Em 2012 assinalam-se precisamente os 100 anos da ocorrência da 5ª edição das Olimpíadas da Era Moderna. Estocolmo foi então o palco escolhido para levar à cena um evento cujo interesse em seu redor crescia a olhos vistos um pouco por todo o Mundo. Terá sido esta uma das razões para que na “Veneza do Norte” – assim é retratada mundialmente a cidade sueca – pela primeira vez atletas vindos dos cinco continentes do globo tivessem participado nos Jogos Olímpicos. Com uma estrutura organizacional nunca dantes vista estes jogos serão para sempre recordados como os primeiros em que a abertura seria abrilhantada por uma cerimónia coreografada antes da entrada das delegações das 28 nações participantes no estádio olímpico.
Estreia foi também o sistema sonoro de alto-falantes instalado não só no complexo olímpico como também por toda a cidade de Estocolmo com a intenção de transmitir os resultados das 14 modalidades desenvolvidas.
E no futebol a novidade também foi uma característica que se fez notar desde logo. A principal foi o facto de o número de seleções integrantes do torneio olímpico ter duplicado em relação às Olimpíadas de 1908. No total foram 11 os combinados nacionais que em Estocolmo lutaram pelo ouro, sendo que à semelhança do que acontecera quatro anos antes em Londres todos eles eram oriundos da Europa. E já que se fala em novidade há que dar conta de uma segunda competição futebolística dentro do próprio torneio olímpico, denominada de Torneio de Consolação, destinada às seleções eliminadas na 1ª fase e nos quartos-de-final da prova principal.
Surpresa a abrir
A 29 de junho foi dado então o pontapé de saída do torneio de futebol dos jogos de 1912, e logo com uma tremenda surpresa. Em jogo alusivo à 1ª fase a forte Itália liderada pelo lendário treinador Vittorio Pozzo – que na década de 30 haveria de conduzir a Squadra Azzurra à conquista de dois Campeonatos do Mundo consecutivos – sucumbia aos pés da frágil Finlândia (!) por 2-3 após prolongamento e ficava desta forma arredada da possibilidade de lutar pelo título. Nota curiosa o facto deste encontro inaugural ter sido arbitrado por outra lenda das táticas, o austríaco Hugo Meisl.
Célebre treinador que neste mesmo dia iria conduzir a Áustria a um esmagador triunfo sobre a Alemanha por 5-1. O terceiro e último encontro da ronda inicial – também realizado no dia 29 – colocou frente a frente no Estádio Olímpico de Estocolmo a equipa da casa, a Suécia, e a medalha de bronze dos Jogos Olímpicos de 1908, a Holanda. Bem disputada e pautada pelo signo do equilíbrio a partida só seria ganha pelos homens do “país das tulipas” no prolongamento, por 4-3.
Grã-Bretanha não brincou em serviço
Passada a fase pré-eliminar, a qual há que dizê-lo causou grande contestação entre a maioria das seleções, pelo facto de o sorteio ter emparelhado as equipas mais fortes (Itália, Suécia, Holanda, Áustria, ou Alemanha) e deixado de fora os conjuntos mais fracos (como Noruega, ou Rússia), o que significava desde logo que alguns dos teoricamente candidatos ao título iriam sair mais cedo da competição, eis que o torneio olímpico entra na sua fase final propriamente dita.
E quem entrou a todo o gás foram mesmo os campeões olímpicos em título, a Grã-Bretanha, que no Estádio Rasunda, nos arredores de Estocolmo, cilindrava a Hungria por 7-0. Neste duelo o sublinhado maior vai para o avançado inglês Harold Walden que à sua conta apontou 6 dos 7 tentos da armada britânica. Com mais 5 tentos apontados nos restantes dois encontros disputados Walden haveria de se sagrar no artilheiro destes Jogos Olímpicos com um total de 11 remates certeiros.
Quem também continuava a não brincar em serviço era a Finlândia. Depois de afastar a poderosa Itália os finlandeses bateram no Estádio Traneberg os vizinhos da Rússia por 2-1 na sequência de mais uma grande exibição, conforme rezam as raras crónicas da época, continunado desta forma no trilho do sonho em chegar a pelo menos uma medalha.
