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A equipa do Salgueiros que se estreou na 1.ª Divisão em 43/44 |
Com
110 anos de história, o Sport Comércio e Salgueiros procura hoje regressar a um
lugar que por direito é seu: o patamar mais alto do futebol nacional, isto é, a
1.ª Liga. Com 24 presenças entre a elite do futebol luso, o clube portuense
encontra-se entre os 20 primeiros do ranking de clubes com mais participações
no escalão maior de Portugal.
A
velha Europa procurava ainda sair do conflito bélico de proporções
catastróficas que constituiu a 2.ª Guerra Mundial (1939-1945) quando o popular Salgueiral subiu pela primeira vez ao
palco principal do futebol português. Facto ocorrido na temporada de 1943/44, altura
que se jogou a 10,ª edição do Campeonato Nacional da 1.ª Divisão, e onde o
Sporting - que ainda só tinha três dos seus Cinco Violinos - procurava destronar
o Benfica de Guilherme Espírito Santo e de Julinho do trono do desporto rei nacional, e em que o FC
Porto de Pinga e Correia Dias procurava sob a batuta do húngaro Lippo Hertzka,
ex-treinador de Benfica e Real Madrid, recuperar um título que lhe fugia há
três anos para os rivais da capital. Mas havia outros emblemas históricos que
procuravam um lugar ao sol neste Nacional de 43/44, casos do Belenenses, da
Académica, do Olhanense, do Atlético, ou dos dois Vitórias (o de Guimarães e o
de Setúbal). E no meio da nata do futebol lusitano surgia um caloiro, o
Salgueiros, emblema que surpreendeu o país futebolístico ao classificar-se em
2.º lugar no Campeonato Regional do Porto dessa temporada - e que antecedia o
Nacional da 1.ª Divisão -, atrás do FC Porto, clube que dominava o futebol
nortenho de então, mas à frente de clubes que haviam já pisado o palco do
escalão maior de Portugal, casos do Leixões, do Académico do Porto, do Boavista
e do próprio Leça.
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Eng. Vidal Pinheiro |
A
boa campanha efetuada no Regional portuense trazia otimismo às hostes
salgueiristas na antecâmara da 1.ª Divisão Nacional, conforme é possível
comprovar numa entrevista concedida pelo então dirigente encarnado Vidal
Pinheiro à revista "Stadium" - publicação que nos ajuda a escrever
esta efeméride em torno da estreia do Salgueiros no escalão maior e cujas imagens ajudam a ilustrar esta viagem ao passado. Nessa
conversa conduzida pelo jornalista Mário Afonso, o histórico Engenheiro Vidal
Pinheiro, então presidente da chamada Comissão de Melhoramentos do clube,
afirmava que o Salgueiros estava na 1.ª Divisão Nacional por mérito próprio,
e não porque devesse essa subida
a favores de qualquer espécie. «Depois do
F. C. do Porto, o Salgueiros foi o clube mais regular. As suas únicas derrotas
foram infligidas pelo campeão; os restantes vencemo-los com resultados mais ao menos
volumosos», dizia o dirigente. Quando
questionado mais adiante sobre as possibilidades do clube nesta participação
então inédita na 1.ª Divisão, o Eng. Vidal Pinheiro respondia que «haverá, certamente. um certo "tatear" nos primeiros jogos,
mas, depois, haveremos de fazer algo de jeito. Boa posição na escalão (tabela)?
Não sei.... tudo depende. Mas o que lhe posso afirmar é que nem deixaremos mal
colocado o nosso nome e o brio da cidade que representamos de parceria com o F.
C. do Porto, nem seremos um "mau amigo" do nosso campeão»,
vaticinava.
Questionado
ainda se havia boa disposição no plantel, Vidal Pinheiro era perentório em dizer
que ânimo, coragem e fé não faltava num grupo em que ele confiava em pleno para
uma boa campanha. Quanto a moral, resistência.... «Sim, devem tê-la em grau superlativo. Recordemos, por momentos que só
este ano após tanta vicissitude conseguimos atingir o fim almejado: entrar no
Campeonato Nacional da 1.ª Divisão. Portanto, creio que não poderão ter mais
moral do que nesta época. Quanto à resistência, eu lhe explico: deve ter notado
que o grupo, ao concluir qualquer encontro, não dava, este ano, aquela
exteriorização de fadiga, como em anos transatos. Sabe porquê? Pela simples
razão de todos os jogadores terem sido obrigados a seguir, durante o defeso, um
curso de gimnástica e preparação atlética, de forma que ao iniciar-se o
campeonato regional, todos estivessem em boas condições físicas».
