Nita Carmona |
Tal
como em tantos outros setores da sociedade global o futebol ainda é visto no
presente como um Mundo exclusivamente masculina! Por incrível que aparece assim
é.
Esta
constatação vem a propósito do Dia Mundial da Mulher, que hoje se comemora em
todo o planeta. E leva-nos numa viagem ao passado de quase um século de
distância para recordar a história de uma mulher que teve a coragem de entrar
num Mundo que lhe era proibido para dar azo à sua paixão: jogar futebol.
Nita
Carmona, o nome da heroína que para derrubar a barreira da masculinidade no
futebol teve de... se disfarçar de homem!
Nascida
em Málaga (Espanha) a 16 de maio de 1908, Anita Carmona Ruiz desde criança, nas
calles do Bairro de Capuchinos, onde
vivia, contornou as rígidas regras sociais, digamos assim, da época para viver
a sua grande paixão: jugar la pelota.
Filha
mais nova de um estivador do Porto de Málaga, Nita apaixonou-se pelo Belo Jogo precisamente ali, onde marinheiros
ingleses praticavam o football nos
tempos livres. Desde criança que lutou contra o preconceito de ser mulher num
Mundo a quem só era permitida a entrada a homens. Luta que começava no seu
próprio lar, com os castigos impostos pelos seus pais, que ao ver a sua menina
mais nova chegar a casa com os joelhos esfolados e arranhões por todo o corpo
após longos e duros (por certo) duelos futebolísticos travados com os chicos de Málaga, decretavam de pronto a
prisão domiciliária com o intuito de
a impedir de voltar a correr atrás da sua paixão: a bola.
Nita, ao meio, disfarçada de Veleta! |
O
preconceito familiar chegou a determinada altura a ser estendido ao tio de
Nita, médico de profissão, que alegava que a força física, o suor e a
competitividade que eram características da prática do futebol estavam restritas
aos homens, e que tal esforço iria ser prejudicial ao desenvolvimento corporal
da sua sobrinha. Nesse sentido, pediu aos pais de Nita para a enviarem
temporariamente para a localidade isolada de Vélez-Málaga para a afastar da
tentação de jogar futebol.
Porém,
nem todos pactuavam com o preconceito de apoiar e acima de tudo incentivar uma
mulher a brilhar num Mundo de homens. Em 1921, chega ao Bairro de Capuchinos um
padre... liberal. O padre Miguez. Oriundo de Ourense (Galiza) também ele se
havia deixado enfeitiçar pela bola, e no âmbito da igreja fundou o Sporting de
Málaga, que acabaria por ser uma das sementes para a criação anos mais tarde do
atual Málaga Club de Fútbol.
Nita
entrou para um clube cuja missão passava acima de tudo por angariar fundos para
adquirir roupas e comida para os menino(a)s mais desfavorecidos do bairro, como
colaboradora do massagista da equipa de futebol.
Terá
sido esta a forma de o padre Miguez ajudar Nita a contornar a proibição dos
seus progenitores em dar azo à sua paixão de menina. Paixão essa que ganhava
vida nos jogos que o Sporting de Málaga realizava fora de portas, nos quais
tinha um reforço de peso: Nita Carmona. Isto acontecia porque nos jogos
caseiros corria o risco de ser reconhecida pela vizinhança!
Corpulenta,
de feições rudes, cabelo curto, a jovem durante algum tempo conseguiu esconder
em campo os seus traços femininos, usando calças cumpridas, camisas largas e
cabelo curto. Após ter sido descoberta por uma qualquer equipa adversária, Nita
foi mesmo enviada de castigo para Vélez-Málaga, para casa de familiares. Ali,
continuou a lutar pela sua paixão, tendo então feito amizade com a irmã do
capitão da equipa do Vélez, Juan Barranquero, o qual viria a convencer a
deixá-la atuar pelo combinado local sob o nome (masculino) de... Veleta, para
que não fosse descoberta nem por adversários nem pelos próprios colegas de
equipa.
E sob
este disfarce, Nita jogou vezes sem conta ao serviço do Vélez. Foi assim até
meados da década de 30, quando teve início a Guerra Civil espanhola, altura em
que Nita Carmona não conseguiu mais ludibriar a barreira do preconceito, acabando
por ser descoberta e detida pelas autoridades em várias ocasiões, sendo que a
sua condenação nunca foi mais longe sempre devido à influência (Divina) do
padre Miguez.
Nita
Carmona morreu jovem, com apenas 32 anos, mas para a História mais do que ter
sido a primeira mulher-futebolista em Espanha foi um exemplo de coragem e
paixão ousou derrubar a barreira do preconceito e do machismo numa sociedade
tão desigual (entre homens e mulheres).
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