segunda-feira, setembro 18, 2006

Estrelas cintilantes (3)... Saeed Owairan

Senhores visitantes, uma vez que estamos na secção destinada às “estrelas cintilantes” do futebol mundial vamos aproveitar o “balanço” e continuar por aqui para fazer uma breve visita a outro “imortal” da bola. Certamente que, para muitos dos ilustres visitantes do Museu, este nome não diz absolutamente nada. Perguntarão: «Mas quem foi?», «Onde jogou, o que fez para merecer tal distinção?», pois bem, sosseguem, eu passo a contar de uma forma breve a história deste bravo “filho do deserto”.
Saeed Owairan nasceu a 19 de Agosto de 1967 na Arábia Saudita e desde cedo deu provas de que poderia tornar-se num grande artista da bola. E assim foi. Pena foi que o Mundo Ocidental raras vezes tivesse o privilégio de ver este homem com a bola nos pés. Daí, talvez, ser ainda hoje um ilustre desconhecido para os amantes do futebol ocidental. Saeed desenvolveu toda a sua carreira futebolística no seu país, numa época em que os grandes clubes europeus ainda estavam pouco virados para o mercado asiático.
Mas vamos ao que interessa, vamos ao grande momento que este homem viveu enquanto artista da bola, ou melhor, ao grande momento que ele proporcionou aos adeptos do futebol. Estavámos em 1994, mais concretamente no Mundial de Futebol que nesse ano teve lugar nos Estados Unidos da América. Saeed Owairan era um dos 23 jogadores que integravam a estreante – em Mundiais - selecção da Arábia Saudita, equipa que se viria a tornar numa das grandes revelações da prova.
Mas o grande momento de Saeed ocorreu no Estádio RFK, em Washington, onde se jogava a última partida do grupo E entre a Arábia Saudita e a Bélgica. O relógio batia 5 minutos de jogo e a bola chega aos pés de Saeed, que estava posicionado ainda bem dentro do seu meio-campo. E eis que com a “redondinha” nos pés Saeed resolve sair a jogar – ainda muito longe da baliza belga à guarda de Preud'Homme - com uma rapidez espantosa. Tira do caminho uma autêntica “floresta” de belgas, com uma série de dribles espantosos, deliciosos, que só param à entrada da pequena área belga, altura em que Saeed disfere o golpe final, o golo, o golo que seria justamente considerado como o mais belo, o mais inacreditável – se assim o quiserem definir – daquele Mundial.
Desde logo o tento de Owairan foi comparado ao de Maradona no México 1986 diante da Inglaterra, em que o astro argentino finta mais de meia equipa inglesa desde o seu meio-campo e fez aquele que muitos consideram como o melhor golo de sempre de um Campeonato do Mundo. O melhor até ao de Saeed Owairan surgir, que quanto a nós não é em nada inferior ao de Diego Maradona, muito pelo contrário.
Anos mais tarde após o EUA 1994 a FIFA elegeu o golo de Saeed como o sexto melhor de sempre da história dos Mundiais. Injusto, na nossa opinião, pois se fosse um jogador italiano, francês, brasileiro, ou inglês a marca-lo a FIFA não teria problemas em considerar este golo tão bom como o de Maradona. Enfim. Como aqui no Museu não toleramos injustiças, classificamos o golaço de Owairan, a par do de Maradona, como o melhor de sempre num Mundial.
Owairan jogou por 50 vezes com a camisola da Arábia Saudita e apontou 24 golos. Nos EUA 1994 alinhou nos quatro jogos da sua equipa, diante da Holanda (1-2), de Marrocos (2-1),da Bélgica (1-0) e da Suécia (1-3), último jogo este referente aos oitavos-de-final da prova, e que ditou o afastamento da surpreendente Arábia Saudita do Mundial. Jogaria ainda quatro anos mais tarde no Mundial de 1998, realizado em França, tendo aí efectuado dois encontros, ante a Dinamarca (0-1) e a França (0-4). Saeed jogou toda a sua carreira no Al Shabab, clube da cidade de Riyadh.
Nas duas primeiras imagens vê-se o jogo que tornou célebre Owairan, precisamente o ocorrido diante da Bélgica em 1994. Na última imagem o encontro diante da França no Mundial de 1998.

