Se há
clubes cujo índice de popularidade é elevado, independentemente do escalão
competitivo em que se encontrem, um desses emblemas é sem margem para dúvida o
Sport Comércio e Salgueiros. Nasceu no meio do povo, e foi no seio desse mesmo
povo que cresceu e se tornou num dos clubes mais adorados do panorama
desportivo nacional. O Salgueiros nasceu numa época em que a República em
Portugal ainda dava os primeiros passos, mais concretamente no ano de 1911. No
entanto, seriam precisos 80 anos exatos para que a Alma Salgueirista – um modo
de estar, um sentimento, que só os verdadeiros adeptos do clube conhecem – se
desse a conhecer à Europa do futebol.
19 de setembro de 1991 é pois um dia
histórico na popular coletividade portuense. Nesse dia, ou melhor, nessa noite,
o velho Salgueiral fazia o seu batismo europeu no âmbito da 1.ª eliminatória da
Taça UEFA da temporada de 1991/92. A qualificação europeia havia sido alcançada
na época anterior na sequência da melhor classificação de sempre do clube na
1.ª Divisão Nacional, o 5.º lugar. E quis o destino que a estreia do Salgueiros
nas competições europeias acontecesse diante de outro caloiro nestas andanças,
os franceses do Cannes. Do lado da turma oriunda do sul de França pontificavam
alguns nomes conhecidos do plano internacional, desde logo o veterano
internacional francês Luis Fernández; o internacional camaronês François
Omam-Biyik, que um ano antes havia dado nas vistas no Mundial de Itália; e o
jugoslavo Aljosa Asanovic, que haveria de ser peça fundamental na futura
seleção da Croácia. Na equipa treinada pelo também jugoslavo Boro Primorac
pontificava ainda um jovem prodígio gaulês, que no futuro imediato haveria de
se tornar numa das maiores lendas da história do Belo Jogo: Zinedine Zidane.
Porém,
o Salgueiral também tinha as suas armas, e que armas! Craques como Nikolic,
Milovac, Abílio, ou Jorge Plácido, sobressaíam na equipa liderada por Zoran
Filipovic, aos quais se juntavam jogadores “operários” como Rui França, Vinha,
ou Leão. A nação salgueirista mostrou nessa noite todo o seu orgulho e emoção
ao ver o seu clube entrar pela primeira vez em campo para um jogo europeu,
facto ocorrido no Estádio do Bessa, casa emprestada pelo vizinho Boavista,
tendo em conta que o estádio do Salgueiros não possuía iluminação artificial na
altura. À boleia do jornal A Bola
vamos recordar este encontro histórico que terminou da melhor maneira para o
clube de Paranhos, isto é, com o triunfo. Melhor batismo não poderia ter tido o
Salgueiral!
Na
crónica final traçada sobre o jogo, o jornalista António de Sousa escreveria
que «as duas equipas estão bem uma para a
outra! O desfecho da eliminatória é imprevisível, embora os franceses contem
com futebolistas mais experientes e recebam os salgueiristas no seu estádio
para o jogo decisivo». O
jornalista explicaria esta sua visão de forma mais detalhada na crónica do
encontro, referindo que apesar de as equipas se equivalerem em termos de
qualidade, os franceses teriam a seu favor o facto de reunirem um conjunto de
jogadores que pelo seu passado possuíam maior experiência internacional. Contudo,
«não pretendemos, sequer, dizer que a
formação de Vidal Pinheiro está já derrotada (…) Pelo contrário, a formação de
Paranhos, possuindo uma equipa que assenta o seu futebol, sobretudo, na determinação
e no empenho, aqui e ali reforçado com a experiência de um ou outro elemento,
poderá perfeitamente prosseguir na prova, o que não constituiria surpresa de
maior, dado o valor semelhante (pelo menos demonstrado no desafio do Bessa) ao
do seu antagonista…».
Mais à
frente na sua exposição jornalística, sublinharia que o triunfo por 1-0 do
Salgueiros sobre o Cannes nesta 1.ª mão da eliminatória havia sido «justo e merecido, podendo até o resultado
ter tido uma expressão ligeiramente mais ampla». Destacou nesse sentido que
os jogadores salgueiristas se esforçaram para serem felizes nesta estreia,
elegendo entre os mais esforçados Vinha, que «teve muita uva para pouca parra… e pena foi que a colheita não tivesse
sido bem maior».Assim
que a bola foi posta em movimento o nervosismo típico da estreia desapareceu
nos salgueiristas, e os pupilos de Filipovic foram tomando conta das operações
a partir do quarto de hora inicial. A prova disso foram as três oportunidades
criadas pelos portuenses, em contraposto com os franceses, que só por uma vez
chegaram com perigo à baliza de Madureira.
