Capitão Vandinho ergue a última Taça Intertoto |
Esta
conquista internacional confere ao Braga o direito de se juntar aos chamados 3
Grandes (FC Porto, Benfica, e Sporting) do nosso futebol na glória europeia,
isto é, no rol dos clubes portugueses que já venceram uma prova (oficial) da
UEFA.
Taça Intertoto: o que é (foi) isto?
Sem querer entrar em muitos detalhes da história da quase ignorada Taça Intertoto, apenas dizer que esta competição nasceu de uma ideia a três. Ernst Thommen, Eric Persen e Karl Rappan (o lendário treinador austríaco a quem muito apontam a paternidade do catenaccio) foram as cabeças pensadoras de um projeto que englobava apostas desportivas por um lado, e pelo outro realizar jogos entre equipas de vários países europeus em alturas de veraneio. Passamos a explicar. Sendo a altura de verão, sobretudo os meses de junho e julho, uma época de pouca ou nenhuma atividade futebolística na Europa, quer a nível interno, quer a nível externo, este trio de homens idealizou esta nova competição sobretudo com a ideia de conferir uma maior atividade às apostas desportivas num período em que o futebol estava de férias de verão.
Ou
seja, nestes meses de junho e julho os jogos desta nova prova serviriam para
preencher os boletins das apostas desportivas não só da Suíça – o país onde a
ideia foi germinada – como noutros países da Europa, e desta forma suprimir a
menor atividade no setor das apostas desportivas. E assim nasceu a Taça
Internacional. O pontapé de saída foi dado na temporada de 1961/62, mas sem a
tutela da UEFA, que negou organizar esta competição. Mais tarde, e devido à sua
ligação às lotarias e apostas desportivas, a prova foi rebatizada, passando a
denominar-se de Intertoto, por outras palavras, “Inter”, de Internacional; mais
“Toto”, de Totobola.
O Braga que venceu a Taça Intertoto de 2008 |
A competição conheceu ao longo das primeiras décadas de vida inúmeras fórmulas ou sistema de desenvolvimento, sendo que numas épocas houve uma final e noutras os vencedores eram as equipas que venciam os vários grupos que integravam a Taça Intertoto de determinada época. Foi assim que o Sporting, o primeiro clube português a competir na Intertoto, e o Belenenses, se sagraram vencedores desta competição em 1968 e 1975, respetivamente. Contudo, e tendo em conta que a prova nestes anos não era oficializada pela UEFA estes títulos não constam do palmarés dos dois emblemas lisboetas.
Seria
já anos 90, mais precisamente em 1995, que a UEFA por fim chamou a si a
organização da Taça Intertoto, e oficializou desta forma a competição,
agregando-a à Taça dos Clubes Campeões Europeus/Liga dos Campeões, à Taça UEFA, e à Taça das Taças. O organismo máximo do futebol continental viu na Intertoto a
forma de dar uma segunda oportunidade aos clubes que por via dos seus
campeonatos não haviam conseguido a qualificação para as três principais competições
europeias, e dessa forma, no verão, esses clubes tentavam através da Intertoto
serem repescados/apurados para as taças uefeiras de maior cartaz. De 1995 até
2008, ano em que a prova foi extinta, o sistema de disputa da Taça Intertoto
foi envolto em múltiplas “salgalhadas”, umas vezes com finais, outras só com
meias-finais, e outras sem qualquer fase eliminatória, sendo que os campeões
eram os clubes que vencessem a fase de grupos. Uma autêntica confusão que
acelerou a morte da prova já no novo milénio, que, e diga-se na verdade,
começou de igual modo a ter muitas dificuldades de enquadramento nos
calendários cada vez mais apertados da UEFA – quer ao nível de clubes,
quer de seleções. 2008 foi pois o fim para a Intertoto, mas foi o ano em que o
Braga alcançou a glória europeia ao conquistar a derradeira edição do certame.
Como uma má prestação interna deu origem à glória externa…
Jorge Jesus foi o timoneiro desta conquista |
Jorge
Jesus foi o treinador que dá início à curta e gloriosa caminhada dos
bracarenses na prova, já que só foi preciso disputar apenas uma eliminatória a duas
mãos para virem a ser declarados vencedores. O obstáculo do Braga nesta
aventura europeia foram os turcos do Sivasspor, que em julho de 2008 foram duplamente derrotados pelos arsenalistas na 3.ª e derradeira ronda da Taça
Intertoto desse ano. Com isto o Braga qualificava-se para a 2.ª
pré-eliminatória da Taça UEFA de 08/09, prova onde viria a atingir os
oitavos-de-final.
O
Braga foi um dos 11 clubes (!) a vencer a última eliminatória da derradeira
edição da Taça Intertoto, juntamente com Aston Villa, Grasshoppers, Elfsborg, Deportivo
da Corunha, Rosenborg, Vaslui, Sturm Graz, Napóles, Stade Rennais, e Estugarda.
Mas
como é que o Sporting de Braga foi declarado campeão da Intertoto? Simples, porque
destas 11 equipas foi aquela que mais longe chegou na Taça UEFA de 08/09, aos
tais oitavos-de-final, onde seria afastado pelo Paris Saint-Germain.
O
troféu de campeão da Taça Intertoto de 2008 foi entregue aos minhotos
precisamente no jogo da segunda mão com os parisienses, realizado em Braga, na
noite de 19 de março de 2009.
