Associação de Futebol de Braga ergueu em 2011 a única Taça das Regiões da UEFA do futebol luso |
Numa
altura em que a nação futebolística (portuguesa) enriqueceu o seu palmarés com
um novo título internacional, o mesmo será dizer, a Liga das Nações da UEFA, será
porventura oportuno recordar uma outra glória continental cuja memória parece
cada vez mais esbatida à medida que o tempo avança. Por outras palavras, uma
conquista esquecida ou desconhecida (para muitos) mas que para sempre fará
parte da história do futebol nacional no que ao rol de títulos internacionais
(quer seja ao nível de clubes, quer seja ao nível de seleções) diz respeito.
Um
feito que não vai muito longe na "estrada do tempo", oito anos (que
se cumpriram no último mês de junho) para sermos mais precisos. Só por isso
seria merecedor de estar bem fresco na memória de todos os adeptos do futebol,
mas o pouco mediatismo que é dado à competição faz com que praticamente não
passe de uma gloriosa lembrança quase somente para quem viveu de perto as
emoções desta vitória internacional.
Sem
mais rodeios abrimos hoje as portas do Museu
Virtual do Futebol para falar da conquista da Taça das Regiões da UEFA por
intermédio da seleção distrital da Associação de Futebol de Braga (AFB) no
início do verão de 2011.
Taça das Regiões da UEFA! Mas afinal o que é isto?
O troféu que coroa o campeão da UEFA Regions Cup |
Mas
antes de entrarmos propriamente na Máquina
do Tempo para recordar a mítica tarde de 28 de junho no Estádio Cidade de
Barcelos em que o combinado da AFB derrotou os irlandeses do Leinster &
Munster por 2-1 e conquistou pela primeira (e única, até à data) vez o caneco para Portugal, é de bom tom fazer
uma breve apresentação da UEFA Regions
Cup, ou traduzido para o nosso idioma, a Taça das Regiões da UEFA.
Pensada
pelo organismo que tutela o futebol europeu - a UEFA - em finais do século XX,
a Taça das Regiões iria ver a luz do dia em 1999, com a realização da primeira
edição de um certame cujo intuito é promover o futebol amador do Velho Continente. A competição é
destinada às associações regionais de futebol dos países membros da UEFA.
A Regions Cup segue na linha da extinta
Taça Amadora da UEFA, disputada por clubes amadores entre 1966 e 1978, e cujo
término se ficou a dever - sobretudo - à falta de popularidade entre os adeptos
da modalidade. Nos anos 90 a UEFA repensou então a competição, procedendo a
algumas alterações, desde logo em relação aos participantes na mesma, que
passaram a ser as seleções regionais/distritais de cada país, as quais disputam
a prova em diversas fases, sendo que a última delas - a fase final - é sediada
numa nação, à semelhança do que acontece com as outras competições de
selecionados nacionais organizadas pela UEFA.
Cada
país envia à Taça das Regiões o vencedor do seu respetivo campeonato nacional
de regiões. A competição é disputada de dois em dois anos, sendo que em junho
de 2019 cumpriu-se o vigésimo aniversário da (re)fundação da maior competição
internacional do futebol amador a nível europeu.
A seleção da A.F. Braga fez a festa em Barcelos |
Voltemos
então a 2011, ano em que a UEFA levou a cabo a fase final da 7.ª edição da
competição, escolhendo Portugal, mais concretamente a zona do Minho, para
encontrar o sucessor da equipa da região de Castilla e León (Espanha) na lista
de vencedores (http://bit.do/eYiHb).
Porém,
a caminhada para a fase final teve início muito antes, mais concretamente em
finais de agosto de 2010, altura em que arrancou a fase de qualificação que
iria definir os oito finalistas da UEFA
Regions Cup 2011.
O
representante de Portugal foi então a seleção distrital da Associação de
Futebol de Braga, que com três vitórias noutros tantos jogos realizados
garantiu o primeiro lugar no Grupo 2 (que integrava ainda as seleções da EWC
Escócia, da Região Centro da Bélgica, e da Região de Ticino/Suíça) da fase
intermédia de qualificação, assegurando assim o passaporte para a fase final. Conhecidos os oito finalistas a UEFA
atribuiu a Portugal a honra de organizar pela primeira vez a fase final do
torneio, ficando definido que a AFB iria jogar em casa, isto é, no verde Minho, nos estádios Cidade de
Barcelos, 1.º de Maio (Braga), Municipal de Vila Verde e no Complexo Desportivo
de Fão, entre os dias 21 e 28 de junho.
