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Seleção Nacional de sub-16 que se sagrou campeã da Europa em 1989 |
Quando abrimos
a enciclopédia da História do futebol português e recuámos até 1989, a primeira
imagem que nos vem à memória é (provavelmente) a mítica epopeia das arábias.
Por outras palavras, a gloriosa caminhada da seleção nacional de sub-20 no
Campeonato do Mundo da categoria que nesse ano decorreu na Arábia Saudita, e
que teve o seu apogeu com Tozé (então o capitão dessa equipa) a erguer nos céus
de Riade o troféu de reis do futebol
planetário ao nível da formação.
Porém,
poucos se lembram que cerca de dois meses volvidos o futebol português viveu
uma nova e (então) inédita conquista no plano internacional no que aos escalões
de formação concerne: o título europeu de sub-16.
Faz
precisamente neste dia 14 de maio 30 anos que a seleção nacional tocava o céu no cair do pano sobre a 7.ª
edição do Campeonato da Europa de Sub-16 - que uma dúzia de anos mais tarde
daria lugar ao atual Europeu de Sub-17 -, e cuja fase final decorreu na Dinamarca.
Em
Vejle, local da grande final, os bravos putos lusitanos derrotavam a antiga
República Democrática Alemã (RDA) por claros 4-1 e traziam, 28 depois, um novo
título europeu para Portugal ao nível de seleções jovens - o primeiro e único
até 1989 havia sido conquistado em 1961 no então denominado Torneio Júnior da
UEFA.
E para
recordar esse inesquecível momento de glória - sim, temos a obrigação de jamais
esquecer as grandes conquistas - nada melhor do que trazer ao Museu Virtual do Futebol alguém que
muito contribuiu para que ela fosse uma realidade. É com enorme prazer que
abrimos as portas a Miguel Simão, um dos 16 heróis que sob o comando de Carlos
Queirós levou a nau portuguesa à terra prometida. Mas antes de passar a
bola ao talentoso médio, lancemos um breve olhar do trajeto de Portugal nesse
Europeu que decorreu entre 4 e 14 de maio no país dos Vikings.
Paulo
Santos (Sporting), Nuno Fonseca (FC Porto), Abel Xavier (Estrela da Amadora),
Álvaro Gregório (FC Porto), Adalberto (Boavista), Canana (Sporting), Costa (FC
Porto), Virgílio (Sporting), Miguel Simão (Boavista), Bino (FC Porto), Emílio
Peixe (Sporting), Sérgio Lourenço (Sporting), Tulipa (FC Porto), Luís Figo
(Sporting), Gil (Benfica) e Geani (Vitória de Guimarães) foram então os 16 soldados que o general Queirós levou à Dinamarca para fazer esquecer a amarga
derrota na final da categoria do ano anterior. Em Vallecas (Madrid), diante da
Espanha, Portugal havia perdido a lotaria dos penaltis (2-4) e procurava agora
na Escandinávia melhor sorte.
Integrada
no Grupo A do Euro 89 juntamente com a Suíça, Roménia e Noruega, a seleção lusa
realizou uma 1.ª fase à qual podemos chamar de passeio! Três jogos realizados e
outras tantas vitórias (4-0 diante da Roménia, 3-0 à Noruega e 2-0 à Suíça) asseguraram
o 1.º lugar do grupo e a consequente passagem às meias-finais onde iriam
ajustar contas com... a Espanha. Nesse jogo, ocorrido em Kolding, veio ao de
cima a veia goleadora de Gil, que viria a sagrar-se o melhor marcador do
torneio, com dez golos. Dois deles precisamente diante dos vizinhos espanhóis,
a quem de nada valeu um golo de Cuellar. 2-1, resultado final e Portugal
viajava para Vejle.
A final foi «Uma viagem maravilhosa ao
Mundo (fantasioso) da... "Brincolândia"»
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A festa após o primeiro golo na final |
E a
final não foi mais do que uma... brincadeira fantasista, a julgar pela
interpretação da prosa do jornalista de A
Bola, Rui Santos, que acompanhou in
loco a jornada de glória.
Sob o
título de «Uma viagem maravilhosa ao Mundo (fantasioso) da...
"Brincolândia"», a edição de 15 de maio de 1989 de A Bola escrevia que «os portugueses...
"foram ao Jardim da Celeste, gi-ro-fla, gi-ro-flé", fintaram e
simularam, driblaram e inventaram, fizeram, enfim, desta final uma...
brincadeira pegada. Essa era, de resto, a estratégia (assumida) de Carlos
Queirós».
