quarta-feira, abril 20, 2016

Lista de Campeões... Taça das Regiões da UEFA

 Pensada pelo organismo que tutela o futebol europeu - a UEFA - em finais do século XX, a Taça das Regiões iria ver a luz do dia em 1999, com a realização da primeira edição de um certame cujo intuito é promover o futebol amador do Velho Continente. A competição é destinada às associações regionais de futebol dos países membros da UEFA. A Regions Cup segue na linha da extinta Taça Amadora da UEFA, disputada por clubes amadores entre 1966 e 1978, e cujo término se ficou a dever - sobretudo - à falta de popularidade entre os adeptos da modalidade. Nos anos 90 a UEFA repensou então a competição, procedendo a algumas alterações, desde logo em relação aos participantes na mesma, que passaram a ser as seleções regionais de cada país, as quais disputam a prova em diversas fases, sendo que a última delas - a fase final - é sediada numa nação, à semelhança do que acontece com as outras competições de selecionados nacionais organizadas pela UEFA. Cada país envia à Taça das Regiões o vencedor do seu respetivo campeonato nacional de regiões. Em termos de títulos a Itália e a Espanha são as nações com mais vitórias na competição amadora, três para sermos mais precisos. As regiões de Veneto (Itália) e Dolny Slask (Polónia) são as mais laureadas da história da competição, com dois triunfos cada uma delas. Portugal por uma ocasião inscreveu o seu nome na lista de vencedores, através da Associação de Futebol de Braga. Em 2021, por força da pandemia de Covid-19, a UEFA decidiu não realizar uma competição que é disputada de dois em dois anos e que apresenta a seguinte lista de campeões: 

Galicia 2023 - Vencedor: GALICIA (Espanha)
Alemanha 2019 - Vencedor: DOLNY SLASK (Polónia)
Turquia 2017 - Vencedor: ZAGREB (Croácia)
Rep. Irlanda 2015 - Vencedor: EASTERN REGION (Rep. Irlanda)  
Itália 2013 - Vencedor: VENETO (Itália)
Portugal 2011 - Vencedor: ASSOCIAÇÃO DE FUTEBOL DE BRAGA (Portugal)
Croácia 2009 - Vencedor: CASTILLA Y LEÓN (Espanha)
Bulgária 2007 - Vencedor: DOLNY SLASK (Polónia)
Polónia 2005 - Vencedor: PAÍS BASCO (Espanha)
Alemanha 2003 - Vencedor: PIEMONTE (Itália)
Rep. Checa 2001 - Vencedor: MORÁVIA (Rep. Checa)
Itália 1999 - Vencedor: VENETO (Itália) 

terça-feira, abril 19, 2016

Cidades do Futebol (1)... Manchester: a capital mundial do "Beautiful Game"

Um retrato da cidade industrial de Manchester
em meados do século XIX
Madrid pode até ser o berço do emblema que detém o maior número de títulos da Taça/Liga dos Campeões Europeus; Barcelona pode reclamar para si o epíteto de cidade onde ao belo jogo é dado um toque artístico por génios que seguem as pisadas de Salvador Dali ou Antoni Gaudi; Munique o local onde a modalidade é interpretada com força, rigor e mestria; mas é em Manchester que o futebol tem a sua capital. É nesta cidade inglesa que iniciamos hoje aquela que se espera ser uma longa e entusiasmante viagem pelas "cidades do futebol" espalhadas pelo globo, abrindo desta forma uma nova vitrina no Museu Virtual do Futebol, onde na qual iremos (tentar) conhecer alguns contornos da história do envolvimento dessas mesmas cidades com o hoje denominado desporto rei do planeta, os símbolos e os nomes que fizeram com que esses locais sejam atualmente verdadeiros santuários do beautiful game, as lendárias batalhas que ali se travaram, e muito mais factos para (re)descobrir nesta viagem que hoje dá o seu pontapé de saída. Viajemos pois até ao início da segunda metade do século XIX, até Manchester, o berço da Revolução Industrial, local onde o jogo sofreu a sua primeira grande transformação desde que havia nascido no seio das escolas e universidades do sul de Inglaterra. Apesar de ter nascido em berço aristocrático, rapidamente a modalidade abraçou as classes mais pobres da sociedade britânica de então. O futebol prontamente passou a ser o principal entretenimento da classe operária (funcionários de fábricas, de armazéns, etc.), dos seguidores da igreja e dos meninos de rua. E foi este o cenário erguido precisamente nas cidades mais industriais do norte de Inglaterra, situadas nos condados das West Midlands e de Lancashire. Em diversas cidades desta região o football enraizou-se e popularizou-se na cultura britânica, e onde, por consequência, nasceram os primeiros clubes, foram criadas as primeiras competições, e onde se atingiu o patamar do profissionalismo. Manchester foi uma dessas urbes onde o jovem futebol se transformou, em que passou de divertimento exclusivo do meio escolar aristocrático para um fenómeno sócio-cultural de massas. Foi pois com naturalidade que surgiram os primeiros clubes, uns formados por elementos ligados à igreja, outros pela classe operária que proliferava em Manchester e seus arredores. E foi precisamente um emblema criado por operários a primeira coletividade futebolística revelada ao Mundo pela cidade de Manchester: o Hulme Athenaeum. Um facto achado recentemente - em 2014 -, altura em que o investigador desportivo Gary James descobriu que a centenária teoria, por assim dizer, de que o Turton Football Club - fundado em 1871 - era o clube mais antigo do condado de Lancashire não estava correta. Após meses a fio a vasculhar arquivos, o investigador da Manchester Metropolitan University chegaria à conclusão de que na realidade foi em novembro de 1863 que a cidade conheceu o seu primeiro emblema, precisamente o Hulme Athenaeum, um clube fundado pela classe operária. Isto, numa altura em que o jogo praticamente ainda não havia ultrapassado as paredes das escolas e universidades, ficando aqui a prova de que Manchester teve de facto um papel fundamental na expansão do futebol a outros extratos sociais.
Enquanto grande e importante centro industrial que era, Manchester atraía cidadãos provenientes de vários pontos do Reino Unido em busca de trabalho, homens e rapazes que nos seus tempos livres experimentavam aquele a quem um dia alguém viria a chamar de ópio do povo, o football.

Os embriões dos dois filhos pródigos de Manchester: o City e o United 

Durante a segunda metade do século XIX foram muitos os clubes que foram criados na região de Manchester, mas dois, em particular, haveriam de conferir à cidade o estatuto de capital... mundial do futebol. Falar desses dois emblemas implica, naturalmente, abordar as origens de cada um deles, dos primeiros passos rumo à glória e popularidade mundial que hoje em dia abraçam. No seio de um grupo de trabalhadores ferroviários de Newton Heath surgiu em 1878 aquele que décadas mais tarde haveria de se tornar um gigante do futebol planetário, o Manchester United, então batizado de Newton Heath Lancashire and Yorkshire Railway Football Club. Nos seus primeiros dois anos de vida este emblema disputou vários encontros com outros grupos de trabalhadores ferroviários, partidas essas decorridas sob o signo do divertimento e do convívio entre esta específica classe operária. Os registos históricos indicam que o primeiro duelo mais a sério travado pelo emblema dos ferroviários ocorreu em novembro de 1880, altura em que um combinado de reservas do Bolton Wanderers esmagou em North Road o team de Manchester por 6-0. North Road foi pois uma das primeira catedrais - o mesmo será dizer estádios - desta cidade, com capacidade para 12.000 pessoas, tendo sido esta a primeira casa do Newton Heath, que ali atuou desde a sua fundação até 1893. Durante este período North Road foi palco de diversos encontros inseridos nas primeiras competições oficiais do futebol inglês, entre outras a Lancashire Cup, cuja primeira edição ocorreu na temporada de 1879-1880.