Vidal
Pinheiro estava certo de que esta subida à 1.ª Divisão Nacional iria dar muito
mais visibilidade a um clube que... não era só futebol. «Uma coisa lhe quero dizer. Para já, conseguimos isto: que se falasse,
durante todo um ano no nome do meu clube. Já não é como outrora, em que, após a
época do futebol, o Salgueiros desaparecia das gazetas, esquecido até ao ano
seguinte. Agora não. Falou-se nele constantemente: a propósito da natação, do
atletismo, do basquetebol, do andebol, do ciclismo, etc». Era o este o
Salgueiros que Vidal Pinheiro e seus pares vinham trabalhando afincadamente naqueles
anos, um clube eclético que pretendia chamar a atenção do público do desporto
português. E conseguiu-o.
Dores de
crescimento fizeram-se sentir no início
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Atlético - Salgueiros |
Tal
como o Eng. Vidal Pinheiro previu na antevisão deste Nacional da 1.ª Divisão de
43/44, o Salgueiros acusou inicialmente alguma inexperiência na alta roda do
futebol português. Algum desconhecimento até, face aos grupos do sul, com quem
não estaria habituado a medir forças, acabando por pagar essa fatura sobretudo
na primeira volta do campeonato. De facto, o Salgueiros surgiu muito tímido nos
campos de batalha do futebol luso, e mais do que averbar derrotas mostrou
muitas fragilidades ao nível do seu jogo. Porém, com o avançar da época a
equipa foi ganhando outra alma, outro ânimo, mostrando que afinal também tinha
valor e bom futebol para figurar entre a elite portuguesa. Mas vamos ao filme
da primeira passagem do Salgueiral
pelo palco maior do nosso futebol. O pontapé de saída aconteceu na Tapadinha,
mítica casa do Atlético, onde as coisas não correram de feição aos encarnados,
a julgar não pelo desaire por 4-0, mas de igual modo pelo conceituado
jornalista da "Stadium", Tavares da Silva, que foi duro nas palavras
na apreciação ao jogo dos salgueiristas: «O
sub-campeão do Porto - segundo opinião unânime - traz para a prova pouco valor.
Se isso não importa, de momento, interesso no futuro, porque o grupo representa
a 2.ª região futebolística do país. Da má exibição - é possível que o bloco se
ajeite melhor em futuras digressões - nada ficou senão a afirmação de um
guarda-redes de razoável categoria (Peixoto). Pouco mais do que isto o
Salgueiros deixou na sua primeira visita, podendo no entanto citar-se alguns
dos seus lances na organização da defesa - porque o ataque quase não existiu».
Na
ronda seguinte a tarefa do Salgueiros em apagar a má exibição da estreia era
uma missão quase impossível, ou não tivesse pela frente o campeão nacional em
título, o Benfica. Os lisboetas, orientados pelo antigo guarda-redes de
Académico do Porto e Boavista, Janos Biri, surgiram no Campo Augusto Leça, o
reduto dos salgueiristas, com uma linha de ataque de respeito, formada por
Julinho, Rogério Pipi e Alfredo Valadas. No entanto, e de acordo com a pena de
Tavares da Silva, o Benfica não esteve nos seus melhores dias nesta visita ao
Porto, jogando no aproveitamento do erro do adversário. Erros que ao que tudo indica
terão sido muitos para os encarnados do Norte. Para o consagrado jornalista, o Salgueiros voltou a mostrar
sinais de muita fragilidade, tendo a equipa sido sempre dominada pelos campeões
nacionais, que acabariam por vencer por claros 6-1. Contudo, apesar de
dominados, os portuenses quando atacavam conseguiam provocar algum
desentendimento entre a defesa benfiquista, uma nota que Tavares da Silva fez
sobressair na sua crónica e que considerou um aviso a ter em conta aos
lisboetas para quando defrontassem equipas que estivessem mais ao seu (alto)
nível. Outra nota a realçar é o golo salgueirista, o primeiro na alta roda do
futebol nacional, tendo o seu autor sido o médio Viana, um nome que ficará
assim na história deste clube.