Refira-se
a título de curiosidade que o combinado distrital bracarense já havia estado
muito perto de conquistar esta Taça das Regiões da UEFA, quando no ano de 2001
foi derrotado na final, realizada em Zlin (República Checa), pela seleção checa
da Morávia, no desempate através de grandes penalidades.
Dez
anos depois tudo seria diferente para os bracarenses, que nesta fase final
foram orientados pelo experiente treinador minhoto Dito.
Seleção
bracarense que era formada à base de futebolistas que atuavam (obrigatoriamente
como atletas amadores, ou semi-profissionais) em equipas de vários emblemas
minhotos, como os Caçadores das Taipas, o Santa Maria, o Amares, o
Vilaverdense, entre outros.
A caminhada rumo ao inédito título
Momento do jogo ante os ucranianos do Yednyst Plysky |
Integrada
no Grupo A da fase final a turma bracarense teve um trajeto imaculado, isto é,
100 por cento vitorioso, que começou com um triunfo por 3-1 no Estádio 1.º de
Maio sobre o checos do Zlin por 3-1, com golos de Hugo Veiga, Diogo Leite e
João Silva.
O passo
seguinte rumo à desejada final foi dado em Barcelos, altura em que os
portugueses derrubaram a muralha ucraniana do Yednyst Plysky. A seleção da AFB
ainda apanhou um susto, quando logo aos 10 minutos os homens de leste
colocaram-se em vantagem por intermédio de Babor. Contudo, a veia goleadora de
José Ferreira (22 minutos) e Daniel Simões (59 minutos) e a inspiração do
guarda-redes Simão Barbosa (defendeu uma grande penalidade) operaram a
reviravolta no marcador e asseguraram mais um triunfo aos pupilos de Dito.
E seria
em Vila Verde que a seleção bracarense iria assegurar matematicamente a
passagem à final na sequência de uma nova e concludente vitória por 3-1 sobre a
seleção distrital de Wurttemberg (Alemanha), com o destaque individual a ir
para José Ferreira, autor de dois golos (37 e 88 minutos), cabendo a Pedro
Nobre (no período de compensação da primeira parte) apontar o outro tento luso.
E assim estava alcançada a final.
Jogo
decisivo onde os bracarense iriam ter pela frente o vencedor do Grupo B, os
irlandeses da região de Leinster & Munster, que haviam levado a melhor
sobre a concorrência composta pelos combinados distritais de Belgrado (Sérvia),
Ankara (Turquia) e Região Sul da Rússia.
Jogo intenso em Barcelos que fica para a
História
Os dois
vencedores da fase de grupos encontraram-se no Estádio Cidade de Barcelos, ao
final da tarde de 28 de junho, tendo disputado um jogo intenso que terminou com
o triunfo português por 2-1.
No
entanto, a seleção da AFB teve de sofrer para colocar as mãos na taça. Os
irlandeses até criaram o primeiro lance digno de registo na partida, quando
logo aos três minutos Laurence Dunne enviou uma bola à trave da baliza de Rui
Vieira. Após este susto inicial, os portugueses equilibraram um encontro onde o
nervosismo (muitos passes errados de parte a parte) imperou na primeira meia
hora. A AFB teve a sua primeira oportunidade golo somente ao minuto 33, quando
uma bela incursão pelo flanco direito do lateral João Silva só foi travada por
uma magnífica defesa do guarda-redes Brendan O'Connell.
O capitão de equipa Daniel Simões em luta com um irlandês |
Este
lance animou o combinado luso, que até ao intervalo voltaria a ter uma nova e
flagrante oportunidade de golo por intermédio de Luís Ribeiro. Valeram mais uma
vez os excelentes reflexos de O'Connell. A segunda parte iniciou-se tal como a
primeira, ou seja, com a equipa de Leinster & Munster a levar perigo à
baliza bracarense na sequência de um perigoso cabeceamento de
David
Lacey, tendo o golo sido evitado graças a uma magnífica intervenção de Rui
Vieira. Era agora a vez do guardião luso mostrar os seus atributos.
Entretanto,
Dito mexe no seu xadrez, colocando em
campo Renato Reis (no lugar de Luís Ribeiro) e eis que à passagem do minuto 62
a (maior) qualidade técnica dos portugueses veio ao de cima com um grande golo
de Pedro Nobre. O avançado captou a bola na entrada da área irlandesa,
dominou-a com arte e engenho e dali mesmo, de fora de área, encheu o pé
(direito) para enviar o esférico direitinho para o fundo das redes de O'Connell,
que mais não fez do que assistir impotente ao grande golo bracarense.