Curiosamente seria neste preciso ano de 1880 que no seio da igreja anglicana iria nascer o St. Mark's (West Gorton) Football Club, nada mais nada menos do que a semente do atual Manchester City. O St. Mark's nasceu com a missão de combater os problemas sociais que assolavam a comunidade mais fragilizada da cidade. Idealizado pelos capelões da igreja de St. Mark's, o primeiro registo de um jogo deste emblema remonta a novembro desse preciso ano de 1880, altura em que defrontou uma equipa oriunda de uma igreja de Macclesfield.
Além de importante centro industrial, Manchester era já por estes dias um dinâmico centro futebolístico. A futura Football League teria as suas origens nesta cidade. A Profissional Footballers Association (Associação de Futebol Profissional) e a International Board (a entidade que estabelece as regras de jogo) tiveram Manchester como berço. Foi ainda durante esta década que se formou (1884) a Manchester Football Association que coordenou não só algumas das primeiras competições oficiais que foram disputadas no país como, e sobretudo, teve um papel preponderante para cimentar uma cultura futebolística nos britânicos. Entretanto, em 1884 o ainda jovem St. Mark's funde-se com o Gorton Athletic, uma união que no entanto duraria pouco tempo. Após a separação o St. Mark's passaria a denominar-se de Gorton Athletic Football Club, enquanto que o Gorton Athletic reformulou-se como West Gorton Athletic. 1887 é um ano marcante na vida do Gorton AFC, altura em que o clube abraça o profissionalismo, procedendo desde logo a novas mudanças. Uma nova alteração de nome seria a primeira delas, tendo o emblema ligado à igreja passado a designar-se Ardwick Football Clube, sendo que a segunda aludiu à passagem para aquela que seria a primeira grande catedral - em termos de dimensões - de Manchester, o Hyde Road Stadium. Com capacidade para 40.000 pessoas o recinto testemunhou os primeiros lampejos de glória daquele que viria a designar-se em 1894 Manchester City.
Imagem das primeiras batalhas futebolísticas travadas em Manchester
Ainda antes de abordarmos este facto, será importante nesta viagem ao passado frisar que 1881 é outro ano marcante na história do futebol de Manchester, e dos seus dois maiores símbolos em particular, já que a 12 de novembro St Mark's (West Gorton) Football Club é batido pelo Newton Heath por 3-0 num jogo descrito pela crítica de então como "agradável". Dos dois emblemas o Newton Heath é o primeiro a participar em competições oficiais, no caso a Alliance League - uma prova que nos seus anos iniciais rivalizou com a Football League, esta última criada uma temporada mais cedo (1888/89) do que a primeira liga - e a emergente FA Cup (Taça de Inglaterra), facto ocorrido na época de 1889/90. Na temporada seguinte foi a vez do Ardwick - sucessor do St Mark's (West Gorton) - fazer a sua estreia na FA Cup e na Alliance League. Com a extinção desta última competição os dois emblemas juntaram-se à Football League, sendo que, ainda no que concerne a factos estatísticos, o Newton Heath foi o primeiro clube a pisar terrenos da First Division (1892/93), ao passo que o seu vizinho da cidade só o viria a fazer no final do século, mais concretamente na época de 1889/1900, e já sob a designação de Manchester City. 
Apesar de nascidos em diferentes extratos sociais - um teve como berço a classe operária do setor ferroviário, enquanto que outro veio ao Mundo através da igreja - os dois clubes tiveram em comum o facto de terem enfrentado profundas crises financeiras que os iria obrigar a alterar a sua identidade. O primeiro a fazê-lo foi o Ardwick, que em 1894 altera a sua designação para Manchester City Football Club, ao passo que o Newton Heath ressurge em 1902 na qualidade de Manchester United Football Club.

Manchester revela ao Mundo a primeira superstar do jogo 

Um poster de Billy Meredith
com as cores do City
De lá para cá muitos foram os nomes que envergaram com distinção os dois mantos sagrados de Manchester. Alguns fizeram-no mesmo ao serviço dos dois vizinhos da cidade. Um desses nomes é apontado por muitos historiadores desportivos como o primeiro grande ícone do futebol planetário! Billy Meredith, a sua graça. Galês de nascimento (1874), Meredith foi a primeira lenda de ambos os emblemas, tendo ao serviço dos dois alcançado a glória. Sobre ele, o Museu Virtual do Futebol traçou em anteriores viagens ao passado longas linhas, algumas das quais trazemos hoje a esta nova rubrica.
William Henry Meredith é descrito nas páginas esbatidas dos jornais e livros daqueles (hoje) longínquos dias de finais do século XIX e princípios do século XX como o mago dos primórdios do futebol. Billy, diminutivo de William, trabalhou como mineiro na sua terra natal (Chirk), ocupando os seus tempos livres a correr atrás de uma bola pelos campos verdes de Black Park. A sua requintada perícia técnica com o esférico fez-se desde logo sobressair, e com apenas 16 anos veste a sua primeira camisola no planeta da bola, mais precisamente a do clube local, o Chik AAA Football Club. Era um jogador diferente dos demais, tratava o esférico de uma forma encantadora, cativando todos aqueles que o viam jogar. Numa altura em que o profissionalismo começava a aparecer Billy não resistiu à possibilidade de ganhar algum dinheiro fazendo aquilo que mais gostava, jogar futebol. Com 18 anos muda-se então para o poderoso Northwich Victoria, emblema que disputa a principal liga galesa, defendendo as cores do clube somente durante dois anos, voltando posteriormente para a sua cidade natal, e para o Chirk AAA, ao mesmo tempo em que regressa ao duro trabalho nas minas. A sua perícia apaixonou adeptos de vários cantos não só do País de Gales como do restante Reino Unido, tendo, com naturalidade, surgido inúmeros convites de clubes da Velha Albion para o seu concurso. E é aqui que o novo Manchester City entra em ação. Em 1894 o clube contrata Billy, que enquanto atleta amador viajava para Manchester ao fim de semana para atuar com o seu novo clube, ao passo que durante a semana exercia a dura profissão de mineiro. Foi assim durante dois anos. A estreia pelo City aconteceu em novembro desse ano de 1894, em casa do Newcastle United, sendo que uma semana mais tarde faz o debute ante os adeptos do clube numa partida diante do rival da cidade, o Newton Heath, dérbi que terminou com o triunfo desta última equipa por 5-2, sendo que os dois golos do City foram apontados por Meredith, que no final dessa temporada de estreia marcou 12 tentos em 18 aparições.

