sábado, dezembro 23, 2023

Mundial de Clubes/Arábia Saudita 2023 (7)...

Final

King Abdullah Sports City

Manchester City (Inglaterra) - Fluminense (Brasil): 4-0

Golos: Julián Álvarez (2), Phil Foden, Nino (a.g.)

Manchester City torna-se dono do Mundo... 

Mundial de Clubes/Arábia Saudita 2023 (6)...

Jogo de atribuição dos 3.º e 4.º lugares

Prince Abdullah Al Faisal

Urawa Reds (Japão) - Al-Ahly (Egito): 2-4

Golos: Kanté, Scholz / Ibrahim, Tau, Maaloul, Koizumi (a.g.)

Bronze viajou para o Egito... 

quarta-feira, dezembro 20, 2023

Mundial de Clubes/Arábia Saudita 2023 (5)...

Meias-finais

King Abdullah Sports City

Urawa Reds (Japão) - Manchester City (Inglaterra): 0-3

Golos: Kovacic, Bernardo Silva, Hoibraten (a.g.)

Citizens avançam com toda a naturalidade para a grande decisão... 

terça-feira, dezembro 19, 2023

Mundial de Clubes/Arábia Saudita 2023 (4)...

Meias-finais

King Abdullah Sports City

Fluminense (Brasil) - Al-Ahly (Egito): 2-0

Golos: Jhon Arias, John Kennedy

Faraós foram osso duro de roer para um Fluzão que segue em busca de um sonho inédito... 

sábado, dezembro 16, 2023

Mundial de Clubes/Arábia Saudita 2023 (3)...

Jogo 3

King Abdullah Sports City

Al-Ahly (Egito) - Al-Ittiah (Arábia Saudita): 3-1

Golos: Ali Maaloul, El Shahat, Ashour / Benzema

Faraós acabam com o sonho dos galáticos sauditas...

Mundial de Clubes/Arábia Saudita 2023 (2)...

Jogo 2

Prince Abdullah Al Faisal

Club León (México) - Urawa Reds (Japão): 0-1

Golo: Alex Schalk

Nipónicos deixam campeões da CONCACAF de olhos em bico já perto do final...

quarta-feira, dezembro 13, 2023

Mundial de Clubes/Arábia Saudita 2023 (1)...

Jogo 1

King Abdullah Sports City 

Al-Ittihad (Arábia Saudita) - Auckland City (Nova Zelândia): 3-0

Golos: Benzema, Kanté, Romarinho

Guiados por uma constelação de estrelas, sauditas derrubam o frágil campeão da Oceânia...  


quinta-feira, novembro 16, 2023

Jogos Memoráveis (6)... Racing White - CUF (Taça UEFA 1972/73)

Equipa da CUF que fez história na Taça UEFA de 72/73

O Barreiro figura na história do futebol português como um alfobre de largas dezenas de notáveis futebolistas. Durante anos a fio esta cidade industrial de referência foi um dos maiores, senão mesmo o maior, fornecedor de jogadores para os grandes clubes de Lisboa (sobretudo) e por consequência para a seleção nacional. Enumerá-los merecia só por si um artigo específico sobre a condição do Barreiro enquanto berço de génios da bola, artigo esse que fica para outras núpcias. Mas não só de virtuosos futebolistas reza a história desta terra localizada na margem sul do estuário do Tejo. Grandes e míticas equipas dali oriundas levaram o nome do Barreiro longe, tanto no plano nacional como internacional. Durante anos a fio a CUF e o Barreirense, os dois míticos emblemas ali nascidos, foram os máximos representantes da vila operária no mais alto escalão do futebol luso. E com resultados/classificações histórico(a)s! E como consequência dessas excelentes performances ambos os clubes têm o seu nome inscrito na história das provas da UEFA, vulgo, as competições europeias. Sobre a aventura do Barreirense já aqui falámos noutras viagens ao passado, enquanto que da CUF vamos recordar hoje o encontro histórico que permitiu ao mítico "clube-fábrica" superar pela primeira vez uma barreira uefeira, isto é, eliminar um adversário europeu. Aconteceu na época de 72/73, na recém-criada Taça UEFA, onde a CUF mediu forças com os belgas do Racing White (Molenbeek). Antes de recordarmos este encontro, há que referir que o emblema da Companhia União Fabril - fundada pelo grande e visionário empresário, Alfredo da Silva, nos inícios do século XX - não era propriamente um estreante em matérias de competições internacionais. Esta era na verdade a terceira presença dos cufistas na alta roda do futebol europeu. A primeira havia sido na extinta Taça das Cidades com Feira, na temporada de 65/66, altura em que a CUF surpreendeu ao Europa ao obrigar o poderoso Milan a um terceiro e decisivo jogo de desempate; e em 67/68, na mesma competição, quando caiu aos pés dos jugoslavos do Vojvodina na ronda inaugural.

E em 72/73 o clube do Barreiro chegava novamente ao palco europeu, fruto de um brilhante 4.º lugar no Campeonato Nacional da época anterior, em que ficou à frente do FC Porto, por exemplo.

Belgas sobranceiros caíram na ratoeira dos mind games

Quis o sorteio que a terceira presença da CUF nas competições europeias tivesse início em Bruxelas, onde à sua espera tinha o Racing White. Apesar de bem orientados por Fernando Caiado, que durante largos anos bebeu - enquanto adjunto - da sabedoria de ilustres técnicos que conduziram o Benfica a finais europeias na década de 60, os cufistas não reuniam à sua volta grande expectativas por parte dos opinadores do futebol português quanto a uma passagem de eliminatória. Pelo menos era esta a ideia que o célebre jornalista Cruz dos Santos passou no início da sua análise ao jogo realizado no Estádio Fallon a 20 de setembro de 1972. E de acordo com as palavras iniciais do jornalista d' A Bola esta descrença era mais pelas debilidades da equipa barreirense do que pelo poderio do adversário, poderio esse de que nunca se tinha ouvido falar! Para Cruz dos Santos o Racing era somente uma equipa jeitosa, com três ou quatro jogadores de boa craveira técnica, mas não mais do que isso. «Todas as desconfianças que se alimentavam a propósito das possibilidades de qualificação da equipa portuguesa repousavam na própria CUF, que se sabe ser capaz de uma superação na hora exacta (tem-no provado tanta vez em Portugal) mas que é urna equipa com muitas limitações, capaz de "encalhar" quando depara com um adversário mais experimentado e habituado a estas andanças», escrevia o jornalista que mais adiante recordava que a turma do Lavradio havia alcançado «resultados espetaculares» diante de equipas como o Benfica, Sporting, ou Vitória de Setúbal, mas que nesse cenário interno contava e muito o facto de os cufistas conhecerem de gingeira a forma de jogar desses clubes, o que não era tudo mas ajudava e de que maneira. 

