Produto da Academia de Alcochete num passado não muito distante brilha actualmente no pequeno e competitivo campeonato da ilha de Malta, onde “atracou” esta época.
Médio criativo desde logo “pegou de estaca” no miolo do terreno do Marsaxlokk, emblema de uma pequena cidade do sul da ilha mediterrânica que o acolheu nesta sua primeira aventura internacional. Numa entrevista exclusiva à REVISTA FUTEBOLISTA este jovem jogador português nascido há 22 anos fala com saudade e orgulho do seu trajecto no Sporting, de uma certa frustração em não poder estar a mostrar o seu talento nas ligas profissionais de Portugal, do prazer que está a ser jogar na Premier League maltesa pelos “Lampuki’s” – alcunha pelo qual o Marsaxlokk é conhecido –, e da ambição de jogar numa grande liga internacional.
Sem mais demoras passamos a palavra a Rúben Gravata.
Revista Futebolista (RF): Rúben, porquê Malta? Como e quando é que surgiu a oportunidade de jogar no principal campeonato desta pequena ilha mediterrânica?
Rúben Gravata (RG): Bem, surgiu tudo muito rápido. Tinha acabado o campeonato (da 3ª Divisão Nacional portuguesa) há pouco tempo quando me contactaram para vir treinar à experiência a um clube da principal liga de Malta. Pensei um pouco, decidi arriscar e passado 3 dias estava no avião com destino a Malta.
RF: Ver um português a jogar em Malta não deixa de causar uma certa admiração, não só por se tratar de um campeonato pequeno e quase desconhecido do resto da Europa, mas também porque o futebol maltês sempre foi visto como um dos parentes pobres deste continente. Como é que tem corrido esta sua experiência?
RG: Tem corrido muito bem, tenho jogado sempre, o que também ajuda. Mas tenho a dizer que esta experiência me tem surpreendido bastante pela positiva, pois pensei que fosse um campeonato bastante mais fraco e a verdade é que não o é.
RF: Como é que caracteriza o futebol que se joga em Malta? E aproveitando o embalo fale-nos um pouco da Premier Legue maltesa?
RG: Como disse na resposta anterior é um campeonato que me tem surpreendido pela positiva. Todas as equipas tentam jogar um futebol agradável e positivo. A Premier League maltesa é um campeonato muito competitivo e equilibrado, apesar de este ano o Valletta estar a superiorizar-se um pouco em relação a todas as outras equipas.
RF: A julgar pelos seus desempenhos na equipa do Marsaxlokk, onde tem aparecido como titular, como aliás já referiu, a sua adaptação ao futebol da ilha não foi muito complicada, ou estamos enganados?
RG: Não, felizmente adaptei-me bem e tenho jogado com regularidade. Fui muito bem recebido por toda a gente e os meus colegas de equipa sempre me ajudaram na adaptação tanto ao país como ao futebol aqui praticado.
RF: Por falar em país, como é que descreve Malta, a sua cultura, as suas gentes...
RG: É uma ilha pequena com um clima muito bom onde predomina o sol, o calor e com paisagens lindíssimas. É um país que vive basicamente do turismo e onde nós estrangeiros somos bem recebidos. Isso foi algo que ajudou imenso à minha rápida e fácil adaptação.
RF: O Marsaxlokk subiu este ano à Premier League. Quais são os vossos objectivos para 2010/11?
RG: O nosso principal objectivo é a manutenção, e é isso que queremos assegurar rapidamente. Depois se pudermos lutar por algo mais, como por exemplo o acesso às competições europeias, iremos fazê-lo mesmo sabendo que será algo mais complicado de atingir. Temos uma equipa muito experiente que pratica um futebol atractivo e que tem como identidade a qualidade na posse de bola. Penso que temos tudo para alcançar os objectivos traçados.
RF: Já que fala em características da sua equipa lanço a pergunta da praxe: como se define como jogador?
RG: Como pontos fortes destaco a técnica, capacidade de passe tanto curto como longo, criatividade e velocidade de execução. Em termos de pontos fracos vou destacar o jogo aéreo.
