100 anos representam inevitavelmente um baú de histórias e/ou vivências na vida de qualquer pessoa ou instituição. 100 anos equivalem a um vasto e rico património ao alcance de poucos. E poucos são aqueles que sobrevivem aos ventos e tempestades que vão surgindo pelo caminho ao longo de um século de vida. Um desses heróicos sobreviventes cumpre precisamente neste ano de 2011 o seu centenário, herói que dá pelo nome de Académico Futebol Clube.
Nasceu precisamente no dia 15 de Setembro de 1911 e como berço teve a Cidade do Porto. E desde logo nobre se tornou na tarefa de enraizar e dinamizar o fenómeno desportivo na Invicta.
Na sua génese está o futebol... mesmo não sendo o futebol com o avançar do tempo uma modalidade muito feliz no seio da família academista. 1909 é o ano em que o sonho ganha forma, ano em que um grupo de estudantes do Liceu Alexandre Herculano enfeitiçado pelo fenómeno futebolístico idealiza a fundação de um clube.
Rapidamente nos tempos que se seguiram outros jovens oriundos de outros liceus e colégios particulares do Porto mostraram entusiasmo pela ideia. Até que em 1911 o sonho é por fim realidade: nascia o Académico Futebol Clube.
Uma agremiação fundada por estudantes e para estudantes, assim rezavam os seus estatutos. Talvez por ter sangue jovem a correr nas veias o Académico desde logo adoptou um espírito futurista e empreendedor que o tornariam numa das instituições mais modernas e ricas – no que toca a património – de Portugal. No entanto, e apesar da forte adesão de associados e simpatizantes desde o dia da sua fundação, o Académico andou, à semelhança de outros emblemas, com a casa às costas nos primeiros anos da sua existência. No plano desportivo, isto é, o campo de batalha onde a sua equipa de futebol entrava em acção, os academistas começaram por utilizar o Campo da Cruz, na Rua Aníbal Patrício, enquanto que a primeira sede social seria “montada” num edifício da Praça Júlio Dinis, mesmo em frente ao Hospital de Santo António.
Em 1916 este espaço foi considerado pelos dirigentes academistas como insuficiente para a numerosa família – de associados e atletas – que não parava de crescer, de modo que houve a necessidade de se arrendar uma sede maior, tendo a mudança sido feita posteriormente para a zona da Batalha e para o antigo edifício das encomendas postais. Um ano antes o palco da acção, isto é, o terreno de jogos, tinha passado a ser o Campo do Bonfim, pertença do Olímpico, clube a quem o Académico pagava uma renda mensal de 20 centavos.
Nos anos que se seguiram novas mudanças de campo e de sede social aconteceram, até que na entrada para os anos 20 dá-se um dos passos mais importantes da vida do clube, o arrendamento da Quinta do Lima, propriedade da Santa Casa da Misericórdia do Porto. Neste espaço o sonho e a visão futurista dos seus dirigentes e massa associativa unem-se num casamento perfeito com a construção do Estádio do Lima. Desta catedral, não só da bola como também de outras modalidades, já aqui traçámos umas linhas num passado não muito distante, mas não será por demais recordar que este foi o primeiro grande estádio de futebol do país. Por esta altura o Académico era já um clube multifacetado, por outras palavras, nem só de futebol rezava a sua história. Com a forte adesão de associados e entusiastas pelo desporto em geral outras modalidades foram sendo geradas no ventre academista. Estavámos perante o mais eclético dos clubes do Porto, ganhando desta forma em popularidade ao FC Porto, ao Salgueiros e ao Boavista, os outros três notáveis emblemas da Invicta.
Um crescimento que obrigou o Académico a ampliar o seu raio de acção desportivo, adquirindo para esse efeito em 1927 o imponente Palacete do Lima, situado na Rua de Costa Cabral. Em redor deste espaço foram construidos courts de ténis, quadras de basquetebol, ginásios, e até um parque de campismo, fazendo com que os academistas fossem proprietários do primeiro grande complexo desportivo do país.
O Académico era por esta altura grande e maior ficou com o arrelvamento do Estádio do Lima em 1937, o primeiro campo relvado de Portugal, convém recordar.
Contudo não era um gigante... um grande do futebol, uma modalidade que foi sempre a “pedra no sapato” desta nobre colectividade tripeira.
Azar no futebolMesmo possuindo o melhor estádio para a prática do futebol no país; relvado, envolvido com duas pistas (uma para atletismo e outra para ciclismo, modalidades onde o clube também se distinguia), bancadas; o que é certo é que o Académico do Porto nunca teve expressão no “desporto rei”. Incompreensível, se atendermos à popularidade, à dinâmica, e ao património ao nível de infraestruturas, como já vimos, que este emblema comportava.