No cômputo geral, António de Sousa
escreveu que «não se pode dizer que o
desafio tenha sido fértil em oportunidades de golo, Em situações de grande
apuro. Não, não foi. Houve uma toada de ataque, mas travada à entrada dos
meios-campos ou nas imediações das respetivas grandes áreas».
Numa
primeira parte que terminou empatada a zero, a situação mais flagrante de golo
aconteceu ao minuto 23, altura em que na sequência de um cruzamento de Álvaro
Soares para o interior da área gaulesa o trio composto por Abílio, Vinha e
Nikolic falhou o golo à boca da baliza! Isto numa altura em que era notório o
crescimento do Salgueiros em campo, uma equipa que mostrava futebol acutilante
e determinado, de acordo com a visão do jornalista de A Bola.
Ao
minuto 42 o Salgueiros reclamou grande penalidade por uma eventual mão na bola
de um defesa francês após uma bela jogada de combinação entre Nikolic e Jorge
Plácido. Em cima da jogada o árbitro norte-irlandês Leslie Irvine mandou jogar.
«Mas dois minutos depois, o Bessa
irrompeu num coro de protestos pela decisão do irlandês Irvine de não validar
um golo que o não foi… Expliquemos: Vinha cabeceou a bola e o guardião do
Cannes agarrou-a mas caiu para dentro da baliza. A dúvida instalou-se entre os
presentes: terá a bola, agarrada por Dussuyer, ultrapassado o risco? Não nos
pareceu e por isso afigura-se-nos correta a decisão do árbitro e do fiscal de
linha», analisou o jornalista. Só na
segunda metade o marcador iria funcionar e a favor dos portugueses. Na
sequência de um longo lançamento de linha lateral para o interior da área,
Jorge Plácido ensaia um vistoso remate à meia volta e envia o esférico para o
fundo da baliza. Estavam decorridos 50 minutos. O cenário do golo foi assim
descrito por A Bola: «… O conjunto de Paranhos continuou (no
início da segunda parte) no comando do prélio. E de tal modo que quatro minutos
após o recomeço a Alma Salgueirista renasceu e com ela as esperanças: Jorge
Plácido obtinha o golo. Aquele que viria a ser o único do encontro e na
sequência de um dos excelentes e poderosos lançamentos de linha lateral de
Nikolic, que fez a bola “pingar” no coração da área, motivando um subtil toque
de cabeça de Vinha para trás, propiciando a intervenção vitoriosa de Jorge
Plácido».
Após a festa do primeiro - e único até à data – golo europeu da
turma de Paranhos, esta continuou a dominar, mas gradualmente as forças e
discernimento começaram a não ser as melhores. «O Salgueiros continuou a desenvolver um futebol prático embora sem
beleza (era preciso?), mas foi neste período que se tornou claro aos olhos de
todos que nem a formação de Paranhos, nem o antagonista, teriam capacidade para
grandes desempenhos», disse António de Sousa na sua crónica. E nesse
sentido o resultado não mais sofreu alterações.
Era
pois de satisfação o ambiente que pairava no balneário do Salgueiros após o
apito final de Irvine. Para o treinador Zoran Filipovic tinha-se assistido a um
bom jogo de futebol, «no qual deixámos
uma boa imagem, perante um adversário aguerrido. Marcámos um golo, tivemos mais
oportunidades para aumentar a vantagem, mas foi muito bom não termos sofrido
nenhum. Agora, temos mais 90 minutos pela frente onde teremos de jogar com a
mesma concentração, muita humildade e agressividade».
Radiante
estava também o então presidente do Salgueiros, Carlos Abreu, que à reportagem
de A Bola disse que «após um início muito tremido tomámos conta
do jogo e conseguimos marcar um golo, que apareceu em boa altura. Depois foi
gerir a vantagem e procurar não sofrer golos. O empate também se aceitava, o
Cannes jogou bem, teve algumas oportunidades, mas penso que a vitória é o
prémio para a nossa agressividade e para a forma como a equipa soube fechar-se
no meio campo e na defesa».
Para o
capitão Rui França o resultado estava certo. «Foi um jogo difícil, porque o Cannes tem uma grande equipa, recheada
de bons jogadores, praticando um bom futebol. Contudo, através do nosso
empenho, tentámos contrariar o favoritismo dos franceses e conseguimos um golo.
