Entrem senhores visitantes, entrem que a entrada é de borla. E hoje vale bem a pena darem uma saltada ao Museu Virtual do Futebol, pois vamos dar uma olhadela a um dos lugares mais deliciosos da história do mundo da bola, a vitrina dedicada aos Campeonatos do Mundo. Pois é, estamos de volta a esta vitrina sagrada, depois de a termos inaugurado com o retrato do Uruguai 1930, o primeiro Mundial da história.
Hoje viajamos até Itália, até ao ano de 1934, onde iremos recordar a história do segundo Mundial da FIFA.
O Mundial da propaganda fascista
O extraordinário êxito alcançado no Uruguai 1930 abriu caminho para que quatro anos passados o número de inscrições duplicasse, passando de 16 para 32. O sucesso da Copa do Mundo estava assim comprovado. No congresso da FIFA de 1932, realizado em Estocolmo, a Itália foi escolhida para organizar o evento, dando desde logo a garantia de assegurar todo o esquema financeiro, aliando a isto o facto de dispor de 8 estádios com capacidades para uma média de 50/60 mil pessoas.
Perante estes argumentos o outro candidato a organizar o Mundial, a Suécia, desistiu de imediato. No entanto, a escolha da Itália para organizar a prova ficou também a dever-se a factores de ordem política. A política que na época já havia ditado leis noutros eventos desportivos importantes, tais como os Jogos Olímpicos. O desporto era por isso um excelente veículo de propaganda para os políticos da altura. E no Mundial de 34 a política representava um papel ainda mais importante. Com o ditador Benito Mussolini no poder, o fascismo ditava leis em Itália. O “Dulce”, como Mussolini era conhecido, sabia o quanto uma vitória nos domínios do desporto poderia constituir para uma auréola suplementar de prestígio do regime. O General Vaccaro, que era o presidente da Federação Italiana de Futebol da época, sublinhou que «o fim último deste Mundial é mostrar ao Mundo qual é o ideal fascista do desporto!» Foi então montada uma diabólica “máquina” para colocar o futebol ao serviço do fascismo.
Foi sem dúvida alguma o campeonato da propaganda de Mussolini. O Mundial do fascismo. Tudo valia para promover o fascismo, e não foi de estranhar que o “Dulce” mandasse construir um novo trofeu, denominado Coppa del Dulce (só podia ser assim!) para premiar os vencedores, numa tentativa clara de ofuscar a Taça Jules Rimet.
A vingança do Uruguai
A recusa das principais potências futebolísticas europeias em viajar até ao Uruguai quatro anos antes para ai disputar o primeiro Mundial da FIFA teve as suas repercussões em 1934. Isto, porque os campeões em título, o Uruguai, decidiu pagar na mesma moeda, isto é recusou-se a defender o ceptro. Esta seria, aliás, a primeira e única vez que um campeão do Mundo não defendeu o título no Mundial seguinte.
Paraguai, Chile, Bolívia e Perú também seguiram as pisadas dos vizinhos celestes. Assim, a representação da América do Sul ficou entregue ao Brasil e à Argentina que se qualificaram automaticamente para a fase final. Contudo, estas duas delegações não se fariam representar em Itália pelos seus principais craques de então, já que os seus grupos foram constituídos maioritariamente por amadores que acabariam por fazer a longa travessia do Atlântico para realizar somente um jogo. Ambos fizeram campanhas paupérrimas, em particular estes últimos, que quatro anos antes haviam chegado à final do Mundial 1930. E assim foi porque os seus melhores jogadores de então transferiram-se para a selecção de... Itália. É verdade. E aqui notou-se, uma vez mais, a mão do ditador Mussolini, que queria que a sua Itália vencesse a qualquer preço. Para isso alterou as leis do desporto, permitindo que todos os futebolistas de ascendência italiana, por mais remota que fosse, adquirissem através de uma simples petição a cidadania italiana. Foram então chamados de “oriundi”. Desta forma o seleccionador italiano, Vittorio Pozzo, um jornalista desportivo que se tornou herói no seu país (e veremos porquê quer no final desta história quer quando contarmos a saga do Mundial de 1938), pôde contar com os mais cotados futebolistas argentinos da altura, casos de Luigi Monti (uma das vedetas do primeiro Mundial), Guaita, Demaria e Orsi. Quatro super craques que se juntavam a outros talentos que formavam a Squadra Azzurra de então, como o fantástico guarda-redes Combi, e os avançados Schiavio e o grande Meazza. A Itália tornava-se assim ainda mais favorita à conquista do “seu” Mundial.
O pontapé inicial
A cerimónia de abertura deu-se em Roma, a 27 de Maio, no Estádio do Partido Nacional Fascista (era assim que se chamava o recinto), o qual seria transformado num mar de “camisas negras” que entraram em delírio quando Benito Mussolini subiu à tribuna de honra, ouvindo-se então os gritos do slogan fascista de então: “Forza Itália”.
Os jogos deste Mundial seriam então distribuídos pelas cidades de Roma, Triste, Florença, Turim, Génova, Milão, Bolonha e Nápoles. Jogos correspondentes aos 1/8 de final, uma vez que contrariamente ao que havia sucedido em 1930 os jogos seriam logo a eliminar em detrimento de uma fase de grupos.
Duas equipas eram tidas então à partida, de forma quase unânime, como candidatas à vitória final, a Itália do “mão de ferro” Pozzo, como já vimos, e a Áustria, selecção conhecida na época como o Wunderteam (equipa maravilha), que era dirigida pelo célebre treinador Hugo Meisl, que tal como Pozzo era um grande adepto do estilo de futebol britânico.
Duas equipas que apresentaram no entanto duas concepções de jogo distintas, ou seja, os italianos exibindo um esquema de grande segurança defensiva (que seriam as sementes do “catanaccio”), e dispondo de rápidos e vigorosos atacantes, enquanto que os austríacos fazendo de uma técnica aprimorada o seu argumento favorito despertavam a admiração do público por toda a parte onde destilavam o seu belo futebol.
