quinta-feira, janeiro 27, 2011

Emblemas Históricos (9)... Académico Futebol Clube (Porto)

100 anos representam inevitavelmente um baú de histórias e/ou vivências na vida de qualquer pessoa ou instituição. 100 anos equivalem a um vasto e rico património ao alcance de poucos. E poucos são aqueles que sobrevivem aos ventos e tempestades que vão surgindo pelo caminho ao longo de um século de vida. Um desses heróicos sobreviventes cumpre precisamente neste ano de 2011 o seu centenário, herói que dá pelo nome de Académico Futebol Clube.
Nasceu precisamente no dia 15 de Setembro de 1911 e como berço teve a Cidade do Porto. E desde logo nobre se tornou na tarefa de enraizar e dinamizar o fenómeno desportivo na Invicta.
Na sua génese está o futebol... mesmo não sendo o futebol com o avançar do tempo uma modalidade muito feliz no seio da família academista. 1909 é o ano em que o sonho ganha forma, ano em que um grupo de estudantes do Liceu Alexandre Herculano enfeitiçado pelo fenómeno futebolístico idealiza a fundação de um clube.
Rapidamente nos tempos que se seguiram outros jovens oriundos de outros liceus e colégios particulares do Porto mostraram entusiasmo pela ideia. Até que em 1911 o sonho é por fim realidade: nascia o Académico Futebol Clube.
Uma agremiação fundada por estudantes e para estudantes, assim rezavam os seus estatutos. Talvez por ter sangue jovem a correr nas veias o Académico desde logo adoptou um espírito futurista e empreendedor que o tornariam numa das instituições mais modernas e ricas – no que toca a património – de Portugal. No entanto, e apesar da forte adesão de associados e simpatizantes desde o dia da sua fundação, o Académico andou, à semelhança de outros emblemas, com a casa às costas nos primeiros anos da sua existência. No plano desportivo, isto é, o campo de batalha onde a sua equipa de futebol entrava em acção, os academistas começaram por utilizar o Campo da Cruz, na Rua Aníbal Patrício, enquanto que a primeira sede social seria “montada” num edifício da Praça Júlio Dinis, mesmo em frente ao Hospital de Santo António.
Em 1916 este espaço foi considerado pelos dirigentes academistas como insuficiente para a numerosa família – de associados e atletas – que não parava de crescer, de modo que houve a necessidade de se arrendar uma sede maior, tendo a mudança sido feita posteriormente para a zona da Batalha e para o antigo edifício das encomendas postais. Um ano antes o palco da acção, isto é, o terreno de jogos, tinha passado a ser o Campo do Bonfim, pertença do Olímpico, clube a quem o Académico pagava uma renda mensal de 20 centavos.
Nos anos que se seguiram novas mudanças de campo e de sede social aconteceram, até que na entrada para os anos 20 dá-se um dos passos mais importantes da vida do clube, o arrendamento da Quinta do Lima, propriedade da Santa Casa da Misericórdia do Porto. Neste espaço o sonho e a visão futurista dos seus dirigentes e massa associativa unem-se num casamento perfeito com a construção do Estádio do Lima. Desta catedral, não só da bola como também de outras modalidades, já aqui traçámos umas linhas num passado não muito distante, mas não será por demais recordar que este foi o primeiro grande estádio de futebol do país. Por esta altura o Académico era já um clube multifacetado, por outras palavras, nem só de futebol rezava a sua história. Com a forte adesão de associados e entusiastas pelo desporto em geral outras modalidades foram sendo geradas no ventre academista. Estavámos perante o mais eclético dos clubes do Porto, ganhando desta forma em popularidade ao FC Porto, ao Salgueiros e ao Boavista, os outros três notáveis emblemas da Invicta.
Um crescimento que obrigou o Académico a ampliar o seu raio de acção desportivo, adquirindo para esse efeito em 1927 o imponente Palacete do Lima, situado na Rua de Costa Cabral. Em redor deste espaço foram construidos courts de ténis, quadras de basquetebol, ginásios, e até um parque de campismo, fazendo com que os academistas fossem proprietários do primeiro grande complexo desportivo do país.
O Académico era por esta altura grande e maior ficou com o arrelvamento do Estádio do Lima em 1937, o primeiro campo relvado de Portugal, convém recordar.
Contudo não era um gigante... um grande do futebol, uma modalidade que foi sempre a “pedra no sapato” desta nobre colectividade tripeira.

Azar no futebolMesmo possuindo o melhor estádio para a prática do futebol no país; relvado, envolvido com duas pistas (uma para atletismo e outra para ciclismo, modalidades onde o clube também se distinguia), bancadas; o que é certo é que o Académico do Porto nunca teve expressão no “desporto rei”. Incompreensível, se atendermos à popularidade, à dinâmica, e ao património ao nível de infraestruturas, como já vimos, que este emblema comportava.
Nunca passou sequer da sombra dos seus rivais da cidade, com especial destaque para o FC Porto que desde logo se tornou no clube mais vitorioso da Invicta. Teve participações modestas, quase insignificantes, nas diversas provas do futebol português que nos princípios da década de 30 começavam a proliferar. Participu no desaparecido Campeonato de Portugal (prova antecessora da Taça de Portugal) em quatro ocasiões entre as temporadas de 1931/32 e 1937/38, sendo que entre modestos desempenhos futebolísticos se pode considerar um privilégio o facto de o clube ter sido um dos oito participantes na 1ª edição do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, insituido em 1934. No escalão máximo do futebol português o Académico actuou em cinco ocasiões (1934/35; 1937/38; 1938/39; 1939/40; 1941/42), tendo como melhor classificação dois 7º lugares em 34/35 e 38/39.
Na Taça de Portugal marcou presença em três edições, tendo alcançado como melhor desempenho uns quartos-de-final na edição estreia da competição (38/39).
Alegrias no mundo da bola foram poucas mas dignas de figurar na gloriosa história deste clube. Para além de ter sido o obreiro da “catedral” do Lima o Académico “doou” três jogadores à selecção nacional, sendo que Manuel Fonseca e Castro entra na história como o primeiro futebolista internacional dos academistas.
Estas foram curtas passagens pintadas em tons de alegria no que diz respeito a futebol, uma modalidade que morreria no seio do Académico em 1964, ano em que a proprietária dos terrenos do Lima, a Santa Casa da Misericórdia do Porto, dá ordem de expulsão ao clube. Não só morreria o futebol academista como também o próprio Estádio do Lima, que anos mais tarde desapareceria por completo dando lugar a um triste descampado.
O futebol morreu mas o Académico sobreviveu e continuou a crescer – noutras modalidades – nas décadas que se seguiram.

Legenda das fotografias:
1- Emblema do Académico FC
2- Uma das últimas imagens (aéreas) do Estádio do Lima...
3- ...E uma imagem rara de uma equipa de futebol do Académico

terça-feira, janeiro 25, 2011

ENTREVISTA - Jorge Teixeira: «Quero voltar a jogar na Liga dos Campeões»

A REVISTA FUTEBOLISTA regressa à Suíça para conhecer de perto a “aventura futebolística” de mais um emigrante lusitano. Hoje falamos com Jorge Teixeira, defesa de 24 anos que veste a camisola do FC Zurich, emblema que o acolheu na presente temporada depois de em 2009/10 o ter visto na montra mais reluzente do futebol planetário a nível de clubes: a Liga dos Campeões. E quando olha para o futuro imediato o jovem jogador formado nas escolas do Sporting não tem dúvidas em apontar para o caminho do regresso à Champions.

REVISTA FUTEBOLISTA (RF): Cumpre a sua primeira época no FC Zurich, como têm sido estes primeiros meses ao serviço deste clube?
JORGE TEIXEIRA (JT): É verdade, estou no primeiro ano de um contrato de 4 anos que assinei com o FC Zurich e posso dizer que até agora a época tem estado a correr muito bem, quer em termos individuais quer em termos colectivos. No plano individual devo dizer que nos primeiros três jogos efectuados apontei três golos, e tirando um mês e meio em que estive lesionado tenho sido titular. A nível colectivo estamos em 3º lugar a 2 pontos do 1º classificado, o FC Lucerna.