Nunca passou sequer da sombra dos seus rivais da cidade, com especial destaque para o FC Porto que desde logo se tornou no clube mais vitorioso da Invicta. Teve participações modestas, quase insignificantes, nas diversas provas do futebol português que nos princípios da década de 30 começavam a proliferar. Participou no desaparecido Campeonato de Portugal (prova antecessora da Taça de Portugal) em quatro ocasiões entre as temporadas de 1931/32 e 1937/38, sendo que entre modestos desempenhos futebolísticos se pode considerar um privilégio o facto de o clube ter sido um dos oito participantes na 1ª edição do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, instituído em 1934. No escalão máximo do futebol português o Académico atuou em cinco ocasiões (1934/35; 1937/38; 1938/39; 1939/40; 1941/42), tendo como melhor classificação dois 7º lugares em 34/35 e 38/39.
Na Taça de Portugal marcou presença em três edições, tendo alcançado como melhor desempenho uns quartos-de-final na edição estreia da competição (38/39).
Alegrias no mundo da bola foram poucas mas dignas de figurar na gloriosa história deste clube. Para além de ter sido o obreiro da “catedral” do Lima o Académico “doou” três jogadores à selecção nacional, sendo que Manuel Fonseca e Castro entra na história como o primeiro futebolista internacional dos academistas.
Estas foram curtas passagens pintadas em tons de alegria no que diz respeito a futebol, uma modalidade que morreria no seio do Académico em 1964, ano em que a proprietária dos terrenos do Lima, a Santa Casa da Misericórdia do Porto, dá ordem de expulsão ao clube. Não só morreria o futebol academista como também o próprio Estádio do Lima, que anos mais tarde desapareceria por completo dando lugar a um triste descampado.
O futebol morreu mas o Académico sobreviveu e continuou a crescer – noutras modalidades – nas décadas que se seguiram.
Legenda das fotografias:
1- Emblema do Académico FC
2- Uma das últimas imagens (aéreas) do Estádio do Lima...
3- ...E uma imagem rara de uma equipa de futebol do Académico
Nasceu precisamente no dia 15 de Setembro de 1911 e como berço teve a Cidade do Porto. E desde logo nobre se tornou na tarefa de enraizar e dinamizar o fenómeno desportivo na Invicta.
Na sua génese está o futebol... mesmo não sendo o futebol com o avançar do tempo uma modalidade muito feliz no seio da família academista. 1909 é o ano em que o sonho ganha forma, ano em que um grupo de estudantes do Liceu Alexandre Herculano enfeitiçado pelo fenómeno futebolístico idealiza a fundação de um clube.
Rapidamente nos tempos que se seguiram outros jovens oriundos de outros liceus e colégios particulares do Porto mostraram entusiasmo pela ideia. Até que em 1911 o sonho é por fim realidade: nascia o Académico Futebol Clube.
Uma agremiação fundada por estudantes e para estudantes, assim rezavam os seus estatutos. Talvez por ter sangue jovem a correr nas veias o Académico desde logo adoptou um espírito futurista e empreendedor que o tornariam numa das instituições mais modernas e ricas – no que toca a património – de Portugal. No entanto, e apesar da forte adesão de associados e simpatizantes desde o dia da sua fundação, o Académico andou, à semelhança de outros emblemas, com a casa às costas nos primeiros anos da sua existência. No plano desportivo, isto é, o campo de batalha onde a sua equipa de futebol entrava em acção, os academistas começaram por utilizar o Campo da Cruz, na Rua Aníbal Patrício, enquanto que a primeira sede social seria “montada” num edifício da Praça Júlio Dinis, mesmo em frente ao Hospital de Santo António.
Em 1916 este espaço foi considerado pelos dirigentes academistas como insuficiente para a numerosa família – de associados e atletas – que não parava de crescer, de modo que houve a necessidade de se arrendar uma sede maior, tendo a mudança sido feita posteriormente para a zona da Batalha e para o antigo edifício das encomendas postais. Um ano antes o palco da acção, isto é, o terreno de jogos, tinha passado a ser o Campo do Bonfim, pertença do Olímpico, clube a quem o Académico pagava uma renda mensal de 20 centavos.
