Sporting de Braga na temporada de 76/77, altura em que venceu a única edição da Taça da FPF |
Braga e
Estoril disputam neste início de ano de 2024 o primeiro título oficial do
calendário futebolístico português, a Taça da Liga. Não será, por ventura, a
final mais esperada – e desejada – dos responsáveis pelo futebol luso, que
esperavam, por certo, ver um dérbi eterno
(Sporting – Benfica) como cabeça de cartaz daquela que é a mais nova das quatro
competições (além do campeonato nacional da 1.ª Divisão, da Taça de Portugal e da Supertaça
Cândido de Oliveira) do "principal" futebol em Portugal. Porém, bracarenses e estorilistas atingem
a final da Taça da Liga com todo o mérito, há que sublinhá-lo. Vem isto a
propósito de um duelo que não é
inédito numa final nacional. Por outras palavras, Estoril e Braga já disputaram
uma final de uma prova nacional, uma competição relâmpago, visto que apenas
conheceu uma edição, a Taça da Federação Portuguesa de Futebol (FPF). Organizada,
como o próprio nome indica, pelo organismo que tutela o futebol português, a
competição realizou-se após o términus dos Campeonatos Nacionais das 1ª, 2ª e 3ªDivisões da temporada 1976-77, e foi disputada entre os clubes que competiram
em cada um dos respetivos escalões nacionais.
Assim, a
1.ª Divisão da Taça FPF foi dividida em quatro grupos de quatro equipas cada, apurando-se
para as meias-finais os primeiros classificados. O Braga disputou o grupo A,
levando a melhor sobre o grande rival Vitória Sport Clube (de Guimarães), o
Varzim, e o Leixões; ao passo que o Estoril integrou o grupo C, terminando em
1.º à frente de Benfica, Sporting e Belenenses (!). Nas meias-finais o Braga (que
havia concluído o campeonato da 1.ª Divisão em 8.º lugar) derrotou o campeão
nacional dessa temporada, o FC Porto, por 3-1, ao passo que o Estoril (que findou o campeonato do escalão maior luso desse ano em 11.º lugar) bateu o
último classificado do Nacional da 1.ª Divisão desse ano, o Atlético, por 2-1.
A final
da única Taça FPF da história disputou-se no dia 1 de julho de 1977, e teve
como palco o Estádio Municipal de Coimbra, o mítico Calhabé. Vamos assim e à
boleia do jornal A Bola, e pela pena de um dos grandes mestres do jornalismo
desportivo nacional de todos os tempos, Cruz dos Santos, recordar essa inédita
e ímpar conquista dos bracarenses.
Manchete de A Bola |
De acordo
com o célebre jornalista, o Braga justificou a vitória na final, por 2-0, porque
teve mais força, tendo sido «claramente superior a estorilistas que em dia de calor
intenso saíram de Lisboa a meio da tarde por estrada» (!). Outros tempos, em
que mesmo sendo de 1.ª Divisão o futebol português tinha contornos de
amadorismo. A final, disputada nessa noite de 1 de julho, foi presenciada por
cerca de 7000 espectadores, uma baixa assistência que Cruz dos Santos
justificou com a razão de ser não só porque estávamos em plena época de verão como também
pelos factos de em campo não estarem nenhum dos chamados "3 Grandes”, e de
os dois finalistas atuarem a mais de 200 quilómetros dos respetivos “berços”. Daquela
«meia dúzia de milhares de espectadores» - como visualizou o jornalista de A Bola –
a maior parte viajou de Braga, dando colorido e ambiente às bancadas. Quanto ao
jogo, o Braga apresentou «uma superioridade nítida, inapelável. A tal ponto que deu
para na primeira parte, a equipa minhota chegar a jogar bastante bem, a
impor-se em todos os capítulos (…) e, depois do intervalo, a afrouxar bastante
o andamento e quase se limitar a deixar correr o tempo, sem por isso de deixar de
controlar o duelo. (…) (O Braga foi) um vencedor brilhante, realmente, quer
pela capacidade do conjunto evidenciada, quer até pelos que dela conseguiram
sobressair, pela sua ação individual», analisou Cruz dos Santos, que precisamente
neste plano individual destacou os braguistas António Fidalgo, Fernando Martins,
Paulo Rocha, Caio Cambalhota, e Chico Faria.