Vídeo: O GOLO QUE IMORTALIZOU SAEED OWAIRAN

sexta-feira, setembro 15, 2006

Estrelas cintilantes (2)... Alexi Lalas

Num país onde o futebol não assume o estatuto de "estrela principal", longe disso, não deixa de ser por isso que o ilustre futebolista que hoje visitamos assume um papel de destaque na história do desporto rei ao nível mundial. Falamos de Alexi Lalas, esse mesmo, uma das grandes figuras do futebol (ou soccer como lá é denominado) norte-americano de todos os tempos. Nascido a 1 de Junho de 1970, no Estado de Michigan, Panayotis Alexander Lalas (o seu nome completo) viria a tornar-se num dos mais populares jogadores norte-americanos do "pontapé na bola". De tal maneira que já este ano foi "imortalizado" no National Soccer Hall of Fame (Museu de Futebol dos Estados Unidos da América) , espaço onde reside a história do soccer americano.
Este defesa-central ficou igualmente célebre pelo seu visual pouco habitual para um jogador de futebol, ostentando uma farta cabeleira loira acompanhada por umas não menos longas barbas igualmente loiras.
O seu estilo mais pareceia o de uma estrela de rock, "profissão" esta que aliás também viria - embora tivesse durado pouco tempo - a ser desempenhada pela estrela norte-americana.
Como futebolista Lalas começou a sua carreira ao serviço do University Rutgers, uma equipa dos campeonatos universitários dos EUA. Mas seria com a camisola da selecção americana que Alexi conseguiria brilhar a grande altura e se tornaria mundialmente conhecido. Em 6 de Maio de 1990 fez a sua estreia oficial ante a selecção vizinha do Cánada. Quatro anos mais tarde seria um dos grandes protagonistas da selecção yankee no Mundial que teve lugar precisamente nos EUA. Lalas ajudou a sua equipa a chegar aos oitavos-de-final da competição, caíndo aos pés daquela que viria a tornar-se na equipa vencedora desse memorável Mundial, o Brasil. Nos EUA 1994 Lalas foi um dos totalistas (4 jogos) da equipa norte-americana.
A sua brilhante prestação nesse Mundial valeu-lhe a transferência para o Calcio italiano, mais precisamente para o Pádova. No entanto, a sua carreira em Itália seria curta, apenas um ano (época 1994/95), já que por lá fez mais sucesso enquanto cantor de rock do que propriamente como futebolista.
Voltaria então ao seu país, para ser uma das estrelas da então recém criada Liga Norte-Americana (Major Soccer League), onde representou as equipas do New England Revolution (de 1996 a 1997) , do MetroStars de Nova Iorque (1998), do Kansas City Wizards (1999) e finalmente do Los Angeles Galaxy (de 2001 a 2003), clube pelo qual se retiraria difinitivamente do futebol enquanto jogador. Seria ao serviço dos Galaxy que Alexi se sagraria campeão da MLS Cup em 2002.
Pela selecção norte-americana estaria presente ainda no Mundial de França, em 1998, embora não tivesse feito um único jogo. Com a camisa dos States jogaria ainda duas Olímpiadas, uma em 1992 (em Barcelona) e outra em 1996 (em Atlanta). No total, Lalas jogou pelos EUA 96 vezes, tendo feito nove golos.
Depois de abandonar a carreira de futebolista Lalas tornou-se dirigente desportivo, primeiro ao serviço dos San Jose Earthquakes, depois dos MetrosStars (clube onde exerceu funções de presidente) e por último regressaria aos LA Galaxy, clube este onde se maném na qualidade de dirigente.
Paralelamete a tudo isto Lalas gravou já três álbuns de grande sucesso com a sua banda, The Gypsies.

quinta-feira, setembro 07, 2006

Histórias dos Campeonatos do Mundo... Uruguai 1930 (2)

Imagens...Fase do jogo entre os Estados Unidos da América e a Bélgica...
Uruguaios apuram o físico nas ruas de Montevideo...
Stabile faz o terceiro golo argentino contra os Estados Unidos da América...

A selecção argentina a chegar ao estádio no seu autocarro...
Defesa do guardião francês Thepot no jogo que opôs a sua selecção à Argentina... Um momento do encontro entre Bolívia e Brasil...

Festejos uruguaios após o apito do belga Langenus. A "celeste" era CAMPEÃ DO MUNDO...

Lucien Laurent, da França, o autor do primeiro golo de uma fase final de um Mundial...

Adeptos argentinos desembarcam em Montevideu para assistirem à grande final...

Uruguaios entram em campo para disputar a final do seu Mundial. Capitão Nazzazi é o primeiro...

