Há
quem diga que o Algarve é não só a estância balnear de Portugal, mas também da
Europa. Com o seu clima quente, as suas praias paradisíacas e a farta animação
noturna, esta região tem sido o destino de férias para cidadãos de vários
países europeus ao longo de décadas. Deste modo, será uma minoria, por certo, a
percentagem de europeus que não conhece esta região do sul do nosso país pelas
características naturais que apresenta. Porém, em termos de futebol só na
segunda metade dos anos 80 do século passado é que o Algarve se deu a conhecer
à Europa. Apresentação que aconteceu na temporada de 1985/86, altura em que um
dos filhos futebolísticos mais
ilustres da região fez a sua estreia - e única até à data - na alta roda do
futebol continental, isto é, nas competições europeias. Emblema esse que dá
pelo nome de Portimonense Sport Clube, e que fruto do brilhante 5.º lugar
conquistado na época anterior, no Campeonato Nacional da 1.ª Divisão, assegurou
o passaporte para a Taça UEFA. Feito
alcançado por um treinador algarvio, o que eleva ainda mais os níveis
históricos do facto, um homem que é hoje em dia um dos técnicos mais titulados
a nível internacional do nosso futebol. O seu nome? Manuel José. Foi ele o maestro de uma orquestra afinada e talentosa que na altura tinha nomes como o experiente
defesa-central Simões - que tinha passado com sucesso pelo FC Porto -, o médio
Vítor Oliveira - formado no Leixões e que no final desta temporada pendurou as
chuteiras -, o promissor avançado Rui Águas, ou o também dianteiro belga Serge
Cadorin - quiçá o nome mais sonante daquele Portimonense, pelos muitos golos
que marcou durante a sua estadia no Algarve.
No
entanto, não seria Manuel José a apresentar o emblema de Portimão à Velha Europa do futebol, uma tarefa que
ficou nas mãos de Vítor Oliveira, que como já foi referido encerrou a sua
carreira de atleta no Algarve e foi um dos obreiros que em campo garantiu a
presença da Taça UEFA de 85/86. Vítor Oliveira que dava assim em Portimão
início a uma brilhante carreira de treinador, tendo passado nos 34 anos
seguintes por diversos clubes do nosso futebol, alcançando na maior parte deles
subidas de divisão, de tal maneira que ainda hoje é conhecido como o "Rei
das Subidas". Figura esta que desapareceu do nosso convívio muito
recentemente, em 2020, e que deixou, naturalmente, saudades a todos aqueles que
consigo trabalharam e conviveram.
Mas
voltamos à temporada de 85/86, onde o Portimonense fez alguns reajustes ao seu
plantel não só com o intuito de repetir a boa prestação interna da época
transata, mas de igual modo para fazer boa figura na estreia internacional.
Entre as novas caras encontravam-se o médio brasileiro Nivaldo, vindo do
Benfica, e o avançado Pita, que haveria de ficar com o seu nome gravado na
história do Portimonense no âmbito desta entrada na Europa do futebol.
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O histórico "onze" do Portimonense que bateu o Partizan de Belgrado |
O
apadrinhamento europeu dos algarvios foi feito por um emblema muito experiente
nestas andanças, por um gigante do
futebol do leste europeu, o Partizan de Belgrado. Se a inexperiência já de si
era um fator que à partida condicionava os homens de Portimão, o facto de terem
pela frente um dos maiores clubes da então Jugoslávia tornava esta numa missão
praticamente impossível, o que se viria a confirmar no final da eliminatória.