RF: Voltando ainda ao início da nossa conversa e olhando para a actual Premier League constatamos que ano após ano esta atrai cada vez mais jogadores oriundos de países onde o futebol é mais desenvolvido, por assim dizer, tais como Brasil, Itália, Argentina, Espanha, ou Portugal. É um sinal de que o futebol maltês quer deixar a cauda do pelotão e tornar-se mais competitivo além fronteiras?
RG: Sim, sem dúvida. Penso que os clubes malteses estão a fazer um esforço para tornar esta liga cada vez mais competitiva. Aos poucos vão melhorando as suas condições de modo a atrair mais jogadores estrangeiros com maior qualidade.
RF: Quem olha para o historial da 1ª Divisão maltesa – hoje denominada Premier League – repara que os títulos foram conquistados quase sempre pelos 4 maiores e mais populares clubes da ilha: o Valletta, o Floriana, o Hibernians, e o Sliema. No entanto na última década têm surgido algumas surpresas quanto ao campeão, e exemplo disso é o facto do até há bem pouco tempo desconhecido Birkirkara já ter ganho 3 campeonatos, e o seu Marsaxlokk um (em 2006/07). Acha que este ano o campeão vai ser mais uma vez um outsider, ou pelo contrário um dos 4 grandes vai levar o título para casa?
RG: Este ano o grande candidato ao título é o Valletta, está claramente mais forte em relação às outras equipas. Já leva uma vantagem de 9 pontos e penso que dificilmente a deixará fugir.
RF: Numa viagem ao passado, ao seu passado, podemos constatar que o Rúben é um produto das escolas do Sporting. Fale-nos um pouco dessa sua chegada ao clube de Alvalade.
RG: Aos 6 anos de idade o meu pai colocou-me a jogar num clube na cidade de Setúbal, de seu nome Pelezinhos. Nessa altura eu só tinha idade para disputar torneios amigáveis. Num desses torneios um olheiro do Sporting viu-me jogar e gostou do que viu. Disse-me que mais tarde iria levar-me a fazer uns treinos de captação. E assim foi, quando fiz 8 anos de idade fui fazer os tais treinos de captação ao Sporting e passados 20 ou 30 minutos de ter iniciado o treino chamaram-me para assinar contrato para a época seguinte. Passado cerca de 3 meses estava finalmente a envergar a camisola do Sporting no Campeonato Distrital de Lisboa, no escalão de escolinhas.
RF: Evoluiu nos anos que se seguiram na Academia de Alcochete, onde cresceu com alguns nomes que mais tarde singrariam no plantel profissional do clube, casos do Rui Patrício, Adrian Silva ou do Daniel Carriço. Inclusive chegou a capitanear algumas equipas do Sporting. Quando olha para trás não sente que poderia ter chegado onde estes três jovens, por exemplo, chegaram? Pergunto, como tal, o que faltou para hoje em dia estar jogar ao lado deles, num mesmo patamar competitivo?
RG: Sim, a verdade é que sempre tive o sonho e a ambição de representar a equipa principal do Sporting desde do primeiro dia que vesti aquela camisola. Mas como todos sabemos é algo muito difícil de atingir, sei que tanto eu como outros que não o conseguiram temos qualidade para jogar a esse nível mas nem todos podem ter essa oportunidade. O futebol é mesmo assim. Mas ainda não desisti de chegar a um patamar mais competitivo, sei que tenho qualidade para tal, agora resta trabalhar para que surja essa oportunidade.
RF: Ainda com idade de júnior foi para a Madeira, mais concretamente para o União local, onde esteve duas épocas. Porquê esta troca, sair da Academia de Alcochete onde tinha todas as “mordomias” para um clube de menor dimensão?
RG: Quando passei a júnior sabia que iria jogar com pouca regularidade no Sporting, sendo assim preferi ser emprestado ao União da Madeira onde poderia jogar com mais regularidade e continuar a minha evolução como jogador.
RF: Como correu a experiência na Madeira?
