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Um jogo no Campo da Quinta Nova, em Carcavelos |
Em dezembro de 1892 o jornal Diário Ilustrado dá conta de um jogo de futebol disputado entre o Ginásio Clube Português e os ingleses do Carcavelos Club, disputado no recinto habitualmente utilizado por estes últimos, o Campo da Quinta Nova, propriedade da colónia inglesa radicada em Portugal para a exploração do Cabo Submarino, e descrito como um dos primeiros terrenos com melhores condições para a prática do recém nascido
football nacional. A crónica desse
match retrata precisamente as excelentes condições do citado recinto...
«A esplanada (...) é um amplo e aberto terreno gazonné batido sob o mar largo e debruado pelos pinheiros anões, sobre cujo verde luzido se esbatem as figuras elegantes dos jogadores. Fronteiro àqueles um muro velho, o terreno do lawn-tennis e o austero solar da Telegraph Company (...). Após o desafio, que terminou com a vitória do Carcavelos, seguiu-se um delicado lunch servido na sala de jantar do palácio, levantando-se ainda de parte a parte as mais calorosas saúdes. (...) Ainda em redor do delicioso campo assistiam à partida um grande número de gentilíssimas ladies e entendidos sportmen desta espcialidade. No comboio das cinco horas regressaram finalmente os distintos clubmen de Lisboa, sendo repetidos à saída da estação, entusiásticos hurrahs até ao comboio se perder de vista, ao longe».
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António Nicolau d' Almeida, fundador do Football Club do Porto |
A mestria futebolística dos ingleses foi por demais evidente nestes primeiros anos de vida do futebol português. Entre dezembro de 1892 e abril de 1893 o Carcavelos Club disputou três jogos oficiais, tendo cedido apenas um empate, ante o Ginásio Clube Português (1-1),
esmagando este mesmo clube num outro encontro - disputado a 8 de dezembro de 1892 - por 6-0 e vencido por 3-1 o Lisbonense - a 4 de abril de 1893. Neste ano de 1893 começam a desenvolver-se outros clubes, sobretudo nas principais urbes do país, isto é, Lisboa e Porto. Na capital um grupo de alunos da Casa Pia dá os primeiros pontapés na bola, enquanto no norte surge o Oporto Cricket Club - nascido na zona da foz do Douro -, o Real Velo Club e o... Football Club do Porto. A história diz que este último clube foi fundado em 28 de setembro de1893, por intermédio de António Nicolau d´Almeida. Reza essa mesma história que Nicolau d' Almeida travou conhecimento com o futebol numa das suas viagens de negócios - ele era negociante de vinho do Porto - a Inglaterra, tendo de lá trazido uma bola de futebol. Chegado ao Porto resolveu juntar então um grupo de amigos, e com eles fundar o Football Club do Porto, realizando nas semanas que se seguiram diversos
ensaios que foram sendo noticiados pela imprensa local. No entanto, pouco tempo depois o clube desaparece do mapa futebolístico, para vir a ser refundado em 1906 por Monteiro da Costa.
Em Aveiro há o registo da fundação do Ginásio Aveirense, por intermédio de Mário Duarte.
Com a conclusão da construção da praça de touros do Campo Pequeno, em 1892, o futebol na capital é obrigado a deslocar-se para outras zonas da cidade, como Belém, por exemplo, onde se viria a escrever alguns dos primeiros
capítulos dourados do pontapé da bola lusitano. Lisboa que continua por estas alturas rendidas aos encantos do
football, com a imprensa local a dar cada vez mais destaque aos jogos efetuados entre o cada vez maior número de emblemas nascidos na capital. Até o próprio rei, D. Carlos I, era uma presença assídua em jogos de futebol. Os clubes lisboetas multiplicavam-se nesta temporada de 1892/93 como cogumelos, destacando-se a fundação do Club Braço de Prata, o Club Tauromáquico, o Estrela Football Club, o Club Lisboa, ou o Football Club Esperança.
Com a nação futebolística a expandir-se foi com naturalidade que foi disputada uma primeiro competição regional entre alguns destes emblemas. Um mini campeonato integrado pelo Braço de Prata, pelo Carcavelos Club, pelo Foot-ball Club Lisbonense e pelo Ginásio Clube. Infelizmente, a classificação desta primeira competição regional é por completo desconhecida.
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