Bélgica acolhe a grande fase final
Três cidades belgas ficaram responsabilizadas pela UEFA para acolher a fase final do Euro, mais precisamente Antuérpia, Liège, e Bruxelas. A primeira meia-final decorreu no Bosuilstadion, em Antuérpia, entre a selecção da casa e a poderosa RFA comandada pelo "kaiser" Franz Beckenbauer. Os belgas tinham no entanto uma equipa de respeito, eram apelidados na altura como os "diabos vermelhos" e tinham entre outros um fabuloso jogador de seu nome Paul Van Himst, considerado ainda hoje como o melhor belga de todos os tempos na arte de jogar futebol. Mas os alemães não se intimidaram pelo facto de terem contra si um ambiente hostil e uma equipa de respeito e fizeram uma exibição de gala. Simplesmente não deram chances aos belgas. O baixo e poderoso avançado Gerd Muller fez dois golos, aos 24, e aos 71 minutos, que traduziram a superioridade mais do que evidente dos germânicos. A sete minutos do fim os belgas ainda deram um ar de sua graça quando Polleunis fez o 1-2, mas pouco mais puderam fazer perante a máquina alemã. O resultado peca até por escasso, pois a avalanche alemã foi de tal forma avassaladora que se o resultado tivesse mais dois ou três golos a seu favor não seria de estranhar. Desde logo ficou evidente que o rigor táctico, aliado à frieza e à força física das estrelas alemãs muito dificilmente deixaria escapar a vitória final deste Euro 72.
A tradição ainda era o que…era
Também no dia 14 de Junho, desta feita em Bruxelas, a União Soviética procurava atingir a sua terceira final em quatro participações em fases finais. Pela frente os soviéticos tinham a Hungria, que participava pela segunda vez (e última até à data) na sua história numa fase final (a primeira havia sido em 1964). A União Soviética chegava à sua quarta fase final com novos jogadores mas com a mentalidade de sempre, ou seja, rigor táctico e físico quanto baste. Este confronto de leste atraiu pouquíssimos espectadores ao Estádio Van der Stock, quiçá antevendo o jogo demasiado táctico e porque não dizê-lo sonolento que ambos os conjuntos praticaram. Foi um jogo "do gato e do rato" com as duas equipas à espera de um erro do adversário para poder vencer o jogo. Acabariam por ser os húngaros a cometer o erro fatal, aos 53 minutos, aproveitado por Konkov que ofereceu assim a terceira final à União Soviética. Húngaros que também se podem queixar da falta de sorte, ou de pontaria, porque antes do golo soviético desperdiçaram uma grande penalidade.
Medalha de bronze ficou em casa
Em Liège, no dia 17 de Junho, Bélgica e Hungria discutiram entre si quem ficaria com o bronze deste Euro 72. A qualidade da equipa da casa ficaria evidente e foram as suas duas estrelas mais cintilantes da época Lmbert e Van Himst a fazer os golos (ainda antes da meia-hora de jogo) do triunfo de 2-1 sobre a Hungria. Ficou a ideia de que se não fossem os poderosos alemães a Bélgica não desperdiçaria a oportunidade de vencer o "seu" Euro, pois tinham de facto uma equipa fantástica. Um conjunto de jogadores que foram digamos que a semente para as fabulosas equipas que os belgas apresentaram quer em fases finais de Europeus (1980, e 1984), quer de Mundiais (1982, 1986, 1990, e 1994), no fundo os anos de ouro ao nível do futebol deste pequeno país.