O resultado acabou por ser escasso, mas não devemos esquecer que o adversário
também dispôs de algumas oportunidades. Por tudo isto, penso que o resultado
acaba por estar certo». Uma das
figuras principais do jogo foi Jorge Plácido, autor do golo, ele que no final
confessaria que «esforçámo-nos e
batemo-nos por conseguir o melhor resultado possível. (…) A minha exibição
poderia ter sido melhor, posso render mais, mas decaí fisicamente na segunda
parte. Se tivesse um pouco mais de frescura, talvez pudesse ter marcado o
segundo golo, o que para nós era o ideal. Em Cannes vai ser mais difícil do que
aqui, já que o adversário tem uma equipa muito forte».
E foi
na realidade uma viagem difícil aquela que o Salgueiros realizou até ao sul de França
na 2.ª mão da eliminatória. A equipa portuguesa perdeu por 1-0 e seria afastada
das provas da UEFA no desempate por grandes penalidades. O clube de Paranhos
até pode ter perdido a eliminatória no campo, mas saiu desta “aventura”
vitorioso, pois ver o velho Salgueiral na Europa do futebol foi um momento
histórico.
No
Estádio do Bessa sob arbitragem de Leslie Irvine as equipas alinharam da
seguinte maneira: Salgueiros – Madureira, Paulo Duarte, Pedro Reis, Abílio, Pedrosa,
Rui França, Jovica Nikolic, Stevan Milovac, Vinha, Álvaro Soares (Leão, 68), Jorge
Plácido (Rui Alberto, 75). Treinador: Zoran Filipovic.
Cannes
- Michel Dussuyer, Jean-Luc Sassus, Ludovic Pollet, Pierre Dréossi, Zinedine
Zidane, Luis Fernández, José Bray, Franck Durix, Aljosa Asanovic, François
Omam-Biyik, Robby Langers. Treinador: Boro Primorac.
Golo:
Jorge Plácido (50).
ENTREVISTA:
PROFESSOR MANUEL GONÇALVES: «O ZORAN FILIPOVIC TROUXE UMA NOVA MENTALIDADE AO CLUBE»
Para recordar não só este momento ímpar na
vida desportiva do Salgueiros mas também o ambiente místico de então que se
vivia pelos lados de Vidal Pinheiro, nada melhor do que falar com alguém que
viveu por dentro este período dourado da história do clube. Nesse sentido
trocámos dois dedos de conversa com o professor Manuel Gonçalves,
treinador-adjunto de Zoran Filipovic.
Museu Virtual do Futebol (MVF): O professor
Manuel Gonçalves chegou ao Salgueiros no final da década de 80 e acompanhou o
clube em todo o trajeto realizado desde a 2.ª Divisão até à chegada às
competições europeias. Pergunto-lhe como é que o popular Salgueiral conseguiu
no espaço de duas épocas passar do segundo escalão nacional à Europa?
Manuel Gonçalves (MG): Cheguei ao Salgueiros
no início da época de 1988/89 com o (treinador) Vieira Nunes. Em outubro houve
chicotada psicológica. O senhor José António Linhares e o presidente Carlos
Abreu falaram comigo, dizendo-me que gostavam que eu continuasse, uma vez que
estavam a pensar contratar um treinador que ia treinar pela primeira vez e não
tinha equipa técnica. Disseram-me, na altura, que tinham gostado do meu
trabalho ao longo dos primeiros meses em que trabalhei no clube, assim como do que
tinham auscultado em conversa com os capitães de equipa. Assim, entra o Zoran
Filipovic para treinador principal e eu continuei como treinador-adjunto, isto
com o clube a competir na Zona Norte da 2.ª Divisão Nacional.
O
primeiro jogo do Zoran Filipovic como treinador principal foi em Amarante, onde
o Salgueiros ganhou por 1-0. Foi um campeonato muito difícil, com muitos problemas
para se assegurar a manutenção.
