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A equipa do Casa Pia que em 20/21 venceu o Campeonato de Lisboa, a Taça da AFL, e a Taça 27 de Julho |
O
recém-fundado Casa Pia Atlético Clube não podia pedir melhor estreia oficial do
que aquela que teve na temporada de 1920/21. Com uma equipa de respeito,
formada por antigos alunos da instituição que dava nome ao clube, entre eles muitos
ex-benfiquistas, como por exemplo, António Pinho, José Maria Gralha, Silvestre
Rosmaninho, ou Cândido de Oliveira, mas
também com o ex-sportinguista Alberto Loureiro, os casapianos venceram o
Campeonato de Lisboa dessa época sem derrotas. A invencibilidade do jovem clube
estendeu-se, ademais, à segunda prova lisboeta, a Taça da Associação de Futebol
de Lisboa (AFL), facto que faz do Casa Pia a única equipa da capital que até
hoje venceu as duas competições de forma invicta. É verdade, nem Benfica, nem
Sporting, nem Belenenses, os outros três grandes de Lisboa, o conseguiram
fazer.
O
Campeonato de Lisboa de 1920/21 foi disputado pela primeira vez por oito clubes,
que divididos em duas séries de quatro discutiram a 1.ª fase da prova. Os
gansos, como são conhecidos os casapianos, ficariam alojados na Série 1,
juntamente com o Belenenses, o Vitória de Setúbal, e o Clube Internacional de
Football (CIF). Abra-se aqui um parênteses para explicar a alcunha que
caracteriza até hoje o Casa Pia, os gansos. Tudo porque num desfile do início
do século XX dos alunos da instituição casapiana em frente ao Mosteiro dos
Jerónimos, alguém atirou ao ar a seguinte frase: "Oh, p’ra eles, todos elegantes! Parecem uns gansos!", e
assim a alcunha ficou para toda a vida.
Mas
voltando ao Regional lisboeta, a 1.ª fase da competição foi um passeio para os
casapianos, que em seis encontros somaram quatro vitórias e cederam apenas dois
empates, terminando a série no primeiro lugar com 10 pontos, qualificando-se
desta forma para a fase seguinte, que iria juntar o segundo colocado da Série
1, o Belenenses, e os dois primeiros posicionados da Série 2, o Sporting, e o
Benfica.
Nesta
fase decisiva os gansos começaram por defrontar o Benfica, um jogo que
suscitava uma enorme expectativa, já que muitos dos elementos do Casa Pia eram
antigos jogadores dos encarnados, esperando-se alguma picardia derivada da
traição dos agora craques casapianos. Tal não aconteceu, o jogo decorreu de
forma cordial, e o Casa Pia venceu por 2-1. Na 2.ª jornada, a turma capitaneada
por Cândido de Oliveira obteve novo triunfo, desta feita sobre o Belenenses, e
na derradeira ronda goleou o Sporting por 5-2, garantindo desde logo a presença
na final do campeonato. O adversário seriam os leões, que ficaram em segundo lugar nesta fase. Final que foi
disputada a duas mãos, dois encontros equilibrados, conforme rezam as crónicas
de então. No primeiro duelo, os casapianos praticamente selaram a vitória no
campeonato, após um concludente triunfo por 4-1, com dois tentos de Cândido de
Oliveira, um de Alberto Nunes, e outro de Alberto Loureiro. Na segunda mão
houve empate a uma bola, o que confirmou o Casa Pia como o novo campeão de
Lisboa... e com apenas 10 meses de vida! Foi obra!
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Cândido de Oliveira |
A
dobradinha, isto é, a vitória na Taça
da AFL, surgiu com uma vitória na final sobre o Belenenses, por 3-2, isto
depois de bater na 1.ª eliminatória o Sporting por 4-1, e o Carcavelinhos nas
meias-finais por 3-1. Mas não foram só as grandes potências do futebol lisboeta
a sofrer às mãos dos surpreendentes gansos, já que também o eterno campeão do
Norte, o FC Porto, foi vergado pelo Casa Pia, por 2-0, na Taça 27 de Julho,
prova esta que correspondeu a um ensaio para o Campeonato de Portugal que se
iria iniciar na época seguinte. Porventura, esta foi a melhor época da hoje
história centenária dos casapianos, que em finais de 1920 se tornaram na
primeira equipa lusa a visitar a capital francesa, Paris, para a disputa de um
torneio de Natal, tendo ali defrontado conjuntos de renome, casos do Cercle
Athlétic de Paris, do Cercle Athlétic de Vitry, dos suíços do FC Cantonal, e do
FC Espanya de Barcelona. Em outubro de 1921 o Casa Pia visitou Sevilha, com o
objetivo de apadrinhar o campo dos sevilhanos. Factos que enalteciam ainda mais
o prestígio que os gansos tinham já conquistado com poucos meses de existência.
Para a história do Casa Pia, e do próprio futebol luso, aqui ficam os nomes dos
heróis que defenderam o mando sagrado casapiano na temporada de 20/21 e que conquistaram tudo o que havia para ganhar em termos oficiais: Clemente
Guerra, António Pinho, Alberto Nunes, José Gomes dos Santos, Cândido de
Oliveira, Gouveia, Álvaro Gralha, António Lopes, Silvestre Rosmaninho, José
Almeida, Alberto Loureiro, José Maria Gralha, Ângelo de Araújo, e Lopes
Loureiro. Cândido de Oliveira e Silvestre
Rosmaninho foram os melhores marcadores da equipa nesta temporada, com sete
tentos cada um deles.
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