A turma do Racing White que defrontou os cufistas

No confronto europeu isso não acontecia, nem o Racing White conhecia tão bem a CUF, nem esta o emblema belga, e nesse sentido dois estranhos iriam medir forças num encontro em que apontar um vencedor era um autêntico tiro no escuro. E a equipa portuguesa arriscou, foi feliz, mas com um certo ambiente de mind games à mistura que acabou por ludibriar os belgas, conforme se pode depreender das palavras de Cruz dosSantos. «E os responsáveis da CUF (...) chegaram, foram instados a botar palavra pelos jornalistas, e muito amáveis, muito simpáticos, foram dizendo que Bruxelas é uma linda cidade, que o clima é maravilhoso, que o Racing é uma equipa de categoria, uma equipa poderosa, que a CUF, enfim, vai ter muita honra em recebê-lo no Lavradio (...) mas que, enfim, quanto a uma hipotética qualificação não alimentavam grandes ilusões, até porque de um lado iriam estar profissionais da bola enquanto do outro jogariam operários de uma fábrica do Barreiro, que fazem futebol nas horas vagas... Este tom aparentemente realista com que os homens da CUF mostraram encarar o jogo, para além do rasto de simpatia que lhes valeu (quem não gosta de ouvir elogiar os seus...) ajudou a criar ainda um clima de facilidades que realmente (provou o jogo depois) não tinha razões para existir. E de tudo se beneficiou a CUF».

E foi com a ideia de que a eliminatória seriam favas contadas que os poucos espectadores (cerca de 6000) que se deslocaram ao Estádio Fallon encararam a partida. Mas os rapazes da CUF tinham a lição bem estudada, e «com uma defesa atenta com Fernando, vigilante, entre os quatro homens de trás e os três do meio do campo (Arnaldo, Monteiro e Vítor Gomes) e finalmente Manuel Fernandes e Juvenal, lá na frente, jogando muito abertos, nitidamente, com a preocupação de travarem o avanço dos defesas-laterais. Com este dispositivo Caiado garantia a defesa da sua área, assegurava o domínio do meio do campo e depois, só com dois homens na frente, manietava toda defesa belga, pois Manuel Fernandes e Juvenal barravam o caminho aos defesas-laterais, apenas deixando soltos os "centrais", e sabe-se bem que os "centrais" nunca descem no terreno. (...) Com a vitória deste sistema a CUF não apenas travou o ímpeto do Racing como assegurou próprio domínio do jogo». 

Um duelo no jogo de Bruxelas

Os belgas não encontravam o caminho da baliza de Conhé, não conseguindo assim resolver o quebra-cabeças montado por Fernando Caiado. Com isto o tempo foi passando, e Cruz dos Santos escrevia que não se via a teórica supremacia atribuída ao Racing White na antecâmara do jogo. Com isto a CUF foi ganhando confiança e passou ao ataque à baliza de Nico de Bree, que via os seus companheiros atarantados com o ímpeto cufista tendo para isso que recorrer muitas vezes a entradas maldosas. «Por volta da meia hora já não havia Racing — era quase tudo CUF. CUF que moralizada, estimulada pelo acerto da exibição vinha produzindo, crescia, crescia a ponto de se superiorizar por completo ao adversário». Na reta final da primeira metade os belgas ainda esboçam uma reação no sentido de intimidar os portugueses, mas sem grande sucesso. O máximo que conseguiram foi desferir dois remates tímidos à baliza barreirense que foram travados com atenção por Conhé, que seria um dos heróis deste encontro. Já antes disto a CUF havia colocado em sentido Nico de Bree, sobretudo ao minuto 15, quando o experiente avançado José Monteiro (que havia passado pelo Sporting) entra de rompante na área e com um remate venenoso obrigou o guardião holandês ao serviço do emblema belga a defesa espetacular. Os jogadores do Racing White mostravam-se nervosos, e a prova disso é que no regresso às cabines para o descanso Teugels atirou maldosamente a bola à cara de Manuel Rodrigues, o que lhe valeu de pronto o cartão amarelo exibido pelo árbitro inglês David Smith.

Conhé, lenda da CUF
Conhé veste a capa de herói

Na segunda metade os belgas voltaram com os ânimos mais calmos e acima de tudo intencionados em marcar, e desse modo os primeiros 10 minutos desta etapa colocaram Conhé e a sua muralha defensiva em alerta máximo. E foi precisamente neste período de maior intensidade do Racing White que aconteceu a grande oportunidade do conjunto da casa. O holandês Wietse Veenstra é derrubado dentro de área por dois defesas cufistas, Manuel Rodrigues e José António, lance que não deixou o árbitro com qualquer dúvida em assinalar o castigo máximo. Encarregue da marcação ficou a estrela da equipa, Henri Depireux, esse mesmo, o tal que cerca de 15 anos mais tarde treinaria o Belenenses. Porém, Conhé foi herói e parou o potente remate do médio belga. «A equipa da CUF em peso caía sobre o seu guarda-redes, enquanto o desânimo tombava sobre o Estádio Fallon!», escreveu A Bola. Este lance deu ainda mais moral ao conjunto português. Cruz dos Santos escrevia então que «a surpresa da exibição da CUF já não vinha só do facto de suportar o zero-zero durante primeira hora de jogo; muito para além disso a equipa portuguesa estava a jogar em grande, (...) congelando o esférico no seu meio do campo para quebrar o ímpeto do adversário, mas isso sem nunca abdicar da ideia de progredir no terreno, de construir com cada passe o lance de contra-ataque, de pôr à prova em cada jogada a coesão e a mobilidade da defesa belga».