Bom, no jogo inaugural do torneio, em Roma, a Itália esmagou os frágeis Estados Unidos da América por 7-1, com Schiavio (que seria o artilheiro deste Mundial) a marcar 3 golos. Aliás, um desses golos de Schiavio foi o número 100 da história da “Copa”. Schiavio entrava desta forma para a história dos Mundiais.
Entretanto, a Áustria vencia em Turim, com dificuldade, por 3-2, a França. Apenas no prolongamento o Wunderteam de Meisl assegurou a passagem aos ¼ de final.
Mas nem todos os cabeças-de-série mostrariam o porquê de terem merecido tal distinção, já que Brasil , Argentina e Holanda seriam afastado logo à primeira, respectivamente pela Espanha (1-3 em Génova), Suécia (2-3 em Bolonha) e Suíça (2-3 em Milão). Dos apurados para os ¼ de final a Checoslováquia encontrou em Trieste grandes dificuldades perante a Roménia (2-1, com 0-1 ao intervalo). Dificuldades também foram encontradas pela Hungria para despachar o modesto Egipto, em Nápoles, por 4-2. E mesmo a Alemanha ao eliminar, em Florença, a Bélgica por 5-2, não encontrou as facilidades que o resultado possa supor.
Chegado aos ¼ de final o Mundial conheceu grandes e épicos jogos. Encontros onde os dois candidatos ao título encontraram grandes dificuldades para seguir em frente. Os austríacos venceram por 2-1 a Hungria, em Bolonha, num confronto angustiante, como afirmou a critica da altura. Em Florença deu-se uma das grandes “batalhas” deste Mundial, protagonizada pela Espanha e pela Itália. Debaixo de um calor tórrido as duas equipas enfrentaram-se durante... dois jogos. É verdade. Foram 210 minutos de intenso futebol. Um tremendo desgaste físico que deixou marcas profundas nas duas equipas. No segundo jogo, a 28 de Maio, doze dos protagonistas que na véspera tinham jogado 120 minutos (com o resultado final a ficar em 1-1) – cinco italianos e sete espanhóis, entre eles o mítico guarda-redes Zamora - não actuaram.
Bem, mas em relação à parte 1 desta célebre “batalha” , isto é, ao primeiro encontro, há que recordar que a Espanha saiu na frente com um golo de Regueiro. Com o passar dos minutos os italianos pareciam cada vez mais nervosos, dentro e fora do campo. Perante a escandalosa complacência do árbitro belga Baert, os espanhóis eram nitidamente agredidos a pontapé pelos transalpinos dentro do relvado, na sequência de jogadas violentas. Seria já quase no fim do jogo que Ferrari empatou a partida. Menos de 24 horas depois, no mesmo estádio, os dirigentes espanhóis lançaram um comunicado onde denunciavam as bárbaras agressões dos italianos que tiveram como consequência o facto de a Espanha não poder utilizar sete dos seus principais jogadores por se encontraram lesionados.
No segundo jogo a Itália venceu por 1-0, com um tento de Meazza, num jogo que foi igualmente bem durinho, como o da véspera. Um jogo onde o árbitro suíço Marcet foi, à semelhança de Baert, italiano, já que anulou dois golos limpinhos aos espanhóis. Era a mão do Dulce a funcionar. A Itália tinha de ganhar a qualquer preço.
Os restantes semi-finalistas foram a Checoslováquia (3-2 à Suíça, em Turim) e a Alemanha (2-1 à Suécia, em Milão).
Final antecipada
Nas meias-finais assistiu-se à final antecipada deste Mundial, à final desejada por todos, um Itália-Áustria. As duas favoritas em confronto. Só uma delas poderia alcançar a final. E se a Squadra Azzura estava de certa forma em desvantagem pelos efeitos devastadores da “batalha” com a Espanha na eliminatória anterior, a Áustria não o estava menos, em virtude da fadiga provocada pelos jogos com franceses e húngaros.
O jogo disputou-se em Milão, num campo completamente enlameado, que se viria a tornar num factor favorável aos italianos, mais poderosos fisicamente. De nada valeriam por isso os ataques madrugadores dos austríacos, liderados pelo mágico Mathias Sindelar, na esperança de resolver cedo os acontecimentos enquanto as forças ainda o permitiam. Contudo, o quase intransponível muro defensivo italiano composto por Combi, Alemandi, Monti e Monzegnio resistiu a todos os assaltos do Wunderteam. Guaita foi o nome do herói do dia, foi ele o autor do único golo do encontro, o golo que colocou a Azzurra na final. Os austríacos despediam-se com tristeza do Mundial, e com alguma frustração também pois já na parte final do duelo com os italianos poderiam ter tido outro destino nesta Copa caso o seu ponta-direita Zischek não tivesse falhado um golo certo, já que na altura do remate não estava ninguém na baliza italiana. Paciência. Na outra meia-final, em Roma, a Checoslováquia bateu a Alemanha por 3-1.
Final em dose dupla
Na tarde de 10 de Junho o Estádio do Partido Nacional Fascista apresentava-se cheio como um ovo, esperando uma natural vitória da Azzurra. 30 000 pessoas aguardavam pelo momento em que iriam finalmente festejar o mais do que sonhado título mundial. Aliás, foi necessário recorrer-se à montagem de bancadas suplementares, visto que milhares de espectadores empoleiraram-se em vigas e traves sobre o terreno de jogo.
Na tribuna de honra lá estava Mussolini, rodeados de inúmeros símbolos alusivos ao fascismo, saudado pelos seus compatriotas como se de um Deus se tratasse. Todos esperavam a vitória dos italianos. Mas, nem tudo foi tão fácil como seria de esperar. Os checos não se deixariam intimidar, eram também uma formação muito forte e temida, onde pontificava o grande guardião Planicka.
Aliás, este foi talvez o Campeonato do Mundo que juntou num só torneio três dos melhores guarda-redes de todos os tempos, nomeadamente o italiano Combi, o espanhol Zamora e o checo Planicka. Três mitos da baliza.