RG: No primeiro ano correu muito bem, tínhamos uma equipa muito forte onde pontificavam bons jogadores, como por exemplo o Edgar Costa que representa agora a equipa principal do Nacional da Madeira. Se não fossem as lesões de alguns “jogadores chave” fico com a sensação de que poderíamos ter atingido a fase final do Campeonato Nacional de júniores. O segundo ano já não correu muito bem, essencialmente devido a vários problemas internos. Tínhamos jogadores de qualidade no plantel mas nunca fomos uma verdadeira equipa, e a juntar a isso os tais problemas internos que já referi fez com que esta fosse uma época menos conseguida por parte do clube.
RF: Chegado a sénior percorreu durante três épocas os escalões secundários do futebol português, mais precisamente as 2ª e 3ª Divisões. Primeiro no União de Montemor, depois regressaste à Madeira para representar o Portosantense, e por último o Vigor Mocidade. Por mais honroso que seja jogar em emblemas desta dimensão não sentiu alguma frustração por não estar a mostrar o seu potencial numa liga profissional à semelhança do que muitos ex-colegas da Academia faziam?
RG: Sim, confesso que sim. Principalmente no primeiro ano de sénior, pois foi um choque muito grande cair na 3ª Divisão. Felizmente sempre fui forte mentalmente e nunca desisti de lutar pela ambição e sonho de chegar ao futebol profissional.
RF: Que recordações lhe vêm à memória desta passagem pelos escalões mais baixos do futebol nacional?
RG: Recordo-me principalmente de encontrar além de bons jogadores grandes homens! Fiz muitas amizades pelos clubes por onde passei. Em termos de futebol propriamente dito é muito complicado jogar nesses escalões. Quase sempre se pratica um futebol pouco atractivo onde a bola anda na maior parte das vezes no ar e onde predomina o contacto físico. Tenho a certeza que muitos jogadores na Primeira Liga de Portugal dificilmente conseguiriam adaptar-se a uma 3ª Divisão.
RF: Nas 2ª e 3ª divisões, e até mesmo nos escalões distritais, encontram-se jovens portugueses com muito talento, que no entanto não são aproveitados nas ligas profissionais, onde a massificação de estrangeiros é cada vez mais saliente. No seu entender porque é que se verifica ano após ano este cenário, isto, quando o jogador português é cada vez mais apreciado e requisitado pelo Mundo fora?
RG: Sim, é um facto que nestas divisões encontramos jogadores com muito talento. Mas como se sabe em Portugal é muito difícil algum clube – das ligas profissionais – apostar num jovem português. Entre um jovem português e, por exemplo, um jovem brasileiro os clubes não têm a mínima dúvida em apostar no brasileiro. É um pequeno exemplo do que se passa hoje em dia no futebol em Portugal. Acho que está na altura de os nossos clubes mudarem a mentalidade e darem o verdadeiro valor ao jogador português.
RF: Face a este panorama pretende continuar a trabalhar no estrangeiro ou ao invés disso tentar a sorte e quem sabe arranjar um espaço no primeiro nível do futebol luso?
RG: Por enquanto penso em continuar pelo estrangeiro, mas se surgir um bom convite de uma equipa dos escalões profissionais de Portugal é algo a pensar.
RF: E a selecção nacional, sonha em vestir aquela camisola mesmo estando a actuar numa liga menos competitiva e quase desconhecida por cá?
RG: Todos temos esse sonho, mas tenho consciência que é uma meta quase impossível de atingir. Sinceramente não penso nisso no dia-a-dia, prefiro concentrar-me em dar o próximo passo que será conseguir chegar a uma liga maior e mais competitiva.
RF: Para terminar, que outros sonhos tem o Rúben Gravata na cabeça por estas alturas?
RG: Não digo sonhos, mas como disse na resposta anterior tenho a ambição de chegar a uma liga maior e mais competitiva. E porque não chegar a um grande da Europa?