Sete foi também a “chapa” usada pela Dinamarca – vice campeã olímpica em 1908 – para bater a frágil Noruega com destaque para dois golos de Sophus Nielsen, o melhor marcador do torneio anterior. Por último, a Holanda eclipsava o sonho do mestre Hugo Meisl em levar a Áustria ao topo do Mundo, após uma vitória de 3-1.
Pódio final igual ao de Londres 1908
Depois de dois intensos dias de futebol (29 e 30 de junho) o torneio olímpico fazia uma pausa antes das empolgantes meias finais. Pausa no torneio olímpico mas não no futebol, já que a 1 de julho jogou-se a 1ª fase do recém criado Torneio de Consolação, integrado pelas equipas eliminadas até então. E se Itália e Áustria conseguiram vitórias sofridas (por 1-0) ante, respetivamente, Suécia e Noruega, já a Alemanha tirou a barriga de misérias e esmagou a Rússia por 16-0 (!). Um jogo onde o alemão Gottfried Fuchs teve o seu minuto de fama enquanto futebolista ao apontar nada mais nada menos do que 10 dos 16 tentos da sua equipa. Com esta performance Fuchs igualava o dinamarquês Sophus Nielsen que quatro anos antes havia apontado o mesmo número de golos no jogo da meia final diante da França.
A 2 de julho disputaram-se então as tão esperadas meias finais do torneio olímpico. E tal como o ocorrido em 1908 Grã-Bretanha e Dinamarca qualificaram-se para o jogo decisivo após inquestionáveis vitórias sobre Finlândia (4-0, com quatro golos da autoria de Harold Walden) e Holanda (4-1), respetivamente.
Holandeses que tal como em Londres haveriam de ficar com o bronze, depois de no dia 4 de julho terem goleado em Rasunda a Finlândia por 9-0, um pesado score onde se destacou Jan Vos, autor de cinco golos.
E nesse mesmo dia, no Estádio Olímpico, perante o olhar de 25 000 espetadores, britânicos e dinamarqueses repetiram a final de 1908 em busca do ouro. E tal como então a Grã-Bretanha foi... mais forte. Como se já não bastasse o azar de não poder contar com um dos seus principais jogadores, Poul Nielsen, a Dinamarca viu-se reduzida a 10 elementos à passagem do minuto 15 em virtude do médio Charles Buchwald ter abandonado o relvado lesionado. Ora, como na época não eram permitidas substituições os nórdicos tiveram de enfrentar a forte armada britânica com menos um atleta, complicando ainda mais a missão de chegar ao ouro.
Cinco minutos antes do infortúnio de Buchwald já a Grã-Bretanha se havia adiantado no marcador graças a um remate do goleador Harold Walden. Ainda na etapa inicial Gordon Hoare dilataria a vantagem dos campeões olímpicos à passagem do minuto 22, para 5 minutos volvidos Ole Anthon Olsen reduzir para os nórdicos. O carrossel britânico não iria ficar por aqui, e ainda antes do intervalo Gordon Hoare e Arthur Berry davam mais duas machadadas nos fragilizados dinamarqueses ao ampliarem o marcador para 4-1, e dissipando praticamente as dúvidas quanto ao vencedor do torneio olímpico. Perante o cenário que estava a ser edificado em Estocolmo só mesmo uma catástrofe iria impedir os britânicos – conduzidos pelo seu capitão de equipa, e principal referência, Vivian Woodward – de sucederem a si próprios no trono do futebol olímpico. E assim foi. O melhor que a Dinamarca conseguiu fazer na etapa final foi reduzir as desvantagem para 2-4, graças a um novo golo de Ole Anthon Olsen, insuficiente para impedir a (re)coroação da Grã-Bretanha como a melhor seleção do Mundo.
Já o torneio de consolação seria ganho no dia seguinte à principal final pela Hungria, que no encontro decisivo batia a Áustria por 3-0.
