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O Castilla europeu |
Os regulamentos
– ditados por quem tutela o futebol a nível interno e externo – definem que
qualquer equipa B de um clube não pode competir oficialmente com a “casa mãe”,
ou seja, a equipa A, nem tão pouco jogar uma competição europeia, mas… houve em
tempos uma exceção. E para conhecer esta curiosa história recuámos até à
temporada de 1980/81, quando o Real Madrid B, ou Castilla, como era denominada
essa célebre equipa secundária merengue, disputou a Taça das Taças. E como é
que lá chegou? Sobre esta epopeia curiosa dos putos merengues já traçámos umas linhas numa outra viagem ao passado,
relembrando apenas que tal aconteceu pelo facto do Real Madrid B/Castilla ter
chegado na época de 1979/80 à final da Copa
del Rey, onde perdeu com… o Real Madrid (A)! A brincadeira dos meninos da cantera madrilista, o mesmo será dizer
da equipa B, na taça de Espanha fez vítimas como o Atlético de Bilbao, o
Hércules, a Real Sociedad, ou o Sporting de Gijón, equipas que nessa temporada
militavam no principal escalão espanhol. Claro, que o pagode dos miúdos do
Castilla acabou na final – disputada em pleno Santiago Bernabéu – ante os
graúdos da equipa principal do Real Madrid. Doutra forma não podia (?) ser,
claro. Mas na retina ficou essa façanha inédita no Planeta da Bola protagonizada por miúdos como Agustín, Chendo,
Gordillo. Pineda, entre outros que fariam carreira no plano internacional com as
cores quer do Real Madrid (A), quer com o manto sagrado da seleção espanhola.
Ora, e
voltando ao início da nossa história, esse feito assegurou-lhes o bilhete para
a edição da época seguinte da Taça das Taças, pelo facto de a “casa mãe”, isto
é, o Real Madrid A, ter sido também campeão nacional e como consequência tido o
direito de disputar a Taça dos Campeões Europeus (TCE).
O adversário? Um cavaleiro inglês que vivia
dias de penúria!
E quis o
destino que na sua aventura europeia o Castilla se cruzasse com um cavaleiro do
futebol inglês a viver então na penumbra, o West Ham United. O popular emblema
londrino atuava há três temporadas consecutivas na 2.ª Divisão inglesa, e esta
sua aparição nas provas uefeiras devia-se ao facto de contra todas as previsões
ter vencido em 79/80 a Taça de Inglaterra às custas do vizinho Arsenal. Apesar
de militarem no segundo escalão inglês, os Hammers tinham um plantel recheado de
bons valores e com vasta experiência nos retângulos de jogo, casos do histórico
capitão Billy Bonds, de Frank Lampard (pai), ou de Trevor Brooking. Do outro
lado estava um Castilla muito jovem, ou não fossem as equipas B o espaço ideal
para os jovens que saem da formação dos clubes darem os primeiros passos no
futebol sénior. Mesmo assim havia muita qualidade num plantel treinador por
Juanjo Garcia, o homem que tinha encabeçado na época anterior o feito de atingir
a final da Copa del Rey. Mas este foi
apenas um dos méritos deste treinador, como veremos mais adiante. E a prova de
que o Real Madrid/Castilla tinha de facto qualidade ficou bem patente na 1.ª
mão da 1.ª eliminatória com o West Ham, disputada no Santiago Bernabéu perante
40.000 pessoas. Números impensáveis hoje em dia quando falamos de um jogo de
uma equipa B. 3-1, venceu o Castilla, com golos de Paco, Balín e Cidón, num
jogo de dupla má memória para os ingleses. Por outras palavras, não só perderam
este primeiro encontro, como viram os seus adeptos que viajaram para Madrid
fazerem uma figura triste na sequência de violentos confrontos com a polícia e
adeptos locais (dentro e fora do estádio), entre outras cenas lamentáveis, como
arrancar e arremessar as cadeiras das bancadas, ou urinar em praça pública. Era
esta a pobre imagem que o futebol inglês dava no exterior no que a adeptos
dizia respeito, e que viria a ter consequências mais graves quatro anos
volvidos numa fatídica tarde em Bruxelas – na célebre final da TCE de 85.
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Epopeia dos jovens merengues acaba no Ghost Match
Como
consequência destes atos de vandalismo, a UEFA decretou que o jogo da 2.ª mão
em Londres seria disputado à porta fechada. Foi a primeira vez na história que
o organismo que tutela o futebol europeu castigou desta forma um clube em face
do comportamento dos seus adeptos. Ora, com uma vantagem de dois golos na
bagagem, e sem os sempre frenéticos e ruidosos adeptos ingleses contra, a
tarefa do Castilla em passar a eliminatória parecia assim facilitada. Mas não
foi bem assim. Num Upton Park às moscas – onde apenas se ouviam as instruções
dos treinadores e o barulho da bola a ser pontapeada pelos jogadores –, o West
Ham United foi muito superior no primeiro tempo, e como consequência saiu para
o intervalo a vencer por 3-0 e com a eliminatória na mão perante um Castilla
muito nervoso no futebol jogado. No descanso, Juanjo puxou as orelhas aos seus
meninos, que no segundo tempo melhoraram a sua performance e reduziram para
1-3, obrigando a que se disputassem mais 30 minutos de futebol suplementar. O nervosismo
voltou a tomar conta dos jovens merengues neste que seria rotulado para sempre
como o Ghost Match (jogo fantasma) por toda a situação envolvente atrás
descrita. Nervosismo que seria aproveitado pelo emblema londrino para fazer
mais dois golos, de nada valendo o facto de o Castilla a determinada altura do
prolongamento ter arriscado jogar com três avançados em cunha, de modo a tentar
desmoronar a veterana defesa inglesa. A juntar ao nervosismo, alguma falta de
sorte também se apoderou dos jovens madrilenos, que construíram diversas
oportunidades para sair do Upton Park com outro resultado que não a derrota por
5-1 e a consequente eliminação.
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Uma imagem do Ghost Match |
Valeu,
contudo, esta experiência inédita no futebol global. Quanto ao futuro do
Castilla, este continuou a deslumbrar internamente os adeptos do Belo Jogo, tendo
pouco tempo depois o técnico Juanjo formado outra notável geração de
futebolistas que viria a servir com êxito o Real Madrid nos finais da década de
80 e toda a década de 90. Uma geração que ficaria eternamente conhecida como a Quinta del Buitre, e que era composta
por lendas como Butragueño, Michel, Martín Vásquez, e Pardeza.