Depireux, aqui como treinador do 
Belenenses falhou penalty
Auto-golo trouxe justiça ao jogo

Por esta altura Conhé mostrava que a defesa da grande penalidade não tinha sido obra do acaso. Aquele era mesmo um dia em que estava inspirado, como comprovam mais duas grandes defesas aos 67 e 69 minutos. E quando não era o guardião luso a travar a bola era a barra, como aconteceu à passagem da meia hora desta 2.ª parte. Os belgas desesperavam, com a aproximação do final do encontro carregavam com mais intensidade, estavam completamente balanceados no terreno, facto aproveitado e de que maneira pela CUF. Num lance de puro contra-ataque, quando o relógio marcava 84 minutos, «Juvenal corre com a bola pelo seu flanco, Vanderborght  tenta travá-lo, o jogador português prefere experimentar o centro, que Ihe sai em jeito de remate. Vanderborght, sempre atento, mete a cabeça a tentar o corte, mas a intervenção resulta infeliz, levando o esférico a ganhar altura e a escapar-se a De Bree que, entretanto, abandonava a baliza para tentar a intercepção, para ir, finalmente, alojar-se bem no fundo das balizas belgas». Estava feito o golo da vitória dos portugueses. Um auto-golo que premiou a equipa mais coesa e mais feliz, conforme titulava A Bola. Os belgas ainda tentaram evitar o escândalo, e estiveram muito perto quando Bjerre atirou de novo à barra. O resultado não se alterou e a CUF ganhou o seu primeiro jogo internacional fora de portas, o qual lhe haveria de abrir... a porta da eliminatória seguinte desta edição da Taça UEFA. Em jeito de balanço, Cruz dos Santos escrevia que  o «Racing, pelo que jogou e pelo que deixou adivinhar que habitualmente joga, não só não foi hoje como não é nunca, pelo menos no momento presente, mais equipa do que a CUF». Muitos elogios para os jogadores portugueses, especialmente para Conhé, «a grande sensação do jogo», e um tal de Manuel Fernandes, jovem avançado de 20 anos que fazia a sua estreia em jogos europeus. Manuel Fernandes, esse mesmo, que viria a ser lenda no Sporting e na seleção nacional. Sobre ele, Cruz dos Santos escreveu o seguinte: «Vinte anos e velocidade estonteante. Com esta juventude e com esta rapidez estava talhado para ser o homem que rompesse de surpresa pelo campo dos belgas. E fê-lo de maneira entusiástica. Em vaivéns arrasastes. Criou perigo sempre, mas quase nunca se lembrou de tentar o remate».

Manchete d' A Bola que exalta o feito da CUF

Cufistas pedem autógrafos a um desportista de dimensão mundial

Após o encontro Fernando Caiado era naturalmente um homem feliz. À reportagem d' A Bola diria que «estou encantado com a forma como os meus jogadores se bateram e jogaram. Foram muito inteligentes e portaram-se como veteranos em provas europeias. Embora fosse o adversário a marcar o nosso tento, nós, também, tivemos oportunidades. — Quanto ao futuro?  Agora, parece mais fácil, ainda que, no Barreiro seja tão difícil como antes de a eliminatória começar». Também Conhé estava radiante com a vitória e com a sua exibição. «Estou muito contente comigo e com os meus companheiros. Com humildade, mostrámos que a nossa equipa se pode bater com eles, de igual para igual. Não somos inferiores. Para a segunda mão vamos ter dificuldades, mas acredito na passagem à eliminatória seguinte. (Sobre o) "penalty"? Bem, não é o primeiro que defendo! Já tenho, até, defendido vários, mas este é especial, porque tem sabor a vitória».

Do outro lado havia naturalmente tristeza. O treinador Félix Week não se conformava: «Quinze cantos, três bolas na trave... e somos nós a marcar o golo do nosso adversário!», dando assim a entender que a sua equipa fez de tudo para ganhar o encontro. Quanto ao encontro da segunda mão: «Vamos trabalhar para podermos apresentar em Portugal um futebol do mesmo nível . E parabéns aos portugueses». Desportivismo acima de tudo. Inconformado mas esperançado com vista a uma reviravolta da eliminatória no Lavradio estava o guarda-redes Nico de Bree. «Não há dúvida que o encontro foi bastante agradável para os espectadores, embora eu considere que tivesse sido um jogo em que a sorte ditou leis . E a sorte foi para os portugueses. (...) Não me considero culpado no golo que sofri. O tento resultou de uma mistura de azar nosso e mérito dos portugueses. Mas enquanto há vida, há esperança, e esperemos agora que o nosso contra-ataque resulte em Portugal».

Este Racing White tinha como sócio de mérito um dos grandes nomes do ciclismo mundial daquele... e todos os tempos. Eddy Merckx. Esteve no estádio onde assistiu ao jogo, e antes do pontapé de saída esteve no balneário dos portugueses a dar autógrafos! Os dirigentes da CUF de pronto lhe fizeram o convite para assistir ao jogo da 2.ª mão em Portugal, todavia tal não seria possível já que o grande campeão belga tinha dois compromissos desportivos por alturas do confronto do Lavradio.

Para a eternidade aqui fica a ficha da primeira vitória internacional da CUF do Barreiro fora do seu estádio e que lhe haveria de abrir as portas da 2.ª eliminatória, já que no Lavradio se seguiu uma nova vitória sobre os belgas, desta feita por 2-0, com dois golos de Eduardo. A aventura europeia dos cufistas iria terminar às mãos dos alemães do Kaiserslautern na ronda seguinte.

Arbitro: David Smith (Grã-Bretanha), auxiliado por George Hartley e por George Byng.

Racing White: De Bree; Vercammen, Tuyaersts, Desanghere Vanderborght; Crombez, Bjerre e Depireux (Bergholtz, 60); Koens, Tengels e Veenstza.

CUF: Conhé; José António, Rodrigues, Castro e Esteves; Arnaldo, Fernando e Vítor Gomes, Manuel Fernandes, Monteiro (Capitão Mor, 75) e Juvenal.

ENTREVISTA COM JOÃO CASTRO

«...TÍNHAMOS UMA EQUIPA DE JOGADORES VALIOSOS E MUITO RAÇUDOS. NÃO TÍNHAMOS MEDO!»

Ele foi um dos homens que nesse dia em Bruxelas ajudou a fechar a porta da baliza de Conhé. Com ele trocámos breves palavras no sentido de recordar um pouco este jogo histórico da CUF. Ele foi titular em três dos quatro jogos europeus que os cufistas realizaram nesta época, assumindo-se como um dos jogadores mais experientes do plantel às ordens de Fernando Caiado. Estamos a falar de João Castro, mais um "produto" do Barreiro que brilhou quer com a camisola da CUF, quer (mais tarde) com a do Barreirense.

Museu Virtual do Futebol (MVF): Jogar uma eliminatória da UEFA é sempre um aliciante para qualquer clube ou jogador. Como é que o balneário da CUF viveu o início da aventura europeia de 72/73?

