A norte
enquanto que o Football Club do Porto estava em estado de hibernação – recorde-se que o clube havia sido fundado em 1893 por
António Nicolau d’ Almeida, tendo entre 1896 e 1906 conhecido um período de
letargia de 12 anos, sendo refundado, digamos assim, por José Monteiro da Costa
– nasce a 1 de agosto de 1903 o Boavista Foot-Ballers. E nasce pela mão de dois
entusiastas da bola, os impulsionadores do nascimento do clube, pois era deles
o esférico que começou a saltitar pela primeira vez (dizem) ali na zona da
Boavista. Harry e Dick Lowe foram presenteados pelo seu pai com uma bola de
futebol vinda propositadamente de Inglaterra para a Cidade Invicta.
Moravam
na Rua Fonte Arcada, onde nas imediações existia um terreno baldio, tendo ali
agregado um grupo de amigos que juntamente com empregados e técnicos ingleses da
Fábrica de Têxteis Graham começaram a dar um chutos na redondinha. Estava dado
o pontapé de saída de um novo clube.
Mudam-se
mais tarde para uns terrenos no Bessa, e oficialmente numa casa da Rua do
Pinheiro Manso é formada por ingleses e dois portugueses – Pedro Brito e
Maximiano Pereira – o The Boavista Foot-Ballers. O resto…é história.
O clube
começa a partir dai a entrar em campo para defrontar grupos vizinhos, sobretudo
o grande emblema tripeiro de então, os ingleses do Oporto Cricket Club. Harry
Lowe, Joaquim Ferreira, Andersen, Dick Lowe, Stuary Owen,Richard Lowe, Ângelo
Seixas, John Jones, Manuel Ribeiro da Silva, Francisco Bastos e Percy são os
primeiros nomes que defendem o símbolo que haveria de tornar-se num dos maiores
clubes do futebol nacional décadas mais tarde.
Porém,
a harmonia entre britânicos e lusos no seio do novo clube durou apenas seis
anos, pois em 1909 uma questão religiosa esteve na origem da “separação de
águas”. Isto é, os ingleses da Fábrica Graham recusavam-se a jogar ao domingo
por respeito às “regras” da Igreja Anglicana, contrariamente aos portugueses,
para quem o domingo era o único dia em que estariam livres para correr atrás da
bola nos retângulos do Belo Jogo. Reuniram-se
os associados, e o braço de ferro foi
ganho pelos portugueses, tendo os ingleses abandonado o grupo e assim entregue
os destinos do clube aos lusos.
Muitas
alterações foram realizadas de lá para cá, desde logo a designação do clube que
passou a chamar-se Boavista Football Club e mais tarde Boavista Futebol Clube.
Outra
data que poderemos destacar nesta nossa breve resenha remonta a 1933, ano em
que surgem as famosas camisolas axadrezadas com as cores preto e branco. O “culpado”
das hoje conhecidas internacionalmente camisolas axadrezadas do Boavista é Artur
Oliveira Valença, um entusiasta pelo fenómeno desportivo que ao assumir a
presidência do clube implementou a camisola de xadrez preto e branco, um modelo
que havia visto numa viagem a França. Taças de Portugal, Supertaças de
Portugal, um título de campeão nacional da I Liga, dezenas de presenças nas
competições europeias constituíram de lá para cá a gloriosa história deste
enorme clube português.
Mas
voltando atrás, a 1903, importa sublinhar que por esta altura continuavam a ser
os mestres ingleses a dominar o panorama futebolístico em Portugal.
E se no
Porto, como já vimos, o Oporto Cricket era o emblema a abater, na capital o Carcavellos
Football Club, ou o Lisbon Cricket Club dominavam o jogo da bola. Mas os tempos
haveriam de mudar num ápice…