Isto
diante de um Estoril que na visão do jornalista se apresentou em Coimbra «amorfo,
sem chama, e desligado». De referir que o Estoril tinha nos seus quadros nomes
sonantes do então futebol português, sendo o maior de todos eles José Torres, o
lendário ponta de lança do Benfica e da seleção nacional que brilhou no Mundial
de 1966. Na defesa estorilista pontificava Fernando Santos… futuro selecionador
nacional e responsável pela conquista do Campeonato da Europa de 2016 e pela
Liga das Nações de 2019.
Braguistas posam para a fotografia com a Taça FPF |
Quanto à
marcha do marcador, Caio Cambalhota fez o primeiro golo da noite, aos 17
minutos, na sequência de uma jogada descaída pela direita, com Chico Faria a
cruzar rasteiro para a área onde surgiu o brasileiro a antecipar-se à defesa
estorilista para rematar para o fundo da baliza de Ruas. O 2-0 aconteceu à
passagem do minuto 40, altura em que também numa jogada desenhada pela direita,
Chico Faria voltou a cruzar para o interior da área, ao que o guardião canarinho,
em mergulho, não consegue intercetar a bola, desviando-a para a frente, onde
oportuno Carlos Garcia remata na recarga com êxito. No final, o magriço (de
1966) Hilário, ex-jogador do Sporting que neste final de época 76/77 orientou
os nortenhos, explicou que a final da Taça FPF opôs duas excelentes equipas,
sendo que na sua opinião o Braga soube aproveitar as duas melhores
oportunidades que dispôs na 1.ª parte. Do lado do Estoril, o técnico José
Bastos considerou o Braga um justo vencedor, explicando que os golos marcados
na primeira metade praticamente sentenciaram o desfecho da partida.
Lance da final da Taça FPF da 1.ª Divisão |
Sob
arbitragem de Castro e Sousa, auxiliado por Mário Martins e Monteiro da Cunha
(trio da Associação de Futebol de Coimbra) as equipas alinharam da seguinte
forma: Braga – Fidalgo, Mendes, Serra, Fernando Martins, Manuel Vilaça, Paulo
Rocha, Pinto, Carlos Garcia (Zézinho, 75), Chico Faria (Beck, 70), Caio
Cambalhota, e Chico Gordo. Treinador: Hilário.
Estoril –
Ruas, Vieirinha, Fernando Santos, Amílcar, Carlos Peixoto, Óscar Duarte (Quim
64), Nélson Reis, José Torres (Manuel Fernandes, 46), Fernando Martins, Clésio,
e João Cepêda. Treinador: José Bastos.
Resta
referir que os vencedores das 2.ª e 3.ª divisões desta Taça FPF foram,
respetivamente, o Barreirense, e o Bragança.
A Taça FPF |
Classificações e resultados da única edição da Taça da FPF:
1.ª Divisão
Primeira Fase:
Grupo A
J-V.E.D.GM-GS-Pts.
Braga. .
. . . .6-4-1-1-13-2-9 pts.
Guimarães.
. . .6-3-2-1-11-4-8 pts.
Varzim .
. . . .6-3-1-2-7-7 -7 pts.
Leixões.
. . . .6-0-0-6-4-22-0 pts.
Grupo B
FC Porto. .
. . . .6-5-1-0-13-2-11 pts.
Académico.
. . .6-2-2-2- 8-6-6 pts.
Beira-Mar.
. . .6-1-2-3-6-16-4 pts.
Boavista
. . . .6-0-3-3-6-9-3 pts.
Grupo C
Estoril.
. . . .6-3-2-1-11-8-8 pts.
Benfica.
. . . .6-3-2-1-13-8-8 pts.
Sporting
. . . .6-2-2-2-11-12-6 pts.
Belenenses
. . .6-1-0-5-6-13-2 pts.
Atlético
. . . .6-5-0-1-17-4-10 pts.
Portimonense
. .6-3-1-2-11-10- 7 pts.
Setúbal.
. . . .6-3-1- 2- 11-10- 7 pts.
Montijo. . . . .6-0-0- 6- 6-21-0 pts.
Meias-Finais:
Braga: 3
Porto: 1
Atlético: 1 Estoril: 2
Final:
Braga: 2 Estoril: 0
Conjunto do Barreirense que em 76/7 venceu a 2.ª Divisão da Taça FPF |
2.ª Divisão
Primeira Fase:
J-V.E.D.GM-GS-Pts.
Famalicão.
. . . . .6-4-1-1-10-4 -9
Fafe . .
