quinta-feira, março 17, 2022

Histórias do Futebol em Portugal (34)... A estreia do Salgueiros na alta roda do futebol nacional

A equipa do Salgueiros que se estreou 
na 1.ª Divisão em 43/44
Com 110 anos de história, o Sport Comércio e Salgueiros procura hoje regressar a um lugar que por direito é seu: o patamar mais alto do futebol nacional, isto é, a 1.ª Liga. Com 24 presenças entre a elite do futebol luso, o clube portuense encontra-se entre os 20 primeiros do ranking de clubes com mais participações no escalão maior de Portugal.

A velha Europa procurava ainda sair do conflito bélico de proporções catastróficas que constituiu a 2.ª Guerra Mundial (1939-1945) quando o popular Salgueiral subiu pela primeira vez ao palco principal do futebol português. Facto ocorrido na temporada de 1943/44, altura que se jogou a 10,ª edição do Campeonato Nacional da 1.ª Divisão, e onde o Sporting - que ainda só tinha três dos seus Cinco Violinos - procurava destronar o Benfica de Guilherme Espírito Santo e de Julinho do trono do desporto rei nacional, e em que o FC Porto de Pinga e Correia Dias procurava sob a batuta do húngaro Lippo Hertzka, ex-treinador de Benfica e Real Madrid, recuperar um título que lhe fugia há três anos para os rivais da capital. Mas havia outros emblemas históricos que procuravam um lugar ao sol neste Nacional de 43/44, casos do Belenenses, da Académica, do Olhanense, do Atlético, ou dos dois Vitórias (o de Guimarães e o de Setúbal). E no meio da nata do futebol lusitano surgia um caloiro, o Salgueiros, emblema que surpreendeu o país futebolístico ao classificar-se em 2.º lugar no Campeonato Regional do Porto dessa temporada - e que antecedia o Nacional da 1.ª Divisão -, atrás do FC Porto, clube que dominava o futebol nortenho de então, mas à frente de clubes que haviam já pisado o palco do escalão maior de Portugal, casos do Leixões, do Académico do Porto, do Boavista e do próprio Leça.

Eng. Vidal Pinheiro
A boa campanha efetuada no Regional portuense trazia otimismo às hostes salgueiristas na antecâmara da 1.ª Divisão Nacional, conforme é possível comprovar numa entrevista concedida pelo então dirigente encarnado Vidal Pinheiro à revista "Stadium" - publicação que nos ajuda a escrever esta efeméride em torno da estreia do Salgueiros no escalão maior e cujas imagens ajudam a ilustrar esta viagem ao passado. Nessa conversa conduzida pelo jornalista Mário Afonso, o histórico Engenheiro Vidal Pinheiro, então presidente da chamada Comissão de Melhoramentos do clube, afirmava que o Salgueiros estava na 1.ª Divisão Nacional por mérito próprio, e não porque devesse essa subida a favores de qualquer espécie. «Depois do F. C. do Porto, o Salgueiros foi o clube mais regular. As suas únicas derrotas foram infligidas pelo campeão; os restantes vencemo-los com resultados mais ao menos volumosos», dizia o dirigente.  Quando questionado mais adiante sobre as possibilidades do clube nesta participação então inédita na 1.ª Divisão, o Eng. Vidal Pinheiro respondia que «haverá, certamente. um certo "tatear" nos primeiros jogos, mas, depois, haveremos de fazer algo de jeito. Boa posição na escalão (tabela)? Não sei.... tudo depende. Mas o que lhe posso afirmar é que nem deixaremos mal colocado o nosso nome e o brio da cidade que representamos de parceria com o F. C. do Porto, nem seremos um "mau amigo" do nosso campeão», vaticinava.

Questionado ainda se havia boa disposição no plantel, Vidal Pinheiro era perentório em dizer que ânimo, coragem e fé não faltava num grupo em que ele confiava em pleno para uma boa campanha. Quanto a moral, resistência.... «Sim, devem tê-la em grau superlativo. Recordemos, por momentos que só este ano após tanta vicissitude conseguimos atingir o fim almejado: entrar no Campeonato Nacional da 1.ª Divisão. Portanto, creio que não poderão ter mais moral do que nesta época. Quanto à resistência, eu lhe explico: deve ter notado que o grupo, ao concluir qualquer encontro, não dava, este ano, aquela exteriorização de fadiga, como em anos transatos. Sabe porquê? Pela simples razão de todos os jogadores terem sido obrigados a seguir, durante o defeso, um curso de gimnástica e preparação atlética, de forma que ao iniciar-se o campeonato regional, todos estivessem em boas condições físicas».

