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Um ângulo de Vidal Pinheiro ainda pelado |
O último golo da 1.ª Divisão Nacional marcado
num pelado
A
presente época desportiva tem a particularidade de assinalar o 40.º aniversário
da última vez que se jogou futebol num campo pelado – ou de terra batida – no escalão
maior de Portugal. Este facto leva-nos mais longe ao recordar o último golo
marcado num retângulo pelado no escalão maior do futebol nacional. Estávamos na
temporada de 83/84 e o Campo Eng. Vidal Pinheiro, casa do popular Salgueiros,
era a exceção à regra no panorama da 1.ª Divisão Nacional, isto é, era o único
campo pelado dos 16 clubes que competiram nessa temporada naquele escalão.
Cerca de dois anos antes a Federação Portuguesa de Futebol havia estipulado que
na temporada de 84/85 todos os clubes que disputassem a 1.ª Divisão Nacional
teriam de ter os seus campos relvados, caso coso contrário teriam de jogar em
casa emprestada sempre que atuassem na condição de visitados. O anúncio era
feito com duas épocas de antecedência, de modo a que os clubes com aspirações a
pisar os palcos de primeira pudessem planear o arrelvamento dos seus campos. O
Salgueiros foi pois o último clube da 1.ª Divisão a competir num pelado e fê-lo
até à última, ou seja, até à derradeira jornada do Nacional de 83/84. Jornada
decisiva para muitas equipas que lutavam pela permanência entre a elite do
futebol luso, entre estas o próprio Salgueiros, que precisava de ganhar
obrigatoriamente ao vizinho Boavista para garantir a manutenção. Octávio
Machado havia iniciado a temporada ao comando dos encarnados do Norte, fazendo
deste modo a sua estreia no papel de treinador principal, depois de uma época
antes ter pendurado as chuteiras. O Palmelão, como é conhecido Octávio, não se
aguenta até ao fim da linha, é substituído por António Jesus que dali a nada dá
o lugar ao guarda-redes António Fidalgo. O antigo guardião de Benfica e
Sporting é a opção de risco dos responsáveis salgueiristas para salvar a equipa
da descida. De risco porque Fidalgo assumiu o cargo na condição de
jogador-treinador, isto é, ele defendia pela primeira vez as redes do emblema
de Vidal Pinheiro, onde só permaneceu uma época, e não possuía experiência
enquanto treinador. Aliás, após esta curta e vitoriosa, como veremos adiante,
experiência, Fidalgo ainda jogou durante mais duas temporadas, abraçando a
profissão de treinador em exclusivo só a partir de 87/88. Desde fevereiro de
1984 no comando da equipa Fidalgo chega à derradeira jornada do Nacional da 1.ª
Divisão, disputada a 13 de maio, a depender não só de si como de uma série de
outras equipas para se salvar. Era preciso um milagre, mas estávamos a 13 de
maio… e tudo era possível.
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O Salgueiros de 83/84
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Como
era seu apanágio sempre que o Salgueiros lá atuava o Campo Eng. Vidal Pinheiro
estava à pinha. Repleto. O Boavista surgia em campo tranquilo, sem nada a
ganhar ou a perder, já que o comboio da Europa tinha sido perdido poucas
jornadas antes. Henrique Calisto era o treinador dos axadrezados que tinham em
João Alves, o luvas pretas, a sua maior estrela. No banco boavisteiro estava
ainda um tal de Zoran Filipovic, avançado da então Jugoslávia, e que anos mais
tarde como treinador haveria de fazer furor curiosamente ali mesmo, em Vidal
Pinheiro. Mas voltemos à decisiva e emotiva tarde de 13 de maio. Os adeptos
salgueiristas estavam de olhos no pelado de Vidal Pinheiro e de ouvidos nas Antas,
em Alvalade, em Guimarães e em Vila do Conde, locais onde jogavam adversários
diretos do seu clube na fuga quer à despromoção direta quer à liguilha/play-off
pela manutenção. Foi uma tarde de sofrimento mas que começou praticamente de
forma eufórica com o tão desejado golo do Salgueiros. Penteado foi o seu autor.
Estavam decorridos 16 minutos quando Nelito cruza para a área pelo flanco
esquerdo do seu ataque onde aparece Penteado que de cabeça faz um chapéu ao
jugoslavo Petar Borota. O Salgueiros aguentou até final estoicamente a magra
vantagem, numa jogo que as crónicas rotularam de fraco e em diversos momentos
confuso. O Salgueiros de Fidalgo deixou de lado a nota artística optando por
vestir o fato macaco para jogar feio
quando teve de o fazer em defesa da vitória que viria a alcançar. Após o apito
final de Rosa Santos a festa tomou conta de Vidal Pinheiro, não só porque o
Salgueiros tinha vencido mas por nas Antas o Estoril tinha perdido por 8-0, em
Alvalade o Farense havia sido derrotado por 4-0, em Guimarães o Penafiel perdeu
por 1-0, e em Vila do Conde o Águeda foi derrotado por 5-1. Conclusão, o
Salgueiral tinha ganho em todos os campos e estava safo. Ia continuar na 1.ª
Divisão Nacional.
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Fidalgo, o jogador/treinador que salvou o Salgueiros da descida é levado em ombros no final do jogo
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Quanto
a Penteado a história reserva-lhe assim um lugar de destaque, já que o seu golo
foi o último a ser marcado num campo pelado num encontro da 1.ª Divisão. Manuel
Penteado que havia precisamente chegado a Vidal Pinheiro em 83/84, vindo do FC
Porto, em rota de colisão dom José Maria Pedroto, que lhe tinha prometido mais
oportunidades no ataque portista e não cumpriu. Octávio em boa hora o convenceu
a abandonar as Antas e a rumar a Vidal Pinheiro. |
Penteado, autor do último golo num jogo da 1.ª Divisão disputado num pelado |
Para a
história aqui fica a ficha do último jogo da 1.ª Divisão Nacional disputado num
pelado: Campo Eng. Vidal Pinheiro, no Porto.
Árbitro: Rosa Santos, de Beja,
auxiliado por Francisco Lobo e Marcolino Baptista. Salgueiros: Pinto, Carlos
Ribeiro, Soares I, Germano, Jorginho, Luís Pereira (Matias, 83), Silva,
Carvalho, Joy, Penteado (Armando, 78) e Nelito. Treinador: António Fidalgo. Suplentes
não utilizados: Soares II, João, e António Manuel. Boavista: Borota, Queiró,
Adão (Figueiredo, 27), Frederico, Teixeira, Barbosa, Almeidinha, João Alves,
Palhares, Coelho e Vitorino. Treinador: Henrique Calisto. Suplentes não
utlizados: Matos, José Manuel, Bravo e Zoran Filipovic.Vídeo do último golo marcado num campo pelado na 1.ª Divisão Nacional