quinta-feira, setembro 23, 2010

Grandes Mestres da Táctica (4)... Guy Roux

Poucos são os artesões da bola que com o seu invulgar talento fizeram com que pequenos – e por vezes quase desconhecidos – clubes se transformassem em gigantes emblemas do panorama futebolístico plantetário. Num rápido exercício de memória nomes como o de Diego Maradona ou de Pelé fazem parte dessa minoritária lista de magos. O astro argentino fez do Nápoles um dos clubes mais temidos da Europa nos finais da década de 80 e princípios dos anos 90 do século passado quando até então os napolitanos não passavam apenas de um grupo de bons rapazes habituados a frequentar os patamares secundários do “calcio”. O génio brasileiro tirou o Santos do anonimato, catapultando-o de uma simples cidade situada na periferia de São Paulo para o topo do Mundo na década de 60.
O génio da lâmpada que hoje iremos visitar fez algo de muito semelhante a estes dois nomes que acabámos de frisar, pese embora o tenha feito na qualidade de mestre da táctica, o mesmo é dizer, enquanto treinador. Esse nome é Guy Roux, lendário treinador francês que fez do Auxerre um pequeno grande clube europeu.
Nascido em Colmar a 18 de Outubro de 1938 Roux foi enquanto futebolista um vulgar intérprete do belo jogo, tendo a sua carreira ao serviço do Auxerre, entre 1952 e 1961, passado quase despercebida aos olhos dos amantes mais atentos da modalidade.
E seria precisamente no ano em que pendurou as chuteiras que a sua boa estrela começou a fazer-se notar na constelação do futebol. 1961 é de facto um ano mágico para o modesto A.J. Auxerre, um clube de província habituado a percorrer os escalões secundários do futebol gaulês que ganhou vida com a entrada de Guy Roux para seu treinador principal. Mais do que levar este pequeno clube até à alta roda do futebol europeu através de uma série de títulos e consecutivas participações em provas europeias Roux fez do Auxerre uma das maiores escolas de formação de todo o Mundo. Uma escola que começou a ser edificada assim que este cidadão assumiu os comandos do clube enquanto responsável técnico. Sem dinheiro para grandes investimentos logo tratou de montar uma escola para captar e formar jogadores capazes de honrar e glorificar a até então modesta camisola do Auxerre. Com Roux ao leme o clube foi a pouco e pouco galgando divisões no futebol francês e paralelamente formando nomes que viriam a dar cartas tanto a nível interno como externo.
Em termos concretos, e começando pelo primeiro ponto, a primeira grande coroa de glória de Guy Roux deu-se na temporada de 1979/80, altura em que o Auxerre subiu pela primeira vez na sua história à 1ª Divisão Nacional. Um feito enorme atendendo ao facto de que quando este homem pegou no clube este estava nos escalões regionais! E maior relevância ganha quando esta foi uma promoção conseguida com a “prata da casa”, isto é com os jogadores saídos da escola de formação do clube que Roux criara aquando da sua entrada para o departamento técnico. No ano anterior a este notável feito o Auxerre este muito perto da glória depois de ter perdido a final da Taça de França para o então poderoso Nantes.
Chegado ao escalão maior do futebol francês o clube de Roux jamais deixou de fazer parte desta ilustre elite, o mesmo é dizer que não mais voltou para as divisões secundárias. Homem duro e disciplinador por natureza pode dizer-se que Roux foi o construtor do Auxerre.
O primeiro grande título surgiu em 1994 com a vitória na Taça de França. No entanto, o seu maior feito, em termos de conquistas, como é óbvio, foi conseguido dois anos mais tarde quando o Auxerre conquistou a dobradinha, isto é o campeonato e a taça de 1996. Parecia um conto de fadas, o outrora desconhecido Auxerre era agora um dos mais poderosos emblemas de França. A vitrina de troféus seria ainda enriquecida com mais duas taças de França (2003 e 2005) e uma Taça Intertoto (1993).
Para chegar ao êxito Guy Roux usou sempre a “prata da casa”, como já foi aqui dito, gabando-se sempre de nunca investir grandes somas monetárias na aquisição de jogadores ao longo das épocas. Nas suas mãos foram moldados nomes – mais tarde – consagrados como os de Eric Cantona, Laurent Blanc, Basile Boli, Alain Goma, Corentin Martins, Djibril Cissé, ou Philippe Méxes.
Guy Roux foi o patrão, o símbolo se preferirem, do Auxerre durante 44 anos (1961- 2005) consecutivos! Um recorde de permanência de um homem à frente dos destinos de uma equipa. Posto isto teve uma curta experiência como treinador do Lens em 2007 antes de se reformar de vez das lides futebolísitcas. Hoje é um consagrado crítico de futebol em diversos meios de comunicação social francesa. Ao contrário de outros mestres da táctica Roux pode não ter contribuido para a evolução técnico-táctica do jogo mas foi um dos maiores mestres no que concerne à formação de novos atletas.

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