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FC Porto - Salgueiros |
A
grande sala de visitas do futebol portuense daquela altura, o mesmo será dizer
o Estádio do Lima, foi a paragem seguinte do Salgueiros, que na 3.ª ronda
enfrentava o vizinho e campeão regional FC Porto. E quem pensava um novo
massacre enganou-se redondamente, pois o Salgueiral não só vendeu cara a
derrota (3-1) ante os azuis-e-brancos como também fez uma agradável exibição,
facto que mereceu destaque no relato do jornalista portuense Mário Afonso para
a "Stadium". Para este homem das letras o Salgueiros tinha feito a
sua melhor exibição até então neste campeonato, e o facto de ter sido ante um
dos candidatos ao título era ainda mais digno de registo. Mas para Mário Afonso
esta boa exibição aconteceu porque há equipas que se transcendem quando atuam perante
outros conjuntos, e neste caso puxou da rivalidade que existia entre os
dois emblemas para justificar esta boa exibição dos encarnados de Paranhos. «Quando joga contra o F. C. Porto, o
Salgueiros parece outro. Vale muito mais. Quase não
se acreditava que estivesse no Lima o mesmo grupo que jogou contra o Benfica! O
Salgueiros, animado pela rivalidade que mantém com o campeão, e costumado ao
ambiente, conseguiu praticar um futebol de conjunto, vivo, enérgico e com certa
ligação. Daí, equilíbrio, jogo repartido pelas duas metades da relva do Lima. Porque não pode
dizer-se que o Porto tenha jogado mal, e só ainda faz brilhar um pouco mais o
seu adversário. (...) O elemento mais destacado do Salgueiros continua a ser o
guarda-redes Peixoto. Um nome a apontar e a ver em exibições futuras: Oliveira,
o avançado-centro».
E foi precisamente de Oliveira o único golo do Salgueiros nesta derrota com...
algum sabor a vitória pela boa exibição conseguida.
Estudantes
testemunham uma vitória histórica!
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Salgueiros - Académica |
Apesar
de novato nestas andanças e de nas primeiras duas jornadas ter mostrado um
nível abaixo do que era exibido na alta roda do futebol português, não foi
preciso esperar muito para que as hostes salgueiristas festejassem a primeira
vitória no campeonato nacional. A primeira da sua história, visto desde os dias
de hoje. Facto ocorrido na 4.ª jornada, no Campo Augusto Leça, diante da
Académica de Coimbra. Um triunfo, por 3-1, que para o jornalista Tavares da
Silva devia ser levado em conta, desde logo pelo fraco nível exibicional que os
portuenses haviam mostrado nos primeiros jogos, pense embora na sua opinião
este triunfo não se tenha devido tanto a uma grande exibição do Salgueiral. Na sua
visão esta vitória teve como base o fator aproveitamento de três jogadores que
atuavam nos setores recuados e intermédios do terreno: em primeiro lugar o
guarda-redes Peixoto, o qual esteve magistral na 2.ª parte; o esforçado defesa
João (Santos); e o médio centro Sousa, que imprimiu à equipa a necessária
ligação tornando possível a realização dos golos. E se os estudantes estiveram
bem no primeiro tempo, após o golo do empate baixaram de rendimento, facto
aproveitado pelo Salgueiros para conquistar os primeiros pontos nesta prova.
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Sporting - Salgueiros |
A
este triunfo seguiu-se a derrota mais pesada do grupo neste Nacional de 43/44,
facto que aconteceu na visita ao reduto do poderoso Sporting, orientado por
Joseph Szabo, e cuja força residia em jogadores como Fernando Peyroteo, Albano,
Mourão, Cruz, entre tantos outros. 10-0 foi o pesado resultado final de um
encontro onde o Salgueiros, de acordo com Tavares da Silva, chegou em alguns
momentos a dar «agradável impressão da
sua movimentação geral, nada há mais a dizer senão salientar a má tarde do seu
guarda-redes, embora multo desprotegido».
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Salgueiros - Belenenses |
O
oponente seguinte foi outro histórico do futebol luso, no caso o Belenenses,
que na 6.ª jornada visitou o Campo Augusto Leça. Para este encontro os azuis de
Belém apresentaram no seu "onze" um novo guarda-redes, que dava pelo
nome de Capela, e que iria dali em diante marcar uma era no emblema da Cruz de
Cristo. Segundo a crónica de Tavares da Silva na "Stadium", o
estreante guardião cumpriu a sua missão, pese embora não tenha tido pela frente
uma linha avançada que lhe causasse muito trabalho. Mas nas poucas vezes que
foi chamado a intervir, fê-lo com segurança e classe. O Belenenses na opinião
do jornalista não fez uma exibição de grande brilho, chegou para as encomendas,
e quando garantiu a vitória atuou mais em ritmo de treino, acabando a partida
por perder algum interesse. E mesmo a expulsão do belenense Mário Coelho, no
final da primeira parte, não pôs em causa a supremacia do combinado orientado
pelo húngaro Sándor Peics. Quanto ao Salgueiros, esse quase todo esteve mal, na
visão de Tavares da Silva, «até a defesa,
que costuma comportar-se menos mal. Só se salvou o médio centro Coura, rapaz com merecimento activo e com boa posição
em campo, e um pouco Augusto, o interior direito. O ataque do Salgueiros quase
não existiu, devendo anotar-se simplesmente sua reação no começo do jogo, no pôs intervalo. O que não quer dizer que o team não tenha posto na luta, em todos
os momentos, uma bela energia». 6-1 foi o resultado final para o
Belenenses, cabendo a Silva marcar o tento de honra dos salgueiristas.