Mas o nosso foco é no jogo da primeira mão, em Portimão, cujo estádio se
engalanou para o batismo europeu do seu clube. E quando aludimos ao termo
engalanou queremos dizer que não era só a atmosfera quente - não só pelo calor
típico algarvio, mas sobretudo pela massa adepta presente - que envolveu esse
histórico encontro realizado a 18 de setembro de 1985, mas também porque nesse
dia, ou melhor, nessa noite, era inaugurada a iluminação elétrica do estádio,
que tinha custado a módica quantia de 35.000 contos. Quiçá todos estes
condimentos ajudaram o Portimonense a alcançar uma vitória histórica, por 1-0, um
resultado que assustou o Partizan, segundo a crónica de A Bola. Pela pena de uma magistral dupla de jornalistas, os Serpa,
Homero (o pai) e Vítor (o filho), escreveu-se que na noite morna de Portimão o
clube local, sem traquejo internacional, fez a sua estreia europeia ante um
experiente Partizan, uma equipa com largo prestígio na Europa, e que talvez
tivesse sido esta a razão pela qual a turma algarvia entrou em campo com uma
certa inibição. Facto que com o passar do tempo se eclipsou, e o Portimonense começou
a mostrar o desejo de dar boa conta do recado. Os portugueses foram para Vítor
Serpa uma equipa «combativa, determinada,
mas que não teve dúvidas nunca quanto à diferença da qualidade técnica que a
separava do adversário. De tal modo assim foi que o Portimonense apenas
conseguia equilibrar as operações, ou até, eventualmente, sobrepor-se ao seu
adversário, quando adregava imprimir maior velocidade ao jogo, tirando assim
partido da rapidez de execução de alguns dos seus jogadores. E sabe-se por um
certo saber de experiência feito, o quanto de uma forma geral desagrada às
equipas de leste jogar de pressa», assim descrevia o jornalista um jogo que
terminou com uma «vitória saborosa na
jornada que assinala a estreia - facto que só por si merece ser devidamente
assinalado», mas que era um resultado que não garantia um passo decisivo
para passar a eliminatória. E como estava certo o jornalista da Travessa da Queimada.
Já o seu pai escrevia que foi num ambiente «misto de euforia e de dúvidas - até
porque na sua opinião os algarvios ainda não haviam encontrado naquela época o
entrosamento necessário - que a equipa de
Vítor Oliveira entrou no relvado do seu estádio, pela primeira vez iluminado,
para defrontar, em desafio oficial, uma equipa estrangeira: Partizan de
Belgrado, uma turma habituadíssima às competições internacionais; portanto, com
muito mais experiência do que o Portimonense que só agora inaugurou esta nova
via num percurso que está a fazer, desde a Segunda Divisão, em constante
progresso».
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Lance do jogo do Algarve |
E
prosseguindo a sua análise ao jogo, Homero Serpa dizia que «devemos começar por dizer que Partizan começou, logo de início, por
transmitir a ideia de que iria realizar um jogo calmo, sem grandes
sobressaltos, no intuito de preparar a
decisão da eliminatória para a segunda mão, em Belgrado. O 0-0 seria um bom
resultado, o 1-1, excelente, e, por aí adiante . Mas a derrota sofrida, embora
por margem escassa, não será assim tão bom, pese o facto de o Portimonense não
se encontrar, presentemente, na sua melhor forma. Longe disso, obrigando a que
permaneça a dúvida quanto à sua capacidade de resistência para o segundo e
decisivo "round". Mas, o futebol é, como uma caixinha de surpresas,
e, até pode suceder que a simpática equipa algarvia prossiga em prova. No
entanto, e pelo que se conhece do futebol jugoslavo, a tarefa não vai ser nada
fácil, bastando, para tanto, recordar os exemplos de outras equipas de maiores
pergaminhos no futebol europeu que "morreram" às mãos do Partizan,
que continua uma das grandes formações europeias, com um futebol bem
entremeado, onde a técnica e a velocidade combinam quase perfeitamente. Mas,
aconteça o que acontecer, na segunda mão, o que mais importa agora é que o
Portimonense venceu este seu primeiro teste ao nível de provas da UEFA, o que,
só por si, chega para elevar a equipa algarvia a uma posição muito simpática no
cotejo internacional». E assim foi.
Mais
a fundo, Homero Serpa dizia que as equipas jogaram este desafio do Algarve um
pouco no escuro, com algum receio uma da outra, tendo sido, no entanto, dos de
Portimão os dois primeiros sinais de algum perigo, sendo que na visão do
jornalista o primeiro lance é uma clara grande penalidade cometida por Nikodijevic
sobre Freire, que o árbitro belga Alphonse Constantin ignorou. Acrescentaria
que os primeiros dez minutos da partida foram de domínio algarvio, uma equipa
que nas suas palavras «se esqueceu da
categoria do adversário que tinha pela frente».
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Nivaldo prepara-se para mais um ataque à baliza do Partizan |
Encostado
às cordas, o técnico do Partizan abdica de um defesa e dá ordem ao seu lateral
direito para subir no terreno, uma mudança que atordoou os pupilos de Vítor
Oliveira, que com mais um homem pela frente no meio campo contrário. Um «embaraço» que «naturalmente, acabaria por ser bem aproveitado pelos jugoslavos que
começam, tecnicamente, a mandar na partida. As sua jogadas, no entanto, nunca foram
demasiado perigosas. Via-se que detinham o comando, mas pouco apoquentavam o
guarda-redes português, que tinha à sua frente dez companheiros humildes e uma
defesa que, quando era preciso aliviava de qualquer maneira, mesmo de forma
arcaica. (...) O Portimonense não fazia flores, e não se envergonhava de ser
humilde. Soube, antes do mais, ser realista, actuando com a frieza necessária.
