Flashes Biográficos (6)... Amancio Mereles
AMANCIO Mereles (Paraguai): Ao recordar as jogadas, os golos, as equipas e os craques do principal campeonato português da década de 80 um nome em particular saltou do meu baú de memórias futebolísticas em relação a esses saudosos anos em que o belo jogo me foi formalmente apresentado. Amancio Mereles, ou simplesmente Amâncio, como se pronuncia na língua de Camões, foi um dos mais letais avançados da segunda metade dos anos 80 do futebol luso, uma faceta exibida, sobretudo, ao serviço do Futebol Clube de Penafiel, emblema duriense que este cidadão de nacionalidade paraguaia representou entre 1986 e 1990, quiçá, e a julgar pela estatística - já lá vamos - o melhor período da carreira deste futebolista. Nasceu a 10 de fevereiro de 1964, em Gaaguazú, e os poucos registos biográficos alusivos aos anos iniciais da sua carreira dão conta de que o primeiro lampejo de glória aconteceu em 1984, altura em que com 20 anos se sagra o melhor marcador (com 12 golos) do campeonato paraguaio com as cores do seu clube de então, o River Plate de Asunción. Este cartão de visita valeu-lhe a chamada à seleção de sub-20 do Paraguai que um ano mais tarde viajou até à ex-União Soviética para disputar a 5ª edição do Campeonato do Mundo da categoria. Com o dorsal dos matadores - o 9 - estampado nas costas foi titular do combinado guarani nos três encontros que este disputou no leste europeu. Apontou um golo, ante a China, o qual se viria a revelar insuficiente nas intenções dos sul-americanos em passar à fase seguinte da competição. No ano seguinte Amancio faz a longa travessia do Atlântico rumo ao Velho Continente, mais concretamente para o norte de Portugal, onde o esperava uma equipa que militava na 2ª Divisão daquele país, o Penafiel. Sob as ordens do então jovem técnico José Romão o paraguaio foi um dos operários que devolveram o clube duriense ao principal escalão do futebol português, após a obtenção de um segundo lugar na Zona Norte do Nacional da 2ª Divisão. E quem inicialmente pensasse que o regresso dos penafidelenses à 1ª Divisão iria ser passageiro enganou-se redondamente, pois José Romão continuou a orquestrar um conjunto que jogava um futebol alegre, vistoso, e extremamente perigoso no plano ofensivo. Sobretudo nos jogos em que atuava na condição de visitado, partidas essas em que aquele Penafiel fazia a vida negra a quem quer fosse. Uma das principais armas dos durienses era precisamente Amancio, o pequeno avançado que importunava as defesas contrárias com a sua rapidez de movimentos e, sobretudo, com o seu instinto predador, o mesmo é dizer, de goleador. Nesse ano de estreia na 1ª Divisão Amancio fez sete dos 36 golos marcados pelo Penafiel nessa temporada de 87/88, sendo apenas superado pelo seu parceiro de ataque, César, que apontou 15. Com a partida do brasileiro Amancio passou a ser a principal referência do ataque penafidelense nas épocas que seguiram. Em 88/89 o paraguaio viveu mesmo a sua temporada mais produtiva vestido com as cores rubro-negras. Fez o gosto ao pé em 15 ocasiões (em 37 jogos), ajudando o Penafiel a sobreviver um ano mais entre os grandes do futebol português. Na temporada seguinte, e já sem José Romão no comando técnico da equipa, o Penafiel venceu mais uma vez a árdua batalha da manutenção, tendo, no entanto, o instinto predador de Amancio sido mais brando, como comprova o facto de apenas por quatro ocasiões ter violado as redes adversárias em 29 jogos realizados. Após quatro temporadas de sucesso, em que indiscutivelmente se tornou numa das principais figuras da equipa, o avançado paraguaio decide mudar de ares, e parte rumo a Setúbal. Ali, onde o esperava o homem que o havia lançado no futebol português, José Romão, não foi feliz nas duas temporadas em que vestiu a camisola do Vitória, sendo que na primeira delas não evitou a queda do histórico clube sadino à 2ª Divisão. Em 1992/93 decide regressar ao norte do país, para representar o Tirsense, clube onde voltou a sentir alegria e prazer em jogar, e acima de tudo em fazer aquilo que mais gostava: golos. Em 27 encontros apontou seis tentos que o tornaram no melhor artilheiro da equipa nessa época, insuficientes, no entanto, para manter o clube jesuíta na 1ª Divisão. O Tirsense foi para a 2ª Divisão, mas Amancio não. O seu faro para o golo ainda despertava o interesse de muitos clubes do escalão maior, e o derradeiro capítulo escrito por si na aventura europeia ocorreu em Barcelos, ao serviço do Gil Vicente. Outro clube de pequena dimensão onde Amancio deixou marca, embora esta fosse uma marca pequena, é certo, como comprovam o parco par de golos que apontou em 19 encontros. Finda a aventura europeia de oito anos o jogador regressou a casa, e para trás deixou um registo de 160 jogos disputados na 1ª Divisão portuguesa e 35 golos apontados. Nada mau para um atleta que representou sempre clubes de pequena dimensão. Mas foi sem dúvida em Penafiel que Amancio alcançou a imortalidade na memória dos adeptos que o viram atuar. Ainda hoje o seu nome reluz na história do clube e da própria cidade, já que o "título" de maior goleador da história do FC Penafiel na 1ª Divisão pertence-lhe - com 26 remates certeiros.
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