Recordo,
aliás, um episódio que aconteceu no dia 15 de novembro de 1988, altura em que
perdemos em casa com o Varzim por 3-0 e o Filipovic pediu para sair, ao que o
presidente Carlos Abreu e o Chefe de Departamento de Futebol, José António
Linhares, se opuseram e convocaram uma reunião com o plantel, a equipa técnica
e todo o staff que envolvia o futebol do clube. Essa foi uma reunião que ainda
hoje guardo como um marco do dirigismo, algo especial, e que me marcou ao longo
da minha carreira com mais de 50 anos ligado ao futebol. O presidente Carlos
Abreu, nessa reunião, inquiriu os jogadores que estavam há mais tempo no clube,
perguntando-lhes precisamente há quantos anos ali estavam, e quantos
treinadores haviam tido. Uns respondiam que estavam ali há 5 anos e que tiveram
7 treinadores, outros respondiam que estavam no clube há 8 anos e que tinham
tido 10 treinadores, e por aí fora. Depois desta análise concluiu: “então a
maioria tem muitos anos de clube e mudámos de treinador várias vezes. Já identifiquei
o problema, o qual não está nos treinadores! Agora, não vamos mudar de
treinador, e a mudar (algo) mudamos os jogadores”. Dessa forma na época de
1989/90 entre atletas promovidos dos juniores e contratações entraram no plantel
do Salgueiros cerca de 16 novos jogadores. Essa temporada de 89/90 foi iniciada
com um novo espírito e uma nova mentalidade.
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Filipovic e Manuel Gonçalves |
MVF: … O Filipovic ficou, portanto, rompendo
assim com a prática de despedir o treinador quando as coisas corriam mal. E como
é que foi trabalhar com ele todos aqueles anos em Vidal Pinheiro? Como era
Zoran Filipovic como treinador?
MG: O
Zoran Filipovic trouxe uma nova mentalidade ao clube, novas metodologias de
treino. Neste último aspeto cortou com aquilo o que na altura era a metodologia
de treino, baseada nos desportos individuais, onde a dimensão física ditava
leis. E mudou para as metodologias que se utilizam hoje em dia, onde os
exercícios com bola e exercícios de acordo com o jogo eram a base de trabalho.
O microciclo semanal (de trabalhos) passou a ser muito diferente do que até
então era habitual, o que gerou alguma polémica na altura, com a folga semana,
por exemplo, a ser à quinta-feira, dia habitual do chamado treino de conjunto.
Lembro-me perfeitamente que à segunda-feira havia treino de recuperação para os
jogadores utilizados no jogo do domingo anterior, enquanto os menos utilizados
faziam treino normal; à terça-feira havia treino da parte da manhã e da parte
da tarde; à quarta-feira de manhã havia treino específico, dividido em dois
grupos, em que se iniciava com os jogadores de características defensivas e
depois treinava-se com os de características ofensivas, ao passo que da parte
da tarde treinava todo o grupo. À quinta-feira era a folga; e à sexta-feira e
ao sábado havia treino da parte da manhã. Ao longo da semana de trabalho os
treinos tinham a duração máxima de 90 minutos, e as metodologias utilizadas
eram muito bem aceites pelos jogadores, dado que a bola estava sempre presente
em todos os exercícios de treino, o que era motivante para o trabalho.
MVF: Como é que o popular Salgueiros viveu em
termos emocionais essa chegada à Europa? Falo não só do clube em si, mas também
daquilo o que viu nos fiéis e apaixonados adeptos deste emblema?
MG: 1991/92
foi uma época de grande afirmação do clube e que muito estimulou os seus
adeptos, que viveram esse período com grande entusiasmo, e ainda hoje os
adeptos mais velhos recordam isso com saudade.
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Filipovic com Manuel Gonçalves ao lado numa palestra em Vidal Pinheiro |
MVF: Consumada a chegada à Europa quis o sorteio
que a estreia fosse diante do Cannes. Como é que o Zoran Filipovic, em conjunto
com o professor Manuel Gonçalves e o Jorginho (treinadores adjuntos), preparou
este jogo?
MG: O
jogo com o Cannes gerou grande expectativa. Quase todos os jogadores nunca
tinham participado numa prova (europeia) desta natureza. Sabíamos que o Cannes
tinha grandes jogadores, onde despontava o Zidane, mas também jogadores
experientes como o Fernández, o Omam-Biyik, o Asanovic, o Sassus, o Dussuyer,
etc…
MVF: … E perante esse conhecimento como era o
espírito do grupo antes do jogo? Nervosismo, entusiasmo, ou um misto destes
dois sentimentos?
MG: O
espírito do grupo era muito bom, pois vínhamos de duas épocas de sucesso, uma
em que fomos campeões nacionais da 2.ª Divisão, e a seguinte em que nos apurámos
para a Taça UEFA na sequência de um 5.º lugar.
MFV: Na sua visão de treinador o golo de
Jorge Plácido que deu a histórica vitória fez justiça ao que se passou em campo
ou o empate também se ajustava?