Meredith com as cores do United
Na época de 1898/99 ele guiou o clube no assalto à promoção ao principal escalão do futebol inglês, e pelo caminho deixou a marca pessoal de quatro hattricks (!), terminando a temporada com um total de 29 remates certeiros. Depois de uma certa instabilidade na First Division - o City foi relegado na temporada de 1901/02 - o clube de Manchester atinge a glória em 1903/04, altura em que vence o troféu mais prestigiado do país, e do Mundo por aqueles dias, a FA Cup (Taça de Inglaterra). Billy Meredith assinou exibições majestosas ao longo da caminhada triunfal até ao Crystal Palace Stadium - o principal estádio londrino da época - onde curiosamente o esperava o Bolton Wanderers, o primeiro clube que o quis levar para Inglaterra. Diante de 62.000 pessoas o City levou a melhor, graças a Billy Meredith, que aos 23 minutos fez o único golo da partida, oferecendo assim ao seu clube a primeira coroa de glória da sua história. Ao clube e à cidade de Manchester, que através do City vencia o primeiro de muitos e pomposos títulos que iria arrecadar ao longo da história. A época de 1903/04 fica ainda assinalada pela chegada à cidade de um homem que faz igualmente parte da história dos dois emblemas, Ernest Mangnall. Natural de Bolton (1866) ele foi o único homem que até aos dias de hoje treinou o City e o United. Depois de três temporadas no Burnley, onde iniciou a sua carreira de técnico, Magnall seria contratado pelo United em 1903, que na altura percorria os caminhos da Second Division. Três anos depois da sua chegada a Bank Street - a segunda casa do clube, após a saída de North Road em 1893 - o técnico conduziu o Manchester United ao principal escalão do futebol inglês, após 13 anos de ausência. Esta não seria contudo a primeira grande alegria do técnico, que em 1907/08 iria tornar-se no primeiro treinador a vencer um grande título ao serviço do United: a First Division. Magnall entrava assim para a história do clube, ao vencer o primeiro grande título da sua história, e o primeiro título de campeão nacional da própria história da cidade de Manchester.

Primeiro grande escândalo do futebol leva Meredith do City para... o United

Meredith com o manto
sagrado do País de Gales
Este êxito inicial do United foi alcançado muito graças à performance da grande estrela do futebol britânico - e não só - de então: Billy Meredith! Ao longo de décadas foram muitas as figuras do futebol apelidadas de traidores pelos adeptos dos dois emblemas, na sequência da troca de camisolas entre o City e o United, ou vice-versa. Também aqui Meredith entrou na história, por ter sido o primeiro jogador a atuar pelos dois emblemas da cidade, uma troca envolta em alguma polémica, já que resultou daquele que é considerado como o primeiro grande escândalo do futebol a nível mundial, e que envolveu a então grande estrela do jogo. Corria o ano de 1905 quando Meredith terá tentado subornar Alex Leake, o capitão do Aston Villa - com 10 libras -, para que este influencia-se os seus companheiros no sentido de facilitar uma vitória crucial do City na corrida ao título inglês desse ano. O caso foi descoberto e o City entrou em litígio com o seu capitão e principal referência da equipa, tendo este, em jeito de vingança, denunciado outros casos de corrupção no seio do clube, facto que levou à sua saída de Hyde Park. O astro galês deixava o City com um impressionante registo de 145 golos marcados em 338 jogos disputados ao longo dos oito anos em que envergou a camisola blue sky. O United viu a saída de Meredith do seu vizinho como a grande oportunidade para colocar o clube no caminho da glória. O emblema disponibilizou então 500 libras para pagar à Football Association a multa que levantava a suspensão do atleta. Dinheiro bem gasto, terão, por certo, pensado pouco depois os dirigentes do Manchester United, já que Meredith rapidamente assumiu o papel de estrela da companhia, conduzindo através do seu invulgar talento o clube a inúmeras conquistas. Fez a sua estreia pelo United a 1 de janeiro de 1907, ante o Aston Villa - o clube que o tramou no caso dos subornos - saindo dos seus pés de mago o cruzamento para Sandy Turnbull fazer o único golo com que clube de Manchester venceu a partida.

Imagem da final da Taça de Inglaterra
de 1909, vencida pelo United
Com as cores do Manchester United, Billy Meredith conquistou a esmagadora maioria dos títulos logrados na sua carreira, tendo o primeiro deles ocorrido na temporada de 1907/08, altura em que vence o já referido campeonato nacional. Feito repetido em 1910/11. Mas a jóia da coroa era mesma a FA Cup, competição que o galês iria vencer ao serviço do United em 1909, quando no Crystal Palace Stadium o United venceu por 1-0 a Bristol City, tendo o obreiro desse triunfo sido o príncipe dos pontas, como também era já conhecido Meredith. O jogador ficou eternizado na história do futebol não só pela sua talentosa forma de interpretar o belo jogo como também pelo facto de ter jogador até quase aos 50 anos de idade! É verdade. 49 anos e oito meses, era esta a idade precisa no dia em que o galês fez as suas despedidas dos relvados, fazendo-o com as cores do... Manchester City. Em 1921 ele abandona o United com 35 golos marcados em mais de 335 jogos disputados, e regressa ao vizinho City onde joga até quase aos 50 anos (em 1924). Em 1923 ele ainda leva o City às meias-finais da FA Cup, precisamente um ano depois de ter representado o País de Gales pela última vez, com 48 anos, tornando-se assim no jogador mais velho a vestir o manto sagrado galês. O seu derradeiro encontro pelo City aconteceu a 29 de março de 1924, num duelo diante do Newcastle United, precisamente o clube que apadrinhou a estreia de Meredith em 1894. 40 anos tinham passado desde então! Penduradas as chuteiras comprou um hotel em Manchester, dedicando-se à hotelaria, vindo a falecer a 19 de abril de 1958.

Ernest Mangnall, o único homem
que treinou os dois principais
clubes de Manchester
O galês foi a principal referência do United dentro do retângulo de jogo, mas o arquiteto destes êxitos - dois campeonatos e uma FA Cup - foi, sem margem para dúvida, Ernest Mangnall, o primeiro grande manager do clube. Após nove temporadas à frente dos destinos do United, Magnall choca a cidade ao atravessar a rua para a casa do vizinho, isto é, assumir o comando técnico do City. O treinador abandonava o Manchester United envolto num clima de alguma polémica, já que no confronto entre os dois vizinhos da cidade ocorrido em setembro de 1912, o qual foi ganho pelo City (1-0), Mangnall não conseguiu disfarçar a alegria pela vitória do adversário! Um sinal, por certo, da mudança que viria a acontecer na temporada de 1912/13. A estadia do técnico em Hyde Road não foi, contudo, tão feliz quanto havia sido em Bank Street, e muito por culpa da I Grande Guerra Mundial, que além de roubar alguns dos melhores jogadores britânicos de então, parou as competições futebolísticas entre 1916 e 1919. Ernest Mangnall orientou pela última vez o City em 1924, colocando um ponto final em oito temporadas sem a obtenção de qualquer coroa de glória. No total orientou os dois emblemas de Manchester em 821 ocasiões (471 pelo United e 350 pelo City), sendo até hoje o único treinador que trabalhou nos dois clubes, como já foi dito.