RF: Esta não é a sua primeira experiência no estrangeiro, em 2008/09passou pelo campeonato do Chipre e o ano passado esteve em Israel ao serviço do Maccabi Haifa, quer falar um pouco destas suas duas experiências anteriores?
JT: Sim, depois de ter estado no Fátima numa época (2007/08) em que provocámos sensação na Taça da Liga ao eliminar o FC Porto e vencido um jogo da eliminatória com o Sporting decidi – na época seguinte – que era tempo de arriscar. Foi então que resolvi aceitar um convite de uma equipa que tinha acabado de subir à primeira liga do Chipre, o Atromitos, onde fiz uma excelente primeira volta. Assim sendo em Janeiro fui transferido para o AE Paphos, também do Chipre, onde acabámos por fazer uma boa segunda volta e onde me sai também muito bem. Até que depois recebi o convite do Maccabi Haifa, campeão de Israel em título, onde estive uma época (2009/10).

RF: Ao serviço do Maccabi participou na Liga dos Campeões, a maior “montra” ao nível das competições de clubes a que um jogador pode aspirar. Que recordações lhe trazem essa presença na Champions?
JT: Jogar na Champions foi uma experiência magnífica. Ouvir aquele hino antes dos jogos é algo que nunca vou esquecer, nem tão pouco o ambiente proporcionado pelos adeptos nas viagens entre hotel e o estádio em dias de jogo. Aliás, jogar em Israel surpreendeu-me muito, não só pelo ambiente em redor dos jogos como também pelo bom futebol que lá se pratica, e um bom exemplo disso é a derrota do Benfica (0-3) já esta época ante o Hapoel Tel-Aviv.

RF: Agora está na Suíça, onde o futebol é vivido e jogado de uma forma mais morna do que em Israel, por exemplo, ou até mesmo do que em Portugal…
JT: Sim, mas o campeonato suíço é muito competitivo, é muito forte no jogo fisico e apesar disso aqui também se pratica muito bom futebol. Em relação a Portugal penso que a principal diferença reside no nível técnico, pois o nosso futebol é muito mais técnico que o suíço. Agora, em relação a Israel, e na forma como o futebol é vivido, podemos dizer que é totalmente diferente daqui. Em Israel é um prazer jogar naqueles estádios, ouvir os adeptos entoar cânticos com o teu nome, seres reconhecido na rua ou quando vais a um shopping e seres adorado pelos adeptos… é uma sensação incrível.

RF: Sentiu por isso alguma dificuldade de adaptação à Suíça?
JT: Não, fui muito bem recebido pelos dirigentes, pelos adeptos e pelos meus colegas, todos me ajudaram e acarinharam muito, algo que foi muito importante na minha adaptação. Aliás, posso agora dizer que sou um dos jogadores mais acarinhados por todos.

RF: Neste momento, e como já disse, o FC Zurich está em 3º lugar da Superliga suíça, a dois pontos do 1º classificado. Quais são os vossos objectivos para o que resta jogar de campeonato?
JT: Temos vindo a realizar um bom campeonato, com uma equipa muito jovem mas com excelentes jogadores. Neste momento estamos no 3º lugar mas o nosso principal objectivo é chegar ao 1º e sermos campeões, tal como na Taça da Suíça, prova que também queremos vencer. Aliás, vencer é sempre um objectivo deste grande clube.

RF: Antes de emigrar o Jorge percorreu durante três épocas os escalões secundários do nosso futebol. Primeiro ao serviço do Casa Pia, depois viajou para o Odivelas, e por fim esteve no Fátima. Que memórias guarda deste percurso?
JT: Foram experiências muito importantes. Tive sempre excelentes treinadores, como o Jorge Paixão, o Rui Gregório e o Rui Vitória, cada um deles acabou por me ensinar coisas diferentes mas importantes que serviram para agora estar onde estou e tornar-me num jogador mais completo e ambicioso. Destaco também os excelentes companheiros que tive. Aliás, o companheirismo e união que existiram nestas equipas foram sempre aspectos magníficos.

RF: O que faltou para subir o último degrau, isto é, passar para a 1ª Liga portuguesa?
JT: Faltou o mesmo que falta a todos os jogadores da minha idade, ou seja, a falta de coragem de certas equipas apostarem em jovens. Temos realmente excelentes jogadores nas divisões inferiores e é uma pena que os clubes da 1ª Liga não vejam isso. E é por isso que cada vez mais jogadores portugueses se sentem na obrigação de tentar a sua sorte fora de Portugal. É uma pena ver que as equipas de fora apostam muito em nós e em Portugal acontece o contrário. 

RF: Fez a sua formação no Sporting, na famosa Academia de Alcochete, foram anos importantes para ser aquilo que é hoje enquanto jogador?
JT:
Passei lá anos excelentes da minha vida, aprendi muito em termos de formação. Tive excelentes pessoas em meu redor, relembro em particular os “misters” Leonel Pontes e Paulo Bento que apostaram em mim numa época importantíssima para a minha carreira, e com eles aprendi muito numa altura em que mudei a minha mentalidade em termos de trabalho. Recordo que com eles fomos campeões nacionais de juniores, numa equipa em que tive como colegas o Miguel Veloso, o Nani, o Yannick Djálo, o Carlos Saleiro, o Emídio Rafael, o João Moutinho, entre outros, todos grandes amigos meus e que estão agora em grande quer a nível nacional quer internacional.

RF: Costuma espreitar o campeonato português?
JT;
Sim, claro que vejo sempre todos os jogos da Liga portuguesa. Este ano o Porto esta fortíssimo, a jogar um excelente futebol com um excelente treinador. Mas penso que apesar do Porto se estar a destacar o campeonato deste ano está muito mais competitivo, onde as equipas denominadas mais pequenas estão a crescer, algo que é muito bom para Portugal, pois aumenta o nível competitivo.

RF: Há pouco definiu-se como sendo um jogador ambicioso, pergunto-lhe por isso que ambições tem o Jorge Teixeira por esta altura?
JT:
Neste momento sé penso em ser campeão suíço, ganhar a taça e jogar novamente na Liga dos Campeões. Quanto ao futuro vou tentar chegar a uma das denominadas grandes ligas da Europa. 

RF: E voltar a Portugal não cabe dentro das suas ambições?
JT: Sim porque não? Mas penso que por agora estou muito bem aqui, quero ficar mais alguns anos fora de Portugal, mas no futuro nunca sabemos o que pode vir a acontecer e se for bom para mim porque nao regressar? Mas como já disse por agora não tenciono fazê-lo, visto que tenho uma certa reputação aqui na Suíça, além de que quero melhorar ainda mais o meu futebol.

Nota: Esta entrevista foi realizada pelo autor de Museu Virtual do Futebol (Miguel Barros) para a REVISTA FUTEBOLISTA, tendo sido publicada no dia 25 de Janeiro de 2011

sexta-feira, janeiro 21, 2011

Catedrais Históricas (10)... Campo das Salésias

O espaço que outrora foi uma das mais emblemáticas catedrais do futebol português não passa hoje de um triste fantasma que vagueia perdido na estrada do tempo. No seu palco inolvidáveis momentos futebolísticos tiveram lugar, extraídos de épicos confrontos interpretados por algumas das maiores lendas do “desporto rei” lusitano... desde o imortal Pepe, passando pelo “mestre” Pedroto, e terminando no mago Matateu, entre muitos, muitos outros que aqui viveram tardes de glória.
A “máquina do tempo” transporta-nos hoje para a época dourada do Campo das Salésias (Lisboa), um recinto que pode ser hoje recordado como um dos grandes elementos dinamizadores do futebol em Portugal.
Edificado numa época em que a modalidade dava ainda os primeiros passos em terras lisboetas – tal como aliás no resto do país –, e onde como tal eram raros os campos para a sua prática – os melhores terrenos eram o Campo da Companhia do Cabo Submarino, em Carcavelos, e o Campo Pequeno – o Campo das Salésias foi erguido na zona de Belém, tendo sido inaugurado em 1928 para servir de casa ao Clube de Futebol “Os Belenenses”.
Ali os azuis-e-brancos de Lisboa viveram muitos dos capítulos mais belos da sua história, primeiro sob a batuta de Pepe e mais tarde por intermédio do mágico Matateu. Mas nem só o Belenenses ali pintou magníficos quadros futebolísticos, a própria selecção nacional também ali evoluiu em várias ocasiões.
Em pouco tempo as Salésias passaram a ser a par do Estádio do Lima (do qual aqui já falámos noutra ocasião), no Porto, a sala de visitas do futebol lusitano.
Assim sendo não seria de estranhar que o seu relvado – um dos primeiros a ser plantado em campos de futebol portugueses – fosse escolhido para ser palco da primeira final da Taça de Portugal na temporada de 1938/39 na qual a Académica de Coimbra escreveu a página mais brilhante da sua história, após ter derrotado o Benfica por 4-3. Taça de Portugal que conheceu nas Salésias mais quatro finais para além da edição inaugural, mais concretamente a de 1940/41 , 1942/43 , 1943/44 e 1944/45.
Perderia fulgor com a inauguração do Estádio Nacional (em 1944), recinto este que passou então a ter o papel exclusivo de grande sala de visitas do futebol em Portugal.
O declínio das Salésias começava aqui... mas o pior estava para vir. Em 1946 a Câmara de Lisboa dá ordem de despejo ao Belenenses com a intenção de ali construir uma urbanização. Diz-se também que a expulsão do clube da Cruz de Cristo da sua mítica casa se ficou a dever à ideia de Duarte Pacheco – Ministro das Obras Pública do Governo de Salazar – em fazer ali uma estrada. O que é certo é que os anos foram passando e nem sinal de estradas nem de urbanizações! O Campo das Salésias foi completamente esquecido e abandonado. O emblemático relvado que outrora serviu de tapete para tantos e tantos artistas da bola encantarem multidões deu lugar a uma lixeira nauseabunda. Quem hoje por ali passa tem dificuldades em imaginar que aquele terreno baldio foi uma das mais visitadas salas de bailado futebolístico da nação lusitana. De vez em quando vislumbram-se crianças com uma bola nos pés que ali imaginam estar a encantar multidões num Wembley, num Camp Nou, ou num Estádio da Luz... sem no entanto sequer sonharem que nas agora fantasmagóricas balizas (ainda) ali existentes lendas como Pepe ou Matateu fizeram as delícias de multidões com golos do “outro Mundo”.