A Itália entrou em campo a todo o gás, desfiando de imediato o seu venenoso ataque suportado por uma sólida defesa. Contudo, na “hora H” deparavam-se sempre com um autêntico muro de betão, o guarda-redes Planicka, que esteve soberbo nesta final. E aos 70 minutos o Estádio do Partido Nacional Fascista ficou em completo e gélido silêncio quando na sequência de um pontapé de canto Puc, de costas para a baliza, disparou com alguma violência à meia volta para o fundo das redes de Combi. Surpresa das surpresas, os checos estavam em vantagem.
O terror tomou conta da massa adepta Azzurra. Em luta contra o tempo os italianos tentarem então desesperadamente chegar ao tento da igualdade, aumentando o seu ritmo de incursões à baliza de Planicka. Os defesas checos Zenisek e Styroky limpavam a sua área de qualquer maneira, mal avistassem a bola perto da sua zona tratavam de a despachar de todos as maneiras e feitios sem grandes rodriguinhos.
O assalto dos azzurros ganhava com o passar dos minutos contornos mais intensos e sufocantes para os checos. Até que a cinco minutos do final o esperado golo italiano surgiu, quando já poucos acreditavam nele, por intermédio do ítalo-argentino Orsi. Tudo voltava assim ao principio para alívio dos italianos e de... Mussolini.
No prolongamento os italianos foram mais fortes em termos físicos, e continuaram a tomar de assalto a baliza checa. O “milagre” surgiu por intermédio do avançado-centro Schiavio.
Após o apito final do sueco Eklind a multidão explodiu de emoção: A SQUADRA AZZURRA ERA CAMPEÃ DO MUNDO.
Mussolini podia sorrir, a sua Itália vencera... o fascino era “campeão do Mundo”. Ainda hoje os teóricos do futebol afirmam que este Mundial foi vencido pelo fascismo e não pelos jogadores italianos. É certo que a Itália fora escandalosamente beneficiada pelos árbitros nos duelos com a Espanha, nos ¼ de final, mas não podemos tirar mérito a super craques como Meazza, Orsi, Schiavio e Combi que sobe a batuta do maestro Pozzo encantaram o mundo com o seu futebol. Mussolini mandou entregar aos seus heróis medalhas de ouro, e correram rumores de que deu igualmente a cada um prémio de 10 000 liras.
Em termos de bilheteira este Mundial foi considerado um êxito, já que rendeu quatro milhões de liras, isto sem contar com os valores das transmissões pagos pela rádio e pelo cinema.
Factos e curiosidades
-395 000 espectadores marcaram presença no Itália 34. Cada jogo teve uma média de 24 000 espectadores. Foram apontados 70 golos (média de 4,11 golo por jogo)
-O italiano Luigi Bertolini, um notável cabeceador, disputou o torneio com um lenço branco amarrado à cabeça. Explicou isto com o facto de as grosseiras costuras da bola ferirem a testa dos jogadores...
-O austríaco Anton Schall foi o primeiro jogador a marcar um golo no prolongamento de um jogo de uma fase final de um Mundial. Aconteceu a 27 de Maio, em Turim, no Áustria-França, que terminou com a vitória dos primeiros por 3-2. Schall apontou o golo do triunfo, um tento mal validado, uma vez que o jogador estava em claríssimo fora de jogo, como o próprio admitiu mais tarde.
-Dois futebolistas que estiveram presentes no Itália 34 tiveram descendentes que mais tarde também jogariam em fases finais do Mundial, casos do espanhol Martin Vantolra e do francês Roger Rio. O primeiro viu o filho, José Vantolra, jogar no México 70, enquanto que o segundo viu o rebento, Patrice Rio, actuar pela selecção gaulesa no Argentina 78.
-Abriu gás quando pressentiu Hitler: A estrela maior da Áustria era, como já referimos, Matthias Sindelar, o “homem de papel” como ficou mundialmente conhecido pela sua figura alta, esguia e de aspecto frágil. Deixou marcas do seu perfume e poder de tiro espalhadas pelos relvados de Itália. A sua Áustria ficou-se pelo 4º lugar da prova, mas nem isso ofuscou o brilho de Sindelar neste Mundial. Passou quase toda a sua carreira pelo FK Austria, onde venceu 3 campeonatos e 2 Taças Mitropa (uma das competições que mais tarde deu origem à Taça dos Clubes Campeões Europeus). Foi um colega seu nazi quem lançou o boato de que Matthias era judeu. Um boato que haveria de levar o “homem de papel” à morte. Isto porque quando se apercebeu que Hitler avançava a caminho de Viena antecipou-se à sua sentença e abriu as torneias de gás do seu quarto. Suicidara-se. Tinha 36 anos. Mais tarde ficaria a saber-se que nem judeu era! A notícia da sua morte abalou Viena, e uma multidão incorporou-se no seu funeral.
-Faltavam apenas cinco minutos para soar o último apito da final entre Itália e Checoslováquia. A Azzurra perdia por 0-1. Orsi recebeu a bola de Guaita, fintou um checo com o pé esquerdo e rematou com o direito. A bola ainda bateu nas mãos de Planicka mas só parou no fundo das redes. A Itália acabava de garantir o prolongamento. O curioso no meio disto tudo é que no dia seguinte à final, e perante um batalhão de fotógrafos, Orsi fez mais de 20 tentativas para executar o gesto técnico que na véspera valera o golo do empate, mas não conseguiu repeti-o!
-Vitória ou morte: Rezam as crónicas da altura que minutos antes de Itália e Checoslováquia entrarem em campo para disputar a final foi entregue no balneário italiano um bilhete assinado por Benito Mussolini onde se podia ler: “vitória ou morte”! Não se sabe porém se a ser verdade esta história a intimidação funcionou como um impulso para a Squadra Azzurra. Porém, Vittorio Pozzo no final do encontro era um homem visivelmente aliviado, tendo dito que “como é belo o futebol quando se ganha, e como teria sido terrível perder este jogo”.