Nota: Esta entrevista foi feita pelo autor do Museu Virtual do Futebol (Miguel Barros) para a REVISTA FUTEBOLISTA, tendo sido publicada no dia 18 de Janeiro de 2011
Médio criativo desde logo “pegou de estaca” no miolo do terreno do Marsaxlokk, emblema de uma pequena cidade do sul da ilha mediterrânica que o acolheu nesta sua primeira aventura internacional. Numa entrevista exclusiva à REVISTA FUTEBOLISTA este jovem jogador português nascido há 22 anos fala com saudade e orgulho do seu trajecto no Sporting, de uma certa frustração em não poder estar a mostrar o seu talento nas ligas profissionais de Portugal, do prazer que está a ser jogar na Premier League maltesa pelos “Lampuki’s” – alcunha pelo qual o Marsaxlokk é conhecido –, e da ambição de jogar numa grande liga internacional.
Sem mais demoras passamos a palavra a Rúben Gravata.
Revista Futebolista (RF): Rúben, porquê Malta? Como e quando é que surgiu a oportunidade de jogar no principal campeonato desta pequena ilha mediterrânica?
Rúben Gravata (RG): Bem, surgiu tudo muito rápido. Tinha acabado o campeonato (da 3ª Divisão Nacional portuguesa) há pouco tempo quando me contactaram para vir treinar à experiência a um clube da principal liga de Malta. Pensei um pouco, decidi arriscar e passado 3 dias estava no avião com destino a Malta.
RF: Ver um português a jogar em Malta não deixa de causar uma certa admiração, não só por se tratar de um campeonato pequeno e quase desconhecido do resto da Europa, mas também porque o futebol maltês sempre foi visto como um dos parentes pobres deste continente. Como é que tem corrido esta sua experiência?
RG: Tem corrido muito bem, tenho jogado sempre, o que também ajuda. Mas tenho a dizer que esta experiência me tem surpreendido bastante pela positiva, pois pensei que fosse um campeonato bastante mais fraco e a verdade é que não o é.
RF: Como é que caracteriza o futebol que se joga em Malta? E aproveitando o embalo fale-nos um pouco da Premier Legue maltesa?
RG: Como disse na resposta anterior é um campeonato que me tem surpreendido pela positiva. Todas as equipas tentam jogar um futebol agradável e positivo. A Premier League maltesa é um campeonato muito competitivo e equilibrado, apesar de este ano o Valletta estar a superiorizar-se um pouco em relação a todas as outras equipas.
RF: A julgar pelos seus desempenhos na equipa do Marsaxlokk, onde tem aparecido como titular, como aliás já referiu, a sua adaptação ao futebol da ilha não foi muito complicada, ou estamos enganados?
RG: Não, felizmente adaptei-me bem e tenho jogado com regularidade. Fui muito bem recebido por toda a gente e os meus colegas de equipa sempre me ajudaram na adaptação tanto ao país como ao futebol aqui praticado.
RF: Por falar em país, como é que descreve Malta, a sua cultura, as suas gentes...
RG: É uma ilha pequena com um clima muito bom onde predomina o sol, o calor e com paisagens lindíssimas. É um país que vive basicamente do turismo e onde nós estrangeiros somos bem recebidos. Isso foi algo que ajudou imenso à minha rápida e fácil adaptação.
RF: O Marsaxlokk subiu este ano à Premier League. Quais são os vossos objectivos para 2010/11?
RG: O nosso principal objectivo é a manutenção, e é isso que queremos assegurar rapidamente. Depois se pudermos lutar por algo mais, como por exemplo o acesso às competições europeias, iremos fazê-lo mesmo sabendo que será algo mais complicado de atingir. Temos uma equipa muito experiente que pratica um futebol atractivo e que tem como identidade a qualidade na posse de bola. Penso que temos tudo para alcançar os objectivos traçados.
RF: Já que fala em características da sua equipa lanço a pergunta da praxe: como se define como jogador?
RG: Como pontos fortes destaco a técnica, capacidade de passe tanto curto como longo, criatividade e velocidade de execução. Em termos de pontos fracos vou destacar o jogo aéreo.