RFA no trono da Europa pela primeira vez
No Estádio Rei Balduíno, em Bruxelas, RFA e União Soviética mediam forças para ver quem sucederia à Itália como donos da Europa. Desde o apito inicial que a classe dos germânicos foi evidente o que provocou um claro desequilíbrio no "filme" do jogo. Muller, aos 27 minutos, começou a construir o triunfo, na sequência de uma arrancada magnifica de Beckenbauer desde o seu meio-campo. À entrada da área o capitão alemão serve Netzer que rematou de primeira à trave, na recarga Heynckes obriga o excelente guardião soviético Rudakov a uma grande defesa para a frente onde apareceu oportuno o goleador Muller que não perdoou. Já na segunda parte Wimmer, ao minuto 52, amplia a vantagem alemã após uma excelente desmarcação de Heynckes. E como não há duas sem três Gerd Muller aos 58 minutos fez o 3-0 final. De facto, esta foi uma das finais mais desequilibradas da história do Europeu. Rezam as crónicas da partida que em certos períodos os alemães trocaram a bola entre si mais de três dezenas de vezes durante largos minutos sem que os soviéticos os conseguissem importunar. Este seria o primeiro dos três títulos europeus que os alemães alcançaram ao longo da história (até à data). Era o principio da década de ouro do futebol da RFA, que dois anos mais tarde se sagraria campeã do Mundo, e que ao nível de clubes (através do Bayern Munique) também iria dominar o futebol europeu. Jogadores como Beckenbauer, Muller, Breitner, Netzer, Maier, e Hoeness começavam a entrar aqui na história do futebol mundial.
Curiosidades do Euro 72...
-Fiel à escola de grandes guarda-redes soviéticos na arte de defender grandes penalidades (Yashin defendeu ao longo da sua carreira 52!!!) a União Soviética agradeceu a Rudakov a presença na final depois deste defender um penalty na meia-final ante a Hungria.
-Com a sua maior estrela a titular, Florian Albert (tinha estado ausente na meia-final), no jogo de atribuição dos 3º e 4º lugares, a Hungria optou pelo jogo duro ante os belgas, cometendo 13 faltas em 90 minutos. Coisa pouca para os dias de hoje!!!
-Jogo muito desequilibrado o da final. Domínio completo dos alemães numa época em que os atrasos para os guarda-redes ainda eram possíveis, embora a RFA nunca tenha feito isto neste jogo. De tal modo que o guardião Sepp Maier limitou-se a tocar na bola apenas nos pontapés de baliza!
Jogos:
Meias-finais
14 de Junho, em Antuérpia
Bélgica – RFA: 1-2 (Polleunis, aos 83’) (Muller, aos 24’, e 71’)
14 de Junho, em Bruxelas
Hungria – União Soviética: 0-1 (Konkov, aos 53’)
Jogos dos 3º e 4º lugares
17 de Junho, em Liège
Hungria – Bélgica: 1-2 (Ku, 53’) (Lambert, aos 24’; Van Himst, aos 28’)
Final
RFA - URSS: 3-0
18 de Junho, no Estádio Rei Balduíno, em Bruxelas
Árbitro: Ferdinand Marschall (Áustria)
RFA: Sepp Maier, Horst-Dieter Hottges, Paul Breitner, Hans Schwarzenbeck, Franz Beckenbauer, Herbert Wimmer, Josef Heynckes, Uli Hoeness, Gerd Muller, Gunter Netzer, e Erwin Kremers. Treinador: Helmut Schon
União Soviética: Evgueni Rudakov, Revaz Dzodzuaschvili, Murtaz Khurtsliava, Vladimir Kaplichny, Iouri Istomine, Anatoli Banischevsky, Victor Kolotov, Anatoli Konkov, Vladimir Troschkine, Anatoli Baidachny, e Vladimir Onischenko. Treinador: Alexandr Ponomarjev Golos: Muller, aos 27’ e 58’, Wimmer, aos 52’.
Onze ideal do Euro 72:
Rudakov (União Soviética) Dzodzuashvili (União Soviética) Khuurtsilava (União Soviética) Beckenbauer (RFA) Breitner (RFA) Wimmer (RFA) Netzer (RFA) Heynckes (RFA) Lambert (Bélgica) Hoeness (RFA) Muller (RFA)
Melhor marcador:
Gerd Muller com quatro golos
Legendas das fotgrafias:
1- Logotipo oficial do Bélgica 1972
2- "Kaiser" Beckenbauer recebe o desejado troféu
3- Muller e Breitner festejam a vitória no Euro 72
4- Um momento da grande final entre alemães e soviéticos
5- A estrela da selecção belga: Paul Van Himst
6- Alemães dominaram completamente os soviéticos na final
7- O guarda-redes soviético Rudakov mostrou-se um digno sucessor do lendário Yashin
8- Os onze magníficos alemães que entraram em campo (na final) para fazer história
9- O melhor marcador do Euro 72, Gerd Muller, faz um dos seus dois golos na final
Vídeo: RFA - URSS