Esta
introdução à final dizia muito do futebol fantasista que Portugal começava a
apresentar ao Mundo através dos seus jovens, os quais nas décadas seguintes
tantas e tantas glórias iriam dar à nação lusa.
No
rescaldo da final, Rui Santos lembrava que na véspera da grande decisão Carlos
Queirós havia sugerido «que Portugal tinha de brincar com os alemães no sentido
de fazerem, com prazer, aquilo que eles não conseguem fazer: pôr em campo doses
importantes de fantasia».
E Portugal
assumiu sem rodeios na final de Vejle essa postura fantasista tão
característica do seu futebol.
«A
estratégia era, simplesmente, fazerem-se mais fintas, mais simulações, mais
"piruetas" do que aquelas que já tinham sido feitas frentes aos
suíços, noruegueses, romenos e espanhóis, talvez por se reconhecer nesta escola
alemã grande falta de maleabilidade técnico-táctica. Carlos Queirós e Nelo
Vingada tinham sentenciado: "vamos fantasiar!" E das palavras à
acção, das cabinas ao relvado, um pequeno passo. A equipa fantasiou,
improvisou, inventou (...) Pode-se fantasiar com gozo, com prazer, com graça,
mas, ao mesmo tempo, com dinamismo e um mínimo de rigor. Foi essa a lição que a
final de ontem encerrou. A selecção portuguesa de sub-16 predispôs-se, em síntese,
a fazer uma viagem ao Mundo (fantasioso) da... "Brincolândia".
Digamos que Portugal esvaziou, no campo, o sentido das exigências que,
normalmente, é confinado a uma partida correspondente a uma final europeia.
Brincando. (...) Voluntariamente, Portugal fez a desdramatização desta final e,
com ela, começou a ganhar terreno ao seu adversário que, na ânsia de
corresponder a uma disciplina táctica férrea, que nem permite um
"atchim" de um jogador (sob pena de "aquilo" se desmoronar tudo),
até se esqueceu de, em situação de clara desvantagem (1-3), procurar uma
solução alternativa qualquer, que, de facto, não se chegou a descortinar...».
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O estádio da final, em Vejle |
De
forma mais precisa, o jornalista de A
Bola escrevia que Portugal havia tido um começo de jogo espetacular, quinze
(primeiros) minutos de futebol que na sua ótica foram um espetáculo, destacando
no plano individual o jogador Tulipa.
«Foram
15 minutos empolgantes de... fantasias de Portugal. Um reportório inesgotável
de dribles e simulações e jogadas combinadas, com a capacidade técnica
individual dos jogadores portugueses a vir, gritantemente, ao de cima em
contraste com o futebol geométrico dos alemães, que andaram, neste período,
positivamente a cheirar a bola. (...) Durante 15 minutos, Portugal jogou, com
classe, para a galeria. Parecia cinema. Pareciam bonecos animados. A RDA
parecia deslumbrada pelo futebol praticado pelos portugueses e não conseguiam,
prisioneiros do seu próprio estilo, fazer chegar a bola à baliza de Paulo
Santos. (...) Os alemães orientais concretizaram a única oportunidade de golo
que criaram ao longo dos oitenta minutos, e mesmo essa, resultou de uma
situação de bola parada (pontapé de canto) (...)».
Estas
palavras do então jovem enviado especial de A
Bola servem para atestar a inquestionável vitória lusa, cujo primeiro golo
aconteceu aos 15 minutos, por intermédio de Canana. «No seguimento de uma bela
jogada de Álvaro (Gregório), pelo lado esquerdo, com o portista, depois de
driblar dois adversários, a ir à linha de fundo centrar, com Gil a aparecer
para dar um pequeno toque no esférico (o suficiente para o guarda-redes não
conseguir bloqueá-lo) e Canana a aproveitar para atirar para a baliza deserta»,
assim era cantado o primeiro grito de golo português.
A RDA
chegaria ao empate (por intermédio de Lars Kampf) aos 8 minutos da segunda
parte, aproveitando a tal única oportunidade de golo de que dispôs. Dez minutos
volvidos o então jovem promissor Luís Figo repôs justiça no marcador ao
converter uma grande penalidade a castigar uma mão na bola de Manke. O 3-1 foi
da autoria de Miguel Simão, que deu o melhor seguimento ao uma jogada de Figo
«pelo lado direito, que "trocou" os olhos a Kauerhof e cedeu a bola a
Tulipa, o qual furou entre dois adversários e foi à linha de fundo centrar para
Miguel Simão aparecer solto e só ter de escolher o sítio para onde rematar».
