Veio para o Porto (Boavista) jogar futebol, acabou no basket, mas afinal a sua paixão era a caça!
Nem tudo o reluz é ouro! Este aforismo bem pode ser aplicado a um episódio caricato que aconteceu no futebol português no ano de 1957 e que teve como protagonista o Boavista, emblema que na época (57/58) militava na 2.ª Divisão Nacional. Por esta altura Portugal era detentor de um vasto império em África, império este de onde extraiu ao longo de décadas a fio vários diamantes futebolísticos que ajudaram a escrever a história do futebol luso. Desse modo, sempre que de Moçambique, Angola, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, ou Guiné Bissau chegava à metrópole algum jogador, a expectativa dos adeptos era logo a de que estaria ali um novo Coluna, ou um Matateu, mas... nem tudo o que vem à rede é peixe, e que o diga o Boavista, que já com a temporada de 57/58 a decorrer acolheu no Bessa uma verdadeira torre! Ou o que se chama hoje em dia na gíria futebolística um pinheiro de área, e que grande pinheiro era este rapaz do alto do seu 1,95m! É verdade, o então futebol luso não estava muito habituado a jogadores desta dimensão - na verdadeira ascensão da palavra - e logo se pensou que poderia estar ali uma solução produtiva (em golos, claro) para o ataque boavisteiro. O rapaz vinha da Guiné-Bissau, e aterrou no Bessa pela mão do seu irmão, Honório Pires, na altura um consagrado centro-campista do emblema portuense. Este jovem, de apenas 19 anos, chamava-se António Reis Pires, e aterrou no Porto com o rótulo de atleta multifacetado, já que além de futebol também praticava basquetebol e voleibol! No entanto, era no Desporto Rei que era atleta federado na sua terra natal, onde antes de prestar provas no Boavista havia representado a União Desportiva Internacional (de Bissau). O que é certo é que chegou ao Porto com o rótulo de futebolista mas rapidamente foi parar à equipa de basquetebol dos axadrezados! Teria sido por falta de jeito para meter a bola na baliza, ou porque realmente o rapaz tinha era altura para o basket? Foi esta questão que a revista Crónica Desportiva tentou descortinar numa visita que fez ao Bessa, numa altura em que Reis Pires - nome pelo qual ficou conhecido - integrava a equipa boavisteira nas provas distritais da Associação de Basquetebol do Porto. Uma conversa com alguma pitada de humor à mistura onde se veio a descobrir que o rapaz também dava uns toques no voleibol, mas que na verdade a sua verdadeira paixão desportiva era outra em que não se recorria a uma bola, mas antes a uma arma de fogo! Deu nota - nessa conversa - de que na Guiné-Bissau praticava as três modalidades atrás referidas, embora no voleibol na condição de amador, mas que o desporto da sua vida era a caça! «Mas já vi que, aqui, pelo continente, só há caça miúda». Perante esta resposta o escriba desta entrevista questionou, com uma pitada de malícia à mistura, se Reis Pires tinha vindo para a metrópole para caçar (?), ao que esteve respondeu de pronto que não, que tinha vindo pela mão do seu irmão, Honório Pires, para estudar e praticar futebol. Mas o que é certo é se via Reis Pires mais nas quadras de basquetebol do que nos retângulos do futebol, porquê? «Estou a treinar futebol com todo o entusiasmo. Sou novo, e enquanto aprendo essa difícil modalidade, vou-me entretendo e, ao mesmo tempo, preparando fisicamente. Sim, porque o basquete é um excelente meio de preparação técnica, como sabe».
Reis Pires com o seu colega (Silva Costa) equipa mais baixo do basket boavisteiro |
E que
pensava Reis Pires do futebol da metrópole? «Muito mais difícil. Mas em compensação
há bons treinadores, com os quais estou a aprender muito. Estou a dedicar-me
com toda a aplicação por forma a bem servir o Boavista. Pelo menos gostaria de
vir a saber tanto como o meu irmão Honório. Quando o vi jogar até fiquei
admirado com o que ele aprendeu por cá. Sim senhor! Como ele está a jogar bem!».
Pois é, mas a julgar pela história (dos anos posteriores) Reis Pires não deve
ter seguido as pisadas do irmão no futebol, já que procurar o seu nome nas enciclopédias futebolísticas é como procurar uma agulha num palheiro; nem tão pouco no basquetebol, onde
o seu nome não consta de grandes feitos, mas quem sabe se não se terá tornado
num exímio caçador?
Estilo não lhe faltava, mas... nem tudo o que reluz é ouro! |
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