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Salgueiros - Olhanense |
Seguiram-se
mais dois jogos em casa, o primeiro deles ante os antigos campeões de Portugal,
dez anos antes, o Olhanense. Nova derrota para o Salgueiral, desta feita por 2-5. Um resultado que para Tavares da
Silva borrava o quadro da classificação geral, já que segundo aquele jornalista
enquanto todas as outras equipas davam sinais de progressão, sendo que o Salgueiros não
acompanhava essa tendência. E mesmo o setor defensivo, que até então era o que
se exibia em melhor forma no campo em encontros anteriores, neste jogo abriu
brechas por todo o lado. Apesar de evidenciar dificuldades, o conjunto de
Paranhos continuava a dar sinais de querer contrariar a tendência de que era
uma equipa ainda inexperiente nestas andanças, como comprovam as palavras do
jornalista da "Stadium": «Não
quer isto significar que os "salgueiros" não tenham dado um ar de
graça, no passado domingo. Pelo contrário, durante certo período da segunda
parte o ataque realizou coisas de bom jeito, mas depois perdeu o norte,
reduzindo-se a uma ou outro
tentativa, feita de quando em vez. Não fôra, mais uma vez, o médio Coura, e a
coisa ainda seria pior. O Salgueiros estreou dois jogadores: Renato, a interior-direito
e depois avançado-centro, e Faria, interior-esquerdo. Esta orientação, tirar dois
interiores e pôr lá outros dois de uma só vazada, mostra claramente as
dificuldades que o agrupamento atravessa, e os trabalhos de cabeça que os
dirigentes se dão para modificar um estado de coisas que já não tem modificação
possível, pelos vistos. Os estreantes revelaram alguma habilidade. Já não é mau
de todo».
Mas o cenário haveria de mudar, como veremos mais à frente. Ante os olhanenses
os golos salgueiristas foram apontados pelo estreante Renato e por Silva.
O
jogo seguinte mostrou, ainda que ao de leve, essa subida de forma, já que na receção ao Vitória
Sport Clube (de Guimarães) a turma portuense conquistou mais um ponto, fruto de
um empate a duas bolas. Sobre o jogo não há muitos relatos na
"Stadium", que ressalva apenas que o Salgueiros lutou com entusiasmo.
Coura e Silva apontaram os tentos dos salgueiristas.
O
outro Vitória a competir nesta 1.ª Divisão de 43/44, neste caso o de Setúbal,
foi o oponente seguinte. 2-1 a favor dos sadinos, foi o resultado final de uma
partida que segundo Tavares da Silva teve um rol de oportunidades
desperdiçadas, tantas foram as vezes que os avançados estiveram cara a cara com
os guarda-redes e não os conseguiram bater. Os portuenses continuavam a dar
indícios de crescimento no campeonato a julgar pelas palavras do jornalista: «o Salgueiros foi mais ameaçador do que o Vitória.
Inesperadamente ameaçador, pois ao conseguir um goal, este teve o efeito de
despertar as energias do adversário. Só quando começou a perder é que o Vitória
se lembrou que tinha de ganhar...». O goleador Silva foi mais uma vez o
artilheiro de serviço dos encarnados neste encontro.
