sexta-feira, abril 04, 2025
Museu Virtual do Futebol celebra o seu 19.º aniversário
quinta-feira, abril 03, 2025
Efemérides do Futebol (54)... Trio de arbitragem recrutado na bancada
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O insólito trio de arbitragem comandado pelo senhor José Nunes ladeado pelos capitães das equipas |
A velha expressão popular de que “quem não tem cão, caça com gato” encaixaria na perfeição neste episódio insólito que há pouco mais de uma década a esta parte aconteceu no futebol português. No futebol do povo, há que sublinhá-lo, no futebol jogado em campos de terra batida de forma desinteressada e apaixonada. Mas voltando a esta efeméride bizarra para recuar até ao dia 10 de março de 2012, altura em que na 12.º jornada do hoje extinto Campeonato de Amadores da Associação de Futebol do Porto mediam forças a Associação Desportiva e Cultural de Frazão e o Clube Marechal Gomes da Costa (MGC). Até aqui tudo normal, menos o facto de a Paços de Ferreira – local do encontro – não se ter deslocado o trio de arbitragem! Aparentemente, como seria explicado mais tarde, um erro informático não designou nenhuma equipa de arbitragem para dirigir a partida.
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Não foi por falta de árbitros oficiais que não se jogou futebol no pelado de Frazão |
Grandes Mestres da Táctica (14)... Artur Baeta
É um facto que o futebol de formação em Portugal só começou a ser encarado com mais atenção, e acima de tudo com mais profissionalismo, com a chamada Geração de Ouro criada por Carlos Queirós na década de 80 do século passado. Porém, muito antes do professor Queirós promover o 25 de Abril do futebol em Portugal, outra figura olhou para a formação com uma atenção muito especial, dedicando-se de corpo e alma ao longo do seu trajeto pela modalidade a desenvolver não só os futebolistas do “amanhã”, mas acima de tudo promover a valorização do homem no seio do fenómeno desportivo. Essa figura foi, e é, Artur Baeta, um homem do sul (nasceu no Barreiro a 29 de julho de 1912) que construiu o seu legado no norte, como já iremos perceber nas próximas linhas. Como jogador de futebol teve uma carreira simples, sem grande pompa, com passagens pelo Barreirense e pelo Carcavelinhos na década de 30. A sua estrela começou, de facto, a brilhar assim que pendurou as chuteiras, começando por se exibir no clube da sua terra, o Barreirense, como um visionário no que ao futebol de formação diz respeito. No emblema do Barreiro fundou uma escola de jogadores, na década de 40, onde na qual evoluíam jovens a partir dos 15 anos de idade. Algo inédito para a época no Desporto Rei português. Artur Baeta não se limitava a ser um condutor de jovens futebolistas, mas de igual modo um mestre na vertente dos ensinamentos cívicos, um pedagogo de excelência, que aliou o desenvolvimento do jovem futebolista quer enquanto atleta, mas sobretudo, quer enquanto futuro homem, enquanto cidadão.
Artur Baeta não vivia então exclusivamente do futebol, era funcionário público de profissão, tendo por esse motivo sido transferido, em meados dos anos 40, para a cidade do Porto, onde, de facto, viria a construir o seu legado de mestre na área do futebol de formação. O FC Porto em boa hora o recebeu, já que de pronto Artur Baeta revolucionou, no bom sentido, o setor da formação portista ao longo da década seguinte. Criou um gabinete técnico específico para as camadas jovens; passou a enfatizar a vida académica dos jovens futebolistas, incentivado, e até exigindo, bons resultados a nível escolar; passou a preocupar-se com alimentação dos seus jovens futebolistas; entre outros conceitos inovadores. Os frutos deste pioneirismo, digamos assim, foram colhidos em 1953, ano em que o FC Porto conquistou o seu primeiro título de campeão nacional de juniores, sob a batuta de Baeta. Nas Antas, os seus vastos conhecimentos seriam ainda aproveitados pela equipa sénior, já que nesta primeira passagem pelo clube da Cidade Invicta foi treinador-adjunto entre 1952 e 1954, desde logo de outro mestre do futebol nacional, Cândido de Oliveira. Aliás, o primeiro curso de treinadores de futebol organizado em Portugal, e, 1940, teve estes dois homens como atores: mestre Cândido no papel de professor, e Baeta como aluno.
Provou igualmente que era um excelente estratega no plano administrativo a nível mais generalizado, ou seja, ao ponto de reestruturar todo o funcionamento de um clube no que a futebol alude. Que o diga o Salgueiros, que em finais dos anos 50 beneficiou da sapiência de Artur Baeta. Em 1959, a secção de futebol do clube de Paranhos foi dirigida por este homem, tendo sido completamente reorganizada/reestruturada sob o ponto de vista interno no seu conjunto de obrigações e deveres; e no relacionamento entre dirigentes, técnicos e desportivas. No plano desportivo houve um volte face na postura do velho Salgueiral, tendo sido implementada uma filosofia mais profissionalizada do seu futebol, quer sob o ponto de vista da preparação física, quer no aspeto da psicológica. E também o Salgueiros colheu frutos desta política desportiva, já que logo na primeira temporada (59/60) sob o comando de Artur Baeta a equipa sénior subiu à 1.ª Divisão Nacional. Repetiu a façanha mais a sul na temporada de 61/62, quando guiou o Feirense até ao escalão maior português. Contudo, a sua grande paixão e talento era a formação, trabalhar com os jovens, e em 1963 regressa ao FC Porto para ajudar a formar centenas, para não dizer milhares, de futebolistas, alguns deles viriam a ser lendas do futebol portista, casos de Pavão, Artur Jorge, António Oliveira, Fernando Gomes, ou Rodolfo Reis. Todos estes jogadores evoluíram nas mãos de Artur Beata no mítico Campo da Constituição, verdadeiro alfobre de campeões, e que após a sua morte, em janeiro de 1999, se passou a denominar Campo da Constituição - Escola de Futebol Artur Baeta, sendo que já no novo milénio seria rebatizado para Vitalis Park/Campo da Constituição. Paralelamente à liderança do departamento de formação dos azuis-e-brancos, Artur Baeta deu uma perninha no jornalismo desportivo, notabilizando-se com os seus vastos conhecimentos do futebol de formação no Jornal de Notícias, no Mundo Desportivo, e no Norte Desportivo.