Mas para a história Grã-Bretanha seria o nome que mais iria reluzir na altura de recordar o torneio olímpico de Estocolmo em 1912, o da Grã-Bretanha e dos seguintes artesões de mais um memorável momento do futebol de terras de Sua Majestade: Ronald Brebner, Arthur Berry, Thomas Burn, Joseph Dines, Edward Hanney, Gordon Hoare, Arthur Knight, Henry Littlewort, Douglas McWhirter, Ivan Sharpe, Harold Stamper, Harold Walden, Vivian Woodward, e Edward Wright.
A figura: Gottfried Fuchs
A nível individual o inglês Harold Walden pode ter vencido o prémio de melhor marcador do(s) torneio(s) mas as luzes da ribalta foram direcionadas para o alemão Gottfried Fuchs, o homem que no primeiro jogo da sua seleção no certame dos derrotados, isto é, o Torneio de Consolação, apontou 10 dos 16 golos com que os alemães bateram a Rússia. Este foi mesmo o “minuto de fama” de Fuchs no planeta da bola, um homem que nasceu a 3 de maio de 1889 em Karlsruher e que cujo currículo de futebolista não vai além daquele célebre jogo das Olímpiadas de Estocolmo onde igualou o recorde do dinamarquês Sophus Nielsen. Judeu, Fuchs foi forçado a deixar o seu país pouco depois da façanha obtida diante da Rússia, para fugir ao Holcausto que vitimou milhares de judeus. O Canadá acolheu Gottfried Fuchs, que viria a morrer em Montreal em 1972, com 82 anos de idade.
Futebol português fez-se representar... no atletismo
Por esta altura do século XX Portugal ainda não havia criado o seu combinado nacional, algo que só viria a acontecer em 1921. Porém um ilustre futebolista lusitano daquela época viajou até Estocolmo para representar as cores nacionais. De seu nome Francisco Stromp, nome mítico do futebol do Sporting Clube Portugal da década de 10 do século passado que esteve em Estocolmo como praticante de... atlestismo. A aventura de Stromp foi no entanto curta, já que não foi além das eliminatórias da prova dos 100m, explicando no seu regresso a Portugal que esta eliminação precoce se tinha ficado a dever ao facto da prova em que participou ter decorrido pouco depois da cerimónia de abertura dos jogos, cerimónia essa onde ele havia ficado cerca de uma hora e meia de pé debaixo de um calor insuportável!
Resultados (Torneio Olímpico):
1ª Fase
29 de junho
Itália – Finlândia: 2-3
(Golos: Bontadini, Sardi / Ohman, Soinio, Wiberg)
Alemanha – Áustria: 1-5
(Golos: Jager / Merz (2), Studnicka, Neubauer, Cimera)
Suécia – Holanda: 3-4
(Golos: Swensson (2), Borjesson / Vos (2), Bouvij (2)
Quartos-de-final
30 de junho
Rússia – Finlândia: 1-2
(Golos: Butusov / Wiberg, Ohman)
Grã-Bretanha – Hungria: 7-0
(Golos: Walden (6), Woodward)
Dinamarca – Noruega: 7-0
(Golos: Olsen (3), Nielsen (2), Wolfhagen, Middelboe)
Holanda – Áustria: 3-1
(Golos: Vos, Ten Cate, Bouvij / Mueller)
Meias-finais
2 de julho
Grã-Bretanha – Finlândia: 4-0
(Golos: Wladen (4))
Dinamarca – Holanda: 4-1
(Golos: Jorgensen, Olsen (2), Nielsen / Hansen (p.b.))
Medalha de bronze
4 de julho
Holanda – Finlândia: 9-0
(Golos: Vos (5), Van der Sluis (2), De Groot (2))
Medalha de Ouro (final)
4 de julho
Grã-Bretanha – Dinamarca: 4-2
Estádio: Olímpico de Estocolmo (Suécia)
Árbitro: Christiaan Groothoff (Holanda)
Grã-Bretanha: Ronald brebner, Thomas Burn, Arthur Knight, Douglas McWhirter, Horace Littlewort, James Dines, Arthur Berry, Vivian Woodward, Harold Walden, Gordon Hoare, Ivan Sharpe.
