quinta-feira, março 14, 2024

Histórias do Futebol em Portugal (46)… O último ato do Académico do Porto nos palcos da “Primeira” (Parte III)


Estreante nestas andanças de 1.ª Divisão Nacional era o Leça, clube modesto que nesta primeira aparição entre os “Grandes” se fazia representar na sua esmagadora maioria por jogadores da terra, todos amadores, e sem experiência no mais alto patamar do futebol luso. Leça que se deslocou ao Estádio do Lima na 9.ª jornada para disputar um «jogo de vizinhos» como lhe chamou o jornalista Bolero, do Norte Desportivo. Perante reduzida assistência a partida teve um início tímido, sendo que nos primeiros cinco minutos há apenas a registar uma oportunidade de golo perdida do academista Álvaro Pereira. Apesar de ser disputado a grande velocidade, o encontro não apresenta um padrão tático definido, o que o torna um pouco desinteressante. «Ambas as equipas jogam à base da energia, com uma ou outra jogada onde se vislumbra o desejo de conjunto (…) Uma e outra defesa, continuamente em ação, batalham ardorosamente. Se os setores dianteiro e médio têm trabalho sucessivo, o mesmo sucede com as extremas defesas, sempre na liça. Tem motivos de certo agrado esta partida entre leceiros e académicos», assim retratava Bolero.

A equipa do Leça que disputou a 1.ª Divisão em 41/42

À passagem da meia hora de jogo o Académico toma conta dos acontecimentos, perante um Leça que começa a dar sinais de alguma fraqueza à medida que se aproxima o intervalo. Levy de Sousa, guarda-redes do Académico do Porto, é um mero espectador, em contraste com Jaguaré – não o excêntrico guardião brasileiro que jogou no Académico anos antes, mas sim Alfredo Dias, conhecido pelo Jaguaré do Leça – que tem trabalhos redobrados. A avalanche academista produziu resultados antes do descanso, com Marques e Larsen a darem expressão ao marcador. A toada de jogo manteve-se na segunda metade, e quando estavam decorridos 62 minutos Raul Castro desfere um remate a cerca de 30 metros da baliza de Jaguaré, guardião que é traído pela trajetória da bola e não evita desta forma o terceiro tento dos portuenses. Tecnicamente o Académico era superior ao seu adversário, e o marcador seria fechado por Larsen a 15 minutos do fim, na sequência de um canto apontado por Machado. 4-0, vitória de um Académico que alinhou da seguinte forma: Levy de Sousa, António Jorge, Rafael, Manau, Guimarães, Eliseu, Larsen, Raul Castro, Marques, Julinho e Álvaro Pereira.


O derby da Invicta pende para o lado azul-e-branco

E na 10.ª ronda houve aquele que foi o primeiro dérbi da Cidade Invicta no patamar mais alto do futebol em Portugal. Académico e FC Porto mediram forças no Lima. O jornalista Lopes Gaya conta que os portistas entraram em campo a pressionar os academistas, mostrando assim «certas tendências para abrir o ativo, porque aparecem com mais frequência no ataque. Levy (de Sousa) é chamado duas vezes a intervir, e fá-lo com certa felicidade a dois remates, um de Pinga e outro de António Santos». Após este começo mais afoito dos azuis e brancos o jogo entra numa toada de maior equilíbrio, com o Académico a espreitar com mais frequência o ataque, pese embora com a defesa portista sempre atenta. Até que à chegada da meia hora de jogo o FC Porto aplica dois rudes golpes ao Académico. O mesmo é dizer dois golos apontados quase de rajada. O primeiro por intermédio do possante avançado Correia Dias, aos 24 minutos, e o segundo dois minutos volvidos por Carlos Nunes. A equipa comandada pelo técnico Mihaly Siska saiu para o intervalo em vantagem, descanso esse que lhe parece ter feito mal, a julgar por uma entrada na segunda metade algo relaxada. Aproveitou o Académico que logo aos 10 minutos reduz a desvantagem. «Larsen lança um bom centro sobre a esquerda, a bola vai para Julinho que marca (passa) para Álvaro Pereira que fuzila rápido as redes de Béla (Andrasik)». A bola vai ao centro do terreno e… novo golo para o Académico. Julinho recebe a bola de um companheiro seu, e sem marcação corre em direção à baliza portista, rematando sem hipóteses para o fundo das redes. Estava feito o empate para delírio da claque do Académico, que «aplaude com entusiasmo a sua equipa». Do outro lado os adeptos do FC Porto também puxam pelo seu conjunto, e «estabelece-se um curioso duelo de claques. Um orfeão ruidoso a dar ambiente de espectativa ao encontro», descreveu Lopes Gaya. O FC Porto parece despertar da entrada sonolenta, e aos 65 minutos o árbitro Vieira da Costa assinala um livre perigoso para a baliza de Levy de Sousa. Na cobrança, António Baptista envia com habilidade a bola para o fundo da baliza academista, colocando novamente a sua equipa em vantagem. Aos 42 minutos, os portistas acabam com as esperanças dos seus vizinhos em pontuar. «Pratas desce e é carregado com certa violência. Pinga marca o castigo direto com um pontapé bem colocado e fixa o resultado em 4-2». No derby da Invicta o Académico alinhou com: Levy de Sousa, Rafael, António Jorge, Guimarães, Eliseu, Raul Castro, Larsen, Gamboa, Julinho, Marques e Álvaro Pereira.