Por
norma, os irlandeses são um povo que dificilmente atiram a toalha ao chão
perante o primeiro obstáculo encontrado e em Barcelos a garra irlandesa veio ao
de cima praticamente logo a seguir ao golo português. Uma defesa incompleta de
Rui Vieira (a remate de Ray Whelehan) permitiu a David O'Sullivan fazer a
recarga vitoriosa e restabelecer assim a igualdade. A partida estava frenética.
Diogo Leite tenta ganhar a bola nas alturas |
As
equipas aumentaram a intensidade do seu futebol em busca do golo da vitória. E
eis que numa altura em que já cheirava a prolongamento (corria o minuto 84) um
golpe de sorte (ou não) protagonizado por José Fortunato deu a vitória e o
inédito título à seleção de Braga... e ao futebol português.
Fortunato
cruzou a bola na direita do seu ataque... diretamente para o fundo da baliza,
fazendo o 2-1 final.
A
festa, naturalmente, que invadiu o relvado do Estádio Cidade de Barcelos assim
que o norueguês Ken Henry Johnson apitou pela última vez naquela tarde de
glória do futebol nacional.
Sim, às
conquistas internacionais do Benfica, Sporting, FC Porto e das seleções
nacionais (até então só ao nível da formação) juntava-se agora esta UEFA Regions Cup.
Nesse
jogo que ficará para a eternidade a seleção da Associação de Futebol de Braga
alinhou da seguinte forma: Rui Vieira; José Fortunato, Tiago Costa, Daniel
Simões e Talocha; Manuel Gonçalves (José Costa, 63), José Ferreira (Diogo
Gomes, 73) e Hugo Veiga; Pedro Nobre, Diogo Leite e Luís Ribeiro (Renato Reis,
60).
Proeza que caiu em esquecimento (?)
E no final a festa foi portuguesa! |
A
imprensa nacional deu a devida atenção e destaque, naturalmente, a esta
conquista. Contudo, volvidos apenas oito anos dessa conquista alguns dos heróis
de Barcelos sentem-se indignados com o esquecimento a que foram vetados até
pela própria Associação de Futebol de Braga. Pelo menos a julgar pelo
comunicado enviado o ano passado ao presidente da referida associação, onde manifestaram
a «mágoa, tristeza e desilusão por terem sido esquecidos por alguém que deveria
valorizar este feito». Precisamente a AFB.
Provavelmente,
hoje, esta conquista não passa despercebida só a AFB, mas a outras altas instâncias
do futebol português que ignoram (ou desconhecem?) que Portugal tem no seu
palmarés um título internacional ao nível do futebol amador.
Ora, no
Museu Virtual do Futebol os grandes
feitos futebolísticos (sejam eles de maior ou de menor mediatismo) são evocados
e guardados religiosamente nestas vitrinas virtuais. Nesse sentido, aqui fica a
nossa homenagem ao heróis de Barcelos naquela tarde de 28 de junho de 2011. O
futebol português, aliás, o desporto nacional, deve-vos, por isso, um
"muito obrigado".
ENTREVISTA A HUGO VEIGA
«Esta conquista foi um dos melhores momentos
que vivi durante o meu percurso no futebol»
Hugo Veiga |
Muitos dos obreiros desta conquista nacional
caminham hoje pelos relvados do futebol distrital. Outros, já penduraram de vez
as chuteiras sem terem experimentado a sensação de viverem sob os holofotes da
fama do futebol profissional. Poucos, muito poucos, conseguiram ultrapassar a
fronteira desse sonho, precisamente serem futebolistas profissionais. Aliás,
essa é outra das missões (para além de promover o futebol amador, ou
semi-profissional) desta competição uefeira, tentar descobrir talentos no
futebol amador para encaminhá-los para o patamar profissional. Mas nem todos
têm essa sorte. Um dos homens que fez parte do grupo de campeões da Taça das
Regiões da UEFA de 2011 acabou a última temporada desportiva a defender as
cores do Académico Futebol Clube de Martim, da Divisão de Honra da Associação
de Futebol de Braga. Ele, que foi preponderante na caminhada para o título,
tendo sido titular absoluto em todos os jogos da fase final e autor do primeiro
golo da caminhada triunfal da equipa bracarense.