-Africanos entram na alta roda do futebol: Pela primeira vez na história uma equipa africana participava na fase final de um Mundial. Tal façanha foi conseguida pelo Egipto. Mesmo eliminados na 1ª eliminatória pelos poderosos húngaros os egípcios ficariam também para a história como sendo a primeira equipa do continente negro a apontar um golo numa fase final. Tal honra pertenceu ao avançado Abdel Fawzi.
Resultados e Classificações
Oitavos-de-final
27 de Maio, Turim
Áustria – França 3-2 (após prolongamento)
(Sindelar, 45’; Schall, 100’ e Bican, 112’)
(Nicolas, 18’ e Verriest, 117 de g.p.)
Vídeo: ITÁLIA - ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
27 de Maio, Roma
Itália – Estados Unidos da América 7-1
(Schiavio, 18’, 29’ e 64’; Orsi, 20’ e 69’; Ferrari, 63’ e Meazza, 89’)
(Donelli, 57’)
27 de Maio, Florença
Alemanha – Bélgica 5-2
(Kobierski, 18’, Siffling, 56’; Conen, 73’, 77’ e 88’)
(Voorhoof, 24’ e 35’)
27 de Maio, Trieste
Checoslováquia – Roménia 2-1
(Puc, 61’ e Nejeldy, 73’)
(Dobai, 37’)
27 de Maio, Milão
Suíça – Holanda 3-2
(Kielholz, 10’ e 36’; Abbeglen, 57’)
(Smit, 23’ e Vente, 80’)
27 de Maio, Bolonha
Suécia – Argentina 3-2
(Joansson, 33’ e 67’ e Kroon, 80’)
(Belis, 16’ e Galateo, 49’)
27 de Maio, Génova
Espanha – Brasil 3-1
(Chato, 16’ de g.p. e 26’; e Langara, 41’)
(Leónidas, 72’)
27 de Maio, Nápoles
Hungria – Egipto 4-2
(Teleki, 7’; Toldi, 18’ e 87’ e Vincze,57’)
(Fawzi, 26’ e 42’)
Quartos-de-final
31 de Maio, Bolonha
Áustria – Hungria 2-1
(Horvath, 27’ e Zischek, 71’)
(Sarosi, 80’ de g.p.)
31 de Maio, Turim
Checoslováquia – Suíça 3-2
(Svodoba, 36’ e 55’ e Nejedly, 84’)
(Kielhoz, 18’ e Jaeggi, 64’)
31 de Maio, Milão
Alemanha – Suécia 2-1
(Hohmann, 57’ e 74’)
(Dunker, 85’)
Vídeos: ITÁLIA - ESPANHA
31 de Maio, Florença
Itália – Espanha 1-1 (após prolongamento)
(Ferrari, 45’)
(Regueiro, 31’)
1 de Junho, Florença
Itália – Espanha (jogo de repetição) 1-0
(Meazza, 12’)
Meias- finais
Vídeo: ITÁLIA - ÁUSTRIA
3 de Junho, Milão
Itália – Áustria 1-0
(Guaita, 10’)
3 de Junho, Roma
Checoslováquia – Alemanha 3-1
(Nejedly, 19’ e 80’ e Krcil, 71’)
(Noack, 62’)
Terceiro e quarto lugares
7 de Junho, Nápoles
Alemanha – Áustria 3-2
(Lehner 1’ e 40’ e Conen, 15’)
(Horvath, 35’ e Sesta, 63’)
FINAL
10 de Junho
Estádio do Partido Nacional Fascista, Roma
Assistência: cerca de 75 000 espectadores
Árbitro: Ivan Eklind (Suécia)
Itália – Combi (cap.) Monzeglio, Allemandi e Ferraris; Monti e Bertolini; Guaita, Meazza, Schiavio, Ferrari e Orsi. Treinador: Vitorio Pozzo
Checoslováquia – Planicka (cap.), Zenizek e Ctyroky; Kostalek, Cambal e Krcil; Junek, Svoboba, Sobotka, Nejedly e Puc. Treinador: Karel Petru
Golos: Puc (76’), Orsi (85’) e Schiavio (95’)
6- Fase do encontro entre a Espanha e o Brasil
Hoje viajamos até Itália, até ao ano de 1934, onde iremos recordar a história do segundo Mundial da FIFA.
O Mundial da propaganda fascista
O extraordinário êxito alcançado no Uruguai 1930 abriu caminho para que quatro anos passados o número de inscrições duplicasse, passando de 16 para 32. O sucesso da Copa do Mundo estava assim comprovado. No congresso da FIFA de 1932, realizado em Estocolmo, a Itália foi escolhida para organizar o evento, dando desde logo a garantia de assegurar todo o esquema financeiro, aliando a isto o facto de dispor de 8 estádios com capacidades para uma média de 50/60 mil pessoas.
Perante estes argumentos o outro candidato a organizar o Mundial, a Suécia, desistiu de imediato. No entanto, a escolha da Itália para organizar a prova ficou também a dever-se a factores de ordem política. A política que na época já havia ditado leis noutros eventos desportivos importantes, tais como os Jogos Olímpicos. O desporto era por isso um excelente veículo de propaganda para os políticos da altura. E no Mundial de 34 a política representava um papel ainda mais importante. Com o ditador Benito Mussolini no poder, o fascismo ditava leis em Itália. O “Dulce”, como Mussolini era conhecido, sabia o quanto uma vitória nos domínios do desporto poderia constituir para uma auréola suplementar de prestígio do regime. O General Vaccaro, que era o presidente da Federação Italiana de Futebol da época, sublinhou que «o fim último deste Mundial é mostrar ao Mundo qual é o ideal fascista do desporto!» Foi então montada uma diabólica “máquina” para colocar o futebol ao serviço do fascismo.
Foi sem dúvida alguma o campeonato da propaganda de Mussolini. O Mundial do fascismo. Tudo valia para promover o fascismo, e não foi de estranhar que o “Dulce” mandasse construir um novo trofeu, denominado Coppa del Dulce (só podia ser assim!) para premiar os vencedores, numa tentativa clara de ofuscar a Taça Jules Rimet.