O tempo ia correndo e, aquilo que a princípio mais se temia, continuava por não
suceder. As balizas da turma portuguesa permaneciam invioláveis. A seu favor,
os jugoslavos apenas podiam contabilizar dois, lances que, muito no condicional,
poderiam ter ocasionado dois golos». Isto na primeira parte. O reatamento
não poderia ter começado melhor para os portugueses, já que aos 47 minutos
surge o ponto alto deste encontro, o golo! O tento da autoria do cabo-verdiano
Pita, um golaço que levantou o estádio e que foi desenhado da seguinte maneira:
«Cadorin foi rápido a fazer um lançamento
no lado direito, já perto da bandeirola de canto, Freire centrou também
rapidamente e Pita, entrando fulgurantemente de cabeça, atirou à baliza. A
bola, antes de entrar, tabelou no poste direito, sem hipóteses para o
guarda-redes».
Pita,
um jogador que Homero Serpa considerava o melhor ponta-de-lança do futebol
português a atuar de cabeça! O Partizan ficou perplexo com este golo, em
contraposto com os adeptos algarvios, que entusiasmados por este festejo empolgaram
ainda mais o seu conjunto. «Toda a equipa
sobe de rendimento (...) Os jugoslavos perturbam-se. O Portimonense, galvanizado,
arranca para uma exibição memorável, com um futebol de nível internacional. Sem
grande técnica, mas, veloz, e com o aproveitamento milimétrico de todo o
terreno. Agora, a equipa portuguesa torna se num bico-de-obra para o seu
adversário»,
lia-se na reportagem de A Bola.
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Vítor Oliveira passou de jogador a treinador dos algarvios |
Foi
uma meia hora empolgante do Portimonense, que atirou ao tapete o experiente
Partizan, que apesar de nos últimos 15 minutos alargar a sua frente da ataque
não levou perigo para os pupilos de Vítor Oliveira. «Esta equipa do Partizan não nos pareceu muito rápida. Acreditamos, no entanto,
que não terá mostrado frente aos portugueses o muito de que é capaz de
progredir neste aspecto. E, meus amigos, se conseguir combinar a velocidade com
a excelente técnica de que é detentora; vai ser, não tenhamos dúvidas, um osso
muito duro de roer em Belgrado», escrevia o jornalista de A Bola numa antevisão daquilo o que
seria o inferno na Jugoslávia, onde os
portugueses viriam a cair por expressivos 4-0, dizendo adeus à UEFA.
Mas
ninguém tira aos algarvios o prazer de ter assustado os poderosos jugoslavos e
de se terem estreado nas competições europeias com uma surpreendente, mas
justa, vitória. Surpresa era pois o estado de alma que reinava no balneário do
Partizan no final do encontro, a começar pelo treinador Nenad Bjekovic. «Os portugueses estiveram muito bem e
confesso que me surpreenderam. Estava à espera que jogassem em passes curtos e
a trocarem a bola e apareceu-me um estilo de jogo totalmente, ao contrário. O
Portimonense surgiu a jogar em passes longos e a actuar muito bem de cabeça. (...)
No meu entender, os portugueses sobressaíram pelo seu jogo colectivo, se bem que
tenha de distinguir a exibição de Nivaldo, muito boa, um elemento que faz jogar
a equipa e demonstra bastante experiência», disse o técnico jugoslavo que
fez ainda uma antevisão do encontro da segunda mão, opinando que este seria
decisivo, e que a sua equipa tinha boas hipóteses de seguir em frente.
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Cadorin, uma das principais figuras dos algarvios |
Uma
das estrelas do Partizan era então Ljubomir Radanovic, defesa que representou a
Jugoslávia no Europeu de 1984, e nos Jogos Olímpicos do mesmo ano, que opinaria
que «o Portimonense mostrou-se mais lutador,
pelo que mereceu ganhar. O Partizan não mostrou em Portimão o seu verdadeiro
valor, mas irá faze-lo em Belgrado, dentro de duas semanas. O Portimonense,
apesar de boa equipa não chegará para superar esta eliminatória», como
estava certo o capitão da equipa Balcã. Curiosidade é que também o árbitro do
encontro foi ouvido pelos jornalistas de A
Bola, tecendo uma opinião sobre o jogo! Coisa impensável nos dias de hoje.