Legenda das fotografias:
1- O passado...
2- ... e o presente do Campo das Salésias

Histórias do Futebol em Portugal (1): O dia em que o rei foi à bola!

O primeiro troféu disputado em Portugal

Recordamos hoje na vitrina das “estórias futebolísticas” da bola lusitana um dos primeiros grandes momentos da vida do então jovem futebol em Portugal: o duelo entre as selecções do Porto e de Lisboa. Um facto histórico ocorrido a 2 de Março de 1894, no Porto, mais concretamente no desaparecido Campo Inglês (zona do Campo Alegre), que reuniu uma selecção de Lisboa composta por jogadores do Club Lisbonense, do Carcavelos Club e do Braço de Prata, e um combinado do Porto composto por atletas do Oporto Cricket Club. A partida foi organizada por Guilherme Pinto Basto, um profundo entusiasta do “belo jogo”, e a quem o futebol português muito deve, já que entre outros factos foi ele quem trouxe de Inglaterra (país onde estudava) para Portugal a primeira bola de futebol, objecto que desde logo suscitou um enorme interesse naqueles que com ele primeiramente tiveram contacto.
E pela primeira vez na história o vencedor levava para casa um troféu, neste caso a Taça D. Carlos I, uma oferta do citado monarca. Família real que, aliás, se encontrava no meio da assistência do célebre encontro, sendo que um dos episódios curiosos do mesmo relata que os jogadores tiveram de fazer um esforço suplementar em jogar um prolongamento pelo facto de Suas Majestades o Rei D. Carlos, e a Rainha D. Amélia (os quais se faziam acompanhar pelos príncipes D. Luís Filipe e D. Manuel) terem chegado ao evento a meio da 2ª parte. Como tal e para que os ilustres espectadores pudessem apreciar devidamente o espectáculo que ali se desenrolava foram jogados mais alguns minutos de uma contenda que seria ganha pela equipa de Lisboa, por 1-0. A taça seria entregue a Guilherme Pinto Basto.
Na fotografia que ilustra este texto pode ser vista a selecção de Lisboa que venceu este histórico encontro, a qual posa com a bonita taça que se assumiu como uma das peças de maior valor histórico do futebol lusitano.

Vídeo: Reportagem do Canal História sobre o primeiro troféu disputado em Portugal

quarta-feira, janeiro 19, 2011

Grandes Clássicos da Bola (8)... Inglaterra - Alemanha

Como diria o lendário Gary Lineker «o futebol é um jogo de 11 contra 11... mas no final ganha a Alamenha», um chavão que nem sempre teve contornos de veracidade no rescaldo dos intensos e empolgantes duelos travados pelos dois velhos inimigos... Inglaterra e Alemanha. Duas super-potências do futebol global que pelo seu próprio punho escreveram muitas das mais brilhantes páginas desta nobre modalidade ao longo de décadas. Ver um Inglaterra – Alemanha, ou vice-versa, na montra de uma grande competição é presenciar uma espécie de final antecipada, é o jogo grande dessa mesma competição, é um duelo de gigantes. Hoje vamos recordar os escaldantes e inolvidáveis embates entre britânicos e germânicos nos palcos dos dois maiores eventos de futebol do planeta, o Mundial e o Europeu.

1966
Quiseram os Deuses da bola que o primeiro embate dos dois gigantes tivesse como palco a catedral das catedrais do futebol, o Estádio de Wembley, em Londres.
E para dar mais brilho a este primeiro confronto nada melhor do que este ser jogado numa... final, o jogo decisivo do Campeonato do Mundo de 1966, o Mundial inglês em todos os sentidos.
Pela primeira e única vez na sua história – até à data – os súbitos de Sua Majestade organizavam o maior evento desportivo do planeta, sendo o título Mundial a meta exigida pelos apaixonados adeptos ingleses a Bobby Charlton e companhia.
Pois bem, entre altos e baixos patenteados ao longo do percurso o que é certo é que a Inglaterra estava no jogo decisivo do seu Mundial, e muitos terão pensado que o mais difícil estava feito, e que agora era só derrotar a não menos irregular – ao longo da prova – Alemanha Ocidental.
Um forte optimismo e um Wembley – com 93.000 almas, na sua esmagadora maioria britânicas – a fervilhar de entusiasmo eram teoricamente argumentos fortíssimos para coroar a Inglaterra como rainha do Mundo, mas, como dizem os mais antigos, da teoria à prática o caminho é longo e por vezes engandor, e a Alemanha entrou a matar, como se diz na gíria, tendo com naturalidade feito, ao minuto 12, o 1-0 por intermédio de Haller. E dizemos com naturalidade pois a equipa da casa entrou em campo num ritmo muito lento, perro, visivelmente desgastada pelo duro confronto das meias-finais mantido dias antes com Portugal de Eusébio e companhia.
Com o “tiro” de Haller Wembley socumbiu, gelou por completo, a barulheira entusiástica deu lugar ao silêncio... mas por pouco tempo. O homem que haveria de se tornar no herói desta memorável final, Geoff Hurst, faria o empate seis minutos depois, resgatando assim a euforia para Wembley.
Na 2ª parte o equilíbrio reinou no relvado sagrado da catedral naquela tarde de 30 de Julho de 1966, pese embora o maior poder de recuperação de esforço inglês se tivesse feito notar ao longo destes segundos 45 minutos. E mais do que notar transformou-se em actos concretos, o mesmo é dizer golos, já que aos 77 minutos Peters colocava pela primeira vez a selecção dos “3 leões” na frente.
Nesta altura Wembley transformou-se numa autêntica bomba relógio na sequência de uma enorme explosão de alegria. Entoavam-se cânticos aos novos campeões do Mundo. Mas... os alemães pareciam não ter gostado destes festejos antecipados e mesmo debilitados fisicamente conseguiam chegar à igualdade a um (!) minuto dos 90. Wembley gelou novamente perante o golo de Weber. Seguiu-se o prolongamento... onde o surreal aconteceu. Apesar de tudo mais frescos fisicamente os ingleses partiram para cima do exército alemão e aos 101 minutos Hurst envia a bola à parte inferior da trave da baliza alemã tendo esta pingado para o relvado junto da linha de golo. Foi golo, não foi? A dúvida tomou conta de Wembley. Depois de consultar o seu juíz de linha o suíço Dienst valida o golo perante a revolta dos alemães e a euforia dos ingleses.
O tento desanimou os visitantes, por assim dizer, que já na 2ª parte do tempo extra levaram a machadada final (aos 89 minutos) novamente por intermédio de Geoff Hurst, que assim se tornava no único jogador a fazer três golos numa final de Campeonato do Mundo. E mais do que isso a Inglaterra era Campeã Mundial. Tudo tinha assim acabado dentro do inicialmente previsto.