Era Luís Figo a anunciar o jogador fenomenal em que se viria a tornar na década
seguinte!
O
derradeiro golo desta final surgiu por intermédio do grande goleador deste Euro
89, Gil de seu nome. Decorria o minuto 79 quando o avançado do Benfica apontou
uma grande penalidade a castigar um derrube do guardião germânico a Sérgio
Lourenço.
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A taça é nossa! |
O
timoneiro desta seleção, Carlos Queirós, era, naturalmente, um homem feliz no
cair do pano desta final, desde logo porque no espaço de dois meses arrecadara
para Portugal dois títulos internacionais, coisa pouco habitual no nosso
futebol por aqueles dias.
Sobre a
final em concreto referiu que Portugal tornou as coisas fáceis, «ao não dar
hipótese à RDA de jogar de acordo com o seu estilo. Controlámos os
acontecimentos (...). Não sei se ganhar um Campeonato do Mundo (numa alusão a
Riade) dá mais prazer do que ganhar um Campeonato da Europa, mas mesmo sem
saber explicar as razões sinto que esta vitória tem um sabor especial. Além
disso, as pessoas já olham para Portugal de outra maneira, porque percebem que
estes resultados não apareceram por acaso, mas são fruto de trabalho a longo
prazo. Durante o jogo trabalhámos para a vitória e o golo que sofremos foi um golo
fortuito. E já agora quero lembrar que a RDA afastou da prova a URSS, a
Escócia, a Itália e a França. Se isto não chega para valorizar a nossa vitória,
não sei o que dizer».
Na
grande final a nossa seleção alinhou com: Paulo Santos (Nuno Fonseca, 79), Abel
Xavier, Adalberto, Álvaro Gregório, Canana (Sérgio Lourenço, 51), Peixe,
Tulipa, Figo, Bino, Miguel Simão e Gil.
ENTREVISTA: Miguel Simão recorda a jornada de
glória vivida em Vejle
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Miguel Simão |
Como já vimos, Miguel Simão foi um dos miúdos que no dia 14 de maio de 1989 ajudou
(com golos) a conquistar o primeiro Europeu de sub-16 para Portugal. O então
promissor médio da formação do Boavista efetuou nos anos seguintes um percurso que
passou pelo principal escalão do futebol português, ao serviço do Salgueiros,
clube que defendeu entre 1993 e 1997. Na 1.ª Divisão vestiu ainda a camisola do
Gil Vicente (em 2000/01). No segundo escalão nacional atuou em clubes como o
Nacional, Académica, Feirense, Moreirense e Aves. Entre 1998 e 2000 teve uma
bem sucedida aventura
internacional, quando defendeu as cores
dos escoceses do St. Johnstone, clube onde ainda hoje é olhado como um ídolo.
Neste Europeu de 1989 Miguel Simão foi um
jogador preponderante na seleção, atuando como titular em todos os jogos
efetuado na fase final.
Hoje a viver no Luxemburgo, o campeão da
Europa de sub-16 esteve no Museu Virtual
do Futebol, onde recordou o então inédito feito do futebol português.
A bola é tua campeão...
Museu Virtual do Futebol (MVF): 1989 é um ano marcante para o futebol português. Depois da conquista do
então inédito título mundial de sub-20, em março, eis que cerca de dois meses
volvidos surge a conquista do também inédito título de campeão da Europa de
sub-16. O Miguel Simão integrou o grupo que esteve na Dinamarca. Que memórias
guarda dessa epopeia?
Miguel
Simão (MS): As memórias são muitas...e que logicamente culminam com o título de
campeão europeu e o consequente acesso ao Mundial (de sub-17) que mais tarde
foi disputado na Escócia. Esse título europeu foi um alerta de que em Portugal
além de qualidade (futebolística) tínhamos também pessoas muito competentes ao
nosso redor para nos ajudar a evoluir, com destaque, logicamente, para o
professor Carlos Queirós e o Nelo Vingada , sem deixar de lembrar os treinadores
da formação dos nossos clubes.
Recordo
com saudade essa conquista, que foi, aliás, dos primeiros títulos
internacionais que trouxemos para o nosso país. A partir daí começamos a
habituar, e bem, o nosso pequeno país com mais conquistas. Lembro-me que em
1989 tínhamos um grupo fantástico e forte. Naquela altura éramos irreverentes, estávamos
sempre na brincadeira, mas na hora do trabalho encarávamos tudo com muita
seriedade e profissionalismo, algo que nos era incutido pela equipa técnica.