A equipa uruguaia em estágio antes da final contra a Argentina...

Equipa do Uruguai que se sagrou campeã do Mundo...

Histórias dos Campeonatos do Mundo... Uruguai 1930 (1)

Iniciamos agora uma viagem pela “deliciosa” história dos Campeonatos do Mundo de Futebol. Ao pormenor, tanto quanto nos seja possível, iremos descobrir os factos, os números e as figuras dos 18 Mundiais até hoje realizados. Uma coisa é certa, é de que esta será uma longa viagem, tão longa quanto rica que é a história da mais importante competição do Mundo.
As linhas que se seguem surgem pois na sequência da leitura de inúmeros livros e enciclopédias (da minha cada vez mais extensa “biblioteca de futebol”), do visionamento de vídeos (meu Deus, já não tenho espaço para mais DVD’s nem cassetes VHS sobre futebol em minha casa...) e de pesquisa na internet.
No fundo um trabalho que me deu um ENORME prazer, ou não fosse eu um fanático do fenómeno futebol. E é esse prazer que eu quero repartir com o visitante do Museu, que sinta o mesmo interesse, a mesma curiosidade e sobretudo a mesma paixão que eu tenho pelo belo jogo. Divirtam-se...

Finalmente... o sonho tornou-se realidade

O visitante está confortável? Óptimo, pois prepare-se que vai fazer uma inesquecível viagem até ao longínquo ano de 1930, mais concretamente ao Uruguai. Bom, mas antes de “aterrarmos” neste pequeno país sul-americano há que fazer um pequeno relato sobre o nascimento do Campeonato do Mundo.
Um projecto que demorou mais de duas décadas a ser concretizado. A ideia, ainda de uma forma muito ténue, nasceu por volta de 1905, um ano depois do nascimento da FIFA. Contudo devido a divergências de última hora entre os países (federações) membros da FIFA o projecto nunca passou disso mesmo. Foi preciso esperar por 1921 para que finalmente o sonho de criar uma grande competição planetária “tivesse pernas para andar”.
E 1921 porquê? Porque foi este o ano que o lendário Jules Rimet assumiu a presidência da FIFA. A ideia de criar um Campeonato do Mundo de Futebol era uma obsessão de Rimet, que depois de constatar o sucesso dos torneios de futebol dos Jogos Olímpicos de 1924 e 1928 colocou o seu sonho em andamento.
O Comité da FIFA aprovaria a proposta do secretário-geral da Federação Francesa de Futebol, Henri Delaunay, de criar uma competição que juntasse de quatro em quatro anos as melhores selecções do planeta. Num congresso da FIFA realizado em Helsínquia, em 1927, Jules Rimet anunciava ao Mundo – finalmente – que em 1930 se iria realizar o primeiro Campeonato do Mundo de Futebol, sendo nomeado para o efeito um Comité Organizador (CO). Foram então apresentadas várias candidaturas para a organização do evento, nomeadamente a Hungria, a Itália, a Suécia, a Holanda, a Espanha e o Uruguai. Foi definido pelo CO que o país que recebesse o evento suportaria todos os custos do mesmo, incluindo deslocações das equipas, alojamento, alimentação das mesmas, etc. Por seu turno, a FIFA exigia 10% de todas as receitas. “Exigências”, ou regras, estas que resfriaram de imediato o entusiasmo de alguns países, que não estavam de acordo em suportar todos os custos da prova. O Uruguai foi o único a aceitar todas as condições. No entanto, não foi apenas por ter aceite as regras da FIFA que este país ganhou o direito de organizar o primeiro Mundial de Futebol, já que os dirigentes uruguaios colocariam em cima da “mesa das negociações” o facto de nos meses de Junho e Julho de 1930 o país ir comemorar o centenário da sua independência, prometendo desde logo a construção de um estádio com capacidade para 100 000 pessoas. Estádio esse que desde logo recebeu o nome de... Estádio do Centenário. Para além disso, o facto de o Uruguai ser na altura a melhor selecção do Mundo, já que encantara o “planeta da bola” com o seu maravilhoso futebol culminado com as conquistas dos títulos olímpicos de 1924 (Jogos Olímpicos de Paris) e de 1928 (Jogos Olímpicos de Amesterdão), teve igualmente um certo peso na decisão da FIFA em atribuir aos uruguaios a organização da prova.
Seria sem surpresas que no Congresso da FIFA de 1929, realizado em Barcelona, a entidade que gere o futebol mundial comunicaria oficialmente que o primeiro Mundial seria no Uruguai. (Na foto ao lado vê-se a chegada de Rimet a Montevideu.)
No entanto, esta decisão não seria recebida de bom grado por todos os países membros da FIFA. Isto porque os clubes europeus consideravam absurdo pagar os ordenados aos seus melhores jogadores durante uma ausência calculada em cerca de dois meses no Uruguai para disputar o Mundial. Perante este recuo dos europeus a federação uruguaia prontificou-se de imediato a pagar os ordenados aos jogadores europeus durante esse período. No entanto, grande parte dos “craques” não aceitou a boa vontade dos uruguaios, não viajando para a América do Sul. Grandes selecções da altura como a Hungria, a Itália, a Áustria ou a Checoslováquia, no fundo, as super potências do futebol europeu da altura, não aceitaram o convite da FIFA para marcar presença no primeiro Mundial.
Abra-se desde já aqui um parênteses para sublinhar que nesta primeira edição do Mundial não houve fase de qualificação, pois as equipas que nele marcaram presença responderam a um convite da FIFA.
Outra super potência do futebol europeu da época, a França, ameaçou seguir o exemplo das selecções acima referidas e não se deslocar ao Uruguai. Não fora a intervenção de Jules Rimet (francês de nascimento), que de imediato satisfez todas as exigências dos seus compatriotas, e os gauleses não teriam ido à América do Sul. (Na foto ao lado está a selecção francesa que actuou no Mundial do Uruguai.)
De qualquer maneira dois meses antes do início do Mundial nenhuma equipa europeia estava inscrita, mas após a resolução deste problema a França, a Roménia, a Jugoslávia e a Bélgica decidiram mandar as suas selecções para o Uruguai.
E eis que em 20 de Junho de 1930 (a cerca de um mês do pontapé de saída da competição) franceses, belgas e romenos estavam em Villefranche-sur-Mer preparadas para embarcar no paquete italiano “Conte Verde” para a longa travessia no Atlântico. No dia 5 de Julho seguinte as selecções chegavam à baía de Montevideu (capital do Uruguai), isto depois de passar pelo Rio de Janeiro para dar uma boleia à equipa do Brasil.
Por seu turno, a equipa da Jugoslávia preferiu viajar sozinha (mais à larga certamente) para a América do Sul, tendo cruzado o Atlântico a bordo do luxuoso veleiro “Flórida”, cobiçado pelos grandes magnatas mundiais da época para as suas viagens. É caso para dizer...e viva o luxo!
À espera das selecções europeias estavam as suas congéneres sul-americanas, o Brasil, o Paraguai, o Peru, a Bolívia, o Chile, a Argentina e claro está, o Uruguai. A estes juntaram-se ainda o México e Estados Unidos da América, equipas que completaram o lote de participantes do primeiro Mundial. Seriam pois 13, os países que participaram no primeiro grande momento do futebol mundial. (Na imagem do lado pode ver-se a equipa da Argentina que se iria sagrar vice-campeã do Mundo nesta primeira edição.)