Dinamarca: Sophus Hansen, Nils Middelboe, Harald Hansen, Charles Buchwald, Emil Jorgensen, Paul Berth, Oskar Nielsen, Axel Thufvesson, Ole Anthon Olsen, Sophus Nielsen, Vilhelm Wolfhagen
Golos: 1-0 (Walden, aos 10m), 2-0 (Hoare, aos 22m), 2-1 (Olsen, aos 27m), 3-1 (Hoare, aos 41m), 4-1 (Berry, aos 43m), 4-2 (Olsen, aos 81m)
Resultados (Torneio de Consolação):
1ª Fase
1 de julho
Áustria – Noruega: 1-0
(Golo: Neubauer)
Suécia – Itália: 0-1
(Golo: Bontadini)
Alemanha – Rússia: 16-0
(Golos: Fuchs (10), Forderer (4), Burger, Oberle)
Meias-finais
3 de julho
Alemanha – Hungria: 1-3
(Golos: Forderer / Schlosser (3))
Itália – Áustria: 1-5
(Golos: Berardo / Grundwald (2), Mueller, Hussak, Studnicka)
Final
5 de julho
Hungria – Áustria: 3-0
(Golos: Bodnar, Schlosser, Pataki)
Legenda das fotografias:
1-Cartaz oficial dos Jogos Olímpicos de 1912
2-A pomposa cerimónia de abertura
3-O inglês Harold Wladen, melhor marcador dos jogos com 11 golos
4-Imagem da final entre Grã-Bretanha e Dinamarca
5-Nova imagem do jogo do título
6-O alemão Fuchs, autor de 10 golos num único jogo
7-Um lance entre italianos e finlandeses
8-Imagem do Áustria - Alemanha
9-Momento do equilibrado duelo entre suecos e holandeses
10-Britânicos não vassilaram ante os magiares
11-Seleção austríaca
12-Duelo entre britânicos e finlandeses
13-A equipa da Holanda
14-Britânicos tentam atacar a baliza dinamrquesa durante a final olímpica
15-Os campeões olímpicos de 1912
16-Seleção russa
17- Hungria, a campeã do Torneio de Consolação
Estreia foi também o sistema sonoro de alto-falantes instalado não só no complexo olímpico como também por toda a cidade de Estocolmo com a intenção de transmitir os resultados das 14 modalidades desenvolvidas.
E no futebol a novidade também foi uma característica que se fez notar desde logo. A principal foi o facto de o número de seleções integrantes do torneio olímpico ter duplicado em relação às Olimpíadas de 1908. No total foram 11 os combinados nacionais que em Estocolmo lutaram pelo ouro, sendo que à semelhança do que acontecera quatro anos antes em Londres todos eles eram oriundos da Europa. E já que se fala em novidade há que dar conta de uma segunda competição futebolística dentro do próprio torneio olímpico, denominada de Torneio de Consolação, destinada às seleções eliminadas na 1ª fase e nos quartos-de-final da prova principal.
Surpresa a abrir
A 29 de junho foi dado então o pontapé de saída do torneio de futebol dos jogos de 1912, e logo com uma tremenda surpresa. Em jogo alusivo à 1ª fase a forte Itália liderada pelo lendário treinador Vittorio Pozzo – que na década de 30 haveria de conduzir a Squadra Azzurra à conquista de dois Campeonatos do Mundo consecutivos – sucumbia aos pés da frágil Finlândia (!) por 2-3 após prolongamento e ficava desta forma arredada da possibilidade de lutar pelo título. Nota curiosa o facto deste encontro inaugural ter sido arbitrado por outra lenda das táticas, o austríaco Hugo Meisl.