Vidal Pinheiro estava certo de que esta subida à 1.ª Divisão Nacional iria dar muito mais visibilidade a um clube que... não era só futebol. «Uma coisa lhe quero dizer. Para já, conseguimos isto: que se falasse, durante todo um ano no nome do meu clube. Já não é como outrora, em que, após a época do futebol, o Salgueiros desaparecia das gazetas, esquecido até ao ano seguinte. Agora não. Falou-se nele constantemente: a propósito da natação, do atletismo, do basquetebol, do andebol, do ciclismo, etc». Era o este o Salgueiros que Vidal Pinheiro e seus pares vinham trabalhando afincadamente naqueles anos, um clube eclético que pretendia chamar a atenção do público do desporto português. E conseguiu-o.

Dores de crescimento fizeram-se sentir no início

Atlético - Salgueiros
Tal como o Eng. Vidal Pinheiro previu na antevisão deste Nacional da 1.ª Divisão de 43/44, o Salgueiros acusou inicialmente alguma inexperiência na alta roda do futebol português. Algum desconhecimento até, face aos grupos do sul, com quem não estaria habituado a medir forças, acabando por pagar essa fatura sobretudo na primeira volta do campeonato. De facto, o Salgueiros surgiu muito tímido nos campos de batalha do futebol luso, e mais do que averbar derrotas mostrou muitas fragilidades ao nível do seu jogo. Porém, com o avançar da época a equipa foi ganhando outra alma, outro ânimo, mostrando que afinal também tinha valor e bom futebol para figurar entre a elite portuguesa. Mas vamos ao filme da primeira passagem do Salgueiral pelo palco maior do nosso futebol. O pontapé de saída aconteceu na Tapadinha, mítica casa do Atlético, onde as coisas não correram de feição aos encarnados, a julgar não pelo desaire por 4-0, mas de igual modo pelo conceituado jornalista da "Stadium", Tavares da Silva, que foi duro nas palavras na apreciação ao jogo dos salgueiristas: «O sub-campeão do Porto - segundo opinião unânime - traz para a prova pouco valor. Se isso não importa, de momento, interesso no futuro, porque o grupo representa a 2.ª região futebolística do país. Da má exibição - é possível que o bloco se ajeite melhor em futuras digressões - nada ficou senão a afirmação de um guarda-redes de razoável categoria (Peixoto). Pouco mais do que isto o Salgueiros deixou na sua primeira visita, podendo no entanto citar-se alguns dos seus lances na organização da defesa - porque o ataque quase não existiu».

Na ronda seguinte a tarefa do Salgueiros em apagar a má exibição da estreia era uma missão quase impossível, ou não tivesse pela frente o campeão nacional em título, o Benfica. Os lisboetas, orientados pelo antigo guarda-redes de Académico do Porto e Boavista, Janos Biri, surgiram no Campo Augusto Leça, o reduto dos salgueiristas, com uma linha de ataque de respeito, formada por Julinho, Rogério Pipi e Alfredo Valadas. No entanto, e de acordo com a pena de Tavares da Silva, o Benfica não esteve nos seus melhores dias nesta visita ao Porto, jogando no aproveitamento do erro do adversário. Erros que ao que tudo indica terão sido muitos para os encarnados do Norte. Para o consagrado jornalista, o Salgueiros voltou a mostrar sinais de muita fragilidade, tendo a equipa sido sempre dominada pelos campeões nacionais, que acabariam por vencer por claros 6-1. Contudo, apesar de dominados, os portuenses quando atacavam conseguiam provocar algum desentendimento entre a defesa benfiquista, uma nota que Tavares da Silva fez sobressair na sua crónica e que considerou um aviso a ter em conta aos lisboetas para quando defrontassem equipas que estivessem mais ao seu (alto) nível. Outra nota a realçar é o golo salgueirista, o primeiro na alta roda do futebol nacional, tendo o seu autor sido o médio Viana, um nome que ficará assim na história deste clube.