1970
Cidade de Leon, no México, 14 de Junho 1970, a República Federal da Alemanha tem uma oportunidade de ouro para vingar a derrota averbada quatro anos antes diante do velho inimigo britânico. O cenário de novo e escaldante duelo é novamente o Mundial de futebol, neste ano realizado no México. E escaldante em duplo significado, pois sobre Leon pairava um calor intenso e sufocante de... 46 graus!!! Como se já não bastasse terem de se superar ambos os conjuntos tinham também de lutar contra o calor, o qual seria o principal adversário de ambos.
O jogo foi por isso muito disputado e bastante duro sobre o aspecto físico. Mullery fez em cima do apito para o intervalo (45 minutos) o 1-0 para os campeões do Mundo em título, para depois aos cinco minutos da etapa complementar Peters aumentar para 2-0. Face às altas temperaturas que provocavam um claro desgaste nos jogadores em campo previa-se que ainda não era desta que os alemães iriam levar a melhor sobre os ingleses, mas mais uma vez as previsões falharam, e aos 23 minutos Beckenbauer reduziu, para depois Uwe Seeler empatar o jogo quando faltavam nove minutos para o final.
1966 voltava a repetir-se, Inglaterra e Alemanha iriam para prolongamento. Levariam novamente a melhor Bobby Charlton e companhia? O “bombardeiro” Gerd Muller respondeu que não, já que aos 108 minutos desfez a igualdade e colocava a sua equipa na meia-final. A vingança estava consumada. A aventura dos alemães no Mundial do México terminaria no jogo seguinte diante da Itália, numa meia-final electrizante e épica que foi concluida com um 4-3 a favor dos transalpinos.

1982
12 anos foram precisos para os dois velhos inimigos voltarem a esgrimir argumentos numa grande fase final. Tal aconteceu em Espanha, em 1982, e mais uma vez na fase final de um Campeonato do Mundo. Madrid, e o seu majestoso Santiago Bernabéu foram a 29 de Junho desse ano o palco da pobre cimeira futebolística. E pobre porque este foi talvez o duelo mais morno entre as duas selecções conforme traduz o nulo registado no final dos 90 minutos de um jogo alusivo à 1ª jornada do Grupo 2 da 2ª fase do citado Mundial. E não foi por falta de artistas que a contenda assim terminou, pois em campo estiveram naquela tarde alguns dos melhores futebolistas do planeta da época, casos dos alemães Karl-Heinz Rummenigge, Hrubesh, Uli Stielike, Paul Breitner, ou dos ingleses Peter Shilton, Bryan Robson, ou Kevin Keagan.
Num mini-grupo que era composto também pela Espanha seriam os alemães a chegar mais longe, e mais longe foi a final, onde à semelhança do ocorrido em 70, no México, ai na meia-final, tombariam aos pés da Itália.

1990
Mais uma vez com o cenário mais desejado como pano de fundo, o mesmo é dizer o Mundial, Alemanha e Inglaterra protagonizaram em solo italiano um dos clássicos mais intensos e de vencedor incerto da história. Turim e o seu Estádio dos Alpes testemunharam a 4 de Julho de 1990 este facto. Em jogo estava um lugar na final do Mundial 90, e quer de um lado quer do outro não faltavam estrelas capazes de colorir o céu da bela cidade italiana. Uma delas, Andy Brehme, fez aos 59 minutos o golo inaugural do jogo, para 21 minutos a estrela inglesa Gary Lineker repôr a igualdade com que se atingiu o término do tempo regulamentar.
Para não variar mais um prolongamento para decidir quem seguia em frente. Tempo extra que não deu em nada tendo então surgido a necessidade de se recorrer às sempre terríveis grandes penalidades. Aqui a lotaria saiu aos germânicos, muito por culpa dos falhanços de Stauart Pearce e Cris Waddle. De nada valeram as lágrimas de Paul Gascoigne, a Alemanha estava na final do Itália 90... onde iria sagrar-se pela terceira vez na sua história Campeã do Mundo (diante da Argentina).

1996
Depois de quatro confrontos em fases finais de Mundiais eis que Inglaterra e Alemanha esgrimiam argumentos pela primeira vez numa fase final de um Campeonato da Europa. E tal como 30 anos antes, aquando da estreia dos clássicos entre ambos, Wembley apadrinhou o “euro” duelo. Estreia era também o facto de a Inglaterra acolher um Europeu de futebol, pelo que tal como em 1966 os súbitos de Sua Majestade já sonhavam ver o capitão Tony Adams imitar Bobby Moore nesse célebre Mundial, ou seja, subir ao palanque real e erguer a Taça da Europa.
Contudo tal não aconteceu porque mais uma vez a lotaria das grandes penalidades saiu aos alemães depois de no tempo regulamentar se ter registado um empate a uma bola (Shearer marcou aos três minutos para a equipa da casa e Kuntz fez a igualdade ao minuto 16). No tiro ao alvo, isto é, nos penaltis, Southgate falhou o primeiro pontapé da segunda série (na primeira todas as grandes penalidades foram convertidas) e Andy Moller agradeceu fazendo o tento decisivo que colocava a Alemanha (unificada) na final. É caso para dizer que nunca a célebre frase proferida por Gary Lineker no final do Alemanha – Inglaterra de 1990 bateu tão certo... «o futebol é um jogo de 11 contra 11... e no final ganham os alemães». Pois é, e ganharam não só este duelo como também o Euro 96 (bateram na final a República Checa).

2000
Considerados como os grandes favoritos do Grupo A da fase final do Euro 2000 – realizado conjuntamente pela Holanda e Bélgica – Inglaterra e Alemanha subiram ao relvado do Estádio de Charleroi (Bélgica) a 17 de Junho desse ano numa fase conturbada das suas vidas. Por outras palavras, as suas equipas estavam numa profunda fase de remodelação, o que se vinha traduzindo em maus resultados ao longo dos últimos tempos, inclusive neste Euro, onde na 1ª jornada da fase de grupos a Alemanha não foi além de um sofrido empate com a Roménia, ao passo que a Inglaterra caiu aos pés de Portugal por 2-3.
Num jogo fraco levou melhor a Inglaterra, que depois de duas eliminações consecutivas aos pés dos velhos inimigos venceria por 1-0, graças a um tento do seu goleador Alan Shearer aos 53 minutos. Uma vitória que de nada serviu, já que uma humilhante derrota com a Roménia na última jornada atirou a selecção dos “3 leões” para fora do Euro 2000, fazendo assim companhia à velha e desgastada Alemanha de Matthaus, que saiu da competição vergada a uma pesada derrota (0-3) perante as reservas de Portugal!

2010
De novo na fase final de um Mundial, desta feita no primeiro certame deste calibre organizado por um país africano, neste caso a África do Sul, a Inglaterra sofreu a maior humilhação perante o velho inimigo. 4-1 (!) nos oitavos-de-final da competição mandou para casa mais cedo uma selecção que se auto-intitulava como candidata ao trono Mundial. Como estavam enganados! Thomas Muller por duas vezes, Klose, e Podolski fizeram os tentos germânicos, ao passo que o desolador golo solitário da Inglaterra coube ao defesa Upson. A saga alemã neste Mundial terminaria nas meias-finais diante da futura campeão do Mundo, a Espanha.

terça-feira, janeiro 18, 2011

ENTREVISTA - Rúben Gravata espalha o seu talento pelo futebol maltês

Produto da Academia de Alcochete num passado não muito distante brilha actualmente no pequeno e competitivo campeonato da ilha de Malta, onde “atracou” esta época.
Médio criativo desde logo “pegou de estaca” no miolo do terreno do Marsaxlokk, emblema de uma pequena cidade do sul da ilha mediterrânica que o acolheu nesta sua primeira aventura internacional. Numa entrevista exclusiva à REVISTA FUTEBOLISTA este jovem jogador português nascido há 22 anos fala com saudade e orgulho do seu trajecto no Sporting, de uma certa frustração em não poder estar a mostrar o seu talento nas ligas profissionais de Portugal, do prazer que está a ser jogar na Premier League maltesa pelos “Lampuki’s” – alcunha pelo qual o Marsaxlokk é conhecido –, e da ambição de jogar numa grande liga internacional.
Sem mais demoras passamos a palavra a Rúben Gravata.


Revista Futebolista (RF): Rúben, porquê Malta? Como e quando é que surgiu a oportunidade de jogar no principal campeonato desta pequena ilha mediterrânica?
Rúben Gravata (RG): Bem, surgiu tudo muito rápido. Tinha acabado o campeonato (da 3ª Divisão Nacional portuguesa) há pouco tempo quando me contactaram para vir treinar à experiência a um clube da principal liga de Malta. Pensei um pouco, decidi arriscar e passado 3 dias estava no avião com destino a Malta.

RF: Ver um português a jogar em Malta não deixa de causar uma certa admiração, não só por se tratar de um campeonato pequeno e quase desconhecido do resto da Europa, mas também porque o futebol maltês sempre foi visto como um dos parentes pobres deste continente. Como é que tem corrido esta sua experiência?
RG: Tem corrido muito bem, tenho jogado sempre, o que também ajuda. Mas tenho a dizer que esta experiência me tem surpreendido bastante pela positiva, pois pensei que fosse um campeonato bastante mais fraco e a verdade é que não o é.