Célebre treinador que neste mesmo dia iria conduzir a Áustria a um esmagador triunfo sobre a Alemanha por 5-1. O terceiro e último encontro da ronda inicial – também realizado no dia 29 – colocou frente a frente no Estádio Olímpico de Estocolmo a equipa da casa, a Suécia, e a medalha de bronze dos Jogos Olímpicos de 1908, a Holanda. Bem disputada e pautada pelo signo do equilíbrio a partida só seria ganha pelos homens do “país das tulipas” no prolongamento, por 4-3.
Grã-Bretanha não brincou em serviço
Passada a fase pré-eliminar, a qual há que dizê-lo causou grande contestação entre a maioria das seleções, pelo facto de o sorteio ter emparelhado as equipas mais fortes (Itália, Suécia, Holanda, Áustria, ou Alemanha) e deixado de fora os conjuntos mais fracos (como Noruega, ou Rússia), o que significava desde logo que alguns dos teoricamente candidatos ao título iriam sair mais cedo da competição, eis que o torneio olímpico entra na sua fase final propriamente dita.
E quem entrou a todo o gás foram mesmo os campeões olímpicos em título, a Grã-Bretanha, que no Estádio Rasunda, nos arredores de Estocolmo, cilindrava a Hungria por 7-0. Neste duelo o sublinhado maior vai para o avançado inglês Harold Walden que à sua conta apontou 6 dos 7 tentos da armada britânica. Com mais 5 tentos apontados nos restantes dois encontros disputados Walden haveria de se sagrar no artilheiro destes Jogos Olímpicos com um total de 11 remates certeiros.
Quem também continuava a não brincar em serviço era a Finlândia. Depois de afastar a poderosa Itália os finlandeses bateram no Estádio Traneberg os vizinhos da Rússia por 2-1 na sequência de mais uma grande exibição, conforme rezam as raras crónicas da época, continunado desta forma no trilho do sonho em chegar a pelo menos uma medalha.
Sete foi também a “chapa” usada pela Dinamarca – vice campeã olímpica em 1908 – para bater a frágil Noruega com destaque para dois golos de Sophus Nielsen, o melhor marcador do torneio anterior. Por último, a Holanda eclipsava o sonho do mestre Hugo Meisl em levar a Áustria ao topo do Mundo, após uma vitória de 3-1.
Pódio final igual ao de Londres 1908
Depois de dois intensos dias de futebol (29 e 30 de junho) o torneio olímpico fazia uma pausa antes das empolgantes meias finais. Pausa no torneio olímpico mas não no futebol, já que a 1 de julho jogou-se a 1ª fase do recém criado Torneio de Consolação, integrado pelas equipas eliminadas até então. E se Itália e Áustria conseguiram vitórias sofridas (por 1-0) ante, respetivamente, Suécia e Noruega, já a Alemanha tirou a barriga de misérias e esmagou a Rússia por 16-0 (!). Um jogo onde o alemão Gottfried Fuchs teve o seu minuto de fama enquanto futebolista ao apontar nada mais nada menos do que 10 dos 16 tentos da sua equipa. Com esta performance Fuchs igualava o dinamarquês Sophus Nielsen que quatro anos antes havia apontado o mesmo número de golos no jogo da meia final diante da França.
A 2 de julho disputaram-se então as tão esperadas meias finais do torneio olímpico. E tal como o ocorrido em 1908 Grã-Bretanha e Dinamarca qualificaram-se para o jogo decisivo após inquestionáveis vitórias sobre Finlândia (4-0, com quatro golos da autoria de Harold Walden) e Holanda (4-1), respetivamente.
Holandeses que tal como em Londres haveriam de ficar com o bronze, depois de no dia 4 de julho terem goleado em Rasunda a Finlândia por 9-0, um pesado score onde se destacou Jan Vos, autor de cinco golos.
E nesse mesmo dia, no Estádio Olímpico, perante o olhar de 25 000 espetadores, britânicos e dinamarqueses repetiram a final de 1908 em busca do ouro. E tal como então a Grã-Bretanha foi... mais forte. Como se já não bastasse o azar de não poder contar com um dos seus principais jogadores, Poul Nielsen, a Dinamarca viu-se reduzida a 10 elementos à passagem do minuto 15 em virtude do médio Charles Buchwald ter abandonado o relvado lesionado. Ora, como na época não eram permitidas substituições os nórdicos tiveram de enfrentar a forte armada britânica com menos um atleta, complicando ainda mais a missão de chegar ao ouro.