João Castro (JC): Lógico que se viveu com uma certa expectativa o jogo, mas devo dizer que também tínhamos uma excelente equipa e fomos para a Bélgica à vontade!

MVF: Hoje em dia com a tecnologia cada vez mais avançada é fácil conhecer ao pormenor cada adversário. Mas antigamente não era assim. Vocês sabiam alguma coisa do Racing White?

JC: Não, desconhecíamos por completo o valor do adversário! Mas nós fomos para lá todos contentes para esta nova aventura a nível internacional da CUF.

MVF: A experiência de Fernando Caiado, que enquanto treinador adjunto, viveu muitos jogos internacionais foi importante para aquilo que viria a ser o desfecho quer deste jogo quer da eliminatória?

JC: Sem dúvida que a experiência do Sr. Caiado teve muita importância neste jogo, porque como disse ele era muito conhecedor do futebol a nível internacional e isso ajudou muito.

MVF: E quando lá chegados, como é que sentiram que os belgas olharam para vocês? As crónicas desse jogo dizem que eles vos olharam de sobranceira, que achavam que vencer a CUF seria tarefa fácil. Isto é verdade?

JC: Não me lembro muito bem, mas acredito que se calhar eles olharam-nos com uma certa sobranceria, com a ideia de que o jogo já estava ganho. Mas o que é certo é que não se passou nada daquilo que eles pensavam, de que nós seriamos uma equipa fácil. Não foi nada disso o que se passou em campo.

MVF: Conta-se que em certos momentos os belgas usaram e abusaram a dureza em algumas jogadas e também pelo facto de não estarem a conseguir ultrapassar a muralha cufista, é verdade?

JC: Não acho que isso tenha sido verdade, pois até nesse aspeto eles nunca levaram vantagem porque nós tínhamos uma equipa também de jogadores valiosos e muito raçudos. Não tínhamos medo!

MVF: Em que momento do jogo é que vocês sentiram que iriam sair dali com a vitória, ou que podiam ganhar ao Racing White

JC: Quando fizemos o golo! Isto numa numa altura em que  eles já não entravam na nossa área. Embora, no final eu lembro-me que eles nos obrigaram a ter muito trabalho! Mas ganhámos.

MVF: Para terminar. Conta-se que antes do jogo do famoso ciclista Eddy Merckx esteve no balneário da CUF a distribuir autógrafos...

JC: Sim, é verdade, no final do jogo ele esteve nossa cabine a dar-nos os parabéns e nós aproveitámos para lhe pedir autógrafos.

quinta-feira, novembro 09, 2023

Efemérides do Futebol (49)...


A primeira "dupla" de irmãos a jogar um Mundial

Separados por uma diferença de apenas dois anos os irmãos Manuel e Felipe Rosas Sánchez entraram em 1930 para a história do futebol planetário. Tudo porque ambos integraram a seleção mexicana que participou no primeiro Mundial da história, no Uruguai. Manuel, o mais velho (nasceu em 1908), atuava como defesa, ao passo que Felipe (nascido dois anos mais tarde) posicionava-se no terreno como médio. A seleção do México saiu de Montevideu sem qualquer ponto, fruto de três derrotas na fase de grupos, mas a história destes dois irmãos vai mais longe, já que Manuel mostrou-se um defesa goleador, já que dos quatro golos da seleção tricolor nesse Campeonato do Mundo dois foram da sua autoria. Os golos que apontou diante da Argentina fizeram com que durante mais de 20 anos detivesse o recorde de jogador mais novo a marcar num jogo de uma fase final da prova mais importante da FIFA, recorde superado em 1958 por um jovem de 17 anos chamado Pelé.


sexta-feira, novembro 03, 2023

Figuras do apito (6)... Francisco Guerra: O primeiro luso a apitar um jogo das competições europeias

Nem sempre apreciada e elogiada (sobretudo internamente) a arbitragem portuguesa agrega a si inúmeros capítulos marcantes. Presenças em campeonatos do Mundo ou da Europa, aparições em dezenas de jogos importantes a nível de competições europeias, etc., marcam a história da arbitragem em Portugal. Vem isto a propósito da efeméride de hoje, a qual alude ao primeiro árbitro luso a apitar um jogo internacional de clubes no âmbito das provas da UEFA. Francisco Guerra, o seu nome. Nascido a 4 de setembro de 1917 este juiz filiado na Associação de Futebol do Porto fez história na temporada de 1958/59, ao ser nomeado para apitar a primeira mão do encontro entre os suíços do Young Boys e os alemães do Karl-Marx Stadt a contar para os quartos-de-final da prova rainha da UEFA, a então denominada Taça dos Clubes Campeões Europeus, e que terminou empatado a duas bolas. Foi auxiliado pelos também portugueses Clemente Henriques e Abel da Costa, tornando-se esta na primeira equipa de arbitragem 100 por cento lusa a apitar um jogo oficial das então jovens competições europeias. Francisco Guerra foi um dos maiores nomes da arbitragem nacional dos anos 50 e 60, tendo no seu currículo duas presenças na final da Taça de Portugal, mais concretamente na final de 1957 (Benfica - Sporting da Covilhã) e de 1965 (Vitória de Setúbal - Benfica). Faleceu em novembro de 1986.


sexta-feira, outubro 20, 2023

Efemérides do Futebol (48)...