RF: Como é que caracteriza o futebol que se joga em Malta? E aproveitando o embalo fale-nos um pouco da Premier Legue maltesa?
RG: Como disse na resposta anterior é um campeonato que me tem surpreendido pela positiva. Todas as equipas tentam jogar um futebol agradável e positivo. A Premier League maltesa é um campeonato muito competitivo e equilibrado, apesar de este ano o Valletta estar a superiorizar-se um pouco em relação a todas as outras equipas.

RF: A julgar pelos seus desempenhos na equipa do Marsaxlokk, onde tem aparecido como titular, como aliás já referiu, a sua adaptação ao futebol da ilha não foi muito complicada, ou estamos enganados?
RG: Não, felizmente adaptei-me bem e tenho jogado com regularidade. Fui muito bem recebido por toda a gente e os meus colegas de equipa sempre me ajudaram na adaptação tanto ao país como ao futebol aqui praticado.

RF: Por falar em país, como é que descreve Malta, a sua cultura, as suas gentes...
RG: É uma ilha pequena com um clima muito bom onde predomina o sol, o calor e com paisagens lindíssimas. É um país que vive basicamente do turismo e onde nós estrangeiros somos bem recebidos. Isso foi algo que ajudou imenso à minha rápida e fácil adaptação.

RF: O Marsaxlokk subiu este ano à Premier League. Quais são os vossos objectivos para 2010/11?
RG: O nosso principal objectivo é a manutenção, e é isso que queremos assegurar rapidamente. Depois se pudermos lutar por algo mais, como por exemplo o acesso às competições europeias, iremos fazê-lo mesmo sabendo que será algo mais complicado de atingir. Temos uma equipa muito experiente que pratica um futebol atractivo e que tem como identidade a qualidade na posse de bola. Penso que temos tudo para alcançar os objectivos traçados.

RF: Já que fala em características da sua equipa lanço a pergunta da praxe: como se define como jogador?
RG: Como pontos fortes destaco a técnica, capacidade de passe tanto curto como longo, criatividade e velocidade de execução. Em termos de pontos fracos vou destacar o jogo aéreo.

RF: Voltando ainda ao início da nossa conversa e olhando para a actual Premier League constatamos que ano após ano esta atrai cada vez mais jogadores oriundos de países onde o futebol é mais desenvolvido, por assim dizer, tais como Brasil, Itália, Argentina, Espanha, ou Portugal. É um sinal de que o futebol maltês quer deixar a cauda do pelotão e tornar-se mais competitivo além fronteiras?
RG: Sim, sem dúvida. Penso que os clubes malteses estão a fazer um esforço para tornar esta liga cada vez mais competitiva. Aos poucos vão melhorando as suas condições de modo a atrair mais jogadores estrangeiros com maior qualidade.

RF: Quem olha para o historial da 1ª Divisão maltesa – hoje denominada Premier League – repara que os títulos foram conquistados quase sempre pelos 4 maiores e mais populares clubes da ilha: o Valletta, o Floriana, o Hibernians, e o Sliema. No entanto na última década têm surgido algumas surpresas quanto ao campeão, e exemplo disso é o facto do até há bem pouco tempo desconhecido Birkirkara já ter ganho 3 campeonatos, e o seu Marsaxlokk um (em 2006/07). Acha que este ano o campeão vai ser mais uma vez um outsider, ou pelo contrário um dos 4 grandes vai levar o título para casa?
RG: Este ano o grande candidato ao título é o Valletta, está claramente mais forte em relação às outras equipas. Já leva uma vantagem de 9 pontos e penso que dificilmente a deixará fugir.

RF: Numa viagem ao passado, ao seu passado, podemos constatar que o Rúben é um produto das escolas do Sporting. Fale-nos um pouco dessa sua chegada ao clube de Alvalade.
RG: Aos 6 anos de idade o meu pai colocou-me a jogar num clube na cidade de Setúbal, de seu nome Pelezinhos. Nessa altura eu só tinha idade para disputar torneios amigáveis. Num desses torneios um olheiro do Sporting viu-me jogar e gostou do que viu. Disse-me que mais tarde iria levar-me a fazer uns treinos de captação. E assim foi, quando fiz 8 anos de idade fui fazer os tais treinos de captação ao Sporting e passados 20 ou 30 minutos de ter iniciado o treino chamaram-me para assinar contrato para a época seguinte. Passado cerca de 3 meses estava finalmente a envergar a camisola do Sporting no Campeonato Distrital de Lisboa, no escalão de escolinhas.

RF: Evoluiu nos anos que se seguiram na Academia de Alcochete, onde cresceu com alguns nomes que mais tarde singrariam no plantel profissional do clube, casos do Rui Patrício, Adrian Silva ou do Daniel Carriço. Inclusive chegou a capitanear algumas equipas do Sporting. Quando olha para trás não sente que poderia ter chegado onde estes três jovens, por exemplo, chegaram? Pergunto, como tal, o que faltou para hoje em dia estar jogar ao lado deles, num mesmo patamar competitivo?
RG: Sim, a verdade é que sempre tive o sonho e a ambição de representar a equipa principal do Sporting desde do primeiro dia que vesti aquela camisola. Mas como todos sabemos é algo muito difícil de atingir, sei que tanto eu como outros que não o conseguiram temos qualidade para jogar a esse nível mas nem todos podem ter essa oportunidade. O futebol é mesmo assim. Mas ainda não desisti de chegar a um patamar mais competitivo, sei que tenho qualidade para tal, agora resta trabalhar para que surja essa oportunidade.

RF: Ainda com idade de júnior foi para a Madeira, mais concretamente para o União local, onde esteve duas épocas. Porquê esta troca, sair da Academia de Alcochete onde tinha todas as “mordomias” para um clube de menor dimensão?
RG: Quando passei a júnior sabia que iria jogar com pouca regularidade no Sporting, sendo assim preferi ser emprestado ao União da Madeira onde poderia jogar com mais regularidade e continuar a minha evolução como jogador.

RF: Como correu a experiência na Madeira?
RG: No primeiro ano correu muito bem, tínhamos uma equipa muito forte onde pontificavam bons jogadores, como por exemplo o Edgar Costa que representa agora a equipa principal do Nacional da Madeira. Se não fossem as lesões de alguns “jogadores chave” fico com a sensação de que poderíamos ter atingido a fase final do Campeonato Nacional de júniores. O segundo ano já não correu muito bem, essencialmente devido a vários problemas internos. Tínhamos jogadores de qualidade no plantel mas nunca fomos uma verdadeira equipa, e a juntar a isso os tais problemas internos que já referi fez com que esta fosse uma época menos conseguida por parte do clube.

RF: Chegado a sénior percorreu durante três épocas os escalões secundários do futebol português, mais precisamente as 2ª e 3ª Divisões. Primeiro no União de Montemor, depois regressaste à Madeira para representar o Portosantense, e por último o Vigor Mocidade. Por mais honroso que seja jogar em emblemas desta dimensão não sentiu alguma frustração por não estar a mostrar o seu potencial numa liga profissional à semelhança do que muitos ex-colegas da Academia faziam?
RG: Sim, confesso que sim. Principalmente no primeiro ano de sénior, pois foi um choque muito grande cair na 3ª Divisão. Felizmente sempre fui forte mentalmente e nunca desisti de lutar pela ambição e sonho de chegar ao futebol profissional.

RF: Que recordações lhe vêm à memória desta passagem pelos escalões mais baixos do futebol nacional?
RG: Recordo-me principalmente de encontrar além de bons jogadores grandes homens! Fiz muitas amizades pelos clubes por onde passei. Em termos de futebol propriamente dito é muito complicado jogar nesses escalões. Quase sempre se pratica um futebol pouco atractivo onde a bola anda na maior parte das vezes no ar e onde predomina o contacto físico. Tenho a certeza que muitos jogadores na Primeira Liga de Portugal dificilmente conseguiriam adaptar-se a uma 3ª Divisão.