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Carlos Queirós com as taças de campeão da Europa de sub-16 e de campeão do Mundo de sub-20 |
MVF: O título mundial de Riade deu-vos algum
alento extra, digamos assim, para conquistar o Europeu de sub-16?
Miguel:
O título conquistado pelos mais velhos em Riade colocou Portugal no mapa em
termos de qualidade futebolística. Se até ali, Portugal era visto como um país
pequeno que tinha jogadores bons tecnicamente, mas não muito mais do que isso,
a partir dali houve uma mudança de mentalidade enorme. Quando começamos a
acreditar nas nossas capacidades passamos a ter uma mentalidade de entrar em
campo para ganhar e os resultados vieram num ápice, como se pôde constatar (nos
anos seguintes) em várias categorias. Isso deve-se, sem duvida, ao trabalho
profundo na formação de atletas, com relevo para o papel do professor Queirós,
que sem dúvida nos deixava leves dentro de campo para fazermos o que melhor
sabíamos fazer. Nós pensávamos jogo a jogo, e como disse há pouco entravámos em
campo sempre para ganhar. Recordo que o nosso grupo era composto por jogadores
que (hoje) dispensam apresentações, casos do Figo, que chegou a melhor do Mundo
anos mais tarde, mas também o Tulipa, o Peixe, o Gil, o Abel Xavier e eu
(risos). De facto tínhamos muita qualidade e tínhamos muita confiança em poder
ganhar o titulo. Lembro-me que nesse Europeu o Gil foi o melhor marcador da
prova com 10 golos, o que ainda hoje é um recorde.
MVF: Na antecâmara deste Euro 89 o Carlos
Queirós fez-vos acreditar que podiam sair da Dinamarca como campeões da Europa ?
MS. O professor
Queirós trabalhava de forma diferente, fazia-nos acreditar nas nossas
capacidades e isso, com a devida organização, fazia-nos pensar que poderíamos
chegar longe. Lembro-me que o jogo mais fraco em termos de qualidade que
fizemos nessa fase final foi o primeiro contra a Suíça, mas depois disso foi
sempre em crescendo. E acabámos por ganhar o "caneco" (risos).
MVF: E por falar em Carlos Queirós, que
recordações tem dele?
MS: As
melhores. Tive a sorte de trabalhar com ele até aos 19/20 anos e posso dizer
que aprendi muito com ele, fez-me crescer como jogador e como homem e tenho a
certeza de quem teve o privilégio de trabalhar com ele na formação
"bebeu" dos ensinamentos dele na carreira.
Como
hei-de dizer isto, ele tirava-nos a pressão de cima, dando-nos
responsabilidades em que cada um sabia o que fazer em campo. Além disso,
recordo-me dele como uma pessoa calma, sempre de fácil acesso, alguém em quem
acreditávamos naquilo o que nos dizia, porque sabíamos que nos ia levar algum
lado bom.
MVF: Acha que ele foi o grande revolucionador
do futebol em Portugal, o grande obreiro do aparecimento dos talentos que
vieram a seguir, o homem que afirmou o jogador português no Mundo (?)...
Miguel:
Sem dúvida, e eu posso dizer que faço parte da chamada "Geração de Ouro"
do futebol português, porque realmente foram anos em que foram extraídos muitos
talentos. Aliás, a nossa seleção de sub-16 juntou-se aos sub-17 que era
composta por jogadores como João Pinto, Jorge Costa, Paulo Pilar, ou Paulo
Torres, e essa junção acabou por fazer da seleção de sub-20 campeã do Mundo
dois anos mais tarde. Sem dúvida que o futebol português deve muito ao professor
Queirós, e por isso não entendo o porquê de hoje não ser uma das pessoas
"mais" no futebol português! Mas isso é uma coisa que agora não vem
ao caso...
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Miguel Simão ao serviço do St. Johnstone, da Escócia |
MVF: Voltando ao Euro. Quando sentiram que
podiam ser campeões da Europa, houve algum momento em que sentiram que aquele
título já não vos escapava?
MS: No
futebol tudo é possível, e como costumo dizer "não é tudo auto-estrada".