E eis que se ergue majestosamente o Teatro dos Sonhos

Um desenho de Old Trafford no início da sua existência
1910 é outro ano digno de registo na história do futebol de Manchester. Diríamos mesmo na história do futebol internacional. Ano este em que é oficialmente inaugurado aquele que é hoje um dos mais célebres estádios de futebol do Mundo, palco de centenas de inesquecíveis capítulos da história do jogo, a esmagadora maioria deles escritos em tons de vermelho, branco e preto, as cores adotadas pelo United: o Old Trafford. A obtenção dos títulos de campeão nacional (1908) e da FA Cup (1909) fez com que os dirigentes do Manchester United elevassem a fasquia da ambição. Queriam mais vitórias, mais títulos, e por consequência mais prestígio, mas para tal era preciso uma casa mais moderna e funcional do que Bank Street, e nesse sentido foi projetado o Old Trafford. Este recinto acabou por ser um sonho concretizado do homem que em 1902 salvou o Newton Heath da bancarrota, e que posteriormente mudou o nome do clube para Manchester United. Esse mesmo homem (John Henry Davies) que após as primeiras conquistas do reformulado emblema afirmou que Bank Street não se adequava à grandeza de uma equipa vencedora como a do United. Do seu próprio bolso doou uma grande parte da verba que seria usada para a construção de Old Trafford, um projeto da autoria do arquiteto Archibald Leitch. Com o passar das décadas o estádio, inicialmente projetado para aproximadamente 60.000 pessoas, tornar-se-ia num local de culto para os adeptos do United, que aqui testemunharam a ascensão global do clube.
Aspeto de uma das bancadas de Old Trafford após o bombardeamento de 1941
Old Trafford sofreu inúmeras mudanças ao longo de mais de 100 anos de vida. Mudanças consequentes de momentos de glória, mas também de momentos de tristeza. O primeiro momento de dor aconteceu no início da década de 40, altura em que deflagrava a Segunda Guerra Mundial. Em 1941, na sequência de bombardeamentos ao Reino Unido, Old Trafford é atingido, e quase é destruído. Esse facto obrigou a que o recinto fosse praticamente reconstruído, e até 1949 o City albergou no seu estádio - Maine Road - o seu eterno vizinho e rival United. Bonito gesto, sem dúvida. Na reconstrução o estádio foi ampliado, chegando em certos períodos da sua história a albergar 80.000 pessoas. Os grandes eventos desportivos planetários realizados em Inglaterra na segunda metade do século XX, mais concretamente o Campeonato do Mundo de 1966 e o Campeonato da Europa de 1996, usaram Old Trafford como palco, e nesse sentido, em cada um desses eventos, o estádio foi sofrendo melhorias (em 1973 foi totalmente coberto, por exemplo), que fizeram com que hoje - com uma lotação de 75.790 espectadores - este seja um dos recintos desportivos mais modernos e belos do Mundo. A juntar à componente visual, por assim dizer, esta catedral carrega consigo uma mística ímpar, muito devido ao trajeto que o United foi fazendo ao longo do século XX, em especial nas décadas de 50, 60, 80 e 90, onde atingiu a glória nacional e internacional, a qual faria de si um emblema amado em todo o planeta. Destacar um jogo emblemático da história deste recinto é uma tarefa árdua, pois foram muitos as noites e tardes de glória que o United aqui viveu, facto que um dia levou uma das maiores lendas do clube, Bobby Charlton, a apelidar o estádio de Teatro dos Sonhos. O nome ficou... para a eternidade. Old Trafford é ainda hoje o estádio com maior afluência de toda a Premier League, sendo que o Manchester United é dos poucos clubes a nível mundial que quase não vende bilhetes para os seus jogos caseiros, já que estes são adquiridos no início de cada temporada pelos seus sócios.

Da tragédia à glória, eis o caminho trilhado por Matt Busby ao serviço do United

Ironia do destino: depois de ter jogado no
City e no Liverpool (grandes rivais do United)
Matt Busby atingiu a glória em Old Trafford
1928 é outro ano vincado na vida futebolística de Manchester. Ali chegava um jovem escocês oriundo de uma família humilde de Orbiston, que haveria de dar o primeiro passo para que a cidade seja hoje vista como a capital do futebol internacional. Alexander Mattew Busby, de seu nome. Nasceu em maio de 1909, tendo cedo ficado órfão de pai, uma das muitas vítimas da Primeira Guerra Mundial. Para ajudar a mãe e as três irmãs, Matt, como era conhecido, seguiu as pisadas do progenitor, e com 16 anos foi trabalhar para as minas. Nos tempos livres, dedicava-se ao football, a sua grande paixão. Destacou-se enquanto centro-campista em clubes locais, facto que despertou o interesse do gigante escocês Rangers, clube ligado à comunidade protestante de Glasgow, que só não contratou Busby porque descobriu que este era católico! Viajou então para Manchester, onde assinou um vínculo profissional com o City. Tinha então 18 anos de idade. Com a camisola blue sky Matt Busby - o seu nome de guerra - disputou 227 jogos entre 1928 e 1936, sendo que esmagadora maioria destes encontros foi desenrolada no principal escalão do futebol inglês, a First Divison. Pelos citizens prova por uma única vez o sabor de uma grande conquista, no caso a FA Cup de 1934, quando em Wembley o City derrotou o Portsmouth por 2-1 e arrecadou o segundo troféu da sua história no seio da popular competição. Em 1936 é transferido por um valor de 8.000 libras para o Liverpool, onde esteve somente três temporadas, nas quais coletivamente não conheceu qualquer alegria. A Segunda Guerra Mundial colocou um ponto final na carreira de Busby, obrigado a alistar-se no Regimento Real de Liverpool. Em meados dos anos 40 Matt Busby é contactado pelo seu amigo Louis Rocca, então dirigente do Manchester United, que o convida a assumir o comando técnico do clube. Algo que acontece em fevereiro de 1945, sendo que dali para a frente nada seria como dantes. Busby, na altura com 36 anos, transformou por completo o United, fazendo deste um emblema competitivo, que proporcionava aos seus adeptos - e não só - grandiosos espetáculos, ou não fosse o escocês um fervoroso adepto do jogo bonito. Centrou em si as decisões importantes do clube, quer no que concerne ao treino, quer na política de contratações e vendas de jogadores.

Matt Busby ergue um dos muitos
troféus conquistados por si ao serviço dos red devils
O primeiro grande sucesso é obtido em 1948, ano em que guia o United à conquista da FA Cup - vitória em Wembley, por 4-2, sobre o Blackpool, onde então pontificava o lendário Stanley Matthews - que colocava o fim de um jejum de 37 anos (!) no diz que diz respeito a títulos para o clube de Manchester. Dirigindo um grupo de jogadores formado antes da Segunda Grande Guerra Mundial, Busby alcança um novo sucesso nacional quatro anos mais tarde, quando vence a First Division com 57 pontos. Este ceptro colocaria um ponto final numa geração onde sobressaiam nomes como Johnny Berry, John Downie, Stan Pearson, ou o goleador Jack Rowley (que ao serviço do United apontou 182 golos em 380 encontros disputados). E é a partir deste ponto que a revolução do escocês ao leme do clube conhece o seu ponto de viragem. Com o fim de uma geração de jogadores, Busby sentiu que tinha de começar do zero a construir uma equipa competitiva, brilhante sobre o ponto de vista técnico, e sobretudo capaz de ombrear com qualquer que fosse o adversário. É então que faz uma aposta vincada na formação do United, promovendo uma série de jovens jogadores oriundos das camadas jovens, casos de Dennis Viollet, Bobby Charlton, Roger Byrne, Jackie Blanchflower, Harry Gregg, ou Duncan Edwards, este último considerado um verdadeiro génio dos relvados. Matt Busby moldou à sua maneira este grupo, e transformaria o United numa das equipas mais temidas e brilhantes não só de Inglaterra como do resto do Velho Continente. E assim nasciam os Busby Babes. Os frutos desta mudança começaram a ser colhidos em 1956, quando o Manchester United venceu a liga com mais 11 pontos que o segundo colocado, o Blackpool. No ano seguinte os bebés do técnico escocês repetem a façanha, entrando assim para a história como a primeira equipa da cidade a alcançar dois títulos de campeão nacional consecutivos. Inglaterra estava já conquistada, e o próximo passo seria a Europa.
A última fotografia dos Busby Babes antes da tragédia de Munique
A Taça dos Clubes Campeões Europeus vivia em finais dos anos 50 os seus primeiros tempos de vida. O Real Madrid havia dominado as primeiras duas edições da prova, mas em 57/58 os espanhóis tinham um adversário de peso no assalto à reconquista do título, precisamente o Manchester United de Matt Busby. Os miúdos ingleses encantavam a Europa com o seu futebol virtuoso, até que a tragédia bateu-lhes à porta. No dia 6 de fevereiro de 1958 o United regressava de Belgrado, onde havia empatado a três bolas diante do Estrela Vermelha em partida da segunda mão dos quartos de final da competição organizada pela UEFA. A delegação do clube, que além de jogadores, treinadores, e dirigentes, era ainda composta por vários jornalistas, fez escala em Munique, para reabastecer a aeronave Airspeed AS-57 Ambassador que os iria levar de regresso a casa. Naquele dia a cidade alemã era coberta por um gélido manto branco (neve). O avião do United tentou, sem sucesso, levantar voo por duas ocasiões, mas o comandante e o co-piloto teimosamente recusaram-se a pernoitar em Munique, dadas as péssimas condições climatéricas para fazer a viagem até Manchester.