Um ângulo de Vidal Pinheiro ainda pelado

O último golo da 1.ª Divisão Nacional marcado num pelado

A presente época desportiva tem a particularidade de assinalar o 40.º aniversário da última vez que se jogou futebol num campo pelado – ou de terra batida – no escalão maior de Portugal. Este facto leva-nos mais longe ao recordar o último golo marcado num retângulo pelado no escalão maior do futebol nacional. Estávamos na temporada de 83/84 e o Campo Eng. Vidal Pinheiro, casa do popular Salgueiros, era a exceção à regra no panorama da 1.ª Divisão Nacional, isto é, era o único campo pelado dos 16 clubes que competiram nessa temporada naquele escalão. Cerca de dois anos antes a Federação Portuguesa de Futebol havia estipulado que na temporada de 84/85 todos os clubes que disputassem a 1.ª Divisão Nacional teriam de ter os seus campos relvados, caso coso contrário teriam de jogar em casa emprestada sempre que atuassem na condição de visitados. O anúncio era feito com duas épocas de antecedência, de modo a que os clubes com aspirações a pisar os palcos de primeira pudessem planear o arrelvamento dos seus campos. O Salgueiros foi pois o último clube da 1.ª Divisão a competir num pelado e fê-lo até à última, ou seja, até à derradeira jornada do Nacional de 83/84. Jornada decisiva para muitas equipas que lutavam pela permanência entre a elite do futebol luso, entre estas o próprio Salgueiros, que precisava de ganhar obrigatoriamente ao vizinho Boavista para garantir a manutenção. Octávio Machado havia iniciado a temporada ao comando dos encarnados do Norte, fazendo deste modo a sua estreia no papel de treinador principal, depois de uma época antes ter pendurado as chuteiras. O Palmelão, como é conhecido Octávio, não se aguenta até ao fim da linha, é substituído por António Jesus que dali a nada dá o lugar ao guarda-redes António Fidalgo. O antigo guardião de Benfica e Sporting é a opção de risco dos responsáveis salgueiristas para salvar a equipa da descida. De risco porque Fidalgo assumiu o cargo na condição de jogador-treinador, isto é, ele defendia pela primeira vez as redes do emblema de Vidal Pinheiro, onde só permaneceu uma época, e não possuía experiência enquanto treinador. Aliás, após esta curta e vitoriosa, como veremos adiante, experiência, Fidalgo ainda jogou durante mais duas temporadas, abraçando a profissão de treinador em exclusivo só a partir de 87/88. Desde fevereiro de 1984 no comando da equipa Fidalgo chega à derradeira jornada do Nacional da 1.ª Divisão, disputada a 13 de maio, a depender não só de si como de uma série de outras equipas para se salvar. Era preciso um milagre, mas estávamos a 13 de maio… e tudo era possível. 


O Salgueiros de 83/84

Como era seu apanágio sempre que o Salgueiros lá atuava o Campo Eng. Vidal Pinheiro estava à pinha. Repleto. O Boavista surgia em campo tranquilo, sem nada a ganhar ou a perder, já que o comboio da Europa tinha sido perdido poucas jornadas antes. Henrique Calisto era o treinador dos axadrezados que tinham em João Alves, o luvas pretas, a sua maior estrela. No banco boavisteiro estava ainda um tal de Zoran Filipovic, avançado da então Jugoslávia, e que anos mais tarde como treinador haveria de fazer furor curiosamente ali mesmo, em Vidal Pinheiro. Mas voltemos à decisiva e emotiva tarde de 13 de maio. Os adeptos salgueiristas estavam de olhos no pelado de Vidal Pinheiro e de ouvidos nas Antas, em Alvalade, em Guimarães e em Vila do Conde, locais onde jogavam adversários diretos do seu clube na fuga quer à despromoção direta quer à liguilha/play-off pela manutenção. Foi uma tarde de sofrimento mas que começou praticamente de forma eufórica com o tão desejado golo do Salgueiros. Penteado foi o seu autor. Estavam decorridos 16 minutos quando Nelito cruza para a área pelo flanco esquerdo do seu ataque onde aparece Penteado que de cabeça faz um chapéu ao jugoslavo Petar Borota. O Salgueiros aguentou até final estoicamente a magra vantagem, numa jogo que as crónicas rotularam de fraco e em diversos momentos confuso. O Salgueiros de Fidalgo deixou de lado a nota artística optando por vestir o fato macaco para jogar feio quando teve de o fazer em defesa da vitória que viria a alcançar. Após o apito final de Rosa Santos a festa tomou conta de Vidal Pinheiro, não só porque o Salgueiros tinha vencido mas por nas Antas o Estoril tinha perdido por 8-0, em Alvalade o Farense havia sido derrotado por 4-0, em Guimarães o Penafiel perdeu por 1-0, e em Vila do Conde o Águeda foi derrotado por 5-1. Conclusão, o Salgueiral tinha ganho em todos os campos e estava safo. Ia continuar na 1.ª Divisão Nacional.

 

Fidalgo, o jogador/treinador que salvou o Salgueiros
da descida é levado em ombros no final do jogo

Quanto a Penteado a história reserva-lhe assim um lugar de destaque, já que o seu golo foi o último a ser marcado num campo pelado num encontro da 1.ª Divisão. Manuel Penteado que havia precisamente chegado a Vidal Pinheiro em 83/84, vindo do FC Porto, em rota de colisão dom José Maria Pedroto, que lhe tinha prometido mais oportunidades no ataque portista e não cumpriu. Octávio em boa hora o convenceu a abandonar as Antas e a rumar a Vidal Pinheiro.   
Penteado, autor do último golo num jogo da
1.ª Divisão disputado num pelado

Para a história aqui fica a ficha do último jogo da 1.ª Divisão Nacional disputado num pelado: Campo Eng. Vidal Pinheiro, no Porto. Árbitro: Rosa Santos, de Beja, auxiliado por Francisco Lobo e Marcolino Baptista. Salgueiros: Pinto, Carlos Ribeiro, Soares I, Germano, Jorginho, Luís Pereira (Matias, 83), Silva, Carvalho, Joy, Penteado (Armando, 78) e Nelito. Treinador: António Fidalgo. Suplentes não utilizados: Soares II, João, e António Manuel. Boavista: Borota, Queiró, Adão (Figueiredo, 27), Frederico, Teixeira, Barbosa, Almeidinha, João Alves, Palhares, Coelho e Vitorino. Treinador: Henrique Calisto. Suplentes não utlizados: Matos, José Manuel, Bravo e Zoran Filipovic.