FC Porto - Salgueiros
A grande sala de visitas do futebol portuense daquela altura, o mesmo será dizer o Estádio do Lima, foi a paragem seguinte do Salgueiros, que na 3.ª ronda enfrentava o vizinho e campeão regional FC Porto. E quem pensava um novo massacre enganou-se redondamente, pois o Salgueiral não só vendeu cara a derrota (3-1) ante os azuis-e-brancos como também fez uma agradável exibição, facto que mereceu destaque no relato do jornalista portuense Mário Afonso para a "Stadium". Para este homem das letras o Salgueiros tinha feito a sua melhor exibição até então neste campeonato, e o facto de ter sido ante um dos candidatos ao título era ainda mais digno de registo. Mas para Mário Afonso esta boa exibição aconteceu porque há equipas que se transcendem quando atuam perante outros conjuntos, e neste caso puxou da rivalidade que existia entre os dois emblemas para justificar esta boa exibição dos encarnados de Paranhos. «Quando joga contra o F. C. Porto, o Salgueiros parece outro. Vale muito mais. Quase não se acreditava que estivesse no Lima o mesmo grupo que jogou contra o Benfica! O Salgueiros, animado pela rivalidade que mantém com o campeão, e costumado ao ambiente, conseguiu praticar um futebol de conjunto, vivo, enérgico e com certa ligação. Daí, equilíbrio, jogo repartido pelas duas metades da relva do Lima. Porque não pode dizer-se que o Porto tenha jogado mal, e só ainda faz brilhar um pouco mais o seu adversário. (...) O elemento mais destacado do Salgueiros continua a ser o guarda-redes Peixoto. Um nome a apontar e a ver em exibições futuras: Oliveira, o avançado-centro». E foi precisamente de Oliveira o único golo do Salgueiros nesta derrota com... algum sabor a vitória pela boa exibição conseguida.

Estudantes testemunham uma vitória histórica!

Salgueiros - Académica
Apesar de novato nestas andanças e de nas primeiras duas jornadas ter mostrado um nível abaixo do que era exibido na alta roda do futebol português, não foi preciso esperar muito para que as hostes salgueiristas festejassem a primeira vitória no campeonato nacional. A primeira da sua história, visto desde os dias de hoje. Facto ocorrido na 4.ª jornada, no Campo Augusto Leça, diante da Académica de Coimbra. Um triunfo, por 3-1, que para o jornalista Tavares da Silva devia ser levado em conta, desde logo pelo fraco nível exibicional que os portuenses haviam mostrado nos primeiros jogos, pense embora na sua opinião este triunfo não se tenha devido tanto a uma grande exibição do Salgueiral. Na sua visão esta vitória teve como base o fator aproveitamento de três jogadores que atuavam nos setores recuados e intermédios do terreno: em primeiro lugar o guarda-redes Peixoto, o qual esteve magistral na 2.ª parte; o esforçado defesa João (Santos); e o médio centro Sousa, que imprimiu à equipa a necessária ligação tornando possível a realização dos golos. E se os estudantes estiveram bem no primeiro tempo, após o golo do empate baixaram de rendimento, facto aproveitado pelo Salgueiros para conquistar os primeiros pontos nesta prova.

Sporting - Salgueiros
A este triunfo seguiu-se a derrota mais pesada do grupo neste Nacional de 43/44, facto que aconteceu na visita ao reduto do poderoso Sporting, orientado por Joseph Szabo, e cuja força residia em jogadores como Fernando Peyroteo, Albano, Mourão, Cruz, entre tantos outros. 10-0 foi o pesado resultado final de um encontro onde o Salgueiros, de acordo com Tavares da Silva, chegou em alguns momentos a dar «agradável impressão da sua movimentação geral, nada há mais a dizer senão salientar a má tarde do seu guarda-redes, embora multo desprotegido».