RF: Nas 2ª e 3ª divisões, e até mesmo nos escalões distritais, encontram-se jovens portugueses com muito talento, que no entanto não são aproveitados nas ligas profissionais, onde a massificação de estrangeiros é cada vez mais saliente. No seu entender porque é que se verifica ano após ano este cenário, isto, quando o jogador português é cada vez mais apreciado e requisitado pelo Mundo fora?
RG: Sim, é um facto que nestas divisões encontramos jogadores com muito talento. Mas como se sabe em Portugal é muito difícil algum clube – das ligas profissionais – apostar num jovem português. Entre um jovem português e, por exemplo, um jovem brasileiro os clubes não têm a mínima dúvida em apostar no brasileiro. É um pequeno exemplo do que se passa hoje em dia no futebol em Portugal. Acho que está na altura de os nossos clubes mudarem a mentalidade e darem o verdadeiro valor ao jogador português.

RF: Face a este panorama pretende continuar a trabalhar no estrangeiro ou ao invés disso tentar a sorte e quem sabe arranjar um espaço no primeiro nível do futebol luso?
RG: Por enquanto penso em continuar pelo estrangeiro, mas se surgir um bom convite de uma equipa dos escalões profissionais de Portugal é algo a pensar.

RF: E a selecção nacional, sonha em vestir aquela camisola mesmo estando a actuar numa liga menos competitiva e quase desconhecida por cá?
RG: Todos temos esse sonho, mas tenho consciência que é uma meta quase impossível de atingir. Sinceramente não penso nisso no dia-a-dia, prefiro concentrar-me em dar o próximo passo que será conseguir chegar a uma liga maior e mais competitiva.

RF: Para terminar, que outros sonhos tem o Rúben Gravata na cabeça por estas alturas?
RG: Não digo sonhos, mas como disse na resposta anterior tenho a ambição de chegar a uma liga maior e mais competitiva. E porque não chegar a um grande da Europa?

Nota: Esta entrevista foi feita pelo autor do Museu Virtual do Futebol (Miguel Barros) para a REVISTA FUTEBOLISTA, tendo sido publicada no dia 18 de Janeiro de 2011

domingo, janeiro 16, 2011

História dos Europeus de Futebol (5)... Jugoslávia 1976

A menos de ano e meio do Euro 2012 o Museu Virtual do Futebol regressa hoje à vitrina que guarda as memórias dos Campeonatos da Europa para recordar aquela que foi talvez a primeira grande surpresa da competição: a vitória da Checoslováquia no Euro 76. Esta foi desde o princípio, isto é, desde a fase de qualificação, a equipa sensação da 5ª edição do Europeu de futebol, aquilo a que se pode chamar de um verdadeiro tomba-gigantes.
Na fase qualificação ficaram com o 1º lugar de um grupo que tinha como grande favorita a poderosa Inglaterra, posição essa que lhes permitiu jogar o play-off de acesso à fase final do Euro 1976 com a até então única equipa que havia participado em todas as fases finais da prova, a União Soviética. No duelo com os soviéticos levaram a melhor, triunfando em Bratislava por 2-0 no encontro da 1ª mão e empatando a duas bolas no jogo da 2ª, carimbando desta forma o passaporte para a fase final da competição. Play-off’s que à semelhança da fase grupos decorreram sem grandes surpresas, ou seja, os favoritos levaram a melhor sobre os seus oponentes.
Assim, a Jugoslávia afastou o Pais de Gales (2-0 na primeira mão e 1-1 na segunda), a República Federal da Alemanha (RFA) derrotou a Espanha (1-1 em Madrid e 2-0 em Munique), e por fim a Holanda cilindrou os seus vizinhos da Bélgica (5-0 em Roterdão e 2-1 em Bruxelas).
Estavam encontradas as 4 selecções finalistas do Euro 76, tendo então a UEFA atribuído a organização do evento à Jugoslávia.

“Laranja mecânica” neutralizada pelos checos

Zagreb e Belgrado foram as duas cidades escolhidas para sediar o Europeu. O primeiro encontro decorreu no Estádio Maksimir, em Zagreb, e colocava frente a frente a poderosa Holanda e o menos favorito dos países em prova à vitória final do Euro, a Checoslováquia.
Dois anos antes, no Mundial de 1974, o qual decorreu na Alemanha, a Holanda havia encantado o planeta da bola com o seu futebol mágico… e total.
A “laranja mecânica” como então ficou conhecida partia para este jogo naturalmente como a grande favorita para chegar ao jogo final… quem sabe contra a Alemanha, naquela que seria uma reedição da final do Mundial de dois anos antes, e uma oportunidade de ouro para a vingança das “túlipas”. Só que os planos saíram furados a Cruyff e companhia perante os frios e rigorosos checos. Estes marcaram primeiro por intermédio do seu capitão de equipa Ondrus à passagem do minuto 19.
Sem saber muito bem o que se estava a passar perante aquela quase desconhecida selecção a Holanda ainda conseguiria chegar à igualdade a 13 minutos do final beneficiando da infelicidade de Ondrus que ao contrário do que fizera no primeiro tempo enviou a bola para o fundo da sua própria baliza. Resultado final: 1-1, e a Europa estava espantada com o desempenho dos checos… mas o choque ainda estava para chegar.
No prolongamento de um jogo que teve arbitragem controversa, aliás neste capítulo reside a curiosidade de que as três expulsões (duas para a Holanda e uma para a Checoslováquia) constituem um recorde nos dias de hoje, ou seja, nunca numa fase final um encontro teve tantas expulsões, a frieza dos checos veio ao de cima em contraste com o nervosismo holandês. Nehoda, aos 114, e Vesely, aos 118, dariam a machadada final na laranja e carimbavam o passaporte para a final.

Campeões do Mundo e da Europa não ganharam para o susto

Um dia mais tarde os campeões de Mundo e da Europa em título, a Alemanha Ocidental, também não ganhou para o susto diante da anfitriã Jugoslávia.
Em Belgrado os homens da casa talvez inspirados pela surpresa checa da véspera não se fizeram rogados e desde o apito inicial tomaram as rédeas do jogo. Resultado desse domínio? Uma vantagem de dois golos ao intervalo ( Popivoda, aos 19 minutos, e Dzajic, aos 30).
Os compatriotas do Marechal Tito viviam por esta altura uma euforia desmedida, pois estavam a 45 minutos de atingirem a final do seu Euro. Só que para o alemães o jogo só acaba quando o árbitro manda as equipas para os balneários, sendo que na etapa complementar mostraram o porquê de serem os detentores dos dois títulos mais importantes do futebol ao nível de selecções. Quatro minutos passados da hora de jogo Flohe reduziu a desvantagem para já perto do final (minuto 82) Dieter Muller fazer o empate. A festa jugoslava estava estragada. E mais estragada ficou no prolongamento quando o furacão Muller varreu a nação jugoslava com a obtenção de mais dois golos (aos 115 e 119 minutos) aniquilando assim de vez o sonho da Jugoslávia.

Holanda minimiza má campanha com a medalha de bronze

Enganaram-se aqueles que pensavam que o encontro de apuramento dos 3º e 4º lugares iria ser um velório entre as duas equipas derrotadas das meias-finais. Holanda e Jugoslávia encararam o jogo como se de uma final se tratasse, com os primeiros a dar a provar um pouco do sumo da “laranja mecânica” que dois anos antes havia deliciado o Mundo. Geels (27 minutos) e Van de Kerkhof (minuto 39) davam um avanço de dois golos aos holandeses.
A turma da casa não baixou os braços e já em cima da saída para o intervalo (43 minutos) reduziria a desvantagem por intermédio de Katalinski.
Na etapa complementar os balcânicos tomariam conta das operações não sendo pois de estranhar que aos 82 minutos o goleador e estrela-mor da equipa, Dzajic, restabelecesse a igualdade. E como não há duas sem três um jogo do Euro 76 teria de ser decidido no prolongamento. E na 2ª parte do período extra a Holanda voltou a marcar, novamente por Geels, ao minuto 107.
Até final, a “laranja mecânica” susteria com mestria a avalanche jugoslava garantindo assim o 3º lugar na prova.