A vingança do Uruguai
A recusa das principais potências futebolísticas europeias em viajar até ao Uruguai quatro anos antes para ai disputar o primeiro Mundial da FIFA teve as suas repercussões em 1934. Isto, porque os campeões em título, o Uruguai, decidiu pagar na mesma moeda, isto é recusou-se a defender o ceptro. Esta seria, aliás, a primeira e única vez que um campeão do Mundo não defendeu o título no Mundial seguinte.
Paraguai, Chile, Bolívia e Perú também seguiram as pisadas dos vizinhos celestes. Assim, a representação da América do Sul ficou entregue ao Brasil e à Argentina que se qualificaram automaticamente para a fase final. Contudo, estas duas delegações não se fariam representar em Itália pelos seus principais craques de então, já que os seus grupos foram constituídos maioritariamente por amadores que acabariam por fazer a longa travessia do Atlântico para realizar somente um jogo. Ambos fizeram campanhas paupérrimas, em particular estes últimos, que quatro anos antes haviam chegado à final do Mundial 1930. E assim foi porque os seus melhores jogadores de então transferiram-se para a selecção de... Itália. É verdade. E aqui notou-se, uma vez mais, a mão do ditador Mussolini, que queria que a sua Itália vencesse a qualquer preço. Para isso alterou as leis do desporto, permitindo que todos os futebolistas de ascendência italiana, por mais remota que fosse, adquirissem através de uma simples petição a cidadania italiana. Foram então chamados de “oriundi”. Desta forma o seleccionador italiano, Vittorio Pozzo, um jornalista desportivo que se tornou herói no seu país (e veremos porquê quer no final desta história quer quando contarmos a saga do Mundial de 1938), pôde contar com os mais cotados futebolistas argentinos da altura, casos de Luigi Monti (uma das vedetas do primeiro Mundial), Guaita, Demaria e Orsi. Quatro super craques que se juntavam a outros talentos que formavam a Squadra Azzurra de então, como o fantástico guarda-redes Combi, e os avançados Schiavio e o grande Meazza. A Itália tornava-se assim ainda mais favorita à conquista do “seu” Mundial.
O pontapé inicial
A cerimónia de abertura deu-se em Roma, a 27 de Maio, no Estádio do Partido Nacional Fascista (era assim que se chamava o recinto), o qual seria transformado num mar de “camisas negras” que entraram em delírio quando Benito Mussolini subiu à tribuna de honra, ouvindo-se então os gritos do slogan fascista de então: “Forza Itália”.
Os jogos deste Mundial seriam então distribuídos pelas cidades de Roma, Triste, Florença, Turim, Génova, Milão, Bolonha e Nápoles. Jogos correspondentes aos 1/8 de final, uma vez que contrariamente ao que havia sucedido em 1930 os jogos seriam logo a eliminar em detrimento de uma fase de grupos.
Duas equipas eram tidas então à partida, de forma quase unânime, como candidatas à vitória final, a Itália do “mão de ferro” Pozzo, como já vimos, e a Áustria, selecção conhecida na época como o Wunderteam (equipa maravilha), que era dirigida pelo célebre treinador Hugo Meisl, que tal como Pozzo era um grande adepto do estilo de futebol britânico.
Duas equipas que apresentaram no entanto duas concepções de jogo distintas, ou seja, os italianos exibindo um esquema de grande segurança defensiva (que seriam as sementes do “catanaccio”), e dispondo de rápidos e vigorosos atacantes, enquanto que os austríacos fazendo de uma técnica aprimorada o seu argumento favorito despertavam a admiração do público por toda a parte onde destilavam o seu belo futebol.
Bom, no jogo inaugural do torneio, em Roma, a Itália esmagou os frágeis Estados Unidos da América por 7-1, com Schiavio (que seria o artilheiro deste Mundial) a marcar 3 golos. Aliás, um desses golos de Schiavio foi o número 100 da história da “Copa”. Schiavio entrava desta forma para a história dos Mundiais.
Entretanto, a Áustria vencia em Turim, com dificuldade, por 3-2, a França. Apenas no prolongamento o Wunderteam de Meisl assegurou a passagem aos ¼ de final.
Mas nem todos os cabeças-de-série mostrariam o porquê de terem merecido tal distinção, já que Brasil , Argentina e Holanda seriam afastado logo à primeira, respectivamente pela Espanha (1-3 em Génova), Suécia (2-3 em Bolonha) e Suíça (2-3 em Milão). Dos apurados para os ¼ de final a Checoslováquia encontrou em Trieste grandes dificuldades perante a Roménia (2-1, com 0-1 ao intervalo). Dificuldades também foram encontradas pela Hungria para despachar o modesto Egipto, em Nápoles, por 4-2. E mesmo a Alemanha ao eliminar, em Florença, a Bélgica por 5-2, não encontrou as facilidades que o resultado possa supor.
Chegado aos ¼ de final o Mundial conheceu grandes e épicos jogos. Encontros onde os dois candidatos ao título encontraram grandes dificuldades para seguir em frente. Os austríacos venceram por 2-1 a Hungria, em Bolonha, num confronto angustiante, como afirmou a critica da altura. Em Florença deu-se uma das grandes “batalhas” deste Mundial, protagonizada pela Espanha e pela Itália. Debaixo de um calor tórrido as duas equipas enfrentaram-se durante... dois jogos. É verdade. Foram 210 minutos de intenso futebol. Um tremendo desgaste físico que deixou marcas profundas nas duas equipas. No segundo jogo, a 28 de Maio, doze dos protagonistas que na véspera tinham jogado 120 minutos (com o resultado final a ficar em 1-1) – cinco italianos e sete espanhóis, entre eles o mítico guarda-redes Zamora - não actuaram.