Salgueiros - Belenenses
O oponente seguinte foi outro histórico do futebol luso, no caso o Belenenses, que na 6.ª jornada visitou o Campo Augusto Leça. Para este encontro os azuis de Belém apresentaram no seu "onze" um novo guarda-redes, que dava pelo nome de Capela, e que iria dali em diante marcar uma era no emblema da Cruz de Cristo. Segundo a crónica de Tavares da Silva na "Stadium", o estreante guardião cumpriu a sua missão, pese embora não tenha tido pela frente uma linha avançada que lhe causasse muito trabalho. Mas nas poucas vezes que foi chamado a intervir, fê-lo com segurança e classe. O Belenenses na opinião do jornalista não fez uma exibição de grande brilho, chegou para as encomendas, e quando garantiu a vitória atuou mais em ritmo de treino, acabando a partida por perder algum interesse. E mesmo a expulsão do belenense Mário Coelho, no final da primeira parte, não pôs em causa a supremacia do combinado orientado pelo húngaro Sándor Peics. Quanto ao Salgueiros, esse quase todo esteve mal, na visão de Tavares da Silva, «até a defesa, que costuma comportar-se menos mal. Só se salvou o médio centro Coura, rapaz com merecimento activo e com boa posição em campo, e um pouco Augusto, o interior direito. O ataque do Salgueiros quase não existiu, devendo anotar-se simplesmente sua reação no começo do jogo, no pôs intervalo. O que não quer dizer que o team não tenha posto na luta, em todos os momentos, uma bela energia». 6-1 foi o resultado final para o Belenenses, cabendo a Silva marcar o tento de honra dos salgueiristas.

Salgueiros - Olhanense
Seguiram-se mais dois jogos em casa, o primeiro deles ante os antigos campeões de Portugal, dez anos antes, o Olhanense. Nova derrota para o Salgueiral, desta feita por 2-5. Um resultado que para Tavares da Silva borrava o quadro da classificação geral, já que segundo aquele jornalista enquanto todas as outras equipas davam sinais de progressão, sendo que o Salgueiros não acompanhava essa tendência. E mesmo o setor defensivo, que até então era o que se exibia em melhor forma no campo em encontros anteriores, neste jogo abriu brechas por todo o lado. Apesar de evidenciar dificuldades, o conjunto de Paranhos continuava a dar sinais de querer contrariar a tendência de que era uma equipa ainda inexperiente nestas andanças, como comprovam as palavras do jornalista da "Stadium": «Não quer isto significar que os "salgueiros" não tenham dado um ar de graça, no passado domingo. Pelo contrário, durante certo período da segunda parte o ataque realizou coisas de bom jeito, mas depois perdeu o norte, reduzindo-se a uma ou outro tentativa, feita de quando em vez. Não fôra, mais uma vez, o médio Coura, e a coisa ainda seria pior. O Salgueiros estreou dois jogadores: Renato, a interior-direito e depois avançado-centro, e Faria, interior-esquerdo. Esta orientação, tirar dois interiores e pôr lá outros dois de uma só vazada, mostra claramente as dificuldades que o agrupamento atravessa, e os trabalhos de cabeça que os dirigentes se dão para modificar um estado de coisas que já não tem modificação possível, pelos vistos. Os estreantes revelaram alguma habilidade. Já não é mau de todo». Mas o cenário haveria de mudar, como veremos mais à frente. Ante os olhanenses os golos salgueiristas foram apontados pelo estreante Renato e por Silva.

O jogo seguinte mostrou, ainda que ao de leve, essa subida de forma, já que na receção ao Vitória Sport Clube (de Guimarães) a turma portuense conquistou mais um ponto, fruto de um empate a duas bolas. Sobre o jogo não há muitos relatos na "Stadium", que ressalva apenas que o Salgueiros lutou com entusiasmo. Coura e Silva apontaram os tentos dos salgueiristas.

O outro Vitória a competir nesta 1.ª Divisão de 43/44, neste caso o de Setúbal, foi o oponente seguinte. 2-1 a favor dos sadinos, foi o resultado final de uma partida que segundo Tavares da Silva teve um rol de oportunidades desperdiçadas, tantas foram as vezes que os avançados estiveram cara a cara com os guarda-redes e não os conseguiram bater. Os portuenses continuavam a dar indícios de crescimento no campeonato a julgar pelas palavras do jornalista: «o Salgueiros foi mais ameaçador do que o Vitória. Inesperadamente ameaçador, pois ao conseguir um goal, este teve o efeito de despertar as energias do adversário. Só quando começou a perder é que o Vitória se lembrou que tinha de ganhar...». O goleador Silva foi mais uma vez o artilheiro de serviço dos encarnados neste encontro.