Alphonse Constantin disse então que este havia sido um encontro interessante de
arbitrar, «com os portugueses, muito bons
tecnicamente, a desfrutarem de grandes hipóteses para ultrapassar a
eliminatória. É verdade que os portugueses demonstraram uma falta de maturidade
competitiva, mas estou convencido que a irão adquirir, pois dispõem de muitos jogadores
novos e muito futuro na sua combinação». E o penalti reclamado pelo
Portimonense na primeira parte, o que tinha o senhor Constantin a dizer em sua
defesa? «O Portimonense reclamou, de
facto, grande penalidade, mas o jogador atirou-se voluntariamente para o chão sem ninguém lhe
ter tocado. Aliás, esse jogador procedeu de forma muito inteligente. Pois
levantou-se e não me disse uma palavra».
Na
cabine de Portimonense reinava a alegria, mas ao mesmo tempo um sentimento de
que o resultado era curto para a viagem à Jugoslávia quinze dias depois. Vítor
Oliveira estava satisfeito com a exibição da sua equipa e com o resultado, «embora reconheça que se tivéssemos marcado mais
um ou dois golos seria mais justo para a minha equipa. (...) Apesar de escasso
(o resultado), vamos tentar passar a eliminatória, a fim de prestigiar a cidade
de Portimão e o nome de Portugal», disse então o técnico.
Também
o experiente defesa Simões era de opinião que o score era curto em relação à exibição dos de Portimão, endereçando ainda uma palavra ao público
afeto à sua equipa: «não quero deixar de
enaltecer o apoio entusiástico que o público de Portimão nos dispensou e bom
seria que assim se mantivesse durante as jornadas do campeonato. Esse calor humano
à nossa volta só engrandece a equipa».
Para
a história do Portimonense e do futebol português aqui fica a ficha deste jogo:
Estádio
do Portimonense. Árbitro: Alphonse Constantin (Bélgica)
Portimonense:
Vital; Dinis, Balacó, Simões, Teixeirinha, Freire, Carvalho, Nivaldo, Luís
Reina, Pita e Cadorin. Substituições: Nivaldo por João Reina, Freire por Barão,
aos 40 e 44 minutos respetivamente. Treinador: Vítor Oliveira.
Partizan:
Omeovic; Radovic, Vermezovic, Capljic, Rojevic, Zivkovic, Stevanovic, Radanovic,
Nikodijevic, Varga e Vucievic. Substituições: Varga por Djukic, Stevanovic por
Diermai, aos 21 e 27 minutos, respetivamente. Treinador: Nenad Bjekovic.
Golo:
Pita, aos 47 minutos.
ENTREVISTA COM
JOÃO REINA
«DIGNIFICÁMOS O FUTEBOL PORTUGUÊS E PRINCIPALMENTE O FUTEBOL ALGARVIO»
Algarvio de gema
(nasceu em Olhão), João Reina era uma das figuras do plantel do Portimonense
que viveu na pele a aventura europeia de 85/86. Ele participou no célebre jogo
com o Partizan, entrando para o lugar de Nivaldo. Chegou a Portimão
precisamente na histórica temporada em que o emblema algarvio alcançou o 5.º
lugar que deu acesso à Taça UEFA, e nesta entrevista ao Museu Virtual do Futebol o antigo defesa recordou não só a épica
vitória ante o conjunto oriundo da ex-Jugoslávia, como também falou dos timoneiros (Vítor Oliveira e Manuel
José) que conduziram a nau algarvia
naqueles anos dourados, bem como o
significado que este triunfo teve para toda a região do Algarve.
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João Reina com a camisola do Portimonense |
Museu Virtual do
Futebol (MVF): O João Reina cumpria na altura a segunda época em Portimão,
sendo um dos obreiros desta qualificação para a Taça UEFA. Como explica esta
rápida ascensão à Europa do futebol de um clube que só se tinha estreado na 1.ª
Divisão em 1979?
João
Reina (JR): O Portimonense já vinha fazendo boas épocas na 1.ª Divisão Nacional,
e com a entrada de vários jogadores e do treinador Manuel José, que tinha um grande conhecimento
do futebol português, a pré época correu muito bem e começámos nos lugares
acima do meio da tabela. Depois, fomos cimentando a nossa posição, conseguido a
qualificação (europeia) com muito mérito.
MVF: Recorda-se
como é que Portimão, e o Algarve em geral, viveram esta qualificação para uma
competição europeia?