A imagem do Airspeed AS-57 que transportava
a comitiva do United após o acidente
Deram início então a uma terceira tentativa de levantar voo, a qual viria a revelar-se fatal. Numa pista de gelo o avião não consegue a velocidade suficiente para descolar e embate contra o gradeamento do aeroporto, incendiando-se quase logo de seguida. Duas dezenas de passageiros perderam a vida, entre eles oito jogadores do United, sendo que a grande estrela da equipa, Duncan Edwards, viria a falecer no hospital de Munique 15 dias depois do acidente. O próprio Matt Busby esteve vários dias internado, entre a vida e a morte. O escocês viria a recuperar, e no regresso a uma casa que ainda chorava a morte dos seus entes queridos lançou uma emocionada promessa: «Dêem-me cinco anos que eu irei construir a melhor equipa de sempre do United». Dito e feito. Com a ajuda de Bobby Charlton - um dos sobreviventes do acidente de Munique - em campo, Busby reconstruiu o clube. Formou novos talentos, uma espécie de segunda geração dos Busby Babes, onde pontificavam nomes como Nobby Stiles, Dennis Law, ou George Best - o filho pródigo de Belfast -, alcançando, de novo, o patamar da glória. O primeiro sucesso depois da tragédia de Munique ocorreu em 1963, na catedral do futebol britânico, Wembley, onde o United ao bater o Leicester City por 3-1 voltava a colocar as mãos da famosa FA Cup. Dois anos mais tarde reconduz o emblema ao topo da liga inglesa, terminando o campeonato com os mesmos pontos (61) do que o Leeds United, mas com melhor goal-avarege, facto que conferiu aos red devils - como entretanto começavam a ficar conhecidos os jogadores do United um pouco por todo o Velho Continente - o sexto título de campeão nacional da sua história.

Prisioneiro de guerra alemão torna-se herói do City

Bert Trautmann, uma lenda do City
Os anos 50 ficaram sublinhados na história de Manchester pelo aparecimento nos retângulos de jogo britânicos de uma das maiores lendas da história do City. Mais do que uma lenda este homem é um herói, e a sua história de vida é típica de um filme ao estilo de "Fuga para a Vitória". Bernhard Carl Trautmann, um cidadão alemão nascido (1923) em Bremen defendeu a baliza dos Citizens em mais de 500 ocasiões, entre 1949 e 1964, mas antes de calçar as luvas a sua vida conheceu capítulos peculiares que davam aso à realização do tal filme. Trautmann viveu uma juventude difícil, muito por culpa da Segunda Guerra Mundial, que o aprisionou na flor da idade. Durante o conflito bélico o jovem Trautmann foi paraquedista da Força Aérea Alemã, tendo combatido durante três anos na Frente Oriental, sendo que o seu desempenho enquanto soldado mereceu-lhe a atribuição de algumas mensões honrosas, entre outras a medalha da Cruz de Ferro. Na Frente Oriental foi capturado pelos britânicos e feito seu prisioneiro de guerra. Foi então transferido para um campo de prisioneiros de guerra em Ashton-in-Makerfield (Lancashire), onde acabaria por ser uma das principais atrações dos habitantes locais devido aos seus dotes... futebolísticos. Ante equipas amadoras locais, Trautmann revelou-se um brilhante guardião da baliza dos prisioneiros de guerra, acabando em 1948, ano em que foi libertado, por recusar a repatriação, optando por continuar em Inglaterra, onde abraçou um emprego na agricultura, ao mesmo tempo em que passou a defender as balizas do emblema amdor de St. Helens Town. No plano desportivo rapidamente Bernhard Trautmann, que em Lanchashire passou a ser conhecido como Bert, chamou a atenção de emblemas de maior projeção, entre eles o Manchester City, que em 1949 o contrata. No entanto, esta esteve longe de ser uma aquisição pacífica, já que os adeptos dos citizens não viam com bons olhos o facto de a sua equipa principal ser integrada por um descendente do império nazi. As feridas da guerra estavam ainda bem abertas, e os próprios jogadores do City fincaram o pé à contratação de Trautmann.

Jogadores do City amparam Bert Trautmann,
que jogou 17 minutos com o pescoço fraturado na
final da FA Cup de 1956
Fizeram-se abaixo assinados em toda a cidade contra a contratação do antigo prisioneiro de guerra alemão, as comunidades judaícas da cidadão fizeram manifestações nas ruas, mas a perícia do alemão na baliza acabou por silenciar as vozes de protesto, e com o tempo acabaria por tornar-se num dos jogadores mais queridos da massa adepta do City! É caso para dizer que o futebol curou as feridas da guerra. Em 1956 Bert Trautmann entra na história do próprio futebol inglês, não só porque foi eleito o melhor jogador da First Division desse ano ou por ter vencido a FA Cup ao serviço do City, mas porque o fez (neste último facto)... com o pescoço partido! A pouco mais de um quarto de hora do término da final disputada entre o Manchester City e o Birmingham City, Trautmann fratura o pescoço após uma saída aos pés de um avançado contrário. Visivelmente afetado o alemão decide continuar no jogo, em sofrimento, ajudando a sua equipa a conquistar aquela que era a terceira Taça de Inglaterra da história dos blue sky. No final, Trautmann foi levado em ombros pelos seus colegas de equipa, não só pela brilhante exibição que fez nessa tarde em Wembley, mas pelo ato heróico que o transformou em lenda do futebol inglês. Viria a falecer em 2013, aos 89 anos.

Manchester festeja a glória europeia em dose dupla!

Um jogo do City nos anos 40
Os finais dos anos 60 atraíram até Manchester os holofotes da fama, não só pelo encanto que a segunda geração dos Busby Babes provocava em todos os adeptos do belo jogo, mas igualmente pelo facto de o Manchester City viver então o melhor período da sua história. Recuando um pouco no tempo, os anos 30 e 40 poucas ou nenhumas alegrias futebolísticas conferiram à cidade de Manchester. As exceções foram as já referidas FA Cup's arrecadadas pelo City em 1934 e pelo United em 1948, bem como o título da First Division que os Citizens conquistaram em 1937, o primeiro - no âmbito deste competição - da história do clube cujo domicílio era já Maine Road, estádio inaugurado em 1923 e que foi durante oito décadas a fortaleza do City. O letal avançado irlandês Peter Doherty foi um dos principais obreiros do título de campeão nacional dos blue sky em 36/37, já que dos impressionantes 107 golos marcados pela equipa nessa temporada 30 foram da sua autoria. Na época seguinte o City não evitou a descida de divisão (!), sendo este um exemplo da inconstância - entre o êxito e o fracasso - exibida pelo clube ao longo da maior parte da sua existência, ficando assim, de certa forma, explicado o facto de ter caminhado quase sempre na sombra do vizinho United. Mas tal não aconteceu em 1967/68, temporada em que se assiste a uma intensa luta entre os dois emblemas de Manchester pela conquista do título nacional, tendo o City levado a melhor sobre os Busby Babes por apenas dois pontos de diferença (58 contra os 56 do United, que foi vice-campeão).