Segunda volta mostra um Salgueiros diferente... para melhor

Salgueiros - Atlético
Em janeiro de 1944 arrancou a segunda volta do Nacional da 1.ª Divisão, tendo o Salgueiros retribuído a visita à Tapadinha em novembro do ano anterior. O Atlético era por esta altura uma das boas equipas do campeonato, ocupando os lugares da frente do pelotão, fruto da bela campanha que vinha fazendo. E Tavares da Silva na sua crónica habitual na "Stadium" frisou precisamente isso para justificar o triunfo dos lisboetas no Campo Augusto Leça por 3-0. No entanto, o Salgueiros continuava a dar sinais de crescimento... «O Salgueiros forçou a marche do encontro de modo a dominar durante largos períodos do jogo, instalando-se na grande área dos lisboetas. Mas estes nunca perderam o sangue frio, e aqueles nunca o encontraram em frente das redes para fazer aquilo que parece mais fácil mas que é o mais difícil: goal. A serenidade com que o Atlético suportou a tempestade, defendendo uma vitória preciosa que - certo, certo - nunca esteve praticamente ameaçada, diz-nos, além de tudo, que o grupo está a adquirir a categoria dos grandes teams». E a prova disso foi que os lisboetas acabariam este campeonato em 3.º lugar, à frente de clubes de maior poderio, como o FC Porto, ou o Belenenses.

De Lisboa era também o adversário seguinte dos encarnados do Porto, mas este de maior peso, já que lutava com o eterno rival Sporting pelo título de campeão nacional.

Benfica - Salgueiros
Numa altura da temporada em que os clubes já levavam muitos jogos nas pernas, o Benfica optou na receção ao Salgueiros por fazer descansar alguns dos seus titulares, substituídos por nomes menos conhecidos, como Cerqueira, Carvalho e Teixeira II, facto que terá, quiçá, pesado no facto de os benfiquistas terem feito uma exibição algo "cinzenta", pouco condizente com um candidato ao título. Valeu a inspiração de uma das suas maiores estrelas, Julinho, autor de quatro dos seis golos com que os comandados de Janos Biri bateram os salgueiristas por 6-1. Sobre estes últimos Tavares da Silva trazia boas novas: «É de notar também que o Salgueiros apresenta progressos nos esquemas do seu jogo - sinal evidente de que a permanência na competição de honra lhe tem feito bem». Renato foi o marcador do único tento do Salgueiral no Campo Grande.

De regresso à Cidade Invicta na jornada que se seguiu para defrontar o vizinho FC Porto, que estava longe de convencer neste campeonato. Foi uma partida que para o principal redator da "Stadium" teve duas partes distintas, uma pautada pelo equilíbrio e outra pelo... desequilíbrio. A primeira muito por culpa do facto de a equipa na teoria mais fraca, o Salgueiros, ter querido impor-se, de jogar de igual para o com o seu velho rival. A outra, quando essa mesma equipa de nível inferior perdeu o fôlego e começou a desaparecer do encontro, aspeto aproveitado para os portistas abrirem o marcador e chegarem à goleada final de 5-0. «Foi assim mesmo. Belo jogo, na primeira parte, com os grupos em acentuado equilíbrio, e porventura o Salgueiros, mais perigoso. Depois, no segundo tempo, o Salgueiros deixou-se dominar pela resistência e melhor técnica do adversário, que pôs a bola rente ao terreno para o passe da precisão, utilizando os extremos. Porque o mérito do Salgueiros está na luta que deu. Depois de sofrer o quinto goal - ainda quis espreguiçar-se, verdade seja. Era tarde!», assim resumiu Tavares da Silva o jogo.

Na ronda seguinte o Salgueiros sentiu o amargo sabor da vingança dos estudantes de Coimbra, que na primeira volta haviam sido batidos no Campo Augusto Leça. Frente a frente estavam as duas últimas equipas da classificação geral, pelo que só a vitória servia a cada uma delas para largar a "lanterna vermelha". Foi mais feliz a Académica, que no Campo de Santa Cruz entrou determinada não só a fugir ao último posto, mas de igual forma a vingar a tal derrota no Porto. Foi uma Briosa de ataque, conforme disse Tavares da Silva na sua crónica, e a comprovar isso foi o resultado de 9-4 a favor dos locais. Renato, Toninho, Oliveira e Alfredo foram os artilheiros do Salgueiros, que neste encontro marcou o maior número de golos, quatro, num só encontro desta época de estreia no escalão maior.