Com passagens pelos escalões de formação do
Sporting Clube de Braga e do Gil Vicente deu início ao seu percurso no escalão
sénior no Vieira S.C., onde jogou durante seis épocas, ao que seguiram cinco
épocas no Santa Maria F.C, uma época no Brito S.C., duas temporadas nos Caçadores
das Taipas, tendo atuado na segunda metade da época passada ao serviço do
Martim.
Profissionalmente, é Business Coach na ZOME, num dos HUB’s do Porto, sendo um dos
responsáveis pela Gestão, Formação e Acompanhamento dos Consultores
Imobiliários da empresa.
Com enorme satisfação, pois não é todos os
dias que recebemos um campeão da Europa, passamos
a bola - neste caso a palavra - a Hugo
Veiga, um dos médios escolhidos por Dito para integrar o grupo da seleção
distrital da AFB nessa edição da competição.
Museu Virtual do Futebol (MVF): Que
significado teve para si esta vitória na UEFA
Regions Cup de 2011?
Hugo Veiga (HV): Para mim esta
conquista foi sem dúvida um dos melhores momentos que vivi durante o meu
percurso no futebol. Tudo o que envolveu a competição foi absolutamente
fantástico, tornando-se ainda mais marcante pela nossa vitória.
MVF: O facto de a vitória ter acontecido em
território nacional, ainda por cima na região de Braga, a vossa casa, teve um
sabor ainda mais especial...
HV: ... Sem dúvida! O facto de ter sido em
Portugal, de jogarmos em casa, permitiu termos perto de nós a nossa família e
amigos, assim como algum público também. Sentimos muito o apoio da nossa
região, assim como o apoio dos meios de comunicação social locais.
MVF: Olhando para trás, como podemos
caracterizar o grupo campeão?
HV: O grupo, para além do talento individual de
todos os meus colegas, funcionou sempre de forma perfeita. Quer dentro, quer
fora do campo, a harmonia foi uma constante, e o apoio e a amizade entre todos
foi fundamental e um dos segredos para o nosso sucesso.
O placard eletrónico do estádio não engana, a taça é bracarense! |
MVF: Todos vocês eram jogadores amadores, ou
semi-profissionais, que era aliás uma condição para participarem na prova. Mas
durante aquela semana em que decorreu a fase final sentiram-se estrelas de
futebol (?), digamos assim, com a sensação de participar numa competição
internacional, de viver e trabalhar unicamente em volta da prova, de
concentração absoluta na prova, à semelhança de uma seleção nacional quando
está numa fase final de um Mundial e de um Europeu...
HV: As duas fases da competição (fase de
apuramento e fase final) foram vividas por todos nós, staff e jogadores, de uma
forma profissional. O empenho e a dedicação foram máximos, e só assim se tornou
possível conquistarmos este troféu. Apesar de todos nós sermos amadores e/ou
semi-profissionais, conseguimos, durante estes períodos, cumprir com a
exigência de todos os momentos que enfrentamos, o que demonstra o empenho e a
qualidade de todos.
MVF: O aspeto de terem sido orientados tecnicamente
por um treinador profissional, o Dito, ajudou-vos a assimilar conceitos
diferentes daqueles que estavam habituados no futebol amador e que terão sido
fundamentais para vos guiar à vitória?
HV: Sem dúvida que o Mister Dito, assim como o
Mister Salgueiro e todo o staff foram muito importantes para o êxito da nossa seleção.
A forma de trabalhar não foi diferente da que estávamos habituados, até porque
no futebol amador/semi-profissional há excelentes treinadores, e já havia
naquela altura. No entanto, todos eles conseguiram incutir em nós esse espírito
e mentalidade que nos permitiu vestir a “pele” de jogadores profissionais.
MVF: A participação no torneio foi também uma
experiência para trocar partilhas/conhecimentos com jogadores amadores de outros
países...
HV: Sim,
claro. Durante o estágio e a competição, pudemos conviver com as outras
seleções, perceber como o futebol é vivido em países como a Turquia, a Irlanda,
ou Bélgica, por exemplo. Foi, a esse nível, uma experiência muito
enriquecedora.
MVF: Tratando-se de uma competição menos
mediática, mesmo sendo esta a nível internacional a maior prova de seleções
distritais, como vocês sentiram que o país olhou para esta vossa vitória?
HV: Penso
que teve o impacto merecido. A nível local, o acompanhamento que tivemos foi
praticamente diário. A nível nacional, recordo-me de alguns momentos,
principalmente em jornais desportivos, em que a nossa seleção foi alvo de
algumas notícias e reportagens.