Nos anos que se seguiram novas mudanças de campo e de sede social aconteceram, até que na entrada para os anos 20 dá-se um dos passos mais importantes da vida do clube, o arrendamento da Quinta do Lima, propriedade da Santa Casa da Misericórdia do Porto. Neste espaço o sonho e a visão futurista dos seus dirigentes e massa associativa unem-se num casamento perfeito com a construção do Estádio do Lima. Desta catedral, não só da bola como também de outras modalidades, já aqui traçámos umas linhas num passado não muito distante, mas não será por demais recordar que este foi o primeiro grande estádio de futebol do país. Por esta altura o Académico era já um clube multifacetado, por outras palavras, nem só de futebol rezava a sua história. Com a forte adesão de associados e entusiastas pelo desporto em geral outras modalidades foram sendo geradas no ventre academista. Estavámos perante o mais eclético dos clubes do Porto, ganhando desta forma em popularidade ao FC Porto, ao Salgueiros e ao Boavista, os outros três notáveis emblemas da Invicta.
Um crescimento que obrigou o Académico a ampliar o seu raio de acção desportivo, adquirindo para esse efeito em 1927 o imponente Palacete do Lima, situado na Rua de Costa Cabral. Em redor deste espaço foram construidos courts de ténis, quadras de basquetebol, ginásios, e até um parque de campismo, fazendo com que os academistas fossem proprietários do primeiro grande complexo desportivo do país.
O Académico era por esta altura grande e maior ficou com o arrelvamento do Estádio do Lima em 1937, o primeiro campo relvado de Portugal, convém recordar.
Contudo não era um gigante... um grande do futebol, uma modalidade que foi sempre a “pedra no sapato” desta nobre colectividade tripeira.
Azar no futebolMesmo possuindo o melhor estádio para a prática do futebol no país; relvado, envolvido com duas pistas (uma para atletismo e outra para ciclismo, modalidades onde o clube também se distinguia), bancadas; o que é certo é que o Académico do Porto nunca teve expressão no “desporto rei”. Incompreensível, se atendermos à popularidade, à dinâmica, e ao património ao nível de infraestruturas, como já vimos, que este emblema comportava.
Nunca passou sequer da sombra dos seus rivais da cidade, com especial destaque para o FC Porto que desde logo se tornou no clube mais vitorioso da Invicta. Teve participações modestas, quase insignificantes, nas diversas provas do futebol português que nos princípios da década de 30 começavam a proliferar. Participou no desaparecido Campeonato de Portugal (prova antecessora da Taça de Portugal) em quatro ocasiões entre as temporadas de 1931/32 e 1937/38, sendo que entre modestos desempenhos futebolísticos se pode considerar um privilégio o facto de o clube ter sido um dos oito participantes na 1ª edição do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, instituído em 1934. No escalão máximo do futebol português o Académico atuou em cinco ocasiões (1934/35; 1937/38; 1938/39; 1939/40; 1941/42), tendo como melhor classificação dois 7º lugares em 34/35 e 38/39.
Na Taça de Portugal marcou presença em três edições, tendo alcançado como melhor desempenho uns quartos-de-final na edição estreia da competição (38/39).
Alegrias no mundo da bola foram poucas mas dignas de figurar na gloriosa história deste clube. Para além de ter sido o obreiro da “catedral” do Lima o Académico “doou” três jogadores à selecção nacional, sendo que Manuel Fonseca e Castro entra na história como o primeiro futebolista internacional dos academistas.
Estas foram curtas passagens pintadas em tons de alegria no que diz respeito a futebol, uma modalidade que morreria no seio do Académico em 1964, ano em que a proprietária dos terrenos do Lima, a Santa Casa da Misericórdia do Porto, dá ordem de expulsão ao clube. Não só morreria o futebol academista como também o próprio Estádio do Lima, que anos mais tarde desapareceria por completo dando lugar a um triste descampado.
O futebol morreu mas o Académico sobreviveu e continuou a crescer – noutras modalidades – nas décadas que se seguiram.
Legenda das fotografias:
1- Emblema do Académico FC
2- Uma das últimas imagens (aéreas) do Estádio do Lima...
3- ...E uma imagem rara de uma equipa de futebol do Académico
Um comentário:
O Académico do Porto teve realmente pergaminhos honrosos, em cuja folha de serviço constaram com grande honra também o ciclismo, com Ribeiro da Silva à cabeça, mas também Alberto Carvalho e outros, mais ainda em atletismo. Ora sobre esta modalidade das corridas, um nome houve, entre outros, que se salientou, conhecido à época por Sampaio Peixoto. Porque esse antigo estudante-desportista, mais tarde engenheiro, era natural do meu concelho, Felgueiras, cheguei já a fazer um esboço estudioso sobre ele, que publiquei num dos jornais concelhios felgueirenses, no Semanário de Felgueiras, e do qual transcrevi partes para o meu blogue, como se pode verificar em
http://longara.blogspot.com/search/label/Sampaio%20Peixoto
Abraço
Armando Pinto
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