Segunda volta
mostra um Salgueiros diferente... para melhor
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Salgueiros - Atlético |
Em
janeiro de 1944 arrancou a segunda volta do Nacional da 1.ª Divisão, tendo o
Salgueiros retribuído a visita à Tapadinha em novembro do ano anterior. O Atlético
era por esta altura uma das boas equipas do campeonato, ocupando os lugares da
frente do pelotão, fruto da bela campanha que vinha fazendo. E Tavares da Silva
na sua crónica habitual na "Stadium" frisou precisamente isso para
justificar o triunfo dos lisboetas no Campo Augusto Leça por 3-0. No entanto, o
Salgueiros continuava a dar sinais de crescimento... «O Salgueiros forçou a marche do encontro de modo a dominar durante
largos períodos do jogo, instalando-se na grande área dos lisboetas. Mas estes
nunca perderam o sangue frio, e aqueles nunca o encontraram em frente das redes
para fazer aquilo que
parece mais fácil mas que é o mais difícil: goal. A serenidade com que o
Atlético suportou a tempestade, defendendo uma vitória preciosa que - certo,
certo - nunca esteve praticamente ameaçada, diz-nos, além de tudo, que o grupo
está a adquirir a categoria dos grandes teams». E a prova disso
foi que os lisboetas acabariam este campeonato em 3.º lugar, à frente de clubes
de maior poderio, como o FC Porto, ou o Belenenses.
De
Lisboa era também o adversário seguinte dos encarnados do Porto, mas este de
maior peso, já que lutava com o eterno rival Sporting pelo título de campeão
nacional.
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Benfica - Salgueiros |
Numa
altura da temporada em que os clubes já levavam muitos jogos nas pernas, o
Benfica optou na receção ao Salgueiros por fazer descansar alguns dos seus
titulares, substituídos por nomes menos conhecidos, como Cerqueira, Carvalho e
Teixeira II, facto que terá, quiçá, pesado no facto de os benfiquistas terem
feito uma exibição algo "cinzenta", pouco condizente com um candidato
ao título. Valeu a inspiração de uma das suas maiores estrelas, Julinho, autor de
quatro dos seis golos com que os comandados de Janos Biri bateram os
salgueiristas por 6-1. Sobre estes últimos Tavares da Silva trazia boas novas: «É de notar também que o Salgueiros apresenta
progressos nos esquemas do seu jogo - sinal evidente de que a permanência na
competição de honra lhe tem feito bem». Renato foi o marcador do único tento
do Salgueiral no Campo Grande.
De
regresso à Cidade Invicta na jornada
que se seguiu para defrontar o vizinho FC Porto, que estava longe de convencer
neste campeonato. Foi uma partida que para o principal redator da
"Stadium" teve duas partes distintas, uma pautada pelo equilíbrio e
outra pelo... desequilíbrio. A primeira muito por culpa do facto de a equipa na
teoria mais fraca, o Salgueiros, ter querido impor-se, de jogar de igual para o
com o seu velho rival. A outra, quando essa mesma equipa de nível inferior
perdeu o fôlego e começou a desaparecer do encontro, aspeto aproveitado para os
portistas abrirem o marcador e chegarem à goleada final de 5-0. «Foi assim mesmo. Belo jogo, na primeira
parte, com os grupos em acentuado equilíbrio, e porventura o Salgueiros, mais
perigoso. Depois, no segundo tempo, o Salgueiros deixou-se dominar pela
resistência e melhor técnica do adversário, que
pôs a bola rente ao terreno para o passe da precisão, utilizando os extremos. Porque
o mérito do Salgueiros está na luta que deu. Depois de sofrer o quinto goal -
ainda quis espreguiçar-se, verdade seja. Era tarde!», assim resumiu
Tavares da Silva o jogo.
Na
ronda seguinte o Salgueiros sentiu o amargo sabor da vingança dos estudantes de
Coimbra, que na primeira volta haviam sido batidos no Campo Augusto Leça.
Frente a frente estavam as duas últimas equipas da classificação geral, pelo
que só a vitória servia a cada uma delas para largar a "lanterna vermelha". Foi
mais feliz a Académica, que no Campo de Santa Cruz entrou determinada não só a
fugir ao último posto, mas de igual forma a vingar a tal derrota no Porto. Foi uma Briosa de ataque, conforme disse Tavares
da Silva na sua crónica, e a comprovar isso foi o resultado de 9-4 a favor dos
locais. Renato, Toninho, Oliveira e Alfredo foram os artilheiros do Salgueiros,
que neste encontro marcou o maior número de golos, quatro, num só encontro desta
época de estreia no escalão maior.