RF: Voltando ainda ao início da nossa conversa e olhando para a actual Premier League constatamos que ano após ano esta atrai cada vez mais jogadores oriundos de países onde o futebol é mais desenvolvido, por assim dizer, tais como Brasil, Itália, Argentina, Espanha, ou Portugal. É um sinal de que o futebol maltês quer deixar a cauda do pelotão e tornar-se mais competitivo além fronteiras?
RG: Sim, sem dúvida. Penso que os clubes malteses estão a fazer um esforço para tornar esta liga cada vez mais competitiva. Aos poucos vão melhorando as suas condições de modo a atrair mais jogadores estrangeiros com maior qualidade.
RF: Quem olha para o historial da 1ª Divisão maltesa – hoje denominada Premier League – repara que os títulos foram conquistados quase sempre pelos 4 maiores e mais populares clubes da ilha: o Valletta, o Floriana, o Hibernians, e o Sliema. No entanto na última década têm surgido algumas surpresas quanto ao campeão, e exemplo disso é o facto do até há bem pouco tempo desconhecido Birkirkara já ter ganho 3 campeonatos, e o seu Marsaxlokk um (em 2006/07). Acha que este ano o campeão vai ser mais uma vez um outsider, ou pelo contrário um dos 4 grandes vai levar o título para casa?
RG: Este ano o grande candidato ao título é o Valletta, está claramente mais forte em relação às outras equipas. Já leva uma vantagem de 9 pontos e penso que dificilmente a deixará fugir.
RF: Numa viagem ao passado, ao seu passado, podemos constatar que o Rúben é um produto das escolas do Sporting. Fale-nos um pouco dessa sua chegada ao clube de Alvalade.
RG: Aos 6 anos de idade o meu pai colocou-me a jogar num clube na cidade de Setúbal, de seu nome Pelezinhos. Nessa altura eu só tinha idade para disputar torneios amigáveis. Num desses torneios um olheiro do Sporting viu-me jogar e gostou do que viu. Disse-me que mais tarde iria levar-me a fazer uns treinos de captação. E assim foi, quando fiz 8 anos de idade fui fazer os tais treinos de captação ao Sporting e passados 20 ou 30 minutos de ter iniciado o treino chamaram-me para assinar contrato para a época seguinte. Passado cerca de 3 meses estava finalmente a envergar a camisola do Sporting no Campeonato Distrital de Lisboa, no escalão de escolinhas.
RF: Evoluiu nos anos que se seguiram na Academia de Alcochete, onde cresceu com alguns nomes que mais tarde singrariam no plantel profissional do clube, casos do Rui Patrício, Adrian Silva ou do Daniel Carriço. Inclusive chegou a capitanear algumas equipas do Sporting. Quando olha para trás não sente que poderia ter chegado onde estes três jovens, por exemplo, chegaram? Pergunto, como tal, o que faltou para hoje em dia estar jogar ao lado deles, num mesmo patamar competitivo?
RG: Sim, a verdade é que sempre tive o sonho e a ambição de representar a equipa principal do Sporting desde do primeiro dia que vesti aquela camisola. Mas como todos sabemos é algo muito difícil de atingir, sei que tanto eu como outros que não o conseguiram temos qualidade para jogar a esse nível mas nem todos podem ter essa oportunidade. O futebol é mesmo assim. Mas ainda não desisti de chegar a um patamar mais competitivo, sei que tenho qualidade para tal, agora resta trabalhar para que surja essa oportunidade.
RF: Ainda com idade de júnior foi para a Madeira, mais concretamente para o União local, onde esteve duas épocas. Porquê esta troca, sair da Academia de Alcochete onde tinha todas as “mordomias” para um clube de menor dimensão?
RG: Quando passei a júnior sabia que iria jogar com pouca regularidade no Sporting, sendo assim preferi ser emprestado ao União da Madeira onde poderia jogar com mais regularidade e continuar a minha evolução como jogador.
RF: Como correu a experiência na Madeira?