Salgueiros - Sporting
Após esta pesada derrota o Campo Augusto Leça engalanou-se para receber uma das mais fortes equipas daqueles anos, o Sporting, liderado por um Peyroteo letal! Com muito menos armas que o poderoso adversário, o Salgueiros deu luta, aliás, esta era uma postura que vinha patenteado de há uns jogos a esta parte, sinal de que começava a ambientar-se a estes palcos grandes. Porém, e segundo as palavras de Tavares da Silva, faltavam elementos condizentes com a elite do futebol português, isto é, jogadores de 1.ª Divisão ao Salgueiros. Facto que provocava nas suas palavras alguns momentos de desorganização na equipa nortenha. «Por tudo quanto ficou dito, deve já destacar-se o comportamento do Salgueiros na primeira parte, equilibrando a partida em termos de ver-se, mesmo com um pouco de emoção. Que, aquilo que sucedeu no segundo tempo, não deve causar a mais leve estranheza. A experiência, o fôlego, a melhor técnica, e ainda, por cima de tudo, a robustez do Sporting, impuseram-se de tal modo que o guarda-redes do Salgueiros não pode sossegar um simples minuto, pois a bola raramente saiu da sua órbita. Nessa altura, o Sporting impôs-se de alto a baixo, não estando em causa a classificação do jogo produzido e o resultado não podia ser outro, a não ser uma vitória mais volumosa». Pois é, 5-1 a favor dos sportinguistas, que haveriam de vencer esta edição do Campeonato Nacional, sendo que neste encontro Fernando Peyroteo apontou quatro dos cinco golos da sua equipa, ao passo que Coura fez o gosto ao pé para os nortenhos.

Belenenses - Salgueiros
Igual resultado, o mesmo será dizer uma derrota com números semelhantes, aconteceu na jornada seguinte em nova visita do Salgueiros à capital, desta feita para defrontar o Belenenses. Nas Salésias os azuis de Belém não sentiram dificuldades em bater os portuenses, pese embora tenham demorado a encontrar o caminho da baliza de Peixoto, algo que de acordo com Tavares da Silva terá apimentado o encontro na sua fase inicial. Quanto à performance dos nortenhos no Estádio das Salésias, o jornalista disse que «o simpático grupo do Salgueiros mostrou-se animoso, como sempre, mas o seu quadro, como já temos dito, não está ainda à altura da prova. Só nos jogos em casa pode oferecer realmente dificuldades aos adversários». Renato apontou o tento dos encarnados de Paranhos neste jogo.

Como não há duas sem três, a visita a Olhão cifrou-se numa nova de derrota também por 5-1. Um futebol rápido e ofensivo ajuda a justificar este triunfo do Olhanense. Contudo, não se julgue que o Salgueiros foi "bombo da festa", já que na crónica do encontro, a equipa portuense foi ofensiva, batalhadora, «chegando, mesmo, a desenvolver esquemas de jogo que lembraram à defesa algarvia a necessidade de se conservar alerta. Isto confirma aquilo que temos dito sobre o Salgueiros, isto é, que a prova só lhe tem feito bem - além de dar aos seus dirigentes preciosas indicações relativamente ao futuro», assim escrevia Tavares da Silva. Alfredo apontou o golo do Salgueiros no Algarve.

Salgueiros - Vitória de Setúbal
O Campo de Benlhevai, em Guimarães, foi a derradeira saída do Salgueiral neste Nacional. Pela frente tinha um Vitória que esteve longe de fazer uma boa prova, muito pelo contrário. Nesta jornada, a penúltima, o Sporting consagrava-se campeão nacional, ao passo que o Salgueiros com a derrota pela margem mínima (1-2) no Minho assegurava... a "lanterna vermelha" da prova. Em Guimarães os locais atacaram desde início e chegaram ao intervalo a vencer por 2-0. No reatamento, os portuenses reagiram, dando algum trabalho à defesa vitoriana, embora somente por uma ocasião tenham tido êxito, por intermédio de Ribeiro.