Vídeo do último golo marcado num campo pelado na 1.ª Divisão Nacional



sexta-feira, setembro 22, 2023

Flashes Biográficos (16)... Adelino Ribeiro Novo

Adelino Ribeiro Novo (Portugal): A história do futebol não é contada apenas com belos golos, jogos inesquecíveis, ou jogadores brilhantes. Infelizmente, ela também está machada com tragédias. E quando falamos em tragédias referimo-nos a mortes, ao sucumbir dos “soldados no campo de batalha”, isto é, a morte em campo. A primeira morte de um futebolista no exercício da sua atividade de que há memória remonta a 22 de agosto 1874 e aconteceu na Escócia, altura em que Robert Atherley, jovem jogador de apenas 19 anos, que defendia as cores do Star of Leven, morreu na sequência de um pontapé no estomago no decorrer de um jogo. Em Portugal a primeira tragédia de que há memória aconteceu nos anos 40 do século passado, mais concretamente no dia 16 de setembro de 1945, quando em Barcelos outro jovem e talentoso futebolista faleceu na sequência de um choque com um adversário. Adelino Ribeiro Novo, o seu nome, um nome hoje em dia indissociável do quase centenário Gil Vicente Futebol Clube e da bonita cidade que lhe serve de berço: Barcelos. Contava apenas com 24 anos quando a tragédia lhe bateu à porta, morreu na flor da idade, e morreu numa altura em que o seu nome fazia furor nos campos de futebol. Atuava como guarda-redes, defendendo com garra e eficiência o clube da terra onde nasceu em 1921. Como qualquer bom guardião, Adelino Ribeiro Novo, o Ribeirinho, como carinhosamente era tratado pelos adeptos do Gil Vicente, era destemido a sair dos postes: ágil, seguro e sem medo. Havia quem o visse como o melhor guarda-redes minhoto daquele tempo, não sendo de admirar que lhe chegassem convites para representar clubes de maior nomeada que o então modesto Gil Vicente. Porém, o seu amor ao Gil – o único emblema cujas cores defendeu na sua curta carreira - e à sua terra falaram sempre mais alto, e Adelino Ribeiro Novo foi ficando por ali, dividindo a sua paixão pelo futebol com a necessidade de ganhar a vida enquanto empregado de balcão numa loja comercial em Barcelos. No jornal Correio do Minho, de 19 de setembro de 2011, Joaquim da Silva Gomes dedica uma crónica a este jogador e à tragédia que lhe bateu à porta, citando outro jornal minhoto, no caso o Barcelense, cuja edição de 29 de setembro de 1945 aludia a Ribeirinho como «dotado de esplendidas qualidades para o difícil lugar, aliadas com uma modéstia impressionante, características que faziam com que tivesse em cada adversário um amigo (…) O seu rosto expressava claramente as alegrias da vitória ou as tristezas da derrota, embora o seu temperamento acanhado o obrigasse, muitas vezes, a fugir das manifestações de simpatia que sempre o envolviam».  Adelino Ribeiro Novo, que era o mais novo de três irmãos, que tal como ele estiveram ligados ao futebol e ao Gil Vicente em particular, conheceu a morte num domingo de bola. Estávamos a 16 de setembro de 1945 e nessa tarde o Gil Vicente recebia o Desportivo das Aves num encontro relativo à 3.ª Divisão Nacional, no Campo da Granja, o então recinto dos gilistas. Estavam apenas decorridos 10 minutos de jogo quando Adelino Ribeiro Novo saiu destemido da sua baliza aos pés de um avançado contrário. Não se conseguiu evitar o violento choque entre ambos e Ribeirinho teve de receber prontamente assistência. O guarda-redes gilista tinha sido atingindo com um pontapé nos rins pelo avense Armando Moreira de Sá. Adelino Ribeiro Novo foi de pronto transportado para o Hospital de Barcelos onde os médicos de tudo fizeram para o salvar, mas as lesões que ali o levaram eram graves, provocando uma hemorragia interna, que levariam à sua morte poucas horas após o choque dentro do campo. O carinho e admiração que o povo de Barcelos tinha por Ribeirinho ficaram bem patentes no estado de alma daquela povoação minhota, que acorreu em massa ao funeral do seu jovem ídolo. Segundo o cronista Joaquim da Silva Gomes «as cerimónias fúnebres realizaram-se no dia 17 de setembro de 1945, e constituíram uma das maiores manifestações de apreço que os barcelenses até então tinham demonstrado a um barcelense». Barcelos nunca esqueceu este seu filho querido, nem tão pouco o Gil Vicente, que em 1987 rebatizou o seu recinto desportivo para Estádio Adelino Ribeiro Novo. Hoje, apesar de já não jogar ali, visto que atua no moderno Estádio Cidade de Barcelos desde 2004, o Gil Vicente ainda utiliza o velhinho Estádio Adelino Ribeiro Novo como casa dos seus escalões de formação.

sexta-feira, setembro 15, 2023

Histórias do Futebol em Portugal (42)... Há 75 anos o então "bebé" Cova da Piedade inaugurou a lista de campeões da saudosa 3.ª Divisão Nacional

Vencedora do Distrital de Setúbal e da 1.ª edição do Campeonato Nacional
da 3.ª Divisão, eis a equipa do Cova da Piedade em 47/48

Quando falamos na hoje extinta 3.ª Divisão Nacional as memórias são muitas para quem começou - como o autor destas linhas -  a ver futebol ao vivo nos idos anos 80 do século passado. Não era um qualquer futebol, era sim um futebol puro, humilde, e acima de tudo jogado com paixão pelos clubes da nossa terra, fosse ela aldeia, vila, ou cidade. A 3.ª Divisão era isso mesmo, um campeonato de proximidade, disputado naqueles idos anos 80 em catedrais modestas, com pisos de terra batida, com bancadas (quando existiam... porque muitas vezes viam-se os jogos de pé!) desprovidas de conforto. Mas tudo aquilo era mágico! O encanto pela 3.ª Divisão foi perdendo fulgor na medida em que a Divisão de Honra, hoje Liga 2, foi crescendo, a par de que a 2.ª Divisão B passou a ser o terceiro escalão do futebol em Portugal. Esta reconfiguração dos escalões futebolísticos fez que no novo milénio a 3.ª Divisão fosse uma espécie de campeonato distrital disputado por clubes de dimensão local, e como tal a prova tornou-se demasiado dispendiosa - sobretudo em termos de viagens - para estes pequenos emblemas. O interesse e a competitividade foram-se perdendo e em 2013 a 3.ª Divisão Nacional foi extinta pela Federação Portuguesa de Futebol.

Mas restam as memórias, e são muitas, deste escalão que teve a sua primeira edição há precisamente 75 anos! Pois é, assinala-se em 2023 o 75.º aniversário da 1.ª edição do Campeonato Nacional da 3.ª Divisão e que teve como vencedor o Cova da Piedade.

O clube de Almada era ainda um "bebé" que dava os seus primeiros passos no desporto nacional, já que havia sido fundado cerca de um ano antes desta fase final do então terceiro escalão nacional. Competição que na sua temporada de estreia (47/48) reuniu os campeões das várias associações de futebol do norte a sul do país, sendo que o "jovem" Clube Desportivo da Cova da Piedade o fez na condição de campeão da Associação de Futebol de Setúbal. 