Bobby Charlton ajuda a carregar o troféu mais emblemático
do legado de Matt Busby no Manchester United
Porém, não foram apenas os Citizens a ter razões para sorrir na referida season, já que os Red Devils confirmaram o estatuto de gigantes do futebol continental após baterem em Wembley o Benfica de Eusébio e companhia na final da Taça dos Campeões Europeus. Uma vitória expressiva (4-1) do United, que assim se tornava no primeiro clube inglês a sagrar-se campeão europeu. Foi uma noite memorável para Charlton, Best, Kidd e Stiles, alguns dos Busby Babes que encantavam por aquela altura o Planeta da Bola. O título continental era como um prémio ao talento, ao trabalho e à crença demonstrados por Matt Busby ao longo das últimas duas décadas, onde nas quais catapultou o United para o patamar de grande equipa internacional. Hoje, olhando para trás, não será descabido dizer que foi com Busby - que nesse ano de 1968 seria armado cavaleiro britânico - que os red devils começaram a atingir a dimensão mundial de que atualmente goza. Dimensão esta que seria cimentada - ou até mesmo ampliada - cerca de duas décadas mais tarde, por intermédio de outro mestre da tática escocês: Alex Ferguson.
Não querendo continuar na sombra do seu vizinho e rival United, o City parte em 1969/70 rumo aquela que até hoje é a sua única proeza internacional: a conquista da Taça dos Vencedores das Taças, então a segunda prova mais importante da UEFA.


Jogadores do City erguem nos céus de Viena
o seu único (até à data) troféu europeu
 
Esta vitória surge na sequência do triunfo (1-0) obtido na final da FA Cup de 1969, diante do Leicester City. Uma dupla de treinadores arquitetou este êxito internacional: Joe Mercer e Malcom Allison. Durante cerca de oito anos estes dois homens proporcionaram aos adeptos do City vivenciar aquela que é hoje vista como a primeira era dourada da história do emblema, culminada com a subida ao segundo patamar mais importante do futebol continental, como consequência da conquista da referida Taça das Taças. Feito alcançado em Viena, no Estádio do Prater, onde o Manchester City bateu os polacos do Górnik Zabrze por 2-1. Neste grupo vencedor destacava-se um extremo de habilidade notável, capaz de rivalizar com uma das grandes estrelas do rival de Manchester, George Best, e a voz de comando da dupla Mercer/Allison dentro do retângulo de jogo. Mike Summerbee, de seu nome. 1969/70 fica ainda marcada pela primeira conquista da Taça da Liga por uma equipa de Manchester, neste caso o City - viveu uma temporada de glória, sem dúvida - que ao derrotar em Wembley o West Bromwich Albion por 2-1 arrecadou o terceiro troféu mais importante do futebol inglês.
Após terem alcançado a consagração internacional ambos os emblemas entraram numa crise de êxitos na década de 70, tendo as exceções ocorrido em 1976, ano em que o City trouxe para Manchester uma nova Taça da Liga (após ter batido em Wembley o Newcastle United por 2-1), e em 1977, quando um United muito longe da fama e glória alcançadas na década de 60 - em 74/75 passou mesmo pela Second Division - derrotou na final da FA Cup aquela que era não só a melhor equipa da Velha Albion mas também do futebol continental, o Liverpool, de Bob Paisley. O decréscimo de vitórias, e por consequência de títulos, dos dois combinados de Manchester muito se ficou a dever à saída dos arquitetos da glória nacional e internacional dos anos 60 e princípios dos 70.

Estátua de Sir Matt Busby
em Old Trafford
O United ficou órfão do homem que o tornou gigante à escala mundial, Matt Busby. Ao fim de 25 anos de trabalho de campo, Sir Matt Busby decide abandonar os bancos, passando a exercer o cargo de diretor-geral do clube, sendo que em 1980 chega mesmo à presidência dos red devils. Em 1994, aquele que ainda hoje é visto como o criador do Manchester United enquanto emblema de dimensão planetária falecia vítima de leucemia. A cidade e o clube jamais o esquecerão, sendo exemplo disso o facto de uma das ruas nas imediações de Old Trafford ter sido batizada com o seu nome, para além de junto ao mítico estádio existir a estátua de uma lenda da tática que enquanto jogador vestiu as camisolas dos dois grandes rivais do United, o City, no plano local, e o Liverpool, a nível nacional. Ironia do destino. E se em Old Trafford a saída do mentor do grande Manchester United da década de 60 trouxe aos adeptos do clube uma década e meia de sofrimento, em Maine Road a saída da dupla Mercer/Allison - em 1972 - deu aso a uma longa travessia no deserto de cerca de 40 anos! Quatro décadas onde o City foi caminhando de forma tímida na First Division - e algumas épocas na Second Division - na sequência de resultados modestos. Pior do que isso os adeptos citizens testemunharam o renascimento do United que pela mão de um outro génio escocês regressou ao topo do futebol planetário na década de 90. No verão de 1986 chega a Manchester um promissor treinador escocês proveniente do modesto Aberdeen. Modesto em termos de dimensão, em comparação com os dois gigantes da Escócia, isto é, o Rangers e o Celtic, já que no cenário desportivo da Escócia dos anos 80 os reds eram um verdadeiro tormento para os emblemas de Glasgow. O grande responsável pelo meteórico crescimento do Aberdeen foi um ex-jogador do Rangers que a meio dos anos 70 iniciou uma brilhante carreira de treinador que o haveria de conduzir à imortalidade. Alexander Chapman Ferguson, de seu nome completo.

Um outro cidadão escocês devolve a glória mundial ao United

Alex Ferguson celebra com o seu
capitão de equipa (Brian Robson) a conquista
do seu primeiro troféu ao serviço do United, a FA Cup
Depois de passagens pelos bancos do East Stirlingshire e do St. Mirren na segunda metade da década de 70, Alex Ferguson, como mundialmente se deu a conhecer ao Mundo, assumiu em 1978 os destinos do Aberdeen, levando este emblema não só ao topo do futebol escocês - com a conquista de três campeonatos nacionais, quatro Taças da Escócia e uma Taça da Liga - como do próprio desporto rei continental na sequência de um épico e surpreendente triunfo sobre o colosso Real Madrid na final da Taça das Taças de 1983. O trabalho realizado por Ferguson em Aberdeen chamou, naturalmente, à atenção dos grandes emblemas britânicos, e em 1986 o Manchester United contrata o promissor técnico, então com 45 anos, com o objetivo claro de recolocar o clube no topo do futebol e acabar com o domínio avassalador do grande rival - a nível nacional - Liverpool. Os primeiros anos de trabalho de Ferguson em Old Trafford não foram fáceis, muito pelo contrário. Os (bons) resultados tardavam em aparecer, o Liverpool continuava a colecionar títulos, soma esta que fazia com que os adeptos do United começassem a perder a paciência com o técnico, tendo muitos deles exigido à Direção a cabeça do escocês. Em boa hora os responsáveis do clube travarem este ímpeto dos supporters, pois em 1990 chegou o primeiro de muitos troféus (a FA Cup) que Ferguson iria dar ao United, e mais do que isso estava dado o primeiro passo para que os inquilinos de Old Trafford se tornassem nos anos seguintes num dos emblemas mais populares e poderosos do Mundo. Os anos 90 comprovaram a mestria de Ferguson enquanto formador e condutor de equipas, já que seis dos dez campeonatos - da Premier League - da citada década foram ganhos pelo United, enquanto que a FA Cup seria levada para o museu do clube em quatro ocasiões, e a Taça da Liga por uma ocasião. Contando com jogadores de craveira internacional como Brian Robson, Eric Cantona, Roy Keane, Peter Schmeichel, ou Mark Hughs, aos quais juntou alguns diamantes por si lapidados que haviam sido extraídos da formação do clube, tais como os irmãos Neville (Phil e Gary), Nicky Butt, Paul Scholes, Ryan Giggs, ou David Beckham, o escocês reconduziu o United à glória internacional.