Um louco chamado Panenka vira herói nacional

Os olhos do Mundo estavam no dia 20 de Junho de 1976 focados em Belgrado, onde mediam forças a surpreendente Checoslováquia e o poderoso exército alemão. Em jogo estava o título europeu e mais uma vez os germânicos partiam como favoritos. Mas da teoria à prática o caminho é longo e os checos voltaram a fazer aquilo que haviam feito ante a Holanda, ou seja, sem nada a perder colocaram as cartas na mesa, por outras palavras o seu futebol frio, rigoroso, e atrevido, foram armas suficientes para que o marcador fosse aberto aos 8 minutos por intermédio de Svehlik.
Não obstante a reacção alemã ao tento madrugador a Checoslováquia aumentava o grau da surpresa aos 25 minutos quando Dobias fez o 2-0. Contudo, uma das grandes estrelas deste Euro 76 não atiraria a toalha ao chão e relançava o jogo ainda antes do intervalo ao fazer o 1-2. Dieter Muller, o nome deste guerreiro germânico.
Os que pensavam que a Alemanha iria na 2ª parte aplicar aos checos o mesmo antídoto aplicado dias antes aos jugoslavos para dar a volta ao marcador enganaram-se profundamente. A Checoslováquia resistiu de uma forma heróica às várias tentativas de chegar ao golo dos alemães, como querendo demonstrar que a sua presença naquela final não era um mero acaso da sorte. No entanto, a um minuto do fim a máquina alemã fez estragos com a obtenção do tento do empate por Holzenbein.
Parecia sina, mas para não fugir à regra mais uma vez teria de se recorrer a um prolongamento para apurar o vencedor. Ambas as equipas seriam muito cautelosas no período suplementar, não sendo de admirar que pela primeira vez na história – e única até à data – o título fosse decidido na marcação de grandes penalidades. Na lotaria os primeiros sete remates seriam convertidos, sendo que na segunda série o lendário Uli Hoeness seria o primeiro a falhar. O título estava nos pés de Antonin Panenka, o qual com uma tranquilidade anormal picou a bola sobre o guarda-redes Sepp Maier fazendo um magistral chapéu que terminou no fundo da baliza. Um acto de loucura com um final feliz que dava o título de campeão da Europa à surpreendente Checoslováquia.

Jogos:

Meias-finais


16 de Junho, em Zagreb
Checoslováquia – Holanda: 3-1
(Ondrus, aos 19’, Nehoda, aos 114’, e Vesely, aos 118’)
(Ondrus, aos 77’ na p.b.)

17 de Junho, em Belgrado
Jugoslávia – RFA: 2-4
(Popivoda, aos 19’, e Dzajic, aos 30’)
(Flohe, aos 64’, e Muller, aos 82’, 115, e 119’)

Jogo dos 3º e 4º lugares

Holanda – Jugoslávia: 3-2
(Geels, aos 27’ e 107’, e Van de Kerkhof, aos 39’)
(Katalinski, aos 43’, e Dzajic, aos 82’)

Final
Checoslováquia – RFA: 2-2 (5-3 nas grandes penalidades)


20 de Junho, no Estádio do Estrela Vermelha, em Belgrado
Árbitro: Sérgio Gonella (Itália)

Checoslováquia: Ivo Viktor, Karol Dobias (Vesely, aos 109’), Jozef Capkovic, Anton Ondrus, Jan Pivarnik, Antonin Panenka, Jozef Moder, Marian Masny, Zdenek Nehoda (Biros, aos 80’), Koloman Gogh, e Jan Svehlik. Treinador: Vaclav Jezek

RFA: Sepp Maier, Berti Vogts, Bernhard Dietz, Hans Georg, Franz Beckenbauer, Herbert Wimmer (Flohe, aos 41’), Rainer Bonhof, Uli Hoeness, Dieter Muller, Erich Beer (Bongartz, aos 80’), e Bernd Holzenbein. Treinador: Helmut Schon

Onze Ideal do Euro 76:
Viktor (Checoslováquia)
Pivarnik (Checoslováquia)
Ondrus (Checoslováquia)
Beckenbauer (RFA)
Krol (Holanda)
Bonhof (RFA)
Pollak (Checoslováquia)
Panenka (Checoslováquia)
Dzajic (Jugoslávia)
Nehoda (Checoslováquia)
Muller (RFA)


Melhor marcador:
Dieter Muller (RFA): 4 golos

Legenda das fotografias:
1- Logotipo oficialdo Euro 1976
2- Checoslovacos festejam título com as camisolas...da Alemanha!
3- Saudação entre os capitães de Checoslováquia e Holanda
4- Fase da final, com Berti Vogts e Ondrus a disputar o lance
5- O invulgar e decisivo pénalti marcado por Panenka
6- O "onze" checoslovaco no dia da final
7- O melhor marcador do Euro 76: Dieter Muller

quinta-feira, janeiro 13, 2011

ENTREVISTA - David da Costa: Um guarda-redes com sangue lusitano a triunfar no futebol suíço

Aos 24 anos é uma das grandes revelações da Superliga da Suíça da temporada em curso. Filho de emigrantes portugueses nasceu em Zurique e foi nesta mesma cidade que deu os primeiros passos no mundo da bola. “Detentor” de dupla nacionalidade sonha por esta altura com as camisolas da selecção nacional portuguesa – embora tenha já sido chamado em 4 ocasiões à equipa nacional suíça de sub-18 – e do... FC Porto, o emblema do seu coração. Entre sonhos e ambições vive com alegria um presente marcado por uma estreia auspiciosa no principal escalão do futebol helvético.
Nas próximas linhas, e na primeira pessoa, David da Costa, guarda-redes titular – indiscutível – do FC Thun, recorda o passado, retrata o presente, e imagina o futuro numa entrevista concedida à REVISTA FUTEBOLISTA



Revista Futebolista (RF): Nascido na Suíça, filho de emigrantes portugueses, o David cresceu num país onde o futebol não é vivido de uma forma tão intensa como o é em Portugal, por exemplo. Como foi por isso a sua aproximação à modalidade numa terra onde ela não é tão popular, digamos assim...
David da Costa (DdC): Antes do mais devo dizer que sempre tive paixão pelo futebol. Para qualquer lado que fosse levava sempre uma bola atrás. Aos 5 anos o meu pai inscreveu-me nas camadas jovens do FC Zurich, clube em que fiz toda a minha formação até aos 18 anos. Dizer aliás que os meus pais sempre me acompanharam ao longo de toda a minha carreira, eles são os meus fãs mais leais. Depois de ter passado por todos os escalões do FC Zurich assinei com este mesmo clube o meu primeiro contrato de profissional. Tinha na altura 18 anos. Por esta altura já havia sido chamado por 4 vezes à selecção de sub-18 da Suíça.

RF: Com 18 anos e numa equipa de topo da Suíça deve ter sido difícil a sua chegada ao futebol sénior...
DdC: Eu cheguei à equipa principal do FC Zurich em 2005, que na altura tinha dois ou três guarda-redes além de mim. Até 2008, ano em que terminei contrato, o clube venceu dois campeonatos nacionais da 1ª Divisão, embora eu não tenha feito um único jogo pela equipa principal. Joguei sim perto de meia centena de vezes na equipa “b” do FC Zurich, na 3ª Divisão Nacional.
Em 2007/08 fui emprestado por 6 meses ao Chiasso, da 2ª Divisão. Na temporada seguinte (2008/09), depois de ter saído do FC Zurich, assinei um contrato de dois anos com outra equipa da 2ª Divisão, o Concordia de Basileia onde fiz apenas metade da época como titular, pois estive lesionado durante toda a 1ª volta do campeonato.
Até que na época passada o Concordia foi à falência, pelo que tive que procurar uma nova equipa, tendo então optado por regressar ao Chiasso, que tinha acabado de descer da 2ª para a 3ª Divisão. Neste regresso fiz apenas 10 jogos, pois decidi sair do clube, já que achava que tinha qualidade para ir mais além e o Chiasso não poderia dar-me essa oportunidade. Estive então algum tempo no desemprego, até que na recta final da época assinei pelo FC Wohlen, da 2ª Divisão, tendo feito 10 jogos como titular, e desta forma ajudado a equipa a alcançar a manutenção. Em Junho de 2010 assinei com o FC Thun um contrato de 3 épocas.

RF: Depois deste longo percurso pelos escalões secundários chegou à Superliga da Suíça – o equivalente à Liga Zon Sagres de Portugal –, podendo por isso considerar-se esta como a sua época de estreia ao mais alto nível, uma vez que no FC Zurich passou grande parte do tempo na equipa “b”. Não podemos pois deixar de lhe perguntar como está a correr a estreia entre os “grandes” da Suíça?
DdC: Está a correr muito bem. Até Dezembro – mês em que o campeonato fez a habitual pausa de inverno - fizemos 20 jogos, 18 para o campeonato e 2 para a taça, e eu fui titular nos 20. Mas sei também que tenho de trabalhar para continuar a ter o meu lugar na Superliga suíça.

RF: Por falar em campeonato, muita gente, sobretudo em Portugal, pois é o contexto em que estamos inseridos, desconhece a realidade da Superliga suíça. Que descrição nos faz sobre a principal liga do país onde nasceu?
DdC: O futebol suíço evoluiu bastante nos últimos anos. Os jogadores têm qualidade e como tal a liga é mais falada lá fora. Em termos de equipas, por exemplo, a Suíça tem tido boas prestações nas competições europeias, em particular na Liga dos Campeões, onde este ano esteve o Basileia. Em termos de características o nível de jogo da Superliga é muito rápido, os jogadores são tecnicamente fortes e evoluídos, e eu posso testemunhar isso enquanto guarda-redes, já que é preciso estar concentrado durante todo o jogo, pois o mais pequeno erro pode ser fatal.