Bem, mas em relação à parte 1 desta célebre “batalha” , isto é, ao primeiro encontro, há que recordar que a Espanha saiu na frente com um golo de Regueiro. Com o passar dos minutos os italianos pareciam cada vez mais nervosos, dentro e fora do campo. Perante a escandalosa complacência do árbitro belga Baert, os espanhóis eram nitidamente agredidos a pontapé pelos transalpinos dentro do relvado, na sequência de jogadas violentas. Seria já quase no fim do jogo que Ferrari empatou a partida. Menos de 24 horas depois, no mesmo estádio, os dirigentes espanhóis lançaram um comunicado onde denunciavam as bárbaras agressões dos italianos que tiveram como consequência o facto de a Espanha não poder utilizar sete dos seus principais jogadores por se encontraram lesionados.
No segundo jogo a Itália venceu por 1-0, com um tento de Meazza, num jogo que foi igualmente bem durinho, como o da véspera. Um jogo onde o árbitro suíço Marcet foi, à semelhança de Baert, italiano, já que anulou dois golos limpinhos aos espanhóis. Era a mão do Dulce a funcionar. A Itália tinha de ganhar a qualquer preço.
Os restantes semi-finalistas foram a Checoslováquia (3-2 à Suíça, em Turim) e a Alemanha (2-1 à Suécia, em Milão).
Final antecipada
Nas meias-finais assistiu-se à final antecipada deste Mundial, à final desejada por todos, um Itália-Áustria. As duas favoritas em confronto. Só uma delas poderia alcançar a final. E se a Squadra Azzura estava de certa forma em desvantagem pelos efeitos devastadores da “batalha” com a Espanha na eliminatória anterior, a Áustria não o estava menos, em virtude da fadiga provocada pelos jogos com franceses e húngaros.
O jogo disputou-se em Milão, num campo completamente enlameado, que se viria a tornar num factor favorável aos italianos, mais poderosos fisicamente. De nada valeriam por isso os ataques madrugadores dos austríacos, liderados pelo mágico Mathias Sindelar, na esperança de resolver cedo os acontecimentos enquanto as forças ainda o permitiam. Contudo, o quase intransponível muro defensivo italiano composto por Combi, Alemandi, Monti e Monzegnio resistiu a todos os assaltos do Wunderteam. Guaita foi o nome do herói do dia, foi ele o autor do único golo do encontro, o golo que colocou a Azzurra na final. Os austríacos despediam-se com tristeza do Mundial, e com alguma frustração também pois já na parte final do duelo com os italianos poderiam ter tido outro destino nesta Copa caso o seu ponta-direita Zischek não tivesse falhado um golo certo, já que na altura do remate não estava ninguém na baliza italiana. Paciência. Na outra meia-final, em Roma, a Checoslováquia bateu a Alemanha por 3-1.
Final em dose dupla
Na tarde de 10 de Junho o Estádio do Partido Nacional Fascista apresentava-se cheio como um ovo, esperando uma natural vitória da Azzurra. 30 000 pessoas aguardavam pelo momento em que iriam finalmente festejar o mais do que sonhado título mundial. Aliás, foi necessário recorrer-se à montagem de bancadas suplementares, visto que milhares de espectadores empoleiraram-se em vigas e traves sobre o terreno de jogo.
Na tribuna de honra lá estava Mussolini, rodeados de inúmeros símbolos alusivos ao fascismo, saudado pelos seus compatriotas como se de um Deus se tratasse. Todos esperavam a vitória dos italianos. Mas, nem tudo foi tão fácil como seria de esperar. Os checos não se deixariam intimidar, eram também uma formação muito forte e temida, onde pontificava o grande guardião Planicka.
Aliás, este foi talvez o Campeonato do Mundo que juntou num só torneio três dos melhores guarda-redes de todos os tempos, nomeadamente o italiano Combi, o espanhol Zamora e o checo Planicka. Três mitos da baliza.
A Itália entrou em campo a todo o gás, desfiando de imediato o seu venenoso ataque suportado por uma sólida defesa. Contudo, na “hora H” deparavam-se sempre com um autêntico muro de betão, o guarda-redes Planicka, que esteve soberbo nesta final. E aos 70 minutos o Estádio do Partido Nacional Fascista ficou em completo e gélido silêncio quando na sequência de um pontapé de canto Puc, de costas para a baliza, disparou com alguma violência à meia volta para o fundo das redes de Combi. Surpresa das surpresas, os checos estavam em vantagem.
O terror tomou conta da massa adepta Azzurra. Em luta contra o tempo os italianos tentarem então desesperadamente chegar ao tento da igualdade, aumentando o seu ritmo de incursões à baliza de Planicka. Os defesas checos Zenisek e Styroky limpavam a sua área de qualquer maneira, mal avistassem a bola perto da sua zona tratavam de a despachar de todos as maneiras e feitios sem grandes rodriguinhos.
O assalto dos azzurros ganhava com o passar dos minutos contornos mais intensos e sufocantes para os checos. Até que a cinco minutos do final o esperado golo italiano surgiu, quando já poucos acreditavam nele, por intermédio do ítalo-argentino Orsi. Tudo voltava assim ao principio para alívio dos italianos e de... Mussolini.
No prolongamento os italianos foram mais fortes em termos físicos, e continuaram a tomar de assalto a baliza checa. O “milagre” surgiu por intermédio do avançado-centro Schiavio.
Após o apito final do sueco Eklind a multidão explodiu de emoção: A SQUADRA AZZURRA ERA CAMPEÃ DO MUNDO.
Mussolini podia sorrir, a sua Itália vencera... o fascino era “campeão do Mundo”. Ainda hoje os teóricos do futebol afirmam que este Mundial foi vencido pelo fascismo e não pelos jogadores italianos. É certo que a Itália fora escandalosamente beneficiada pelos árbitros nos duelos com a Espanha, nos ¼ de final, mas não podemos tirar mérito a super craques como Meazza, Orsi, Schiavio e Combi que sobe a batuta do maestro Pozzo encantaram o mundo com o seu futebol. Mussolini mandou entregar aos seus heróis medalhas de ouro, e correram rumores de que deu igualmente a cada um prémio de 10 000 liras.
Em termos de bilheteira este Mundial foi considerado um êxito, já que rendeu quatro milhões de liras, isto sem contar com os valores das transmissões pagos pela rádio e pelo cinema.