A bola começou a rolar
Face ao número reduzido de participantes, substitui-se o sistema de eliminação directa pela fórmula de quatro grupos. Designou-se então que quatro equipas seriam cabeças-de-série, tendo sido elas a Argentina, Brasil, Estados Unidos da América e Uruguai, sendo que os vencedores de cada grupo se qualificariam para as meias-finais.
Em jeito de homenagem a Jules Rimet a França seria uma das selecções que daria o pontapé de saída do grande evento desportivo. Como adversário no jogo inaugural os franceses tiveram o México, um jogo que seria realizado no Campo de Pocitos (Montevideu), já que o majestoso Estádio Centenário ainda não estava concluído (dizem que o cimento das bancas ainda estava fresco aquando da abertura do Mundial). A França venceria facilmente os mexicanos por 4-1, não obstante de ter alinhado grande parte do encontro com dez jogadores, por lesão do guarda-redes Thépot, já que naquela altura ainda não existiam as substituições. (Na foto de cima: uma fase do jogo entre o Brasil e a Bolívia.)
Francês foi igualmente o primeiro golo de um Mundial, de seu nome Lucien Laurent, um homem que entrou assim na história do futebol pelo facto de ter apontado o primeiro golo de um Campeonato do Mundo.
O guardião Thépot haveria de ser o herói do jogo seguinte da França, ante a Argentina, já que durante 80 minutos resistiu de uma forma heróica aos ataques avassaladores dos argentinos, e só um livre magistralmente apontado por Luigi Monti ao minuto 80 deu uma magra vitória por 1-0 ao país das pampas. (Ao lado a cerimónia de abertura do certame.) Este jogo será ainda relembrado por um caricato episódio, já que o árbitro da partida, o brasileiro Almeida Rego, daria por terminado o encontro seis minutos antes do tempo regulamentar, e só graças aos protestos dos adeptos uruguaios que assistiam ao jogo (e que torciam pela França, já que a Argentina foi, é e será sempre o eterno inimigo), que entretanto haviam invadido o campo para “acertar as contas” com o juiz da partida, é que o erro foi corrigido e o brasileiro voltou ao campo para dar continuidade ao jogo que terminaria, como já vimos, com a vitória argentina por 1-0.
No grupo 2 ficariam os melhores representantes do futebol europeu neste torneio, a Jugoslávia. Derrotaram o Brasil (2-1) e a Bolívia (4-0), classificando-se desde logo no primeiro lugar do grupo e consequente apuramento para as meias-finais. A França (grupo 1) perdeu as esperanças da qualificação para a fase seguinte após ter sido derrotada pelo Chile (0-1).
A Roménia também não fez melhor, vencendo um jogo (Perú, por 3-1) e perdendo outro (Uruguai, por 0-4). (Na imagem ao lado está a desoladora selecção brasileira que se deslocou ao Uruguai.)
A Bélgica, sem o seu melhor jogador da altura, Braine, não teve melhor sorte, já que sofreu duas derrotas no grupo 4, ante os Estados Unidos da América (0-3) e o Paraguai (0-1).
Nas meias finais encontraram-se Uruguai e Jugoslávia, e Argentina e Estados Unidos da América. No encontro que opôs argentinos e norte-americanos houve “mosquitos por cordas”, originados pelos constantes protestos dos “soccerboys” contra a interpretação do árbitro belga Langenus sobre a lei do fora-de-jogo. O treinador dos americanos, Robert Miller, tentou agredir o árbitro com a mala de massagista, errando o alvo por muito pouco. O resultado do jogo saldou-se por uns claros e controversos 6-1 a favor dos argentinos. Por igual resultado venceriam os uruguaios a equipa da Jugoslávia. Estavam assim encontrados os dois finalistas do primeiro Mundial.