Ferguson e os seus Fergie Babes viveram uma noite
louca em Barcelona
O primeiro passo foi dado em 1991, quando na Banheira de Roterdão os red devils derrotaram o Barcelona de Cruyff na final da Taça das Taças, fazendo desta forma que o regresso dos clubes ingleses às competições europeias - após cinco épocas de ausência devido ao castigo que lhes foi imposto pela UEFA na sequência da tragédia do Heysel, em 1985 -, enquanto que o segundo ocorreu já perto do final do século XX, numa noite épica vivida em Barcelona. Uma noite que encerrou uma temporada (98/99) de sonho para o Manchster United, que entrava para a restrita galeria mundial dos clubes que haviam vencido o treble, isto é, o campeonato nacional, a principal taça nacional e a mais famosa de todas as competições uefeiras, a Taça dos Campeões Europeus, então já denominada de Liga dos Campeões. Uma vitória lendária, ao nível de um conto de fadas, que teve como palco o Camp Nou de Barcelona, onde aos 90 minutos o United perdia por 1-0 diante do Bayern de Munique. Num ápice tudo mudou. No período de descontos os red devils deram a volta ao marcador e trouxeram de novo a taça das orelhas grandes para Manchester. Fergie tinha definitivamente conquistado o coração dos adeptos, tornando-se assim num digno sucessor do seu compatriota Matt Busby. Tal como este, Alex Ferguson recebeu da realeza inglesa o reconhecimento pelo seu majestoso trabalho, ao ser armado cavaleiro britânico. Estava contudo ainda muito longe de terminar a história do agora Sir Alex Ferguson ao serviço de um clube que já no novo milénio iria ser engolido pelo sistema capitalista que entretanto se começava a apoderar do futebol planetário.

Cristiano Ronaldo, o génio por detrás da terceira
Taça/Liga dos Campeões Europeus do United
Perante a partida de alguns dos seus melhores talentos para outras paragens, o escocês respondia com contratações cirúrgicas de novos génios, como por exemplo, Cristiano Ronaldo, em 2003. O português, formado nas escolas do Sporting, mostrou-se um digno herdeiro da mítica camisola número 7 do United, eternizada por lendas como George Best, Brian Robson, Eric Cantona, ou David Beckham. Com o astro luso no comando das operações, Ferguson fartou-se de ganhar na primeira década do século XXI, conforme atestam as sete Premier Leagues arrecadadas, as três Taças da Liga e uma outra FA Cup. Por esta altura, já o United era visto como o clube mais rico e famoso do Mundo - com mais de 330 milhões de seguidores -, e mais ficou quando numa noite chuvosa em Moscovo, Fergie deu ao clube - em 2008 - a sua terceira Taça/Liga dos Campeões Europeus após um triunfo nas grandes penalidades sobre o milionário Chelsea de Roman Abramovich. Após quase três décadas de glória Sir Alex Ferguson decide em 2013 afastar-se do campo de batalha, colocando um ponto final numa carreira ímpar. E tal como havia acontecido com Busby no início da década de 70 também o adeus de Fergie parece ter trazido alguma instabilidade ao clube, que de lá para cá tem andado arredado do caminho do êxito.
Em meados dos anos 90 do século passado o futebol passou a ser alvo da cobiça dos grandes grupos económicos mundiais, ou por multimilionários que viam no belo jogo uma forma de triunfar no que ao plano financeiro diz respeito. Foi, contudo, já no novo milénio que o futebol passou a ser visto como uma indústria, uma máquina de fazer muito, mas muito, dinheiro. Um pouco por todo o Mundo largas dezenas de clubes foram sendo comprados pelo sistema capitalista que tomou conta da modalidade, e transformados em novas potências da bola. Alguns desses clubes viviam na sombra dos grandes emblemas do planeta, mas com a chegada dos petrodólares do Oriente passaram a fazer parte da elite do futebol, ombreando com, e até superando, gigantes como o Barcelona, Real Madrid, Bayern de Munique, ou o próprio Manchester United.

Petrodólares permitem que o City passe a olhar olhos nos olhos o vizinho United

Roberto Mancini e Mansour Bin Zayed, a dupla
que devolveu a glória ao City já no novo Milénio
Um desses novos ricos foi precisamente o Manchester City, clube que em 2008 é comprado pelo multimilionário árabe Mansour Bin Zayed, que chega à cidade do condado de Lancashire com a ambição de fazer dos sky blues a melhor equipa do Mundo. Nesse sentido, foram desde então contratados diversos futebolistas de topo, casos de Carlos Tévez (ao rival United), Yaya Touré, Joe Hart, Patrick Vieira, Kun Aguero, ou David Silva, que sob a orientação de treinadores consagrados como Roberto Mancini, ou mais recentemente Manuel Pellegrini, devolveram a glória, pelo menos a nível interno, aos citizens, como compravam as duas Premier Leagues conquistadas (em 2011/12 e 2013/14), a FA Cup de 2010/11 e as Taças da Liga de 2013/14 e 2015/16. O City vive desta forma a segunda era dourada da sua centenária vida. Hoje, graças ao investimento de Mansour Bin Zayed, os citizens podem finalmente olhar olhos nos olhos o seu vizinho e grande rival da cidade, ambicionado por estes dias colocar as mãos no troféu mais desejado a nível mundial por clubes e jogadores, a Taça/Liga dos Campeões Europeus.
Porém, existem adeptos que não se revêem nesta política capitalista que impera no futebol atual. Adeptos que continuam enamorados pelo romantismo que durante décadas pairou sobre o futebol um pouco por todo o Mundo. Com a compra do United em 2005, pelo multimilionário Malcon Glazer, um grupo de adeptos dos red devils decidiu mostrar o seu descontentamento perante este facto, e fundaram o Football Club United of Manchester. Recusando a ideia de integrar o universo do futebol enquanto indústria manipulada pelo grande capital, este clube espelha o tal lado romântico e puro do football, sendo gerido pelos próprios associados, que fim-de-semana após fim-de-semana apoiam a equipa nas competições semi-profissionais do futebol britânico.
Um cumprimento antes
de um dérbi de Manchester
nos anos 40
Conforme o próprio nome faz referência o City sempre foi o clube com mais adeptos na cidade de Manchester, mas o United é um dos emblemas com mais supporters espalhados pelo Mundo! Ao longo da sua centenária história os dois vizinhos e rivais da cidade já se defrontaram em mais de 170 ocasiões - 171 para sermos mais precisos - até ao dia em que escrevemos estas linhas. Em termos de vitórias a balança pende claramente para os red devils, que venceram os citizens por 71 vezes, enquanto que o contrário ocorreu em 49 ocasiões. Registaram-se 51 empates entre os dois filhos pródigos de Manchester. Wayne Rooney, atual estrela do Manchester United, é o futebolista com mais golos (11) apontados no dérbi da cidade, enquanto que o galês Ryan Giggs é o jogador que mais vezes (36) entrou em campo para jogar o clássico de Manchester. Como já foi dito nas primeiras linhas desta visita virtual, esta cidade assumiu desde cedo um papel preponderante na popularização e cimentação do football na cultura britânica. Não é pois à toa que o Museu Nacional do Futebol inglês esteja situado em Manchester, sendo que nas suas vitrinas estão guardados centenas de capítulos não só do football local como de outros cantos do Mundo, factos que fazem com que quem o visita se sinta realmente na capital mundial do futebol.