O relato da glória
Como já foi mencionado, o Sivasspor foi o adversário dos bracarenses na 3.ª ronda da Taça Intertoto de 2008, sendo que a primeira mão foi jogada a 20 de julho em Sivas, na Turquia. À boleia do site Mais Futebol vamos recordar na integra este encontro em que os bracarenses venceram por 2-0.
«O Sporting de Braga venceu este domingo
(nota:
20 de julho) o Sivasspor, na Turquia, por
2-0, em jogo da Taça Intertoto, e praticamente garantiu a passagem à segunda
pré-eliminatória da Taça UEFA. Roland Linz, em período de descontos da primeira
parte, e Moisés, aos 78 minutos, fizeram os golos que permitiram aos
bracarenses partir com uma vantagem de dois golos para o jogo da segunda-mão,
que se disputa no próximo domingo em Braga.
O jogo foi próprio de início de
temporada, jogado num ritmo lento, às vezes algo duro e sem grandes ocasiões de
golo. A formação portuguesa teve a primeira oportunidade de golo, por Paulo
César, logo aos dois minutos, mas o brasileiro atrapalhou-se quando estava
isolado e acabou por perder a oportunidade de marcar. Depois disso o Sivasspor
cresceu e pregou alguns sustos junto da baliza do guarda-redes Eduardo.
Sobre o intervalo, porém, o golo de
Linz. Um golo fundamental no desenrolar do jogo. Wender marcou um livre, o
guarda-redes turco deixou a bola passar-lhe por baixo do corpo e Linz encostou para o fundo das
redes. Logo a seguir veio o intervalo e no regresso dos balneários, em
vantagem, Jorge Jesus trocou o avançado Paulo César por Stélvio Cruz, dando
mais força e capacidade defensiva ao meio-campo bracarense.
A partir daí o Sporting de Braga controlou o jogo. Apesar de ter maior domínio, os turcos só sobre a parte final do jogo obrigaram Eduardo a mais trabalho. Pelo meio Moisés fez o golo que praticamente acabou com a eliminatória. Um golo estranho. O central marcou de trás do meio-campo um livre bombeado, que o guarda-redes deixou que lhe batesse à frente e entrasse meio enrolado na baliza. Um frango monumental de Volkan».
No encontro da
Turquia, dirigido pelo árbitro escocês Douglas McDonalds, o Braga alinhou da
seguinte forma: Eduardo; João Pereira, Moisés, Leone e Evaldo; Frechaut;
Vandinho, Luís Aguiar (Matheus, 73m) e Wender (Filipe Oliveira, 90m); Paulo
César (Stélvio, 46m) e Linz.
A 26 de julho jogou-se na Cidade dos Arcebispos a segunda mão da eliminatória, tendo os bracarenses obtido um novo triunfo, desta feita por 3-0. Na pedreira a TSF relatou o encontro da seguinte maneira:
«O Sporting de Braga assegurou, este
sábado (nota:
26 de julho), a presença na
pré-eliminatória da Taça UEFA em futebol, ao vencer por 3-0 os turcos do
Sivasspor, em partida da segunda mão da terceira ronda da Taça Intertoto,
disputada em Braga.
Depois dos 2-0 conseguidos no jogo da
Turquia, há uma semana, os "arsenalistas" tinham caminho aberto para
continuar na Europa e confirmaram-no com uma exibição e resultado que não
deixam margem para dúvidas.
Praticamente com o mesmo
"onze" utilizado no jogo da Turquia, onde apenas Matheus ocupou o
lugar de Paulo César, o Braga entrou forte e no minuto inicial Linz não chegou
a tempo para empurrar a bola para o fundo da baliza.
A subir um pouco de rendimento, os
turcos tiveram, aos 28 minutos, a sua grande oportunidade para marcar, quando
Sylla isolou Amoin Musa, mas este, na área, permitiu que Eduardo lhe roubasse a
bola.
O Braga acabou por se adiantar "em
cima da hora" para o intervalo, com Matheus, na área, a
"fuzilar" para o fundo da baliza e a sentenciar a eliminatória.
A perder a eliminatória por 3-0, os
turcos tiveram uma boa reentrada em jogo e, aos 46 minutos, obrigaram o
guarda-redes Eduardo - uma das novidades nos bracarenses - a brilhar. Após um
livre cobrado para a área o ex-setubalense defendeu para a frente, onde surgiu
Bayar Faruk a rematar outra vez e o guarda-redes, no chão, esticou o braço
esquerdo e evitou um golo que parecia certo.
O Sivasspor não marcou e acabou por
sofrer o segundo golo aos 56 minutos, tendo Linz, à "boca" da baliza
feito um golo fácil, após cruzamento de Wender.
Com tudo decidido, o Braga ainda beneficiou de uma grande penalidade, aos 68 minutos, por carga sobre Matheus na área dos turcos. Na conversão, Luís Aguiar fez o 3-0».
Sob arbitragem do alemão Felix Brych, o Braga apresentou a seguinte formação: Eduardo, João Pereira, Moisés, Nuno Frechaut, Evaldo, André Leone, Luis Aguiar, Vandinho, Matheus (Stélvio, 71), Wender (Jorginho, 84), Roland Linz (Orlando Sá, 84).