Factos e curiosidades
-395 000 espectadores marcaram presença no Itália 34. Cada jogo teve uma média de 24 000 espectadores. Foram apontados 70 golos (média de 4,11 golo por jogo)
-O italiano Luigi Bertolini, um notável cabeceador, disputou o torneio com um lenço branco amarrado à cabeça. Explicou isto com o facto de as grosseiras costuras da bola ferirem a testa dos jogadores...
-O austríaco Anton Schall foi o primeiro jogador a marcar um golo no prolongamento de um jogo de uma fase final de um Mundial. Aconteceu a 27 de Maio, em Turim, no Áustria-França, que terminou com a vitória dos primeiros por 3-2. Schall apontou o golo do triunfo, um tento mal validado, uma vez que o jogador estava em claríssimo fora de jogo, como o próprio admitiu mais tarde.
-Dois futebolistas que estiveram presentes no Itália 34 tiveram descendentes que mais tarde também jogariam em fases finais do Mundial, casos do espanhol Martin Vantolra e do francês Roger Rio. O primeiro viu o filho, José Vantolra, jogar no México 70, enquanto que o segundo viu o rebento, Patrice Rio, actuar pela selecção gaulesa no Argentina 78.
-Abriu gás quando pressentiu Hitler: A estrela maior da Áustria era, como já referimos, Matthias Sindelar, o “homem de papel” como ficou mundialmente conhecido pela sua figura alta, esguia e de aspecto frágil. Deixou marcas do seu perfume e poder de tiro espalhadas pelos relvados de Itália. A sua Áustria ficou-se pelo 4º lugar da prova, mas nem isso ofuscou o brilho de Sindelar neste Mundial. Passou quase toda a sua carreira pelo FK Austria, onde venceu 3 campeonatos e 2 Taças Mitropa (uma das competições que mais tarde deu origem à Taça dos Clubes Campeões Europeus). Foi um colega seu nazi quem lançou o boato de que Matthias era judeu. Um boato que haveria de levar o “homem de papel” à morte. Isto porque quando se apercebeu que Hitler avançava a caminho de Viena antecipou-se à sua sentença e abriu as torneias de gás do seu quarto. Suicidara-se. Tinha 36 anos. Mais tarde ficaria a saber-se que nem judeu era! A notícia da sua morte abalou Viena, e uma multidão incorporou-se no seu funeral.
-Faltavam apenas cinco minutos para soar o último apito da final entre Itália e Checoslováquia. A Azzurra perdia por 0-1. Orsi recebeu a bola de Guaita, fintou um checo com o pé esquerdo e rematou com o direito. A bola ainda bateu nas mãos de Planicka mas só parou no fundo das redes. A Itália acabava de garantir o prolongamento. O curioso no meio disto tudo é que no dia seguinte à final, e perante um batalhão de fotógrafos, Orsi fez mais de 20 tentativas para executar o gesto técnico que na véspera valera o golo do empate, mas não conseguiu repeti-o!
-Vitória ou morte: Rezam as crónicas da altura que minutos antes de Itália e Checoslováquia entrarem em campo para disputar a final foi entregue no balneário italiano um bilhete assinado por Benito Mussolini onde se podia ler: “vitória ou morte”! Não se sabe porém se a ser verdade esta história a intimidação funcionou como um impulso para a Squadra Azzurra. Porém, Vittorio Pozzo no final do encontro era um homem visivelmente aliviado, tendo dito que “como é belo o futebol quando se ganha, e como teria sido terrível perder este jogo”.
-Africanos entram na alta roda do futebol: Pela primeira vez na história uma equipa africana participava na fase final de um Mundial. Tal façanha foi conseguida pelo Egipto. Mesmo eliminados na 1ª eliminatória pelos poderosos húngaros os egípcios ficariam também para a história como sendo a primeira equipa do continente negro a apontar um golo numa fase final. Tal honra pertenceu ao avançado Abdel Fawzi.
Resultados e Classificações
Oitavos-de-final
27 de Maio, Turim
Áustria – França 3-2 (após prolongamento)
(Sindelar, 45’; Schall, 100’ e Bican, 112’)
(Nicolas, 18’ e Verriest, 117 de g.p.)
Vídeo: ITÁLIA - ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
Itália – Estados Unidos da América 7-1
(Schiavio, 18’, 29’ e 64’; Orsi, 20’ e 69’; Ferrari, 63’ e Meazza, 89’)
(Donelli, 57’)
27 de Maio, Florença
Alemanha – Bélgica 5-2
(Kobierski, 18’, Siffling, 56’; Conen, 73’, 77’ e 88’)
(Voorhoof, 24’ e 35’)
27 de Maio, Trieste
Checoslováquia – Roménia 2-1
(Puc, 61’ e Nejeldy, 73’)
(Dobai, 37’)
27 de Maio, Milão
Suíça – Holanda 3-2
(Kielholz, 10’ e 36’; Abbeglen, 57’)
(Smit, 23’ e Vente, 80’)
27 de Maio, Bolonha
Suécia – Argentina 3-2
(Joansson, 33’ e 67’ e Kroon, 80’)
(Belis, 16’ e Galateo, 49’)
27 de Maio, Génova
Espanha – Brasil 3-1
(Chato, 16’ de g.p. e 26’; e Langara, 41’)
(Leónidas, 72’)
27 de Maio, Nápoles
Hungria – Egipto 4-2
(Teleki, 7’; Toldi, 18’ e 87’ e Vincze,57’)
(Fawzi, 26’ e 42’)
Quartos-de-final
31 de Maio, Bolonha
Áustria – Hungria 2-1
(Horvath, 27’ e Zischek, 71’)
(Sarosi, 80’ de g.p.)