Lance do dérbi da Cidade Invicta, entre Académico e FC Porto

Na derradeira jornada da primeira volta do campeonato o Académico voltou a não ser feliz na deslocação a Lisboa. Desta feita seria o Carcavelinhos a aplicar a chapa 6 aos portuenses. Sobre encontro não conseguimos encontrar o relato escrito das incidências do mesmo.

Treinador do Académico não atira a toalha ao chão

Conseguimos sim descobrir uma pequena entrevista concedida ao Norte Desportivo pelo treinador do Académico do Porto nesta temporada, Albertino Ferreira de Andrade, a sua graça. Nesta troca de palavras com aquele jornal portuense, o técnico fazia um balanço da primeira volta do campeonato, começando por opinar que tinha gostado de ver a equipa do Sporting em ação, e que em seu entender o FC Porto parecia querer regressar à boa forma do passado. 

O treinador do Académico:
Albertino Andrade

E sobre a sua equipa, Albertino Andrade não atirava a toalha ao chão, pelo contrário. «O orientador técnico do Académico parece, no entanto, não possuir fibra para o desânimo. (…) Sente na entrega à preparação física dos seus pupilos o melhor dos seus esforços. Percebe nos jogadores de futebol imensas deficiências, que procura corrigir, assim como determinados defeitos de formação». E mais adiante, ao falar dos resultados averbados até então, diz mesmo: «Pouca sorte, muito pouca sorte, é o que tem havido».


Nova viagem para esquecer à capital

O Início da segunda volta do campeonato marca uma nova viagem do emblema do Porto à capital, agora para defrontar o Belenenses, no mítico Estádio das Salésias. Os lisboetas vinham de uma vitória animadora no Campo da Constituição diante do FC Porto, na ronda anterior, e talvez por isso a massa adepta belenense fosse em grande número ver a sua equipa. Por seu turno, o Académico neste jogo «não foi melhor nem pior que noutras deslocações. A equipa, habilidosa por intermédio de alguns elementos, não tem fundo de resistência. No jogo de hoje transpareceu mais uma vez essa ideia. Em lampejos, o grupo consegue organizar algumas jogadas interessantes, mas com a sua linha de médios se divorcia muitas vezes do ataque, a equipa vive partida ao meio quase sempre», assim analisou a turma portuense o correspondente do Norte Desportivo na capital. O Belenenses entrou praticamente a ganhar, quando aos dois minutos Eliseu corta a bola com a mão dentro da área, com o árbitro setubalense Trindade a assinalar de pronto o castigo máximo. Na conversão, Feliciano marcou o primeiro tento dos azuis. O Belenenses teve quase sempre o ascendente do encontro, sendo que os campeões do Porto apenas se mostraram mais audazes no segundo quarto de hora da primeira parte. «De resto, a vontade mais forte foi a do Belenenses». Porém, contra a maré azul os academistas empatam a partida à passagem do minuto 19, por intermédio de Larsen. Empate que seria sol de pouca dura, já que três minutos passados António Jorge derruba Gilberto dentro da área e o árbitro não volta a ter dúvidas em assinalar nova grande penalidade a favor dos de Belém. Feliciano volta a não dar hipóteses de defesa a Levy de Sousa. E ainda antes do intervalo os locais ampliaram a vantagem, por intermédio de Artur Quaresma. «No segundo período, inicialmente, ainda o Académico se manteve com certa galhardia, mas depois o encontro entrou num período de certa monotonia dada a superioridade dos visitados», escrevia o Norte Desportivo. E seria dessa forma que Gilberto faria o quarto tento dos lisboetas, que praticamente sentenciou a partida, de nada valendo o facto de Larsen, aos 64 minutos, ter reduzido para 4-2, que seria, assim, o resultado final de um jogo onde o Académico alinhou com: Levy de Sousa, António Jorge, Rafael, Manau, Eliseu, Raul Castro, Larsen, Gamboa, Julinho, Marques e Álvaro Pereira.

(continua)

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