Portugal dá-se a conhecer ao Mundo enquanto potência do futebol em Old Trafford 

Eusébio leva dois húngaros ao
tapete verde de Old Trafford
no Mundial de 1966
Conforme já foi dito nas últimas linhas, Manchester foi ao longo da sua história palco de centenas de lendárias batalhas futebolísticas, algumas delas integradas nas mais importantes competições do belo jogo à escala planetária. 1966 é um ano especial para o futebol inglês. É o ano em que os inventores do futebol moderno organizam e vencem a competição desportiva mais importante do globo, o Campeonato do Mundo da FIFA. Mas se Booby Charlton, Nobby Stiles, Martin Peters, ou Bobby Moore podem ter erguido a Jules Rimet Cup no final do certame, Portugal e um tal de Eusébio ficaram na retina dos entusiastas do futebol como as figuras maiores desse Mundial. Até a entrada para este evento a seleção portuguesa era uma quase desconhecida do planeta da bola, chegando à Velha Albion como um dos combinados menos cotados à vitória final da oitava edição do Campeonato do Mundo. Manchester iria provar o contrário. Foi nesta cidade que o selecionado luso mostrou o seu potencial futebolístico a nível internacional. Integrada no Grupo 3, juntamente com a Bulgária, a Hungria e o super favorito Brasil, onde pontificava o astro Pelé, a seleção de Portugal deu início a uma inesquecível aventura em Old Trafford, quando a 13 de julho de 66 enfrentou e bateu por 3-1 a favorita Hungria, graças a golos de José Augusto e José Torres. Para aqueles que olhavam para este como um mero golpe de sorte de principiante - uma vez que os lusos faziam a sua estreia na competição da FIFA - Eusébio contrariou no jogo seguinte esses mesmos olhares desconfiados, ao guiar a seleção portuguesa a uma nova vitória, desta feita diante da Bulgária, por 3-0 - com golos de Eusébio, Torres e Vutsov (na própria baliza). A epopeia lusa teve continuidade em Liverpool, que assistiu às históricas vitórias ante o Brasil e a Coreia do Norte, terminando em lágrimas na catedral do futebol - Wembley - aos pés dos donos da casa. Para além desses dois jogos iniciais da campanha lusa, Manchester e o seu mítico Old Trafford receberam um outro encontro nesse Mundial de 66, o qual colocou frente a frente a Hungria e a Bulgária (3-1).

Alemães voltam a fazer estragos no Teatro dos Sonhos

Moller, Scholl e Klinsmann iniciaram em Old Trafford
os festejos da conquista do Euro 96
Já aqui foi dito que o mítico estádio de Old Trafford viveu ao longo da sua história dezenas de tardes e noites memoráveis. Porém, outros episódios de profunda dor foram escritos na vida do recinto, como por exemplo os dias, meses e anos seguintes à tragédia de Munique em 1958, ou o bombardeamento pelos caças alemães em 1941. Mais de cinco décadas passadas deste triste momento que obrigou a uma profunda remodelação no estádio, eis que um grupo de alemães voltou a fazer estragos na catedral mais emblemática de Manchester. Desta feita não eram caças da Força Aérea germânica, mas um naipe de talentos futebolísticos que às ordens do mestre da tática Berti Vogts conduziu uma Alemanha (unificada) à glória continental. Nomes como Jurgen Klinsmann, Andy Moller, Matthias Sammer, ou Thomas Hassler iniciaram a caminhada vitoriosa em Old Trafford, onde realizaram quatro dos seis jogos disputados no Campeonato da Europa de 1996, que iria terminar da melhor forma em Wembley, onde após um triunfo por 2-1 sobre a República Checa - graças a um golo dourado de Oliver Bierhoff - coroou nesse ano os alemães como reis da Europa.
Manchester, e o seu Old Trafford mais precisamente, são locais onde os tiffosi italianos viveram bons e maus momentos da sua história. Neste último aspeto foi curiosamente no Europeu de 96 que a Itália - então vice-campeã do Mundo - disse adeus à possibilidade de seguir para os quartos-de-final da competição, após um nulo ante a futura campeã europeia, a Alemanha, no derradeiro e decisivo encontro do Grupo C - da primeira fase. Melhores memórias terão os adeptos do Milan, já que numa final 100 por cento italiana - ante a Juventus - somaram o seu sexto título da Taça/Liga dos Campeões após o ucraniano Andy Shevchenko ter convertido com êxito a última grande penalidade da série de tiros ao alvo com que a final foi decidida. Cinco anos volvidos, Manchester voltou a ser palco de decisões de uma competição uefeira, no caso a Taça UEFA, cuja decisão foi agendada para o novíssimo e moderno Estádio Cidade de Manchester, um recinto com capacidade para 55.000 pessoas inaugurado em 2002 para os Jogos da Commonwealth e que desde então passou a ser a casa do City. O batismo europeu do City of Manchester Stadium - hoje em dia por razões comerciais rebatizado como Etihad Stadium - ficou marcado pelo triunfo (2-0) dos russos do Zenit sobre os protestantes do Rangers nessa final da UEFA de 2008.

segunda-feira, abril 04, 2016

Museu Virtual do Futebol assinala 10 anos de existência!

Envergar a camisola número 10 é uma honra que por tradição está destinada aos grandes vultos do desporto rei. Por intermédio de Pelé, Maradona, Platini, Zidane, Francescoli, Gullit, Ronaldinho, Messi, Zico, Eusébio, entre muitos outros, o mítico dorsal ganhou ao longo de décadas fama global, fazendo com que todos os que pelo menos uma vez na vida a vestem se sintam de certa forma... especiais. É precisamente assim, especial, que o Museu Virtual do Futebol se sente no dia de hoje. Dia em que vestimos a mítica camisa 10 para entrar em campo e celebrar o nosso 10º aniversário! Pois é, uma década voou desde o dia em que as portas virtuais do Museu foram abertas ao Mundo. Sim, ao Mundo, já que ao longo destes 10 anos de atividade muitos têm sido aqueles que dos cinco continentes do globo nos visitam - já são mais de 500.000 - para connosco embarcar na máquina do tempo rumo ao passado deste modalidade pela qual nos sentimos cada vez mais apaixonados. Pensamos que 10 anos de atividade, seja no que for, é um feito de realçar, e perdoam-nos desde já aqui a existência de alguma falta de modéstia, mas num tempo em que o desânimo, a descrença e o sentimento de injustiça imperam em vários setores da sociedade, estar de portas abertas a fazer aquilo que mais gostamos é digno de registo. A fórmula desta inquebrável persistência? É simples: a desmedida paixão que temos pelo futebol, e pela sua extensa e valiosa história em particular. Paixão que foi crescendo ao longo desta década de vida, de tal maneira que nos sentimos preparados para enfrentar mais 10 anos... pelo menos. Falar do futuro é ainda idealizar novos projetos, novas rubricas, novos capítulos de uma história sem fim, consequentes de mais e profunda investigação, caminhos estes que percorremos com tanto, mas tanto, prazer. Resta-me - a mim, o comum mortal que está por detrás deste projeto - agradecer a todos aqueles que ao longo destes 10 anos aqui deram um salto, para recordar ou conhecer algum capítulo da centenária história do belo jogo, a todos os que me vão dando força para que o Museu continue de portas abertas ao... Mundo. Obrigado pelo apoio, obrigado pelos elogios, obrigado pela visita.