Nesse Europeu tivemos jogos difíceis, em que tivemos de sofrer, mas o jogo mais
complicado que tivemos foi nas meias-finais com a poderosa Espanha. Mas
recordo-me que nesse jogo o Gil decidiu (risos). Éramos um grupo forte e
acreditávamos em nós e à medida em que fomos passando os adversários essa
confiança dentro de nós ia aumentando... Queríamos muito ser campeões da
Europa.
MVF: Houve algum sentimento de vingança no
jogo com a Espanha, uma vez que na final do Europeu anterior eles tinham-nos
derrotado?
MS: Sabíamos
que a Espanha era uma equipa forte, mas já os tínhamos defrontado antes no
Torneio do Algarve e ganhámos-lhes. Por isso, eles também sabiam que iam
encontrar uma equipa forte. Quando estamos no campo não há tempo de pensar em
vinganças, mas sim em ganhar.... Mas sabe bem mudar o rumo da história (risos).
MVF: O Miguel Simão foi um jogador
preponderante nessa seleção. Na fase final, atuou como titular em todos os
jogos, e inclusive marcou um golo na final. Lembra-se desse momento?
MS: Sim,
lembro. Foi uma excelente jogada pelo lado direito, protagonizada pelo Tulipa,
que cruzou para mim e eu depois de dominar encostei para o 3-1. Deu-nos alívio
esse golo (risos).
MVF: Foi o seu melhor momento com a camisola
da seleção?
MS: Não.
Tive muitos momentos bons, graças a Deus. Como disse, estive nas seleções até
às Esperanças, e tudo junto faz com que hoje eu seja um homem orgulhoso da
forma como representei o meu país. Nesse ano (1989) fiz um Mundial (sub-17)
muito bom na Escócia, em que fui considerado "man of the match" em
dois jogos. Por essas e por outras tenho muitos momentos a recordar.
MVF: Na altura da conquista do Euro de sub-16,
vocês eram todos miúdos com 16 anos, pelo menos a esmagadora maioria. Mas já
com essa tenra idade aperceberam-se do feito que tinham conquistado para
Portugal?
MS: Sim,
tivemos a noção, porque o Presidente da República safou-nos logo
da tropa (risos). Os jogadores oriundos da Cidade do Porto receberam todos uma
medalha de Honra da Cidade pelo feito alcançado. De facto, é um título que
ainda hoje é lembrado.
MVF: Peixe, Figo, ou Abel Xavier foram
jogadores que mais tarde singraram a nível internacional. Conviveu desde muito
jovem com eles. Algum destes, ou outros desse grupo, o surpreendeu por ter
chegado onde chegou?
MS: Nenhum
deles me surpreendeu ter chegado onde chegou, porque notava-se desde muito cedo
a qualidade que tinham. Mas é assim: há sempre motivos para outros não terem
aparecido (a nível internacional). Aliás, penso que um outro jogador com quem
tive a oportunidade de jogar mais tarde no Salgueiros e que também não chegou de
forma surpreendente à selecão AA foi o Tulipa...
MVF:.. Além do Tulipa também o Miguel Simão
não chegou à seleção AA. Faltou dar esse passo na sua carreira (?)...
MS:... Jogávamos
em clubes com menos visibilidade e quando é assim é mais complicado chegar aos
AA. Além disso, estávamos igualmente bem servidos em termos de seleção AA. Seria
uma honra ter chegado à seleção AA, mas já me orgulho muito do trabalho que fiz
nas seleções de formação.
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Miguel Simão na atualidade |
MVF: Olhando para o presente, ainda está
ligado ao futebol?
MS: Sim
... só jogo aos sábados com amigos (risos). Mas também deteto novos talentos e
tento coloca-los em clubes de França, Bélgica e Portugal também. Atualmente
vivo no Luxemburgo.
MVF: Mesmo para terminar. Há alguma história
curiosa que ainda hoje guarde na memória sobre esse Europeu de 1989?
MS: O
que mais marcou foi a nossa alegria depois de termos ganho o Europeu. Estávamos
todos ansiosos por mostrar o "caneco" ao país e estar com as nossas
famílias. Das histórias mais giras que tenho da nossa selecão sub-16 foi passada na Escócia e tem a ver com o
VIROSCA, mas deixo para o Gil ou o Canana contarem (risos)...
MVF:... Ok Miguel, será uma história para
contar numa outra viagem à... História. Muito Obrigado por esta breve e
simpática visita ao Museu Virtual do
Futebol. Foi um prazer trocar estas breves palavras com um CAMPEÃO DA
EUROPA. Abraço.