A grande final...

Chegou-se ao dia 30 de Julho, e o Estádio Centenário a “abarrotar pelas costuras” com 100 000 espectadores em delírio. Uma final à qual também não faltaram peripécias. Em Buenos Aires, o ambiente era de loucura total tendo o povo organizado manifestações para que fossem postos à sua disposição mais barcos para atravessar o Rio de La Plata (River Plate) para a outra margem... para Montevideu. Estima-se que mais de 20 000 argentinos atravessaram o rio em dez barcos fretados de propósito para o efeito (diz a lenda que um destes barcos chegou a Montevideu já no fim da grande final). (Ao lado as duas equipas finalistas a entrarem em campo.) Temendo-se incidentes entre uruguaios e argentinos (velhos inimigos) as armas de fogo foram confiscadas à entrada do estádio.
Os árbitros não escapavam a este ambiente frenético e ameaçador em redor do jogo, pelo que dos quatro juizes apontados inicialmente para dirigir a final, o único a aceitar tal responsabilidade foi o belga John Langenus (na foto ao lado). Para tal a FIFA teve de satisfazer algumas exigências do belga, mais precisamente em dar-lhe protecção policial durante 24 horas, fazendo-lhe um seguro de vida e colocando à sua disposição um navio que o levaria de volta a casa logo após o término do jogo.
Seguiu-se o “episódio da bola”, ou seja, cada equipa queria jogar com a sua bola. Por sorteio foi escolhida a bola argentina, mas os uruguaios, supersticiosos, trataram logo de reclamar contra a (má) sorte. Para satisfazer a “gregos e a troianos” o árbitro decidiu que seriam usadas as duas bolas, uma em cada parte. A primeira parte foi jogada com a bola argentina, e de facto foi de má sorte para os uruguaios, que foram para o intervalo a perder por 1-2, com os tentos argentinos a serem apontados por Stabile e Peucelle, ao passo que o tento uruguaio foi de Dorado. Mas na segunda parte tudo se modificou, os uruguaios deram a volta ao marcador graças a uma exibição espectacular e inolvidável. Ninguém os parou. Venceriam por 4-2, tornando-se assim nos primeiros Campeões do Mundo. Perante a multidão em delírio o capitão uruguaio José Nazzazi ergueu o trofeú criado propositadamente para o evento pelo escultor francês Abel Lafleur. (Na imagem do lado vê-se Castro marcar o quarto golo que selou a vitória do Uruguai.)