31 de Maio, Turim
Checoslováquia – Suíça 3-2
(Svodoba, 36’ e 55’ e Nejedly, 84’)
(Kielhoz, 18’ e Jaeggi, 64’)
31 de Maio, Milão
Alemanha – Suécia 2-1
(Hohmann, 57’ e 74’)
(Dunker, 85’)
Vídeos: ITÁLIA - ESPANHA
31 de Maio, Florença
Itália – Espanha 1-1 (após prolongamento)
(Ferrari, 45’)
(Regueiro, 31’)
1 de Junho, Florença
Itália – Espanha (jogo de repetição) 1-0
(Meazza, 12’)
Meias- finais
Vídeo: ITÁLIA - ÁUSTRIA
Itália – Áustria 1-0
(Guaita, 10’)
3 de Junho, Roma
Checoslováquia – Alemanha 3-1
(Nejedly, 19’ e 80’ e Krcil, 71’)
(Noack, 62’)
Terceiro e quarto lugares
7 de Junho, Nápoles
Alemanha – Áustria 3-2
(Lehner 1’ e 40’ e Conen, 15’)
(Horvath, 35’ e Sesta, 63’)
FINAL
10 de Junho
Estádio do Partido Nacional Fascista, Roma
Assistência: cerca de 75 000 espectadores
Árbitro: Ivan Eklind (Suécia)
Itália – Combi (cap.) Monzeglio, Allemandi e Ferraris; Monti e Bertolini; Guaita, Meazza, Schiavio, Ferrari e Orsi. Treinador: Vitorio Pozzo
Checoslováquia – Planicka (cap.), Zenizek e Ctyroky; Kostalek, Cambal e Krcil; Junek, Svoboba, Sobotka, Nejedly e Puc. Treinador: Karel Petru
Golos: Puc (76’), Orsi (85’) e Schiavio (95’)
Vídeo: FINAL DO CAMPEONATO DO MUNDO DE 1934: ITÁLIA - CHECOSLOVÁQUIA
Melhor marcador:
Schiavio (Itália) – 4 golos
Onze tipo do torneio:
Planicka (Checoslováquia)
Allemandi (Itália)
Monzeglio (itália)
Puc (Checoslováquia)
Sindelar (Áustria)
Monti (Itália)
Conen (Alemanha)
Nejedly (Checoslováquia)
Schiavio (Itália)
Meazza (Itália)
Orsi (Itália)
Os campeões do Mundo:
5 jogos: Combi, Allemandi, Orsi, Meazza e Monti
4 jogos: Bertolini, Ferrari, Guaita, Monzeglio e Schiavio
3 jogos: Ferraris
2 jogos: Pizziolo
1 jogo: Borel, Castellazzi, Demaria, Guarisi e Rosetta
não utilizados: Arcari, Calagaris, Cavanna e Varglien
Onze base
Táctica (3x2x5)
Guarda-redes: Combi
Defesas: Allemandi, Monzeglio e Ferraris
Médios: Monti e Bertolini
Avançados: Guaita, Meazza, Schiavio, Orsi e Ferrari
Os golos dos campões:
4 golos: Schiavio
3 golos: Orsi
2 golos: Ferrari e Meazza
1 golos: Guaita
Schiavio (Itália) – 4 golos
Onze tipo do torneio:
Planicka (Checoslováquia)
Allemandi (Itália)
Monzeglio (itália)
Puc (Checoslováquia)
Sindelar (Áustria)
Monti (Itália)
Conen (Alemanha)
Nejedly (Checoslováquia)
Schiavio (Itália)
Meazza (Itália)
Orsi (Itália)
Os campeões do Mundo:
5 jogos: Combi, Allemandi, Orsi, Meazza e Monti
4 jogos: Bertolini, Ferrari, Guaita, Monzeglio e Schiavio
3 jogos: Ferraris
2 jogos: Pizziolo
1 jogo: Borel, Castellazzi, Demaria, Guarisi e Rosetta
não utilizados: Arcari, Calagaris, Cavanna e Varglien
Onze base
Táctica (3x2x5)
Guarda-redes: Combi
Defesas: Allemandi, Monzeglio e Ferraris
Médios: Monti e Bertolini
Avançados: Guaita, Meazza, Schiavio, Orsi e Ferrari
Os golos dos campões:
4 golos: Schiavio
3 golos: Orsi
2 golos: Ferrari e Meazza
1 golos: Guaita
Legenda das fotografias:
1- Logotipo oficial do Itália 1934
2- O "onze" da Itália que pela primeira vez venceu um Campeonato do Mundo
3- O comandante da Squadra Azzurra: Vittorio Pozzo
4- A equipa do Brasil que à semelhança do Mundial 1930 voltou a desiludir... e muito
5- Brasileiros treinam no convés do navio em que fizeram a longa viajem até Itália
6- Fase do encontro entre a Espanha e o Brasil
7- A camisola que a equipa dos Estados Unidos da América usou no Itália 34, exposta no National Soccer Hall, em Oneonta
8- O "onze" checo que defrontou a Itália na final do Mundial
9- O austríaco Horvath marca um dos golos com que a sua equipa derrotou a Hungria nos 1/4 de final
10- Uma das melhores equipas do Mundo das década de 20 e 30, a Áustria, conhecida como o Wunderteam
11- Para surpresa de todos Puc coloca a Checoslováquia em vantagem na final
12- Pozzo dá instruções aos seus jogadores antes do início do prolongamento da final
13- Festejos dos jogadores italianos: A SQUADRA AZZURRA ERA A DONA DO MUNDO
14- O "homem de papel", Matthias Sindelar, a estrela da equipa da Áustria
15- fase do jogo entre a Checoslováquia e a Roménia, com o guardião checo Planicka a controlar o lance
16- Guardião sueco afasta a bola da sua área durante o jogo com a Argentina
17- Fase do jogo entre Checoslováquia e Suíça
18- Dois mitos das balizas, Combi e Zamora
19 -Capitães da Alemanha e Checoslováquia cumprimentam-se antes do encontro que opôs as duas equipas nas meias-finais
20- O Estádio do Partido Nacional Fascista, em Roma, local da final do Mundial 34
21- O melhor marcador do Mundial 1934, o italiano Schiavio
22 - Planicka (Checoslováquia) recebe o prémio de melhor guarda-redes da prova
23- A grande estrela da Itália: Giuseppe Meazza
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