RG: No primeiro ano correu muito bem, tínhamos uma equipa muito forte onde pontificavam bons jogadores, como por exemplo o Edgar Costa que representa agora a equipa principal do Nacional da Madeira. Se não fossem as lesões de alguns “jogadores chave” fico com a sensação de que poderíamos ter atingido a fase final do Campeonato Nacional de júniores. O segundo ano já não correu muito bem, essencialmente devido a vários problemas internos. Tínhamos jogadores de qualidade no plantel mas nunca fomos uma verdadeira equipa, e a juntar a isso os tais problemas internos que já referi fez com que esta fosse uma época menos conseguida por parte do clube.
RF: Chegado a sénior percorreu durante três épocas os escalões secundários do futebol português, mais precisamente as 2ª e 3ª Divisões. Primeiro no União de Montemor, depois regressaste à Madeira para representar o Portosantense, e por último o Vigor Mocidade. Por mais honroso que seja jogar em emblemas desta dimensão não sentiu alguma frustração por não estar a mostrar o seu potencial numa liga profissional à semelhança do que muitos ex-colegas da Academia faziam?
RG: Sim, confesso que sim. Principalmente no primeiro ano de sénior, pois foi um choque muito grande cair na 3ª Divisão. Felizmente sempre fui forte mentalmente e nunca desisti de lutar pela ambição e sonho de chegar ao futebol profissional.
RF: Que recordações lhe vêm à memória desta passagem pelos escalões mais baixos do futebol nacional?
RG: Recordo-me principalmente de encontrar além de bons jogadores grandes homens! Fiz muitas amizades pelos clubes por onde passei. Em termos de futebol propriamente dito é muito complicado jogar nesses escalões. Quase sempre se pratica um futebol pouco atractivo onde a bola anda na maior parte das vezes no ar e onde predomina o contacto físico. Tenho a certeza que muitos jogadores na Primeira Liga de Portugal dificilmente conseguiriam adaptar-se a uma 3ª Divisão.
RF: Nas 2ª e 3ª divisões, e até mesmo nos escalões distritais, encontram-se jovens portugueses com muito talento, que no entanto não são aproveitados nas ligas profissionais, onde a massificação de estrangeiros é cada vez mais saliente. No seu entender porque é que se verifica ano após ano este cenário, isto, quando o jogador português é cada vez mais apreciado e requisitado pelo Mundo fora?
RG: Sim, é um facto que nestas divisões encontramos jogadores com muito talento. Mas como se sabe em Portugal é muito difícil algum clube – das ligas profissionais – apostar num jovem português. Entre um jovem português e, por exemplo, um jovem brasileiro os clubes não têm a mínima dúvida em apostar no brasileiro. É um pequeno exemplo do que se passa hoje em dia no futebol em Portugal. Acho que está na altura de os nossos clubes mudarem a mentalidade e darem o verdadeiro valor ao jogador português.
RF: Face a este panorama pretende continuar a trabalhar no estrangeiro ou ao invés disso tentar a sorte e quem sabe arranjar um espaço no primeiro nível do futebol luso?
RG: Por enquanto penso em continuar pelo estrangeiro, mas se surgir um bom convite de uma equipa dos escalões profissionais de Portugal é algo a pensar.
RF: E a selecção nacional, sonha em vestir aquela camisola mesmo estando a actuar numa liga menos competitiva e quase desconhecida por cá?
RG: Todos temos esse sonho, mas tenho consciência que é uma meta quase impossível de atingir. Sinceramente não penso nisso no dia-a-dia, prefiro concentrar-me em dar o próximo passo que será conseguir chegar a uma liga maior e mais competitiva.
RF: Para terminar, que outros sonhos tem o Rúben Gravata na cabeça por estas alturas?
RG: Não digo sonhos, mas como disse na resposta anterior tenho a ambição de chegar a uma liga maior e mais competitiva. E porque não chegar a um grande da Europa?
Nota: Esta entrevista foi feita pelo autor do Museu Virtual do Futebol (Miguel Barros) para a REVISTA FUTEBOLISTA, tendo sido publicada no dia 18 de Janeiro de 2011
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