Cinco minutos antes do infortúnio de Buchwald já a Grã-Bretanha se havia adiantado no marcador graças a um remate do goleador Harold Walden. Ainda na etapa inicial Gordon Hoare dilataria a vantagem dos campeões olímpicos à passagem do minuto 22, para 5 minutos volvidos Ole Anthon Olsen reduzir para os nórdicos. O carrossel britânico não iria ficar por aqui, e ainda antes do intervalo Gordon Hoare e Arthur Berry davam mais duas machadadas nos fragilizados dinamarqueses ao ampliarem o marcador para 4-1, e dissipando praticamente as dúvidas quanto ao vencedor do torneio olímpico. Perante o cenário que estava a ser edificado em Estocolmo só mesmo uma catástrofe iria impedir os britânicos – conduzidos pelo seu capitão de equipa, e principal referência, Vivian Woodward – de sucederem a si próprios no trono do futebol olímpico. E assim foi. O melhor que a Dinamarca conseguiu fazer na etapa final foi reduzir as desvantagem para 2-4, graças a um novo golo de Ole Anthon Olsen, insuficiente para impedir a (re)coroação da Grã-Bretanha como a melhor seleção do Mundo.
Já o torneio de consolação seria ganho no dia seguinte à principal final pela Hungria, que no encontro decisivo batia a Áustria por 3-0.
Mas para a história Grã-Bretanha seria o nome que mais iria reluzir na altura de recordar o torneio olímpico de Estocolmo em 1912, o da Grã-Bretanha e dos seguintes artesões de mais um memorável momento do futebol de terras de Sua Majestade: Ronald Brebner, Arthur Berry, Thomas Burn, Joseph Dines, Edward Hanney, Gordon Hoare, Arthur Knight, Henry Littlewort, Douglas McWhirter, Ivan Sharpe, Harold Stamper, Harold Walden, Vivian Woodward, e Edward Wright.
A figura: Gottfried Fuchs
A nível individual o inglês Harold Walden pode ter vencido o prémio de melhor marcador do(s) torneio(s) mas as luzes da ribalta foram direcionadas para o alemão Gottfried Fuchs, o homem que no primeiro jogo da sua seleção no certame dos derrotados, isto é, o Torneio de Consolação, apontou 10 dos 16 golos com que os alemães bateram a Rússia. Este foi mesmo o “minuto de fama” de Fuchs no planeta da bola, um homem que nasceu a 3 de maio de 1889 em Karlsruher e que cujo currículo de futebolista não vai além daquele célebre jogo das Olímpiadas de Estocolmo onde igualou o recorde do dinamarquês Sophus Nielsen. Judeu, Fuchs foi forçado a deixar o seu país pouco depois da façanha obtida diante da Rússia, para fugir ao Holcausto que vitimou milhares de judeus. O Canadá acolheu Gottfried Fuchs, que viria a morrer em Montreal em 1972, com 82 anos de idade.
Futebol português fez-se representar... no atletismo
Por esta altura do século XX Portugal ainda não havia criado o seu combinado nacional, algo que só viria a acontecer em 1921. Porém um ilustre futebolista lusitano daquela época viajou até Estocolmo para representar as cores nacionais. De seu nome Francisco Stromp, nome mítico do futebol do Sporting Clube Portugal da década de 10 do século passado que esteve em Estocolmo como praticante de... atlestismo. A aventura de Stromp foi no entanto curta, já que não foi além das eliminatórias da prova dos 100m, explicando no seu regresso a Portugal que esta eliminação precoce se tinha ficado a dever ao facto da prova em que participou ter decorrido pouco depois da cerimónia de abertura dos jogos, cerimónia essa onde ele havia ficado cerca de uma hora e meia de pé debaixo de um calor insuportável!