E eis que chegávamos à última jornada deste Campeonato Nacional, sendo que no Porto o Salgueiros encerrava a sua estreia entre os maiores do futebol nacional com uma receção ao Vitória de Setúbal. Já com a classificação definida, o Salgueiros perdeu por 3-5 um encontro onde o seu jogador Renato brilhou ao apontar os três golos dos encarnados. Falando de contas, o emblema de Paranhos ficou na última posição, com três pontos somados, 23 golos marcados e 84 sofridos, números que à primeira vista são maus, mas que se olharmos ao "resto da história" significaram só o início de uma caminhada entre a elite do futebol português, o lugar que este histórico clube conquistou nas décadas seguintes e que como tal é seu por mérito próprio.

segunda-feira, março 14, 2022

Lista de Campeões... Cazaquistão

 

Campeões Nacionais

2024: Kairat
2023: Ordabasy 

2022: Astana
2021: Tobol
2020: Kairat
2019: Astana
2018: Astana
2017: Astana
2016: Astana
2015: Astana

2014: Astana

2013: Aktobe

2012: Shakhter
2011: Shakhter
2010: Tobol
2009: Aktobe

2008: Aktobe

2007: Aktobe

2006: Zhenis

2005: Aktobe

2004: Kairat
2003: Irtysh

2002: Irtysh

2001: Zhenis
2000: Zhenis

1999: Irtysh

1998: Yelimay

1997: Irtysh

1996: Taraz

1995: Yelimay

1994: Yelimay

1993: Irtysh

1992: Kairat

sexta-feira, março 11, 2022

Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo (20)... Alberto Freitas

Ele imprimiu o seu cunho muito próprio em nobre publicações como "Os Sports", o "Mundo Desportivo", ou "O Eco dos Sports", hoje desaparecidas mas que ajudaram a projetar e a dinamizar o desporto português na primeira metade do século XX. Apelidaram-no de culto, estudioso, brilhante na redação de crónicas e artigos desportivos, e possuidor de um estilo muito próprio, caracterizações que fizeram dele um dos grandes jornalistas desportivos da primeira metade do século passado. Sem mais demoras vamos hoje evocar Alberto Freitas (1903-1966), distinto jornalista que iniciou a sua brilhante carreira em 1923, no "Sport de Lisboa", publicação então dirigida por Raul de Oliveira. Última figura esta que nesse ano endereça a Alberto Freitas um convite para escrever na citada publicação, onde na qual ao longo de cerca de um ano o nosso mestre da pena escreveu crónicas sobre o desporto no estrangeiro e sobre o nosso futebol. Escrevia de acordo com a sua consciência, sem querer agradar a "este ou aquele", uma postura que o levaria em outubro de 1924 a ingressar num dos grandes títulos da imprensa desportiva nacional daquele tempo, "Os Sports", dirigido então por Campos Júnior. Ali, privou de perto com outro grande vulto da imprensa nacional, Cândido de Oliveira.  O seu primeiro artigo nesta publicação intitulou-se "Os ensinamentos da época de atletismo". Paralelamente colaborou com o "Mundo Desportivo", outro jornal de grande prestígio, bem como em duas revistas portuguesas, nomeadamente "O Ás" e a "Éco dos Sports", ambos dirigidos por Artur Inês. Como bom olheiro que sempre foi em matéria de craques, Cândido de Oliveira não tardou a convidar o seu colega de redação para escrever numa publicação criada por si - antes de A Bola -, intitulada "Gazeta Desportiva", onde Alberto Freitas também se notabilizou ao escrever sobre ténis.

