sexta-feira, abril 20, 2007

Grandes Clássicos da Bola (1)... Estados Unidos - Inglaterra (1-0)

Inauguramos hoje um novo cantinho aqui no Museu Virtual do Futebol, o espaço dedicado aos grandes jogos da história deste não menos grande desporto. Vamos pois recordar alguns dos encontros que fizeram história quer ao nível dos Campeonatos do Mundos, quer dos Campeonatos da Europa ou das competições europeias de clubes. Jogos que com o passar dos anos se tornaram em verdadeiros clássicos.
E começamos esta nossa viagem por uma partida que poucos conhecem, ou se lembram, e que data de 1950. Ano em que o Brasil acolheu pela primeira vez, e única até à data, uma fase final de um Mundial de Futebol. Um campeonato de má memória para os brasileiros, pois perderiam o "seu" Mundial para os vizinhos e rivais do Uruguai. Bom, mas isso são histórias que iremos contar noutra altura.
O jogo que hoje iremos fazer referência aconteceu então nesse Mundial, mais precisamente na cidade de Belo Horizonte, no Estádio da Independência, que recebeu na tarde de 29 de Junho as equipas dos Estados Unidos da América e da Inglaterra. Um encontro referente à 1ª fase desse célebre Mundial. Inglaterra que era considerada uma das seleções favoritas para vencer o torneio, juntamente com Brasil, Suécia e Itália. Mas, desde o início, a realidade foi bem diferente das previsões. Lutando contra um intenso calor, a selecção inglesa sofreu a bom sofrer para vencer o Chile por 2-0 na sua estreia na "Copa", no Estádio do Maracanã. Ingleses que, refira-se, participavam pela primeira vez numa fase final de um Mundial. E como favorita que era à conquista do "caneco" poucos duvidavam que a Inglaterra não iria no segundo jogo do Mundial massacrar os amadores dos Estados Unidos da América.
Selecção americana que tinha apenas um jogador profissional, Ed McIlvenny. A crença na vitória fácil era tanta que o técnico inglês Arthur Drewry decidiu dar folga a vários dos seus principais jogadores.
Um desses jogadores que não participou no jogo foi o lendário Stanley Matthews, o que rendeu duras críticas a Drewry depois da derrota.
As equipas entraram em campo, e aos 39 minutos do 1º tempo um estudante, que trabalhava em meio período como lavador de pratos em Nova Iorque, produziu um dos resultados mais inesperados da história do futebol internacional. Joe Gaetjens, de seu nome, recebeu um passe de Walter Bahr e marcou o único golo da partida, garantindo a vitória dos Estados Unidos.
O resultado era considerado tão improvável pelos ingleses que uma casa de apostas de Londres ofereceu 500 para 1 às pessoas que apostassem nos americanos antes do jogo. História curiosa é, aliás, o facto de que quando o resultado foi conhecido em Inglaterra os súbitos de Sua Majestade pensarem de imediato que se trataria de um erro, e que o resultado não era 0-1 mas sim 10-1! Como estavam enganados...
48 anos depois desse jogo, o criador da jogada do golo, Walter Bahr, voltou ao "local do crime", por assim dizer, ao Estádio da Independência, onde confessou que «se a Inglaterra jogasse 10 vezes contra nós, naquela época, teria vencido nove vezes. Mas aquele jogo era nosso. O destino ficou do nosso lado. Os ingleses deveriam ter vencido, mas não marcaram nenhum golo, e à medida que o tempo passava, o nosso futebol foi melhorando. Os ingleses foram ficando em pânico... ».
Este resultado ainda hoje é considerado como a maior surpresa de todos os tempos no planeta da bola!
Porém, a impensável vitória sobre a Inglaterra foi recebida com indiferença nos Estados Unidos da América. Os americanos praticamente ignoravam que haviam vencido aquele jogo até a década de 70, altura em que Gaetjens já havia morrido.
O destino do autor do golo ainda hoje é um mistério. Joe Gaetjens era natural do Haiti, e suspeita-se que ele tenha sido morto a tiros na capital do país, Porto Príncipe, em 10 de Julho de 64.
Em 1976, o seu nome foi incluído no Hall da Fama do futebol americano. Aliás, nos primeiros dias de abertura deste Museu dedicámos já um "post" a este herói.
Recentemente, foi realizado um filme que retrata precisamente este momento histórico do futebol estado-unidense, intituldado de "The Game of Their Lives".
Apesar da vitória sobre a Inglaterra, os Estados Unidos terminaram em último no seu grupo na "Copa de 50", sendo eliminado do torneio juntamente com a Inglaterra e o Chile.
Depois da participação no Mundial do Brasil, os americanos demorariam 40 anos para voltar participar numa fase final de um Mundial, o que só ocorreu em 1990, no Mundial de Itália.
Para a história fica então a ficha técnica do grande momento da história do "soccer" norte-americano:
29 de Junho de 1950: Estádio Independência, Belo Horizante, Brasil. Assistência: 10 051 espectadores Árbitro: Generoso Dattilo, de Italia
Estados Unidos (1): Frank Borghi, Harry Keough, Joe Maca, Ed McIlvenny (c), Charlie Colombo, Walter Bahr, Frank Wallace, Gino Pariani, Joe Gaetjens, John Souza, Ed Souza. Treinador: Bill Jeffrey
Inglaterra (0): Bert Williams, Alf Ramsey, John Aston, Tommy Wright, Laurie Hughes, Jimmy Dickinson, Thomas Finney, Stanley Mortensen,
Roy Bentley, Wilf Mannion, Jimmy Mullen. Treinador: Walter Winterbott
Marcador: Joe Gaetjens (39’)