Factos que ficam para a história...
- A receita de bilheteira deste primeiro Mundial cifrou-se em 255 107 dólares (da altura).

- Foram disputados 18 jogos no total, com um total de espectadores de 434 000, uma média de 24 111 por jogo. Na final estiveram 100 000 pessoas no Estádio Centenário.

- Estados Unidos... da Escócia: A selecção dos Estados Unidos da América, (na imagem) que neste Mundial se classificou em 3º lugar (juntamente com a Jugoslávia), a sua melhor classificação até à data, disputou a competição com vários jogadores europeus naturalizados. Na sua maioria eram escoceses, tais como Bart McGhee, Brown, Wood, e Gallacher. Do grupo fazia ainda parte um luso-americano, de seu nome Adelino “Billy” Gonsalves, nascido em “Terras do Tio Sam” mas filho de emigrantes portugueses. Pela presença no Uruguai os jogadores americanos receberam uma bolsa equivalente a seis meses de ordenado, e outro tanto pelo “bronze” alcançado.

- Um Brasil muito carioca: Devido a divergências entre cariocas e paulistas, jogadores do Estado de São Paulo foram proibidos de integrar a selecção brasileira neste Mundial. Assim só os atletas dos clubes do Rio de Janeiro tinham permissão para representar a “canarinha”. Desta forma o Brasil, orientado por Pindaro de Carvalho Rodrigues, não pôde contar com o seu grande craque da altura, o paulista Fridenreich. Dizem até que os adeptos dos clubes paulistas ficaram bem satisfeitos pelo fracasso que foi a participação da selecção neste evento.


- O grande capitão: José Nazzazi, (na foto ao lado)o capitão da equipa do Uruguai, foi o líder da “celeste” na caminhada para o título. Fez-se notar não só pelo seu talento futebolístico mas também pelos gritos de advertência que lançava aos companheiros. Ele era o verdadeiro treinador da equipa campeã do Mundo...



- O treinador que era... o rei: tal como outras selecções europeias (pelos motivos acima já explicados) a Roménia (a equipa que se encontra na foto ao lado) esteve para não ir ao Uruguai. Valeu a intervenção (foi mais uma ordem do que um pedido) do Rei Carol (o rei daquele país), que não só ordenou que os seus jogadores fossem para a América do Sul como também se encarregou de os escolher. Mais curioso que isso foi ainda o facto de o rei, que era um “doente” pelo futebol, ter sido o treinador da equipa durante o torneio.

- Guillermo Stabile: O título uruguaio foi festejado efusivamente e o próprio Governo daquele país decretou que o dia seguinte ao da final fosse feriado nacional. Os jogadores uruguaios como Nazzazi, Cea, Castro, Iriarte, Dorado, Scarone ou Andrade (A Maravilha Negra) seriam imortalizados pelo povo "charrua".
No entanto, não só de nomes uruguaios se fez este campeonato, visto que o melhor marcador do mesmo foi o argentino Guillermo Stabile (na foto ao lado), autor de oito remates certeiros. Foi ainda o autor do primeiro “hattrick” em Mundiais.



- Três estádios foram utilizados neste Mundial, o Parque Central, o Campo de Pocitos e o magnífico Estádio Centenário (na foto debaixo), todos situados em Montevideu.

-A selecção do México chegou ao Mundial de 30 assustada com os prognósticos dos expertes da modalidade. Para dar ânino aos seus jogadores o seleccionador mexicano, espanhol de nascimento, de seu nome Juan Luqué de Serrallonga, dirigiu-lhes uma mensagem de alento num dos quartos do Hotel de Montevideo, onde a equipa estava hospedada, e assegurou-lhes que a Virgem de Guadalupe estava a rezar por eles no seu país, mais precisamente no monte de Tepeyac. Concluíu a sua palestra com as seguintes palavras: "Muchachos, les quiero suplicar que se olviden de todo, novias, hermanos, padres, madres, y que solo les quede grabado en sus mentes la palabra México. Ahora que lucharemos contra Francia hay que recordar al general Ignacio Zaragoza. Si él pudo vencerlos, también lo podemos hacer nosotros". Convencidos das palavras do seleccionador os jogadores entraram no jogo diante da França a jogar de igual para igual, acabando, no entanto, por perder esse jogo por 1-4.