RF: Já agora, como se define enquanto guarda-redes?
DdC: Tenho bons reflexos, e jogo bem com os dois pés o que me facilita quando saio a jogar – em manobras ofensivas – com o resto da equipa. Além disso tenho um espírito combativo e considero-me bastante ambicioso.

RF: Por falar em ambição, o FC Thun é um clube que ainda há bem pouco tempo andou nas bocas do Mundo por ter feito “a vida negra” ao Arsenal e ao Ajax na fase de grupos Liga dos Campeões da temporada de 2005/06. Depois disso desapareceu do mapa futebolístico, tendo passado as duas últimas épocas na 2ª Divisão. Quais são as vossas ambições para a actual época? (nota: actualmente o Thun está no 6º lugar com 23 pontos, a 10 do líder FC Lucerna)
DdC: O Thun é um clube com bom nome aqui na Suíça. É um clube familiar e toda a cidade nos acompanha. Somos uma equipa jovem que luta pela manutenção na Superliga, e até agora as coisas estão a correr bem. Temos de continuar neste ritmo para fugir às duas últimas posições da tabela (os lugares de despromoção), e se conseguirmos isso depressa tudo pode acontecer até ao final do campeonato. Na taça estamos a dois jogos de atingir a final, uma vez que estamos nos quartos-de-final da competição, onde iremos encontrar o Neuchatel Xamax.

RF: Quais são em seu entender, e neste momento, os principais candidatos ao título de campeão suíço?
DdC: O Basileia, o FC Zurich, o Young Boys e o FC Lucerna.

RF: Tem dupla nacionalidade, e certamente como qualquer outro jovem espera um dia jogar ao mais alto nível internacional, isto é, representar uma selecção nacional numa grande competição. No seu caso qual a camisola que mais gostava de vestir, a da Suíça ou a de Portugal? E o porquê dessa sua escolha?
DdC. Portugal, sem dúvida, porque é o país das minhas origens. Gostaria muito um dia jogar em Portugal e mostrar o que valho ao povo português.

RF: Costuma acompanhar o campeonato português?
DdC: Desde pequeno que acompanho todos os anos o campeonato português.

RF: Qual é a opinião que tem sobre ele, e já agora como é que enquanto adepto analisa a actual temporada?
DdC: A liga portuguesa está seguramente entre as 6 melhores da Europa. Sobre esta época o FC Porto tem jogado um futebol muito bonito e muito consistente, com um treinador que me faz lembrar bastante o mítico José Mourinho. O Benfica está a melhorar, mas perdeu muitos pontos na fase inicial da época... pelo que julgo que o Porto vai acabar por ser campeão.

RF: Já disse que gostava de jogar em Portugal. Em tom de provocação, tem alguma preferência?
DdC: O meu sonho sempre foi jogar pelo FC Porto, o meu clube desde pequeno. Aliás, com 17 anos o meu pai levou-me a Portugal para treinar durante uma semana com a equipa “b” do Porto. Mas infelizmente acabei por não ficar. Contudo, sei que jogar por um grande de Portugal não é fácil, ainda para mais para alguém que vem da Superliga da Suíça. Por isso não me importava de jogar numa equipa mais pequena para poder ter mais oportunidades e mostrar o que valho. Mas claro que o meu sonho é jogar pelo FC Porto, embora também saiba que como profissional nunca poderia dizer que não a outro clube grande.

RF: Voltando ao passado e à sua infância, quem foi o seu ídolo das balizas?
DdC: O meu ídolo sempre foi o Vítor Baía.

RF: E para terminar esta conversa, qual é para si o actual melhor guardião do Mundo?
DdC: É difícil escolher apenas um, mas... talvez Manuel Neuer pelo talento, Gigi Buffon pela personalidade, e Edwin Van der Sar pelo carisma.

NOTA: Esta entrevista foi feita pelo autor do Museu Virtual do Futebol (Miguel Barros) para a REVISTA FUTEBOLISTA, tendo sido publicada no dia 13 de Janeiro de 2011

terça-feira, janeiro 11, 2011

Bis de Leo Messi na Bola de Ouro

O argentino Leo Messi conquistou ontem pelo segunda vez consecutiva na sua carreira o galardão individual mais importante do planeta da bola: A BOLA DE OURO. O Museu Virtual do Futebol presta assim tributo ao astro do FC Barcelona.

segunda-feira, janeiro 03, 2011

Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo (10)... Artur Agostinho

Ano novo... hábitos antigos, o mesmo é dizer que o Museu irá continuar a sua missão de desfiar o novelo da história da bola. E nestes primeiros momentos de 2011 vamos permanecer na vitrina das lendas do jornalismo desportivo, um dos meus cantinhos favoritos – por razões óbvias – neste humilde espaço virtual. E depois de há poucos dias termos evocado o mito Aurélio Márcio vamos hoje prestar uma profunda homenagem a outro astro das letras: Artur Agostinho. Um nome que a bem dizer dispensa qualquer tipo de apresentações, já que ele é sinónimo de uma carreira ímpar e invejável – no bom sentido, pois claro – ao serviço da comunicação social.
Nascido no dia de Natal de 1920, em Lisboa, Artur Fernandes Agostinho desde cedo começou a reservar o seu lugar no “Olimpo” dos Deuses do jornalismo desportivo nacional quando aos 17 anos a sua inconfundível voz iniciava uma caminhada triunfal pelos microfones da rádio. Uma união – homem/rádio – que teve o seu casamento (oficial) em 1945, ano em que Artur Agostinho se torna profissional da Emissora Nacional. O resto é pura lenda, como diriam alguns, pois ao longo das quatro décadas seguintes este homem tornou-se na companhia diária de muitos amantes da rádio, em especial daqueles que tinham um gosto especial pelo fenómeno desportivo.
Neste aspecto Agostinho fez a cobertura de três edições dos Jogos Olímpicos (!), nomeadamente os de Helsínqia (1952), Roma (1960), e Tóquio (1964), de dezenas de edições da Volta a Portugal em Bicicleta, e claro está dos grandes acontecimentos futebolísticos do planeta. Aqui destaca-se a presença no Mundial de 1966, onde narrou para a RTP – casa que entretanto o havia acolhido em 1956, precisamente o ano de estreia da televisão em Portugal – com mestria os feitos de Eusébio e companhia.
Pela sua voz os microfones da RTP guardam também os melhores momentos das equipas portuguesas nas competições europeias de futebol, entre outros as duas vitórias do Benfica na Taça dos Campeões Europeus, e o triunfo do Sporting na Taça dos Vencedores das Taças.
Sporting Clube de Portugal que era um dos grandes amores de Artur Agostinho. Assumidamente sportinguista de alma e coração o mestre foi director do Jornal do Sporting durante vários anos. A sua ligação aos jornais não se ficou no entanto por aqui, muito longe disso, tendo assumido igualmente a direcção do Record entre 1969 e 1974. A Bola, o Norte Desportivo, o Diário Popular, e o Diário de Lisboa têm também o privilégio de guardar nos seus arquivos inúmeras prosas futebolísticas do mestre Artur Agostinho. A sua veia de comunicador não se restringe apenas ao jornalismo desportivo, já que o cinema sempre foi outra das suas paixões. Neste campo estreou-se em 1947 no filme Capas Negras, sendo que neste mesmo ano ajudou a imortalizar outro clássico da “sétima arte” lusitana: O Leão da Estrela. Ao nível da TV participou ainda em diversas séries de ficção nacional, como, por exemplo, Ganância, Inspector Max, Ana e os Sete, ou Pai à Força.
Artur Agostinho foi um dos grandes mestres da escola de – bem fazer – jornalismo, não sendo de estranhar que após ter completado a bonita idade de 90 anos – no passado dia 25 de Dezembro de 2010 – tenha sido condecorado pelo Presidente da República, Cavaco Silva, com a Comenda da Ordem Militar de Sant'Tiago da Espada. Uma homenagem mais do que merecida a este imortal vulto da comunicação lusitana.
(Nota: Morreu a 22 de Março de 2011, aos 90 anos de idade).

Legenda das fotografias:
1- A simpática figura de Artur Agostinho
2- O mestre visivelmente emocionado ao lado de Cavaco Silva no dia em que este último o condecorou com a Comenda da Ordem Militar de Sant'Tiago de Espada