JR:
Sendo o primeiro clube algarvio a conseguir esse feito Portimão e o Algarve
estavam naturalmente ansiosos à espera desses jogos (europeus).
MVF: E quando no
sorteio uefeiro vos colocou pela frente o Partizan, um clube poderoso, oriundo
de uma escola de futebol muito forte, o que vos passou pela cabeça nessa
altura?
JR:
Toda a gente conhecia o Partizan, que na altura era uma das boas equipas da
Europa. Mas nós tínhamos o sonho de fazer uma boa prova.
MVF: O que vos
disse Vítor Oliveira nos dias que antecederam este jogo, como é que ele
trabalhou a vossa mente no sentido de ultrapassar este obstáculo?
JR:
O mister Vítor Oliveira sempre se
mostrou tranquilo, sempre a motivar-nos não só nestes jogos (europeus), como também
para os do campeonato. Mas sempre acreditando que poderíamos seguir em frente
nesta eliminatória.
MVF: Por falar
em Vítor Oliveira, o João Reina partilhou o balneário com ele nos anos de
Portimonense, quer enquanto colega de equipa, quer na qualidade de pupilo. O
que lhe diz Vítor Oliveira ainda hoje, o que se lembra dele?
JR:
Como colega foi um orgulho fazer parte da equipa dele. Sempre foi amigo do seu
amigo, e como seu pupilo (mais tarde) dele sempre foi um treinador a pensar em
prol da equipa, sem olhar a nomes, fazendo
jogar quem estava seu melhor momento de forma. Com ele aprendi muito de
futebol, e já na altura o Portimonense jogava com três centrais e dois alas e eu
fui um dos que fui adaptado à posição de ala, onde penso que me saí bem. O Vítor
Oliveira é uma pessoa que nunca vou esquecer.
MVF: Não podemos
esquecer que esta qualificação europeia foi obra de outro nome consagrado da
tática em Portugal, Manuel José...
JR:
Foi o mister Manuel José que me levou
para o Portimonense, tendo ele conseguido o feito de nos apurarmos para uma
competição da UEFA. Foi dos bons treinadores que tive ao longo da minha
carreira, e dele guardo boas recordações, tal como do mister Vítor Oliveira.
MVF: Veio o dia
do jogo, ou melhor, a noite, porque se estreava a iluminação artificial, e o
que sentiu quando a bola começou a rolar no ambiente quente - no duplo sentido -
algarvio. Como foram os primeiros minutos de jogo, estavam nervosos, acreditavam
que podiam ganhar, em suma como estava a equipa?
JR:
Naturalmente estávamos todos nervosos, mas com o decorrer dos minutos fomos
acreditando que poderíamos fazer um bom resultado. Acho até que o 1-0 foi pouco
pelo que produzimos, principalmente na 2.ª parte. Tínhamos um excelente grupo. com
alguns jogadores mais experiente que encaravam o jogo de outra forma.
MVF: Rezam as
crónicas que na segunda parte o Portimonense soltou-se mais, dominou o jogo, e
veio o golaço de Pita. O que se lembra destes momentos da etapa complementar, do
golo, e de que vos disse Vítor Oliveira ao intervalo e que mudou a atitude dos
jogadores de Portimão (?)
JR:
O Portimonense, como já disse, fez uma grande 2.ª parte, tendo o golo do Pita
reposto alguma verdade no marcador. O Vítor Oliveira só nos fez acreditar que
poderíamos sair com uma vitória nesse jogo.
MVF: Esta é uma pergunta
clássica, mas impõe-se: qual foi o segredo para vencer o Partizan naquela
noite?
JR:
O segredo foi acreditarmos no grupo que tínhamos, e que fazendo um jogo sem
erros poderíamos ganhar. E foi o que aconteceu.
MVF: Tem ideia
do que significou esta vitória para o clube e em particular para a região do
Algarve, que até então internacionalmente era só conhecida pelo sol e pelas
belas praias?
JR:
Para o clube foi o encarar o campeonato com mais tranquilidade, sabendo que os
nossos adversários iriam olhar pata nós de outra forma, respeitando-nos mais.
Para a região foi o dar a saber que no Algarve também existia futebol.
MVF: E depois, o
que aconteceu em Belgrado para justificar a pesada derrota e a consequente
eliminação da Taça UEFA?
JR:
Em Belgrado sofremos logo nos primeiros minutos um golo, e contra estas equipas
quando se sofre cedo dificilmente se consegue contrariar a sua maior experiência,
como era o caso do Partizan. Mas penso que dignificámos o futebol português e
principalmente o futebol algarvio.