. . . . . .6-3-1-2 -5-6 -7
Chaves .
. . . . . .6-2-1-3-8-8- 5
Gil
Vicente. . . . .6-0-3-3-3-8-3
U. Lamas
. . . . . .6-3-2-1-11-9-8
Penafiel
. . . . . .6-3-1-2-10-8-7
Paços de
Ferreira. .6-3-1-2-11-11-7
Régua. .
. . . . . .6-0-2-4 -6-10-2
Sp. Covilhã.
. . . . . .6-4-0-2-15-10-8
Marinhense
. . . . .6-3-1-2 -7-7-7
Sanjoanense.
. . . .6-3-1-21-3-4-7
Acad.
Viseu. . . . .6-1-0-5-5-19-2
Portalegrense.
. . .6-3-1-2-10-4- 7
Peniche.
. . . . . .6-2-2-2-5-6-6
U.
Santarém. . . . .6-1-4-1-5-8- 6
U.
Coimbra . . . . .6-2-1-3-6-8-5
Barreirense.
. . . .6-4-1-1-8-2-9
Odivelas
. . . . . .6-4-0-2-9-6-8
Almada .
. . . . . .5-1-2-2- 5-8- 4*
Sesimbra
. . . . . .5-0-1-4- 2-8- 1*
Olhanense.
. . . . .6-4-1-1-11-9- 9
Vasco da
Gama. . . .6-3-2-1-16-13-8
Farense.
. . . . . .6-1-2-3 -6-9-4
Juventude de Évora . . . . .6-1-1-4-10-12-3
*Nota: O jogo Almada-Sesimbra não foi homologado pela FPF.
Segunda Fase:
Grupo A
Famalicão.
. . . . .2-1-1-0-3-0-3
Covilhã.
. . . . . .2-0-2-0-3-3-2
U. Lamas
. . . . . .2-0-1-1-3-6-1
Barreirense.
. . . .2-1-1-0-3-1-3
Portalegrense.
. . .2-1-0-1-2-2-2
Olhanense. . . . . .2-0-1-1-1-3-1
Final:
Famalicão
– Barreirense: 0-1
A equipa do Bragança que se sagrou campeã da Taça FPF da 3.ª Divisão |
3.ª Divisão
Primeira Fase:
J-V.E.D.GM-GS-Pts.
Grupo A
Bragança.
. . . . . .6-3-2-1-14-2-8
Monção. .
. . . . . .6 -3- 0-3-10-16-6
Vianense.
. . . . . .6-2-1-3 -9-10-5
D. Aves .
. . . . . .6 -2 -1- 3 - 7-12- 5
Lamego. .
. . . . . .6-3-2-1-6-3 -8
Avintes .
. . . . . .6-4-0-2- 9-12-8
Oliveirense
. . . . .6-2-2-2-12-7-6
Paços de
Brandão. . .6-0-2-4 -7-12-2
Águeda. .
. . . . . .6-4-1-1- 8-3- 9
Oliveira
do Bairro. .6-3-0-3 -8-10-6
Marialvas
. . . . . .6-1-3-2 -7-11-5
Naval 1º Maio. .
. . . . . .6-1-2-3 -8-7-4
Marrazes.
. . . . . .6-3-2-1 -4-6 -8
Alcobaça.
. . . . . .6-2-3-1 -6-4- 7
Batalha .
. . . . . .6-1-3-2 -5-6- 5
Elétrico
. . . . . .6-2-0-4 -8-7 -4
Grupo E
O Elvas .
. . . . . .6-4-0-2-10-6- 8
Nacional.
. . . . . .6-3-1-2-11-6 -7
SL
Olivais. . . . . .6-3-1-2 -9-9 -7
Alverca .
. . . . . .6 -0- 2- 4 - 4-13 -2
Luso. . .
. . . . . .6-3-2-1- 9-5 - 8
Aljustrelense
. . . .6-4-0-2 -11-8- 8
Santiago
do Cacém . .6-1-2-3 -7-8- 4
Silves. . . . . . . .6-1-2-3 -6-12-4
Segunda Fase:
Bragança:
3 Águeda: 0.
Lamego desqualificado.
O Elvas .
.2-1-0-1-3-2-2
Luso. . .
.2 -1- 0- 1- 2-2-2
Marrazes. .2-1-0-1-2-3-2
Final:
Bragança – O Elvas: 1-0
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