Título do jornal A Bola de 26 de abril de 1948

O trajeto dos homens da margem sul começou com a eliminação do Arroios na 1.ª eliminatória - nota: nas suas primeiras três edições a 3.ª Divisão foi disputada em sistema de eliminatórias e só a partir de 50/51 foi dividida em séries e disputada em sistema de poules -, seguindo-se os afastamentos do Torreense - nos quartos-de-final - e do Farense - nas meias-finais. A grande final seria disputada no dia 25 de abril de 1948, no Campo do Bairro Camões, no Entroncamento, e como adversários os almadenses encontraram o Académico de Viseu. A Bola do dia seguinte contou numa pequena coluna as incidências de um jogo arbitrado por Paulo de Oliveira, de Santarém, uma partida cujo resultado «não se ajusta ao jogo desenvolvido por ambas as equipas, que nos parecem de valor, sensivelmente igual embora de características diferentes», escrevia o jornal da Travessa da Queimada. 

De acordo com o jornalista que assistiu ao encontro o Cova da Piedade foi, contudo, mais prático, «com passes longos e visando a baliza de qualquer posição», aos passo que os visienses «praticaram um futebol de passe curto, vistoso, mas de pouca eficácia». Quanto ao marcador ele seria aberto pelos almadenses, logo aos 6 minutos, por intermédio de Arnaldo Carneiro. A festa dos piedenses durou pouco, já que à passagem do quarto de hora Póvoas fez o empate com que se chegou ao intervalo. No reatamento foi o Académico que entrou melhor e «teve 15 minutos de jogo brilhante», mantendo-se no comando dos acontecimentos até final dos 90 minutos. Seria, no entanto, contra a corrente que ainda dentro do tempo regulamentar o Cova da Piedade voltaria à liderança do marcador, quando José da Silva, aos 68 minutos, bateu o guardião beirão, Gomes de sua graça. A justiça, pelo facto de ser o Académico de Viseu que melhor performance teve no segundo tempo, chegou quase ao cair do pano, altura em que Zeca fez o 2-2 e obrigou que as equipas jogassem mais 30 minutos de jogo.

E no prolongamento o Cova da Piedade foi demolidor, pese embora o esforço físico que os seus jogadores - e os do Académico também - fizeram para marcar três golos - da autoria de José da Silva, Martins e Osvaldo - na segunda parte do período extra que lhe conferiu a vitória por 5-2 e mais do que isso tornaram os almadenses nos primeiros campeões nacionais da 3.ª Divisão. Para a eternidade ficam os nomes dos primeiros campeões da saudosa 3.ª Divisão Nacional: Gonçalves, Martins, Gomes, Adão, Jacinto, Quim, Osvaldo, José da Silva, Arnaldo Carneiro, Estrela e Gralha.

quinta-feira, setembro 07, 2023

Histórias do Planeta da Bola (29)... Irene González: A pioneira do profissionalismo no futebol feminino


A polémica e o "ruído" que têm rodeado o beijo do presidente da Real Federação Espanhola de Futebol, Luis Rubiales, à jogadora Jenni Hermoso têm tirado o foco à maior conquista da história do futebol feminino castelhano: o Mundial. Facto ocorrido no hemisfério sul do planeta, mais concretamente na Austrália e Nova Zelândia, no verão de 2023, e que foi o culminar do grande trabalho que a Espanha vem fazendo ao nível da dinamização e desenvolvimento do futebol feminino. A materialização da ascensão espanhola no Desporto Rei praticado por senhoras pode ser explicado por diversos títulos internacionais (só) ao longo dos últimos cinco anos, quer a nível de seleções, quer a nível de clubes. Vejamos, Espanha venceu um Europeu de sub-17, três Europeus de sub-19, dois Mundiais de sub-17, um Mundial de sub-20, e viu ainda o FC Barcelona vencer por duas ocasiões a maior prova de clubes do Mundo, a Liga dos Campeões Europeus. Factos que atestam o crescimento que a nação ibérica tem tido ao longo do passado recente e que fazem dela já uma das maiores potências planetárias.

A paixão e - sobretudo - aptidão das espanholas pelo futebol não é, contudo, algo que surgiu nos tempos modernos, longe disso. No início do século XX a mulher castelhana já demonstrava encanto pela prática do futebol. Já aqui evocámos a história de Nita Carmona, uma malaguenha que nos anos 20 foi "obrigada" a passar-se por homem para contornar o preconceito então existente de ver uma mulher num campo de futebol. E se Nita teve de esconder a sua identidade de uma sociedade machista e retrógrada que então vigorava para dar azo à sua paixão pelo Belo Jogo, outra conterrânea sua foi ainda mais longe, e sem esconder quem era provou que a mulher tem tanto direito - como talento - quanto o homem para correr atrás de uma bola.

Essa mulher chama-se Irene González, uma galega que muitos apontam como a pioneira do futebol feminino em Espanha. Ela foi a primeira mulher a jogar ao lado de homens e contra homens aos olhos de todos! E mais, foi a primeira mulher a ter a sua própria equipa a competir num campo de futebol em Espanha. Tudo isto aconteceu também nos anos 20 do século passado, na Galiza, mais concretamente, a região de onde Irene González Basante nasceu a 26 de março de 1909. A Corunha foi o berço desta mulher que estava adiantada no tempo. Oriunda de família humilde, a sua mãe era doméstica e o seu pai um guarda do porto daquela cidade galega, Irene cedo deu a conhecer o sonho de ser futebolista, apesar de ter pela frente o obstáculo que era o seu progenitor, que a arrastava furiosamente sempre que a jovem corria atrás de uma bola no meio da rapaziada no campo de A Estrada. Irene foi persistente e aos 15 anos já atuava nos escalões de formação do Racing-Athletic, partilhando o terreno de jogo com homens que haveriam de seguir carreiras em clubes como Atlético de Madrid, Real Madrid, ou o Deportivo da Corunha. Irene começou a sua carreira como avançada, mas a sua paixão era a baliza, já que tinha como ídolo o lendário Ricardo Zamora, e rapidamente passa a competir com Rodrigo García Vizoso que anos mais tarde viria a defender as balizas do Deportivo e do Real Madrid. Nessa equipa atuava ainda Eduardo González Valiño, mais conhecido por Chacho no Planeta da Bola, e que é lendário por ainda hoje deter o recorde de golos ao serviço da seleção espanhola num só jogo: fez seis remates certeiros à baliza da Bulgária em 1933. Para Irene o futebol não era uma mera brincadeira e a prova é que em 1924 decide fundar o seu próprio clube: o Irene Fútbol Club. Por esta altura era já uma atração nos campos galegos, e indiferente aos comentários machistas da época funda, dirige, treina e joga - na condição de capitã de equipa e marcadora oficial de grandes penalidades sempre que necessário - no seu próprio clube, que aliás é inscrito na Real Federação Espanhola de Futebol. O Irene FC era uma atração em toda a Galiza, enchendo todos os recintos onde atuava, sendo convidado inclusive para festas um pouco por toda a região. Irene González aproveita esta fama para começar a cobrar dinheiro por estas aparições, ou por estes jogos amigáveis, fazendo com que seja hoje olhada como a primeira mulher futebolista profissional não só de Espanha como do resto do Mundo! Irene de pronto se tornou num mito, um mito que desapareceu da vida terrestre demasiado cedo, em 1928, com apenas 19 anos de idade, vítima de tuberculose.

quarta-feira, setembro 06, 2023

Efemérides do Futebol (47)...

