Jorge Vieira e o capitão jugoslavo antes do pontapé de saída |
No
entanto, Portugal voltou a estar em grande nível, alcançando uma
nova e épica vitória, tendo no plano individual o destaque ido para
Augusto Silva, cuja estupenda exibição, coroada com um golo – o
da vitória por 2-1 – apontado em cima dos 90 minutos lhe valeu o
“título” de herói da tarde, tendo, no final, sido transportado
em ombros pelos seus colegas de equipa.
Portugal ataca a baliza da Jugoslávia |
Quartos-de-final
onde figuravam os grandes favoritas à conquista do ouro olímpico,
ou o mesmo será dizer, do título de campeão mundial. Argentina,
Uruguai, Espanha, Itália e Bélgica (campeã olímpica em 1920)
estavam todos na luta. Quis, no entanto, a sorte – ou o azar como
mais tarde se viria a revelar – que o adversário dos portugueses
no caminho para chegar às meias-finais fosse o aparentemente
desconhecido Egito. O nosso país estava num estado de euforia total,
e ninguém esperava que depois de eliminar os bravos e agressivos
chilenos, e os técnica e fisicamente apurados jugoslavos, o Egito
pudesse pôr cobro a esta aventura olímpica. De tal maneira que
muita gente já pensava no confronto com a poderosa Argentina do
temível avançado Tarasconi (que viria a sagrar-se o melhor marcador
deste torneio olímpico), que com um poker
(quatro golos) havia contribuído – e muito – para afastar a
Bélgica nestes quartos-de-final.
Sfilis, o poderoso guardião dos balcãs |
Extremamente
velozes e perigosos no ataque, os egípcios criaram dificuldades aos
lusos que apesar de tudo exerceram o domínio em vários períodos do
jogo. Durante o primeiro tempo, os avançados de Portugal deram que
fazer ao último reduto dos africanos, com remates de todas as formas
e feitios que obrigavam o guardião Handi e a sua defesa a trabalhos
redobrados. Uma bola perdida por parte de Carlos Alves esteve na
origem do primeiro golo do encontro, aos 15 minutos, tendo Mokhtar
batido o desamparado Roquete.
Posto
isto, o equilíbrio imperou até final do primeiro tempo, sem que
tenham surgido grandes ocasiões de golos para qualquer das partes.
Porém, logo a abrir a segunda parte, Portugal sofre um novo golpe.
Augusto Silva é driblado por um egípcio (Riad, no caso) no meio
campo, o qual, depois desta maldade ao médio do Belenenses, sai
disparado em direção à baliza de Roquete, apanhando desprevenida a
retaguarda composta por Carlos Alves e Jorge Vieira, e quando chega
próximo do guarda-redes do Casa Pia mais não faz do que um
brilhante chapéu que aninhou a bola nas redes lusas. 2-0.
Os
lusos esmoreceram um pouco após este novo golpe, mas até final
chamaram a si o domínio dos acontecimentos, rematando vezes sem
conta à baliza africana na tentativa de minorar os estragos e
reentrar na luta pelo resultado. Até que numa dessas incursões,
Valdemar Mota – que apesar de expulso na partida anterior pôde
estar em campo nesta nova batalha
– cruza a bola para Vítor Silva, que a atira para a baliza. Sobre
a linha de golo o guardião Handi tenta a defesa, sacudindo a bola já
para lá da linha fatal, mas... o árbitro italiano Mauro faz vista
grossa e não valida o tento a Portugal, de nada valendo os assobios
do público holandês que se mostrava afeto à nossa seleção.
Curioso, é que o fiscal de linha – também ele holandês –
afirmou ter sido golo, mas Mouro mostrou quem mandava, e
categoricamente respondeu aos vivos protestos portugueses com um:
não! Não foi golo!
Lance da final Olímpica de 1928 |
Apesar
de tudo, a imprensa mundial rendeu-se aos portugueses no cair do pano
do torneio olímpico de 1928. O jornal parisiense L'
Auto
escrevia que «Os
chilenos chegaram a Amesterdão com a esperança de fazer tanto
quanto tinham feito os uruguaios há quatro anos em Paris.
Infelizmente para eles, a sorte opôs-lhes, logo no primeiro dia, uma
das melhores equipas da Europa».
O mesmo jornal escrevia após o desaire da seleção nacional perante
o Egito o seguinte: «O
onze português é sem dúvida o melhor dos todos os grupos
apresentados pelos latinos da Europa».
Augusto
Silva, Valdemar Mota e Raul “Tamanqueiro” Figueiredo foram
escolhidos pelos jornalistas presentes como dos melhores jogadores
revelação do torneio, a par de Monti (Argentina), Rivolta (Itália),
Gestido (Uruguai), ou Evaristo (Argentina).
O
jornal Echo
des Sports,
também de Paris, escrevia que «a
equipa portuguesa foi uma das mais completas do torneio. Pela sua
partida contra o Egito, Portugal merecia não só figurar na
meia-final como também na final».
No
futebol não existem vitórias morais, é certo, mas não é menos
certo que estas são palavras que encheram de orgulho a nação lusa
nesta sua primeira aventura (oficial) internacional, como ficou
comprovado na receção apoteótica que a comitiva portuguesa teve no
Rossio, quando do regresso a casa.
Estava
dado o primeiro passo da caminhada que conduziu Portugal à glória e
fama internacional dos dias de hoje.
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