-Foi frente ao México que o capitão de equipa argentino Manuel "Nolo" Ferreira falhou o único jogo em todo o Mundial. O motivo da ausência deveu-se ao facto de Ferreira ter de se deslocar a Buenos Aires ra fazer um exame na Faculdade de Direito, onde se encontrava a tirar o curso de Escribão Público. Depois de ter passado no referido exame voltou de imediato a Montevideo para continuar a jogar o Mundial. Anos mais tarde reconheceria que os seus professores haviam facilitado a sua apovação no dtio exame, pelo simples facto de estar a representar a selecção argentina no grande certame futebolístico.

-A equipa da casa sofreu uma importante baixa à última da hora, mais precisamente o seu guarda-redes Mazzalli. O episódio foi assim recordado na primeira pessoa pelo capitão de equipa José Nasazzi: "El momento más triste para nosotros fue cuando separaron del plantel a Andrés Mazzalli. Había sido el arquero en París y Amsterdam, pero era muy mujeriego y una noche se escapó de la concentración para ir a encontrarce con una rubia. Lo expulsaron y no hubo defensa para él. Todos sentimos pena, pero la sanción impuesta fue irreductible y ni a mi me hicieron caso".




Resultados e classificações

Grupo 1

13 de Julho de 1930
França – México (4-1)
(Laurent, 19’; Lngiler, 40’; e Maschinot, 42’ e 87’)
(Carreño, 70’)

15 de Julho de 1930
Argentina – França (1-0)
(Monti, 80’)

16 de Julho de 1930
Chile – México (3-0)
(Vidal, 4’ e 86’ e Rosas, 51’ p.b.)

19 de Julho de 1930
Chile – França (1-0)
(Subiabre, 65’)

19 de Julho de 1930
Argentina – México (6-3)
(Stabile, 8’,17’ e 80’, Varallo, 53’ e Zumelzzu, 10’ e 55’)
(Rosas, 42’ e 55’ e Gayon, 78’ g.p.)

22 de Julho de 1930
Argentina – Chile (3-1)
(Stabile, 12’ e 14’ e Mário Evaristo, 51’)
(Subiabre, 15’)

Classificação:

1- Argentina- 9 pontos
2- Chile – 6 pontos
3- França – 3 pontos
4- México – 0 pontos

Grupo 2

14 de Julho de 1930
Jugoslávia – Brasil (2-1)
(Tirnanic, 21’ e Beck, 30’)
(Preguinho, 62’)

17 de Julho de 1930
Jugoslávia – Bolívia (4-0)
(Beck, 60’ e 67’, Marjanovic, 65’ e Vujadinovic, 85’)

20 de Julho de 1930
Brasil – Bolívia (4-0)
(Carvalho Leite, 27’ e 73’; Preguinho, 78’ e 83’)

Classificação:

1- Jugoslávia – 6 pontos
2- Brasil – 3 pontos
3- Bolívia – 0 pontos

Grupo 3

14 de Julho de 1930
Roménia – Peru (3-1)
(Staucin, 1’ e 74’ e Kovacs, 85’)
(Souza, 60’)

18 de Julho de 1930
Uruguai – Peru (1-0)
(Castro, 60’)

21 de Julho de 1930
Uruguai – Roménia (4-0)
(Dorado, 7’, Scarone, 16’, Anselmo, 30’ e Cea, 35’)

Classificação:

1- Uruguai – 6 pontos
2- Roménia – 3 pontos
3- Peru – 0 pontos

Grupo 4

17 de Julho de 1930
Estados Unidos – Bélgica (3-0)
(McGhee, 23’; Florie, 38’ e Patenaude, 68’)

13 de Julho de 1930
Estados Unidos – Paraguai (3-0)
(Patenaude, 10’, 15' e 50’)

20 de Julho de 1930
Paraguai – Bélgica (1-0)
(Peña, 40’)

Classificação:

1- Estados Unidos – 6 pontos
2- Paraguai – 3 pontos
3- Bélgica – 0 pontos

Meias-Finais

26 de Julho de 1930
Argentina – Estados Unidos (6-1)
(Monti, 20’, Scopeli, 61’, Stabile, 69’ e 87’; Peucelle, 80’ e 85’)
(Brown, 89’)

