sexta-feira, outubro 13, 2017

Flashes Biográficos (12)... Tommy Ross

Tommy ROSS (Escócia): Há dias quando regressava ao conforto do lar após mais uma jornada de batalha laboral, não pude ficar indiferente à alegre algazarra que um punhado de miúdos fazia num rinque ali próximo. Por alguns minutos fixei o olhar naquele relvado de cimento, quiçá na esperança de ver alguma jogada maradoniana que me fizesse despertar do cansaço mental de mais um dia de labuta. Não vi, vi antes um petiz com o pé quente na hora de fuzilar a baliza improvisada com duas pedras à guarda de um dos seus companheiros da bola. Um, dois, três golos... no curto espaço de dois, três minutos, mais coisa menos coisa. O rapaz explodia de alegria cada vez que faturava mais um (golo), chamando a si as luzes da ribalta, em que por momentos o faziam sentir um Cristiano Ronaldo... Não, Cristiano Ronaldo não, pensei cá para mim naquele instante, esta veia goleadora repentina é mais ao estilo de... Tommy Ross. E foi nesse preciso momento que o minuto de fama deste cidadão escocês me veio à memória. Devo confessar que o nome de Tommy Ross é recente na minha memória futebolística, onde surgiu apenas por volta de maio deste ano (de 2017), altura em que uma notícia de um qualquer site britânico alusivo ao belo jogo titulava algo do género: "morreu hoje o autor do hattrick mais rápido da história". Naturalmente que aquele título me despertou curiosidade imediata, sendo então que conheci o feito de Thomas Ross. Nascido a 27 de fevereiro de 1946 na localidade de Tain, Ross entrou para a história 18 anos depois de ter vindo ao Mundo, mais precisamente no dia 28 de novembro de 1964, uma data que hoje figura no restrito Guinness Book (livro dos recordes).
Nesse dia Tommy, com apenas 18 anos de idade, defendia as cores do Ross County, emblema pelo qual tinha começado a jogar cerca de três anos antes e que deambulava então pelos escalões mais baixos do futebol escocês. Nessa jornada histórica, o Ross County atuava diante do rival (da região de Ross and Cromarty) Nairn County, numa partida alusiva à Highland Football League, uma espécie de campeonato distrital. E é precisamente aqui que começa a epopeia de Tommy. O árbitro apita para o pontapé de saída e o jovem avançado precisa apenas de 90 segundos para apontar... três golos!!! Um hattrick em minuto e meio!!! Claro que a façanha correu os quatro cantos da ilha de Sua Majestade, tendo recebido no final da época alguns convites do atrativo futebol inglês, um deles proveniente de um peso pesado britânico, no caso o Newcastle United, clube que entrou na corrida pela contratação do jovem bombardeiro das highlands (terras altas da Escócia) juntamente com o Millwall, o Cardiff City e o Aberdeen. A cobiça destes emblemas pelo jogador não ter-se-á ficado a dever exclusivamente ao histórico e super-rápido hattrick, dizemos nós, mas também muito por influência do impressionante número de golos que Tommy apontou nessa temporada de 1964/65: 44 remates certeiros, para sermos mais precisos. Desconhecidas as razões, o que é certo é que o destino de Ross no final dessa época acabou por ser o modesto Peterborough United, de Inglaterra, uma aventura que passou quase despercebida ao longo dos dois anos seguintes. Seguiram-se passagens igualmente modestas por York (City), Wigan (Athletic) - provavelmente o emblema de maior nomeada pelo qual Tommy Ross atuou (sem grande relevo) durante um par de anos - e por Newchurch - onde jogou pelo Rossendale United -, antes de regressar às highlands escoceses em 1977... pela porta pequena, o mesmo será dizer, para defender as cores dos semi-profissionais do Brora Rangers. Ali esteve até ao fim de uma carreira que passou praticamente despercebida (!),em que o minuto de fama, ou melhor, o minuto e meio de fama, aconteceu naquele histórico dia 28 de novembro de 1964. Penduradas as chuteiras, enveredou por outros caminhos profissionais: foi vendedor de automóveis, criou uma empresa de construção civil... tendo em paralelo mantido o vício pelo futebol, isto é, orientou várias equipas amadoras da sua região natal. O mundo (do futebol, sobretudo) só voltou a ouvir falar dele em maio deste ano, no dia 19, quando foi anunciada a sua morte.