Hugo Veiga e um jogador irlandês antes da grande final |
MVF: No entanto, ainda o ano passado o grupo
que conquistou este triunfo inédito para Portugal emitiu um comunicado à AFB
dando conta da sua mágoa e tristeza pelo esquecimento a que foram vetados...
HV: Penso que esse episódio (que foi uma
iniciativa de alguns dos meus colegas) deveu-se principalmente ao facto de que,
apesar de ter sido uma conquista fantástica por parte da nossa seleção, não
voltou a ser relembrada pela Associação de Futebol de Braga. É claro que todos
nós olhamos para trás com orgulho e até com alguma saudade, e sentimos e
sabemos que foi um momento marcante, e que merece ser alvo de destaque ao longo
do tempo.
MVF: Este esquecimento, digamos assim, é a
prova de que o futebol amador, ou semi-profissional, não tem a atenção que
merece no nosso país, que ainda é visto como um conjunto de rapazes que aos
domingos se juntam para dar uns toques na bola(?)
HV: Penso que a visão sobre futebol amador ou
semi-profissional tem sofrido algumas alterações nos últimos anos. Hoje em dia,
as pessoas acompanham mais, até porque tem sido cada vez mais comum treinadores
e jogadores deste nível passarem a níveis superiores. A formação que existe nos
clubes tem também contribuído para um acréscimo de qualidade de todos os
intervenientes, e isso acaba por beneficiar todos. Se seria benéfico existirem
melhores condições para todos os praticantes? Sem dúvida que sim.
MVF: O que seria preciso em seu entender para
mudar esta mentalidade em relação à forma menos atenta como por vezes se olha para
o futebol amador/semi-profissional?
HV: Acredito que, se desde 2011 até agora, a
mentalidade e as condições do futebol amador evoluíram, a perspetiva para o
futuro é boa. Existe, claramente, uma grande discrepância entre o investimento
que é feito em determinados níveis, sendo que a percentagem de praticantes é
avassaladoramente superior nestas divisões inferiores. Uma melhor distribuição
deste investimento poderia, na minha opinião, resultar num ganho ao nível da
qualidade do futebol português. Talvez esta pudesse ser uma estratégia positiva
para todos.
MVF: Voltando à conquista de 2011. Tirando o
Talocha, que hoje atua como profissional no Boavista, e mais um ou outro atleta,
mais nenhum jogador daquele grupo atingiu o patamar do futebol profissional.
Você foi um deles. O que faltou para atingir esse patamar?
HV: Tivemos o Talocha, que espero que continue
neste patamar por muitos e longos anos, mas também o Pedro, o Rui Vieira ou o
Renato Reis, que também atingiram um excelente patamar no futebol. No meu caso,
sinto-me muito feliz pelo meu percurso, pois consegui algumas conquistas e
acima de tudo, o reconhecimento das pessoas e clubes por onde passei. Se não
cheguei a outros patamares, quero acreditar que foi porque não tinha qualidade
suficiente para isso, ou simplesmente porque a oportunidade não surgiu.
MVF: No aspeto pessoal, que benefícios
retirou para a sua carreira futebolística dessa experiência na UEFA Regions Cup de 2011?
HV: Esta experiência foi uma alavanca em termos
da minha maturidade como jogador. As épocas que se seguiram foram as minhas
melhores épocas. Conquistar a UEFA
Regions Cup foi uma motivação enorme, e trouxe mais confiança e
experiência. Penso que consegui, nos anos que se seguiram, transportar tudo
isso para os meus balneários e para dentro do campo.
MVF: O grupo de jogadores mantém contacto
entre si?
HV: Sim, claro. Alguns de nós já éramos grandes
amigos, e todos nos conhecíamos, ou de jogarmos juntos nos clubes, ou de nos
defrontarmos. Esta experiência fortaleceu esses laços, sem dúvida.
MVF: Para terminar, fale-nos daquele golo apontado
logo no primeiro jogo da fase final contra a equipa checa, que abriu o caminho
da glória. Foi o seu melhor momento da fase final, ou guarda outro, ou outros,
momento(s) ainda hoje na sua memória (?)
HV: Foi um golo muito importante para a equipa,
assim como para mim. Sempre que temos um bom desempenho, a nossa confiança sai
reforçada. No geral, fiquei muito satisfeito com a minha prestação, pois
senti-me uma peça muito importante na nossa seleção. O momento mais importante
foi a conquista do troféu, e acredito que todos os meus colegas partilham da
minha opinião. Foi marcante!
Nota: os créditos das fotografias que ilustram
esta viagem ao passado são do sítio www.uefa.com