O homem das letras que hoje recordamos exerceu ainda cargos de chefia em "Sports Ilustrados" e do jornal do Sport Lisboa e Benfica. Foi ainda correspondente de inúmeros jornais internacionais, casos de "A Gazeta de S. Paulo" , "Vida Desportiva", de Barcelona, "Mundo Desportivo", também da cidade condal, e o "Football", de Paris. Era acima de tudo um conhecedor profundo sobre o desporto de um modo geral, sendo a prova disso o facto de ao longo da sua carreira ter abordado as mais diversas modalidades, pese embora se sentisse mais à vontade a escrever sobre atletismo, futebol, pugilismo e râguebi. Numa das raras entrevistas que deu, neste caso em 1950 à revista "Stadium", contou que esteve quase para ir ao primeiro Campeonato do Mundo de futebol, realizado em 1930, em Montevidéu, mas na véspera da partida para a capital do Uruguai terá comunicado a sua indisponibilidade para viajar, porque em Lisboa se realizava uma prova de estafetas 4X4, sendo que uma das equipas que nela entrava era a do Belenenses, clube que ele treinava nessa modalidade, acabando assim Alberto Freitas de perder uma das páginas mais importantes da história do futebol planetário. Atletismo que era a sua modalidade de eleição, tendo além de praticante, na sua mocidade, sido igualmente fundador e dirigente da Associação de Atletismo de Lisboa. 

Nesta entrevista à "Stadium", Alberto Freitas contava ainda que por aqueles dias era tão só o jornalista que mais serviços fazia no estrangeiro, relembrando que o primeiro havia sido um desafio de futebol entre as seleções de Lisboa e de Madrid, precisamente em 1930. Nessa entrevista contava ainda que teve convites para trabalhar fora de Portugal, mais concretamente no Brasil, em São Paulo, mas declinou por estar mais interessado no desporto português, escolhendo as suas reportagens nos Jogos Olímpicos de Londres, em 1498, como um dos trabalhos que mais prazer lhe deram. Em termos de Olimpíadas esteve ainda presente nos Jogos de Helsínquia (1952) e de Tóquio (1964), sendo que no regresso da capital nipónica seria homenageado pelo Comité Olímpico de Portugal precisamente pelas suas reportagens - eternizadas nas páginas do "Diário de Notícias", jornal para o qual escreveu como enviado especial aos Jogos Olímpicos - feitas em contexto olímpico. 

Alberto Freitas era um jornalista preocupado com o estilo de escrita, assumindo, nessa mesma entrevista, que tinha um estilo próprio, algo que na sua opinião era indispensável ao jornalista. Retiramos desta sua entrevista uma visão curiosa do jornalista sobre a arte de escrever no desporto: «O jornalismo desportivo é o mais difícil de todos, porque requer verdadeira especialização, mas não deve ser embebido apenas de conceitos técnicos e táticos. Por exemplo, uma crónica de futebol para interessar o leitor e definir o jornalista, precisa de ser aligeirada pelo estilo, por um pouco de "romance", por um comentário sorridente. É necessário que o leitor viva o acontecimento sem se fatigar, ficando com disposição para ler os outros artigos do jornal».

Não se considerava um jornalista amigo das polémicas, um estilo que nas suas palavras não o seduzia. Dizia que não se contentava com o que sabia, procurava informar-se sempre mais, comprando livros sempre que viajava para o estrangeiro a fim de se instruir mais e estar ao lado dos melhores. E ele foi um dos melhores, sem margem para dúvida.

quinta-feira, março 10, 2022

Lista de Campeões... Moldávia



Campeões Nacionais

2024: FC Petrocub
2023: Sheriff Tiraspol
2022: Sheriff Tiraspol
2021: Sheriff Tiraspol
2020: Sheriff Tiraspol
2019: Sheriff Tiraspol
2018: Sheriff Tiraspol
2017: Sheriff Tiraspol
2016: Sheriff Tiraspol
2015: Milsami Orhei
2014: Sheriff Tiraspol
2013: Sheriff Tiraspol

2012: Sheriff Tiraspol
2011: Dacia Chisinau
2010: Sheriff Tiraspol
2009: Sheriff Tiraspol

2008: Sheriff Tiraspol
2007: Sheriff Tiraspol

2006: Sheriff Tiraspol

2005: Sheriff Tiraspol
2004: Sheriff Tiraspol
2003: Sheriff Tiraspol

2002: Sheriff Tiraspol
2001: Sheriff Tiraspol
2000: FC Zimbru

1999: FC Zimbru

1998: FC Zimbru
1997: Constructorul Chisinau
1996: FC Zimbru

1995: FC Zimbru

1994: FC Zimbru
1993: FC Zimbru
1992: FC Zimbru