Legendas das fotografias:

1- "Onze" dos EUA no célebre jogo de 50 diante da poderosa equipa inglesa: Em cima (da esquerda para a direita): Walter J Geisler,Joseph A Maca,Charles M Colombo,Frank C Borghi,Harry J Keough,Walter A Bahr,Coach William"Bill"Jeffrey. Em baixo (também da esquerda para a direita):
Frank Wallace, Edward J McIlvenny, Virginio P Pariani, Josrph N Gaetjens, John B Sosa, Edward N Sosa.
2- Capitães dos dois conjuntos cumprimentam-se antes do início do jogo.
3- Joe Gaetjens é levado em ombros após o apito final do árbitro.
4- Walter Bahr, o autor do centro para o golo de Gaetjens.

Vídeo: RESUMO DA SURPREENDENTE VITÓRIA DOS ESTADOS UNIDOS SOBRE A INGLATERRA EM 1950

Museu Virtual do Futebol comemora o primeiro ano de vida...

Não, não vos vou contar mais uma história deliciosa do mundo da bola. Nada disso. Vou fazer algo que já deveria ter feito no passado dia 4 de Abril, mas que por falta de tempo, e não por esquecimento, não pude levar a cabo. Trata-se do 1º aniversário do Museu Virtual do Futebol. Um ano de vida. É verdade!. Um ano de muitas histórias sobre um desporto pelo qual eu me sinto a cada dia que passa mais apaixonado. Sinceramente, gostaria de publicar neste espaço virtual mais histórias e factos do "desporto rei", pelo menos com mais frequência. Mas, infelizmente, o meu tempo livre vai sendo cada vez menos... livre!
No entanto, gostaria de sublinhar o imenso prazer que me tem dado escrever neste local ao longo deste ano de vida.
Ideias (e histórias) para o futuro é coisa que não falta, vou tentar - assim o meu tempo o permita - dinamizar mais o Museu, não só continuando a recordar as tais histórias antigas, como também abrindo novos espaços de discussão sobre a actualidade no mundo do futebol.
A ver vamos o que nos reserva o futuro...