas uma, a de 1989, ante o Brasil.
Contudo, não seria feliz nas suas duas únicas participações em fases finais de Campeonatos do Mundo, no fundo o principal sonho de qualquer jogador do planeta. Não teve boas prestações e consequentemente o Uruguai seria eliminado nos oitavos-de-final em ambas as ocasiões, mais precisamente no México 86 e no Itália 90. Marcou um golo em fases finais do Mundiais, mais concretamente em 1986, diante da Dinamarca. Com a camisa do Uruguai disputou 68 jogos e marcou 17 golos.

O ídolo de Zidane
Durante a sua breve passagem por Marselha Francescoli tinha nas bancadas do Estádio Vélodrome ( o recinto deste clube do sul de França) um pequeno adepto marselhês que o idolatrava. Um jovem que se deslocava ao Vélodrome apenas para ver a magia do futebol de Enzo. Esse jovem chamava-se Zinedine Zidene, e anos mais tarde seria ele próprio um génio do futebol mundial. Francescoli foi o ídolo, a inspiração, de Zidane como o francês um dia confessou. Diz a lenda que Zidane, nos idos tempos em que jogava no Marselha, usava uma camisa do River Plate (que havia pertencido a Enzo) por baixo da sua camisola. Quando nasceu o seu primeiro filho, Zidane colocou-lhe o nome de Enzo, em jeito de homenagem ao seu ídolo.

Legenda das fotografias:
1- Enzo Francescoli com a camisola do seu país
2- Actuando pelo seu clube de sempre, o River Plate
3- Oferecendo a camisola do River a Bono aquando da passagem dos U2 por Buenos Aires para um concerto no Estádio Monumental no ano de 2005
4- Erguendo a Copa América de 95, conquistada ao Brasil no Estádio Centenário, em Montevideo
5- A poderosa equipa do Marselha de que Enzo fez parte na época 1989/90

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