Resultados (Torneio Olímpico):
1ª Fase
29 de junho
Itália – Finlândia: 2-3
(Golos: Bontadini, Sardi / Ohman, Soinio, Wiberg)
Alemanha – Áustria: 1-5
(Golos: Jager / Merz (2), Studnicka, Neubauer, Cimera)
Suécia – Holanda: 3-4
(Golos: Swensson (2), Borjesson / Vos (2), Bouvij (2)
Quartos-de-final
30 de junho
Rússia – Finlândia: 1-2
(Golos: Butusov / Wiberg, Ohman)
Grã-Bretanha – Hungria: 7-0
(Golos: Walden (6), Woodward)
Dinamarca – Noruega: 7-0
(Golos: Olsen (3), Nielsen (2), Wolfhagen, Middelboe)
Holanda – Áustria: 3-1
(Golos: Vos, Ten Cate, Bouvij / Mueller)
Meias-finais
2 de julho
Grã-Bretanha – Finlândia: 4-0
(Golos: Wladen (4))
Dinamarca – Holanda: 4-1
(Golos: Jorgensen, Olsen (2), Nielsen / Hansen (p.b.))
Medalha de bronze
4 de julho
Holanda – Finlândia: 9-0
(Golos: Vos (5), Van der Sluis (2), De Groot (2))
Medalha de Ouro (final)
4 de julho
Grã-Bretanha – Dinamarca: 4-2
Estádio: Olímpico de Estocolmo (Suécia)
Árbitro: Christiaan Groothoff (Holanda)
Grã-Bretanha: Ronald brebner, Thomas Burn, Arthur Knight, Douglas McWhirter, Horace Littlewort, James Dines, Arthur Berry, Vivian Woodward, Harold Walden, Gordon Hoare, Ivan Sharpe.
Dinamarca: Sophus Hansen, Nils Middelboe, Harald Hansen, Charles Buchwald, Emil Jorgensen, Paul Berth, Oskar Nielsen, Axel Thufvesson, Ole Anthon Olsen, Sophus Nielsen, Vilhelm Wolfhagen
Golos: 1-0 (Walden, aos 10m), 2-0 (Hoare, aos 22m), 2-1 (Olsen, aos 27m), 3-1 (Hoare, aos 41m), 4-1 (Berry, aos 43m), 4-2 (Olsen, aos 81m)
Vídeo: GRÃ-BRETANHA - DINAMARCA (Final)
Resultados (Torneio de Consolação):
1ª Fase
1 de julho
Áustria – Noruega: 1-0
(Golo: Neubauer)
Suécia – Itália: 0-1
(Golo: Bontadini)
Alemanha – Rússia: 16-0
(Golos: Fuchs (10), Forderer (4), Burger, Oberle)
Meias-finais
3 de julho
Alemanha – Hungria: 1-3
(Golos: Forderer / Schlosser (3))
Itália – Áustria: 1-5
(Golos: Berardo / Grundwald (2), Mueller, Hussak, Studnicka)
Final
5 de julho
Hungria – Áustria: 3-0
(Golos: Bodnar, Schlosser, Pataki)
Legenda das fotografias:
1-Cartaz oficial dos Jogos Olímpicos de 1912
2-A pomposa cerimónia de abertura
3-O inglês Harold Wladen, melhor marcador dos jogos com 11 golos
4-Imagem da final entre Grã-Bretanha e Dinamarca
5-Nova imagem do jogo do título
6-O alemão Fuchs, autor de 10 golos num único jogo
7-Um lance entre italianos e finlandeses
8-Imagem do Áustria - Alemanha
9-Momento do equilibrado duelo entre suecos e holandeses
10-Britânicos não vassilaram ante os magiares
11-Seleção austríaca
12-Duelo entre britânicos e finlandeses
13-A equipa da Holanda
14-Britânicos tentam atacar a baliza dinamrquesa durante a final olímpica
15-Os campeões olímpicos de 1912
16-Seleção russa
17- Hungria, a campeã do Torneio de Consolação
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