quarta-feira, outubro 11, 2017

Histórias do Planeta da Bola (19)... O ÁS do volante com queda para a "pelota"

Juan Manuel Fangio com a camisola
do Rivadavia
O futebol arrebata corações um pouco por todos os pontos da nossa Aldeia Global, sendo indiferente a credos, religiões, raças, ou estatutos. O futebol é de todos e para todos... inclusive estrelas de outras modalidades. Bom, é partindo deste facto - verídico, com centenas de exemplos - que iremos esmiuçar a nossa história de hoje, uma história sobre rodas e que vai ser desenrolada a alta velocidade, há que sublinhá-lo, ou não fosse a nossa personagem principal de hoje uma das maiores lendas do automobilismo mundial: Juan Manuel Fangio, de seu nome.
Nascido na Argentina em 1911, em Balcarce para sermos mais precisos, Fangio é visto como a primeira grande superstar da Fórmula 1, tendo colecionado nesta categoria cinco títulos mundiais (1951, 1954, 1955, 1956 e 1957), fasquia apenas superada já no novo milénio pelo alemão Michael Schumacher (que ostenta no seu currículo sete ceptros mundiais). Fangio marcou uma era do desporto automóvel planetário, é um facto, o que o torna num verdadeiro Deus para o povo argentino, quiçá apenas ultrapassado em termos de devoção, passe a expressão, por outro Deus, ou D10S, vulgo Diego Armando Maradona. Mas o que terá Fangio a ver com futebol? Alguma coisa. Antes de se tornar num Ás do volante, o jovem oriundo de Balcarce (província de Buenos Aires) foi um talento da pelota (bola). Na sua meninice era comum vê-lo correr atrás de uma bola nas canchas da sua terra natal, não sendo de estranhar que tenha sido convidado para integrar as equipas de formação do Rivadavia, o pequeno clube de Balcarce, hoje rebatizado de Ferroviários de Balcarce. Com apenas dezasseis anos o jovem Juan Manuel é chamado a integrar a principal equipa do Rivadavia, uma oportunidade que não desperdiçou, agarrando de pronto o lugar de extremo-direito do conjunto serrano. Em 1931 tem quiçá um dos seus pontos altos da sua carreira de futebolista ao ser um dos principais protagonistas do título alcançado pelo Rivadavia na Liga Balcarceña, uma espécie de campeonato distrital lá do sítio. Mas não se ficou por aqui a aventura de Fangio nas canchas argentinas.
Uma equipa do Rivadavia nos anos 20.
Fangio é o segundo jogador da fila de baixo a contar da esquerda para a direita
Meses mais tarde a este feito é chamado pela seleção distrital de Balcarce para participar num torneio em Mar del Plata, onde foi elogiado pela sua extraordinária velocidade pelo corredor direito da sua equipa. Pois é, o que é certo é que Fangio viria a aplicar essa velocidade noutros campos, ou melhor, noutras pistas, algo que viria a cimentar-se em 1936, quando El Chueco (manco, traduzido na língua portuguesa) fez a sua estreia como piloto com o pseudónimo de... Rivadavia, numa espécie de homenagem ao clube de futebol da sua terra onde conquistou os seus minutos de fama enquanto futebolista. E porquê El Chueco, ou manco, perguntar-se-ão os visitantes do Museu. Bom, também a alcunha que acompanhou Fangio ao longo da sua carreira teve origem nos campos de futebol, já que o facto de ter as pernas arqueadas lhe valeram o dito rótulo, mas de manco, segundo reza a lenda, não tinha nada sempre que pegava na pelota.
Juan Manuel Fangio não foi, nem será, o único piloto de automóveis, no caso de Fórmula 1, a fazer uma perninha nos campos de futebol. Quem não se lembra dos célebres jogos anuais com carácter de beneficência que Michael Schumacher organizava? E para os quais convidava não só a nata do futebol da época (Ronaldo, Figo, Zidane, foram apenas alguns dos craques que participaram nesses encontros organizados por Schumi) como outros parceiros das pistas do Grande Circo. Certamente que muitos de nós se lembram dessas efemérides, mas o que é certo nenhum deles calçou de forma oficial as chuteiras como fez El Chueco Fangio antes de se tornar numa das maiores lendas da Fórmula 1, senão mesmo na maior de todos os tempos.