Passaram 110 anos da inauguração do Campo da Constituição assinalada com uma atribulada festa encarnada

A equipa do Benfica em 1913, com Cosme Damião (o jogador do meio na fila do meio)
como uma das principais referências do clube lisboeta

Cumpre-se neste ano de 2023 o 110.º aniversário daquele que foi quiçá o primeiro grande torneio de nível internacional realizado na cidade do Porto: o Torneio das 3 Cidades. A competição realizou-se entre 26 de janeiro e 2 de fevereiro de 1913 e teve como argumento a inauguração do Campo da Constituição, recinto erguido pelo FC Porto, um dos quatro clubes envolvidos na prova. Para além dos portistas o certame contou com outro clube da Cidade Invicta, no caso o Oporto Cricket Law Tennis Club, aos quais se juntariam o Benfica e o Real Vigo Sporting Club, este último oriundo da região da Galiza (Espanha). No novíssimo Campo da Constituição estavam assim reunidas quatro coletividades que iriam defender o bom nome de três cidades: Porto, Lisboa e Vigo.

Um breve aparte para dizer que o Campo da Constituição se assumiu como uma necessidade para o FC Porto após a morte do seu (re)fundador José Monteiro da Costa, em janeiro de 1911. Após a morte deste histórico dirigente azul-e-branco os proprietário dos terrenos onde estava então instalada a "casa" dos portistas, o Campo da Rainha, avisaram - em finais desse ano de 1911 - que o clube teria de abandonar o espaço por força da construção de uma fábrica. Foi então que o tenente Júlio Lencastre, que sucedeu a Monteiro da Costa na presidência do clube, põe pés a caminho em busca de um novo terreno para albergar uma nova casa. Até que em junho de 1912 encontra esse terreno. Ficava na Rua da Constituição. Acertadas as formalidades - como o valor de 350 escudos anuais pelo pagamento de renda - as obras começariam pouco tempo depois, em setembro desse ano e em janeiro de 1913 dá-se a inauguração com o referido Torneio das 3 Cidades, por força de uma ideia do à época presidente da direção azul-e-branca, ​​​​Joaquim Pereira da Silva​.

Mas voltemos ao torneio. Este quadrangular realizou-se num sistema de todos contra todos, vencendo a equipa que somasse mais pontos no final da competição. E o vencedor foi o Benfica, que contabilizou por triunfos todos os três encontros disputados. Cosme Damião era um dos nomes sonantes do emblema da capital, desempenhado as funções de jogador-treinador.

Apesar de não ter saído vencedor do "seu" torneio o FC Porto ficou com a consolação de ter visto um jogador seu apontar o primeiro golo naquele novo recinto desportivo. Tal feito pertenceu a Webber, um dos muitos ingleses que então faziam parte do plantel azul-e-branco, a par de, por exemplo, o guarda-redes Peter Janson, ou o médio Charles Allwood, dois atletas que, curiosamente haviam chegado aos dragões provenientes dos vizinhos do OportoCricket Law Tennis Club. Este emblema, sediado na zona do Campo Alegre, era integrado por cidadãos/atletas ingleses, sendo que por esta altura era um dos principais fornecedores de jogadores ao vizinho FC Porto. E curiosamente foram os ingleses do Oporto Cricket Law Tennis Club o adversário dos portistas no jogo inaugural do Torneio das 3 Cidades, partida esta que terminou com a vitória azul e branca por 1-0, com o tal golo de Webber.

Oporto CricketLaw Tennis Club que foi de longe a equipa mais frágil deste torneio, facto comprado pelas três derrotas em outros tantos encontros realizados e ainda por ter sofrido a derrota mais avolumada da contenda: 8-2 perante o Benfica. Porém, neste duelo os portuenses apresentaram-se em campo com apenas... 10 jogadores (!), pois não possuíam mais atletas!

No terceiro jogo do torneio o FC Porto venceu o então campeão da Galiza, o Real Vigo Sporting Club, por claros 4-0, o que fazia antever que a derradeira partida com o Benfica fosse decisiva quanto ao desfecho do torneio. Assim pensavam os portistas. Uma vitória bastaria para garantir o primeiro lugar, mas da capital haviam viajado onze jogadores forte e talentosos e nem o inspirado guaridão portista, Janson, impediu a vitória dos lisboetas por 3-1.

Perante isto o derradeiro encontro do torneio entre Benfica e Real Vigo Sporting Club - que havia derrotado ante o Oporto Cricket Law Tennis Club, por score desconhecido - assumia contornos de final. E como jogo decisivo que era teve muitos nervos à flor da pele, com agressões entre atletas de ambos os conjuntos. E como se não bastasse o desaguisado entre atletas até o público resolveu participar nas cenas de pugilato, obrigando o árbitro a dar o encontro por concluído três minutos mais cedo do que o previsto. O Benfica vencia por 1-0 quando o juiz interrompeu o jogo, tendo por isso sido atribuído aos encarnados de Lisboa o título de vencedor do Torneio das 3 Cidades.

Equipa do FC Porto em 1913

terça-feira, setembro 05, 2023

Lista de Campeões... Macedónia do Norte

 

Campeões Nacionais

2023: Struga

2022: Shkupi

2021: Shkendija

2020: Vardar

2019: Shkendija

2018: Shkendija

2017: Vardar

2016: Vardar

2015: Vardar

2014: Rabotnichki

2013: Vardar

2012: Vardar

2011: Shkendija

2010: Renova

2009: Makedonija

2008: Rabotnichki

2007: Pobeda

2006: Rabotnichki

2005: Rabotnichki

2004: Pobeda

2003: Vardar
2002: Vardar

2001: Sloga

2000: Sloga

1999: Sloga

1998: Sileks

1997: Sileks

1996: Sileks

1995: Vardar

1994: Vardar

1993: Vardar