MG: Os
dois jogos da eliminatória foram muito equilibrados. No Bessa foi com inteira
justiça que o Salgueiros ganhou por 1-0. O jogo da segunda mão ficou marcado
pela expulsão do Pedrosa, aos 56 minutos. No final dos 90 minutos o Cannes
ganhava por 1-0, ficando a eliminatória empatada, pelo que se jogou um
prolongamento de 30 minutos, sem que o resultado se alterasse. Há que referir
que o Salgueiros jogou o encontro da segunda mão durante 64 minutos com 10
jogadores! Na decisão das grandes penalidades o Cannes ganhou por 4-2.
MVF: Já agora, do outro lado da barricada
estava um jovem chamado Zinedine Zidane. O que é que achou dele naquela noite
no Bessa? Adivinhou que ali estaria um dos futuros maiores jogadores da
história do futebol ou nem por isso?
MG:
Nessa altura o Zidane estava a iniciar-se, era ainda muito jovem, mas já tinha
muita qualidade. As grandes estrelas do Cannes eram o Fernández e o Omam-Biyik.
MVF: Olhando para trás, mais de 30 anos
depois, o que é que em seu entender significou aquela ida à UEFA por parte de
um clube como o Salgueiros?
MG: Depois
dos jogos com o Cannes, que foram uma experiência única para a maioria dos
elementos do grupo, essa experiência acabou por trazer mais responsabilidade ao
clube, pela exposição a que tinha sido submetido com a eliminatória europeia,
que ainda hoje é um marco na história do Salgueiros. A ida à Europa para um
clube como o Salgueiros foi de facto um ato que perdurará para sempre na
história do clube, assim como na memória da massa associativa.
MVF: Para terminar, peço-lhe que classifique
os 13 heróis que naquela noite de 19 de setembro no Estádio do Bessa fizeram
história com a camisola do Salgueiros. À frente de cada nome diga o que pensa
desse jogador, com uma palavra ou um pensamento, em suma, que caraterize
individualmente esse atleta. Cá vai:
Madureira: «Um guarda-redes histórico do clube,
com muitos anos de Vidal Pinheiro. Esteve ligado a um período de ouro da
história do Salgueiros e que sabia transmitir a mística (do clube) ao grupo»
Paulo Duarte: «Um defesa-central
prático e regular, com um grande caráter e um excelente ser humano»
Pedro Reis: «Um central que não sabia jogar mal.
Eficaz. Era um pêndulo no sistema defensivo de três centrais que o clube
utilizava na altura»
Pedrosa: «Lateral-esquerdo que veio da 3.ª Divisão,
mas que pela sua qualidade e empenho se impôs com facilidade, acabando por
seguir para o Sporting e ter feito uma boa carreira no futebol português»
Rui França: «Era o capitão e um trinco de grande
eficácia. Era um operário que não parava durante os 90 minutos. Taticamente era
bom, era forte nos duelos, entregava-se ao jogo sempre em alta rotação»
Milovac: «Um central top. Muito forte no jogo
aéreo, e difícil de transpor nos duelos com os avançados contrários. Era um
pilar do sistema de três centrais que a equipa utilizava»
Nikolic: «Era o estratega. Tinha muita classe
e visão de jogo. Foi um jogador que marcou a equipa em muitos jogos pela sua
liderança e qualidade técnica acima da média»
Abílio: «O trato de bola, a qualidade técnica
e visão de jogo faziam com ele acrescentasse à equipa sempre algo em cada lance
do jogo. Jogava com alegria, algo que transmitia aos colegas e que se refletia
no rendimento da equipa»
Álvaro Soares: «Jogador pragmático,
de grande eficácia, e com processos simples. Era veloz e dos seus pés saíam
muitos cruzamentos que proporcionavam golos aos avançados»
Vinha: «Entrou bem no sistema de jogo da equipa. Foi
muito útil nesse sistema de jogo utilizado. Com a sua enorme estatura tirava partido
dos lances de bola parada»
Jorge Plácido: «Jogador experiente,
rápido, e que ficará para sempre ligado à história desta eliminatória pelo golo
que deu a vitória na primeira mão»
Leão: «Naquela altura estava em início de
carreira, e cumpriu sempre que foi chamado. Confirmou, pela carreira que viria
a fazer, a aposta que a equipa técnica fez nele»
Rui Alberto: «Um jogador eficaz.
Era um ponta de lança prático, que tinha qualidade e fazia golos com alguma
facilidade»
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O plantel do Salgueiros que foi à Europa |