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Salgueiros - Sporting |
Após
esta pesada derrota o Campo Augusto Leça engalanou-se para receber uma das mais
fortes equipas daqueles anos, o Sporting, liderado por um Peyroteo letal! Com
muito menos armas que o poderoso adversário, o Salgueiros deu luta, aliás, esta era uma postura que vinha patenteado de há uns jogos a esta parte, sinal de que
começava a ambientar-se a estes palcos grandes. Porém, e segundo as palavras de Tavares
da Silva, faltavam elementos condizentes com a elite do futebol português, isto
é, jogadores de 1.ª Divisão ao Salgueiros. Facto que provocava nas suas palavras alguns
momentos de desorganização na equipa nortenha. «Por tudo quanto ficou dito, deve já destacar-se o comportamento do
Salgueiros na primeira parte, equilibrando a partida em termos de ver-se, mesmo
com um pouco de emoção. Que, aquilo que sucedeu no segundo tempo, não deve
causar a mais leve estranheza. A experiência, o fôlego, a melhor técnica, e
ainda, por cima de tudo, a robustez do Sporting, impuseram-se de tal modo que o
guarda-redes do Salgueiros não
pode sossegar um simples minuto, pois a bola raramente saiu da sua órbita.
Nessa altura, o Sporting impôs-se de alto a baixo, não estando em causa a
classificação do jogo produzido e o resultado não podia ser outro, a não ser
uma vitória mais volumosa». Pois é, 5-1 a favor dos sportinguistas, que
haveriam de vencer esta edição do Campeonato Nacional, sendo que neste encontro
Fernando Peyroteo apontou quatro dos cinco golos da sua equipa, ao passo que
Coura fez o gosto ao pé para os nortenhos.
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Belenenses - Salgueiros |
Igual
resultado, o mesmo será dizer uma derrota com números semelhantes, aconteceu na
jornada seguinte em nova visita do Salgueiros à capital, desta feita para
defrontar o Belenenses. Nas Salésias os azuis de Belém não sentiram dificuldades
em bater os portuenses, pese embora tenham demorado a encontrar o caminho da
baliza de Peixoto, algo que de acordo com Tavares da Silva terá apimentado o
encontro na sua fase inicial. Quanto à performance dos nortenhos no Estádio das Salésias,
o jornalista disse que «o simpático grupo
do Salgueiros mostrou-se animoso, como sempre, mas o seu quadro, como já temos
dito, não está ainda à altura da prova. Só nos jogos em casa pode oferecer realmente
dificuldades aos adversários». Renato apontou o tento dos encarnados de
Paranhos neste jogo.
Como
não há duas sem três, a visita a Olhão cifrou-se numa nova de derrota também
por 5-1. Um futebol rápido e ofensivo ajuda a justificar este triunfo do
Olhanense. Contudo, não se julgue que o Salgueiros foi "bombo da
festa", já que na crónica do encontro, a equipa portuense foi ofensiva, batalhadora,
«chegando, mesmo, a desenvolver esquemas
de jogo que lembraram à defesa algarvia a necessidade de se conservar alerta.
Isto confirma aquilo que temos dito sobre o Salgueiros, isto é, que a prova só
lhe tem feito bem - além de dar aos seus dirigentes preciosas indicações relativamente
ao futuro», assim escrevia Tavares da Silva. Alfredo apontou o golo do
Salgueiros no Algarve.
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Salgueiros - Vitória de Setúbal |
O
Campo de Benlhevai, em Guimarães, foi a derradeira saída do Salgueiral neste Nacional. Pela frente
tinha um Vitória que esteve longe de fazer uma boa prova, muito pelo contrário.
Nesta jornada, a penúltima, o Sporting consagrava-se campeão nacional, ao passo
que o Salgueiros com a derrota pela margem mínima (1-2) no Minho assegurava...
a "lanterna vermelha" da prova. Em Guimarães os locais atacaram desde
início e chegaram ao intervalo a vencer por 2-0. No reatamento, os portuenses
reagiram, dando algum trabalho à defesa vitoriana, embora somente por uma
ocasião tenham tido êxito, por intermédio de Ribeiro.
E
eis que chegávamos à última jornada deste Campeonato Nacional, sendo que no
Porto o Salgueiros encerrava a sua estreia entre os maiores do futebol nacional
com uma receção ao Vitória de Setúbal. Já com a classificação definida, o
Salgueiros perdeu por 3-5 um encontro onde o seu jogador Renato brilhou ao
apontar os três golos dos encarnados. Falando de contas, o emblema de Paranhos ficou na
última posição, com três pontos somados, 23 golos marcados e 84 sofridos,
números que à primeira vista são maus, mas que se olharmos ao "resto da
história" significaram só o início de uma caminhada entre a elite do
futebol português, o lugar que este histórico clube conquistou nas décadas
seguintes e que como tal é seu por mérito próprio.