27 de Julho de 1930
Uruguai – Jugoslávia (6-1)
(Cea, 18’, 65 e 81’; Anselmo, 21’ e 39’ e Iriarte, 61’)
(Sekulic, 4’)

FINAL

30 de Julho de 1930
Estádio Centenário, Montevideu
Árbitro: John Langenus (Bélgica)

Uruguai (4): Ballestero, Nazzazi (cap.) e Mascheroni; Andrade, Fernandez e Gestido; Dorado, Scarone, Castro, Cea e Iriarte. Treinador: Alberto Supicci

Argentina (2): Botasso, Della Torre e Paternoster; Evaristo, Monti e Suarez; Peucelle, Varallo, Stabile, Ferreyra (cap.) e Mário Evaristo. Treinador Franscisco Olazar

Golos: 1-0 por Dorado, 12’; 1-1 por Peucelle, 20’; 1-2 por Stabile, 37’; 2-2 por Cea, 57’; 3-2 por Iriarte, 68’; 4-2 por Castro, 89’.


Onze Ideal do Torneio
Táctica: 2-3-5

1-Thépot (França)
2-Nazzazi (Uruguai)
3-Mascheroni (Uruguai)
4-Torres (Chile)
5-Fausto (Brasil)
6-Juan Evaristo (Argentina)
7-Peucelle (Argentina)
8-Scarone (Uruguai)
9-Stabile (Argentina)
10-Cea (Uruguai)
11-McGhee (Estados Unidos)

Os Campeões do Mundo
4 Jogos: Andrade, Cea, Fernandez, Gestido, Ballestero, Iriarte e Nazzazi.
3 Jogos: Dorado, Mascheroni e Scarone.
2 Jogos: Anselmo e Castro.
1 Jogo: Petrone, Tejera e Urdinaran.

(na foto em cima esté José Leandro Andrade, mais conhecido como a "Maravilha Negra", um dos totalistas da selecção uruguaia no Mundial.)

Não utilizados: Capuccini, Melogno, Piriz, Recoba, Secco e Saldombide.

Os marcadores do Campeão
5 golos: Cea
3 golos: Anselmo
2 golos: Castro, Dorado e Iriarte
1 golo: Scarone

Números da prova

13 países presentes
18 jogos
70 golos
3,89 média de golos por jogo
434 000 espectadores
24 111 média de espectadores por jogo
1 expulsão (Las Casas, jogador do Peru)
2 golos na própria baliza

terça-feira, setembro 05, 2006

Morreu mais um campeão... Giacinto Facchetti

Duas semanas depois de o Museu Virtual do Futebol abrir tristemente as suas portas para noticiar a morte do uruguaio Miguez eis que o fazemos hoje novamente para dar conta do falecimento de outro grande nome do futebol mundial, mais precisamente o italiano Giacinto Facchetti. Considerado - justamente - como um dos melhores defensores de sempre do futebol mundial, Facchetti morreu ontem aos 64 anos, na sequência de um tumor no pâncreas, deixando desta forma o planeta da bola mais pobre. Será eternamente recordado como um defesa elegante e tremendamente eficaz, tendo desenvolvido toda a sua carreira desportiva no clube do seu coração, o Inter de Milão.
Foi uma das grandes figuras do famoso Inter das décadas de 60 e 70, tendo sido uma das pedras fundamentais na conquista das duas únicas Taças dos Campeões Europeus (1964 e 1965) conquistadas até à data pelos milanistas. Pelo Inter venceu ainda duas Taças Intercontinentais (1964 e 1965), quatro títulos de campeão italiano (1963, 1965, 1966 e 1971) e ainda uma Taça de Itália (1978).
Importante foi igualmente o seu contributo para a Squadra Azzurra (selecção italiana), ao serviço da qual venceu em 1968 o Campeonato da Europa. Dois anos mais tarde com a "maglia" da Azzurra ficaria em 2º lugar no Mundial do México, tendo sido derrotado na final pelo fantástico Brasil de Pelé por 4-1.
Depois de "pendurar as chuteiras" Facchetti continuaria ligado ao seu Inter, na qualidade de dirigente, tendo sido eleito presidente do clube em 2004, cargo este que desempenhou até à hora da sua morte. Como jogador foi 94 vezes internacional pela Itália, tendo marcado 3 golos e envergado a braçadeira de capitão da Azzurra em 70 ocasiões, um recorde que ainda hoje se mantém.